Campanha da Fraternidade 2012 Arquidiocese de Campo Grande Campo Grande, 11/02/2012

Preview:

Citation preview

Campanha da Fraternidade

2012Arquidiocese de Campo

GrandeCampo Grande, 11/02/2012

A saúde pública em Campo Grande e

Mato Grosso do Sul

Rivaldo Venâncio da CunhaUFMS e FIOCRUZ - MS

Antigamente, a compreensão do

processo saúde-doença era simplista (sobretudo na “esquerda”

Antigamente....“Conto os que morrem de bouba,

de tifo e de verminose;

Conto os que morrem de crupe,

de câncer e xistossomose.

Mas todos esses defuntos,

morrem de fato é de fome,

quer a chamemos de febre,

ou de qualquer outro nome”.Ferreira Gullar

Hoje, sabe-se que o processo saúde-doença é

muito mais complexo!

Determinantes do processo saúde-doença

(Dahlgren e Whitehead)

Reflexões sobre

a realidade atual

da saúde

1ª. Reflexão:

Segundo nossa formação cultural,

para cada problema deve haver um

responsável (“culpado”)!

Uma vez “corrigido” o culpado, o

problema estaria resolvido! (filme “A

próxima vítima”, epidemias DEN).

1ª. Reflexão....

Uma concepção mais dinâmica

(“dialética”) da sociedade

entende que essa estrutura é

mais complexa!

2ª. Reflexão:

O fato de a face mais grave de

um problema ser expressa na

área de saúde não significa,

necessariamente, que a origem

e/ou a solução aí resida!

2ª. Reflexão....

Exemplos:

Dependência química,

Doença mental,

Obesidade,

Tabagismo,

Violência.

3ª. Reflexão:Em um país com tamanhas

desigualdades sociais e econômicas, e diversidade cultural, um sistema de saúde para ser justo

NÃO pode tratar todos de forma igual.

Para ser justo, ele deverá tratar de forma desigual os desiguais!

3ª. Reflexão......

Para diferentes

vulnerabilidades e

exposições, deve-se

propor políticas

diferenciadas!

3ª. Reflexão....

Exemplos: Analfabetos funcionais; Assentados/acampados; Comportamentos de risco; Populações indígenas; Socialmente excluídos.

4ª. Reflexão:

Para resolver problemas estruturais, devemos

propor soluções estruturantes!

Para problemas coletivos, soluções coletivas!

Final dos Anos 60 até 1985

Pequeno histórico do SUS

1986: 8ª Conferência Nacional de Saúde

projeto da Reforma Sanitária Brasileira.

Art. 196 da Constituição de 1988:

“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante

políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença

e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e

serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

Lei 8080/90 – O que é o SUS

“Art. 4º - O conjunto de ações e serviços de

saúde, prestados por órgãos e instituições

públicas federais, estaduais e municipais, da

Administração direta e indireta e das fundações

mantidas pelo Poder Público, constitui o

Sistema Único de Saúde (SUS)”.

A Lei 8080/90 sofreu vários vetos do então Presidente da

República (Fernando Collor): pp relacionados com

financiamento e participação da comunidade

Eqüidade na assistência à saúde

“Todo cidadão é igual perante o SUS. Os

serviços de saúde devem saber quais são

as diferenças dos grupos da população e

trabalhar cada necessidade.

O SUS deve tratar desigualmente os

desiguais.” (http://www.saude.gov.br )

SUS:Estágio atual

Imagem do SUSFilas,

falta de leitos hospitalares,

escassez de recursos financeiros,

insatisfação dos profissionais e da

população,

valor dos procedimentos médico-

hospitalares ........

Discurso hegemônico

“O SUS É BONITO NO PAPEL”

“O SUS NA TEORIA É BOM, NA

PRÁTICA.....”

“O PROBLEMA DO SUS É FALTA

DE GESTÃO COMPETENTE....”

Por desconhecimento, ou

por omissão consciente, ou por disputa pelo

mercado, ou por repetição do “discurso”

dos meios de comunicação...

Há o silêncio sobre:

1. Indefinição das fontes de financiamento

Somente em 2011, uma das principais

bandeiras de luta na defesa do SUS foi

regulamentada: a sua fonte de

financiamento (EC 29)

2. Determinantes do processo saúde-doença

(Dahlgren e Whitehead)

3. Transição demográfica, epidemiológica e social

3. Transição demográfica, epidemiológica e social

Progressivo aumento da expectativa de

vida e conseqüente envelhecimento da

população,

contribuindo para

mudanças no quadro de morbidade e

mortalidade

3. Transição demográfica, epidemiológica e social

as doenças agudas e de origem

infecciosa apresentam incidências

reduzidas e em queda,

aumento constante e consistente da

prevalência de doenças crônicas.

3. Transição demográfica, epidemiológica e social

4. Transição e Modelo de atenção

Historicamente, foram as condições agudas que induziram a conformação do sistema de saúde.

Esse modelo de atenção é:episódico,voltado para atenuar os sintomas e promover

a cura,não se aplica para atender às condições

crônicas (CONASS, 2006);Causas externas, ppte o TRÂNSITO!!!

Óbitos por causas externas

Brasil, 2005-2008Causa/

Ano

2005 2006 2007 2008

Ac. transp. 36.611 37.249 38.419 39.211

Outros acid. 21.598 22.480 22.839 23.253Agressões

47.578 49.145 47.707 50.113Lesões autoprovoc. 8.550 8.639 8.868 9.328

Outras causas 13.296 10.875 13.199 14.031

TOTAL127.63

3

128.38

8

131.03

2

135.93

6

4. Transição e Modelo de atenção

As condições crônicas abarcam uma categoria extremamente vasta de agravos:

doenças transmissíveis (HIV/AIDS e TB),

não transmissíveis (câncer e diabetes) e

incapacidades (cegueira e amputações).

Embora pareçam ser díspares, incluem-se na categoria de condições crônicas (CONASS, 2006).

Importância do SUS Política social mais solidária entre todos os

países em desenvolvimento;

100% da população dependem do SUS (Visas);

Cerca de 70% da população só têm o SUS;

ESF: cerca de 32.000 equipes acompanham 97,5 milhões de brasileiros em 92% dos municípios;

ACS: cerca de 245.000 - 110 milhões de pessoas atendidas em 95% dos municípios;

Importância do SUS

Procedimentos ambulatoriais: 2,3 bilhões/ano;

Consultas médicas: 270 milhões/ano;

Internações: 11,3 milhões/ano;

Partos: 2 milhões/ano;

Transplantes: 15 mil/ano;

Cirurgias cardíacas: 215 mil/ano;

Proced.de rádio/quimioterapia: 9 milhões/ano;

Importância do SUS

Programas de excelência internacional:

Imunizações - 130 milhões de vacinas /a; AIDs;

Controle do Tabagismo;

CMI no BR (1990): 47,1/1.000 NV;

CMI no BR (2008): 19,3/1.000 NV

Figura 8 - Tendência de Doenças Imunopreveníveis, Brasil, 1996 a 2007*

0

2500

5000

7500

10000

12500

15000

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Anos

Núm

ero

de c

asos

0

50

100

150

200

250

300

350

Núm

ero

de ó

bito

s

Casos ÓbitosFonte: SVS-MS

Eliminação da poliomielite, sarampo e redução das outras doenças imunopreveníveis

1980 - 153.128 casos e 5.495 óbitos2006 - 1.268 casos e 140 óbitos

O Programa Nacional de Imunizações - PNI nos 20 anos do SUS.

Importância do SUS Gera 8% do PIB - todos setores estratégicos

do futuro (microeletrônica, biotecnologia, química fina, nanotecnologia, equipamentos);

Setor mais importante do gasto nacional com C&T (25% do total);

Responde por 10% dos postos formais de trabalho qualificado;

Emprega 9 milhões de brasileiros em

atividades de maior qualificação;

Se o SUS é tão bom...

Como explicar a situação

de Campo Grande ou do

MS???

A explicação mais

comum:

“Campo Grande sofre

com a sobrecarga do

interior”

Contrapontos: APSCidades com + de 60% de cobertura

ESF:

BH: 85% atendida na própria ESF

Em média, 70% do primeiro contato e da procura regular por atenção em saúde: APS

Papel central dos ambulatórios de especialidades

Importância do diagnóstico especializado

A saúde em Campo Grande e MS

Estrutura não preparada para uma realidade que está em transição!

Negligência (ou conivência?) com as chamadas causas externas, especialte o trânsito;

Carência de projetos estruturantes;

Rede centrada na estrutura hospitalar e não na rede ambulatorial;

A saúde em Campo Grande

Estrutura preparada para atendito imediato, fora de uma REDE DE CUIDADOS ou de ATENÇÃO!

Ausência de uma rede de diagnósticos especializados;

Carência de políticas intersetoriais (ex. Terrenos baldios X dengue);

“Peso” de rede privada e conveniada;

Orçamento Federal para a saúde. Brasil, 2002-2012.

24,7 27,332,7

37,140,7

44,348,7

58,361,2

71,5

85

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Anos

R$ e

m b

ilhõe

s

Título do Eixo

Orçamento da União com a saúde. Brasil, 2002- 2012*

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Processo saúde-doença e redução da pobreza

No Brasil, de 2003 a 2011:

39.589.412 de brasileiros entraram na classe C,

9.195.974 ingressaram nas classes A e B,

(FGV)

Processo saúde-doença e redução da pobreza

No Brasil, de 2003 a 2011....a classe D perdeu 7.976.346 pessoas (redução de 24,03%),

a classe E perdeu 24.637.406 (decréscimo de 54,18%).

O SUS é uma das maiores conquistas do

povo brasileiro, nas últimas décadas!

É nosso patrimônio, e por isso é nosso dever defendê-lo e lutar para

melhorá-lo!

Devemos ter cuidado com os “Zé Limeiras”:

“Jesus Cristo veio ao mundo prá mode fazê justiça,

Aos treze anos de idade discutiu com a dotoriçae, trinta anos depois,

sentou praça na poliça”

Zé Limeira (o poeta do absurdo)

Obrigado pela atenção!

rivaldo_venancio@uol.com.br