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Alexandre Aksakof
Animismo e Espiritismo
Ensaio de um exame crtico dos fenmenos medinicos,
especialmente em relao s hipteses da fora nervosa,
da alucinao e do inconsciente, como resposta obra do Dr. Eduard von Hartmann, intitulada O Espiritismo.
(Trad. do russo por Berthold Sandow)
Ttulo original em Francs
Alexandre Aksakof - Animisme et Spiritisme
Librairiedes Sciences Psychiques
diteur - P. G. Leymarie
Rue du Sommerard,12
Paris (1895)
2
Contedo resumido
Esta obra monumental foi escrita em resposta s idias
antiespritas do famoso filsofo alemo Eduard von Hartmann. Segundo as prprias palavras de Aksakof, a obra teve como
principal objetivo preservar a doutrina esprita dos ataques
srios a que no futuro ficaria indubitavelmente exposta, desde que os fatos sobre os quais se baseia sejam admitidos pela
Cincia.
Aksakof rebate com argumentos insofismveis as hipteses
da fora nervosa, da alucinao e do inconsciente, to
manipuladas e repisadas pelos contestadores dos nossos dias.
Graas anlise conscienciosa e imparcial dos inmeros
casos expostos pelo autor, esta obra revela-se um valioso auxiliar no processo de distino entre os fenmenos anmicos
(produzidos pelo Esprito encarnado) e os fenmenos espritas
(produzidos pelo Esprito desencarnado).
Com toda justia, Animismo e Espiritismo imps-se como
uma das mais importantes e completas obras escritas acerca do Espiritismo, do ponto de vista cientfico e filosfico.
Sumrio
Prefcio da traduo francesa ................................................... 7
Prefcio da edio alem ........................................................ 10
Introduo............................................................................... 25
Resumo terico das teorias antiespirticas .............................. 31
CAPTULO I Fenmenos de materializao
Insuficincia, no ponto de vista dos fatos, da hiptese alucinatria emitida pelo Dr. Hartmann. ............................. 47
1. Materializao de objetos escapando percepo pelos sentidos. Fotografia transcendente. ..................................... 50
2. Materializao e desmaterializao de objetos acessveis aos nossos sentidos ........................................................... 115
3
A. Materializao e desmaterializao de objetos
inanimados .................................................................. 121
B. Materializao e desmaterializao de formas
humanas. Demonstrao do carter no alucinatrio
de uma materializao. ................................................ 139
B1 - Aparecimento de mos visveis e tangveis .......... 140
B2 - Efeitos fsicos ...................................................... 142
B3 - Efeitos fsicos duradouros .................................... 143
a) Escrita direta ...................................................... 143
b) Impresso de mos materializadas ..................... 145
c) Efeitos produzidos sobre a forma materializada
(colorao, etc.) ................................................. 154
d) Reproduo de formas materializadas por
moldagens em gesso .......................................... 159
e) Outros exemplos de moldagens de formas
materializadas por meio da parafina ................... 173
1) O mdium est isolado; o agente oculto fica
invisvel. ........................................................ 174
2) O mdium est diante dos assistentes; o agente oculto conserva-se invisvel. ............... 192
3) O agente oculto visvel; o mdium est
isolado. .......................................................... 203 4) O fantasma e o mdium so
simultaneamente visveis aos espectadores. ... 207
f) Fotografia de formas materializadas .................. 210
1) O mdium visvel; a figura materializada
invisvel ao olho, mas aparece na chapa fotogrfica. .................................................... 216
2) O mdium invisvel; o fantasma visvel e
reproduzido pela fotografia. ........................... 221 3) O mdium e o fantasma so vistos ao mesmo
tempo; apenas o ltimo fotografado. ........... 229 4) O mdium e o fantasma so ambos visveis e
fotografados ao mesmo tempo. ...................... 255
5) O mdium e o fantasma so invisveis; a fotografia produz-se s escuras. ..................... 283
4
B4 - Pesagem das formas materializadas ..................... 285
Insuficincia da teoria alucinatria do Dr. Hartmann no ponto de vista terico ....................................................... 288
CAPTULO II Fenmenos fsicos ........................................... 307
CAPTULO III Da natureza do agente inteligente que se
manifesta nos fenmenos do Espiritismo
Exame do princpio fundamental do Espiritismo; ele apresenta fenmenos cuja causa deve ser procurada fora do mdium? ...................................................................... 319
1. Manifestaes que so contrrias vontade do mdium ... 327
2. Manifestaes que so contrrias s convices do
mdium............................................................................. 366
3. Manifestaes contrrias ao carter e aos sentimentos do
mdium............................................................................. 372
4. Comunicaes cuja natureza est acima do nvel intelectual do mdium ...................................................... 375
5. Mediunidade das crianas de peito e das crianas muito
novas ................................................................................ 396
6. Mdiuns falando lnguas que lhes so desconhecidas ....... 408
7. Diversos fenmenos de gnero misto-composto ............... 427
8. Comunicao de fatos desconhecidos do mdium e dos
assistentes ......................................................................... 441
A. A viso s escuras e em lugares fechados .................... 443
B. Fatos conhecidos independentemente dos rgos que
servem habitualmente percepo .............................. 459
C. Comunicao de fatos desconhecidos das pessoas que
tomam parte na sesso, e que no podem ser explicados pela transmisso de pensamentos, em
razo das condies especiais nas quais essas
comunicaes so dadas .............................................. 471
5
9. Comunicaes provenientes de pessoas completamente desconhecidas, quer dos mdiuns, quer dos assistentes .... 492
10. Transmisso de comunicaes a grande distncia ........... 509
11. Transporte de objetos a grandes distncias ..................... 515
12. Materializaes ............................................................... 526
CAPTULO IV A hiptese dos Espritos
1. ANIMISMO Ao extracorprea do homem vivo, como que formando a transio ao Espiritismo .......................... 533
A. Ao extracorprea do homem vivo, comportando
efeitos psquicos (fenmenos da telepatia
transmisso de impresses a distncia) ........................ 538
B. Ao extracorprea do homem vivo, sob forma de
efeitos fsicos (fenmenos telecinticos
deslocamento de objetos a distncia) ........................... 556
C. Ao extracorprea do homem vivo, traduzindo-se
pela apario de sua prpria imagem (fenmenos
telepticos aparies a distncia) .............................. 562
D. Ao extracorprea do homem vivo manifestando-se
sob a forma da apario de sua imagem com certos
atributos de corporeidade (fenmenos teleplsticos
formao de corpos materializados) ............................ 572
2. ESPIRITISMO Manifestao de um homem morto, como fase ulterior do animismo........................................ 594
A. Identidade da personalidade de um morto verificada
por comunicaes em sua lngua materna,
desconhecida do mdium ............................................. 607
B. Verificao da personalidade de um morto por
comunicaes dadas no estilo caracterstico do morto, ou por expresses particulares, que lhe eram
familiares, recebidas na ausncia de pessoas que
conheciam o morto ...................................................... 611
6
C. Identidade da personalidade de um morto
desconhecido do mdium, verificada por comunicaes dadas em escrita idntica que era
conhecida durante a sua vida ....................................... 614
D. Identidade da personalidade de um morto verificada
por uma comunicao proveniente dele, com um
conjunto de pormenores relativos sua vida, e
recebida na ausncia de qualquer pessoa que
conhecera o morto ....................................................... 628
E. Identidade da personalidade de um morto verificada
pela comunicao de fatos que s puderam ser conhecidos pelo prprio morto e que somente ele
podia comunicar .......................................................... 636
F. Identidade da personalidade verificada por
comunicaes que no so espontneas, como as que
precedem, mas provocadas por apelos diretos ao
morto e recebidas na ausncia de pessoas que
conheciam este ltimo ................................................. 656
G. Identidade do morto verificada por comunicaes
recebidas na ausncia de qualquer pessoa que o tivesse conhecido, e que revelam certos estados
psquicos ou provocam sensaes fsicas, prprias do
morto ........................................................................... 670
H. Identidade da personalidade de um morto atestada
pela apario de sua forma terrestre ............................. 678
H1 - Apario de um morto atestada pela viso
mental do mdium, na ausncia de pessoas que
o conhecem ......................................................... 678
H2 - Apario de um morto atestada pela viso
mental do mdium e, simultaneamente, pela fotografia transcendente ou pela fotografia s,
na ausncia de pessoas que conheceram o morto 680
H3 - Apario da forma terrestre de um morto por via
de materializao, apoiada por provas
intelectuais .......................................................... 689
7
Consideraes finais ............................................................... 699
As hipteses espirticas, segundo o Sr. Hartmann .............. 703
Prefcio da traduo francesa
Conforme um ajuste feito com o Sr. Alexandre Aksakof, conselheiro de Estado atual de S. M., o imperador da Rssia,
assumi a responsabilidade de publicar em francs a sua obra to conhecida no estrangeiro: Animismus und Spiritismus.
O filsofo bvaro Sr. Carl du Prel me recomendava esta obra
como indispensvel a qualquer investigador consciencioso; eu
era do seu parecer.
Confiei a traduo da obra ao Sr. B. Sandow, nosso
colaborador, em razo dos seus conhecimentos lingsticos;
acrescentarei que as provas definitivas foram submetidas aprovao do autor.
Deixo ao tradutor a incumbncia de apresentar ao pblico
francs algumas consideraes sobre Animismo e Espiritismo e
sobre as origens deste volume.
O Editor: P.-G. Leymarie
* * *
A obra que apresentamos ao pblico no foi escrita com o intuito especial de defender a causa esprita, mas, sim, para
preservar essa doutrina dos ataques srios a que no futuro ficaria
indubitavelmente exposta, desde que os fatos sobre os quais se baseia sejam admitidos pela Cincia.
A leitura deste livro produzir certamente impresso profunda
no esprito de todos aqueles que se preocupam com o problema
da vida e meditam sobre os destinos humanos. Sem dvida, os
espritas s encontraro aqui a confirmao, cientificamente formulada, de suas crenas; os incrdulos, quer o sejam de caso
pensado, quer repousem apenas no quietismo de um cepticismo
indiferente, ao menos sero levados dvida, que resume, apesar
8
de tudo, a suprema prudncia no homem, quando este no tem,
para sancionar as suas convices, uma certeza absoluta.
A uma pena muito mais autorizada do que a minha caberia
apresentar Animismo e Espiritismo aos leitores franceses. Mas nenhuma necessidade deste gnero se impe, porque o nome do
escritor basta para recomendar sua obra e, demais, o seu Prefcio
justifica amplamente, perante todos os pensadores, a publicao do livro: expe de maneira admirvel a profisso de f do autor e
faz conhecer claramente o fim que ele se props. Nada mais se
poderia acrescentar a.
Meu papel deve, pois, limitar-se a mencionar rapidamente
algumas particularidades referentes s origens deste trabalho.
Conforme se pode ver no frontispcio do volume, foi este uma
resposta brochura que o bem conhecido filsofo alemo Eduard von Hartmann continuador de Schopenhauer publicou em
1885, sobre o Espiritismo.
A primeira edio original (alem) de Animismus und
Spritismus (Leipzig, 1890) 1 provocou da parte do Sr. Von
Hartmann uma rplica intitulada A hiptese dos Espritos e seus fantasmas (Berlim, 1891), na qual ele volta, com insistncia,
aos argumentos de que j se tinha servido. Desta vez foi o sbio
Carl du Prel quem se encarregou de continuar, contra esse adversrio to temvel, a polmica que o Sr. Aksakof
infelizmente no podia continuar, devido ao seu estado de sade.
Nem a resposta do Dr. Carl du Prel nem as duas publicaes
do Sr. Von Hartmann foram at agora traduzidas para o francs;
esta lacuna, porm, no diminuir sensivelmente o interesse que o leitor atento h de encontrar nesta obra, notando-se que o autor
nela reproduz in extenso os principais argumentos de seu
adversrio.
Resta-me dar algumas indicaes sobre as fontes de que me
servi para imprimir a esta traduo uma fidelidade to escrupulosa quanto possvel.
Traduzi do prprio texto alemo as numerosas citaes
extradas do livro do Sr. Von Hartmann. As indicaes se
referem, pois, naturalmente edio alem, porquanto, como j
9
o disse acima, nenhuma traduo francesa existe desse livro. A
parte do texto primitivo de Animismo e Espiritismo, escrita em francs pelo autor, permitiu-me fixar na traduo uma
terminologia j consagrada pelo prprio autor. No que respeita s
alteraes feitas na edio russa, que veio luz em 1893, consultei cuidadosamente essa edio; quanto s citaes de
origem inglesa, no pude ter vista todos os textos originais e
vi-me assim obrigado, acerca de muitos deles, a limitar-me s tradues alem e russa, as quais, apresso-me em diz-lo, nada
deixam a desejar.
Tenho necessidade, depois desta documentao, de solicitar a
indulgncia do leitor?
Conto que os meus esforos sero apreciados com retido por
aqueles que se interessam por estas questes de to elevada
importncia.
Concluindo, no posso deixar de exprimir o meu mais vivo
reconhecimento ao meu sbio amigo, o Dr. H., pelo precioso concurso que generosamente me prestou. Recorri aos seus
conhecimentos para a traduo de diversos trechos de ordem
cientfica e tcnica, e posso dizer que sempre recebi dele pareceres to esclarecidos quanto benevolentes.
Devo, finalmente, agradecer ao Sr. Leymarie haver-me
confiado este trabalho to delicado quanto interessante.
B. Sandow
10
Prefcio da edio alem
Hoje, que afinal est pronta a minha resposta ao Sr. Hartmann, depois de quatro anos de trabalho realizado no meio
de sofrimentos morais e fsicos, no julgo intil dar, s pessoas
que lerem a minha obra, algumas palavras de explicao para gui-las em sua leitura.
Alexandre Aksakof
O Sr. Hartmann, escrevendo a sua obra sobre o Espiritismo,
imaginou, para explicar os seus fenmenos, uma teoria baseada unicamente na aceitao condicional de sua realidade, isto , s
os admitindo provisoriamente, com os caracteres que lhes so
atribudos nos anais do Espiritismo. Por conseguinte, o objetivo geral do meu trabalho no foi provar e defender a todo custo a
realidade dos fatos medinicos, mas aduzir sua explicao um
mtodo crtico, conforme as regras indicadas pelo Sr. Hartmann.
, pois, um trabalho comparvel soluo de uma equao
algbrica cujas incgnitas s tivessem um valor convencionado.
O primeiro captulo, que trata das materializaes, o nico
que se distingue, sob este ponto de vista, do resto da obra,
porque aqui o Sr. Hartmann, admitindo completamente a
realidade subjetiva ou psquica do fenmeno, considerado por ele como uma alucinao, tinha exigido, para a aceitao de sua
realidade objetiva, certas condies de experimentao, s quais
eu tratei de satisfazer.
11
Assim, pois, no tenho que tomar a defesa dos fatos nem
perante os espritas, que no duvidam deles, nem perante os que negam a priori, porque se trata aqui, no de discuti-los, mas de
procurar a sua explicao.
indispensvel que esse estado de coisas seja fixado desde
j, a fim de que as pessoas no-espritas, que pensarem em
criticar-me, no sigam caminho falso, obstinando-se como de ordinrio em afirmar a impossibilidade, a inverossimilhana, a
fraude inconsciente ou consciente, etc.
Quanto s crticas que tiverem por fim pr em relevo os erros
de aplicao do mtodo, elas sero bem-vindas para mim.
Dito isso uma vez por todas, precisarei que o fim especial de
meu trabalho foi investigar se os princpios metodolgicos
propostos pelo Sr. Hartmann bastam, como ele afirma, para dominar o conjunto dos fenmenos medinicos e para dar deles
uma explicao natural segundo a sua expresso , que seja
ao mesmo tempo simples e racional. Melhor ainda: as hipteses explicativas do Sr. Hartmann, uma vez admitidas, excluem
verdadeiramente toda a necessidade de recorrer hiptese
espirtica?
Ora, as hipteses propostas pelo Sr. Hartmann so bastante
arbitrrias, ousadas, vastas; por exemplo:
uma fora nervosa que produz, fora do corpo humano,
efeitos mecnicos e plsticos;
alucinaes duplas dessa mesma fora nervosa, produzindo
igualmente efeitos fsicos e plsticos;
uma conscincia sonamblica latente que capaz
achando-se o indivduo no estado normal de ler, no fundo intelectual de outro homem, o seu presente e o seu passado;
e, finalmente, essa mesma conscincia dispondo, tambm,
no estado normal do indivduo, de uma faculdade de
clarividncia que o pe em relao com o Absoluto e lhe d, por conseguinte, o conhecimento de tudo o que existe e
existiu.
12
preciso convir que com fatores to poderosos, o ltimo dos
quais positivamente sobrenatural ou metafsico no que o Sr. Hartmann est de acordo , toda a discusso se torna
impossvel. Mas preciso fazer ao Sr. Hartmann esta justia: ele
mesmo tentou fixar as condies e os limites dentro dos quais cada uma destas hipteses aplicvel.
A minha tarefa era, pois, indagar se no h fenmenos em
que as hipteses do Sr. Hartmann so impotentes para explicar
nos limites ou condies em que elas so aplicveis segundo
suas prprias regras.
Afirmando a existncia de tais fenmenos, sustentei bem a
minha tese? No compete a mim pronunciar-me sobre esse ponto.
* * *
Interesso-me pelo movimento esprita desde 1855, e desde
ento no deixei de estud-lo em todas as suas particularidades e atravs de todas as literaturas. Durante muito tempo aceitei os
fatos apoiado no testemunho alheio; foi s em 1870 que assisti
primeira sesso, em um crculo ntimo que eu tinha organizado. No fiquei surpreendido de verificar que os fatos eram realmente
tais quais me tinham sido referidos por outros; adquiri a
convico profunda de que eles nos ofereciam como tudo o que existe na Natureza uma base verdadeiramente slida, um
terreno firme para a fundao de uma cincia nova que seria
talvez capaz, em futuro remoto, de fornecer ao homem a soluo do problema da sua existncia. Fiz tudo o que estava ao meu
alcance para tornar os fatos conhecidos e atrair sobre o seu
estudo a ateno dos pensadores isentos de preconceitos.
Mas, enquanto me entregava a esse trabalho exterior, um
trabalho interior se realizava.
Acredito que todo observador sensato, desde que comea a
estudar esses fenmenos, fica impressionado por estes dois fatos incontestveis: o automatismo evidente das comunicaes
espirticas e a falsidade arrogante, e do mesmo modo evidente,
do seu contedo; os nomes ilustres com que elas so freqentemente assinadas constituem a melhor prova de que
13
essas comunicaes no so o que pretendem; o mesmo sucede
relativamente aos fenmenos fsicos simples; do mesmo modo evidente que eles se produzem sem a menor participao
consciente do mdium, e nada, primeira vista, justifica a
suposio de uma interveno dos espritos. E s mais tarde, quando certos fenmenos de ordem intelectual nos obrigam a
reconhecer uma fora inteligente extramedinica, que
esquecemos as primeiras impresses e encaramos com mais indulgncia a teoria espirtica em geral.
Os materiais que eu tinha acumulado, quer pela leitura, quer
pela experincia prtica, eram considerveis, mas a soluo do
problema no vinha. Pelo contrrio, passando os anos, os lados
fracos do Espiritismo tornavam-se cada vez mais visveis: a banalidade das comunicaes, a pobreza de seu contedo
intelectual, ainda quando elas no so banais, o carter
mistificador e falso da maioria das manifestaes, a inconstncia dos fenmenos fsicos, quando se trata de submet-los
experincia positiva, a credulidade, a preocupao, o entusiasmo
irrefletido dos espritas e dos espiritualistas, finalmente a fraude que fez erupo com as sesses s escuras e com as
materializaes que eu conheo no s pela leitura, mas que fui
coagido a verificar por minha prpria experincia nas relaes com os mdiuns profissionais de maior nomeada , em suma,
uma multido de dvidas, objees, contradies e perplexidades
de toda espcie, s concorriam para agravar as dificuldades do problema.
As impresses de momento, os argumentos que nos vm
assaltar, fazem passar o esprito de um a outro extremo e o
lanam na dvida e na averso mais profunda. Deixando-nos
deslizar sobre esse plano-inclinado, acabamos freqentemente por esquecer o pro, para no ver seno o contra. Muitas vezes,
ocupando-me com essa questo, o meu esprito deteve-se sobre as grandes iluses pelas quais a humanidade passou em sua
evoluo intelectual; recapitulando todas as teorias errneas,
desde a da imobilidade da Terra e da marcha do sol, at as hipteses admitidas pelas cincias abstratas e positivas,
perguntei a mim mesmo se o Espiritismo no estava destinado a
14
ser uma dessas iluses. Entregando-me a essas impresses
desfavorveis, facilmente me teria desanimado, mas eu tinha para me sustentar consideraes mais elevadas e uma srie de
fatos incontestveis que tinham, para advogar a sua causa, um
defensor onipotente: a prpria Natureza.
Eu desejava, havia j muito tempo, orientar-me nesse
conjunto de fatos, de observaes e de idias; pelo que fico muito reconhecido ao Sr. Hartmann por ter tomado a resoluo
de nos dar a sua crtica sobre o Espiritismo; ele coagiu-me a
entregar-me ao trabalho e, ao mesmo tempo, me auxiliou muito, fornecendo-me o plano, o mtodo necessrio para dirigir-me
nesse caos.
Dediquei-me ao trabalho com tanto melhor vontade, por isso
que as armas criadas pelo Sr. Hartmann para o ataque foram
muito poderosas, onipotentes mesmo: ele prprio no disse que sob o golpe dessas armas nenhuma teoria esprita resistiria?
O seu distinto tradutor ingls, o Sr. C. C. Massey, admite
tambm que essa obra o golpe mais forte que foi vibrado conta
o Espiritismo. E, como um fato proposital, a obra do Sr.
Hartmann apareceu justamente no momento em que a disposio cptica do meu esprito se tornava preponderante.
Se, por conseguinte, depois de atento exame de todos os
fenmenos medinicos, eu tivesse verificado que as hipteses do
Sr. Hartmann podiam abranger a todos, dando-lhes uma
explicao simples e racional, no teria hesitado em abjurar completamente a hiptese espirtica. A verdade subjuga.
S pude orientar-me nesse ddalo de fatos com o auxlio de
um ndice sistemtico, composto proporo das minhas
leituras; grupando-os sob diferentes categorias, gneros e
subgneros, segundo o valor de seu contedo e as condies de sua produo, chegamos (por via de eliminao ou por gradao)
dos fatos simples a fatos mais complexos, necessitando de uma nova hiptese.
As obras espirticas, e principalmente os jornais, carecem
completamente de ndice sistemtico. Por exemplo: o que o Sr.
Blackburn acaba de publicar, para todos os anos do Spiritualist,
15
no pode ser de utilidade alguma para um estudo crtico. Meu
trabalho ser o primeiro ensaio desse gnero e espero que ele possa servir pelo menos de manual ou de guia para a composio
dos ndices sistemticos dos fenmenos medinicos, ndices
indispensveis para o estabelecimento e verificao de todo o mtodo crtico, aplicado ao exame e explicao desses fatos.
O grupamento dos fenmenos e sua subordinao, eis o
verdadeiro mtodo que deu to grandes resultados no estudo dos
fenmenos do mundo visvel, e que dar no menos importantes
quando for aplicado ao estudo dos fenmenos do mundo invisvel ou psquico.
O que proporcionou ao Espiritismo um acolhimento to
pouco razovel e to pouco tolerante foi que, desde a sua invaso
na Europa sob sua forma mais elementar, as mesas girantes e
falantes, o conjunto de todos os seus fenmenos foi imediatamente atribudo, pela massa, aos espritos.
Esse erro era, entretanto, inevitvel e, por conseguinte,
desculpvel em presena de fatos de natureza a encher de
admirao as testemunhas entregues s suas prprias conjecturas.
Por sua vez, os adversrios do Espiritismo caam no extremo oposto, nada querendo saber dos espritos e negando tudo.
Aqui, como sempre, a verdade se encontra entre os dois.
Para mim a luz s comeou a despontar no dia em que o meu
ndice me forou a introduzir a categoria do Animismo, isto ,
quando o estudo atento dos fatos me obrigou a admitir que todos os fenmenos medinicos, quanto ao seu tipo, podem ser
produzidos por uma ao inconsciente do homem vivo
concluso que no repousava sobre uma simples hiptese ou sobre uma afirmao gratuita, mas sobre o testemunho
irrecusvel dos prprios fatos , donde esta conseqncia, que a
atividade psquica inconsciente do nosso ser no limitada periferia do corpo e no apresenta um carter exclusivamente
psquico, mas pode tambm transpor os limites do corpo, produzindo efeitos fsicos e mesmo plsticos; por conseguinte,
essa atividade pode ser intracorprea ou extracorprea.
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Essa ltima oferece um campo de explorao inteiramente
novo, cheio de fatos maravilhosos, geralmente considerados como sobrenaturais; esse domnio, to imenso, seno mais, do
que o do Espiritismo, que designei sob o nome de Animismo, a
fim de distingui-lo daquele de uma maneira categrica.
extremamente importante reconhecer e estudar a existncia
e a atividade desse elemento inconsciente da nossa natureza, nas suas mais variadas e mais extraordinrias manifestaes como as
vemos no Animismo. S tomando esse ponto de partida
possvel dar uma razo de ser aos fenmenos e s pretenses do Espiritismo, pois que, se alguma coisa sobrevive ao corpo e
persiste, precisamente o nosso inconsciente, ou melhor, essa
conscincia interior que no conhecemos presentemente, mas que constitui o elemento primordial de toda individualidade.
Dessa maneira, temos nossa disposio no uma, porm
trs hipteses suscetveis de fornecer a explicao dos
fenmenos medinicos, hipteses que tm, cada uma delas, a sua
razo de ser para a interpretao de uma srie de fatos determinados; por conseguinte, podemos classificar todos os
fenmenos medinicos em trs grandes categorias que se
poderiam designar da maneira seguinte:
1: Personismo Fenmenos psquicos inconscientes, produzindo-se nos limites da esfera corprea do mdium, ou
intermedinicos, cujo carter distintivo , principalmente, a
personificao, isto , a apropriao (ou adoo) do nome e muitas vezes do carter de uma personalidade estranha do
mdium. Tais so os fenmenos elementares do mediunismo: a
mesa falante, a escrita e a palavra inconsciente. Temos aqui a primeira e mais simples manifestao do desdobramento da
conscincia, esse fenmeno fundamental do mediunismo. Os
fatos dessa categoria nos revelam o grande fenmeno da dualidade do ser psquico, da no identidade do eu individual,
interior, inconsciente, com o eu pessoal, exterior e consciente; eles nos provam que a totalidade do ser psquico, seu centro de
gravidade, no est no eu pessoal; que este ltimo no mais
do que a manifestao fenomnica do eu individual (numenal); que, por conseguinte, os elementos dessa fenomenalidade
17
(necessariamente pessoais) podem ter um carter mltiplo
normal, anormal ou fictcio , segundo as condies do organismo (sono natural, sonambulismo, mediunismo). Esta
categoria d razo s teorias da cerebrao inconsciente de
Carpenter, do sonambulismo inconsciente ou latente do Sr. Hartmann, do automatismo psquico dos Srs. Myers, Janet e
outros.
Por sua etimologia, a palavra pessoa seria inteiramente apta
para justificar o sentido que convm dar palavra personismo.
No latim persona se referia antigamente mscara que os atores colocavam no rosto para representar a comdia, e mais tarde se
designou por esta palavra o prprio ator.
2: Animismo Fenmenos psquicos inconscientes se
produzidos fora dos limites da esfera corprea do mdium, ou extramedinicos (transmisso do pensamento, telepatia,
telecinesia, movimentos de objetos sem contato, materializao).
Temos aqui a manifestao culminante do desdobramento psquico; os elementos da personalidade transpem os limites do
corpo e manifestam-se, a distncia, por efeitos no somente
psquicos, porm ainda fsicos e mesmo plsticos, e indo at plena exteriorizao ou objetivao, provando por esse meio que
um elemento psquico pode ser, no somente um simples
fenmeno de conscincia, mas ainda um centro de fora substancial pensante e organizador, podendo tambm, por
conseguinte, organizar temporariamente um simulacro de rgo,
visvel ou invisvel, e produzindo efeitos fsicos.
A palavra alma (anima), com o sentido que tem geralmente
no Espiritismo e no Espiritualismo, justifica plenamente o emprego da palavra animismo. Segundo a noo espirtica, a
alma no o eu individual (que pertence ao Esprito), porm o
envoltrio, o corpo fludico ou espiritual desse eu. Por conseguinte, ns teramos, nos fenmenos anmicos,
manifestaes da alma, como entidade substancial, o que explicaria o fato de essas manifestaes poderem revestir
tambm um carter fsico ou plstico, segundo o grau de
desagregao do corpo fludico ou do perisprito, ou ainda do metaorganismo, segundo a expresso de Hellenbach. E, como
18
a personalidade o resultado direto do nosso organismo
terrestre, segue-se da naturalmente que os elementos anmicos (pertencentes ao organismo espiritual) so tambm os portadores
da personalidade.
3: Espiritismo Fenmenos de personismo e de animismo na
aparncia, porm que reconhecem uma causa extramedinica, supraterrestre, isto , fora da esfera da nossa existncia. Temos
aqui a manifestao terrestre do eu individual por meio
daqueles elementos da personalidade que tiveram a fora de manter-se em roda do centro individual, depois de sua separao
do corpo, e que se podem manifestar pela mediunidade ou pela
associao com os elementos psquicos homogneos de um ser vivo. Isso faz que os fenmenos do Espiritismo, quanto ao seu
modo de manifestao, sejam semelhantes aos do personismo e
do animismo, e no se distingam deles a no ser pelo contedo intelectual que trai uma personalidade independente.
Uma vez admitidos os fatos desta ltima categoria, claro
que a hiptese que da resulta pode igualmente ser aplicada aos
fatos das duas primeiras categorias; ela no mais do que o desenvolvimento ulterior das hipteses precedentes. A nica
dificuldade que se apresenta que, muitas vezes, as trs
hipteses podem servir com o mesmo fundamento para a explicao de um s e mesmo fato. Assim, um simples fenmeno
de personismo poderia tambm ser um caso de animismo ou de
Espiritismo. O problema , pois, decidir a qual dessas hipteses preciso atender, pois que se enganaria quem pensasse que uma
s bastante para dominar todos os fatos. A crtica probe ir
alm da que basta para a explicao do caso submetido anlise.2
Assim, pois, o grande erro dos partidrios do Espiritismo
ter querido atribuir todos os fenmenos, geralmente conhecidos
sob esse nome, aos espritos. Este nome, por si s, basta para nos insinuar em um mau caminho. Ele deve ser substitudo por
um outro, por um termo genrico, no envolvendo hiptese
alguma, doutrina alguma, como por exemplo a palavra
19
mediunismo, denominao que desde muito tempo introduzimos
na Rssia.
Toda verdade nova, no domnio das cincias naturais, faz seu
caminho lentamente, gradualmente, porm seguramente. Foram precisos cem anos para fazer aceitar os fatos do magnetismo
animal, posto que eles sejam muito mais fceis de obter e de
estudar do que os do mediunismo. Depois de muitas vicissitudes, eles romperam finalmente as barreiras altivas do ignorabimus
dos sbios; a Cincia teve que lhes fazer bom acolhimento e
acabou por adotar esse filho bem legtimo, batizando-o com o nome de hipnotismo. verdade que essa cincia nova mantm-
se principalmente em suas formas elementares, sobre o terreno
fisiolgico. Mas a sugesto verbal conduzir fatalmente sugesto mental e j se elevam vozes que o afirmam.
o primeiro passo no caminho do supra-sensvel. Chegar-se-
, mui natural e inevitavelmente, a reconhecer o imenso domnio
dos fenmenos telepticos, e um grupo de sbios intrpidos e
infatigveis j os estudaram, aceitaram e classificaram. Esses fatos tm um alto valor para a explicao e legitimao dos
outros fatos, quer anmicos, quer espirticos. Ainda um pouco, e
eis-nos chegados aos fatos de clarividncia eles j batem nas portas do santurio!
O hipnotismo a cunha que forar as barreiras materialistas
da Cincia, para fazer penetrar nelas o elemento supra-sensvel
ou metafsico. Ele j criou a psicologia experimental,3 que
acabar fatalmente por compreender os fatos do Animismo e do Espiritismo, os quais, por sua vez, terminaro na criao da
metafsica experimental como o predisse Schopenhauer.
Hoje, graas s experincias hipnticas, a noo da
personalidade sofre uma completa revoluo. No mais uma
unidade consciente, simples e permanente, como o afirmava a antiga escola, porm uma coordenao psicolgica, um
conjunto coerente, um consenso, uma sntese, uma associao dos fenmenos da conscincia, enfim, um agregado de
elementos psquicos; por conseguinte, uma parte desses
elementos pode, em certas condies, se dissociar, se destacar do ncleo central, a tal ponto que esses elementos tomem pro
20
tempore o carter de uma personalidade independente. Eis uma
explicao provisria das variaes e dos desdobramentos da personalidade, observados no sonambulismo e no hipnotismo.
Nessa explicao j divisamos o grmen de uma hiptese
plausvel para os fenmenos do mediunismo, e efetivamente
comea-se a aplic-lo aos fenmenos elementares, que os
senhores sbios condescendem em reconhecer presentemente sob o nome de automatismo psicolgico (ver os Srs. Myers,
Charles Richet, P. Janet).
Se a Cincia no tivesse desprezado os fatos do magnetismo
animal, desde o comeo, os seus estudos sobre a personalidade
teriam dado um passo imenso e teriam entrado no domnio do saber comum; o vulgo se teria ento comportado de modo
diferente a respeito do Espiritismo, e a Cincia no teria tardado
em ver, nesses fenmenos superiores, um novo desenvolvimento da desagregao psicolgica, e essa hiptese com certos
desenvolvimentos teria podido tambm aplicar-se at a todos os
outros gneros de fenmenos medinicos; assim, nos fenmenos superiores de ordem fsica (movimentos de objetos sem contato,
etc.), ela teria visto um fenmeno de desagregao de efeito
fsico, e nos fatos de materializao um fenmeno de desagregao de efeito plstico.
Um mdium, conforme essa terminologia, seria um indivduo
no qual o estado de desagregao psicolgica sobrevm
facilmente, no qual, para empregar a expresso do Sr. Janet, o
poder de sntese psquica fica enfraquecido e deixa escapar-se, para fora da percepo pessoal, um nmero mais ou menos
considervel de fenmenos psicolgicos.4
Como o hipnotismo em nossos dias um instrumento por
meio do qual certos fenmenos de automatismo psicolgico (de
dissociao dos fenmenos da conscincia, ou de desagregao mental) podem ser obtidos vontade e submetidos
experimentao, com o mesmo fundamento no hesitamos em afirmar que o hipnotismo tornar-se- em breve um instrumento
por meio do qual quase todos os fenmenos do Animismo
podero ser submetidos a uma experimentao positiva, obedecendo vontade do homem; a sugesto ser o instrumento
21
por meio do qual a desagregao psquica transpor os limites do
corpo e produzir efeitos fsicos vontade.5
Ser tambm o primeiro passo para a produo vontade de
um efeito plstico, e o fenmeno conhecido em nossos dias sob o nome de materializao receber o seu batismo cientfico.
Tudo isso importa necessariamente na modificao das doutrinas
psicolgicas e as conduzir ao ponto de vista monstico, segundo o qual cada elemento psquico portador no s de uma forma
de conscincia, como ainda de uma fora organizadora.6
Dissecando a personalidade, a experimentao psicolgica
chegar a encontrar a individualidade, que o ncleo
transcendente das foras indissociveis, em torno do qual vm grupar-se os elementos mltiplos e dissociveis que constituem a
personalidade. ento que o Espiritismo far valer os seus
direitos. Somente ele pde provar a existncia e a persistncia metafsica do indivduo. E chegar o tempo em que, no pice da
possante pirmide que a Cincia h de elevar com os
inumerveis materiais reunidos no domnio dos fatos no menos positivos quo transcendentes, ver-se-o brilhar, acesos pelas
mos da prpria Cincia, os fogos sagrados da imortalidade.
* * *
Em ltimo lugar, resta-me fazer apelo indulgncia dos meus leitores. Terminado o meu trabalho, vejo os seus defeitos melhor
do que qualquer outra pessoa. Desejando no adiar a minha
resposta ao Sr. Hartmann at a concluso completa do meu trabalho, isto , at uma poca indeterminada, comecei a public-
lo imediatamente nos Psychische Studien por meio de artigos
mensais, o que necessita sempre uma certa pressa e torna impossvel a reviso de um captulo em seu conjunto e, a
fortiori, de todo o trabalho. Resultou da uma certa desproporo
das partes e defeitos na exposio, nas definies, etc., contra os quais me choco atualmente. Certos captulos so muito longos e
minuciosos, outros muito breves, sem falar nas repeties da
argumentao.
assim que lamento no ter dado, no captulo consagrado
fotografia transcendente, o texto completo das experincias de
22
Beattie, que considero muito importantes. No fiz seno referir-
me aos Psychische Studien. Para minha traduo russa, retoquei toda essa parte da obra, e essa ltima que serve de base
edio francesa. Por outro lado, lamento, pelo contrrio, ter dado
muito desenvolvimento, no captulo das materializaes, s experincias de moldagem e de fotografia, em vez de manter-me
nos fatos que correspondiam diretamente s exigncias do Sr.
Hartmann; no vale a pena perder tanto tempo em simples questo de fatos cuja realidade objetiva no ocasiona dvida
alguma para os que tiveram ocasio de observ-los, e que no
tardaro em adquirir direito de cidadania com o conjunto dos fenmenos medinicos; finalmente, a sua importncia terica
apenas de segunda ordem.
Lamento tambm no ter podido dar ao captulo Animismo,
que a parte essencial para a justificao do Espiritismo, um
desenvolvimento mais sistemtico e mais completo.
A grande dificuldade para mim foi a escolha dos fatos. Insisti
sobre este ponto no comeo do meu prefcio, e volto a ele, terminando-o. Disse com razo que o fim da minha obra no
tomar a defesa dos fatos, e verdade, quando me coloco no
ponto de vista do Sr. Hartmann; mas confesso que tinha tambm diante dos olhos um objetivo mais geral e que procurei sempre
apresentar os fatos que correspondessem melhor s exigncias da
crtica, pelas prprias condies de sua produo. Est a o ponto vulnervel; pois que nenhuma condio, nenhuma medida de
precauo que se tome, bastante para convencer da realidade
de um fato, enquanto esse fato considerado uma impossibilidade pela opinio pblica. E depois a possibilidade da
fraude consciente ou inconsciente , possibilidade que se pode
sempre admitir e cuja ausncia no se pode provar, vem ainda agravar a dificuldade. Os fenmenos intelectuais oferecem, sob
esse ponto de vista, um campo de estudo menos ingrato, pois que apresentam muitas vezes provas intrnsecas de sua autenticidade,
que nenhum recurso fraude est no caso de dar, a menos que se
conclua pela hiptese de uma mentira universal. A refutao dessa hiptese est fora de todo o poder humano.
23
Por conseguinte, a f moral aqui, como em qualquer outro
estudo humano, a base indispensvel do progresso para a Verdade.
No pude fazer outra coisa mais do que afirmar publicamente
o que vi, ouvi ou senti; e quando centenas, milhares de pessoas
afirmam a mesma coisa, quanto ao gnero do fenmeno, apesar
da variedade infinita das particularidades, a f no tipo do fenmeno se impe.
Assim, no virei afirmar com insistncia que cada fato que
relatei se produziu exatamente, tal qual ele est descrito pois
que no h caso que no possa prestar-se objeo , porm
insisto no gnero do fato, eis o essencial. Sei que ele existe, e isso me bastante para admitir as suas variedades. Vede os fatos
de telepatia provados e colecionados com tanto cuidado e zelo
pelos trabalhadores infatigveis da Sociedade de Pesquisas Psquicas de Londres. Eles convenceram a massa?
Absolutamente no, e ainda menos a Cincia. Ser-lhes- preciso
tempo, como o foi para o hipnotismo; e, para os fatos de que tratei neste livro, ser preciso mais tempo ainda.
At ento apenas se plantaro ao longo do caminho estacas,
que um futuro, talvez no muito remoto, substituir por colunas
de granito.
Ainda uma palavra: no declnio da minha existncia, pergunto
s vezes a mim mesmo se procedi bem em consagrar tanto
tempo, trabalho e recursos ao estudo e propaganda de todos esses fenmenos. No tomei caminho errado? No persegui uma
iluso? No sacrifiquei uma existncia inteira sem que nada
justificasse ou retribusse os incmodos que me impus?
Mas sempre julgo ouvir a mesma resposta: para o emprego de
uma existncia terrestre, no pode haver objetivo mais elevado do que procurar provar a natureza transcendente do ser humano,
chamado a um destino muito mais sublime do que a existncia fenomnica!
No posso, pois, lamentar ter consagrado toda a minha vida
aquisio desse objetivo, se bem que por caminhos impopulares
e ilusrios, segundo a cincia ortodoxa, mas que eu sei que so
24
mais infalveis do que essa cincia. E, se consegui, de minha
parte, trazer ainda que uma s pedra edificao do templo do Esprito que a humanidade, fiel voz interior, constri atravs
dos sculos com tanto labor , ser para mim a nica e mais alta
recompensa a que posso aspirar.
S. Petersburgo, 3-15 de fevereiro de 1890.
Alexandre Aksakof
25
Introduo
A publicao da obra do Sr. Hartmann, sobre o Espiritismo, causou-me a mais viva satisfao. O meu mais sincero desejo foi
sempre que um eminente filsofo no pertencente ao campo
esprita se ocupasse dessa questo de uma maneira absolutamente sria, depois de ter adquirido um conhecimento
aprofundado de todos os fatos atinentes ao assunto; desejava que
ele os submetesse a um exame rigoroso, sem levar em conta as idias modernas, os princpios morais e religiosos que nos
governam; esse exame devia pertencer lgica pura, baseada na
cincia psicolgica.
Caso ele chegasse concluso de que a hiptese proposta
pelo Espiritismo era ilgica, eu desejaria que ele me indicasse as razes, o porqu disso e qual seria, a seu ver, a hiptese que
corresponderia melhor s exigncias da cincia contempornea.
Sob esse ponto de vista, a obra do Sr. Hartmann constitui uma
obra de mestre e apresenta a mais elevada importncia para o
Espiritismo.
Em nosso jornal hebdomadrio, o Rebus, que se publica em
So Petersburgo, anunciei o aparecimento dessa obra em um artigo intitulado: Um acontecimento no mundo do Espiritismo,
artigo no qual eu disse, entre outras coisas:
O livro do Sr. von Hartmann para os espritas um guia que
os por em condies de estudar uma questo dessa natureza e
de formar uma idia do cuidado com o qual devem conduzir as suas experincias, e da circunspeco de que devem usar tirando
suas concluses para afrontar com confiana a crtica da cincia
contempornea.
Imediatamente propus ao Rebus publicar a traduo daquela
obra, como o tinha feito o jornal Light, de Londres; atualmente o livro do Sr. Hartmann apareceu ao mesmo tempo no Rebus e em
volume separado.
Podemos, pois, esperar que com o concurso de um pensador,
tal qual o Sr. Hartmann (temos todo o fundamento em acreditar que, no futuro, ele no nos recusar o auxlio das suas luzes),
26
essa questo, cuja incomensurvel importncia para o estudo do
homem comea a aparecer, ser finalmente posta na ordem do dia, h de impor e provocar a apreciao a que tem direito.
Todos os meus esforos na Alemanha (pas que consideramos
ocupar o primeiro lugar no estudo das questes filosficas)
tiveram por fim atrair para o Espiritismo a ateno imparcial dos
seus sbios, na esperana de obter o seu apoio e as indicaes necessrias para continuar o estudo racional dessa questo.
A Alemanha oferecia, para a investigao e discusso de tal
assunto, o terreno livre que eu no podia encontrar na Rssia de
vinte anos passados; procedi da maneira seguinte: publiquei em
traduo alem os materiais mais importantes colhidos na literatura inglesa, sobre esse assunto; em seguida, a contar do
ano de 1874, editei, em Lpsia, um jornal mensal Psychische
Studien, que tinha como misso popularizar esses escritos. Os meus esforos foram acolhidos por violenta oposio; os sbios
alemes em sua maioria no queriam absolutamente tratar dessa
questo julgada indigna; negavam os fatos, condenavam a teoria, e isso apesar da atitude animadora de muitos escritores clebres,
tais como: Emmanuel Fichte, Franz Hoffman, Maximiliano Perty
e outros que me prestaram o seu apoio, quer pela palavra, quer pela ao, publicando artigos no meu jornal. A entrada do Sr.
Zllner em cena deu uma nova direo controvrsia. Os
materiais que eu tinha preparado para a comisso esprita, nomeada em 1875 pela Universidade de So Petersburgo,
materiais que importavam na demonstrao ad oculos de fatos
tangveis, na pessoa do Dr. Slade, e que no foram utilizados pela dita comisso, que tinha pressa em dissolver-se, no
tardaram, entretanto, em produzir seus frutos na Alemanha.
Quando o professor Zllner, devido ao xito das suas
experincias com Slade, quis adquirir um conhecimento mais
amplo nessa matria, encontrou, com satisfao, tudo o que lhe era necessrio nas minhas diversas publicaes. Por mais de uma
vez ele me testemunhou a sua gratido, e a verificao que ele fez da realidade dos fenmenos medinicos produziu na
Alemanha uma sensao imensa.
27
Logo depois apareceram as obras do Baro Hellenbach, que
foi, na Alemanha, o primeiro pesquisador independente nessa ordem de fenmenos. Ele foi em breve seguido nesse caminho
por um outro pensador distinto, o Dr. Carl du Prel. Ademais,
depois de Zllner, a questo esprita tinha engendrado na Alemanha uma literatura completa.
Ao mesmo tempo, as demonstraes pblicas do
magnetizador-hipnotizador Hansen produziram uma revoluo
no domnio do magnetismo animal. Esses fenmenos, negados e
difamados sistematicamente durante um sculo, foram finalmente coligidos pela Cincia; as maravilhas do hipnotismo,
reconhecidos hoje em toda a sua realidade, preparam o caminho
que deve conduzir aceitao das maravilhas medinicas.
Talvez seja mesmo devido a esse concurso de circunstncias
que devemos o aparecimento do livro de Hartmann, porque precisamente sobre a teoria da sugesto mental em geral e da
sugesto das alucinaes em particular que esse filsofo baseou
uma parte essencial da sua hiptese.
Aqui tambm, o meu humilde trabalho preparatrio prestou
notveis servios, porque foi na maior parte em minhas publicaes alems e no meu jornal Psychische Studien que
Hartmann tirou os fatos que lhe serviram para formular o seu
juzo sobre a questo esprita. Ele me deu mesmo a honra de recomendar o meu jornal como particularmente til para o
estudo desse assunto.
Finalmente, desde o momento em que Hartmann insiste sobre
a necessidade de submeter os fenmenos medinicos a um
exame cientfico e pede que o Governo nomeie para esse fim comisses cientficas, posso com toda a confiana considerar a
minha atividade na Alemanha como tendo atingido em cheio o
seu alvo; tenho todas as razes de acreditar que, desde o momento em que uma voz to autorizada se fez ouvir para
proclamar a necessidade de semelhante investigao, a questo esprita far sozinha o seu caminho na Alemanha. Por
conseguinte preciso que eu me retire para consagrar o resto das
minhas foras continuao da minha obra na Rssia.
28
Entretanto, antes de retirar-me, seria talvez til que expusesse
aos leitores do meu jornal as razes que no me permitem aceitar sem reservas as hipteses e as concluses do Sr. Hartmann, as
quais devem ser de uma autoridade muito grande, no somente
para a Alemanha, mas ainda para o mundo filosfico inteiro. O motivo que me leva a isso no provm, de maneira alguma, do
fato de o Sr. Hartmann se ter pronunciado decididamente contra
a hiptese esprita; por ora, considero o lado terico como colocado em segundo plano, como de importncia secundria e
at prematura, no ponto de vista estritamente cientfico;
finalmente, o prprio Sr. Hartmann o reconhece quando diz:
Os materiais de que dispomos no so suficientes para
considerar essa questo como amadurecida para a discusso. (Der Spiritismus, pg. 14).
O meu programa foi sempre prosseguir antes de tudo na
pesquisa dos fatos, para estabelecer a sua realidade, seguir o seu
desenvolvimento e estud-los, na qualidade de fatos, em toda a
sua prodigiosa variedade. Na minha opinio, passar-se- por muitas hipteses antes de chegar a uma teoria suscetvel de ser
universalmente adotada como a nica verdadeira, enquanto que
os fatos, uma vez bem estabelecidos, ficaro adquiridos para sempre. Enunciei essa opinio h cerca de vinte anos, publicando
uma traduo russa da obra do Dr. Hare (Pesquisas
experimentais sobre as manifestaes dos Espritos), nesses termos:
A teoria e os fatos so duas coisas distintas; os erros da
primeira nunca podero destruir a fora destes ltimos, etc. (Ed.
alem, pg. LVIII).
No meu prefcio edio russa de William Crookes, escrevia
ainda:
Quando o estudo dessa questo fizer parte do domnio da
Cincia, passar por muitas fases que correspondero aos resultados obtidos: 1- verificao dos fatos espiritualistas; 2-
verificao da existncia de uma fora desconhecida; 3-
verificao da existncia de uma fora inteligente desconhecida; 4- pesquisa da fonte dessa fora, a saber: acha-se ela dentro ou
29
fora do homem? subjetiva ou objetiva? A soluo desse
problema constituir a prova definitiva, o experimentum crucis dessa questo; a Cincia ser ento chamada a pronunciar o mais
solene veredicto que jamais foi pedido sua competncia. Se
esse juzo for afirmativo para a segunda alternativa, isto , se ele decidir que a fora em questo dimana de uma fonte fora do
homem, ento comear o quinto ato, uma imensa revoluo na
Cincia e na Religio. (Ed. alem, pg. XI-XIII).
Onde nos achamos atualmente? Podemos afirmar que
estamos no quarto ato? No o creio. Acredito de preferncia que estamos ainda no prlogo do primeiro ato, pois a questo, quanto
aos prprios fatos, no ainda admitida pela Cincia, que no os
quer reconhecer! Estamos mui distantes ainda da verdadeira teoria, principalmente na Alemanha, onde a parte fenomnica
dessa questo est to pouco desenvolvida que ali h falta quase
total de mdiuns com fora suficiente para as exigncias do estudo experimental.
Todos os fatos sobre os quais Hartmann baseia a sua
argumentao foram adquiridos fora da Alemanha; o Sr.
Hartmann no teve sequer ensejo de observ-los pessoalmente.
verdade que ele teve a coragem mui meritria de aceitar os testemunhos de outrem, porm ningum poder negar que em tal
questo as experincias pessoais sejam de uma importncia
capital. Mais ainda, o limite onde podem atingir esses fatos est longe de ser traado; a sua expanso, o seu desenvolvimento so
lentos, porm constantes; o que Hartmann exige deles, no ponto
de vista da crtica, deve ainda ser adquirido.
Como prova de que no opto pelo triunfo exclusivo de uma
ou de outra das hipteses espritas, apelo para o fato seguinte: Deixei ao meu estimado colaborador, o Sr. Wittig, plena
liberdade de publicar sobre os fenmenos em questo as suas
idias pessoais que tendem a procurar a sua explicao na teoria chamada psquica, antes que na teoria esprita.
Mas, professando uma tolerncia inteiramente perfeita a
respeito das diversas teorias propostas, no posso manter a
mesma atitude passiva perante a ignorncia dos fatos, o seu esquecimento, a sua supresso, desde que eles no parecem estar
30
de acordo com a hiptese emitida. Aquele que deseja ser
absolutamente imparcial no estudo de problema to complicado, necessariamente, nunca deve perder de vista a totalidade, o
conjunto dos fatos j adquiridos; mas, infelizmente, um dos erros
ordinrios que cometem os promotores de uma hiptese que, pretendendo a todo o transe dar razo ao seu sistema, esquecem
ou passam em silncio os fatos que precisamente se trata de
explicar.
nessa ordem de idias que eu me vi forado a sustentar uma
polmica com o Sr. Wittig, o qual levou o desenvolvimento da sua hiptese at a falar da fotografia de uma alucinao, o que
uma fragrante contradictio in adjecto.
provavelmente esta polmica que visa o Sr. Hartmann
quando diz que o Sr. Wittig no pde elevar a voz para a defesa
da sua teoria seno em uma luta contra o prprio editor do jornal (Spiritismo, pg. 2). Se houve luta, no foi empenhada
em defesa da prpria hiptese, porm pela causa da lgica e da
imparcialidade que se deve aos fatos.
A crtica do Sr. Hartmann inteiramente baseada sobre a
aceitao provisria (condicional) da realidade dos fatos espritas, exceo dos fenmenos de materializao, que ele
nega pura e simplesmente. Essa licena, por si s, no poderia
ser deixada sem rplica. Mas, independentemente da materializao, h numerosos fatos que escaparam ao
conhecimento do Sr. Hartmann, ou sobre os quais ele guardou
silncio, ou antes, cujas particularidades ele no apreciou devidamente. Ora, julgo do meu dever apresentar todos esses
fatos, fazendo sobressair deles o seu justo valor. Aproveitar-me-
ei dessa oportunidade para oferecer as concluses s quais cheguei depois de longos estudos sobre esse assunto, concluses
que no publiquei antes do aparecimento desta obra.
31
Resumo terico das teorias antiespirticas
Em relao s teorias, a obra do Sr. Hartmann nada apresenta de novo. A fora nurica, a transmisso do pensamento, o
sonambulismo, tudo isso j tinha sido posto em foco, uma
explicao natural, desde o comeo, para dar dos fenmenos espritas.
Mais tarde, quando se teve que contar com os fenmenos de
materializao, recorreu-se ao argumento das alucinaes.
O mrito capital do trabalho do Sr. Hartmann consiste no
desenvolvimento sistemtico desses princpios e na classificao
metdica de todos os fatos que se referem a essa questo.
Acredito, entretanto, que um olhar rpido sobre os trabalhos daqueles que precederam o Sr. Hartmann no seria sem
interesse, nem para os leitores, nem para o prprio Sr. Hartmann.
Certamente seria bem difcil e intil entrar em
particularidades minuciosas. Sobre esses trabalhos s darei um
breve resumo das principais obras que tratam da questo que nos interessa.
Procedendo por ordem cronolgica, preciso citar em
primeiro lugar: The Daimonion, or the Spiritual Medium, its Na-
ture, illustrated by the History of its Uniform Mysterious Mani-
festations when unduly excited. By Traverse Oldfield (Boston, 1852, 157 pginas, em 8 pequeno) (O demnio, ou o mdium
espiritual, e a sua natureza, ilustrado com a histria de suas
manifestaes uniformemente misteriosas quando ele indevidamente excitado). O verdadeiro autor G. W. Samson.
O Spiritual Medium, de que se trata, o princpio nervoso.
A melhor e mais sistemtica obra elaborada nessa ordem de
idias certamente esta: Philosophy of Mysterious Agents,
Human and Mundane, or the Dynamic Laws and Relations of Man, embracing the Natural Philosophy of Phenomena styled:
Spiritual Manifestations (Filosofia dos agentes misteriosos, humanos e terrestres, ou as leis e as relaes dinmicas do
homem, compreendendo a explicao natural dos fenmenos
32
designados como Manifestaes dos Espritos), por E. C.
Rogers (Boston, 1853, 336 pginas, em 8 pequeno).
Ao aparecimento desta obra, houve uma discusso
interessante nos jornais americanos The Tribune e The Spiritual Telegraph, entre o Dr. Richmond e o Dr. Brittan a respeito das
manifestaes espirituais. O primeiro sustentava que era possvel
explicar esses fenmenos sem admitir, para isso, a interveno dos Espritos. O segundo mantinha a opinio contrria. As
quarenta e oito cartas publicadas pelas duas partes foram
editadas em um volume, sob este ttulo: A Discussion of the Facts and Philosophy of Ancient and Modern Spiritualism. By S.
B. Brittan and B. V. Richmond (Nova Iorque, 1853, 377 pginas,
em 8 grande).
Modern Mysteries Explained and Exposed (Mistrios
modernos explicados e interpretados), pelo Rev. A. Mahan, 1 presidente da Universidade de Cleveland (Boston, 1855, 466
pginas, em 8). Esta obra tem por fim desenvolver e defender as
duas teses seguintes: 1- A causa imediata dessas manifestaes idntica no somente fora dica,7 mas ainda fora que
engendra os fenmenos do mesmerismo e da clarividncia (pg.
106); 2- Possumos provas positivas e concludentes de que essas manifestaes provm exclusivamente de causas naturais e
no da interveno de Espritos destacados do corpo (pg. 152).
Mary Jane, or Spiritualism Chemically Explained; also
Essays by and Ideas (perhaps erroneous) of a Child at School
(Mary Jane, ou o Espiritualismo explicado quimicamente; assim como ensaios e idias talvez errneas de uma colegial)
(Londres, 1863, 379 pginas, em 8 grande, com figuras). um
dos livros mais curiosos sobre essa matria. O autor, o Sr. Samuel Guppy, materialista consumado, se tinha proposto
publicar um resumo de ensaios sobre diversos assuntos, tais
como: luz, instinto e inteligncia, elementos do homem, gerao espontnea, princpios da inteligncia humana, a vida, a
Astronomia, a criao, o infinito, etc. Ora, o seu livro j estava impresso at pgina 300, quando em sua prpria casa se
produziram subitamente fenmenos medinicos dos mais
extraordinrios: deslocamento espontneo de objetos, escrita
33
automtica, respostas a perguntas mentais, toque de instrumentos
de msica, escrita direta, execuo direta (sem o contato de uma pessoa) de desenhos e pinturas, etc. O mdium era a sua prpria
mulher.
On force its Mental and Moral Correlates, and on that which
is supposed to underlie all Phenomena; with Speculations on
Spiritualism and other Abnormal Conditions of Mind (Da fora e suas correlaes mentais e morais, e do que suposto ser a
base de todos os fenmenos; acrescentando a especulaes
sobre o Espiritualismo e outras condies anormais do Esprito). Por Charles Bray, autor do The Philosophy of Neces-
sity, The Education of Feelings, etc. (Londres, 1867, 164 pginas
em 8).
Exalted States of the Nervous System in explanation of the
Mysteries of Modern Spiritualism, Dreams, Trance, Somnambu-lism, vital Photography, etc. (Estados de superatividade do
sistema nervoso no ponto de vista da explicao dos mistrios do
Espiritualismo moderno, dos sonhos, do sonambulismo, da fotografia vital, etc.) Por Robert H. Collier, M. D. (Londres,
1873, 140 pginas em 8). Este livro no apresenta um trabalho
sistemtico; contm antes indicaes, aluses a diversos assuntos interessando a essa questo.
Spiritualism and allied Causes and Conditions of Nervous
Derangements, by William A. Hammond, M. D. Professor of
Diseases of the Mind and Nervous System in the Medical
Department of the University of the City of New York (O Espiritualismo e as causas e condies congneres das
perturbaes nervosas, pelo Dr. William A. Hammond,
professor de molstias mentais e de molstias nervosas do Departamento de Medicina, na Universidade da cidade de Nova
Iorque), (Londres, 1876). Um grande volume de 366 pginas em
8, no qual o autor no quer falar seno dos fatos que podem explicar-se de uma maneira natural.
Passemos s obras escritas em lngua francesa. No so
numerosas. A primeira pertencente a essa categoria a do Conde
Agenor de Gasparin, publicada em Paris, em 1854, sob o ttulo Das mesas girantes, do sobrenatural em geral e dos Espritos (2
34
volumes em 8, 500 pginas), na qual o autor d amplas
informaes sobre longa srie de experincias fsicas, tentadas por ele e por alguns amigos particulares, nas quais essa fora se
achava consideravelmente desenvolvida. Esses ensaios muito
numerosos foram realizados em condies de exame dos mais rigorosos. O fato do movimento de corpos pesados sem contato
mecnico foi reconhecido, provado e demonstrado. Srias
experincias foram feitas para medir a fora, quer do acrscimo, quer de diminuio de peso, que se comunicava assim s
substncias postas prova, e o Conde Gasparin adotou um meio
engenhoso, que lhe permitiu obter uma avaliao numrica aproximativa do poder da fora psquica que existia em cada
indivduo. O autor chegava a essa concluso final: que podiam
explicar-se todos aqueles fenmenos pela ao de causas naturais, e que no havia necessidade de supor milagres nem a
interveno de influncias espirituais ou diablicas.
Ele considerava como um fato plenamente comprovado pelas
suas experincias que a vontade, em certas condies do
organismo, pode agir a distncia sobre a matria inerte, e a maior parte do seu livro consagrada a estabelecer as leis e as
condies nas quais esta ao se manifesta.
Em 1855, o Sr. Thury, professor na Academia de Genebra,
publicou uma obra sob o ttulo: As Mesas Falantes (Genebra,
Livraria Alem de J. Kessemann, 1855), na qual passa em revista as experincias do Conde de Gasparin; ele entra em longas
consideraes sobre as pesquisas que fez ao mesmo tempo.
Tambm neste caso os ensaios foram feitos com o auxlio de amigos ntimos e conduzidos com todo o cuidado que um
homem de cincia capaz de empregar nessa matria. O espao
no me permite citar os importantes e numerosos resultados obtidos pelo Sr. Thury, mas pelos ttulos seguintes de alguns dos
captulos, ver-se- que a pesquisa no foi feita superficialmente: Fatos que estabelecem a realidade dos novos fenmenos;
Ao mecnica tornada impossvel; Movimentos efetuados
sem contato; Suas causas; Condies requeridas para a produo e ao da fora; Condies da ao a respeito dos
operadores; A vontade; necessrio que haja vrios
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operadores? Necessidades preliminares; Condio mental dos
operadores; Condies meteorolgicas; Condies relativas aos instrumentos empregados; Condies relativas ao modo de
ao dos operadores sobre os instrumentos; Ao das
substncias interpostas; Produo e transmisso da fora; Exame das causas que a produzem; Fraude; Ao muscular
inconsciente produzida por um estado nervoso particular;
Eletricidade; nervo-magnetismo; Teoria do Sr. Conde de Gasparin, de um fluido especial; Questo geral a respeito da
ao do Esprito sobre a matria; Primeira proposio: Nas
condies ordinrias dos corpos, a vontade s age diretamente na esfera do organismo; Segunda proposio: No prprio
organismo h uma srie de atos mediatos; Terceira
proposio: A substncia sobre a qual o Esprito age diretamente, o psicodo, no suscetvel seno de modificaes
muito simples sob a influncia da inteligncia; Explicaes
baseadas sobre a interveno dos Espritos.
O Sr. Thury refuta todas essas explicaes e acredita que
esses efeitos so devidos a uma substncia particular, a um fluido ou a um agente, o qual de uma maneira anloga do ter
dos sbios transmite a luz, penetra toda a matria nervosa,
orgnica ou inorgnica, e que ele chama psicodo. Entra na plena discusso das propriedades desse estado ou forma de matria e
prope o nome de fora ectnica (extenso) ao poder que se
exerce quando o Esprito age, a distncia, por meio da influncia do psicodo.8
Estudos experimentais sobre certos fenmenos nervosos, e
soluo racional do problema esprita, por Chevillard, professor
na Escola Nacional de Belas Artes (Paris, 1872, 90 pginas, em
8). O fundo de sua teoria, que se refere somente s pancadas (raps) e ao movimento dos objetos, resume-se nestas linhas:
As vibraes da mesa, desde que as suas partes se
puseram em equilbrio de temperatura, no so mais do que as vibraes fludicas emitidas pela funo mrbida que
constitui o estado nervoso do mdium. No estado normal,
cada um emite fluido nervoso, porm no de maneira a fazer vibrar sensivelmente a superfcie de um corpo slido que se
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toca. O mdium sem dvida to auxiliado pela emisso
natural dos assistentes crdulos, sempre numerosos, pois que toda emisso fludica, mesmo muito fraca, para a mesa, deve
repartir-se nela imediatamente, por causa da temperatura j
conveniente. A mesa fica verdadeiramente magnetizada pela emisso do mdium, e a palavra magnetizada no tem outro
sentido alm de fazer entender que ela coberta ou
impregnada de fluido nervoso vibrante, isto , vital do mdium. A mesa fica ento como um harmnio que espera a
martelada do pensamento daquele que a impregnou. O
mdium quer uma pancada em um momento em que ela se d olhando atentamente o lpis correr sobre o alfabeto, e esse
pensamento, fixando-se subitamente, engendra um choque
cerebral nervoso que repercute instantaneamente, por intermdio dos nervos, na superfcie tubular vibrante. O
choque ressoa integrando as vibraes da mesa maneira de
um forte brilho ou fasca obscura, cujo rudo a conseqncia dessa condensao instantnea feita no ar
ambiente. (pginas 25 e 26).
No h em todo o ato tiptolgico 9 ou nevrosttico mais
do que condensaes ou integraes de vibraes em fascas obscuras. (pg. 38).
Quanto aos movimentos dos objetos, o autor emite a teoria
seguinte:
Os movimentos, chamados espritas, de um objeto
inanimado so um efeito real, porm nevro-dinmico, dos pretendidos mdiuns, que transformam o objeto em rgo
exterior momentneo, sem terem disso conscincia. (pgina
54).
Mais adiante, o Sr. Chevillard desenvolve mais esta mesma proposio:
A idia da ao voluntria mecnica transmite-se pelo
fluido nervoso do crebro ao objeto inanimado suficientemente aquecido; depois do que, este executa
rapidamente a ao na qualidade de rgo automtico ligado
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pelo fluido ao ser voluntrio, quer a ligao seja por contato
ou a pequena distncia; porm o ser no tem a percepo do seu ato, visto como no o executa por um esforo muscular.
(pg. 62).
Em suma:
Os fenmenos chamados espritas no so mais do que
manifestaes inconscientes da ao magneto-dinmica do fluido nervoso. (pg. 86).
Ultimamente apareceu uma obra muito interessante, tendo por
ttulo: Ensaio sobre a Humanidade pstuma e o Espiritismo, por
um positivista Adolpho dAssier (Paris, 1883, 305 pginas em 12).
A obra citada apresenta esse interesse: o autor foi coagido,
por sua prpria experincia, a reconhecer a realidade objetiva de
certos fenmenos, habitualmente designados como
sobrenaturais e dos quais o Sr. Hartmann no faz meno no seu livro sobre O Espiritismo; entretanto, esses fenmenos tm
uma relao imediata com o Espiritismo; eles impem-se alm
disso, se se quer estabelecer uma hiptese geral.
Em seu prefcio, o autor expe a evoluo que se operou no
seu esprito e d uma idia geral do seu trabalho. Daremos dela alguns extratos:
O ttulo deste ensaio parecer talvez a certas pessoas em
desacordo com as opinies filosficas que professei em toda
a minha vida e com a grande escola para a qual o estudo das cincias me tinha encaminhado. Fiquem essas pessoas
tranqilas: a contradio apenas aparente. As idias que
exponho afastam-se tanto das fantasias do misticismo quanto das alucinaes dos espritas. No saindo do domnio dos
fatos, no invocando causa sobrenatural para interpret-los,
acreditei poder dar ao meu livro a chancela do Positivismo. Eis, finalmente, como fui conduzido a pesquisas to
diferentes dos meus trabalhos ordinrios.
O autor fala em seguida da sorte que tiveram os aerlitos, durante tanto tempo negados pela Cincia, e da resposta que
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Lavoisier deu certo dia em nome da Academia das Cincias:
No h pedras no cu; por conseguinte elas no poderiam cair sobre a Terra; tambm faz meno da narrao dos sapos que
caem com as fortes chuvas, narrao que os sbios acolheram
dizendo que no havia sapos nas nuvens, por conseguinte eles no podiam cair sobre a Terra.
Depois disso o Sr. dAssier continua:
Era permitido supor que tais lies no ficassem perdidas e que as pessoas que se presumissem srias se mostrassem de
futuro mais circunspectas nas suas negaes sistemticas.
No sucedeu assim. As noes falsas que colhemos em nossos preconceitos ou em uma educao cientfica
incompleta imprimem ao nosso crebro uma sorte de
equao pessoal da qual no nos podemos libertar. Durante trinta anos, ri-me da resposta de Lavoisier sem me aperceber
que invocava o mesmo argumento na explicao de certos
fenmenos no menos extraordinrios do que as chuvas de pedras ou de sapos. Quero falar dos rudos estranhos que se
ouvem s vezes em certas casas e que no se podem referir a
nenhuma causa fsica, pelo menos no sentido vulgar que damos a essa palavra. Uma circunstncia digna de nota vem
duplicar a singularidade do fenmeno. que esses rudos no
apareciam de ordinrio seno depois da morte de uma pessoa da habitao. Sendo criana, vi em agitao todos os
habitantes de um canto. O abade Peyton, cura da parquia
de Sentenac (Arige), acabava de morrer. Nos dias seguintes, produziram-se no presbitrio rudos inslitos e to
persistentes que o serventurio que lhe tinha sucedido esteve
prestes a abandonar o seu posto.
As pessoas da localidade, to ignorantes quo supersticiosas, no achavam obstculo para explicar esse
prodgio. Declararam que a alma do morto estava em
penitncia porque ele no tinha tido o tempo de dizer antes da morte todas as missas cuja paga tinha recebido. Quanto a
mim, no estava de maneira alguma convencido. Educado no
dogma cristo, eu dizia a mim mesmo que o abade Peyton tinha definitivamente deixado o planeta por uma das trs
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residncias pstumas: o cu, o inferno, o purgatrio, e eu
supunha que as portas das duas penitencirias eram aferrolhadas com bastante solidez para que ele tivesse a
fantasia de retroceder. Mais tarde, tendo entrado em outra
corrente de idias, tanto pelo estudo comparado das religies, quanto pelo das cincias, tornei-me ainda mais incrdulo, e
tinha compaixo daqueles que pretendiam ter assistido a
iguais espetculos.
Os Espritos, eu no cessava de repetir, s existem na imaginao dos mdiuns e dos espritas; no se poderiam,
pois, encontrar em outra parte. Em 1868, achando-me no
Berry, encolerizei-me contra uma pobre mulher que persistia em afirmar que, em um albergue que ela habitara em uma
certa poca, cada noite mo invisvel lhe puxava os lenis
do leito, desde que apagava a luz. Tratei- a de imbecil, de parva, de idiota.
Logo depois sobreveio o ano terrvel. De minha parte, de l
sa com a perda da vista e, coisa ainda mais grave, com os
primeiros sintomas de uma paralisia geral. Tendo sido
testemunha das curas maravilhosas que as guas de Aulus produzem, no tratamento de certas molstias, principalmente
quando se trata de despertar a energia vital, dirigi-me para ali
pela primavera de 1871, e pude deter o progresso do mal. A pureza do ar das montanhas, tanto quanto a ao vivificante
das guas, me decidiram a fixar ali a minha residncia. Pude
ento estudar de perto esses rudos noturnos que s conhecia por ouvir dizer.
Desde a morte do antigo proprietrio das fontes o
estabelecimento termal era quase todas as noites teatro de
cenas desse gnero. Os guardas no ousavam mais deitar-se ali a ss. s vezes as banheiras ressoavam no meio da noite
como se as tivessem percutido com um martelo. Abriam-se as
cmaras donde partia o rudo, ele cessava imediatamente, mas recomeava em uma sala vizinha. Quando as banheiras
ficavam em repouso, assistia-se a outras manifestaes no
menos singulares. Eram pancadas sobre os compartimentos, os passos de uma pessoa que passeava no quarto do guarda,
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objetos atirados de encontro ao soalho, etc. O meu primeiro
movimento, quando me contaram essa histria, foi, como sempre, a incredulidade. Entretanto, achando-me em contato
dirio com as pessoas que tinham sido testemunhas dessas
cenas noturnas, a conversao recaa freqentemente sobre o mesmo assunto. Certas particularidades acabaram por
despertar a minha ateno. Interroguei o diretor e os guardas
do estabelecimento, as diversas pessoas que tinham passado a noite nas termas, todas aquelas que, em uma palavra, por um
motivo qualquer me podiam fornecer informaes acerca
desses misteriosos sucessos. As suas respostas foram todas idnticas e as particularidades que me forneceram eram to
circunstanciadas que eu me vi encerrado nesse dilema:
acredit-los ou supor que eles estavam loucos. Ora, eu no podia tachar de loucura cerca de vinte camponeses srios que
viviam pacificamente a meu lado, pelo nico motivo de
representarem o que tinham visto ou ouvido, sendo, demais, unnimes os seus depoimentos.
Esse resultado inesperado me restituiu memria
circunstncias do mesmo gnero que me tinham relatado em
outras pocas. Conhecendo as localidades onde esses fenmenos se tinham dado, assim como as pessoas que
tinham sido testemunhas deles, procedi a novas pesquisas e,
desta vez ainda, fui obrigado a curvar-me evidncia. Compreendi ento que tinha sido to ridculo quanto aqueles
dos quais eu tinha zombado por tanto tempo, negando fatos
que eu declarava impossveis, porque no se tinham produzido sob os meus olhos e porque eu no podia explic-
los. Essa dinmica pstuma que, em certos pontos, parece a
anttese da dinmica ordinria, me deu o que refletir e eu comecei a entrever que em certos casos, alis muito raros, a
ao da personalidade humana pode continuar ainda por
algum tempo depois da cessao dos fenmenos da vida. As provas que eu possua me pareciam suficientes para
convencer os espritos no prevenidos. Entretanto, no me
contentei com isso, e pedi notcias delas aos escritores mais conceituados de diversos pases. Fiz ento uma escolha
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dentre as que apresentavam todos os caracteres de uma
autenticidade indiscutvel, baseando-me de preferncia nos fatos que tinham sido observados por grande nmero de
testemunhas.
Cumpria interpretar esses fatos, quero dizer, desembara-
los do maravilhoso que encobre a sua verdadeira fisionomia, a fim de referi-los, como todos os outros fenmenos da
Natureza, s leis do tempo e do espao. Tal o principal
objetivo deste livro. Perante tarefa to rdua, eu no poderia ter a pretenso de dar a ltima palavra do enigma. Contentei-
me em estabelecer o problema claramente e em indicar
alguns dos coeficientes que devem entrar para p-lo em equao. Os meus continuadores encontraro a soluo
definitiva no caminho que eu lhes tracei... A idia filosfica
do livro pode, pois, se resumir assim: fazer entrar no quadro das leis do tempo e do espao os fenmenos de ordem
pstuma negados at o presente pela Cincia, por no poder
explic-los, e emancipar os homens da nossa poca das enervadoras alucinaes do Espiritismo. (Pginas 5, 6, 7, 8,
9 e 11).
No primeiro captulo o autor colhe de primeira fonte uma
srie de fatos que confirmam a existncia pstuma da personalidade humana: rudos inslitos, ressonncia de passos,
roar de vestidos, deslocamento de objetos, toques, aparecimento
de mos e de fantasmas, etc. No comeo do segundo captulo, o autor diz:
Demonstrada a existncia da personalidade pstuma, por
milhares de fatos observados em todos os sculos e entre
todos os povos, cumpre procurar conhecer a sua natureza e a sua origem. Ela procede evidentemente da personalidade
viva, da qual se apresenta como a continuao, com a sua
forma, com os seus hbitos, com os seus preconceitos, etc.; examinemos pois se se encontra no homem um princpio que,
destacando-se do corpo quando as foras vitais abandonam
este ltimo, continua ainda durante algum tempo a ao da individualidade humana. Numerosos fatos demonstram que
esse princpio existe e que se manifesta algumas vezes
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durante a vida, oferecendo ao mesmo tempo os caracteres da
personalidade viva e os da personalidade pstuma. Vou referir alguns dentre eles, colhidos nas melhores fontes, e que
parecem concludentes. (pg. 47).
Depois de ter citado notveis fatos de apario de pessoas
vivas ou de desdobramento, o autor termina assim esse captulo:
Inumerveis fatos observados desde a antigidade at os nossos dias demonstram em nosso ser a existncia de uma
segunda personalidade, o homem interno. A anlise dessas
diversas manifestaes nos permitiu penetrar em sua natureza. No exterior, a imagem exata da pessoa da qual o
complemento. no interior reproduz a cpia de todos os rgos
que constituem a estrutura do corpo humano. Vemo-lo, com efeito, mover-se, falar, tomar alimentos, preencher, em outras
palavras, todas as grandes funes da vida animal. A
tenuidade extrema das suas molculas constitutivas, que representam o ltimo termo da matria orgnica, lhe permite
passar atravs das paredes e das divises dos
compartimentos. Da o nome de fantasma pelo qual geralmente designado. Entretanto, como ele ligado ao corpo
donde emana por uma rede muscular invisvel, pode,
vontade, atrair a si, por uma espcie de aspirao, a maior parte das foras vivas que animam este ltimo. V-se ento,
por uma inverso singular, a vida se retirar do corpo, que no
apresenta mais do que uma rigidez cadavrica a dirigir-se toda para o fantasma, que adquire consistncia, a ponto de
lutar algumas vezes com as pessoas diante das quais ele se
manifesta.
S excepcionalmente ele se mostra durante a vida dos indivduos. Mas desde que a morte rompeu os laos que o
ligam ao nosso organismo, ele se separa de maneira definitiva
do corpo humano e constitui o fantasma pstumo. (pgs. 81 e 82).
Mas a sua existncia de curta durao. O seu tecido se
desagrega facilmente sob a ao das foras fsicas, qumicas e
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atmosfricas que o assaltam sem trguas, e entra molcula
por molcula no meio planetrio. (pg. 298).
Eis o sumrio do Captulo IV: Carter do ser pstumo; Sua constituio fsica; Seu modo de locomoo; Sua averso
pela luz; Seu modo de trajar; Suas manifestaes; Seu
reservatrio de fora viva; Sua balstica; Todo homem possui a sua imagem fludica; A vidente de Prevorst.
Captulo V: Fluido universal; Fluido nervoso; Analogia e
dessemelhana desses dois fluidos; Animais eltricos;
Pessoas eltricas; Plantas eltricas; Ao do fluido nervoso
sobre a personalidade interna.
O fantasma humano no se revela sempre de uma maneira to clara como nos exemplos que citei. H tambm, s vezes,
manifestaes obscuras, de natureza muito variada, que o
tornam uma espcie de Proteu intangvel. Reproduzindo o mesmerismo manifestaes anlogas s do sonambulismo, no
mdium, no exttico, etc., muitas vezes difcil dizer se a
causa primria desses fenmenos deve ser referida personalidade interna ou ao fluido nervoso, ou antes ainda
ao combinada desses dois agentes. Em grande nmero de
casos, sua ligao parece to ntima que somos levados a perguntar se no do segundo que o primeiro tira sua origem
e as suas energias. (pg. 117).
Captulo VI: O ter mesmrico e a personalidade que ele
engendra; O sonambulismo; O sonloquo; O vidente.
Eis as concluses do autor:
1- O sonambulismo, espontneo em alguns indivduos,
existe no estado latente em outros. Nesses ltimos, no o entrevemos seno imperfeitamente, mas ele pode atingir toda
a sua amplitude sob a influncia de uma forte tenso de
esprito, de uma comoo moral ou de outras causas fisiolgicas. Essas manifestaes freqentes, porm
incompletas, na infncia acentuam-se melhor durante a juventude, depois diminuem com a idade e parece
extinguirem-se no velho.
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2- As coisas extraordinrias que o sonmbulo realiza,
principalmente no domnio intelectual, acusam nele a existncia de uma fora ativa e inteligente, isto , de uma
personalidade interna. Essa personalidade parece
completamente diferente da personalidade ordinria e ter por sede os gnglios nervosos da regio epigstrica, assim como
se viu na sonmbula citada por Burdach, e como o
encontraremos de maneira mais acentuada e mais precisa em outras manifestaes do mesmerismo. Fica assim explicado
porque o sonmbulo no reconhece a voz das pessoas que lhe
so familiares e no conserva recordao alguma do que se passou durante o seu sono. Explica-se da mesma maneira
esse fato, que nunca se observou nele ato algum imoral, como
se o seu guia misterioso estivesse livre dos laos da animalidade.
3- A personalidade que aparece no sonambulismo revela
uma inteligncia igual, s vezes mesmo superior da
personalidade ordinria. Mas, como esta ltima, ela tambm tem a sua equao pessoal, as suas obscuridades, os seus
desfalecimentos. Para contentar-me com um exemplo,
lembrarei esse sonmbulo, ditado por Burdach, que, depois de ter calado as botas, escanchava-se sobre uma janela e
dava esporadas contra a parede para fazer caminhar um
corcel imaginrio.
4- O sonambulismo devido a um desprendimento
anormal do fluido nervoso; vrias causas podem produzir esse resultado: terror, grande tenso de esprito, exuberncia
da juventude, etc., em outras palavras, tudo o que tende a
romper o equilbrio das funes fisiolgicas que tem por sede o sistema nervoso. Quando o fluido pouco abundante, os
efeitos do sonambulismo s se do de maneira obscura e
parecem confundir-se com os do sonho. Mas desde que ele se desprenda em quantidade conveniente, v-se aparecer
imediatamente a personalidade interna, e o sonmbulo oferece ento os caracteres de um homem acordado, porque
tem em si um guia que possui todas s energias da inteligncia
e do movimento. (pgs. 149-151).
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Eis-nos finalmente no captulo VII, que trata especialmente
do assunto que nos interessa; o seu sumrio : O ter mesmrico e a personalidade que ele engendra (continuao);
A mesa girante; A mesa falante; O mdium.
Eis como o autor liga os fenmenos do Espiritismo sua
teoria do ser fludico:
O agente misterioso que punha em desordem as mesas
falantes era evidentemente o mesmo que animava o lpis mvel do mdium, quero dizer, a personalidade mesmrica
dos assistentes ou do prprio mdium. Se diferia em seus
modos de ao, isso dependia unicamente da natureza dos intermedirios pelos quais ele se manifestava. No com
efeito difcil de ver que a mesa no mais do que um
instrumento passivo, uma espcie de silabrio acstico posto em ao pelo fluido daquele que interroga. Em outros termos,
a personalidade mesmrica deste ltimo que faz o ofcio de
apontador no dilogo da mesa. (pg. 183).
Comparou-se muitas vezes o mdium a um sonmbulo acordado.
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