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Aulas Multimídias – Santa Cecília
Profª André Araújo
Disciplina: Língua Portuguesa, Redação e LiteraturaSérie: 2º ano EM
O livro principia por uma epígrafe, extraída de uma quadra de
desafio, que sintetiza os elementos centrais da obra : Minas
Gerais, sertão , bois vaqueiros e jagunços , o bem e o mal.
O título do livro, Sagarana, remete-nos a um dos processos de invenção de
palavras mais característicos de Rosa- o hibridismo. Saga é radical de origem
germânica e significa "canto heróico", "lenda" ; rana vem da língua indígena e
quer dizer "à maneira de " ou "espécie de “.
•O Burrinho Pedrês;
•A volta do marido pródigo,
•Sarapalha;
•Duelo;
•Minha Gente;
•São Marcos;
•Corpo Fechado;
•Conversa de Bois;
•A hora e vez de Augusto Matraga;
Guimarães Rosa cria neologismos em Sagarana,
utilizando-se de palavras formadas por derivações sufixal,
prefixal, parassintética e também por abreviação, composição
aglutinada e composição justaposta. A obra é repleta de
neologismos que se sobressaem em composições e derivações
novas, além “de novos tipos de construção frasal.
Suas narrativas, repletas de incidentes, casos fantásticos
e imaginários, contém às vezes mais de uma “história”
dentro da “história”. De um modo geral, esses casos
secundários são postos em função do principal: têm a
finalidade de comprovar ou preparar terreno para a
história principal.
Em carta a João Conde, Guimarães Rosa revela que
Sagarana se passaria no interior de Minas Gerais, na
paisagem das fazendas e vaqueiros (mundo da
infância e juventude do autor) .
As histórias são ligadas entre si pelo espaço em que
acontecem, e captam os aspectos sociais, físicos e
psicológicos do homem interiorano.
É outra característica do estilo rosiano que evidencia um gosto bem popular: o
gosto por ditados e provérbios, além das quadrinhas que harmonizam as noites
sertanejas, sob um céu palpitante de luar e de estrelas que pululam encantadas dos
sons gotejantes das melodias populares.
Os contos O Burrinho Pedrês, A Volta do Marido Pródigo,Sarapalha, Duelo, Conversa de bois e A hora e vez deAugusto Matraga são narrados em terceira pessoa.
Já nos contos São Marcos, Minha Gente e Corpo Fechado onarrador aparece em primeira pessoa, foco narrativoilumina os passos do protagonista, mas também revelacertas sutilezas que servem para esclarecer o sentido maisprofundo da história.
O BURRINHO PEDRÊS
• Sete de Ouro, um burrinho já idoso é escolhido para servir de montaria
num transporte de gado. Um dos vaqueiros, Silvino , está com ódio de
Badu , que anda namorando a moça que ama. Corre o boato entre os
vaqueiros, de que Silvino pretende vingar-se do rival.
• De fato Silvino atiça um touro e o faz investir contra Badu que , porém,
consegue dominá-lo. Continua a murmúrio de que Silvino vai matar
Badu. No caminho de volta, este , bêbado , é o último a sair do bar e tem
que montar no burro. Anoitece e Silvino revela a seu irmão o plano de
morte.
• Contudo, na travessia do Córrego da Fome, que pela cheia transformara-
se em rio perigoso, vaqueiros e cavalos se afogam . Salvam-se apenas
Badu e Francolim , um montado e outro pendurado no rabo do burrinho.
Resumo:
Estudo do conto:
• O autor procura mostrar, tendo como pano de fundo o
mundo dos vaqueiros, que todos têm a sua hora e sua vez
de ser útil. É um conto que metaforiza a experiência da
velhice e transforma um animal em herói. "Sete de
Ouros", burro velho e desacreditado, personifica a cautela,
a prudência e a muito mineira noção de que nada vale
lutar contra a correnteza.
• E dessa forma simples o autor tenta expressar a realidade, a
qual muitas vezes desvalorizamos aqueles que julgamos
não serem espertos. Somos preconceituosos, pois a figura
de um burro é usada em nossa sociedade, desde muito
tempo, para caracterizar as pessoas, que não possuem tanto
conhecimento. Guimarães acaba por desmentir essa
realidade, através do conto.
Duelo
Resumo
Turíbio é traído pela mulher com o ex-praça Cassiano Gomes.
Turíbio quer vingar-se mas mata por engano o inocente irmãode Cassiano.
Cassiano persegue Turíbio durante meses-Turíbio vai para São Paulo.
Cassiano morre do coração, por ter exigido demais de simesmo durante a perseguição.
Antes de morrer contrata os serviços de um caboclo que lhedevia favores, um tal Timpim Vinte-e-um.
Ao voltar de São Paulo, acompanhado por um sujeitofranzino, ansioso para rever a mulher é assassinado peloacompanhante que era o próprio Timpim que oacompanhava para ter certeza da identidade da vítima.
Estudo do conto
Neste conto o autor caracteriza bem as personagens, dandomostras de que é um profundo conhecedor da alma humana. Éinteressante a forma com que ele as nomeia e apelida, nosremetendo a maneira simples de muitas pessoas tratarem umas àsoutras e também o uso do exagero, para exaltar as característicasda personalidade de cada uma.
A narrativa é feita em terceira pessoa e com narrador onisciente,que além de saber o que se passa na mente de cada um dosintegrantes do conto, manifesta sua opinião em dadas situações econversa com o leitor em outras.
Não é determinado o tempo gasto para o desenvolvimento de todatrama, mas acredita-se ser um tempo de média à longa duração.
O humor está presente no conto , como um recurso para atrair ointeresse do leitor e agradá-lo.
O título é uma particularidade, pois devemos entender que duelonesse caso se revela como a luta entre o fraco e o forte, sendosempre vencida pelo fraco de modo covarde, e não no sentidoliteral da palavra.
João Guimarães Rosa possuía uma grande visãocosmopolita, por ser diplomata, e sua grande cultura emgeral, inclusive falava vários idiomas fluentemente, e porter nascido no interior de Minas Gerais e posteriormente terconhecido diversas regiões do Brasil, pode construir umaobra bastante fiel à realidade e envolvente e, além disso,poética.
Guimarães nunca foi um autor estritamente regionalista,seu vocabulário é universal. A leitura de Sagarana mostra acoexistência das expressões sertanejas, dos termoseruditos, de expressões técnicas e científicas. E,principalmente de palavras e modalidades de locução queele mesmo inventava.
Por esse motivo sua obra, com um todo, é muito especial.
O livro Sagarana nos leva à importantes
reflexões, a partir de textos simples que o autorconstruiu com base em uma linguageminovadora, com todos os seus neologismos, no
entanto rica. É também , uma mistura de
realidade, ficção, fantasia e muita imaginação,
por meio de mitos, do imaginário popular,
folclore e toda a beleza da cultura popular.
O livros apesar de ter sido escrito há muito
tempo, se revela atual diante das questões
abordadas.
O autor conseguiu comprovar sua genialidade
ao tratar de questões simples com tamanhamagia que nos envolve durante a leitura e leva
nossa imaginação a criar e recriar novos
mundos.
"Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um
léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes
e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens."
João Guimarães Rosa
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