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A prevalência da Síndrome de Burnout nos prestadores de cuidados
a idosos e doentes crónicos
Vicente, C. S. & Oliveira, R. A.
1 - Universidade de Évora; 2 - Universidade de ÉvoraE-mail: csvicent@gmail.com
Resumo
Os profissionais que lidam diariamente com situações de incapacidade, dependência ou vulnerabilidade, podem vir a sentir-se física e emocionalmente afectados, podendo evoluir para uma situação de exaustão profissional, Burnout.
A investigação tem como principais objectivos: estudar a prevalência da Síndrome de Burnout nos profissionais que prestam cuidados a idosos e doentes crónicos e a relação entre o aparecimento do Burnout e as variáveis sociodemográficas.
O estudo foi realizado em 24 Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS’S) do distrito de Lisboa, as quais dispunham das seguintes respostas sociais: Centro de dia, Serviço de Apoio Domiciliário, Lar e Cuidados Continuados. A amostra foi composta por 265 funcionários que trabalham, directamente, com idosos e doentes crónicos. Foi na sua maioria composta por mulheres, 94,30%, e apenas cerca de 5,7% dos participantes eram do género masculino. A média de idade situa-se nos 43 anos. No que se refere ao estado civil cerca de 44,9% são casados, seguidos 19,2% de solteiros, 17,4% estão separados ou divorciados.
Os instrumentos de colheita de dados utilizados foram: o questionário sociodemográfico e o Inventário de Burnout de Maslach (Semedo, 2009), para avaliar a existência da Síndrome de Burnout nas três dimensões: Exaustão Emocional, despersonalização e realização profissional.
Os resultados obtidos com esta investigação revelam que 19, 6% dos participantes apresenta elevados índices de exaustão emocional, 4,9% elevada despersonalização e 2,6% baixa realização pessoal. As variáveis sociodemográficas que parecem influenciar o aparecimento do Burnout são: a idade, antiguidade na instituição, situação contratual, categoria profissional e trabalhar por turnos.
Palavras-Chave: Síndrome de Burnout; Exaustão emocional; Profissionais de saúde; Prestadores de cuidados; Geriatria; Doenças crónicas.
Introdução
O contexto da intervenção social nos últimos anos tem sofrido várias alterações
consequência da tendência actual da sociedade moderna para a individualização e para a
desintegração do tecido social, associada ao envelhecimento populacional, o que conduz
a um aumento da procura de respostas nas instituições sociais direccionadas para a
terceira idade e, consequentemente, desencadeia uma maior pressão por parte dos
utentes para que os profissionais resolvam situações sociais complexas. Afinal como
referido por Ander-Egg (1987, cit. por Barría, 2003) o objecto de trabalho nos
trabalhadores sociais é auxiliar pessoas em situação de vulnerabilidade, quer ela seja
física, mental ou social. De acordo com Söderfedt, Söderfeldt e Wang (cit. por Barría,
2003) apesar destas exigências, os prestadores de cuidados ainda se deparam com a falta
de reconhecimento social e a fraca existência de recursos quer económicos, quer
humanos para que possam assegurar uma resposta adequada às situações com que se
deparam. Em muitas ocasiões os trabalhadores sentem que o trabalho que desenvolvem
não coincide com as suas expectativas prévias acerca da sua profissão, desempenhando
funções e tarefas para as quais não se sentem preparados, o que poderá induzir uma
certa frustração, associada às expectativas pouco realistas com que iniciaram a sua
actividade. Esta realidade pode contribuir para o aparecimento de riscos psicossociais,
designadamente para o aumento do nível de stress e consequentemente para uma grave
deterioração da saúde física e mental, com particular destaque para o aparecimento da
Síndrome de Burnout. O Burnout tem sido conceptualizado por Maslach e Jackson
(1981) como uma experiência de stress individual desenvolvida no contexto das
relações sociais complexas, associados ao contexto laboral. De acordo com as autoras a
síndrome associa-se a “um cansaço físico e emocional que leva a uma perda de
motivação para o trabalho, que pode evoluir até ao aparecimento de sentimentos de
inadequação ou fracasso” (Pires; Mateus & Câmara, 2004).
Os estudos realizados acerca da prevalência desta síndrome, de acordo com Gil-
Monte (2000) apresentam estatísticas que parecem inflacionadas, na medida em que
apontam para índices de 30 a 40% de Burnout, embora as suas investigações sugiram
que a percentagem de profissionais das áreas assistenciais revele uma prevalência desta
síndrome na ordem dos 10 a 12%. Num estudo realizado em Portugal verificou-se que
apenas 9,8% dos participantes revelavam exaustão emocional e 1,4% na dimensão
despersonalização (Ribeiro, Gomes e Silva, 2010). No México foi realizado um estudo
com médicos tendo-se constatado que dos participantes envolvidos cerca de 10,9%
exaustão emocional e 6% na dimensão de despersonalização (Pereda-Torales,
Celedorio, Vásquez & Zamora, 2009).
Embora a literatura, aponte para a existência de vários factores, como os
organizacionais, conteúdo do trabalho e individuais, que parecem contribuir para o
aparecimento da Síndrome de Burnout, a nossa análise incidira sobre as individuais,
uma vez que se coaduna com o objectivo do presente estudo. No que concerne às
variáveis individuais, os estudos salientam a importância do género, da idade, do estado
civil, existência ou não de filhos, antiguidade no trabalho, características da
personalidade, psicopatologias e estratégias de coping (Hernández-Vargas, Dickinson,
& Ortega, 2008). Em relação ao género, as investigações diferem na medida em que
nalguns infere-se que as mulheres obtêm valores mais elevados na dimensão exaustão
emocional ao passo que nos homens as maiores elevações verificam-se na dimensão
despersonalização. Contudo, noutros estudos essas diferenças de pontuações não são tão
evidentes (Glasberg, Erihsson, & Norberg, 2007; Gisbert, Los Fayos & Montesinos,
2008; Grau; Flichtentrei; Suñer; Prats & Braga, 2009; Tecedeiro, 2010). No que respeita
à idade, os estudos salientam que entre os 35 e os 54 anos de idade há maior propensão
para o aparecimento da referida síndrome. Por outro lado, as investigações vão no
sentido de que o maior número de horas de trabalho por semana também correspondem
a níveis mais acentuados de exaustão emocional e despersonalização por parte dos
profissionais, tendo-se verificado que os profissionais em horários de trabalho
acrescidos (42 horas semanais) evidenciaram maiores índices de exaustão emocional
(Queirós, 2005 cit. por Gomes, Cruz & Cabanelas, 2009).
A pertinência desta investigação deve-se aos escassos estudos portugueses
acerca da prevalência da Síndrome de Burnout nos prestadores de cuidados a idosos e
doentes crónicos. Foram definidos como objectivos: estudar a prevalência da Síndrome
de Burnout (Exaustão Profissional) nos profissionais que prestam cuidados a idosos e
doentes crónicos e a relação entre o aparecimento do Burnout e as variáveis: sócio-
demográficas.
Método
Design
O estudo insere-se num desenho transversal e descritivo-correlacional, na medida em
que se pretende explorar a existência de relações entre as variáveis Síndrome de
Burnout e as variáveis sócio demográficas (Fortin, 1999).
Amostra
O estudo foi realizado em 24 Instituições Particulares de Solidariedade Social
(IPSS’S) do distrito de Lisboa, nas suas respostas sociais: Centro de dia, Apoio
Domiciliário, Lar e Cuidados Continuados. A amostra foi composta por 265
funcionários que trabalham, directamente, com idosos e doentes crónicos. Foi na sua
maioria constituída por mulheres 94,3%. A média de idades situa-se nos 43 anos (Std.
10,19). Em relação ao estado civil verifica-se que 58,9% dos participantes são casados
ou vivem em união de facto, enquanto 36,6% são solteiros ou divorciados. Na amostra
em estudo, 79,2% dos participantes têm filhos. A média de filhos situa-se nos 1,63
(Std.1,44). No que se refere às habilitações literárias cerca de 76,6% dos participantes
apresenta um nível de escolaridade que se situa entre o 1º ciclo e a secundária, ao passo
que os licenciados apenas representam 18,9%. Em relação à categoria profissional
verifica-se que a maioria da amostra é composta por ajudantes familiares e por
auxiliares de acção directa (72,4%). Contudo, a amostra ainda integra profissionais
como: assistentes sociais, animadores socioculturais, psicólogos, fisioterapeutas,
enfermeiros, terapeutas ocupacionais e encarregados de sector. A média de antiguidade
na instituição é de 7,6 anos (Std. 7,12). A média de tempo com que os participantes
trabalham com idosos e doentes crónicos, situa-se nos 9,3 anos (Std. 7,72). No que
concerne ao horário de trabalho, a maioria dos participantes situa-se no regime normal
(50,9%), seguido pelo horário acrescido que representa 45,3% dos participantes. No que
respeita ao vínculo laboral, salienta-se que 71,1% dos participantes são efectivos e
20,4% trabalham com contrato. De acordo com os resultados obtidos verifica-se que
81,1% dos participantes trabalha apenas num só local. Em relação ao rendimento
mensal verifica-se que 75,5% dos participantes aufere um rendimento inferior a 750
euros.
Instrumentos
Os instrumentos seleccionados para levar a cabo os objectivos do estudo foram:
o questionário sócio-demográfico e o Inventário de Burnout de Maslach. No que se
refere ao questionário Sócio-demográfico, o qual permitiu fazer a caracterização dos
participantes, foi elaborado com base em questões fechadas que incidiram sobre
aspectos como: idade, género, estado civil, filhos, habilitações literárias, categoria
profissional, remuneração, situação contratual, antiguidade na função e antiguidade na
instituição. O segundo instrumento utilizado foi Inventário de Burnout de Maslach
(Maslach & Jackson, 1996; Semedo, 2009), o qual tem como objectivo avaliar o
Burnout nos trabalhadores. Na sua versão original, é composto por 22 itens acerca de
sentimentos relacionados com o trabalho, distribuídos por três escalas: Exaustão
Emocional, com 9 itens; Despersonalização, com 5 itens e Realização Pessoal, com 8
itens. A resposta é dada sobre a frequência com que cada sentimento ocorre numa escala
ordinal de 7 posições entre “Nunca” (0) e “Todos os dias” (6). Contudo, na adaptação
para português foram retirados 4 itens, resultantes da análise factorial exploratória.
Deste modo, permaneceram os três factores: Exaustão Emocional, com 8 itens;
Realização Pessoal, com 6 itens e Despersonalização, com 4 itens. Com a utilização
deste inventário, pretendemos perceber a existência de exaustão emocional e da
Síndrome de Burnout apresentada pelos inquiridos.
Procedimento
Em Novembro de 2010 procedeu-se ao contacto formal das direcções das
Instituições Particulares de Solidariedade Social, tendo-se para o efeito enviado por
correio electrónico (e-mail), os pedidos de colaboração na referida investigação. A
acompanhar a carta de apresentação do estudo, seguia em anexo o pedido de
autorização, no qual constavam os objectivos e etapas com que se iria desenrolar o
mesmo. Recebidas as autorizações e manifestação por parte das IPSS’S em colaborar no
estudo, os directores técnicos foram contactados telefonicamente de modo a agendar
uma reunião, na qual fosse possível clarificar dúvidas e em simultâneo, definir os
procedimentos para a posterior entrega dos questionários. Procedeu-se à recolha de
amostra entre Janeiro a Março de 2011.
Como forma de assegurar o anonimato e confidencialidade dos participantes,
foram entregues por participante um envelope no qual constava a carta explicativa do
objectivo do estudo; o consentimento informado, o questionário sócio-demográfico e o
Inventário de Burnout de Maslach. Solicitava-se ainda que devolvessem os envelopes
devidamente selados. O tempo que mediou entre a entrega e a recolha dos envelopes foi
de duas a três semanas, conforme o estipulado com os respectivos directores e tendo em
consideração o número de funcionários da referida instituição. Na data pré-estabelecida,
a investigadora deslocou-se às instituições para proceder à respectiva recolha dos
envelopes. Foram seguidos todos os procedimentos requeridos pelas Comissões de Ética
de Investigação.
Análise dos resultados
O tratamento de dados efectuou-se por intermédio do programa de estatística
SPSS - Statistical Package for the Social Sciences, versão 17.0. Em virtude de não
existirem pontos de corte validados para a população portuguesa seguiu-se as directrizes
sugeridas por Shirom (1989), que considera, quem numa escala de tipo de Likert, para
identificar os níveis de Burnout, é uma alternativa válida ter por base a frequência dos
sintomas, no nosso caso utilizou-se o ponto 3 que corresponde a resposta “algumas
vezes por mês”. Os procedimentos estatísticos utilizados para prosseguir os objectivos
do estudo foram os seguintes: descritivos, MANOVA e Regressão Linear Múltipla.
Em resposta há primeira questão de investigação, qual a prevalência da
Síndrome de Burnout nos prestadores de cuidados a idosos e doentes crónicos verifica-
se que 19, 6% dos participantes apresenta elevados índices de exaustão emocional, 4,9%
elevada despersonalização e 2,6% baixa realização pessoal.
No nosso estudo os homens são os que apresentam maiores elevações nas
dimensões exaustão emocional, despersonalização e menor realização pessoal. Em
relação ao estado civil são os solteiros que apresentam maiores índices de exaustão
emocional, os casados, maior despersonalização e os viúvos menor realização pessoal.
Os participantes que não têm filhos são os que apresentam maior exaustão emocional e
menor realização pessoal enquanto os que têm filhos obtêm maiores elevações na
dimensão despersonalização. No que se refere às habilitações literárias observa-se que
os participantes com licenciatura e mestrado são os que revelam maior exaustão
emocional, ao passo que os inquiridos com o 1º ciclo (1ª à 4ª classe) maiores índices de
despersonalização enquanto os com a secundária são os que se sentem menos
realizados. Em relação ao horário de trabalho constata-se que os profissionais que
trabalham em tempo parcial são os que revelam maior exaustão emocional e baixa
realização pessoal, sendo que a maior elevação na despersonalização ocorre nos que têm
um horário acrescido. Na variável situação contratual observa-se que os efectivos são os
que apresentam maiores elevações nas dimensões exaustão emocional e
despersonalização, ao passo que os prestadores de serviços demonstram ser os que
sentem menor realização pessoal. Relativamente à idade dos participantes verifica-se
que a exaustão emocional ocorre com maior prevalência entre os 25-30 anos, sendo que
a despersonalização surge entre os 31-35 anos e os 50-55 anos. Na dimensão realização
pessoal, os profissionais menos realizados situam-se entre os 20-25 anos de idade.
Quanto à antiguidade na instituição constata-se que as maiores elevações na exaustão
emocional ocorrem entre os 10-15 anos. Por sua vez, a despersonalização é mais
evidente entre os 15-20 anos e a menor realização pessoal entre os 5-10 anos. No que
concerne ao tempo com a população verifica-se que os participantes com 15-20 anos de
trabalho são os que se sentem mais exaustos emocionalmente, assim como com maior
despersonalização enquanto os que se sentem menos realizados são os que se situam
entre os 5-10 anos.
Para responder à segunda questão de investigação, efectuou-se uma análise de
variância multivariada (MANOVA) para analisar se as variáveis em estudo tiveram um
efeito estatisticamente significativo sobre as dimensões exaustão emocional,
despersonalização e realização pessoal. A MANOVA revelou que a categoria
profissional (F=2,498; p=0,003), a resposta social (F=2,751; p=0,029) e a situação contratual
(F=4,959; p=0,008) tiveram efeito na dimensão exaustão emocional. Por outro lado, as
variáveis turnos (F=3,748; p=0,043), situação contratual (F=3,748; p=0,026) e trabalho
noutro local (F=4,344; p=0,039) tiveram efeito na dimensão despersonalização. Em
relação à realização pessoal não se observou nenhum efeito por parte das variáveis em
estudo.
A regressão linear múltipla permitiu identificar as variáveis Idade e Antiguidade
na instituição (TempInstitu) como variáveis preditoras significativas da dimensão
Exaustão Emocional. De acordo com os resultados, verifica-se que há medida que a
variável Idade (β= -0,210; t (260) = -2,9; sig. = 0,004 p ˂ 0,01) aumenta diminui a variável
Exaustão Emocional. Por outro lado, o aumento na variável antiguidade na instituição
(β= 0,287; t (260) = -3,1; sig. = 0,002 p ˂ 0,01) significa que influência o aumento da
variável exaustão emocional. Embora a variável antiguidade na instituição (β= -0,175; t
(260) = -1,8; sig. = 0,059 p ˃ 0,05) seja marginalmente significativa como variável
preditora da dimensão realização pessoal, não se pode deixar de a referir, na medida em
que exerce uma influência contraditória, ou seja, há medida que aumenta o tempo de
instituição parece diminuir a realização pessoal dos participantes.
Discussão
Ao prosseguir um dos nossos objectivos apurar a prevalência da Síndrome de
Burnout nos prestadores de cuidados a idosos e doentes crónicos verificou-se que a
prevalência da síndrome de Burnout, no nosso estudo, é inferior à apresentada pela
maioria das investigações, que aduzem valores na ordem dos 30 a 40%. Contudo, os
nossos resultados parecem ir no sentido do sugerido por alguns estudos, que revelam
que a prevalência de Burnout nos profissionais de saúde se situa entre os 10 a 12%
(Ribeiro, Gomes & Silva, 2010; Perede-Torales et al, 2009; Grau et al, 2009). Os nossos
resultados parecem justificar-se pelo facto de ser uma área em que se observa alguma
rotatividade por parte dos profissionais, o que poderá ter contribuído para o não acesso a
uma percentagem de prestadores de cuidados que numa situação extrema tenham
deixado de trabalhar neste contexto.
Em relação às variáveis sócio-demográficas verificou-se que os homens
apresentam maiores índices de Burnout, o que se encontra em dissonância com o
observados na maioria das investigações, na medida em que concluem que as mulheres
apresentam maior exaustão emocional. Porém, no estudo de Gisbert e colegas (2008)
constatou-se, à nossa semelhança, maiores índices de Burnout nos homens do que nas
mulheres. No nosso entender, os nossos achados poderão dever-se ao facto de ser uma
área em que as mulheres conseguem obter maior gratificação e dispõem de mais
recursos pessoais, nomeadamente em funções associadas ao cuidar, do que os homens.
No que se refere ao horário laboral, os nossos resultados são semelhantes aos
verificados por Carlotto (2011) dado que se observa que os participantes com maiores
níveis de exaustão emocional e menor realização pessoal são os que trabalham em
tempo parcial, o que poderá dever-se ao facto de terem de se repartir por outras
actividades, o que suscita maiores desafios na medida em que requer da parte destes
profissionais uma maior adaptação a diferentes filosofias institucionais.
No nosso estudo a variável idade foi considerada tendo-se observado que os
participantes mais novos (25-30 anos) apresentam maior exaustão emocional, sendo que
a despersonalização surge entre os 31-35 anos e os 50-55 anos. Os nossos resultados
não diferem dos apresentados pelos outros estudos que referem que os profissionais
mais propensos ao aparecimento da Síndrome de Burnout situam-se entre os 35 e os 54
anos de idade.
Por outro lado, vários autores assinalam a importância da antiguidade na função,
afirmando que os profissionais que têm mais de 5 a 11 anos de profissão são mais
susceptíveis ao Burnout. Na nossa amostra verifica-se que o período temporal situa-se
entre os 15 e os 20 anos, o que não difere do apresentado no estudo de Hérnandez-
Vargas (2008), na medida em que verificaram que os médicos com mais de 11 a 19 anos
de antiguidade estavam mais susceptíveis a padecer de Burnout.
As investigações comprovam que as pessoas com maior grau académico estão
mais propensas a desenvolver a Síndrome de Burnout, o que foi por nós igualmente
verificado, na medida em que há medida que aumentam as habilitações literárias
também é evidente um aumento progressivo da exaustão emocional, mais do que das
outras dimensões. Este aspecto poderá ser justificado pelas expectativas que os próprios
profissionais criam em relação ao seu trabalho, assim como ao facto de desempenharem
funções desajustadas à sua formação.
Há semelhança do verificado na revisão de literatura efectuada por Ruíz e Rios
(2004), as variáveis preditoras do Burnout são o tipo de contrato e o tipo de serviços,
aspectos que foram igualmente observados no nosso estudo.
A nossa investigação revela algumas limitações, que não poderão deixar de ser
mencionadas. Em primeiro lugar, será de aflorar que o facto de a entrega dos
questionários ter sido efectuado pelos coordenadores e ou directores técnicos da referida
instituição, poderá ter contribuído para uma menor adesão ao estudo. Todavia, como
forma de não sermos confrontados com enviesamentos, foram acautelados todos os
procedimentos que assegurassem a confidencialidade das respostas. Por outro lado, o
facto de os questionários terem sido auto-administrados, nomeadamente o Inventário de
Burnout de Maslach, o que tendo em consideração a baixa escolaridade dos
participantes poderá ter suscitado algumas dúvidas no preenchimento do referido
instrumento. Como futuras investigações parece-nos relevante a elaboração de estudos
longitudinais centrados na avaliação de programas de intervenção ajustados à realidade
e contexto em estudo, não só no âmbito da intervenção social, mas alargado a outras
áreas nomeadamente no sector bancário entre outros sectores laborais, sujeitos às novas
mudanças do mercado de trabalho.
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