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APLICAÇÃO DO MÉTODO DAS UEPS
PARA A GESTÃO DA PRODUÇÃO: UM
ESTUDO DE CASO
Kliver Lamarthine Alves Confessor (UFPB )
adm.kliver@gmail.com
Fabio Walter (UFRPE )
fwalter.br@gmail.com
Francisco Gaudencio Mendonca Freires (UFBA )
gaudenciof@yahoo.com
Abdinardo Moreira Barreto de Oliveira (UNIVASF )
abdinardo@yahoo.com.br
Bartira Pereira Amorim (UFPB )
bartira_amorim@hotmail.com
Mensurar a produção, analisar seu desempenho e identificar os custos
de fabricação são atividades dispendiosas e complexas para empresas
de manufatura de qualquer porte e o método de custeio Unidade de
Esforço de Produção (UEP) se apresentaa como simplificado e
adequado para estas e outras necessidades da gestão de manufatura
Este trabalho busca discutir, a partir de estudo de caso numa
manufatura calçadista de Campina Grande/PB, como a aplicação do
método das UEPs pode contribuir para a gestão da produção. Quanto
aos fins este trabalho é classificado como aplicado e descritivo, e
quanto aos meios é documental e bibliográfico. Os resultados dessa
pesquisa ressaltam as contribuições que o método proporciona para o
custeio da produção e como sua aplicação contribui para a gestão da
produção, sendo que este trabalho pode se configurar como um guia,
uma vez que explica detalhadamente as etapas para a implementação e
operacionalização do método.
Palavras-chaves: Gestão da Produção, Método das UEPs, Unidade de
Esforço de Produção.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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1. Introdução
As empresas necessitam de constantes e atualizados controles administrativo-econômico-
financeiros, a fim de assegurar uma vida útil e saudável. O primeiro passo da gestão de custos
consiste em identificar e mensurar os objetos de custos e Almeida, Rocha e Alves (2005)
ressaltam que após a estruturação e análise de custos é possível identificar os produtos mais
rentáveis e os menos competitivos. Nessa perspectiva, a gestão deve escolher o método de
custeio que norteará as tomadas de decisão relacionadas ao custo unitário dos produtos e os
métodos mais destacados na literatura são: o Custeio Baseado em Atividades (ABC), o
Método de Centros de Custo (RKW) e o Método das Unidades de Esforço de Produção
(UEPs).
O método das UEPs foi trazido ao Brasil por Franz Allora nos anos 70 e visa simplificar a
gestão de empresas multiprodutoras por meio da unificação da produção, obtida através de
uma unidade de medida comum aos produtos e processos da empresa: a UEP (BORNIA,
2009). Antunes Júnior e Klieman Neto (1998) apresentam o método da UEP como uma
ferramenta de planejamento e controle gerencial das atividades industriais, permitindo a
compreensão dos custos industriais e contribuindo para o controle e avaliação do nível de
eficiência, eficácia e ociosidade da produção.
A intenção do presente trabalho consiste em demonstrar as contribuições da implementação
do método das UEPs para a gestão da produção de uma fábrica de bolsas e calçados. Aliado
ao fato de que a organização em estudo não possuía, à época da coleta de dados, um sistema
de custeio estruturado para realizar o efetivo rateio dos custos indiretos e, sobretudo, subsidiar
o processo de tomada de decisão, dá-se a importância da implementação do método nesta
indústria para o gerenciamento dos custos inerentes as suas atividades produtivas.
Dado que o ambiente de estudo é uma empresa do setor de fabricação de bolsas e calçados e
que este segmento constitui um cenário altamente competitivo (ABICALÇADOS, 2009),
entende-se que a implementação de um adequado método de custeio pode proporcionar
vantagem competitiva à organização, na medida em que dispõe dados significativos acerca da
administração da produção, financeira e de vendas da própria instituição.
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2. Fundamentação
São várias as definições de custos. Segundo Bornia (2009, p.15), “Custo é o valor dos
insumos usados na fabricação dos produtos da empresa”. Já o método de custeio diz respeito
ao modo como os custos indiretos serão apropriados aos produtos. O método das UEPs visa,
além de outras aplicações, mensurar os “custos de transformação” (salários, encargos sociais,
energia, manutenção, depreciação, utilidades entre outras), que correspondem aos gastos
ocorridos no processo de transformação das matérias-primas em produtos acabados.
Fundamentado na simplificação do controle de gestão através do conceito de Unidade de
Esforço de Produção (UEP), o método das UEPs adota uma medida do conjunto de esforços
dos recursos de manufatura, visando desta forma, padronizar a medição da produção sob um
só referencial. Segundo Gantzel e Allora (1996) a unificação da medida de produção se baseia
na noção de “esforço de produção”, que representa o trabalho realizado na matéria-prima em
produto. Os esforços de uma máquina, de energia, de capital, humanos e de outros recursos
usados para a fabricação se equivalem a uma determinada quantidade da unidade de medida
(UEP), a qual é obtida por meio da proporção entre os custos unitários de produção.
Este método compreende duas etapas: a implantação e a operacionalização. A etapa referente
à implementação objetiva determinar inicialmente o equivalente em UEPs de cada produto e
dos potenciais produtivos, enquanto a operacionalização se propõe à utilização contínua do
método para fins de custeio e avaliação de desempenho. A Figura 1, representa as etapas
referente à implementação do método.
A etapa de implementação objetiva estabelecer valores fixos para os potenciais produtivos e
para o custo em UEPs por produtos, visto que estes valores permanecem estáveis na medida
em que não houver alteração nos postos operacionais e nos tempos de passagem dos produtos
(KLIEMANN NETO, 1994). O Quadro 1 descreve as fases necessárias para a implementação
(até a quinta fase) e operacionalização do método das UEPs.
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Figura 1 – Roteiro geral para a Implementação do método das UEPs
Fonte: Kliemann Neto (1994, p. 15)
A divisão da fábrica em Postos Operativos (POs) consiste basicamente em dividir os recursos
de manufatura em agrupamentos homogêneos. Bornia (1988) afirma que a fábrica deve ser
dividida em setores produtivos, ou centros de custo, e por fim estes devem ter relacionados
todos os POs (máquinas e equipamentos). Um dos princípios do método das UEPs é que os
produtos “consomem” esforços de produção no decorrer do processo de fabricação, e que
esses esforços são realizados pelos Postos Operativos (POs). Após a identificação dos POs é
preciso calcular os seus custos operativos por unidade de tempo, denominados por “Foto
Índice do Posto Operativo” (FIPO) (KLIEMANN NETO, 1994), conforme pode ser mais bem
visualizado no Quadro 1.
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Quadro 1: Procedimentos da implementação e operacionalização
Fonte: Adaptado de Bornia (2009, p. 143-147)
Na medida em que a produção de cada item em um determinado período pode ser calculada
em UEPs, a soma desta produção entre todos os itens permite calcular o desempenho total da
fábrica no período analisado e, ao se dividir o custo total de transformação da fábrica por este
total (em UEPs), obtém-se então o custo ($/UEP) da etapa de implementação (Figura 2).
Figura 2 – Equação de determinação do custo da UEP de cada período
Fonte: Kliemann Neto (1994)
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Isto posto, tem-se o valor em UEPs de cada produto é definido na fase de implementação,
sendo que em cada período específico é necessário calcular o valor específico da UEP e então
recalcular o quanto, em unidades monetárias, foi o custo dos produtos naquele período. Essa é
a aplicação mais simples do método, a de custeio dos produtos no processo de transformação.
Além disso, entende-se que este método oferece vantagens para a gestão da produção que
outros métodos de custeio não disponibilizam (ANTUNES JÚNIOR, 1998; BORNIA, 1988;
KLIEMANN NETO, 1994). Algumas dessas aplicações estão relacionadas à mensuração do
nível da produção, cálculo das capacidades produtivas, programação da produção, ponto de
equilíbrio e medidas físicas de desempenho, como ociosidade, produtividade, eficiência,
eficácia e produtividade e outros. Assim, o método das UEPs não é apenas um instrumento
para a gestão de custos: seu uso pode compor um sistema de informação gerencial,
mensurando o desempenho financeiro, econômico e produtivo. A Figura 3 ilustra algumas
aplicações gerenciais para o método das UEPs.
Figura 3 – Potenciais aplicações do método das UEPs
Fonte: Kliemann Neto (1994, p. 65)
3. Procedimentos metodológicos
ANÁLISE DE
VALORES
CUSTEIO DA
PRODUÇÃO
POTENCIAIS
APLICAÇÕES
DO MÉTODO
DAS UEPs
DEFINIÇÃO DO PREÇO
DOS PRODUTOS
MEDIDAS DE
DESEMPENHO
DEFINIÇÃO DE
MÁQUINAS E PESSOAL
PROGRAMAÇÃO
DA PRODUÇÃO
COMPARAÇÃO DE
PREÇOS
VIABILIDADE DE
AQUISIÇÃO DE NOVOS
EQUIPAMENTOS
DEFINIÇÃO DAS
CAPACIDADES DE
PRODUÇÃO
MEDIÇÃO DA
PRODUÇÃO
EFICÁCIA DAS
HORAS EXTRAS
PRÊMIOS DE
PRODUTIVIDADE
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Para Vergara (2008) uma pesquisa pode ser classificada em duas partes, quanto aos fins e aos
meios. Quanto aos fins esta pesquisa é aplicada e descritiva, e quanto aos meios é documental
e bibliográfica.
Como métodos, aplicou-se um estudo de caso e a observação não-participante. O ambiente
de pesquisa foi uma empresa calçadista localizada em Campina Grande/PB e os sujeitos da
pesquisa foram o Diretor Financeiro e o Supervisor de Produção. A organização possuía, na
época do estudo (2011), um portfólio de 120 produtos, classificados em três “famílias”. Dada
a enorme variedade, foi selecionado um produto de cada família, a saber: 5641, 4279 e 5685.
A análise dos dados seguiu o modelo teórico das UEPs descrito por Kliemann Neto (1994) e
Bornia (2009), a respeito das etapas de implementação e operacionalização do Método UEPs.
4. Coleta e análise de dados
4.1 Implementação do Método
O primeiro passo para implantação - Divisão da Fábrica em Postos Operativos – exige
levantar todos os conjuntos de atividades e recursos necessários para a fabricação do calçado,
então é importante conhecer o layout da fábrica. A Figura 4 ilustra, além da linha de
montagem, que é composta por 12 POs, uma sala de reunião e uma área de armazenagem da
matéria-prima, dois banheiros e a expedição.
Figura 4: Layout e Fluxo da Produção
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Fonte: autoria própria
Como identificado na Figura 1, o fluxo de produção e sua seqüência é dada conforme a
distribuição dos POs. O sistema de produção da empresa em estudo possui uma
particularidade: os POs são clientes uns dos outros, o que permite um controle de qualidade
sob o produto em fabricação na medida em que identifica as “não conformidades” do
processo produtivo. O Quadro 2 resume as atividades de cada PO.
Quadro 2: Descrição dos Postos Operativos
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Fonte: autoria própria
O cálculo do foto-índice é a segunda etapa da implementação do método das UEPs. Nessa
fase é determinado o custo-hora de cada PO. Para obter o custo-hora dos vários itens de custo
usou-se como referência a quantidade de horas que esses itens funcionam por dia. Os dados
sobre a depreciação técnica e os custos das máquinas e de sua manutenção foram levantados
junto aos diretores da empresa e sempre que possível, com base em notas fiscais. A Tabela 1
demonstra, a partir do exemplo do PO 1, como o custo de cada posto operativo foi calculado.
A soma dos custos totais de cada um dos recursos consumidos nos Postos Operativos sobre a
unidade de tempo (hora) representa o foto-índice, ou seja, o foto-índice indica o custo
operacional por hora. A Tabela 2 resume os foto-índices dos 12 Postos Operativos. Conforme
se pode perceber, o Posto Operativo que consome mais recursos é o PO 11.
Tabela 1 - Custo por Hora do PO 01
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Fonte: autoria própria
Tabela 2: Resumo dos Foto-índice dos POs
Fonte: autoria própria
Para calcular o foto-custo é preciso definir o produto-base, que servirá de referência para os
demais cálculos. Este produto base pode ser definido como aquele que passa por todos os
postos operacionais (KLIEMANN NETO, 1994). Como todos os produtos fabricados passam
por todos os POs, e dado que os tempos de elaboração do produto variam conforme a
complexidade de fabricação do produto, a definição do produto base (produto fictício) se deu
a partir da média dos tempos dos três produtos (5641; 4279; 5685) (Tabela 3).
O cálculo do foto-custo é o resultado da multiplicação entre os tempos de processamento de
cada Posto Operativo do produto-base (ver Tabela 3) pelo foto-índice (ver Tabela 2). Isto
posto, tem-se que o foto-custo do produto-base é R$/lote 25,77 conforme ilustra a Tabela 4.
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Tabela 3: Definição do produto fictício
Fonte: autoria própria
Tabela 4: Demonstração do foto-custo do produto base
Fonte: autoria própria
O resultado da divisão do foto-índice pelo valor da UEP em R$ é denominado de potencial
produtivo, representa a capacidade de desempenhar as atividades usando os recursos
disponíveis em cada PO e é dado em “UEP/h”. O potencial produtivo de cada posto é
demonstrado na Tabela 5.
A última etapa da implementação é a determinação dos equivalentes em UEPs dos produtos,
ou seja, consiste em determinar a quantidade de esforço de produção necessária para a
produção de cada um dos produtos. Para esta determinação é realizado uma multiplicação
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entre os tempos de processamento por hora do produto base e o potencial produtivo em
UEP/h. As Tabelas 6, 7 e 8 ilustram o cálculo para a determinação dos equivalentes em UEPs
para um lote de cinco pares para os produtos: 5641, 4279, 5685 respectivamente.
Tabela 5: Demonstração dos potenciais produtivos dos POs
Fonte: autoria própria
Conforme ilustram as Tabelas 6, 7 e 8, para fabricar 5 pares os POs consomem 1,15 UEP,
0,96 UEP e 0,89 UEP para produzir os calçados 5641, 4279 e 5685 respectivamente.
Tabela 6: Equivalente em UEP do produto 5641
Fonte: autoria própria
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O cálculo do custo de cada UEP é realizado a partir da divisão dos custos de transformação
sobre a produção do período em UEPs. A Tabela 9 ilustra os cálculos dos custos da UEP para
o período analisado.
Tabela 7: Equivalente em UEP do produto 4279
Fonte: autoria própria
Tabela 8: Equivalente em UEP do produto 5685
Fonte: autoria própria
Tabela 9: Ilustração do cálculo do custo da UEP para o trimestre analisado
Fonte: autoria própria
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Como praticamente não houve variação entre as quantidades de UEPs produzidas no período
analisado, o valor do custo da UEP também não sofre grandes alterações, dado que houve
uma variação de R$ 5.000,00 reais nos custos totais de fabricação.
A grande contribuição consiste em calcular facilmente o custo dos diversos produtos a partir
da identificação do custo da UEP no período. Por exemplo, sabe-se que o valor em UEP para
os produtos 5641, 4279 e 5685 foi de 1,15; 0,96 e 0,89 respectivamente. A Tabela 10 ilustra o
custo de transformação dos produtos, para os meses de julho, agosto e setembro.
Tabela 10: Ilustração do cálculo do custo de transformação dos produtos analisados
Fonte: autoria própria
Diante dos dados da Tabela 10 percebe-se a facilidade para calcular os custos de
transformação dos produtos, pela multiplicação do valor da UEP de cada período pelo custo
da UEP no respectivo período.
4.2 Operacionalização do Método
Nesta seção será abordado como demonstração de algumas aplicações gerenciais do método
das UEPs para o gerenciamento da produção: a mensuração do nível de produção, o cálculo
das capacidades produtivas da empresa e as medidas físicas de desempenho.
4.2.1 Mensuração do nível de produção
O método em estudo ao transformar uma empresa multiprodutora em monoprodutoras através
da unificação da produção por meio de uma medida comum – Unidade de Esforço de
Produção – proporciona uma melhor visualização da produção total do período e
consequentemente a comparação entre as quantidades produzidas em períodos distintos. O
cálculo da produção total do período é realizado através do somatório das multiplicações entre
as quantidades de itens produzidos pelos seus respectivos equivalentes.
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A Tabela 11 ilustra os dados e como estes se relacionam para calcular a produção total no
período, a partir da produção de 100, 200 e 300 pares de calçados dos produtos 5641, 4279 e
5685, respectivamente, no mês de setembro.
Tabela 11: Simulação do cálculo da Produção no mês de setembro
Fonte: autoria própria
Como exposto na Tabela 11, a quantidade de UEPs produzida no mês de setembro indica que
naquele mês a fábrica foi capaz de produzir 574 UEPs. Sabendo dessa informação e da
quantidade de UEPs necessárias para fabricar os produtos é possível analisar e balancear a
produção para a fabricação de produtos que possuem margens de contribuição mais
expressivas. Percebe-se que com o consumo de 547 UEPs é possível fabricar exclusivamente
499,13 pares do produto 5641, ou 597,91 do calçado 4279, ou 644,94 do produto 5685.
Considerando-se que sejam conhecidas as quantidades produzidas nos meses de julho e
agosto, pode-se comparar as produtividades nesse trimestre. A Tabela 12 exemplifica esses
dados.
Tabela 12: Simulação do cálculo da Produção para julho e agosto
Fonte: autoria própria
Ao comparar os totais de produção (Tabela 11 e 12), percebe-se que houve pequena variação
de 0,32 UEP no total produzido, permitindo concluir que a produção da fábrica foi estável
nesse trimestre, apesar da variação de 26 unidades fabricadas a mais para o período de
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setembro. Através desse exemplo também é possível identificar que a variação de itens
fabricados não implica diretamente em produtividade, posto que a variável em questão é
UEPs produzidas.
4.2.2 Cálculo das capacidades produtivas da empresa
O método das UEPs proporciona o cálculo das capacidades teóricas, prática e real. A
capacidade teórica é o somatório das capacidades em UEPs de todos os postos operativos,
enquanto a capacidade prática corresponde à capacidade teórica menos as horas em que os
postos operativos não estão produzindo e a capacidade real é a soma das UEPs de cada item
fabricado sem defeito, ou seja, sem desperdício.
Sabe-se que o total de horas disponíveis para a produção de calçados em lotes de cinco pares
corresponde a 24 horas. A Tabela 13 exemplifica o cálculo da capacidade teórica ao
correlacionar o potencial produtivo de cada posto com as horas disponíveis.
Tabela 13: Capacidade Teórica dos POs
Fonte: autoria própria
Os dados da Tabela 13 permitem analisar a capacidade de a fábrica vir a funcionar em todos
os turnos. É importante destacar que a capacidade teórica é o total que empresa pode produzir
usando todos os recursos disponíveis sem ocasionar desperdício. Para calcular a capacidade
pratica (Tabela 14) foram considerados 7 horas efetivas de trabalho por dia, posto à estimativa
de 1 hora de paradas involuntárias. O resultado da capacidade pratica é obtido através da
multiplicação do potencial produtivo pela quantidade de horas efetivas de trabalho referente a
paradas involuntárias para calcular as capacidades teóricas por dia.
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A capacidade prática permite identificar o quanto realmente cada posto operativo é capaz de
produzir por dia, e a partir desses dados é possível determinar os níveis de tolerância para as
horas improdutivas, que a administração da produção deve constantemente interver em busca
de otimizar as horas efetivas de trabalho. Dado que o cálculo da capacidade real considera
todos os produtos produzidos perfeitamente, seu cálculo de deve ser feito no período pós-
produção. Assim sendo, os produtos com defeito são excluídos. Para ilustrar o cálculo da
capacidade real, tem-se o resultado da produção de calçados perfeitos do dia 29 de setembro
de 2011 conforme apresentado na Tabela 15.
Tabela 14: Capacidade Prática dos POs
Fonte: autoria própria
Tabela 15: Capacidade Real dos POs
Fonte: autoria própria
Para obter o resultado da capacidade real é preciso calcular o consumo individual de UEP em
cada posto operativo para cada item fabricado vezes a quantidade de lotes produzidos. Estes
cálculos requem informações minuciosas da produção da organização em estudo. Os dados de
capacidade real, prática e teórica servem para analisar restrições no processo produtivo e dar
suporte à programação da produção, com base na Tabela 16 que consolida os dados sobre as
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capacidades dos postos operativos, pode-se melhor visualizar e então, decidir mais facilmente
sobre as questões da programação da produção.
Conhecendo os valores de capacidade real, prática e teórica para cada posto operativo é
possível mensurar os níveis de produção relacionados aos postos operativos. Por exemplo, a
capacidade real do Posto Operativo 01 no dia 29 de setembro de 2011 representa 45%, o que
significa que este posto desenvolveu menos de a metade de suas atividades com eficiência,
cabendo a intervenção da gerencia de produção para identificar os fatores resultante desse
desempenho. Algumas das causas que afetam a capacidade real são: horas improdutivas,
produtos defeituosos e ociosidade.
Tabela 16: Consolidação das Capacidades Teórica, Real e Prática.
Fonte: autoria própria
4.2.3 Medidas físicas de desempenho
O método das UEPs permite que a produção da empresa seja avaliada por diversas medidas de
desempenho, conforme Kliemann Neto (1994), sendo que serão discutidas aqui três destas
medidas, que devem ser calculadas para cada posto operativo: a eficiência teórica e prática e a
produtividade horária.
A eficiência mede o nível de produção alcançado em comparação com a capacidade teórica, e
diante dessa informação pode-se avaliar qual posto operativo é mais produtivo, qual posto
representa o gargalo no sistema produtivo e a capacidade em percentual que ainda é possível
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ser atingida por cada posto operativo. A Tabela 17 demonstra essa aplicabilidade a partir dos
dados ilustrativos usados anteriormente.
Tabela 17: Ilustração da Eficiência Teórica dos POs
Fonte: autoria própria
Na Tabela 17 o posto operativo 05 é o posto mais eficiente com utilização de 25%, e mesmo
assim, pode ter sua produção ampliada para 75%, como se identifica ao considerar a
capacidade teórica. O posto operativo 11 é o menos eficiente uma vez que possui rendimentos
de apenas 6%. As razões que justificam o rendimento do posto operativo 11, se baseiam (1)
aquisição de novas maquinas e desconhecimento de como manuseá-las, (2) realocação recente
do funcionamento para o posto operativo 11 e (3) alto índice de assiduidade.
Outra potencialidade do método baseia-se no calculo da eficiência pratica que segue os
mesmos princípios da eficiência teórica, divergindo apenas ao usar como multiplicador da
capacidade real a capacidade prática. E significativo possuir todos os indicadores de a fim de
combinar os resultado e seguramente tomar uma decisão mais apurada. A Tabela 18
representa os resultados para eficiência prática.
Tabela 18: Ilustração da Eficiência dos POs
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Fonte: autoria própria
Conforme identificado na tabela o posto operativo 05 é o mais eficiente e o menos eficiente é
o posto 11, com respectivamente 84% e 20%.
5. Considerações finais
Kliemann Neto (1994) considera o método das UEPs como uma ferramenta simples de fácil
operacionalização e que contribui para o gerenciamento da produção. Como demonstrado
nesta pesquisa, o método das UEP pode efetivamente contribuir para a gestão da produção ao
proporcionar informações relacionadas à produtividade, ociosidades, capacidade produtiva e
outras potencialidades não abordadas aqui, como na programação da produção, auxilio na
identificação de gargalos e outros.
Diante disso, percebe-se que o método em estudo pode subsidiar o processo de tomada de
decisão a partir do fornecimento de controles dos custos de transformação e ferramentas de
mensuração e gerenciamento da produção. Tais controles foram facilmente compreendidos
pelos gestores da organização à época do estudo e que pretendiam continuar a implementação
do método.
Uma limitação conceitual do método das UEPs é que este considera apenas os custos de
transformação, ou seja, os custos de fabricação do produto. Quanto aos demais custos
(matéria-prima, vendas, administração, comissão e outros), estes devem ser alocados aos
produtos e por isso se fazem necessárias ferramentas complementares. No que tange aos
custos de matéria-prima, estes são facilmente rateados, posto que na ficha de fabricação de
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produto consta as quantidades exigidas para a fabricação de cada produto. Outra limitação do
método reside no fato de que sua implementação é inviável em empresas cujo sistema de
produção não é em série (KLIEMANN NETO, 1994).
A limitação dessa pesquisa tem como viés a coleta de dados, posto que não foi possível
coletar todos os dados necessários para realizar cada etapa do método. Essa limitação
corresponde à dificuldade em acompanhar todos os produtos fabricados (identificar os tempos
de fabricação para todos os produtos), posto a distância entre o pesquisador e o objeto de
estudo e a variação da produção quase que diária. Ademais, identifica-se a ausência de
informações relativas ao planejamento e controle da produção, e também não havia o registro
manual das atividades pertinente á transformação da matéria-prima.
REFERÊNCIAS
ABICALÇADOS. Pólos produtores. Disponível em: <http://www.abicalcados.com.br/polos-
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