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“Para proteger os justos da justiça”: política, testemunho e ficção
em Redoble por Rancas
«Para proteger a los justos de la justicia»: política, testimonio y
ficción en Redoble por Rancas
Rodrigo Cézar Dias
Résumé: La novela Redoble por Rancas, publicada por Manuel Scorza en 1970, se constituye, según afirma el
autor en nota inicial, como «crónica exasperantemente real de una lucha solitaria». La obra, que integra una
quintología titulada La guerra silenciosa, da forma literaria a rebeliones de campesinos peruanos, oriundos de
pueblos poco conocidos, que están en contra de las fuerzas militares y civiles que sirven, a su vez, a la oligarquía
local y a la minería multinacional Cerro de Pasco Corporation. Al final de dicha nota, el autor añade que cuando
construyó la novela cambió algunos nombres con la intención de «proteger a los justos de la justicia». La obra se
organiza sobre dos núcleos narrativos. El primero es el malogrado intento de asesinato del latifundista y juez
Francisco Montenegro por parte de Héctor Chacón, un liderazgo campesino del pueblo de Yanacocha que
buscaba terminar con el mando del tirano local. El siguiente núcleo, lo atraviesa el cerco de la Cerro de Pasco
Corporation, que bloquea los pastos, montañas y lagos y con ello impide que los ganaderos ranqueños alimenten
a sus ovejas en el campo otrora corriente. Ante eso, el presente trabajo propone una investigación de las relaciones
entre estética y política y entre literatura y testimonio presentes en la novela de Scorza. A la vez, la observación
de cómo se ocupa de la representación literaria de los personajes comuneros y la manera como la voz de ellos se
materializa formalmente en la narrativa. Para ello, se toman las lecturas de Jacques Rancière en El reparto de lo
sensible y en el ensayo «O efeito de realidade e a política da ficção», así como la propuesta de ampliación para
el concepto de testigo que propone Jeanne Marie Gagnebin en Lembrar escrever esquecer. Como horizonte
teórico, la discusión se orienta por los presupuestos de Walter Benjamin en su filosofía de la historia – en especial
sus «Tesis de filosofía de la historia»
Palabras-clave: Redoble por Rancas, Manuel Scorza, literatura y testimonio, literatura y democracia, literatura
y política.
Resumo: O romance Redoble por Rancas, publicado por Manuel Scorza em 1970, constitui-se, segundo afirma o
autor em nota inicial, enquanto “crônica exasperantemente real de uma luta solitária”. A obra, que integra uma
pentalogia intitulada La guerra silenciosa, dá forma literária a levantes de campesinos peruanos de algumas aldeias
quase desconhecidas contra forças militares e civis a serviço da oligarquia local e da mineradora multinacional
Cerro de Pasco Corporation. Ao fim da mesma nota, o autor acrescenta que alguns nomes foram modificados
quando da construção do romance com o intuito de “proteger os justos da justiça”. A obra organiza-se em torno
de dois núcleos, sendo que um deles consiste na tentativa malograda de assassinato do latifundiário e juiz Francisco
Montenegro por Héctor Chacón, uma liderança campesina da aldeia de Yanacocha que visava dar um ponto final
aos desmandos do tirano local. O outro núcleo da narrativa é atravessado pela cerca da Cerro de Pasco Corporation,
que transpassa o caminho dos pequenos pecuaristas ranquenhos, cercando pastos, montanhas e lagos e impedindo
que os produtores pudessem alimentar suas ovelhas no campo outrora comunal. Posto isso, o presente trabalho
propõe uma investigação acerca dos imbricamentos entre estética e política e entre literatura e testemunho
presentes no romance de Scorza, observando o tratamento dispensado à representação literária dos personagens
comuneiros e o modo como sua voz é materializada formalmente na narrativa. Para tanto, são mobilizadas as
leituras de Jacques Rancière em A partilha do sensível e no ensaio “O efeito de realidade e a política da ficção”,
bem como a proposta de alargamento para o conceito de testemunha proposto por Jeanne Marie Gagnebin em
Lembrar escrever esquecer. A título de horizonte teórico, a discussão se orienta pelos pressupostos desenvolvidos
por Walter Benjamin em sua filosofia da história – destacando-se, para tanto, suas teses “Sobre o conceito da
História”.
Licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Mestrando em Estudos de Literatura pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da mesma
instituição. E-mail: <rodrigocezardias@gmail.com>.
Palavras-Chave: Redoble por Rancas, Manuel Scorza, literatura e testemunho, literatura e democracia, literatura
e política.
1 Considerações iniciais
O romance Redoble por Rancas1, publicado por Manuel Scorza em 1970, constitui-se,
segundo afirma o autor em nota inicial, enquanto “crônica exasperantemente real de uma luta
solitária” (SCORZA, 1976, p. 13) travada entre os anos de 1950 e 1962. A obra, que integra uma
pentalogia intitulada La guerra silenciosa, dá forma literária a levantes de campesinos
indígenas peruanos de algumas aldeias quase desconhecidas contra forças militares e civis a
serviço da oligarquia local e da mineradora multinacional Cerro de Pasco Corporation. Ao fim
da mesma nota, o autor acrescenta que alguns nomes foram modificados quando da construção
do romance com o intuito de “proteger os justos contra a justiça” (SCORZA, 1976, p. 14).
Para realizar a presente leitura, destaco dois núcleos em torno dos quais se organizam
as ações do romance. Um deles consiste na tentativa malograda de assassinato do latifundiário
e juiz Francisco Montenegro por Héctor Chacón, uma liderança campesina da aldeia de
Yanacocha que visava dar um ponto final aos desmandos do tirano local. O outro núcleo – o
qual receberá maior enfoque nesta leitura – é atravessado pela cerca da Cerro de Pasco
Corporation, que transpassa o caminho dos pequenos pecuaristas ranquenhos, cercando pastos,
montanhas e lagos e impedindo que os produtores pudessem alimentar suas ovelhas no campo
outrora comunal. Após diversas tentativas de reaver suas terras – seja recorrendo às autoridades
de Cerro de Pasco, seja por meio de protestos –, os campesinos acabam por enfrentar as tropas
da Guarda Civil, que dizima o povoado de Rancas.
Posto isso, o presente trabalho propõe uma investigação acerca dos imbricamentos entre
estética e política e entre literatura e testemunho presentes no romance de Scorza, observando
o tratamento dispensado à representação literária dos personagens comuneiros e o modo como
sua voz é materializada formalmente na narrativa. Para tanto, são mobilizadas as leituras de
Jacques Rancière em A partilha do sensível e no ensaio “O efeito de realidade e a política da
ficção”, bem como a proposta de alargamento para o conceito de testemunha proposto por
Jeanne Marie Gagnebin em Lembrar escrever esquecer.
2 Sobre o tornar-se visível
1 As citações do romance presentes neste trabalho foram extraídas da edição brasileira, traduzida por Hamílcar de
Garcia. Optei por manter o título original – e não o título traduzido, Bom dia para os defuntos – por conta da
marcação do povoado de Rancas e por conta da ambivalência do termo “redoble”, que pode ser lido como um
rufar de tambores fúnebre e/ou militar.
O povoado de Rancas é apresentado no romance como um lugar onde nunca acontecera
nada. Em seguida, todavia, o narrador comenta, a título de exceção, que o povoado foi palco de
um discurso proferido por Simón Bolívar em 2 de agosto de 1824, quatro dias antes da Batalha
de Junín, conflito que teve papel de destaque na Guerra de Independência do Peru. Segundo
Dunia Gras Miravet, que estudou a produção de Scorza em sua tese de doutorado, intitulada
Manuel Scorza, un mundo de ficción,
este detalle no es gratuito y ha contribuido en la elección de Rancas como centro de
la historia narrativa, ya que implica que – como mínimo – una gran parte de los
peruanos tienen conocimiento de la existencia real del lugar, aunque sólo sea a través
de los manuales escolares de historia nacional (MIRAVET, 1998, p. 394).2
Desse modo, a representação de Rancas é assentada em uma ambivalência entre
visibilidade e invisibilidade, que se estende aos outros povoados representados – como
Yanacocha, ainda em Redoble por Rancas, ou Chinche, em Garabombo, el invisible, romance
seguinte da pentalogia. Em Garabombo temos, a propósito, a cristalização dessa ambivalência
na figura de seu protagonista, acometido por um mal que o tornava invisível ante as autoridades.
Há nesse procedimento, pois, uma formalização metonímica da invisibilidade do indígena
perante o Estado “criollo”.
Para abordar essa questão, recorro à leitura de Jacques Rancière, que situa o conceito
de partilha do sensível no cerne da política, caracterizando-o como certa estética da política
que fixa tanto “um comum partilhado quanto partes exclusivas” (RANCIÈRE, 2005, p. 15, grifo
do autor). Seguindo com o argumento, o autor defende que
a partilha do sensível faz ver quem pode tomar parte no comum em função daquilo
que faz, do tempo e do espaço em que essa atividade se exerce. Assim, ter esta ou
aquela ‘ocupação’ define competências ou incompetências para o comum. Define o
fato de ser ou não visível num espaço comum, dotado de uma palavra comum etc.
(RANCIÈRE, 2005, p. 16, grifo meu).
Penso que, em Redoble por Rancas, a delimitação do comum que exclui os campesinos
– tanto os ranquenhos quanto os yanacochanos – diz respeito a uma espécie de fronteira que
divide dois regimes de propriedade e de produção, um comunal e um “predatório”. Tal fronteira
é materializada no romance por meio da Cerca, representada zoomorficamente como uma
“lagarta de arame” que devora pastos, montes, rios e caminhos.
2 “Esse detalhe não é gratuito, e contribuiu na escolha de Rancas como centro da história narrativa, visto que
implica que – no mínimo – uma grande parte dos peruanos tem conhecimento da existência real do lugar, ainda
que somente através dos manuais escolares de história nacional” [minha tradução].
Nesse entardecer, nesse hipócrita entardecer, sobraram palavras. Pela primeira vez, a
Cerca impediu a volta dos pastores. Para entrar em Rancas, os rebanhos tinham que
andar mais uma légua. Rancas começou a murmurar. Que é que a Cerca queria? Que
destino ocultava? Quem ordenava essa separação? Quem era o dono do alambrado?
De onde vinha? Uma sombra que não era o anoitecer escureceu as caras maltratadas.
O altiplano é dos caminhantes. Nele nunca houve cercados. Nessa noite falamos até
cansar. O senhor não disse nada. O senhor, Dom Alfonso, já tinha a sua intenção bem
pensada: pedir uma explicação às turmas. Assim foi: levantou-se cedo e vestiu a sua
roupa preta. Para encontrar a ponta da Cerca, caminhou quinze quilômetros. De
chapéu na mão, foi andando. Homens de espingarda lhe mandaram que parasse.
– Não pode passar!
– Senhores, sou o procurador legítimo de Rancas. Com quem tenho o prazer?
– Não pode passar!
– Tomo a liberdade de dizer-lhes, senhores, que estão em terras pertencentes à
comunidade de Rancas. Gostaríamos de...
– Não temos ordem de informar. Vá voltando! (SCORZA, 1976, p. 54, grifo meu).
Nesse excerto, o narrador heterodiegético que predomina no romance dá lugar a uma
voz homodiegética que dialoga com Alfonso Rivera, representante do povoado de Rancas que
não obtivera sucesso em descobrir qual o propósito ou quem estava por trás da Cerca. Situação
semelhante se dá no conflito entre os comuneiros de Yanacocha com o Juiz Montenegro, dono
da fazenda Huarautambo. Segundo Héctor Chacón, a saída proposta por Agapito Robles de
invocar a justiça para reaver as terras seria infrutífera.
– Quando fui para a cadeia – prosseguiu Chacón – as nossas terras eram o dobro de
hoje. Em cinco anos Huarautambo engoliu todas elas.
– O procurador apresentou uma queixa – informou o Abigeo. – A audiência é no dia
13.
– Vocês vão ver – riu Chacón. – O Dr. Montenegro vai limpar o cu com as citações.
Para os que se metem com esse homem tem duas cadeias: uma na sua fazenda e outra
na província.
– E qual é o remédio que propões, Héctor?
– A audiência é no dia 13 de dezembro. Nesse dia vou matá-lo (SCORZA, 1976, p.
28).
Em ambos os casos temos a figura do grande proprietário que faz sua propriedade ainda
maior ao se apossar das terras dos campesinos, desamparados pela justiça e pelo Estado. Por
meio de atos de resistência, esses povoados tornam-se visíveis, ainda que suas demandas
acabem não sendo atendidas – e, no caso de Rancas, o tornar-se visível acarreta sua supressão.
No artigo “O efeito de realidade e a política da ficção”, Rancière aponta que
a ficção designa certo arranjo dos eventos, mas também designa a relação entre um
mundo referencial e mundos alternativos. Isso não é uma questão de relação entre o
real e o imaginário. Isso é questão de uma distribuição de capacidades de experiência
sensorial, do que os indivíduos podem viver, o que podem experienciar e até que ponto
vale a pena contar a outros seus sentimentos, gestos e comportamentos (RANCIÈRE,
2010, p. 79).
Nesse sentido, o modo como os personagens comuneiros são elaborados esteticamente
integra o gesto político que permeia o romance, não abrindo margem para a folclorização dos
personagens indígenas como pode ser encontrada em algumas expressões do indigenismo
hispanoamericano3. Apesar do humor que perpassa a narrativa, há um tratamento sério dos
personagens das classes populares, cuja mobilização política prescinde da tutela da figura do
intelectual.
3 Uma verossimilhança vertiginosa
Para dar continuidade à leitura da relação entre estética e política no romance e abordar
o imbricamento entre literatura e testemunho presente na obra, penso que seja oportuno ilustrar
o posicionamento de Manuel Scorza acerca das possibilidades de intervenção da literatura na
sociedade. Em entrevista concedida a Joaquín Soler Serrano em 9 de julho de 1977 no programa
televisivo A fondo, veiculado pela emissora Radio Televisión Española4, o autor comenta que,
en América Latina la novela para nosotros es algo así como un gran tribunal, el
tribunal supremo donde se plantean lo que yo llamaría las causas perdidas. Por
ejemplo, la causa de los campesinos de Pasco se perdió, se acaba con las masacres,
mandaron a todos a los cárceles, yo mismo fui enjuiciado por ataque a las Fuerzas
Armadas y tuve que irme a Europa porque arriesgaba cinco años de prisión. Esto
cambió con el gobierno revolucionario. Pero lo que yo quiero decir es que en América,
cuando las causas se pierden totalmente, uno puede apelar a la literatura. Y,
justamente, nuestra literatura, la literatura hispanoamericana, es el gran tribunal de
apelación donde se juzga lo que pasa en América Latina. Lo que no puede juzgarse en
los países, se juzga allá a través de los libros, se reabre el expediente, no muere
(SCORZA, 1977 apud MIRAVET, 1998, p. 738).5
O próprio Redoble por Rancas é antecedido por uma nota em que o autor salienta a base
documental sobre a qual se assenta o romance, produzindo um efeito vertiginoso que baralha
personagens fictícias e personagens históricos que tomaram parte nos acontecimentos
formalizados esteticamente na obra. Segundo Scorza, “mais do que um novelista, o autor é uma
testemunha. As fotografias que serão publicadas em volume à parte e as gravações em fita
magnética que registram essas atrocidades demonstram que os excessos deste livro são pálidas
descrições da realidade” (SCORZA, 1976, p. 13).
3 Cf. Miravet (1998, p. 283). 4 Disponível em: <https://youtu.be/mRaulBmUQb8>. Acesso em: 30 set. 2017. Os trechos da entrevista citados
neste trabalho são provenientes da transcrição realizada por Dunia Gras Miravet (1998). 5 “Na América Latina, o romance é para nós algo como um grande tribunal, o tribunal supremo para onde são
levadas o que eu chamaria de causas perdidas. Por exemplo, a causa dos campesinos de Pasco foi perdida, acaba
com os massacres, mandaram todos para a prisão, eu mesmo fui julgado por ataque às Forças Armadas e tive que
ir à Europa porque arriscava a pegar cinco anos de prisão. Isso mudou com o governo revolucionário. Mas o que
quero dizer é que na América, quando as causas são totalmente perdidas, podemos apelar à literatura. E,
justamente, nossa literatura, a literatura hispanoamericana, é o grande tribunal de apelação onde é julgado o que
passa na América Latina. O que não se pode julgar nos países, julga-se através dos livros, reabre-se o expediente,
não morre” [minha tradução].
Essa insistência na materialidade da base documental pode ser vista como
contraproducente em relação ao trabalho estético do romance, como espécie de chancela para
a ficção que teria algum ranço de panfletarismo. Tendo em vista uma hipótese alternativa – que
não é excludente, todavia, em relação à anterior –, recorro ao prólogo de O reino deste mundo,
romance de Alejo Carpentier que recria literariamente o processo de independência do Haiti
contra o jugo francês. No referido preâmbulo, o autor adverte que
o relato que se vai ler foi estabelecido sobre uma documentação extremamente
rigorosa que não somente respeita a verdade histórica dos acontecimentos, dos nomes
de personagens – inclusive secundários –, de lugares e até de ruas, mas também oculta,
sob sua aparente intemporalidade, um minucioso cotejo de datas e de cronologias. E,
no entanto, pela dramática singularidade dos acontecimentos, pela fantástica atitude
dos personagens que se encontraram, em determinado momento, na encruzilhada
mágica da Cidade do Cabo, tudo se torna maravilhoso em uma história impossível de
situar na Europa e que, no entanto, é tão real como qualquer sucesso exemplar dos
consignados para edificação pedagógica, nos manuais escolares. Mas o que é a
história da América toda senão uma crônica do real maravilhoso? (CARPENTIER,
2009, p. 11-12, grifo meu).
Quando destaca na entrevista a proximidade entre ficção e realidade na literatura
hispanoamericana, levantando a questão se ela seria ou não delirante, Manuel Scorza aponta
que ela
es y no es delirante. Es nuestra historia la que es excesiva. Por ejemplo, yo, en algunos
de mis libros, he contado un hecho que luego no ha sido rebatido porque es exacto.
Hablo de la historia del infarto colectivo. En una oportunidad, un patrón envenenó a
los quince miembros de la junta directiva de un sindicato y pasó eso por un infarto
colectivo. Hasta ahí sería literatura del peor de los gustos, pero lo que empieza a ser
grave, y es histórico, es que la Corte de Justicia en el Perú aprobó el dictamen emitido
por la Corte del Cuzco. Entonces, cuando una Corte de Justicia en un país admite que
se ha podido producir un infarto colectivo donde hay un envenenamiento, entonces,
ya el delirio está en la realidad. El delirio no está en el texto. En este sentido, estos
libros parecen delirios imaginativos pero son estrictamente históricos (MIRAVET,
1998, p. 734-735).6
Seguindo por essa senda, creio que essas interferências de Scorza periféricas ao romance
– seja por meio dos comentários na entrevista supracitada, seja por meio dos elementos pré-
textuais e pós-textuais presentes nos romances que compõem sua pentalogia – possam ser
produtivas não como esforço em marcar uma realidade “documental” que seria representada
pelo romance, mas como um meio de assinalar os desvarios da própria experiência histórica, os
6 “É e não é delirante. Nossa história é que é excessiva. Eu, por exemplo, contei em alguns dos meus livros um
fato que não foi rebatido porque é exato. Falo da história do infarto coletivo. Em uma oportunidade, um patrão
envenenou os quinze membros da junta diretiva de um sindicato e fez isso passar por um infarto coletivo. Até aí
seria literatura do pior dos gostos, mas o que começa a ser grave, e é histórico, é que a Corte de Justiça do Peru
aprovou o dictame emitido pela Corte de Cuzco. Então, quando uma Corte de Justiça de um país admite que se
é possível produzir um infarto coletivo onde há um envenenamento, o delírio está na realidade. O delírio não está
no texto. Nesse sentido, estes livros parecem delírios imaginativos, mas são estritamente históricos” [minha
tradução].
desvarios do “real”. Em um movimento de leitura à revelia da postura por vezes quase
positivista do autor, que em alguma medida aferra a qualidade estética de sua obra à
possibilidade de verificação da “veracidade” dos fatos históricos que lhe serviram de base,
podemos situar o nó principal da obra não em seu âmbito “documental”, mas na possibilidade
de produzir uma verossimilhança vertiginosa. Mais do que desvelar o que realmente aconteceu,
o romance desvela o que poderia ter acontecido, o que poderia estar acontecendo e o que poderia
vir a acontecer.
Em “Testemunho da Shoah e literatura”, Márcio Seligmann-Silva trabalha a ideia de
literatura de teor testemunhal como uma face da literatura que emerge em nossa época de
catástrofes, fazendo “com que toda a história da literatura – após duzentos anos de
autorreferência – seja revista a partir do questionamento da sua relação e do seu compromisso
com o ‘real’” (SELIGMANN-SILVA, p. 1), considerando esse “real” a partir da noção
freudiana de trauma, “de um evento que resiste à representação” (SELIGMANN-SILVA, p. 1).
Tendo em vista esse compromisso com a representação do real e, além disso, com a
representação de vozes que foram solapadas pelo poder hegemônico, é possível entrever um
teor testemunhal agudo na obra de Scorza, ainda que, formalmente, ela não apresente os traços
que, de acordo com Seligmann-Silva, seriam apontados como centrais nesse tipo de literatura
– a literalização e a fragmentação, que estariam relacionadas à “incapacidade de se traduzir o
vivido em imagens e metáforas” (SELIGMANN-SILVA, p. 2).
Apesar de Manuel Scorza ter algum envolvimento na luta travada pelos campesinos
peruanos contra seus opressores, nessa série de conflitos que veio a ser elaborada esteticamente
em seus romances, o escritor, ao que tudo indica, não chegou a testemunhar o massacre
pessoalmente. Penso, todavia, que esse fato não apaga o teor testemunhal de sua obra; para
tanto, recorro ao ensaio “Memória, história, testemunho”, de Jeanne Marie Gagnebin, no qual
a autora salienta a necessidade de se ampliar o conceito de testemunha a partir da leitura da
parábola do vinhateiro presente nos ensaios “O narrador” e “Experiência e pobreza”, ambos de
Walter Benjamin.
Testemunha não seria somente aquele que viu com seus próprios olhos, o bistor de
Heródoto, a testemunha direta. Testemunha também seria aquele que não vai embora,
que consegue ouvir a narração insuportável do outro e que aceita que suas palavras
levem adiante, como num revezamento, a história do outro: não por culpabilidade ou
por compaixão, mas porque somente a transmissão simbólica, assumida apesar e por
causa do sofrimento indizível, somente essa retomada reflexiva do passado pode nos
ajudar a não repeti-lo infinitamente, mas a ousar esboçar uma outra história, a inventar
o presente (GAGNEBIN, 2006, p. 57)
Assim como os filhos que ouvem a história do pai, o vinhateiro moribundo, acerca de
um tesouro que estaria enterrado no solo do vinhedo, Scorza realiza um trabalho de escuta, de
preservação das vozes desses trabalhadores e trabalhadoras vencidos, levando adiante a
“narração insuportável do outro”. Desse modo, essa escuta perenizada por meio da elaboração
estética do romance narra o inenarrável ao verificar a imprescindibilidade desse gesto para a
construção de um novo presente, recolhendo os estilhaços de uma experiência desintegrada e
impossível de ser recomposta, aporia discutida por Theodor Adorno (2012) no ensaio “A posição
do narrador no romance contemporâneo”.
4 A luta silenciosa dos ranquenhos
A fim de ilustrar a discussão desenvolvida até aqui, empreendo uma leitura da série de
confrontos dos ranquenhos contra a Cerro de Pasco Corporation, dando destaque para a figura
de Fortunato, que viria a encabeçar a revolta campesina. Após os conflitos iniciais bem
sucedidos liderados pelo procurador Rivera, representante legal de Rancas, Egoavil, que
chefiava as patrulhas da empresa, reforçou seu contingente e passou a adotar métodos ainda
mais violentos.
Uma manhã os pastores da Florida entraram em Rancas chorando atrás de uma vaca
que mugia lastimosamente. As vacas pareciam cutias: não tinham rabo. Assim
começou a violência. Ovelha que encontrava as patrulhas era ovelha pisoteada. E
aconteceu coisa pior: uma manhã três pastores se aqueciam diante de um fogo de
bosta. A névoa era espessa. Aqueciam-se ao sopé de uma ladeira quando crepitou uma
gargalhada. Levantaram-se alarmados quando uma bola rolou aos seus pés. Era a
cabeça de Mardoqueo Silvestre (SCORZA, 1976, p. 118-119).
As rondas da Cerro de Pasco começaram a ser escoltadas pela Guarda Republicana e os
ranquenhos recuaram, com a exceção de Fortunato, que dia após dia seguia enfrentando Egoavil
e seus guardas. Após uma surra que o deixara quatro dias de cama, Fortunato torna a partir para
sua luta diária; ao invés de ser recebido a pancadas, todavia, o comuneiro encontra um Egoavil
mudado, sendo repelido apenas verbalmente. O capataz começara a sonhar com o velho,
culminando em um sonho no qual o campesino aparecia transfigurado em um Cristo vitorioso,
que não padecida e “de quando em quando soltava um braço e levava à boca uma garrafa de
pinga” (SCORZA, 1976, p. 121).
Nos dias seguintes, Egoavil começa a pedir que Fortunato não insista no confronto,
chegando, em um momento a permitir que o velho coloque suas ovelhas nos pastos obstruídos
pela Cerca – durante a noite, para que ele não se complicasse com a empresa. Certa noite, no
entanto, o comuneiro adormece e, quando desperta, encontra seu rebanho degolado, o que
suscita um protesto da comunidade e uma série de medidas frustradas pela burocracia estatal,
restando algumas soluções paliativas – como o oferecimento de terrenos baldios ou flores de
cemitério pela prefeitura para a alimentação dos animais. Esgotados os seus recursos, os
ranquenhos enfrentam os destacamentos do exército que vigiavam a Cerca, conquistando uma
vitória fugidia que viria a selar a fortuna da comunidade. O desfecho do romance reata a crise
iminente já assinalada no segundo capítulo, que consiste no sôfrego trotar, a pé, de Fortunato
para Rancas, com o intuito de avisar que as tropas da Guarda Nacional estavam a caminho,
prevendo o massacre por vir.
Quem chegaria primeiro? O comboio que circundava a lentíssima curva ou Fortunato,
que suava sobre os pedregulhos? Cercada de milhares de animais moribundos, Rancas
cabecearia de torpor. Chegaria a tempo? E, mesmo que os avisasse, como se
defenderiam? Com porretes, Com fundas? Os outros avisariam segundos antes de
atirar [...] Nessa estepe amaldiçoada pelos forasteiros, odiada pelos motoristas, nesse
descampado onde somente duas ou três horas de sol dão consolo, Fortunato tinha
nascido, crescido, trabalhado, se maravilhado, conquistado e amado. Morreria
também? Seus olhos abarcaram o continente de ovelhas mortas, dúzias, centenas,
milhares de esqueletos descarnados pelos abutres (SCORZA, 1976, p. 24).
O capítulo final do romance estabelece um paralelo entre o dia do massacre e o dia do
discurso proferido por Bolívar em Rancas, marcado por uma ironia amarga.
O velho divisou os telhados de Rancas. Parou junto a um penhasco. Cinquenta mil
dias antes o General Bolívar tinha-se detido ali: na manhã da sua entrada em Rancas.
Bolívar queria Liberdade, Igualdade, Fraternidade! Que engraçado! Deram-nos
Infantaria, Cavalaria, Artilharia (SCORZA, 1976, p. 235).
Quando chegam as tropas da Guarda Nacional, um alferes se adianta, anunciando para
Rivera e Fortunato que havia uma ordem de expulsão e afirmando que os ranquenhos haviam
invadido propriedade alheia, dando-lhes dez minutos para abandonarem de suas casas. Os
comuneiros argumentam sem sucesso, recorrendo aos documentos possuídos por eles que
atestavam a propriedade de suas terras. No que o tempo esgota, o alferes dispara contra
Fortunato.
Uma debilidade universal destituiu a raiva. Fortunato sentiu que o céu desabava. Para
defender-se das nuvens ergueu os braços. A terra se abriu. Tentou agarrar-se nas ervas,
à margem da escuridão vertiginosa, mas os seus dedos não obedeceram e rodopiou,
sufocado, até o fundo da terra.
Semanas depois, nos seus túmulos, sossegados os soluços, acostumados à escuridão
úmida, Dom Alfonso Rivera lhe contou o resto. Porque os enterraram tão perto um do
outro que Fortunato escutou os suspiros de Dom Alfonso e conseguiu abrir um buraco
no barro com uma varinha. – Dom Alfonso, Dom Alfonso! – chamou. O procurador,
que se julgava condenado às trevas para sempre, logo se acalmou e, mais tranquilo,
informou-lhe que ele, Fortunato, escorregou ao primeiro balaço, de bruços, no seu
sangue (SCORZA, 1976, p. 238-239).
As páginas finais do romance dão seguimento a essa narrativa dos mortos para os
mortos. Rivera conta ainda a Fortunato que tentara se valer da bandeira, esperando que as tropas
respeitassem o símbolo nacional; no entanto, ele foi agredido e teve sua mão decepada, sendo
alvejado por uma rajada de tiros em seguida. A próxima a ser enterrada e a dar seguimento à
narração é Dona Tufina, que continuou presenciando o esforço dos que ainda resistiam à
violência da Guarda Nacional. Ao testemunhar o assassinato de um menino, ela atingiu um
guarda com uma pedra, sendo metralhada em resposta e agonizando ao longo da tarde.
Enquanto isso, Rancas era uma fogueira, segundo a velha campesina: “incêndio, gritos e balas,
fumaça e pranto, isso é que era” (SCORZA, 1976, p. 241).
Além de Tufina e de um anjinho enterrado, que apenas cantava, temos ainda a figura de
Dom Teodoro, homem religioso que via na Cerca um castigo divino. Por ter sofrido duas
semanas por conta de uma coronhada, causa do ferimento que o levou à morte, Teodoro trazia
notícias acerca das consequências do massacre: “tudo anda de pernas para o ar, procurador! A
polícia persegue todos os faladores. Muita gente foi presa. O próprio alcaide de Cerro está
encarcerado em Huánuco. Tinhas razão, Sapinho [apelido de Fortunato]. Não é Jesus Cristo
quem nos castiga, são os americanos” (SCORZA, 1976, p. 242). Teodoro ainda afirma que, na
esteira da impunidade do massacre, a escola de Uchumarca fora fechada por fazendeiros e
transformada em chiqueiro, movimento que estaria sendo repetido por todo altiplano. Seu relato
é interrompido por Tufina:
– Psiu – avisou Tufina. – Aí vêm outros!
– Quem serão?
– Serão ranquenhos?
– Sabe Deus! – suspirou Fortunato (SCORZA, 1976, p. 242).
Com isso, o romance termina na iminência de novas vítimas, que poderiam vir a complementar
o balanço da atrocidade, que não ensaiava um final.
Ao longo da obra, a Cerca, que surge sob o signo do mítico, vai progressivamente sendo
entendida pelos comuneiros como uma construção produzida pelas mãos de pessoas que
trabalham para a Cerro de Pasco Corporation. Os seguranças que enfrentam os pecuaristas, a
princípio caracterizados pelo narrador como indivíduos com caras de couro, caracterizados por
seus casacos negros, vêm a ser representados pela figura de dois indivíduos específicos – o
brutamontes Egoavil, que liderava os guardas, e um subordinado dele – o homem de orelhas
transparentes –, que tenta convencer Fortunato a parar de enfrentá-los.
Principalmente por meio das figuras de Rivera e de Fortunato, percebe-se uma curva
formativa em que os personagens verificam o quão invisíveis eles são para o Estado por conta
de sua identidade de campesinos e de indígenas. Observando os seus recursos sendo esgotados
um a um, até restar como alternativas somente lutar ou desaparecer, os personagens enfrentam
o seu destino em uma batalha que o narrador se exime de narrar, fazendo com que as vítimas,
em suas sepulturas, narrem o confronto, por meio do discurso direto. Ao ter sua mão decepada,
Rivera só conseguiu pensar em como iria trabalhar sem uma das mãos –contando com a
possibilidade de sobrevivência –, trazendo ao primeiro plano a vida cotidiana, cuja preservação
era, afinal, o objetivo dos esforços da comunidade investidos no combate à Cerca.
5 Considerações finais
Em suas teses “Sobre o conceito da História”, Walter Benjamin contrapõe ao modelo
historicista, que organiza a História como uma sucessão causal de acontecimentos que preenche
o tempo vazio e homogêneo, a historiografia materialista, em que
do pensar faz parte não apenas o movimento dos pensamentos, mas também a sua
paragem. Quando o pensar se suspende subitamente, numa constelação carregada de
tensões, provoca nela um choque através do qual ela cristaliza e se transforma numa
mônada. O materialista histórico ocupa-se de um objeto histórico apenas quando este
se lhe apresenta como uma tal mônada. Nessa estrutura, ele reconhece o sinal de uma
paragem messiânica do acontecer ou, por outras palavras, o sinal de uma oportunidade
revolucionária na luta pelo passado reprimido (BENJAMIN, 2013, p. 19).
Tendo em vista que, para Benjamin, “articular historicamente o passado não significa
reconhecê-lo ‘tal como ele foi’. Significa apoderarmo-nos de uma recordação (Erinnerung)
quando ela surge como um clarão num momento de perigo” (BENJAMIN, 2013, p. 11), penso
que seja possível ler Redoble por Rancas não somente como o testemunho literário de um
massacre, mas também como um ecoar de vozes silenciadas que segue reverberando em nossos
dias, não se restringindo ao evento singular que serviu de base para a construção do romance.
Nesse sentido, penso que seja oportuno mobilizar a distinção entre comemoração e
rememoração realizada por Jeanne Marie Gagnebin em “Memória, história, testemunho”.
Segundo a autora, ao contrário da comemoração, que, segundo ela, “desliza perigosamente para
o religioso ou, então, para as celebrações de Estado, com paradas e bandeiras” (GAGNEBIN,
2006, p. 55), a rememoração implicaria
uma certa ascese da atividade historiadora que, em vez de repetir aquilo de que se
lembra abre-se aos brancos, aos buracos, ao esquecido e ao recalcado, para dizer, com
hesitações, solavancos, incompletude, aquilo que ainda não teve direito nem à
lembrança nem às palavras. A rememoração também significa uma atenção precisa ao
presente, em particular a estas estranhas ressurgências do passado no presente, pois
não se trata somente de não se esquecer do passado, mas também de agir sobre o
presente. A fidelidade ao passado, não sendo um fim em si, visa à transformação do
presente (GAGNEBIN, 2006, p. 55, grifo da autora)
Creio que Redoble por Rancas contempla esse olhar que se volta para o passado com a
finalidade de agir no presente, evitando a fetichização do massacre e de suas vítimas. À época
de sua publicação, o romance colocou Rancas em evidência mundialmente graças à sua
repercussão em mais de trinta países, fazendo com que o governo peruano de então, por
exemplo, fosse pressionado a libertar do cárcere o homem que serviu de inspiração para a
criação do personagem Héctor Chacón. Além de seguir contribuindo para que esse massacre
não caia no esquecimento ou seja simplesmente contabilizado como mais uma chacina, a obra
de Scorza segue materializando, ainda que de forma quase silenciosa, as vozes dos mortos e
acossados pelas forças repressoras do Estado a serviço de grandes proprietários – seja no
altiplano peruano, onde a atividade mineradora continua matando a população e envenenando
suas reservas de água, seja nas chacinas de camponeses cometidas pela polícia brasileira.
REFERÊNCIAS
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Notas de literatura I. Tradução e apresentação de Jorge M. B. de Almeida. São Paulo: Duas
Cidades; Editora 34, 2012.
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da História. In: ______. O anjo da história.
Organização e tradução de João Barrento. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.
CARPENTIER, Alejo. O reino deste mundo. Tradução de Marcelo Tápia. São Paulo:
Martins Fontes, 2009.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2006.
MIRAVET, Dunia Gras. Manuel Scorza, un mundo de ficción. 1998. 797 f. Tese (Doutorado
em Filologia Espanhola) – Departament de Filologia Hispànica, Universitat de Barcelona,
Barcelona, 1998. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10803/1709>. Acesso em: 15 set.
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RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. Tradução de Mônica Costa
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SCORZA, Manuel. Bom dia para os defuntos. Tradução de Hamílcar de Garcia. São Paulo:
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SELIGMANN-SILVA, Márcio. Testemunho da Shoah e literatura. Disponível em:
<http://diversitas.fflch.usp.br/files/active/0/aula_8.pdf>. Acesso em: 15 set. 2017.
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