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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE-UERN
FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS- FACEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA-PPGGEO
MESTRADO EM GEOGRAFIA
GILCIANE KARINY DA COSTA FRUTUOSO
AVALIAÇÃO DO RISCO DE INUNDAÇÃO NA ÁREA URBANA DE ASSÚ - RN
COMO FERRAMENTA PARA O PLANEJAMENTO URBANO.
MOSSORÓ/RN
2020
GILCIANE KARINY DA COSTA FRUTUOSO
AVALIAÇÃO DO RISCO DE INUNDAÇÃO NA ÁREA URBANA DE ASSÚ - RN
COMO FERRAMENTA PARA O PLANEJAMENTO URBANO.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Geografia (PPGEO), da Faculdade de Ciências
Econômicas da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte (UERN), para a obtenção do título de Mestre em
Geografia.
Área de concentração: Paisagens Naturais e Meio
Ambiente.
Linha de pesquisa: Estudos Socioambientais.
Orientador: Prof. Dr. Alfredo Marcelo Grigio.
Coorientadora: Profa. Dra. Terezinha Cabral de
Albuquerque Neta Barros.
MOSSORÓ/RN
2020
/
© Todos os direitos estão reservados a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. O conteúdo desta obra é deinteira responsabilidade do(a) autor(a), sendo o mesmo, passível de sanções administrativas ou penais, caso sejaminfringidas as leis que regulamentam a Propriedade Intelectual, respectivamente, Patentes: Lei n° 9.279/1996 e DireitosAutorais: Lei n° 9.610/1998. A mesma poderá servir de base literária para novas pesquisas, desde que a obra e seu(a)respectivo(a) autor(a) sejam devidamente citados e mencionados os seus créditos bibliográcos.
Catalogação da Publicação na Fonte.Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
F945a FRUTUOSO, GILCIANE KARINY DA COSTAAVALIAÇÃO DO RISCO DE INUNDAÇÃO NA ÁREA
URBANA DE ASSÚ - RN COMO FERRAMENTA PARA OPLANEJAMENTO URBANO.. / GILCIANE KARINY DACOSTA FRUTUOSO. - MOSSORÓ, 2020.
96p.
Orientador(a): Prof. Dr. ALFREDO MARCELOGRIGIO.
Coorientador(a): Profa. Dra. Terezinha Cabral deAlbuquerque Neta Barros.
Dissertação (Mestrado em Programa de Pós-Graduação em Geografia). Universidade do Estado do RioGrande do Norte.
1. Programa de Pós-Graduação em Geografia. 2.Desastre. 3. Precipitação. 4. Cidade. 5. Expansão. I.GRIGIO, ALFREDO MARCELO. II. Universidade doEstado do Rio Grande do Norte. III. Título.
O serviço de Geração Automática de Ficha Catalográca para Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC´s) foi desenvolvidopela Diretoria de Informatização (DINF), sob orientação dos bibliotecários do SIB-UERN, para ser adaptado àsnecessidades da comunidade acadêmica UERN.
GILCIANE KARINY DA COSTA FRUTUOSO
AVALIAÇÃO DO RISCO DE INUNDAÇÃO NA ÁREA URBANA DE ASSÚ - RN
COMO FERRAMENTA PARA O PLANEJAMENTO URBANO.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Geografia (PPGEO), da Faculdade de Ciências
Econômicas da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte (UERN), para a obtenção do título de Mestre em
Geografia.
Área de concentração: Paisagens Naturais e Meio
Ambiente.
Linha de pesquisa: Estudos Socioambientais.
Orientador: Prof. Dr. Alfredo Marcelo Grigio.
Coorientadora: Profa. Dra. Terezinha Cabral de
Albuquerque Neta Barros.
Aprovada em: 24/03/2020
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Alfredo Marcelo Grigio- UERN
(Orientador)
Profa. Dra. Terezinha Cabral de Albuquerque Neta Barros - UERN
(Examinadora externa)
Prof. Dr. Marco Antônio Diodato - UFERSA
(Examinador Externo)
Dedico este trabalho a minha mãe Gilcia, por todo o incentivo e
apoio, a qual sempre quis me ver mestra. Tudo que sou e pretendo ser
eu devo à senhora.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me conceder forças para chegar a este momento sonhado e esperado, por
toda a força e discernimento para que eu pudesse enfrentar os percalços durante a construção
deste trabalho e ter a convicta certeza de que vale a pena sim se dedicar e fazer renúncia em
prol de uma realização profissional.
A meus pais Kennedy e Gilcia, meu irmão Francisco e meus sobrinhos Nicolly e
Nicollas, pelo amor e apoio na busca de minhas realizações.
Ao meu Francicélio, pelo amor, paciência e por sempre me apoiar e me encorajar a
nunca desistir do meu sonho, sempre disposto a me ajudar no que fosse preciso. Além disso, o
que seria de mim sem você para me auxiliar no financeiro?
Ao meu orientador, Prof. Dr. Alfredo Marcelo Grigio, que desde o primeiro contato,
sempre foi solícito, me acolheu com toda a atenção, paciência e motivação e mostrou que
através da educação podemos nos transformar e transformar o mundo. Pessoa a qual ganhou
minha admiração, carinho e respeito, o meu muito obrigada.
À minha coorientadora, Profa. Dra. Terezinha Cabral de Albuquerque Neta Barros,
por toda dedicação, contribuição e atenção nas várias conversas via WhatsApp destinadas à
orientação deste trabalho.
Aos professores e professoras do Programa de Pós-Graduação em Geografia, da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), por toda contribuição ao longo
desses anos na pós-graduação.
Ao secretário do Mestrado, Diego, por todo o apoio, incentivo e sempre estar solícito a
todos os nossos pedidos ao longo do curso.
Ao Núcleo de Estudos Socioambientais e Territoriais (NESAT), por toda solicitude
tecnológica e acervo bibliográfico; e às amigas e amigos, Marina Teixeira, Marina Gurgel,
Iracilda, Letícia Gabriele, Wesley Misael, Weslley Souto, Ariel e Eduardo, por todo o auxílio
tecnológico nos momentos necessários.
À Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), por ofertar ensino,
pesquisa e extensão de qualidade e oportunizar desenvolvimento profissional.
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), especificamente ao Núcleo
Temático da Seca e do Semiárido (NUT-Seca), na pessoa de Maurina, sempre cordial em
minhas solicitações.
A todos os funcionários dos órgãos públicos com os quais mantive contato, coletando
dados, sempre atenciosos e solícitos para contribuir na realização deste trabalho.
É nostálgico escrever essa parte do trabalho, pois me faz rememorar o final da
graduação e a professora Ana Luíza Bezerra Saraiva, a qual sempre me incentivava a
continuar a carreira acadêmica, concedendo-me a oportunidade de fazer o estágio em
docência e pessoa que me serve de exemplo.
À Heleriany de Medeiros Madeiros, por todo o apoio, incentivo no processo de
ingresso ao curso. A você, “Lerê”, o meu muito obrigada.
À turma do 4º período de Geografia, em especial aos alunos Joshua, Andrezza, Edgar
com os quais tive a oportunidade de fazer o estágio em docência, uma experiência ímpar em
minha vida acadêmica. Obrigada por toda a experiência e momentos compartilhados.
À Marysol Dantas, pela contribuição de informações e materiais que auxiliaram
bastante na escrita deste trabalho. Obrigada pela atenção e por ser sempre solícita nos
momentos em que eu precisava.
A Patrício Martiniano, pelo auxílio no acompanhamento dos campos nos momentos
necessários.
A Dyego Rocha, pela paciência e auxílio para a realização deste trabalho.
A todos os meus amigos e amigas, que compreenderam minha ausência, mas que me
apoiaram e contribuíram direta e indiretamente para que eu chegasse ao término dessa
jornada.
“A vitória chegou”
(Aurelina Dourado)
RESUMO
O processo de urbanização no Brasil, que ocorreu sem planejamento, com aumento da
população e, dessa forma, houve a necessidade das cidades se expandirem para abrigar essa
população, alterou e continua a alterar a dinâmica ambiental e social dos espaços urbanos da
maioria das cidades brasileiras. Esse processo de ocupação desordenada em áreas irregulares
resultou na ocorrência de problemas de inundações em áreas que antes não representavam um
risco à população. Dentro desse contexto, apresenta-se a cidade de Assú-RN, localizada em
uma área com forma de relevo plano, próxima a corpos hídricos e com ocupações próximas
ao leito maior do rio. Diante dessa problemática, apesar da área urbana do município de Assú
(RN) possuir um instrumento de planejamento e gestão, através do seu Plano Diretor, a
mesma não possui um Plano e/ou um Zoneamento das suas áreas de risco a inundação.
Buscando entender e identificar essas áreas de riscos, este trabalho tem como objetivo geral
avaliar os riscos de inundação a partir da susceptibilidade aos perigos na área urbana do
município de Assú, relacionados com as formas de ocupação do solo, alterações ambientais,
na investigação do espaço geográfico. Para alcançar esse objetivo, em um primeiro momento,
foi necessário refletir sobre o planejamento urbano, que serviu de embasamento às discussões
sobre planejamento e Plano Diretor. Logo após, foram realizadas coletas no banco de dados
do Núcleo Temático da Seca e do Semiárido (NUT-Seca), referentes ao histórico de
inundações ocorridas, para se traçar um inventário de anos de inundação e os detalhes de cada
ocorrência na cidade, baseando-se nos estudos de Cardoso Jr. (2011), Santos Junior e
Montadon (2011), para as discussões de planejamento; e Tucci (2005), Almeida (2012),
Amaral e Gutjahr (2015), para as discussões de desastre, risco, perigo e inundações.
Posteriormente, realizou-se uma coleta de dados juntamente à Defesa Civil do município, que
abordava relatórios sobre a última inundação ocorrida para que, com os resultados obtidos,
pudessem ser gerados, por meio de técnicas de geoprocessamento, os mapas temáticos, com a
finalidade de espacializar o risco na área urbana, utilizando, para isso, a metodologia aplicada
por Julião et al (2009). Por meio dos resultados obtidos, percebe-se que a ferramenta que
auxilia no gerenciamento urbano encontra-se desatualizada. Há uma permanência histórica de
inundações nos mesmos bairros e o surgimento de alagamentos após a pavimentação asfáltica
em algumas ruas da cidade, sem elementos estruturais para drenar as águas pluviais. Os
estudos em áreas urbanas ainda são escassos, mas, no que se refere ao município de Assú, ao
longo de todas as ocorrências de inundação, pode-se perceber que a população permanece
sem solução, principalmente aqueles que já foram afetados pelas inundações, sendo, então,
este estudo uma possível contribuição como ferramenta de auxílio para a elaboração de
políticas públicas e privadas sociais e ambientais, tais como planejamento urbano, visando
principalmente atender àqueles que estão em áreas de risco muito alto.
Palavras-chave: Desastre. Precipitação. Cidade. Expansão. Gerenciamento.
ABSTRACT
The urbanization process in Brazil, which occurred without planning, with an increase in the
population and, therefore, there was a need for cities to expand to accommodate this
population, changed and continues to change the environmental and social dynamics of the
urban spaces of most Brazilian cities. This disorderly occupation process in irregular areas
resulted in the occurrence of flooding problems in areas that previously did not represent a
risk to the population. Within this context, the city of Assú-RN is presented, located in an area
with a flat relief shape, close to water bodies and with occupations close to the largest
riverbed. In view of this problem, despite the urban area of the city of Assú (RN) having a
planning and management instrument, through its Master Plan, it does not have Planning and /
or a Zoning of its flood risk areas. Seeking to understand and identify these risk areas, this
work has the general objective of evaluating the flood risks taking into account the
susceptibility to hazards in the urban area of the city of Assú, which are related to the forms of
land occupation and environmental changes in the geographical space. To achieve this
objective, at first, it was necessary to reflect on urban planning, which served as a basis for
discussions on planning and the Master Plan. Following that, collections were carried out
from the database at the NúcleoTemático da Seca e do Semiárido (NUT-Seca), referring to the
history of floods that occurred in order to draw up an inventory of years of flooding and the
details of each occurrence in the city, taking the studies of Cardoso Jr. (2011) as basis, Santos
Junior and Montadon (2011) for planning discussions; and Tucci (2005), Almeida (2012),
Amaral and Gutjahr (2015), for discussions on disaster, risk, danger and floods. Subsequently,
data collection was carried out with the municipality's Civil Defense, which addressed reports
on the last flood that occurred so that, with the results obtained, thematic maps could be
generated, using geoprocessing techniques, for the purpose to spatialize the risk in the urban
area, using, for this, the methodology applied by Julião et al., (2009). Through the results
obtained, it is clear that the tool that helps urban management is out of date. There is a
permanent history of flooding in the same neighborhoods as well as the occurrence of
flooding after asphalt paving on some streets in the city, which has no structural elements to
drain rainwater. Studies in urban areas are still scarce, but, with regard to the city of Assú,
throughout all flood events, it can be seen that the population remains unsolved, especially
those who have already been affected by the floods; this study, this way, is a possible
contribution as an aid tool for the elaboration of public and private social and environmental
policies, such as urban planning, aiming mainly to assist those who are in areas of very high
risk.
Keywords: Disaster. Precipitation. City. Expansion. Management.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa de localização da área de estudo. ................................................................................. 21
Figura 2: Mapa de drenagem da área urbana de Assú-RN. ................................................................... 23
Figura 3: Critérios para considerar Desastre. ........................................................................................ 34
Figura 4: Dados do perfil dos municípios brasileiros............................................................................ 35
Figura 5: Ilustração dos eventos de inundação. ..................................................................................... 36
Figura 6: Principais conceitos utilizados na análise de risco conforme a IUGS. .................................. 40
Figura 7: (A) e (B) - Visualização documental do acervo de risco de inundação do município de Assú
no NUT-Seca. ........................................................................................................................................ 45
Figura 8: (A) e (B) - Visualização do levantamento de campo no ambiente urbano de Assú - RN. ..... 46
Figura 9: (A) e (B) - Visualização da setorização de risco a inundação na área urbana de Assú- RN.. 47
Figura 10: Zonas de localização de risco a inundação. ......................................................................... 48
Figura 11: Articulação dos conceitos fundamentais. ............................................................................. 48
Figura 12: Configuração urbana de Assú em 1852. .............................................................................. 58
Figura 13: Inundações ocorridas no Centro de 1947 a 1974. ................................................................ 60
Figura 14: Construção da Barragem em 1981. ...................................................................................... 61
Figura 15: (A), (B), (C) e (D) - Últimas inundações registradas. .......................................................... 62
Figura 16: Mapa dos bairros que sofreram com inundações com base nos dados históricos. ............... 63
Figura 17: (A) e (B) - Alagamento no bairro São João. ........................................................................ 65
Figura 18: (A) e (B) - Infraestrutura de águas pluviais obstruída. ........................................................ 65
Figura 19: (A) e (B) - Alagamento no Centro. ...................................................................................... 66
Figura 20: Alagamento entre Novo Horizonte e Feliz Assú em 2016. ................................................ 67
Figura 21: Desabamento de duas residências, 2018. ............................................................................. 67
Figura 22: Residência próxima ao córrego do Dom Elizeu. ................................................................. 69
Figura 23: Mapa das áreas de alagamentos da malha urbana de Assú-RN. .......................................... 69
Figura 24: Mapa demonstrando a sobreposição entre as áreas de inundações e as áreas de alagamentos
na malha urbana de Assú-RN. ............................................................................................................... 70
Figura 25: Mapa demonstrando a sobreposição das áreas de alagamento e inundação sobre a
hipsometria da malha urbana de Assú-RN. ........................................................................................... 72
Figura 26: Mapa de uso e ocupação do solo da área urbana de Assú-RN. ............................................ 73
Figura 27: Mapa de elementos expostos estratégicos vitais ou sensíveis. ............................................ 75
Figura 28: (A), (B), (C) e (D) - Elementos expostos estratégicos vitais ou sensíveis. .......................... 76
Figura 29: Mapa de risco de inundação da área urbana de Assú........................................................... 79
Figura 30: Conglomerados Subnormais Bairro Dom Elizeu. ................................................................ 81
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Informações do Município sobre os Planos Diretores Municipais. ....................... 30
Quadro 2 - Definição de conceitos sobre a temática desastres. ................................................ 32
Quadro 3 - Consequências mais comuns em eventos de veiculação hídrica. ........................... 38
Quadro 4 - Esboço Organização da Aplicação de Procedimentos Técnico-Operacionais. ...... 43
Quadro 5 - Órgãos consultados e materiais coletados. ............................................................. 45
Quadro 6 - Nível hierárquico do sistema de classificação e seus atributos. ............................. 50
Quadro 7 - Classificação da setorização de risco a inundação na área urbana de Assú- RN. .. 51
Quadro 8 - Observações encontradas no Plano Diretor Municipal com a realidade analisada.53
Quadro 9 - Levantamento histórico das inundações ocorridas entre os períodos de 1875- 2009.
.................................................................................................................................................. 59
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Evolução populacional de Assú-RN........................................................................ 22
Tabela 2 - População total e por gênero de Assú. .................................................................... 22
Tabela 3 - Renda per capita dos municípios da Microrregião do Vale do Açu. ....................... 24
Tabela 4 - Características urbanísticas do município de Assú- RN. ........................................ 24
Tabela 5 - Anos com precipitações pluviométricas acima da média na estação de Florânia. .. 64
Tabela 6 - Famílias atendidas pelo aluguel social. ................................................................... 68
Tabela 7 - Classes de mapeamento do uso e ocupação do solo na área urbana de Assú-RN. .. 74
Tabela 8 - Classes de mapeamento de risco de inundação na área urbana de Assú-RN. ......... 77
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ALOS - Advanced Land Observing Satellite.
CMMA - Conselho Municipal de Meio Ambiente.
CO - Código de Obras.
CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais.
DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes.
EC - Estatuto da Cidade.
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
FEMA - Fundo Especial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
GPS - Sistema de Posicionamento Global.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
IDEMA - Instituto de Defesa do Meio Ambiente.
M - Metro.
PALSAR - Phased Array type L-band Synthetic Aperture Radar.
PD - Plano Diretor.
PME - Plano Municipal Emergencial.
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
PMSB - Plano Municipal de Saneamento Básico.
QGIS - Quantum Geographic Information System
SIG - Sistema de Informação Geográfica.
SIRGAS - Sistema de Referência Geocêntrico para a América do Sul.
SNPU - Secretaria Nacional de Programas Urbanos.
SMPUMA - Sistema Municipal de Planejamento Urbano e Meio Ambiente.
UTM - Universal Transversa de Mercator.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16
2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................................. 21
3 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 25
3.1 Planejamento Urbano ............................................................................................................. 25
3.2 Plano Diretor .......................................................................................................................... 28
3.3 Desastres naturais ................................................................................................................... 31
3.4 Enchentes, inundações, alagamentos e enxurradas ................................................................ 36
3.5 Risco e Susceptibilidade ao Perigo em Áreas Urbanas .......................................................... 39
3.6 Drenagem urbana ................................................................................................................... 41
4 METODOLOGIA............................................................................................................... 43
4.1 Roteiro teórico-metodológico ................................................................................................ 44
4.2 Levantamento bibliográfico e documental ............................................................................. 44
4.3 Seleção de coleta de dados, documental e cartográfica .......................................................... 45
4.4 Etapa de levantamento de campo ........................................................................................... 46
4.5 Aplicação da susceptibilidade natural .................................................................................... 47
4.6 Identificação de elementos expostos ...................................................................................... 49
4.7 Mapeamento de uso e ocupação do solo ................................................................................ 49
4.8 Mapeamento de risco a inundação ......................................................................................... 50
4.9 Mapeamento de setorização de risco a inundação.................................................................. 51
4.10 Avaliação de mapeamento de risco a inundação .................................................................... 52
5 RESULTADOS .................................................................................................................... 53
5.1 Análises do Plano Diretor Municipal de Assú ....................................................................... 53
5.2 Processo de ocupação e ocorrências de inundações e alagamentos em Assú ........................ 58
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 82
APÊNDICES ........................................................................................................................... 91
ANEXOS ................................................................................................................................. 94
16
1 INTRODUÇÃO
Segundo Tucci (2007), o desenvolvimento urbano aumentou na segunda metade do
século XX com a quantidade de pessoas em espaço reduzido, provocando uma grande
competição por recursos naturais, como solo e água, e destruindo parte da biodiversidade
natural. Com isso, Silva (2016) afirma que a urbanização no Brasil é um processo
relativamente recente e que ocorreu sem controle e sem um planejamento urbano que servisse
de orientação para as políticas públicas. Prova disso é que, na medida em que crescem as
populações, há também um aumento desenfreado das edificações, uma vez que, conforme a
necessidade, a população se fixa em uma localidade, relacionada com o perfil econômico de
cada grupo. As consequências dessa ocupação sem um mínimo de ordenamento urbano são a
impermeabilização do solo, a qual ocorre sem levar em consideração o escoamento pluvial e
sua infiltração, as modificações da topografia natural do terreno e da retificação de rios.
Com isso, ainda segundo Galvão (2008), as cidades expandem-se, surgem bairros e
loteamentos habitacionais, os quais provocam mudanças nos cursos d’água e deficiências na
drenagem, surgindo obstáculos para o percurso da água dos rios. A falta de uma política de
resíduos sólidos no país agrava ainda mais essa situação. Fatores como esses acabam
interferindo, direta ou indiretamente, na ocorrência de inundações, fenômeno que não
representava risco anteriormente. Esses problemas não ocorrem de maneira homogênea nas
áreas urbanas, devido a atingirem, especificamente, aquelas áreas que não possuem um
esgotamento sanitário adequado, nem sistema de drenagem e pavimentação.
Geralmente são aqueles espaços urbanos próximos a córregos, locais de concentração
de águas pluviais, próximos a lixões e que apresentam, principalmente, uma estrutura precária
das residências, fruto das condições sociais da população que ali reside. Em outras palavras,
não são espaços “apropriados” para a ocupação, pois, além das limitações físicas, existe a
ausência de serviços públicos, tornando-os frágeis para a habitação e apresentando uma
infraestrutura municipal (pavimentação, saneamento básico, canalização de água e
esgotamento sanitário) inadequada ou, muitas vezes, até inexistente.
No entanto, tais áreas não são ocupadas pelo desejo da população, em geral, de baixa
renda, mas devido ao baixo valor de mercado que esses terrenos têm, sendo um espaço que
naturalmente é de inundação ou que, em virtude da ausência de planejamento, não possui um
sistema de drenagem, o que resulta em alagamentos. Essas áreas de inundação e alagamentos
17
precisam ser reconhecidas (mapeadas) nos planos municipais, sendo o Plano Diretor (PD) o
principal deles, para que essas áreas não sejam ocupadas.
Segundo Pereira (2017), a confecção de um PD tem de estar integrada ao
Planejamento e Gerenciamento do risco, considerando a bacia hidrográfica pelas quais a
urbanização se desenvolveu; o manejo das águas pluviais, de modo a projetar soluções de
drenagem urbana; a preservação de áreas que, em períodos de cheias, contenham o volume
d´agua para que não venha a causar danos materiais à população.
Em síntese, para obter êxito nas questões urbanísticas e de ordenamento das cidades, o
município deverá legislar baseado em várias ferramentas relacionadas à estruturação do
espaço urbano. Dentre elas, está a Lei máxima: a Constituição Federal – CF de 1988, marco
para que as demais leis fossem constituídas, como o Estatuto da Cidade - EC (Lei n. 10.257,
de 10.06.2001) e as legislações municipais, tais quais a Lei Orgânica - LO e o Plano Diretor –
PD; além das correlatas que são criadas dentro de cada município: o Código de Obras – CO; o
Sistema Municipal de Planejamento Urbano e Meio Ambiente – SMPUMA; o Conselho
Municipal de Meio Ambiente – CMMA; o Fundo Especial do Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável – FEMA; e os demais planos, como o Plano Municipal de
Contingência de Inundações - PMCI e o Plano de Saneamento Básico Municipal - PSBM.
No entanto, segundo Agra (2016), cada Município tem as suas respectivas funções de
ordenamento do espaço urbano, através de zoneamento, uso e ocupação do solo, dentre outras.
Com isso, esses instrumentos devem conter previsões normativas variadas, desde as
relacionadas às condições de acesso dos cidadãos aos direitos básicos de moradia, como a
proteção ao meio ambiente e patrimônio natural, até aquelas que tratam dos aspectos sociais,
históricos, culturais, econômicos e políticos.
Nesse contexto, o reconhecimento prévio e o mapeamento dessas áreas susceptíveis
são importantes ferramentas para que os órgãos públicos responsáveis, juntamente com a
população, consigam se preparar para o pré-evento, o acontecimento do evento e o pós-
evento, baseando-se nas áreas de inundação para limitar construções em áreas de risco. Nessa
perspectiva, esses problemas existentes não são resultado direto do aumento da população
urbana. Trata-se da ausência de políticas públicas que articulem um planejamento
urbano/ambiental com a gestão de risco de inundação. No entanto, segundo Reis (2015), os
estudos têm mostrado que o produto final de toda a análise espacial feita, ou seja, o mapa de
risco, consiste em um material com informações que contém a localização, forma, situação e
tamanho das áreas de inundação e alagamentos, isto é, as vias que alagam, as inundações
18
delimitadas pela cota, os alagamentos pelos pontos para cada situação prevista. São esses
mapas que permitem, de forma individualizada, avaliar a situação da área. Eles são a base
para medidas estruturais e estruturantes da cidade.
O que se observa nas cidades em que ocorrem esses eventos é o déficit de
investimentos em medidas estruturais e estruturantes1. No decorrer da pesquisa, apresentaram-
se 23 vias com problemas de alagamentos e, dentre elas, três passaram por reformulações de
expansão de suas galerias. Entretanto, faz-se necessário ampliar o número de medidas
estruturais nas demais vias, em virtude delas auxiliarem no planejamento dos municípios de
modo a integrar o planejamento urbano ao ambiental, que é um dos princípios para uma
cidade sustentável e resiliente.
Sob tal perspectiva dos eventos, segundo Farias (2019), as inundações urbanas não se
restringem somente às grandes metrópoles, sendo também observadas em cidades de médio e,
até mesmo, pequeno porte, como é o caso de Assú. Na maioria dos casos, as chuvas com alta
intensidade e curta duração produzem problemas ainda mais graves, associadas às
características do relevo e da rede de drenagem, bem como ao uso e à ocupação do solo
urbano, em razão dos aglomerados urbanos com maior taxa de impermeabilização do solo e
alta densidade populacional.
O município de Assú2 localiza-se na Mesorregião do Oeste Potiguar, do Estado do Rio
Grande do Norte/RN. Segundo estimativa feita pelo IBGE (2019), a cidade possui 58.017
habitantes, ocupando a 8º posição em termos populacionais no Rio Grande do Norte, cujo
processo de ocupação urbana, não diferentemente das demais cidades brasileiras, ocorreu a
partir de um rio e de forma desordenada, sem um planejamento pré-estabelecido,
principalmente no tocante ao escoamento das águas pluviais.
Um levantamento feito pela CPRM (2013) aponta que Assú encontra-se em uma área
susceptível a inundações em virtude da predominância de dois fatores: a forma de relevo e a
proximidade ao leito maior do rio que possui um histórico de emergência na cidade. Dentre os
15 bairros que compõem a cidade, cinco estão classificados como de Alto risco. Esse
fenômeno geralmente ocorre entre os meses de março e junho, período de maior incidência de
1 Medidas estruturantes: são aquelas que fornecem suporte político e gerencial para a sustentabilidade da
prestação dos serviços. Encontram-se tanto na esfera do aperfeiçoamento da gestão quanto na da melhoria
rotineira da infraestrutura física. (adaptado de PLANSAB, 2010). Medidas estruturais: segundo Tucci (2007),
correspondem as obras de engenharia que modificam os rios e que são implementadas para reduzir o risco de
enchentes. 2 A título de esclarecimento, neste trabalho, usar-se-á a grafia Assú e não Açu. Tal fato se baseia na Lei
Municipal nº 124, de 16 de outubro de 1845, que passou a denominar a grafia “Assú” como forma correta para se
referir ao respectivo município.
19
chuvas na bacia hidrográfica do Rio Piranhas-Açu. Petrone (1961) verificou o registro de
inundações nos anos de 1875, 1924 e em 1960. Medeiros (2018) verificou ocorrências nos
anos de 1964 a 2009.
Em virtude dessa realidade, os instrumentos que se apoiam no planejamento e
gerenciamento das cidades, o PD, encontram-se desatualizados e o fato da cidade não possuir
um Planejamento de Gerenciamento desse risco é um elemento grave para o desenvolvimento
urbano da cidade. A ausência de um planejamento e a ocupação irregular desencadeiam
problemas no escoamento das águas pluviais, principalmente no tocante à drenagem das áreas
urbanizadas. Assim, como é realidade da maioria das cidades do Brasil, o cenário atual do
sistema de drenagem da cidade de Assú é deficitário em quantidade e qualidade.
Nessa cidade, o Centro é um dos bairros constantemente atingidos por inundações e
que possui elementos importantes para o funcionamento de Assú (escolas, rede bancária,
comercio e hotéis), devido à ocupação mais próxima ao leito do rio e, por ficar localizado em
área de declividade plana, é o ponto de concentração de todo o escoamento superficial,
advindo das áreas mais elevadas da cidade, contendo o maior número de vias que alagam.
Contudo, destacam-se também os bairros São João, Bela Vista, Casa Forte e Farol com a
mesma problemática.
Com isso, além das inundações, segundo Fernandes-Neto (2019), a cidade, mesmo
com precipitações baixas, vem sofrendo constantemente com problemas de alagamento, de
modo que, segundo o autor, esses transtornos são observados durante e após as chuvas,
principalmente nas áreas centrais da cidade que possuem um histórico de inundações, sendo
locais próximos às estruturas de drenagem, devido ao provável subdimensionamento destes.
Seguindo essa perspectiva, o presente trabalho procurou responder aos seguintes
questionamentos: A apropriação e ocupação do solo na área urbana de Assú contribuem para
o aumento do risco, em especial para as populações mais vulneráveis ambientalmente? Esses
riscos estariam condicionando a criação de espaços mais vulneráveis em detrimento ao maior
ou ao menor poder socioeconômico da população nesses espaços?
Diante disso, este trabalho teve como objetivo geral avaliar os riscos de inundação a
partir da susceptibilidade aos perigos na área urbana do município de Assú, relacionando com
as formas de ocupação do solo e as alterações ambientais. Na investigação desse espaço
geográfico se desdobram, como objetivos específicos: elaboração da carta de uso e ocupação
da área urbana do município; feitura da carta de susceptibilidade espacial dos perigos do
município; confecção da carta de elementos expostos do município, levando assim a uma
20
avaliação mais realista das áreas expostas ao risco, com a finalidade de aplicação de medidas
de redução e mitigação.
Para alcançar os objetivos propostos nesta dissertação, estabeleceu-se um roteiro que
visa discutir a relação entre o planejamento urbano e as problemáticas relacionadas às
inundações, associando-as com o uso e ocupação do solo e elementos expostos estratégicos
vitais e sensíveis, mediante a avalição do planejamento urbano e o gerenciamento de risco de
inundação. A metodologia de pesquisa adotada neste estudo procedeu-se em três etapas, assim
descritas: pré-campo, consiste-se no trabalho de gabinete, na pesquisa bibliográfica e
documental em órgãos públicos que tratam da temática, como a prefeitura e suas secretarias
(Obra, Meio Ambiente, Defesa Civil e Assistência Social), também a obtenção de materiais
geocartográficos do município; trabalho de campo, reconhecimento e identificação do
ambiente urbano, levantamento dos elementos expostos estratégicos, vitais e sensíveis à
inundação através da ficha de campo, e, por fim, a análise e correlação dos dados obtidos; a
elaboração e análise dos mapas de alagamento, inundação, uso e ocupação do solo, elementos
expostos estratégicos vitais e sensíveis, e risco.
Este trabalho é constituído em seis partes, explicadas a seguir. Na primeira parte
busca-se trazer uma introdução acompanhada da problemática, justificativa, objetivos e
metodologia do trabalho. Na segunda parte apresenta-se a caracterização da área de estudo: os
aspectos sociais, econômicos e os aspectos ambientais que desafiam os planejadores da
cidade, levando à necessidade da emergência e à consolidação do planejamento urbano,
resultantes da expansão da cidade. Na terceira parte aprofunda-se o conceito de planejamento
urbano, risco, inundação. Na quarta parte é descrito o passo a passo dos procedimentos
propostos para alcançar o resultado deste estudo. Na quinta parte apresentam-se os resultados
alcançados na cidade de Assú - RN, com um diagnóstico da ferramenta para o planejamento
urbano, que é o PD, assim como uma verificação do que o rege e os resultados encontrados:
contexto histórico de inundações e suas consequências; os problemas decorrentes dos
alagamentos, apontando medidas que precisam ser feitas para suprir as deficiências; análises
da susceptibilidade espacial dos perigos e dos elementos expostos do Município; e a
espacialização dos riscos na área urbana da cidade. Na sexta e última parte são apresentadas
as considerações finais da dissertação e apontamentos para a continuidade do estudo proposto.
21
2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A cidade de Assú (Figura 1) encontra-se localizada na Microrregião do Vale do Açu e
na Mesorregião Oeste Potiguar do estado do Rio Grande do Norte, inserindo-se no Polo Costa
Branca e estando a 207 km da capital do estado. Conforme o último censo do IBGE (2010), a
população total é de 53.227 habitantes, estando 39.359 deles na zona urbana. Para o ano de
2019, o Instituto estima, através da taxa de crescimento populacional, que a cidade possua
58.017 habitantes. A área territorial municipal é de 1.320.751 Km², correspondendo a área
urbana a uma superfície de 20.923 Km².
Com uma economia crescente, que acarreta o crescimento populacional do centro
urbano, favorecendo a demanda por novas áreas para edificações, a cidade expande-se sem
nenhum planejamento para receber aquele contingente.
Figura 1: Mapa de localização da área de estudo.
Fonte: Elaborado por Frutuoso e Barbosa, 2020.
O processo de desenvolvimento populacional de Assú nas últimas cinco décadas
demonstra o crescimento constante ao longo desse período. Para um demonstrativo do
contingente populacional, elaborou-se a Tabela 1, para o período de 1970 a 2010.
22
Tabela 1: Evolução populacional de Assú-RN.
Município Urbanização
1970 1980 1991 2000 2010
Assú 13.205 20.505 29.500 34.645 39.359
Fonte: IBGE (2010).
Conforme se pode observar na tabela 1, há um aumento populacional ao longo dos
anos de 1970 a 2010. Segundo Silva Filho (2019), importantes atividades no setor terciário,
como serviços nas áreas da saúde e educação, além do comércio diversificado, tornam a
localidade um polo de atração para as pessoas que buscam emprego e renda. Com isso, ocorre
um aumento na população residente. Tais informações por gênero resultam nos seguintes
dados (Tabela 2).
Tabela 2: População total e por gênero de Assú.
População População
(1991)
% do
Total
(1991)
População
(2000)
% do
Total
(2000)
População
(2010)
% do
Total
(2010)
População
total 43.591 100,00 47.904 100,00 53.227 100,00
População
residente
masculina
21.304 48,87 23.579 49,22 26.141 49,11
População
residente
feminina
22.287 51,13 24.325 50,78 27.086 50,89
Fonte: PNUD/ IPEA, (2013).
Esse aumento populacional aponta um maior número do gênero feminino, significando
que as mulheres estão também no mercado de trabalho. No entanto esse acréscimo gera um
contingenciamento não esperado/planejado, o que faz com que a população busque moradias,
inclusive, em áreas de risco.
Clima
O clima predominante é seco com período chuvoso entre os meses de fevereiro a
maio, com precipitação anual menor que 750 mm. Não obstante, já foram registradas
precipitações de 1.525,8 mm (IDEMA, 2008). Ainda segundo o IDEMA (2008), em Assú,
predomina o clima tropical equatorial semiárido, apresentando altas temperaturas, com média
de 28,1ºC, máxima de 33,0ºC e mínima de 21,0ºC.
23
Recursos hídricos superficiais
A área urbana de Assú está estabelecida em um terreno caracterizado pela transição
entre áreas um pouco mais elevadas para áreas predominantemente planas, apresentando,
assim, uma série de drenagens intermitentes e cruzando com o canal do Rio Piranhas-Açu
(Figura 2). A cidade contabiliza oito córregos, os quais cortam, pelo menos, um pequeno
espaço dos 15 bairros da cidade. Um dos córregos percorre uma faixa que abrange os bairros,
segundo o CPRM (2013), considerada área de alto risco de inundação. Todos esses córregos
vão de encontro ao Rio Piranhas-Açu.
Figura 2: Mapa de drenagem da área urbana de Assú-RN.
Fonte: Elaborado por Frutuoso e Barbosa, 2020.
Economia
As atividades econômicas que se desenvolvem em Assú têm como suas principais
fontes de renda a exploração petrolífera, a fruticultura e a pesca, destacando-se na economia
potiguar como uma das cidades mais importantes do estado (PMA, 2018). Segundo o PNUD
(2013), a renda per capita da cidade cresceu nos últimos anos e os dados de 2010 apontam
uma renda de R$ 432,38, ocupando o 2º lugar no ranking se comparado a outras cidades que
compõem a Microrregião do Vale do Açu (Tabela 3).
24
Tabela 3: Renda per capita dos municípios da Microrregião do Vale do Açu.
Municípios 1991 2000 2010
Assú 195,46 279,08 432,38
Alto do Rodrigues 132,02 292,59 447,67
Carnaubais 143,78 258,54 300,27
Ipanguaçu 96,40 167,82 273,80
Itajá 103,82 173,9 306,00
Jucurutu 134,37 210,83 301,94
Pendências 144,94 203,39 412,01
Porto do Mangue 127,87 133,95 257,49
São Rafael 110,31 212,51 309,77
Fonte: PNUD/IPEA (2013)
É importante destacar que, segundo Silva e Aquino (2016), ao considerar os valores da
renda per capita no período de 1991 a 2010, o aumento está diretamente relacionado aos
royalties do petróleo que é explorado no município.
Habitação e o Sistema de Saneamento Básico
De acordo com o PMSB (2019), a cidade possui um sistema de esgoto sanitário ainda
em fase de implantação, o que resulta no lançamento das águas servidas nas vias públicas em
canais de drenagem e a utilização de fossas e/ou sumidouros nas residências. Segundo dados
do IBGE (2010), a taxa de esgotamento sanitário corresponde a 13,3 %, uma taxa muito baixa
comparada aos demais municípios do estado. Assú ocupa o 104º lugar no ranking de
saneamento básico e na faixa da Microrregião do Vale do Açu, o 7º lugar. Em relação à
habitação, observa-se (Tabela 4) que uma pequena parcela dos domicílios possui adequação
de moradia (em torno de 5%), isso se deve, principalmente, à falta de esgotamento sanitário
adequado no município.
Tabela 4: Características urbanísticas do município de Assú- RN.
ÁREA
DOMICÍLIOS
PARTICULARES
PERMANENTES
DOMICÍLIOS
COM
MORADIA
ADEQUADA /
%
RELATIVO
AO TOTAL
DOMICÍLIOS
COM REDE
GERAL DE
DISTRIBUIÇÃO
DE ÁGUA / %
RELATIVO AO
TOTAL
DOMICÍLIOS
COM LIXO
COLETADO
DIRETAMENTE
POR SERVIÇO
DE LIMPEZA / %
RELATIVO AO
TOTAL
DOMICÍLIOS
COM
ESGOTAMENTO
SANITÁRIO
POR REDE
GERAL OU
FOSSA SÉPTICA
/ % RELATIVO
AO TOTAL
Urbana 11.050 480 4,34% 10.461 94,67% 10.543 95,41% 1.460 13,21%
Fonte: IBGE, 2010.
25
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Planejamento Urbano
Neste capítulo aborda-se o planejamento urbano, pois não há como trabalhar algo de
caráter público, como áreas de risco de inundação na perspectiva do PD e do Plano Municipal
Emergencial-PME e de Prevenção, sem discutir planejamento e políticas públicas, uma vez
que não se tem como pensar o município sem Planejamento, por entender que é necessário,
como enfatiza Oliveira (2006, p.275), “fazer uma política e com bons ‘planejadores’ com
mentes privilegiadas e ‘visão de futuro’ para se anteceder ao que vem no futuro e fazer planos
corretos que levem aos resultados calculados".
Mas, antes de atentar-se a essas questões, deve-se rever como se desenvolveu a
política de planejamento no Brasil. Faz-se, portanto, um breve resgate histórico da atuação do
Estado brasileiro, especificando-se todo o contexto de planejamento: o que é planejamento e
quais os tipos. Também se fez o recorte de qual tipo de planejamento se trabalhou na área
estudada, para que, assim, se desenvolvam os trâmites dentro dele.
Segundo Cardoso Jr (2011), o planejamento no Brasil aconteceu de forma tardia, à luz
de uma política capitalista que se encontrava denominado e constituído pelos países ditos
centrais. Com isso, faz-se com que o Estado corra contra o tempo perdido, visando o
desenvolvimento nacional. Um exemplo bem nítido que ele cita é sobre a função do
planejamento:
A função do planejamento passa a ser uma entre tantas outras funções da
administração e da gestão estatal, algo como cuidar da folha de pagamento dos
funcionários ou informatizar as repartições públicas. (CARDOSO JR, 2011 p.9).
Adquirir esse cuidado em gerir o que realmente necessita ser feito, como o orçamento
que possui, para que, assim, possam-se executar tarefas com segurança, qualidade de vida e
sustentabilidade. Por fim, o autor integraliza que não basta ao Estado fazer as coisas que já
são de sua competência, cabe muito além: fomentar, induzir, reequilibrar e ressignificar as
dimensões tanto do planejamento quanto da gestão.
Ainda segundo Cardoso Jr (2011), existe uma vasta bibliografia sobre a trajetória e
experiência do planejamento governamental brasileiro, mas quase nada sobre o processo
burocrático destinado à gestão pública.
26
Para Matus (1996), governar não é somente seguir de improvisos, subitamente, de
qualquer forma. Trata-se de um problema complexo ao qual se faz necessário o planejamento
para que todos os diversos âmbitos, principalmente o orçamentário, não se descontrolem.
Existem métodos para governar e um deles é a arte de planejar. Com isso, o autor ainda
afirma que a carência desses métodos e a prevalência do planejamento tradicional, aquele que
é baseado no aleatório, extingue informações que darão respostas às deficiências dos
dirigentes.
Nessa perspectiva, Matus (1996) afirma que a necessidade de prever as possibilidades
do que irá surgir é tratar de ações que podem ser empreendidas antecipadamente. É
importante destacar que o futuro é incerto e não sabemos o que acontecerá e nem como,
contudo temos de esperar o fato acontecer para planejar ou fazer um planejamento tradicional.
Segundo Cardoso Jr (2011), planejamento é uma atividade altamente intensiva em
gestão, ou seja, meio pelo qual se utiliza algum instrumento/ferramenta (lei) que prescreva
normas a serem seguidas. Dentre os diversos tipos de planejamento, o autor destaca quatro,
sendo eles: Planos setoriais e de metas, Planos Nacionais de Desenvolvimento, Planos de
Estabilização Monetária e Planos Plurianuais. Dentro desses planos, as características variam:
burocrático, discricionário, autoritário, impositivo, vertical, horizontal, amplo/abrangente,
focalizado/conjuntural e de curto, médio e longo prazo.
Baseando-se no planejamento, uma discussão que não pode deixar de ser pautada é
sobre a organização das cidades, política responsável por direcionar os planos e que foi
destacada anteriormente. Dessa forma, o Ministério das Cidades regula as áreas urbanas e
quais programas permeiam, ou seja, outras formas de nortear a reorganização urbanística,
apresentando o Estatuto da Cidade - EC, entre outros meios regulatórios dentro do município,
como é o caso do Plano Diretor - PD.
Com a criação do Ministério das Cidades, foram estruturadas políticas que visam
regular toda a dinâmica das áreas urbanas. Assim, foram criados programas que auxiliam no
enfrentamento dessas vulnerabilidades sociais e urbanas, os quais permeiam todas as ações
promovidas pelo Ministério das Cidades ocasionando um fortalecimento na gestão dos
municípios. Diante disso, surge o Estatuto da Cidade - EC, advindo do forte movimento pela
reforma urbana que em seu parágrafo geral descreve o seguinte texto:
Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas
de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em
prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do
equilíbrio ambiental (BRASIL, 2001).
27
O EC, portanto, abarca um conjunto de princípios no qual estão expressas uma
concepção de cidade, de planejamento, de gestão urbana e uma série de instrumentos que,
como a própria denominação define, são meios para atingir as finalidades desejadas. O EC
funciona como uma espécie de “caixa de ferramentas” para uma política urbana local. É a
partir dele que se define a “cidade que queremos” no PD de cada um dos municípios, com
suas características e fragilidades a serem estabelecidas com o planejamento, o que
determinará a mobilização (ou não) dos instrumentos e sua forma de aplicação (BRASIL,
2001).
A ocupação urbana e também o seu uso são regulados por esta Lei a qual oferece a
relação entre integridade física, segurança e bem estar à população, contudo o que se tem
encontrado é divergência quanto ao seu uso, ocupação e ordenamento territorial. Para isso, os
municípios precisam retroceder a este avanço desordenado e adequar-se conforme os autos
legislativos urbanos. Como afirmam Santos Junior e Montadon (2011, p.28), não foram
apenas as questões de gestão do solo, de habitação, entre outras, mas também a integração das
questões de saneamento ambiental, mobilidade urbana, bem como questões ambientais que
denotam que tudo o que está inserido no contexto urbano é de caráter político e de
planejamento urbano.
Salientando um dos pontos que se relaciona integralmente com a infraestrutura, saúde
e qualidade de vida, que é o saneamento, Santos Junior e Montadon (2011, p.39) fazem o
seguinte destaque:
A análise do tratamento dado ao tema do saneamento ambiental revela que os Planos
Diretores municipais aprovados pelos municípios são extremamente frágeis na
construção de diretrizes, objetivos, instrumentos e programas que visem a ampliação
do acesso da população aos serviços de saneamento – o que é grave, tendo em vista
que o acesso à terra urbanizada e bem localizada requer os mesmos programas,
instrumentos, objetivos e diretrizes. (SANTOS JUNIOR e MONTADON, 2011,
p.39).
Com isso, os autores verificam que, desde o surgimento do PD, um problema que vem
se arrastando ao longo dos anos apresenta constante agravo para a saúde e qualidade da vida
urbana.
Como o planejamento urbano é um tema transversal que reflete em todas as políticas
do Ministério das Cidades e tendo o PD como um instrumento articulador de políticas
setoriais, o inciso 1º do artigo 182, da Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, da Constituição
Federal trata disso. Para ilustrar essa afirmação, transcreve-se do respectivo texto normativo:
§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de
28
vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão
urbana (BRASIL, 1988).
Desta forma, o EC vem trazer novos caminhos para o desenvolvimento urbano,
promovendo uma gestão democrática para a cidade e afirmando em seu parágrafo único o
estabelecimento de normas que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem
coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.
Mas, conforme ressalta Santos Junior e Montadon (2011), não são todos os Planos
Diretores que dialogam com os preceitos do EC, principalmente no que se refere aos
instrumentos de gestão do solo urbano. Um exemplo disso é a existência de alguns lixões, a
inexistência de saneamento nas cidades, o lançamento de águas servidas em superfície sem o
devido tratamento, contrastando, pois, com o prescrito na alínea g do EC nos capítulos XII,
XIII e XVIII que trata, respectivamente, da preservação, conservação, recuperação do meio
ambiente bem como de empreendimentos e edificações que tragam feitos negativos a essas
áreas. Contudo, além do cuidado, há uma responsabilidade ambiental e outros PD apenas
transcrevem o que consta no EC.
O Ministério das Cidades, verificando as dificuldades enfrentadas pelos municípios,
uma vez que não havia uma preparação para tais adequações, passou a incentivá-los, embora a
competência seja dos próprios municípios. Com isso, vê-se uma necessidade de apoio,
recorrendo-se a um incentivo por parte do Governo Federal.
A Secretaria Nacional de Programas Urbanos - SNPU tem buscado, desde sua criação,
mobilizar os municípios para que consigam efetivar uma política urbana em relação ao
Estatuto da Cidade. Com isso, a SNPU criou o Programa de Fortalecimento da Gestão
Urbana, a fim de fortalecer a capacidade técnica dos municípios no que concerne ao
planejamento. Por fim, diante de tantas menções sobre Plano Diretor, no capítulo seguinte
iremos especificar o que é, de fato, o PD e quais objetivos ele propõe ao município.
3.2 Plano Diretor
Com a consolidação da Constituição de 1988, um movimento foi instaurado para que
se incluísse no texto uma ferramenta que auxiliasse nas discussões urbanas. Como resultado
dessa luta, foram incluídos dois capítulos específicos para a política urbana, que preveem uma
série de instrumentos para a garantia, no âmbito de cada município, do direito à cidade, da
defesa, da função social da cidade e propriedade e da democratização da gestão urbana
(artigos 182 e 183). Essa ferramenta é o Estatuto das Cidades (EC), que surgiu da necessidade
29
de uma política urbana e, além desses anseios urbanos, promoveu um grande avanço no
planejamento urbano do Brasil. Logo em seguida, o art. 41 do EC torna obrigatório o PD para
o município que apresentar as seguintes características:
I – com mais de vinte mil habitantes; II – integrantes de regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas; III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os
instrumentos previstos no 4º do art. 182 da Constituição Federal; IV – integrantes de
áreas de especial interesse turístico; V – inseridas na área de influência de
empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito
regional ou nacional (BRASIL, 2001b).
A informação supracitada é reforçada por Santos Junior e Montandon (2011, p.14):
[...] o Plano Diretor como instrumento básico da política de desenvolvimento e
expansão urbana, estende sua obrigatoriedade, antes definida apenas quanto ao porte
populacional, para as cidades integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações
urbanas, as integrantes de áreas de especial interesse turístico, as inseridas em áreas
de influência de significativo impacto ambiental ou ainda aquelas nas quais o poder
público pretenda utilizar os instrumentos definidos no § 4º do Art. 182 da
Constituição Federal, que trata do devido aproveitamento do solo urbano (SANTOS
JUNIOR; MONTANDON, 2011, p.14).
A obrigatoriedade do PD não se resume ao quantitativo populacional de uma cidade,
vai muito além disso, pois compõe uma série de fatores já citados, devido a cada município
possuir características peculiares, desde o clima, relevo, ao desenvolvimento de sua ocupação.
Antes de discutir sobre esta ferramenta de gestão dos municípios, primeiramente se
conceituará o que é PD, qual o seu objetivo. Assim, conforme Mattos e Antoniazzi (2017, p
73), “O plano diretor determina como será utilizado o patrimônio físico e financeiro do
município de modo que atenda melhor às necessidades da população, de maneira sustentável
sem que ocorra degradação ambiental”.
Ele é como uma bússola que orientará como utilizar dos aspectos físicos e econômicos
do município, de forma que atenda de maneira sustentável, oferecendo qualidade de vida à
população. Planejamento sustentável, bem-estar e qualidade de vida são pontos bastante
frisados durante todo o trabalho dos autores para o planejamento das cidades. E como etapas
essenciais para o funcionamento de um PD, os autores fazem uso das etapas citadas por
Bateira et al., (2006), que trazem uma listagem com dez etapas fundamentais de um PD as
quais destacamos duas delas, que são: identificar os problemas e potencialidades a partir das
leituras técnicas e comunitária da cidade; e a revisão de um prazo máximo de dez anos.
30
Como bem destaca Santos Junior e Montandon (2011, p.14):
O objetivo principal do Plano Diretor, de definir a função social da cidade e da
propriedade urbana, de forma a garantir o acesso à terra urbanizada e regularizada a
todos os segmentos sociais, de garantir o direito à moradia e aos serviços urbanos a
todos os cidadãos, bem como de implementar uma gestão democrática e
participativa, pode ser atingido a partir da utilização dos instrumentos definidos no
Estatuto da Cidade, que dependem, por sua vez, de processos inovadores de gestão
nos municípios (SANTOS JUNIOR e MONTANDON, 2011, p.14).
No quesito quantidade, o PD tem evoluído quantitativamente desde 2005, de acordo
com os resultados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC), com base nos
dados do IBGE (2015). Todos os municípios acima de 100 mil habitantes possuem PD,
conforme se observa no quadro1.
Quadro 1: Informações do Munic sobre os Planos Diretores Municipais.
358 municípios com até 5 mil habitantes possuem PD
10,8% dos municípios com mais de 20.000 habitantes não elaboraram o PD
O resultado da Munic 2015 aferiu que 50,0% dos municípios brasileiros tinham Plano
Diretor, percentual igual ao apurado em 2013 e bem superior ao encontrado em 2005
(14,5%).
Já no que tange à qualidade, 526 Leis de PD demonstraram incorporar os conceitos e
ferramentas do EC.
Em alguns casos de PD, ocorreu cópia do que está no EC sem as mínimas reformulações
para o município.
De modo geral, no que concerne à regulamentação dos instrumentos para sua aplicação
prática, os Planos ainda apresentam debilidades e deficiências de natureza técnica.
Fonte: IBGE (2015).
Em Assú, ficou instituído o Plano Diretor do Município através da Lei complementar
Nº 015, de 28 de dezembro de 2006, definido como principal instrumento normativo e
regulador territorial municipal. Composto de 6 (seis) capítulos, seus objetivos gerais são:
I- Compatibilizar o uso e a ocupação do solo com a proteção ao meio ambiente natural
e construído, reduzindo a especulação imobiliária e orientando a distribuição de infraestrutura
básica e de equipamentos urbanos;
II- Definir critérios de controle do impacto urbanístico dos empreendimentos públicos
e privados;
III- Promover o turismo, respeitando e priorizando o meio ambiente, e observar as
peculiaridades locais, bem como o cuidado especial com a população.
Percebe-se nesses objetivos a definição de diretrizes gerais em consonância com as
diretrizes federais, que no art. 04 do PD observa os seguintes princípios: I - Função social da
31
cidade, II - Sustentabilidade, III - Gestão democrática, o que condiz com o EC, que, em suas
diretrizes, afirma que a cidade tem que conter uma função social de forma democrática e
sustentável. São preocupações louváveis e que apresentam resultados desejáveis para o
município. Contudo, em escala municipal e operacional, devem-se determinar os caminhos e
critérios para implantar tais objetivos e avaliar o seu alcance. O PD em seu art. 08 afirma que
a propriedade urbana assume sua função social quando atende as exigências contidas no PD,
que são: aproveitamento e uso do solo, habitação em área de interesse social, proteção e
preservação do patrimônio. Com isso, em seu art. 20 cria-se o fundo municipal em que toda
renda proveniente de multa ambiental e financiamento será revertida em estrutura e
manutenção do bairro e saneamento básico.
No entanto, em relação às políticas ambientais, o PD no art. 29, para garantir a
proteção ao meio ambiente, estabelece cinco diretrizes: o controle da cobertura vegetal, o
controle das atividades poluidoras, a racionalização dos recursos naturais, a preservação e a
proteção dos ecossistemas bem como de seus recursos hídricos. Nesse contexto, quanto às
medidas relativas à drenagem pluvial, o art. 37 prescreve que toda a drenagem urbana deve
possuir um sistema natural ou canalizado que escoe essas águas, de modo que ofereça
conforto e segurança aos ocupantes dessas edificações. Ressalta-se, ainda, a prioridade das
áreas em que ocorrem alagamentos e risco de inundações, embora se necessite de uma
discussão mais ampla e com caráter integrador do planejamento urbano e com a temática
ambiental, para evitar ou diminuir desastres da própria urbanização, bem como avaliar a
efetividade dos instrumentos de risco na prática das políticas urbanas.
3.3 Desastres naturais
Os fenômenos atmosféricos sempre despertaram o interesse e a curiosidade do homem
desde as civilizações antigas as quais consideravam tais fenômenos obra da força divina. A
história do ajustamento do homem às condições do meio e da transformação deste por suas
atividades tem sido uma relação de conflito e harmonia (BRANDÃO, 2012). Os argumentos
de vingança divina ou castigo da natureza, segundo Nunes (2015), foram, por muito tempo,
usados como justificativas para a ausência de medidas preventivas. A autora ainda
complementa que as transformações das áreas naturais em espaço, chamado por ela de
produtivo, uniformizou as pessoas e as nações que possuem diversas coisas em comum e
estão igualmente expostas aos desastres naturais.
32
É neste momento histórico que os grandes desastres começam a aparecer. O homem,
outrora nômade, passa a se fixar e construir suas habitações em terras produtivas e
abundantes de víveres. Na identificação desses locais também era levado em
consideração à possibilidade de transporte, comunicação e comércio com outros
sítios antropogênicos. Assim, as primeiras cidades foram consolidadas, geralmente,
sobre as planícies dos grandes rios, no litoral e nas encostas vulcânicas
(MARCELINO, 2008, p.5).
Nesse contexto, as primeiras ocupações ocorrem nas proximidades dos leitos dos rios,
para que pudessem extrair os recursos necessários à sua subsistência. Com isso, enfatiza o
geógrafo Monteiro et al., (2007), afirma-se a importância do planejamento nas cidades, com o
objetivo de que a população não seja conduzida a edificar nas proximidades dos rios, pois,
além da população estar susceptível ao risco, altera-se, em alguma medida, a dinâmica da
área, uma vez que se devasta a vegetação existente para edificar suas casas e lançam-se águas
servidas no leito do rio. Assim, [...] “não seriam calamitosos em nossas cidades se a
população não fosse induzida a ocupar as áreas de risco que deveriam ser preservadas”
(BRANDÃO, 2012, p. 58).
Com isso, Amaral e Gutjahr (2015) apresentam a seguinte conceitualização para
desastre: “A ocorrência de um fenômeno natural que modifica a superfície terrestre e atinge
áreas ou regiões habitadas, causando danos materiais e humanos” (AMARAL e GUTJAHR,
2015, p. 20). As autoras complementam que a ocupação e intervenção humana nessas áreas
potencializam a ocorrência de desastres, bem como o tipo de ocupação, a inexistência de
proteção da infraestrutura, os fatores sociais, econômicos, políticos e educacionais, definindo
a vulnerabilidade das comunidades de modo que a combinação de todos esses fatores
representa o risco.
Antes de prosseguir às discussões sobre desastre, faz-se necessário conceituar alguns
termos de forma sumária em razão de sua recorrência. Dessa forma, no quadro 2 são
apresentados os termos e seus respectivos conceitos:
Quadro 2: Definição de conceitos sobre a temática desastres.
Termo Definição
Risco (Risk)
Uma medida da probabilidade e severidade de um efeito
adverso para a saúde, propriedade ou ambiente. Risco é
geralmente estimado pelo produto entre a probabilidade e as
consequências. Entretanto, a interpretação mais genérica de
risco envolve a comparação da probabilidade e consequências
não utilizando o produto matemático entre estes dois termos
para expressar os níveis de risco.
33
Perigo (Hazard)
Uma condição com potencial de causar uma consequência
desagradável. Alternadamente, o perigo é a probabilidade de
um fenômeno particular ocorrer num dado período de tempo.
Elementos sob risco
(elements at risk)
Refere-se à população, às edificações e às obras de
engenharia, às atividades econômicas, aos serviços públicos e
à infraestrutura na área potencialmente afetada pelos processos
considerados.
Vulnerabilidade
(vulnerability)
O grau de perda para um dado elemento ou grupo de
elementos dentro de uma área afetada pelo processo
considerado. Ela é expressa em uma escala de 0 (sem perda) a
1 (perda total). Para propriedades, a perda será o valor da
edificação; para pessoas, ela será a probabilidade de que uma
vida seja perdida, em um determinado grupo humano que
pode ser afetado pelo processo considerado.
Análise de risco
(risk analysis)
O uso da informação disponível para estimar o risco para
indivíduos ou populações, propriedades ou o ambiente. A
análise de risco, geralmente, contém as seguintes etapas:
definição do escopo, identificação do perigo e determinação
do risco.
Fonte: Adaptado de Augusto Filho (2001), baseado na International Union of Geological
Sciences - IUGS Working Group - Committee on Risk Assessment (1997).
Para se considerar desastre, segundo Amaral e Gutjahr (2015), é necessário que o
perigo siga alguns critérios, conforme se observa na figura 3:
34
Figura 3: Critérios para considerar Desastre.
Fonte: Adaptado de Amaral e Gutjahr (2015).
Conforme afirma Almeida (2012), um clima de severa incerteza e insegurança, as
sucessivas crises e mudanças ambientais têm suscitado a onipresença do medo e da incerteza
do futuro. Tal condição traz a noção de que estamos cada vez mais vulneráveis ao risco,
inclusive aos relacionados à natureza.
Esse tipo de informação conduz os pesquisadores Londe et al., (2014), Almeida e
Pascoalino (2009), Marcelino (2008) a concluir que, no Brasil, há muitos desastres naturais,
sendo a inundação a primeira colocada no ranking, devido às perdas econômicas, sociais e
ambientais ocasionadas por esse evento as quais são potencializadas pela ação antrópica
indevida, muitas vezes, pela forma do uso e ocupação do solo em uma determinada região,
gerando, assim, uma situação de perigo que contribuirá para o aumento do risco de uma
população que já se encontra, muitas vezes, vulnerável, seja do ponto de vista social, seja do
ponto de vista ambiental.
Os fatores acima descritos, na perspectiva da Ciência Geográfica, visam mitigar essas
perdas, oferecendo subsídios para um bom planejamento municipal emergencial, pois,
segundo o IBGE (2017), dos 5.570 municípios brasileiros, mais da metade (59,4%) não
contava com instrumentos de planejamento e gerenciamento de riscos em 2017. Desses,
35
apenas 25% possuem um Plano Diretor - PD que busca contemplar em seu município
obras/medidas estruturantes e estruturais para buscar a prevenção de enchentes e enxurradas e
desses apenas 23% declararam ter Lei de Uso e Ocupação do Solo prevendo essas situações.
De acordo com o divulgado em julho de 2018 pelo IBGE (2017) (Figura 4), a
proporção de municípios afetados pelos desastres naturais é mais alta nas áreas urbanas,
devido à construção de moradias, rodovias e outras obras que interferem na dinâmica natural
dos rios. Também com obras de drenagem que não levam em consideração aspectos naturais
da região no que tange à drenagem da água das chuvas e aos processos erosivos. Contudo,
segundo os dados do IBGE (2017), 93% dos municípios com mais de 500 mil habitantes
foram atingidos por alagamentos e 62% por deslizamentos.
Figura 4: Dados do perfil dos municípios brasileiros.
Fonte: IBGE, 2017.
Uma situação de desastre envolve cenários de risco diferentes e interligados. É
necessário abordar a gestão de riscos de maneira integrada para lidar com esta complexidade,
contemplando atividades nas etapas de prevenção, mitigação, preparação, resposta e
recuperação. Prevenção e mitigação devem ser destacadas como as atividades de minimização
dos riscos e de promoção da resiliência em sistemas vulneráveis, reduzindo perdas humanas e
36
materiais (LONDE et al., 2014). Nesta perspectiva, busca-se discutir no próximo item a
variabilidade dentro deste viés.
3.4 Enchentes, inundações, alagamentos e enxurradas
Para um melhor entendimento conceitual sobre os termos utilizados frequentemente
após um evento de precipitação e que podem desencadear tanto eventos naturais como
problemas sociais, faz-se necessário conceituar cada uma dessas terminologias. Essas
terminologias (inundação, enchente, alagamento e enxurrada), muitas vezes utilizadas como
sinônimas, até mesmo por falta de conhecimento, apresentam características, causas e
problemas de ordens diferentes.
De maneira didática, elencamos a ilustração (Figura 5) para esquematizar como
acontece cada evento acima citado e, logo em seguida, estabelecemos o conceito de cada
evento. O único que não apresentará ilustração será a enxurrada, devido ao seu alto teor de
energia de transporte de sedimentos, o que necessitaria de recurso em vídeo para melhor
ilustrar.
Figura 5: Ilustração dos eventos de inundação.
Fonte: Clip-art Microsoft Word (2007). Organizado pela
autora, 2020.
37
Enchentes
Para Amaral e Gutjahr (2015), as enchentes são definidas pela elevação do nível da
água do rio, devido ao aumento da vazão de modo que atinja seu limite sem extravasar. É o
que afirma Moura (2014):
As ocupações desordenadas às margens dos rios configuram, nos períodos de
enchentes, um cenário de calamidade pública, marcado por ocorrências de
desabamentos de moradias. Isso ocasiona um aumento do número de desabrigados,
acúmulo de lixo e entulhos, além do aumento de casos de doenças de veiculação
hídrica, enfim, fatores agravantes para a sociedade de um modo geral (MOURA,
2014, p. 2).
Inundações
Segundo Costa (2012), as inundações são eventos que ocorrem constantemente em
diversas partes do planeta, as quais fazem parte da dinâmica natural da Terra e acontecem
frequentemente deflagrados por chuvas rápidas e excessivas ou intensas de longa duração.
A inundação ocorre quando as águas dos rios, riachos, galerias pluviais saem do seu
leito menor de escoamento e escoa através do leito maior que foi ocupado pela
população para moradia, transporte (ruas, rodovias e passeios) recreação, comércio,
indústria, entre outros. Isto ocorre quando a precipitação é intensa e o solo não tem
capacidade de infiltrar, parte do volume escoa para o sistema de drenagem,
superando a capacidade do leito menor. (TUCCI, 2007, p.125)
No entanto, nas últimas décadas, a humanidade, diante da problemática ocasionada
pela ocupação desordenada e, frequentemente, irregular do solo, vem sofrendo cada vez mais
com os efeitos desse fenômeno que, apesar de fazer parte da dinâmica natural da Terra, resulta
em transtornos e, muitas vezes, em perdas, devido à falta de ordenamento territorial nas
cidades.
Para Amaral e Gutjahr (2015), inundação representa o transbordamento das águas
atingindo a planície de inundação. Nesse contexto, para Sausen e Lacruz (2015), as
inundações se tratam de um evento natural e recorrente para um rio, tendo como fatores
contribuintes os seguintes aspectos: a intensidade e duração das precipitações, os
desmatamentos, as práticas inadequadas de uso do solo, a sedimentação de leitos e a
obstrução de canais de rios.
Segundo Brochi (2005), as inundações são fenômenos que ocorrem quando o volume
de água do rio transborda do seu canal natural, em virtude do excesso de chuvas ou por
obstrução.
38
Consequentemente, esse fenômeno é intensificado pelas intervenções antrópicas, que
se acentuam mais em zonas urbanas, uma vez que ocorrem os seguintes fatores: redução do
escoamento dos canais, devido ao aterramento/assoreamento de cursos d’água; ineficácia dos
sistemas de controle do uso e ocupação do solo; inexistência de legislação adequada para as
áreas suscetíveis; e ausência de apoio técnico para as populações que ocupam terrenos
marginais aos cursos d’água, em geral, habitados por populações de baixa renda.
Alagamento
O alagamento é o acúmulo momentâneo de águas em determinados locais, por
deficiência no sistema de drenagem urbana, como bueiros entupidos ou cursos d´água com
acúmulo de lixo e entulho (AMARAL e GUTJAHR, 2015, p.40).
Enxurrada
É o escoamento superficial concentrado e com alta energia de transporte, que pode ou
não estar associado a cursos d´água. Nas áreas urbanas pode ocorrer em avenidas com
córregos canalizados, pois são, em sua origem, áreas de várzea que continuam recebendo água
do entorno pela sua posição “mais baixa” no relevo. (AMARAL e GUTJAHR, 2015, p.40).
Várias são as consequências após um evento de precipitação podendo gerar sérios
problemas sociais. Faz-se necessário, portanto, explicitar as consequências mais comuns no
quadro 3 para os itens elencados.
Quadro 3: Consequências mais comuns em eventos de veiculação hídrica.
Evento Consequências
Enchentes Segundo Souza e Gonçalves (2018), todo o
processo de veiculação hídrica (enchentes,
inundações, alagamentos e enxurradas) promove
a destruição da infraestrutura das cidades,
perdas agrícolas, propagação de doenças
(leptospirose, cisticercose, cólera, disenteria,
febre tifoide, filariose, giardíase, leishmaniose,
peste bubônica, salmonelose, toxoplasmose,
tracoma, triquinose) além de gerar desabrigados,
feridos e mortos. Essas inundações podem ser
desencadeadas em áreas ribeirinhas, em
consequência do mau planejamento urbano,
além de inundações localizadas.
Inundações
Alagamentos
Enxurradas
Fonte: Souza e Gonçalves (2018) adaptado pela autora (2020).
39
3.5 Risco e Susceptibilidade ao Perigo em Áreas Urbanas
Inicialmente se faz necessário explicitar o grau de risco de um determinado fenômeno,
uma vez que, segundo Almeida (2012), não existe risco zero com a presença humana. O que
irá variar apenas são o tempo e o espaço, além da capacidade de resposta de determinada
população a esse fenômeno. O autor supracitado ainda reforça que, desde o momento que é
concebida a vida humana, estamos expostos ao risco, desde as mais simples às mais
complexas atividades. “As noções de risco, de ameaça e de vulnerabilidade vêm sendo
utilizadas em diversos campos disciplinares, o que dificulta o consenso quanto às ideias que
possam representar”. (SOUZA e ZANELLA, 2009, p.11).
Para Tucci (2007), em ambientes urbanos, o risco torna-se alto dentre uma série de
fatores relacionados com a oferta dos recursos naturais, bem como a ocupação de áreas de
risco. Para Marandola Jr e Hogan (2005), o risco é a probabilidade de atenção para o perigo.
Ainda nessa perspectiva, perigo, para os autores, seria um determinado evento provocar
danos, estando tanto relacionado ao risco como à vulnerabilidade. Portanto, será conceituado
e discutido cada termo.
Para Castro et al., (2005), o risco relaciona-se com a probabilidade de ocorrência de
um evento não constante e não determinado e que venha a atingir, de forma direta ou indireta,
a vida humana. “Para que exista o risco, é necessária a existência de um grupo social com
certo grau de vulnerabilidade. Sendo assim, o risco como categoria de análise é uma
construção humana” (OLIVEIRA e ROBAINA, 2015, p.367).
Desde que vulnerabilidade, risco e perigo se tornaram termos fundamentais para
compreender e discutir as transformações na sociedade contemporânea, tem havido
uma busca tanto por uma melhor compreensão teórica acerca dos processos e
significados que conformam situações de risco, quanto por métodos de medida e
avaliação dos recursos que permitem diminuir ou aumentar a vulnerabilidade de
diferentes grupos (MARANDOLA Jr e HOGAN, 2009, p.162).
Nessa linha de raciocínio, segundo Costa (2009), populações socialmente vulneráveis
possuem limitações para se proteger de perigos ambientais.
Assim, a vulnerabilidade social encontra-se diretamente relacionada com grupos
vulneráveis, ou seja, populações que por determinadas contingências, são menos
propensas a uma resposta positiva quando da ocorrência de algum evento adverso.
Nesses termos, a noção de risco torna-se fundamental para o desenvolvimento da
vulnerabilidade (ZANELLA et al., 2009, p. 193-194).
40
Destacamos que, segundo Souza e Zanella (2009), as noções de risco e de
vulnerabilidade vêm sendo discutidas em diversas áreas, o que dificulta um denominador
comum quanto aos conceitos.
Partindo desse pressuposto, apresenta-se no esquema (Figura 6) uma proposta de
classificação dos riscos, modificada de Augusto Filho (2001). Dentre seus diversos tipos,
foram explicitados os tipos de riscos que irão ser discutidos neste trabalho.
Figura 6: Principais conceitos utilizados na análise de risco conforme a IUGS.
Fonte: Modificado de Augusto Filho (2001), baseado em International Union of Geological
Sciences - IUGS Working Group - Committee on Risk Assessment (1997).
Dentre os tipos de riscos esquematizados acima, irão ser trabalhados os riscos naturais
de natureza física, na perspectiva hidrológica, e que se encontram em destaque azul: as
inundações.
O risco, objeto social, define-se como a percepção do perigo, da catástrofe possível.
Ele existe apenas em relação a um indivíduo e a um grupo social ou profissional, uma
comunidade, uma sociedade que o apreende por meio de representações mentais e com ele
convive por meio de práticas específicas. “O risco é uma construção social. A percepção que
os atores têm de algo que representa um perigo para eles próprios, para os outros e seus bens,
contribui para construir o risco que não depende unicamente de fatos ou processos objetivos”.
(VEYRET, 2007, p. 23). “Risco (risk) é utilizado pelos geógrafos como uma situação, que
está no futuro e que traz a incerteza e a segurança” (MARANDOLA JR e HOGAN, 2004, p.
100).
41
Em termos conceituais, o conhecimento das ameaças está intimamente relacionado
com a avaliação da susceptibilidade, ou seja, as condições presentes em um território que
favorecem a ocorrência de fenômenos com potencial para gerar danos a um sistema, como
deslizamentos e inundações [...]. O sensoriamento remoto contribui para obtenção de
informações sobre as ocorrências anteriores de processos que resultaram em desastres
(inventários espacializados das ocorrências), com aplicação em análises estatísticas de
susceptibilidade e risco (GREGORIO et al, 2015) bem como uma análise de risco, conforme
enfatizam os autores Monteiro et al., (2007, p. 213): “Em uma análise de risco, é possível
elaborar medidas preventivas, planificar as situações de emergência, estabelecer ações
conjuntas entre a comunidade e o poder público, com o intuito de promover a defesa
permanente contra os desastres naturais”.
3.6 Drenagem urbana
A drenagem na fonte é definida pelo escoamento que ocorre no lote, condomínio ou
empreendimento individualizado (como lote), estacionamentos, área comercial, parques e
passeios (DEP/IPH, 2005, p. 15). A inexistência ou até mesmo a insuficiência de um sistema
de drenagem de águas pluviais traz sérios transtornos para o ambiente e para a população.
Segundo Tucci (2007), o escoamento pluvial contribui para a ocorrência dos alagamentos,
tanto pelas inundações naturais, decorrentes da vazão do rio para o seu leito maior, quanto
pelos alagamentos decorrentes da expansão urbana, devido à impermeabilização do solo.
Alagamentos, danos materiais, destruição da pavimentação são problemas ocasionados
pela ausência ou limitação desse sistema. Por tais razões, a expansão urbana, segundo Bezerra
et al., (2016), traz a necessidade de investimentos em infraestrutura na drenagem dessas águas
pluviais para a prevenção dos alagamentos, em virtude de, segundo Brochi (2005), a
drenagem contribuir para a retirada do excesso de água superficial ou subterrânea. Podemos
exemplificar sistemas estruturantes que auxiliam na drenagem dessas águas, tais como: Boca
de lobo, Sarjeta, Galeria e Bueiro.
Através desses conceitos aplicados na área urbana, trata-se a Boca de lobo como uma
caixa padronizada para captação de águas pluviais por abertura na guia, chamada guia-
chapéu. (JOINVILLE, 2011. p.5). De acordo com a norma técnica do DNIT 018/2004, define-
se sarjeta como um dispositivo de drenagem urbana longitudinal, construído lateralmente as
pistas de rolamento e plataformas de escalonamento, destinadas a interceptar os deflúvios,
que, escoando pelo talude, podem comprometer a estabilidade dos taludes, a integridade dos
42
pavimentos e a segurança do tráfego, e geralmente têm, por razões de segurança, a forma
triangular ou retangular.
Portanto, conforme a aplicação da norma técnica DNIT 030/2004 a-ES, classificam-se
como galerias os dispositivos destinados à condução dos deflúvios, que se desenvolvem na
plataforma rodoviária para os coletores de drenagem, através de canalizações subterrâneas
integrando o sistema de drenagem da rodovia ao sistema urbano, de modo a permitir a livre
circulação de veículos e os bueiros são dispositivos destinados a conduzir para locais de
deságue seguro as águas captadas pelas caixas coletoras (BRASIL, 2006, p. 184). Sendo
assim, observaremos como está configurado o PD e o modo como se encontra a realidade da
área de estudo, mediante situação avaliada, podendo auxiliar, através deste estudo, medidas de
planejamento urbano que forneçam subsídios à gestão dessas águas a ser vista no próximo
capítulo.
43
4 METODOLOGIA
Neste capítulo de aplicação de metodologia científica, buscou-se enriquecer o
arcabouço teórico, conceitual e metodológico, utilizando-se os procedimentos técnico-
metodológicos. Esses foram subdivididos em três etapas necessárias para a sua
finalização, destacando-se as seguintes: pré-campo – trabalhos de gabinete na etapa de
levantamento acerca do referencial bibliográfico e documental e organização de base
cartográfica da área de estudo; visitação de campo nos ambientes de risco a inundação –
aquisição, organização dos dados; e integração, análise e correlação dos dados
quantificados tabulados. As etapas são descritas e organizadas no Quadro 4.
Quadro 4: Esboço Organização da Aplicação de Procedimentos Técnico-Operacionais.
PROCEDIMENTOS TÉCNICO-OPERACIONAIS
AQUISIÇÃO E SELEÇÃO DE DADOS
TRABALHOS DE GABINETE:
• Pesquisa bibliográfica, documental e cartográfica;
• Obtenção de materiais geocartográficos (imagens de satélite e
fotografias aéreas);
• Produção cartográfica preliminar;
• Mapa de localização geográfica do ambiente urbano;
• Mapa preliminar de uso e ocupação do solo na área de estudo.
VISITAÇÃO DE CAMPO
TRABALHOS DE CAMPO
• Reconhecimento e identificação do ambiente urbano;
• Caracterização ambiental e social do ambiente urbano;
• Identificação e avaliação da organização e da estruturação urbana e os
equipamentos;
• Registros de imagens fotográficas do ambiente de estudo;
• Aplicação de ficha de elementos expostos estratégicos, vitais e sensíveis 3a
inundação;
• Setorização de áreas de risco a inundação.
ANÁLISE E CORRELAÇÃO DOS DADOS
• Elaboração e análise de mapas de risco a inundação;
• Uso e ocupação do solo do ambiente urbano;
• Confecção de tabelas, quadros e mapas;
• Elaboração da cartografia de alagamentos;
3 Ver ficha em anexos “A”.
44
• Elaboração da cartografia de risco a inundação do ambiente urbano.
• Elaboração da cartografia do uso e ocupação do solo;
• Elaboração da cartografia de elementos expostos estratégicos, vitais ou sensíveis;
• Mapa de riscos a inundações;
- Análise dos processos e interações entre condicionantes ambientais e as ações
antrópicas;
- Análise da ocupação do solo na área de estudo;
- Análise de campo e correções da cartografia do ambiente urbano;
- Finalização da dissertação de mestrado.
Fonte: Organizado pela autora (2020).
4.1 Roteiro teórico-metodológico
A metodologia aplicada baseia-se nos trabalhos realizados por Julião et al.,
(2009). Quanto às referências conceituais de risco, perigo, inundação, vulnerabilidade
social e ambiental, seguiram-se as reflexões e discussões empreendidas por Tucci (2007),
Veyret (2007); Souza e Zanella (2009) e Almeida (2012). Para a definição do risco
ambiental a inundação no ambiente urbano, apresentam-se os autores Almeida e
Pascolino (2009) e Julião et al., (2009), no intuito de identificar e compreender as feições
geomorfológicas do meio ambiente. Em relação à aplicação da identificação e avaliação
dos riscos ambientais e de inundações, usou-se como base as metodologias de Julião et
al., (2009), CPRM (2013), IPT (2015) e, principalmente, Tominaga (2009), no que
concerne à determinação, identificação e avaliação de critérios de classificação do grau
de riscos a inundação no ambiente urbano.
4.2 Levantamento bibliográfico e documental
A etapa metodológica do levantamento bibliográfico procurou trabalhos sobre os
assuntos relacionados ao desenvolvimento da pesquisa. Esse levantamento teve como
foco os trabalhos realizados sobre risco a inundação no ambiente e planejamento urbano,
utilizando-se de livros, teses, dissertações, artigos científicos e documentos como, por
exemplo, o relatório de risco a inundação e o PD.
45
4.3 Seleção de coleta de dados, documental e cartográfica
A elaboração da coleta de dados utilizou de fontes oficiais de órgãos públicos
ambientais na aquisição de documentos e geocartográficos no ambiente urbano. Os
órgãos e materiais coletados são descritos e organizados no Quadro 5.
Quadro 5: Órgãos consultados e materiais coletados.
Órgão Material coletado
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-
IBGE
Censo demográfico, dados socioeconômicos e
ambientais.
Instituto de Desenvolvimento Sustentável e
Meio Ambiente- IDEMA
Dados espaciais do Estado e perfil
socioeconômico do município.
Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio
Grande do Norte - EMPARN
Dados diários totais de precipitação do
ambiente urbano.
Prefeitura Municipal de Assú- PMA e suas
secretarias de Meio Ambiente, Obras, Defesa
Civil.
PD, fornecimento da delimitação do perímetro
urbano dos bairros com avenidas e os
arruamentos em formato vetorial (AutoCAD);
informações sobre o Plano Municipal de
Contingência de Desastre Ambiental.
Núcleo Temático da Seca e do Semiárido-
NUT-Seca
Acervo de materiais com notícias de jornais e
reportagens sobre inundações na região do
Vale do Açu- RN. (Figura 7 A e B)
Fonte: Organizado pela autora (2020).
E tendo também como apoio para a elaboração cartográfica dos mapas o Núcleo
de Estudos Socioambientais e Territoriais (NESAT), da Universidade Estadual do Rio
Grande do Norte (UERN).
Figura 7: (A) e (B) - Visualização documental do acervo de risco de inundação do município
de Assú no NUT-Seca.
Fonte: Acervo da autora, 2019.
A B
46
4.4 Etapa de levantamento de campo
A etapa de levantamento foi realizada com a visitação de campo (Figura 8 A e
B), auxiliada pelos instrumentos de apoio GPS e ficha de campo (Anexo A), com a
finalidade de coletar dados primários e verificar os dados do mapeamento das áreas, com
o objetivo de identificar, registrar e avaliar espaços de risco a inundação e os elementos
espaciais expostos no ambiente urbano. Isso corresponde, inicialmente, à identificação,
verificação e avaliação dos elementos conflitantes, explicitando a relação entre a
sociedade e a natureza nas análises das perturbações e ameaças constantes ao meio
ambiente urbano para a classificação do risco a inundação, ao evidenciar o uso e
ocupação do solo e as suas implicações socioespaciais no ambiente urbano, com registros
de imagens fotográficas da área em questão.
Figura 8: (A) e (B) - Visualização do levantamento de campo no ambiente urbano de Assú -
RN.
Fonte: Acervo da autora, 2019.
Efetuou-se a escolha da setorização de áreas de risco a inundação, delimitando
espacialmente os ambientes de coleta de ocupação vulnerável e os diferentes cenários no
ambiente urbano; identificação e avaliação da classificação dos elementos expostos
estratégicos, vitais e sensíveis no entendimento do planejamento urbano-territorial pelo
adensamento urbano, com a utilização de GPS na marcação dos pontos. Efetivou-se a
caracterização do uso e ocupação do solo, sendo aplicada a ficha de caracterização de
campo na identificação e avaliação da ocupação urbana no padrão construtivo das
residências. O mesmo ocorreu quanto aos elementos naturais, intervenções e
A B
47
infraestrutura urbana, condições de vias (pavimentação) e sistema de drenagem urbana
(Figura 9 A e B).
Figura 9: (A) e (B) - Visualização da setorização de risco a inundação na área urbana de
Assú- RN.
Fonte: Acervo da autora, 2019.
Os dados levantados na fase de campo foram anotados e, posteriormente,
organizados em forma de tabelas para a análise da problemática de adensamento urbano e
da relação com a política de ocupação urbana no Plano Diretor Municipal, na Política de
Parcelamento e Uso do Solo Urbano na setorização do risco a inundação. Tais ações
foram auxiliadas pelo grupo de pesquisa científica do Núcleo de Estudos Socioambientais
e Territoriais – NESAT, da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN).
4.5 Aplicação da susceptibilidade natural
A aplicação de susceptibilidade natural representa a incidência espacial e a
localização dos perigos ou ameaças a inundação no ambiente urbano (Figura 10). Nesse
sentido, identificar e classificar as áreas susceptíveis de serem afetadas por um
determinado risco a inundação (Figura 11) em tempo indeterminado. A avaliação da
susceptibilidade de uma área a determinado perigo ou ameaça efetua-se através dos
fatores de predisposição para a ocorrência dos processos ou ações perigosas, de forma
qualitativa.
A B
48
Figura 10: Zonas de localização de risco a inundação.
Fonte: Adaptação do Guia Metodológico para a Produção de
Cartografia Municipal de Risco e Sistemas de Informação Geográfica
(SIG), (2009).
Figura 11: Articulação dos conceitos fundamentais.
Fonte: Guia Metodológico para a Produção de Cartografia
Municipal de Risco e Sistemas de Informação Geográfica (SIG),
(2009).
Na susceptibilidade natural de risco no cenário tecnológico são representados os
seus elementos indutores. No caso particular das definições de cheias e inundações por
ruptura de barragens, para além da representação dos elementos indutores, o conceito de
susceptibilidade incorpora a delimitação da área atingida pelo fenômeno, cuja informação
é da responsabilidade do operador da barragem. Esses fatores podem ser identificados
conforme o mapeamento de uso e ocupação do solo do ambiente (FERREIRA; ROSSINI-
PENTEADO e GUEDES, 2013) e pelo IBGE (2015). Sendo assim, a partir da interação
49
entre a aplicação de conceitual de áreas susceptíveis ambientalmente com imagens e
fotografias da área de estudo, foi possível identificar as áreas de inundações, os elementos
expostos estratégicos, vitais e sensíveis, bem como o uso e ocupação do solo. Assim,
permitiu-se a identificação das áreas de perigo, que são os elementos expostos ao risco,
validando-se por trabalhos de campo e registros fotográficos.
4.6 Identificação de elementos expostos
A identificação de elementos expostos é uma agregação georreferenciada de três
aplicações de blocos de informação no ambiente urbano, destacando-se: 1 - Elementos
estratégicos, vitais ou sensíveis; 2 - Elementos indiferenciados e 3 - Elementos humanos.
Essas informações evidenciam os elementos construídos, as situações de ocupação
humana e os sistemas produtivos que são mais afetados pelos riscos identificados no
território municipal.
Neste aspecto, esses elementos expostos na área de estudo têm particular
relevância nesta análise, uma vez que se pode identificar e espacializar no município.
Dessa forma, adaptou-se a metodologia e se identificou os elementos estratégicos, vitais e
sensíveis que são fundamentais para a resposta à emergência, salientando-se os
equipamentos urbanos, tais como: hospital, escolas, autoridades civis e militares, e
sistemas de suporte básico às populações, a saber, o abastecimento de água, rede elétrica,
centrais e retransmissores de telecomunicações.
Portanto, com base nessa informação de campo, é possível ponderar,
nomeadamente, medidas dirigidas às condições de desempenho dos elementos expostos
estratégicos, vitais ou sensíveis em um modelo de organização espacial do território
municipal e na classificação e qualificação do uso e ocupação solo.
4.7 Mapeamento de uso e ocupação do solo
Ao alcançar o objetivo desse levantamento, será utilizado como base
metodológica uma adaptação do Sistema de Classificação de Unidades de Cobertura da
Terra e do Uso e Padrão da Ocupação Urbana, compreendido como um sistema de
classificação multinível e hierarquizado do uso das terras e revestimento do solo, que,
relacionados a um banco de dados, permite criar diferentes tipos de mapas (FERREIRA;
ROSSINI-PENTEADO e GUEDES, 2013), conforme pode ser observado no Quadro 6.
50
Quadro 6: Nível hierárquico do sistema de classificação e seus atributos.
NÍVEIS DE COMPARTIMENTAÇÃO (ATRIBUTOS FÍSICOS)
Nível II
TIPOLOGIA DE USO URBANO - (USO OCUPAÇÃO)
Residencial R253– G113–B113
Comercial R244– G036–B147
Serviços R152– G125–B183
Grande Equipamento R249– G233–B055
Loteamento R230– G164–B082
Área Desocupada/vazio urbano R178– G178–B178
Espaço Verde Urbano R021– G180–B009
Fonte: Adaptado de Ferreira, Rossini-Penteado e Guerra (2012) e IBGE (2016).
4.8 Mapeamento de risco a inundação
Para aplicação da metodologia de mapeamento de áreas de risco a inundação,
apropriamo-nos do estudo feito pela CPRM (2013), no qual se fez um levantamento
histórico acerca das ruas que foram afetadas pela inundação cruzando com as vias que
alagam e chegando-se ao mapa de risco.
Nesse sentido, as ações antrópicas e os elementos expostos são marcados na
superfície terrestre, com o cenário de eventos de risco a inundação induzidos por
intervenções ou ocupação vulnerável, de forma impactante e danosa à população na
margem do rio na setorização de risco. Dessa maneira, modifica-se a sua dinâmica da
superfície terrestre cujas ocorrências se encontram em áreas próximas do leito do rio na
planície fluvial. Sob tal prisma, o processo hidrológico com a ocorrência do evento
extremo possui uma dinâmica natural, proporcionada por diárias de precipitação de
chuvas, como também pelas ações antrópicas, em virtude da ocupação em áreas
vulneráveis de forma não planejada com assentamentos habitacionais, modificando a
susceptibilidade natural na superfície terrestre.
A concretização do mapeamento de risco a inundação é de fundamental
importância para a definição da setorização dos riscos, o zoneamento territorial urbano na
perspectiva e revisão do PD, no qual se apresentam informações de classificação de grau
de risco e critérios de uso e ocupação do solo, também uso e padrão construtivo. A
setorização desses espaços determina a existência de uma classificação da magnitude do
risco.
51
4.9 Mapeamento de setorização de risco a inundação
Para a elaboração da setorização, do mapeamento das áreas de risco de inundação
e da vulnerabilidade da ocupação urbana, aplicou-se o conceito de susceptibilidade
natural e ocupação do solo, tendo como finalidade identificar e avaliar os ambientes
susceptíveis a exposição de fenômenos naturais e antrópicos e apresentando como base a
aplicação da metodologia proposta por Julião et al., (2009), CPRM (2013), IPT (2015) e,
principalmente, Tominaga (2009), no que tange à determinação da classificação do grau
de risco, à inundação de magnitude e aos impactos ambientais na susceptibilidade natural
de eventos e de vulnerabilidade a ocupação urbana.
A aplicação da setorização de classificação e mapeamento de risco a inundação na
área em questão realiza-se com o entendimento do ambiente urbano, tendo como suporte
a observação empírica do ambiente em sua identificação e avaliação e de ações
antrópicas. Nesta mesma etapa da definição de níveis de classificação de grau de risco a
inundação, apresentam-se os critérios de análises de risco na área de estudo (MENEZES,
2014), descritos no Quadro 7.
Quadro 7: Classificação da setorização de risco a inundação na área urbana de Assú - RN.
GRAU DE
PROBABILIDADE
DE RISCO
DESCRIÇÃO
R1
Baixo
Drenagem ou compartimentação do ambiente sujeitos e/ou expostos
com um baixo potencial de impacto ou de causar danos,
principalmente de caráter social, frequência baixa (não se apresenta
registro de inundações ou alagamentos significativos nos últimos 5
anos). Enquadram-se os bairros de edificações estruturáveis, ruas
pavimentadas e com medidas estruturais de drenagem.
R2
Médio
Drenagem ou compartimentação do ambiente sujeitos e/ou expostos
com um médio potencial de impacto ou de causar danos,
principalmente de caráter social, frequência média (Registro de 1
ocorrência significativa de alagamento nos últimos 10 anos).
Enquadram-se os bairros que apresentam alguma edificação com
estrutura comprometida, com ruas pavimentadas e que possuem
algum sistema estrutural de drenagem.
R3
Alto
Drenagem ou compartimentação do ambiente sujeitos e/ou
expostos com um alto potencial de impacto ou de causar danos,
principalmente de caráter social, frequência média (Registro de 2
ocorrências significativas de inundação e/ou alagamento nos
últimos 10 anos), com alto nível de vulnerabilidade a ocupação
urbana. Enquadram-se os bairros que apresentam edificações com
estrutura comprometida (precisando de reforma), com ruas
pavimentadas e que não possuem um sistema de drenagem e/ou
saneamento.
52
R4
Muito Alto
Drenagem ou compartimentação do ambiente sujeitos e/ou expostos,
muito alto potencial de impacto ou de causar danos, principalmente
de caráter social, frequência alta de ocorrência (3 ou mais eventos
significativos de inundação e alagamento nos últimos 5 anos),
enquadram-se os bairros que apresentam edificações em áreas de
inundação afetadas por alagamentos e não possuem nenhum tipo de
sistema estrutural de drenagem.
Fonte: Adaptado de Menezes (2014).
4.10 Avaliação de mapeamento de risco a inundação
Para a avaliação de mapeamento de risco a inundação na área, foram constituídos
dois componentes de fundamental importância. Primeiro, a aplicação do componente
natural que é constituída pela susceptibilidade natural a inundação, atribuída a fenômenos
naturais, com diferente tempo de ocorrência no local. Segundo, o risco a inundação
associado às ações antrópicas, resultante da interação dos riscos relativos à ocupação
antrópica do solo, constituindo as variáveis das atividades humanas, de forma agravante
no ambiente urbano. Sendo assim, a avaliação dos riscos foi elaborada com a definição de
uso e ocupação do solo, a proporção dos elementos estratégicos, sensíveis ou vitais
expostos, a frequência de inundação e alagamentos.
53
5 RESULTADOS
Este capítulo discute os levantamentos e análises realizados pertinentes para a
área de estudo, assim como apresenta informações oriundas que sintetizaram as áreas de
risco de inundações na área urbana de Assú. Iniciando-se pela análise do PD,
posteriormente, faz-se um aparato histórico do processo de desenvolvimento da ocupação
da cidade. Em seguida, realiza-se um levantamento histórico das inundações ocorridas no
período de 1875 a 2009 através de um quadro e, na sequência, os estudos e mapeamentos
de uso e ocupação, perigo, risco de inundação, alagamentos e elementos expostos em que
são discutidas questões pertinentes aos elementos, dinâmicas e processos que
caracterizam e diferenciam essas áreas quanto à hierarquização de risco.
5.1 Análises do Plano Diretor Municipal de Assú
Este ponto descreve no quadro 8 a situação do PD Municipal de Assú, como se
encontra, quais potencialidades e fragilidades são encontradas no município, sugestões do
que é necessário manter e do que é necessário retirar e/ou reformular, despertando a
atenção dos gestores e apontando àquilo que precisa ser modificado mediante as
necessidades encontradas de forma a auxiliar na reformulação do plano.
Quadro 8: Observações sobre o Plano Diretor Municipal de Assú quanto à realidade analisada.
O que orienta a Lei 10.257 para o Plano
Diretor.
Análises feitas na realidade encontrada
No seu inciso 3º, a lei assegura a
obrigatoriedade da revisão do PD, pelo
menos, a cada dez anos.
Dentro das verificações feitas, o prazo de
criação foi um ponto de destaque pelo fato
de o PD do município de Assú se encontrar,
até o presente momento, com atraso de treze
anos. Embora se leve em consideração o
prazo de “tolerância” de dez anos que os
autores atribuem, permanece um saldo de
três anos de atraso.
Municípios incluídos em áreas susceptíveis
a inundações deverão conter o mapeamento
das áreas susceptíveis, planejamento de
ações de intervenção preventiva e realocação
de população de áreas de risco de desastre,
medidas necessárias de drenagem urbana,
prevenção e mitigação de impactos e
desastres, regularização para assentamentos
urbanos irregulares, preservação das áreas
Conforme análises feitas com a realidade
encontrada no município no que se refere às
áreas inundáveis, há um mapeamento feito
pela CPRM (2013) que demonstra as áreas
susceptíveis à inundação, juntamente com
um relatório, mas não existe um
planejamento de ação que trabalhe na
prevenção de maiores danos pessoais e
materiais na ocorrência de uma inundação.
54
verdes com vistas à impermeabilização das
cidades.
No tocante à rede de drenagem, a que se
possui é deficitária para o volume de água
recebido, o que resulta em alagamentos nas
chuvas de 40 mm em alguns pontos da
cidade causando transtornos e danos
materiais.
Fonte: Elaborado pela Autora, 2020.
Uma Lei complementar de nº 015, de 28 de dezembro de 2006, a qual atende ao
disposto no art. 182 do inciso 1º da Constituição Federal dispõe em seus objetivos gerais
que o Plano Diretor tem como objetivo geral: orientar, promover e direcionar o
desenvolvimento do município, preservando suas características naturais, segundo um
projeto sustentável, dando prioridade à função social da propriedade e atendendo ao
conjunto de normas e princípios inseridos na lei orgânica do município de Assú, às
determinações da Constituição Federal, bem como ao Estatuto da Cidade, Lei Federal
10.257, de 10 de Julho de 2001. (PREFEITURA MUNICIPAL DE ASSÚ, 2006).
Com base na ferramenta de gestão municipal, que é o PD de Assú, orientar-se-ão
quais medidas serão realizadas para uma política de planejamento para eventos naturais,
como ressalta Oliveira (2006), abordando a realidade de Assú. No Brasil, o evento
extremo mais recorrente é a inundação (LORDE et al., 2014; ALMEIDA e
PASCOALINO, 2009; MARCELINO, 2008), representando cerca de 60% dos eventos
ocorridos no século XX. Por essas e outras razões, há de se fazer presente nos lugares
urbanizados (cidades) uma organização/preparação para o que há de acontecer, tomando
como exemplo o que aconteceu. Não há como prever eventos naturais nem o grau de sua
magnitude, tampouco o dia em que irão ocorrer. Entretanto, com medidas protetivas
podemos evitar maiores danos.
Planejar baseado na dinâmica dos pós-eventos quais políticas de planejamento
configuram-se melhor é uma das ferramentas que auxiliam na organização das cidades,
no caso, o PD. É através dele que os gestores dos diversos âmbitos dentro do seu órgão
público norteiam o que pode ser feito e como. Com isso, vão surgindo novos códigos e
leis que, somados ao PD, subsidiarão uma melhor organização urbana.
A essa exemplificação destacamos as seguintes leis: Lei complementar de nº 23,
de 18 de janeiro de 2008, que dispõe sobre o Código de Obras do Município de Assú e dá
outras providências; a Lei orgânica Municipal; e, por fim, a lei de nº 656, de 08 de maio
de 2019 que apresenta disposições sobre a Política Municipal de Saneamento Básico do
55
município de Assú, que aprova o Plano Municipal de Saneamento Básico, criando o
Conselho Municipal de Saneamento e o Fundo Municipal de Saneamento.
Dispondo dessa gama de ferramentas legislativas as quais integram a
regularização para o planejamento do município, cabe aos gestores articular ações que as
relacionem. Para o caso de Assú, segundo a resolução 34 do Conselho Nacional das
Cidades, que considera áreas sujeitas a inundações apreciando o interesse local, a cidade
deverá ser uma área demarcada a fim de que se possa ocorrer um planejamento para
assegurar a vida humana nessas áreas.
Como podemos verificar na delimitação dos bairros no PD de Assú (Figura 1),
segundo a Secretaria de Obras do município, Assú está em processo de expansão urbana
com o surgimento de diversos conjuntos habitacionais, os quais não possuem uma
estrutura de bairro.
Antes de continuar nossas discussões, iremos compreender o que é um bairro e
seus elementos estruturantes. Para Pacheco (2001), o senso comum popularizou o
conceito de bairro como uma simples divisão física da cidade e que, de acordo com os
grupos, passaria a ser chamado daquilo que era conveniente. No dicionário Aurélio, a
palavra “bairro” possui a seguinte definição: “Cada uma das partes em que se usa dividir
uma cidade ou vila” (HOLANDA-FERREIRA, 2000). Para Halley (2014), bairros são os
espaços vividos e sentidos pelos seus moradores com variadas relações interpessoais,
normalmente exercitadas nos pontos de encontro mais significativos da população (igreja,
praça, escola etc.). Nesse contexto, esses pontos significativos a que o autor faz referência
são um dos elementos estruturantes para compor um bairro. Com isso, Pacheco (2001)
reitera a constituição de um bairro:
Considerando-se que o bairro se constitui como um lugar normalmente
residencial e segregado e, por extensão, voltado ao atendimento imediato das
necessidades urbanas das suas comunidades, é geograficamente representativo
da cidade, pois é a principal forma de reprodução do espaço urbano total, de
vez que o espaço urbano é segmentado e desigual, porém, articulado
(PACHECO, 2001, p.90).
Conforme afirma Oliveira e Biasotto (2011), é esperada, em função do processo
de urbanização, a alteração desses limites, a sua ampliação bem como a densidade
populacional, a estrutura, a dinâmica em cada bairro. Tudo isso são fatores que, ao longo
do tempo, transformarão esta partícula dentro da área urbana de forma cíclica em um
espaço tão expressivo de pertencimento valorativo e afetivo. O bairro é, como
compartimento, uma caixa que possui características, culturas, etnias diversificadas que,
56
em sua totalidade, na retirada dessas caixas, toda essa diversidade se mistura e forma o
que chamamos de cidade, ou melhor, área urbana. E para administrar cada “pedacinho”
desse, faz-se necessária uma política de planejamento discutida anteriormente.
Outro ponto frisado por Oliveira e Biasotto (2011) é a instalação de parques
lineares ao longo das faixas marginais de cursos d’água que, de maneira geral, aparecem
nos Planos Diretores como formas de evitar a ocupação irregular dessas áreas.
Trazendo para a realidade da nossa área de estudo, observou-se a ocupação
irregular às margens de córregos, em virtude de a área urbana de Assú ser cortada por
quatro córregos naturais. Com isso, no PD, faz-se referência aos córregos na seção III do
art. 78, inciso 2º do capítulo IX que discorre sobre uma prevenção de erosão e poluição, o
que não é verificado na realidade. Para recuperar tais áreas ocupadas irregularmente, os
autores orientam a recomendação acima feita.
A Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN)
registrou, no pluviômetro instalado na cidade de Assú, no dia 27de fevereiro de 2017,
uma chuva de 49 mm que ocasionou transtornos em alguns pontos da cidade. O
município possui um histórico dessas situações de inundações, alagamentos e enxurradas,
discutidas nos próximos capítulos, verificando-se a inexistência de um sistema de
drenagem, mas, ao analisarmos o PD, a subseção II no art.37 dispõe que:
Os serviços urbanos de drenagem de águas pluviais deverão ser implementados
por meio de sistema natural ou construído, permitindo o escoamento das águas
pluviais nas áreas onde ocorre este fenômeno, de modo a propiciar segurança e
conforto aos seus ocupantes e às edificações existentes. (PREFEITURA
MUNICIPAL DE ASSÚ, 2006, p.22).
Com isso, já nos é evidente uma problemática que se perpassa desde a criação do
PD. Uma área que se expandiu e continua a expandir e, junto dela, esse problema que
tende a se agravar, embora nos incisos do Plano Diretor seja tratado como prioritário.
Discute-se a questão da drenagem em outro capítulo. Neste faremos uma interpretação no
tocante ao que rege as Leis Municipais.
Outro ponto que requer destaque é o Saneamento Ambiental, correlacionado com
a drenagem urbana. Brito (2011) reafirma a importância dos PD´s para a política de
planejamento urbano e traz uma discussão sobre o acesso desse serviço à população,
reconhecendo a política de saneamento como de desenvolvimento urbano e enfatizando a
Lei 11.445 de 2007, a qual teve sua redação alterada recentemente para a lei de nº 13 308,
de 6 de julho de 2016. Inicialmente, a lei de nº 11.445 foi aprovada após a
57
obrigatoriedade dos municípios com mais de 20 mil habitantes possuírem PD. Esse
instrumento trouxe uma série de avanços para a ampliação do acesso aos serviços de
saneamento ambiental, como a obrigatoriedade de um PMSB (2019) que seja elaborado
pelo titular e compatibilidade dos planos de investimentos e projetos com o citado Plano,
sendo essas as condições para a validade dos contratos de concessão ou de programa.
Assú possui um PMSB criado recentemente que contou com a participação de toda a
comunidade local.
No PMSB (2019), capítulo II art. 2º, do cap.VI, definem-se as seguintes
contribuições no plano: prestação de serviço público de saneamento básico – atividade,
acompanhada ou não de execução de obra, com o objetivo de permitir aos usuários acesso
ao serviço público de saneamento básico com características e padrões de qualidade
determinados pela legislação, planejamento ou regulação (PREFEITURA MUNICIPAL
DE ASSÚ, 2019).
Em fase de ajustes finais, o PMSB de Assú auxiliará no planejamento da cidade
para que se possa obter uma melhor qualidade de vida e avanços urbanos, bem como nas
ações de saneamento ambiental. Mas, reiterando, Brito (2011) afirma que, para que esta
articulação de fato se concretize, é necessário um levantamento das infraestruturas
existentes no município para que, assim, possa-se construir um diagnóstico dos serviços,
avaliando em que medida os serviços e infraestruturas existentes atuam como limitadores
do desenvolvimento urbano e propondo programas e ações para enfrentar esse problema.
Por fim, Brito (2011) destaca a importância da discussão desse tema nos PD´s,
quando ela faz a seguinte citação:
Um tratamento adequado desses temas é essencial para que os Planos Diretores
municipais tornem-se instrumentos capazes de reverter o quadro de
precariedade da infraestrutura urbana, da falta de moradia e das formas
segregadas de ocupação e uso do solo urbano em que se encontram a grande
maioria das cidades brasileiras (BRITO, 2011, p.130).
O que a autora ressalta é uma realidade recorrente nas áreas urbanas. O que
encontramos é a ocupação inadequada dos solos urbanos transformados em verdadeiros
espaços segregados, uma parcela da área, digamos, mais estruturada e as demais sem as
mínimas condições básicas de infraestrutura e planejamento. O que mais adiante a autora
nos traz é uma situação da região Nordeste em que domicílios não possuem acesso à rede
geral de água, sendo a situação do esgotamento a mais precária.
58
5.2 Processo de ocupação e ocorrências de inundações e alagamentos em Assú
Segundo Cascudo (1999), por volta de 1695, o então governador da Capitania do
Rio Grande do Norte, Bernardo Vieira de Melo, funda o Arraial de Nossa Senhora dos
Prazeres do Açu e inicia a colonização da região. Diante disso, os colonizadores que
chegavam iam construindo suas casas próximas ao rio, o que se observa na figura 12. O
processo de ocupação data de 1852, confirmando as primeiras ocupações às margens do
leito maior do Rio Piranhas-Açu.
Figura 12: Configuração urbana de Assú em 1852.
Fonte: Teixeira, 2002.
Com isso, evidencia-se que, ao longo dos anos, esse processo de expansão
urbana proporcionou a instalação de residências em locais que correspondem a uma área
do leito maior do rio Piranhas-Açu. Tal área abrange um quadrilátero que compreende as
principais ruas da cidade no fim do século XIX e início do século XX. Envolve, portanto,
toda a Praça da Matriz e, a partir desse centro, distribui-se nos sentidos norte, sul, leste e
oeste (MEDEIROS, 2005), o que hoje corresponde à área do centro da cidade.
Esse registro confirma que Assú não foi diferente das demais cidades que
edificaram suas ocupações a partir das margens de um rio, o qual orientou todo o
processo de povoamento em virtude do interesse pela água. A seguir, o quadro 9 faz um
aparato de todas as inundações ocorridas apresentando os detalhes de cada uma delas.
59
Quadro 9: Levantamento histórico das inundações ocorridas entre os períodos de 1875- 2009.
ANO DETALHES CONSEQUÊNCIAS
1875 Sem situação de emergência Sem informações
1924 Sem situação de emergência Sem informações
1947 1 óbito registrado, 20 mil desabrigados Sem informações
1960 Sem situação de emergência Sem informações
1964 Sem situação de emergência Sem informações
1974 Sem situação de emergência Sem informações
1985 Maior ocorrência registrada
(desabrigados)
Famílias desabrigadas e perdas na
lavoura
1986 Sem situação de emergência Sem informações
1987 Sem situação de emergência Sem informações
1989 Sem situação de emergência Sem informações
2004 Sem situação de emergência Sem ocorrência de danos
2008 Situação de emergência Famílias desabrigadas e perdas na
lavoura
2009 Situação de emergência Famílias desabrigadas e perdas na
lavoura
Fonte: Petrone (1961), FEMURN (2009) Medeiros (2018). Adaptado pela autora, 2020.
Considerando o detalhamento das informações disponíveis a partir dos registros
de inundação entre os anos de 1875 a 2009, foram obtidos registros fotográficos a partir
de 1947 (Figura 13). Em consonância com os levantamentos do campo, com o contato
com a população afetada e com os órgãos municipais, foram verificados problemas de
inundação nos mesmos bairros presentes no levantamento histórico, com o acrescimento
de pontos de alagamentos recorrentes nos últimos quatro anos, que serão apresentados em
seguida. Contudo, seguem abaixo os registros de inundação em diversos pontos do
Centro, o único bairro do qual se obteve o registro de fotografias históricas, em que será
destacado o ano de ocorrência das inundações. Para os demais bairros, foram levantados
registros dos anos de 2008 e 2009.
60
Figura 13: Inundações ocorridas no Centro de 1947 a 1974.
Fonte: Fanpage Açu ontem Assú Hoje, 2018.
O fato é que os registros fotográficos mencionados anteriormente ocorreram antes
da construção da Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves (Figura 14), com
exceção do registro de 1985, posterior à construção. Vale salientar que, segundo Nóbrega
(2005), pelos problemas das enchentes no Rio Piranhas-Açu, o poder público federal e
estadual estudava a possibilidade de represar o rio a fim de evitar inundações às margens
das cidades, não obtendo êxito. Como se menciona, a barragem foi inaugurada em 1983,
mas, após dois anos, ocorreu uma das maiores inundações já registradas, a de 1985.
1947 1964
1974
7 1985
7
61
Figura 14: Construção da Barragem em 1981.
Fonte: Fanpage Açu Ontem Assú Hoje, 2019.
Após 23 anos da maior inundação, os mesmos bairros anteriormente citados
novamente registram o evento, de modo que as últimas inundações ocorreram nos anos
de 2008, na Rua Aureliano Lobo (Figura 15- A), e 2009, nos bairros Centro (Figura 15-
B), Bela Vista (Figura 15- C) e São João (Figura 15-D)4. Ressalta-se ainda 2004,
conforme destacado o quadro 9 de inundações para os anos de 1989, mas em escala de
menor proporção se comparada as últimas ocorridas. O que o poder público federal e
estadual na época da construção da barragem estudou sobre a possibilidade de represar o
rio para evitar a inundação às margens das cidades não foi um sucesso, fazendo com que
fossem necessários novos estudos na área.
4 As imagens seguem com esta marca d´água com o ano de 2009, segundo informações repassadas pelo
proprietário do blog, uma vez que pessoas estariam compartilhando as imagens nas redes sociais para
alarmar a população de que as imagens de 2009 seriam de 2019.
62
Figura 15: (A), (B), (C) e (D) - Últimas inundações registradas.
Fonte: Figura- A: Blog do Campelo, 2018. Figura- B; C e D: Blog Assutododia, 2019.
Comparando-se ao primeiro bloco de inundações ocorridas, observa-se a
permanência da ocorrência nas mesmas ruas (Figura 15-B) e uma população
completamente ilhada em 2009. O acesso que cruza os bairros Bela Vista e Casa Forte
(Figura 15-C) ficou completamente obstruído. Para encerrar este bloco de registro
histórico de inundação, apresenta-se o bairro São João em que a população ficou
desabrigada e precisou ser realocada (Figura 15-D) para pontos de apoio, permanecendo
por três meses até que as águas baixassem a um ponto seguro e elas pudessem voltar para
suas residências.
Após esse inventário histórico de fotografias das inundações ocorridas, observou-
se que 5 (cinco) bairros da cidade ( Figura 16) são os que mais sofrem com as inundações
do leito maior do rio Piranhas-Açú, apresentando evidências de que os mesmos sofrem
nos períodos de inundação com um intervalo considerável de ocorrência entre uma e
outra. Neste estudo, a área em questão foi ocupada segundo suas potencialidades naturais
(água em abundância, terras férteis) assim como a proximidade do rio atraiu a ocupação
humana nessas áreas do leito maior, que se tornou um ambiente de risco.
A B
C D
63
Figura 16: Mapa dos bairros que sofreram com inundações com base nos dados históricos.
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
Somado a isso, os registros pluviométricos das inundações (Tabela 5) ocorridas na
região do Vale do Açu, em específico na cidade de Assú, mostram-se uma etapa
fundamental para o trabalho por mostrar informações espaço-temporais das inundações.
Utilizou-se de um inventário realizado por Medeiros (2018) em que se apresentam
registros que compreendem o período de 1963 a 2009, sendo este o ano em que ocorreu a
última inundação. Na tabela, observam-se em azul as inundações registradas e se
destacam em laranja a maior inundação registrada para o período, com a quantidade de
precipitação anual, mês mais chuvoso, acumulado do mês mais chuvoso, dia e
precipitação do mês mais chuvoso.
64
Tabela 5: Anos com precipitações pluviométricas acima da média na Estação de Florânia
(RN).
Ano Precipitação
(mm)
Mês
mais
chuvoso
Acumulado do
mês mais chuvoso
(mm)
Dia mais
chuvoso
Precipitação do dia
mais chuvoso (mm)
1963 1.026,1 Março 342,1 14/11 64,7
1964 1.387,0 Abril 308,6 05/05 80,4
1965 1.046,6 Abril 448,1 01/04 159
1967 986,3 Abril 338,6 05/04 65,1
1968 950,4 Março 581,5 11/03 97,6
1974 1.297,9 Março 332,8 26/03 66,7
1975 912,4 Março 242,6 18/05 59,2
1977 1.014,7 Abril 248,7 23/02 74,4
1984 943,1 Abril 379,0 15/04 89,7
1985 1.525,8 Abril 413,0 09/04 73,5
2008 1.026,4 Março 349,5 20/03 58,1
2009 1.350,9 Março 410,2 02/03 115,5
Fonte: Adaptado de Medeiros (2018).
Conforme se observa nos registros fotográficos e na tabela 3, o ano de 1985
confirma-se como um dos períodos mais chuvosos já registrados.
Outro fator que tem ocorrido nos últimos anos e vem causando transtornos na
cidade e danos materiais são os alagamentos. A recorrência em alguns bairros, os quais já
apresentam registro de inundações, resulta em um perigo maior se comparado aos outros
dois eventos, o que, de fato, foi apurado nos trabalhos de campo e nos registros
fotográficos. Os transtornos, dessa forma, serão bem maiores na ocorrência dos dois
eventos, principalmente em bairros que já apresentam a problemática da inundação.
Nos principais blogs da cidade mostram-se os transtornos ocorridos nos bairros
que já possuem histórico de inundação e outros que somente ocorre o fenômeno de
alagamento. A cena repete-se sempre que chove no Bairro São João (Figura 17 A-B) e o
primeiro registro é do ano de 2016 (Figura 17- A), em que se observam carros submersos
na água acumulada. Ainda na mesma rua, João Celso Filho, no ano de 2017 (Figura 17-
B), segundo matéria veiculada no blog Assutododia, um carro foi arrastado pelas águas e
os ocupantes foram resgatados pelos moradores.
65
Figura 17: (A) e (B) - Alagamento no bairro São João.
Fonte: Blog Afolhapatuense, 2018. Fonte: Assutododia, 2018.
O bueiro existente não supriu a demanda de água e acabou obstruído devido ao
carreamento de resíduos sólidos pelas águas (Figura 18 A e B). Por essa razão, faz-se
necessário um trabalho de conscientização da população para o descarte correto dos
resíduos, evitando-se o descarte em vias públicas, haja vista que o número de estruturas
de drenagem na cidade é baixo e situações como essa tendem a contribuir com maiores
transtornos.
Figura 18: (A) e (B) - Infraestrutura de águas pluviais obstruída.
Fonte: Acervo da Autora, 2019.
No bairro Centro, dez ruas ficam completamente alagadas, apresentando-se como
uma das áreas mais caóticas o cruzamento da Rua Ulisses Caldas com a Rua Moisés
Soares (Figura 19-A), conforme o registro para o ano de 2018 (Figura 19- B) e para o ano
de 2019. É um bairro muito importante da cidade de Assú por conter elementos expostos
A B
A B
66
estratégicos, vitais ou sensíveis para o funcionamento da mesma e que, na ocorrência do
alagamento, por exemplo, o acesso às vias fica totalmente comprometido.
Figura 19: (A) e (B) - Alagamento no Centro.
Fonte: Blog do VT, 2018. Fonte: Assutododia, 2019.
Antes, a via exibida na figura citada acima era pavimentada com material de
paralelepípedo. Dessa forma, segundo relatos da população do referido bairro, a
concentração do volume de água era menor assim como o tempo de drenagem no local se
comparado com o período posterior à pavimentação asfáltica, a qual colaborou para o
aumento da energia das águas pluviais e a concentração maior em razão da
impermeabilização. O sistema de drenagem é insuficiente o que contribui para que toda a
água que escoa pela cidade se concentre neste bairro, o que resulta em grandes
transtornos na área.
Esse tipo de ocorrência se origina com chuvas a partir de 40-45mm. Além dos
bairros São João e Centro, outros são afetados, como Feliz Assú e Novo Horizonte
(Figura 20) em que se observam residências em área irregular, já que ali existe um
córrego, que nos períodos de chuva causa o isolamento da população local.
A B
67
Figura 20: Alagamento entre Novo Horizonte e Feliz Assú em 2016.
Fonte: Assutododia, 2018.
No bairro Dom Elizeu registrou-se um caso de danos materiais, devido aos
alagamentos. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres
Naturais (CEMADEN), choveu 105 milímetros em 19 de janeiro de 2018, o que gerou o
grande volume de água que ficou concentrado na frente de uma casa e ocasionou a queda
de sua fachada, conforme se observa na figura 21. A Defesa Civil do Município esteve no
local do ocorrido evacuando as pessoas para locais seguros e famílias tiveram seus
imóveis comprometidos.
Figura 21: Desabamento de duas residências, 2018.
Fonte: Blog Assutododia, 2018.
68
Diante do ocorrido, a gestão municipal desenvolve, através da lei de nº 614, de 05
de março de 2018, uma política pública que cria um mecanismo de suporte a essas
famílias, oferecendo a prestação de benefício de aluguel de residência àquelas que
ficaram desabrigadas temporariamente em virtude da destruição total ou parcial do seu
imóvel.
Para o valor do aluguel de residência para família em situação de desabrigamento
temporário, através do decreto de nº 013, de 06 de março de 2018, definiu-se o valor
mensal de até R$ 300,00 (trezentos reais), por um período de até 12 (doze) meses por
família beneficiada, enquadrada nos critérios definidos em lei.
Após a criação dessa lei, famílias vêm sendo beneficiadas após passarem por
prejuízos causados por eventos de natureza hidrológica e/ou meteorológica, ou seja,
residências que ficaram comprometidas ou desabaram na área urbana, conforme se
observa na tabela 6.
Tabela 6: Famílias atendidas pelo aluguel social.
Famílias atendidas Bairros
2018 02 Dom Elizeu
01 Vertentes
2019 01 Dom Elizeu
01 Frutilândia
Fonte: Secretaria de Assistência Social do Município (2019). Organizado pela autora (2020).
No entanto, de acordo com os registros fotográficos dos alagamentos e com a
análise feita em campo, foram observadas diversas áreas de risco de alagamento com
residências próximas aos canais de drenagem (Figura 22).
Como se pode observar na figura 23, há várias vias de alagamento na cidade. Com
isso, verifica-se um alto risco para a população, devido à ausência de medidas estruturais
no sistema de drenagem da cidade. Constata-se o maior número de vias que alagam no
Centro da cidade, ou seja, onze vias longitudinais e latitudinais, uma vez que o bairro
possui perfil histórico de inundações, somando-se mais uma problemática urbana. No
decorrer dos trabalhos de campo, foram verificados poucos sistemas estruturantes que, no
momento da precipitação, possam drenar aquela água a fim de que se evitem
alagamentos. É o que confirma o relato dos moradores no tocante aos dias de chuvas e
transtornos decorrentes: residências e acessos alagados, e população exposta a resíduos
carreados em quantidade pelas enxurradas, gerando outro risco em razão da veiculação
hídrica, que são as doenças ocasionadas pelo contato com a água contaminada.
69
Figura 22: Residência próxima ao córrego do Dom Elizeu.
Fonte: Autoria própria, 2019.
Figura 23: Mapa das áreas de alagamentos da malha urbana de Assú-RN.
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
70
Segundo Pereira (2017), o gerenciamento de toda a água pluvial reduz os custos
gerados no que tange à solução de problemas relacionados com a água, uma vez que,
após a ocorrência das precipitações, os órgãos gestores precisam fazer reparos em
algumas vias obstruídas pela velocidade energética da água. Uma cidade sustentável e
planejada incorpora os cursos d’água à paisagem urbana, preserva o leito maior do rio,
restabelece o quanto possível a retenção natural e conserva as áreas de inundação ainda
existentes. Como consequência, o sistema de drenagem com o manejo de águas pluviais
traz importantes benefícios, como melhores condições de tráfego de pessoas e veículos,
principalmente em dias de chuva, o favorecimento à saúde e ao meio ambiente, redução
de custo de manutenção das vias etc.
Ao sobrepor o mapa de alagamento e inundação da área de estudo (Figura 24),
apresentam-se informações de quais bairros possuem o maior número de ruas alagadas e
se há registro de inundação. Somados esses dois dados, pode-se trazer uma contribuição
ao setor de planejamento da cidade, remanejar as residências que estão localizadas dentro
dos córregos, bem como elaborar medidas estruturantes e estruturais que drenem a água
que se acumula nas vias destacadas no mapa, pois são as áreas mais críticas da cidade.
Figura 24: Mapa demonstrando a sobreposição entre as áreas de inundações e as áreas de
alagamentos na malha urbana de Assú-RN.
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
71
Analisando o cruzamento das informações obtidas do mapa de inundação e de
alagamento com o reconhecimento das vias que constantemente inundam e com o mapa
hipsométrico (Figura 25), a partir de uma aplicação de estilo categorizado nas curvas de
níveis intervaladas a cada metro, pode-se utilizar a falsa cor, do verde para o vermelho,
sendo o verde para cotas mais baixas e o vermelho para cotas mais altas.
No entanto, seria possível inverter as cores citadas para se associar o vermelho ao
perigo, contudo, normalmente, na literatura, o verde é que denota as cotas mais baixas. É
notável a presença das cores dos extremos, tanto do verde escuro, que representa as cotas
baixas, como também do vermelho, que representa as cotas mais altas. Para os bairros em
que não ocorre nenhum evento (inundação ou alagamento), essas declividades favorecem
os escoamentos das águas pluviais para os bairros de áreas planas, sendo um dos
indutores de alagamento.
A área urbana está situada, em grande parte, nas cotas dos 30 metros. As altitudes
que ultrapassam os 60 metros estão restritas a altitudes superiores na porção oeste. Isso
explica, analisando-se de forma isolada, as altas velocidades de escoamento superficial e
justifica toda a concentração das águas pluviais abranger o Centro e os bairros São João,
Bela Vista, Casa Forte e Farol, devido a serem localizados na área de cotas baixas da
cidade, locais em que, sequencialmente, ocorrem inundações.
Verificada no mapa de drenagem a quantidade de microbacias que são formadas
dentro da área urbana do município de Assú, elas se apresentam como importantes fatores
desencadeadores de cenas de alagamentos. A ocupação urbana mal planejada aliada a
grande quantidade de pavimentação asfáltica realizada no ano de 2016, sem nenhuma
medida estruturante de drenagem nessas vias de circulação, vindo a impermeabilizar
excessivamente o solo, contribuiu para o aumento dos alagamentos em algumas vias que
antes não alagavam.
72
Figura 25: Mapa demonstrando a sobreposição das áreas de alagamento e inundação sobre a
hipsometria da malha urbana de Assú-RN.
Fonte: Elaborado por Frutuoso e Barbosa, 2020.
No entanto, essas áreas de relevo plano são, segundo se apresenta no mapa de uso
e ocupação do solo (Figura 26), de diversos usos e inclui o principal bairro da cidade, o
Centro, que oferece a maior diversidade de atividades, de comércio a serviços. Tal
localidade se encontra muito próxima ao leito maior do rio e se classifica como área
verde no mapa, contendo vegetação de característica de mata ciliar. O Centro, por
concentrar o maior número de serviços, como, por exemplo, os serviços bancários,
agrupa um grande número de pessoas não só da cidade como da circunvizinhança, já que
Assú é a principal cidade da Microrregião e serve de local de busca para variados
atendimentos, assim como pela maior variedade de comércio.
73
Figura 26: Mapa de uso e ocupação do solo da área urbana de Assú-RN.
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
De maneira geral, os dados obtidos evidenciam para o ano de 2020, conforme se
observa no mapa e na tabela 7, uma área de predominância residencial equivalente a
34,43%; em decorrência do processo de ocupação da área. Em relação à área desocupada,
ou seja, que se encontra em processo de expansão, ela corresponde a 33,51%,
evidenciando-se uma possível formação de futuros empreendimento. Para a formação de
novos conjuntos de bairros, os valores são de 8,39% e denotam a evolução deste
processo, o que demonstra que um planejamento para essas áreas que estão em processo
de expansão precisa ser maior, para que não ocorram os transtornos relativos a medidas
estruturais de drenagem presentes nos demais bairros. A área comercial equivale a 2,74%,
um espaço vital para o funcionamento da cidade por conter elementos expostos
estratégicos, vitais ou sensíveis (banco, lojas, farmácias, rede de supermercado) e que
concentra um total elevado de pessoas em virtude dos serviços da rede bancária e
comercial. O espaço verde urbano equivale a 16,44% e é a área na qual as inundações
acontecem, ou seja, corresponde ao leito maior do rio Piranhas-Açu e, por isso, precisa
ser conservada.
74
Tabela 7: Classes de mapeamento do uso e ocupação do solo na área urbana de Assú-RN.
Uso Hectare % da área total
Espaço verde urbano 345,2 16,44%
Residencial 723,02 34,43%
Comercial 57,64 2,74%
Grandes equipamentos 90,36 4,30%
Área desocupada/ Vazio
Urbano 703,74 33,51%
Loteamento 176,19 8,39%
Serviços 3,77 0,18%
TOTAL 2099,92 100,00%
Fonte: Elaborada pela autora, 2020.
Dessa forma, a observação mais detalhada na tabela dessas áreas permite ressaltar
elementos estratégicos, vitais ou sensíveis que as diferenciam hierarquicamente quanto ao
risco. Assim, quanto maior o número de elementos maior é o risco do bairro. A análise de
cada bairro possibilitou uma melhor compreensão e análise do risco de inundação na área
urbana de Assú. Com base nos resultados obtidos através do mapa de elementos expostos
(Figura 27), o Centro apresentou o maior quantitativo ultrapassando 70 elementos
expostos a alagamentos e inundação; seguido dos bairros Dom Elizeu, Novo Horizonte e
Parati com mais de 30 elementos expostos. Os bairros que apresentam menor número de
elementos são os bairros São João e Lagoa do Ferreiro.
75
Figura 27: Mapa de elementos expostos estratégicos vitais ou sensíveis.
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
Na ocorrência do evento e no tocante às justificativas de planejamento urbano,
dentre todos os bairros, o Centro é o principal deles, em razão do número de elementos
expostos (Figura 28 A, B, C e D) e de sua importância para a dinâmica de funcionamento
dos demais bairros, da cidade de Assú e até das cidades vizinhas. Portanto, uma vez que
esses elementos são afetados, todo o serviço do Centro é comprometido. Os demais
bairros – Dom Elizeu, Novo Horizonte e Parati – servem de ponto de apoio para o Centro
na ocorrência do evento para realocar os desabrigados devido à distância que possuem do
leito do rio, contudo, pela quantidade de elementos expostos, são bairros de risco. Os
bairros Alto de São Francisco (que contém de 10 a 19 elementos) e Janduís (que contém
de 20 a 29 elementos) apresentam-se, em razão da quantidade de elementos expostos ser
menor, como bairros de apoio à cidade por se localizarem no relevo mais elevado do
município. O bairro Feliz Assú não entra como bairro de apoio, embora tenha baixa
quantidade de elementos expostos, devido a sua característica hipsométrica, a quantidade
de drenagens que cruzam o bairro e a ocorrência de alagamentos na área, não se
configurando, portanto, como seguro para a realocação de famílias na ocorrência do
evento de inundação.
76
Figura 28: (A), (B), (C) e (D) - Elementos expostos estratégicos vitais ou sensíveis.
Fonte: Acervo da autora, 2019.
Ainda conforme Menezes (2014), a espacialização do risco não ocorre de forma
aleatória, visto que segue uma lógica de fatores que determina sua distribuição. A
ocupação nas margens de rios e córregos, o aterramento dos córregos para edificações, no
caso dos alagamentos, são condicionados a determinados processos que resultam na sua
espacialização.
Para o caso de Assú, pode-se confirmar, mediante os mapas elaborados, que a
razão pela qual ocorrem inundações e recorrentes alagamentos deriva do fato de que toda
a drenagem urbana escoa para a área plana da cidade, por inexistir um sistema de
drenagem suficiente para a demanda, com uma declividade que contribui para que esse
escoamento se concentre nos bairros que já possuem um longo histórico de inundações.
Acrescidas a isso, as ocupações próximas ao leito maior do rio principal.
Conforme o explicitado na tabela 8, 16% da área urbana se configuram como
risco baixo, ou seja, 344,2 hectares. Entretanto, a parcela restante se classifica como risco
alto a muito alto, isto é, o quantitativo, hoje, da área de alto a muito alto risco equivale a,
A B
C D
77
respectivamente, 42% e 15%, necessitando, por isso, de políticas que reduzam essas áreas
de risco a uma taxa de 15%, para que, assim, a cidade esteja preparada estruturalmente à
ocorrência dos eventos citados.
Tabela 8: Classes de mapeamento de risco de inundação na área urbana de Assú-RN.
Risco Hectares Porcentagem
Muito alto 313,1 15 %
Alto 868,8 42 %
Médio 566,0 27 %
Baixo 344,2 16 %
Total 2092,2 100 %
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
O grau de risco estabelecido no mapa (Figura 29) apresenta quatro classes de risco
que vão desde muito alto risco a baixo risco, associados a diversos fatores que são: a
ausência de medidas estruturais e estruturantes, ocupações no leito maior do Rio
Piranhas-Açu, a quantidade de elementos expostos em cada bairro, a quantidade de
córregos que cruzam a cidade, a ausência de um zoneamento urbano dessas áreas de risco
no PD, bairros que não possuem um sistema de drenagem. Apesar de o PD ter sido
regulamentado em 2006 e ocorrerem inundações desde 1875, espera-se que com a revisão
do PD essas áreas sejam gerenciadas dentro do plano. Ainda nessa perspectiva, observou-
se que no documento se exige uma área de cobertura permeável de, no mínimo, 30%
dentro dos lotes, no entanto o que foi apurado em campo é uma vasta impermeabilização
no Centro.
Mesmo os bairros que estão às margens do leito maior do rio (Farol, São João,
Bela Vista, Casa Forte) não se enquadram em um grau de risco tão alto quanto o Centro,
que possui os seguintes fatores: maior número de elementos expostos, mais de 70
elementos, maior número de vias alagadas, histórico de inundação, localização em relevo
plano e por toda a drenagem se concentrar no bairro em questão. Dessa forma, ao
momento da ocorrência do evento de inundação, a assistência deve ser priorizada a esse
bairro. Para a implementação de medidas estruturais, o Centro é o primeiro da lista, pois
possui um grande número de vias que alagam assim como os maiores transtornos em dias
de chuva, também a maior concentração de pessoas localiza-se nessa área, o que constitui
uma grande perigosidade.
78
Para as demais áreas, as aplicações de medidas de planejamento estruturais devem
se estabelecer para que não ocorra a transferência de problemas, como, por exemplo,
aquilo que era problema maior no Centro se estenda para outro bairro que antes não
apresentava nenhum tipo de transtorno, ou seja, uma localidade passar de risco baixo para
risco médio. A efetivação dessas medidas na área resulta em uma cidade planejada, ao
prevenir que vidas e bens sejam perdidos ou comprometidos, contribuindo para a redução
de risco de desastre.
79
Figura 29: Mapa de risco de inundação da área urbana de Assú.
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
80
Algumas informações, no entanto, são importantes para a classificação do grau
de risco, como, por exemplo, permanecer o risco muito alto em parte da área dos
bairros, já existindo um estudo e classificação feitos pela CPRM (2013) (APÊNDICE-
A), trabalho que resultou na seleção de quatro áreas no município de Assú consideradas
de risco alto, em função de sua ocupação e de fenômenos naturais que ocorrem nos
bairros São João, Centro, Bela Vista e Lagoinha5. Com isso, fez-se uma adaptação com
o acréscimo de dois bairros que estão próximos a margem do rio, Casa Forte e o Farol,
constituindo-se um total de 5 (cinco) bairros com suas áreas parcialmente configuradas
como risco muito alto de inundação enquanto as demais áreas dos bairros se apresentam
como de risco alto e médio, conforme metodologia aplicada em relação ao número de
elementos expostos ao risco: quantitativo de vias que alagam, relevo. O que apresentou
exceção foi o Centro, com abrangência de toda a área classificada como de risco muito
alto. Para o risco médio, são categorizados os bairros cuja ocorrência dos eventos trata-
se de alagamentos e o número de elementos expostos ser menor que trinta. Para risco
baixo, são qualificados os bairros de declividade elevada em que não há ocorrência de
nenhum dos eventos e oferece o menor número de elementos expostos, o que os
classifica como bairros que, em caso de ocorrência de inundações, servirão de ponto de
apoio.
A segunda área utilizada (APÊNDICE - B) configura um trecho do bairro Dom
Elizeu, que corresponde às proximidades de um córrego, cuja nascente encontra-se a
oeste da cidade, em área de relevo elevado. Na porção abaixo do córrego, existem
alguns conglomerados subnormais (Figura 30) em razão da resistência de pessoas que
permanecem naquela área mesmo após um trabalho de realocação dessas famílias. Nos
demais casos apresenta-se a formação de novas famílias que, pelas condições
financeiras, ocupam essas áreas. Com isso, fez-se a extensão para os demais bairros que
possuem córregos. Tal trecho se enquadra como risco alto não apenas pelo número de
ocupações próximas ou pela existência do córrego como pelo número de elementos
expostos aos alagamentos e enxurradas na área citada. Foram identificadas nos demais
bairros, como, por exemplo, entre o Feliz Assú e o Novo Horizonte, ocupações
irregulares no entorno dos córregos. Quanto aos demais córregos verificados no trabalho
5 A citada divisão de bairros não existe conforme o Plano Diretor Municipal, que é a base deste trabalho.
Lagoinha foi uma alcunha dada a uma gleba de terra dentro do bairro Centro. Portanto, conforme este
estudo, leia-se Lagoinha enquanto Centro. O estudo feito pela CPRM (2013) estudou três bairros e não
quatro.
81
de campo, ressalta-se a importância de um trabalho de recuperação e conservação
desses para minimizar os transtornos causados em dias de chuva, devido a suas
dinâmicas terem sofrido transformações ao longo dos anos em decorrência da
retificação nos cursos dos córregos pela expansão urbana. Outro trabalho que precisa ser
desenvolvido nessas áreas é o de fiscalização, para que famílias não venham a ocupar
essas áreas já que outras precisaram ser realocadas para áreas seguras. Ações conjuntas
precisam desenvolvidas entre o poder público e a população, objetivando recuperar
nascentes, margens e a própria água dos córregos a partir de um reflorestamento de suas
margens.
Figura 30: Conglomerados Subnormais Bairro Dom Elizeu.
Fonte: Autoria própria, 2019.
82
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O produto gerado por esta pesquisa se constituiu de uma metodologia simples
capaz de espacializar as áreas com risco de inundações e alagamentos em Assú, ao
identificar o quantitativo de elementos expostos estratégicos vitais e sensíveis ao risco
de cada bairro, estabelecido conforme a metodologia proposta e configurando-se como
um elemento fundamental para identificação dos bairros expostos a inundações e
alagamentos com possibilidade de causar prejuízos de ordem social e econômica para a
cidade e, principalmente, para a população afetada.
Ao poder público, oferta-se um material de imensa importância para auxiliar na
tomada de decisões, permitindo subsidiar o planejamento urbano, uma maior interação
entre a sociedade e a preservação do meio ambiente e minimizar dos riscos. Identificam-
se, portanto, os bairros em que as medidas precisam ser tomadas de forma urgente e os
que necessitam de forma secundária.
No entanto, os resultados para bairros mais críticos é que se faz necessária, por
parte dos órgãos gestores, maior atenção no que concerne ao planejamento e gestão
urbana, embora os demais bairros também sejam importantes. Contudo, o Centro, tanto
pela vitalidade urbana que abarca como por ser o bairro que possui o maior número de
elementos expostos estratégicos vitais ou sensíveis, inspira maiores cuidados para que,
no momento do evento extremo, o funcionamento da cidade não seja comprometido;
muito menos as áreas residenciais, as áreas comerciais e de serviços, que já apresentam
uma expressiva ocorrência de inundações e alagamentos, tanto no Centro quanto nos
demais bairros, como: São João, Bela Vista, Casa Forte e Farol.
Da mesma forma, o mapeamento das áreas apresenta-se como uma medida não
estrutural muito importante no planejamento, pois, a partir do conhecimento das áreas
sujeitas a processos de extravasamento das drenagens, podem-se direcionar usos
adequados a esta condição periódica, ou ainda projetar medidas que mitiguem o
processo. O mapeamento dessas áreas de ocorrência a esses processos é de total
importância para o reconhecimento das áreas já ocupadas, como também para promover
a recuperação ou o melhor aproveitamento de tais áreas, evitando que novos
aglomerados de risco se formem.
Dessa maneira, os resultados apontaram para uma cidade que serve de palco para
cenários de risco estabelecidos em seu território, em que há uma inexistência de
zoneamento dessas áreas em seu Plano Diretor, o que caracteriza necessidade de
83
inserção dessas zonas na revisão do Plano Diretor de forma urgente, uma vez que o
zoneamento das áreas de inundação é um importante instrumento para mitigar os efeitos
danosos desse fenômeno, eliminando riscos humanos e ambientais previamente e
evitando a exposição desnecessária de elementos socioeconômicos de importância.
A presente dissertação se apoia sobre o conceito de risco de inundação
concentrando-se numa abordagem de apoio ao planejamento urbano, que deve ser
matéria básica e preliminar para o planejamento e gestão de cidades. Reforça-se a
importância do planejamento urbano para melhorar ou revitalizar uma área urbana,
proporcionando qualidade de vida à população. Assim, uma continuidade deste trabalho
seria o mapeamento dos dispositivos de drenagem existentes, a fim de associar a
eficácia desses dispositivos e sugerir novos dispositivos de drenagem mediante a
eficiência das medidas estruturais que a cidade possui, ou retificação dos dispositivos
existentes, facilitando, assim, a gestão da drenagem de águas da cidade e evitando o
surgimento de alagamentos em bairros que se caracterizam como de baixo risco.
84
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91
APÊNDICES
92
APÊNDICE A- Mapeamento de risco feito pela CPRM (2013) na favela Belo Horizonte, bairro Dom Elizeu.
93
APÊNDICE B- Ma peamento de risco feito pela CPRM (2013) na favela Belo Horizonte, bairro Dom Elizeu.
94
ANEXOS
95
ANEXO A- Ficha de campo para levantamento de elementos expostos estratégicos vitais
ou sensíveis.
FICHA DE CAMPO
Data: _____/_____ /_______ Cidade: Assú-RN Ficha nº: _______
Nome do Bairro:__________________________________________________________
10- Elementos expostos estratégicos:
Grp 1
( ) Qtd [ ] Câmara Municipal
Coordenadas: S_____________________ W__________________
Grp 2
( ) Abastecimento de água
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Resíduos sólidos urbanos
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Rede elétrica ( ) Telecomunicações
Coordenadas: S_____________________ W__________________
Grp 3
( ) Qtd [ ] Equipamento de saúde
Coordenadas: S_____________________ W__________________
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Hospitais
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Centros de saúde
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Equipamentos de educação
Coordenadas: S_____________________ W__________________
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Creche
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Escolas primárias
Coordenadas: S_____________________ W__________________
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Escolas EB e Secundária
Coordenadas: S_____________________ W__________________
96
Coordenadas: S_____________________ W__________________
Coordenadas: S_____________________ W__________________
Coordenadas: S_____________________ W__________________
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Universidade
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Faculdade
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Politécnicos
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Equipamento de cultura
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Cinema e Teatro
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Piscinas coletivas
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Igrejas
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd[ ] Prisão
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Lar de deficientes
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Instalações militares
Coordenadas: S_____________________ W__________________
Grp 4
( ) Qtd [ ] Estradas regionais
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Rede viária urbana
Coordenadas: S_____________________ W__________________
Coordenadas: S_____________________ W__________________
Coordenadas: S_____________________ W__________________
Grp 8
( ) Qtd [ ]Antenas de recepção e retransmissão (rádio, TV/imagem, telefones e internet)
Coordenadas: S_____________________W_____________________
Coordenadas: S_____________________ W____________________
Coordenadas: S______________________W_____________________
Coordenadas: S_____________________ W_____________________
Grp 9
( ) Qtd [ ] Redes de alta e muito alta tensão
Coordenadas: S___________________W___________________
97
Coordenadas: S____________________W___________________
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Subestação
Coordenadas: S_____________________ W__________________
Grp 12
( ) Qtd [ ] Patrimônio cultural
Coordenadas: S_____________________ W_____________________
Coordenadas: S______________________W____________________
Coordenadas: S______________________W____________________
Grp 99
( ) Qtd [ ] Centro histórico
Coordenadas: S_____________________ W__________________
Coordenadas: S_____________________W___________________
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Centros comerciais
Coordenadas: S_____________________ W__________________
( ) Qtd [ ] Estabelecimentos hoteleiros
Coordenadas: S_________________W__________________
Pesquisadora:_______________________________________________________________________
Equipe:____________________________________________________________________________
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