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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE DIREITO
FRANCISCO MENDES DOS ANJOS
A RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO NO SISTEMA PRISIONAL
CEARENSE
FORTALEZA
2014
FRANCISCO MENDES DOS ANJOS
A RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO NO SISTEMA PRISIONAL
CEARENSE
Monografia submetida à aprovação da
coordenação do curso de Direito do
Centro de Ensino Superior do Ceará,
como requisito parcial para obtenção do
título de Bacharel em Direito, sob a
orientação do professor Ms. José Lenho
Silva Diógenes.
FORTALEZA
2014
FRANCISCO MENDES DOS ANJOS
A RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO NO SISTEMA PRISIONAL
CEARENSE
Monografia apresentada como pré-
requisito para obtenção do título de
Bacharelado em Direito, outorgado pela
Faculdade Cearense – FaC, tendo sido
aprovada pela banca examinadora.
Data de aprovação: ____/ ____/ ____
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________
Prof. Ms. Lenho Silva Diógenes (Orientador)
_______________________________________________________________
Prof.a. Esp. Marina Lima Maia Rodrigues (Examinadora)
_______________________________________________________________
Prof. Ms. José Péricles Chaves (Examinador)
DEDICATÓRIA
Dedico esta mais nova conquista a Deus por
ter me dado força em todos os momentos deste
curso, bem como, aos meus familiares, e
principalmente aos amigos do período
acadêmico e aos ilustres professores, os quais
me ajudaram a caminhar em busca desta
conquista.
Agradeço também aos colegas de trabalho da
PMCE instituição a qual faço parte do quadro
de soldado de fileiras, que muitas vezes por
falta de efetivo na unidade policial pra dar
continuidade ao serviço me ajudaram para que
eu pudesse vir assistir às aulas e assim concluir
o curso.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao criador e consolador de todo o universo e de
tudo o que nele há que é o nosso senhor e salvador Jesus Cristo a quem merece toda
honra e toda glória. Agradeço por ter me capacitado e assim conquistar mais uma etapa
da minha vida, pois tudo posso naquele que me fortalece.
Aos meus pais por sempre ter me dado ânimo e de estarem ao meu lado em
todos os momentos, e principalmente pelo fato de acreditarem que serei um vencedor e
que estarão comigo em quaisquer circunstâncias, por isso, aos meus pais: o Sr. Luiz
Romão dos Anjos e a Sra. Maria Creuza Mendes dos Anjos, os quais os amo muito,
obrigado.
Aos meus irmãos: Terezinha, Carlos, Luiza e Darlin, que apostaram em
mim e me incentivaram para que eu jamais esmorecesse.
Aos meus familiares, parentes e amigos que sempre acreditaram e me deram
forças.
À gloriosa polícia militar do Ceará a qual pertenço aos quadros de soldado
de fileiras, que apesar das dificuldades em liberar um policial pra estudar por falta de
efetivo, mesmo assim, me possibilitou em ausentar-me do serviço sacrificando outros
policiais e assim ir assistir às aulas; deste modo, agradeço muito aos companheiros que
tantas vezes se sacrificaram no serviço para que eu pudesse concluir este curso.
Aos amigos que conquistei ao longo desses cinco anos de período
acadêmico onde nós ultrapassamos todas as dificuldades e vencemos.
A todo o corpo docente pelas instruções ministradas por estes cinco anos e
pelas dicas de como será o meio jurídico fora da sala de aula onde enfrentaremos por
toda a nossa vida.
Ao professor José Diógenes por ter se comprometido a ser o meu orientador
do trabalho científico de conclusão de curso.
À comunidade evangélica cristã ministério montese de Tabatinga e seus
membros a qual congrego.
E principalmente à minha esposa Lucilene e nossos filhos Lucas, Luís Davi
e se Deus o permitir ao outro futuramente. Por estes cinco anos em que muitas noites
esteve sozinha com as crianças, enquanto me furtava de minhas obrigações de pai e ia
pra faculdade, mas ela sempre acreditou que eu seria capaz de oferecer aos nossos filhos
uma melhor qualidade de vida. Assim sendo, peço desculpas a minha esposa e aos
nossos filhos pelas ausências de várias noites, mas tudo isso foi com um propósito de se
tornar um vencedor. De qualquer forma sempre estaremos juntos acompanhando o
crescimento de nossos filhos. Graças a Deus mais uma fase de minha vida concluída e o
meu muito obrigado.
O Senhor é o meu pastor e nada me faltará.
Deita-me em verdes pastos e guia-me
mansamente em águas tranquilas. Refrigera a
minha alma, guia-me pelas veredas da justiça,
por amor do seu nome. Ainda que eu ande pelo
vale da sombra da morte, não temerei mal
algum, porque Tu estás comigo, a Tua vara e o
Teu cajado me consolam.
Salmo 23
RESUMO
Este trabalho aborda a ressocialização do preso condenado a pena privativa de liberdade
no Estado do Ceará. Para compreender o tema discorre-se sobre a origem e evolução
das penas privativas de liberdade, bem como, procura-se explicar, à luz do Código
Penal, da Lei de Execuções Penais e de interpretações doutrinárias: as espécies de penas
privativas de liberdade previstas em nosso ordenamento jurídico; os regimes de
cumprimento destas penas e as especificidades da execução penal destas sanções penais.
O objetivo do trabalho é demonstrar que, embora a Lei de Execução Penal, Lei nº
7210/84, seja norteada por princípios que representam um ganho para os presos
definitivos e provisórios – representando no campo abstrato certa segurança jurídica
tanto para os presos como para a sociedade – até agora depois de mais de 20 (vinte)
anos ainda é muito pouco atuante. Observa-se que um dos mais importantes objetivos
da LEP, a aplicação da ressocialização do preso no sistema prisional do Brasil e
principalmente do Estado do Ceará, ainda não foi alcançado. A realidade prisional
cearense demonstra isso. O Estado do Ceará é o primeiro do nordeste Brasileiro que
apresenta más condições de higiene, acompanhada de uma massa carcerária abarrotada
de gente presa que vivem em um ambiente prisional que não oferece condições mínimas
de dignidade para seus presos ou internados.
Palavras chave: Penas privativas de liberdade; ressocialização; sistema prisional
cearense.
ABSTRACT
This paper focuses on the rehabilitation of prisoners sentenced to deprivation of liberty
in the State of Ceará. To understand the subject was discusses the origin and evolution
of custodial sentences and seeks to explain, in the light of the Penal Code, the Penal
Execution Law and doctrinal interpretations: the species of custodial sentences provided
in our legal system; the compliance schemes of these penalties and the specifics of the
criminal enforcement of these penalties. The objective is to demonstrate that, although
the Prison Law, Law No. 7210/84, is guided by principles that represent a gain for the
final and temporary prisoners - representing the degree of legal certainty abstract field
both for prisoners and for the society - so far after more than twenty (20) years is still
very little active. It is observed that one of the most important goals of the LEP, the
implementation of the rehabilitation of prisoners in Brazil's prison system and
particularly the State of Ceará, has not yet been reached. The Ceará prison reality shows
that. The State of Ceará is the Brazilian northeastern first presenting poor hygiene,
accompanied by a crowded prison mass trapped people living in a prison environment
that does not offer minimum conditions of dignity for their imprisoned or interned.
Keywords: custodial Feathers; rehabilitation; Ceará prison system
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 11
2 ORIGEM E EVOLUÇÃO DAS PENAS E DOS SISTEMAS PRISIONAIS .... 13
2.1 Teorias da pena ........................................................................................... 15
2.1.1 Teorias absolutas ....................................................................................... 15
2.1.2 Teorias relativas ......................................................................................... 16
2.1.3 Teoria mista ............................................................................................... 18
2.2 Sistemas prisionais .................................................................................. 18
2.2.1 Sistema pensilvânico .................................................................................. 19
2.2.2 Sistema alburniano ..................................................................................... 20
2.2.3 Sistema progressivo ................................................................................... 21
3 AS PENAS NO SISTEMA JURÍDICO PENAL BRASILEIRO ....................... 23
3.1 Princípios característicos da pena ......................................................... 23
3.2 Regimes de cumprimento de penal ........................................................ 25
3.3 Progressão e regressão de regime .............................................................. 28
3.4 Uma breve análise da Lei de Execução Penal ....................................... 31
3.4.1 Assistência ao preso ................................................................................... 32
3.4.2 Deveres e direitos dos presos ...................................................................... 35
3.4.3 O trabalho do preso .................................................................................... 36
4 OS LIMITES E POSSIBILIDADES DA RESSOCIALIZAÇÃO NO CEARÁ ............ 38
4.1 Os dados do CNJ sobre a superlotação do sistema prisional brasileiro
......................................................................................................................... 38
4.2 Dados do CNJ sobre a superlotação do sistema prisional cearense .. 41
4.2.1 Evolução da população carcerária cearense de 2013 para 2014 ............ 43
4.3 Projetos voltados para ressocialização dos presos no Ceará ...................... 46
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 48
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 49
11
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho monográfico tem por objetivo mostrar toda a dinâmica
do sistema prisional desde sua origem e evolução e consequentemente o
surgimento da Lei de Execução Penal, que é voltada aos presos. A partir dessa lei
há uma explanação sobre a ressocialização dos presos, compreendida como um de
seus pontos básicos. Embora este seja um tema que já se tornou, de certa forma,
corriqueiro, trata-se de uma matéria de fundamental relevância social, levando em
consideração que se trata de uma dinâmica que envolve os presos, seus familiares,
agentes de segurança pública e o que isso representa para sociedade.
Nesse sentido, aborda-se a ressocialização do preso condenado a pena
privativa de liberdade no Estado do Ceará. Para compreender o tema discorre-se
sobre a origem e evolução das penas privativas de liberdade, bem como, procura-se
explicar, à luz do Código Penal, da Lei de Execuções Penais e de interpretações
doutrinárias: as espécies de penas privativas de liberdade previstas em nosso
ordenamento jurídico; os regimes de cumprimento destas penas e as
especificidades da execução penal destas sanções penais.
Discorre acerca de como os presos ou internados no princípio eram tão
castigados, e que no começo sofriam os mais diversos e cruéis castigos, como
açoites, mutilação, medidas desumanas e que com frequência muitos não resistiam
à imposição de penas árduas e desumanas.
Com o passar dos anos a pena foi evoluindo no sentido acabar com os
açoites e mutilações, mas continuava a aflição dos indivíduos presos, onde, por
exemplo, o castigo físico deu lugar ao isolamento em celas escuras, ou seja, eram
largados em tais recintos passando por sede e fome que neste caso ainda não havia
o respeito pela dignidade do ser humano.
De acordo com a evolução do sistema prisional, surge a aplicação das
espécies de penas as quais são aplicadas de acordo com a qualidade ou gravidade
do delito praticado pelo agente causador do fato, que neste caso é o surgimento da
classificação da pena e da pessoa do condenado.
12
Aborda o surgimento de uma lei dos presos no Brasil para melhorar a
dinâmica do sistema carcerário com seus detentos, sendo tal lei instituída em nosso
ordenamento jurídico em 11 de julho de 1984, denominada de Lei de Execução
Penal (LEP) que tem por objetivo impor direitos e obrigações aos presos e
proporcionar-lhes dignidade e o mínimo de conforto para o bem-estar dos presos.
No último capítulo, são feitas algumas considerações, com base em
dados empíricos, referentes à população carcerária do Estado do Ceará, no que diz
respeito à ressocialização dos presos. Apresentam-se dados obtidos pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), colhidos em pesquisa feita por visita na Secretaria de
Justiça e Cidadania do Estado do Ceará. São dados estatísticos colhidos pela
Coordenadoria do Sistema Penitenciário Estadual (COSIPE), em relação à
população carcerária, com sua capacidade e quantidade de presos e os excedentes
populacionais ou déficit do número de vagas.
13
2 ORIGEM E EVOLUÇÃO DAS PENAS E DOS SISTEMAS PRISIONAIS
Segundo Rogério Greco (2011), “a pena é consequência natural imposta
pelo Estado quando alguém pratica uma infração penal; quando o agente comete
um fato típico, ilícito e culpável, abre-se a possibilidade para o Estado de fazer valer
o seu ius puniendi” (p. 469). Para Fernando Capez:
a pena é uma sanção penal de caráter aflitivo, imposta pelo Estado, em execução de uma sentença, ao culpado pela prática de uma infração penal, consistente na restrição ou privação de um bem jurídico, cuja finalidade é aplicar a retribuição punitiva ao delinquente, promover a sua readaptação social e prevenir novas transgressões pela intimidação dirigida à coletividade” (2012, p.332).
Já Delmanto (2002) conceitua pena como sendo “a imposição da perda ou
diminuição de um bem jurídico, prevista em lei e aplicada pelo órgão judiciário, a quem
praticou ilícito penal. Ela tem finalidade retributiva, preventiva e ressocializadora” (p. 67).
É de longa data a origem das penas. Os mais antigos grupos de homens
foram obrigados a adotar certas normas disciplinadoras de modo a possibilitar a
convivência social. Na medida em que estas normas eram violadas, reclamava-se a
aplicação de sanções. De forma que, nas antigas civilizações, dada à ideia de
castigo que então predominava a sanção mais frequentemente aplicada era a morte,
sendo comum a esse contexto histórico, a punição alcançar não só o patrimônio,
como também os descendentes do infrator (MIRABETE, 2010).
Ainda na época da Grécia antiga e do Império Romano, também
predominavam a pena capital e as terríveis sanções do desterro, açoites, castigos
corporais, mutilações e outros suplícios. Muito embora, já houvesse vozes como a
de Sêneca que pregava a ideia de que se deveria atribuir a penas finalidades
superiores, como a defesa do Estado, a prevenção geral e a correção do
delinquente, já se esboçando o surgimento de uma concepção pedagógica da pena
(IDEM).
Segundo entendimento de Rogério Greco (2011), a primeira aplicação da
pena retrata-se o começo da história da humanidade, onde vivia num paraíso um
casal chamado Adão e Eva, sendo que neste paraíso existia um lindo jardim
chamado de éden no qual existiam várias árvores frutíferas, sendo que numa delas
14
tal casal foram advertidos por Deus que não poderiam comer de suas frutas. Ocorre
que em determinada época, Eva foi induzida pela serpente que poderia comer do
fruto da árvore em que Deus lhe proibira, então Ela comeu do fruto e ainda fez com
seu marido o comesse. Diante dessa atitude os dois receberam como punição a
expulsão do jardim do éden (IDEM).
Na lição de Franz Von Lizt (Tratado, t. I, p. 5):
O direito comparado revela que o ponto de partida da história da pena coincide com o ponto de partida da história da humanidade. Em todos os tempos, em todas as raças ainda as mais rudes ou degeneradas, encontramos a pena como o malum passionis quod infligitur propter malum actionis, como uma invasão na esfera de poder e de vontade do indivíduo que ofendeu as esferas de poder e da vontade de outrem. É possível, pois, reconhecer a existência da pena como um fato histórico primitivo e não haverá erro se considerarmos justamente no direito penal a primeira e a mais antiga camada da história de evolução do direito e identificarmos o injusto como a alavanca tanto do direito como da moral (1927, p. 6).
Desde a antiguidade até a idade moderna a aplicação da pena àquele
que cometia determinada transgressão à comunidade onde vivia era muito dura, e
em determinada situação ocorria com frequência a pena de vingança, como por
exemplo, se alguém viesse a cometer um homicídio, o criminoso era morto por
alguém da família da vítima, e assim muitas atrocidades eram aplicadas aos que
transgrediam os costumes, explica Nucci (2013).
Outras vezes o autor de condutas ilegais tinha seu patrimônio confiscado
pela violação de determinada norma, bem como, neste período o autor de crimes
tinha o seu corpo para receber a cominação da pena, ou seja, seu corpo é quem
pagava pelo mal cometido. Conforme relata Grego, para Muniz Sodré:
a honra inexcedível da haver sido o primeiro que se empenhara em uma luta ingente e famosa, que iniciara uma campanha inteligente e sistemática contra a maneira iníqua e desumana por que, naqueles tempos de opressão e barbárie, se tratavam os acusados, muitas vezes inocentes e vítimas sempre da ignorância e perversidade dos seus julgadores. Ao seu espírito, altamente humanitário, repugnavam os crudelíssimos suplícios que se inventavam como meios de punição ou de mera investigação da verdade, em que, não raro, supostos criminosos passavam por todos os transes amargurados de um sofrimento atroz e horrorizante, em uma longa agonia, sem tréguas e lentamente assassina. Ele, nobre e marquês, ao invés de escutar as conveniências do egoísmo, de sufocar a consciência nos gozos tranquilos de uma existência fidalga, em lugar de manter-se no fácil silêncio de um estéril e cômodo mutismo, na atmosfera de ociosa indiferença, ergueu a sua voz, fortalecida por um grande espírito saturado de ideias
15
generosas, em defesa dos mais legítimos direitos dos cidadãos, proclamando bem alto verdades filosóficas e princípios jurídicos até então desconhecidos ou, pelo menos, desrespeitados e repelidos” (Apud, GRECO, 2011, p. 479).
Segundo menciona Manoel Pedro Pimentel, a pena de prisão teve sua origem
nos mosteiros da idade média, como punição imposta aos monges ou clérigos
faltosos, fazendo com que se recolhessem às suas celas para se dedicarem, em
silêncio, à meditação e se arrependerem da falta cometida, reconciliando assim com
Deus, explica Greco (2011).
2.1 Teorias da pena
Ao longo da história do Direito Penal, diversas correntes doutrinárias
serviram para dar fundamentação a aplicação de suas sanções. Estas se dividem
em: teorias absolutas, relativas e mistas.
2.1.1 Teorias absolutas
As teorias absolutas baseiam-se numa exigência de justiça: pune-se
porque se cometeu crime, punitur quia pecatum est. Grandes adeptos desta
corrente foram Kant e Hegel.
Para Kant, a pena é um imperativo categórico, consequência natural do
delito, uma retribuição jurídica, pois o mal do crime impõe-se o mal da pena, do que
resulta a igualdade e só esta igualdade traz justiça, onde o castigo compensa o mal
e dá reparação à moral, ele é imposto por uma exigência ética, não se tendo que
vislumbrar qualquer conotação ideológica nas sanções penais. Para Hegel, a pena,
razão do direito, anula o crime, razão do delito, emprestando-se à sanção não uma
reparação de ordem ética, mas de natureza jurídica. Foi também outro grande
representante dessa teoria, na precisa lição desse doutrinador, a natureza dada ao
crime era a jurídica, explica Mirabete (2013).
16
Por essa teoria o grau de reprovação com a prática de crime, tem por
finalidade o caráter retributivo da pena, em que no ordenamento jurídico o mal justo
será apregoado ao mal injusto cometido pelo criminoso.
Logo, em corolário com o que advoga esta teoria, Roxin (Apud,
BITENCURT, 2006) se manifesta com a seguinte observação: a teoria da retribuição
não encontra o sentido da pena na perspectiva de algum fim socialmente útil, senão
em que mediante a imposição de um mal merecidamente se retribui, equilibra e
expia a culpabilidade do autor pelo fato cometido. Fala-se aqui de uma teoria
absoluta porque para ela o fim da pena é independente, desvinculado de seu efeito
social.
A concepção da pena como retribuição compensatória realmente já é
conhecida desde a antiguidade e permanece viva na consciência dos profanos com
certa naturalidade: a pena deve ser justa e isso pressupõe que se corresponda em
sua duração e intensidade com a gravidade do delito, que o compense, explica
Greco (2011).
A sociedade na qual vivemos, geralmente, contenta-se com esta teoria,
pois ela própria tende a se satisfazer com essa espécie de pagamento feita ao
condenado, pois muitas vezes as pessoas temem que um indivíduo que pratica
crimes ou já praticou, andem soltos por ai, por isso, é do agrado de muitos que o
indivíduo criminoso receba uma pena privativa de liberdade.
Pois se de outro modo for à imputação da pena ao agente, a sociedade
sente-se refém, pois entende que a aplicação das penas restritivas de direitos e a
pena de multa não mostra segurança de uma forma geral, pois desta feita, a
sensação que a sociedade se sente em relação a penas brandas é de impunidade,
pois, mesmo no século XXI, onde houve uma sensível dinâmica na aplicação da
pena, mesmo assim, o homem infelizmente, ainda se deleita com o sofrimento ou o
castigo oriundo do aprisionamento do agente criminoso.
2.1.2 Teorias relativas
17
Segundo entende, Mirabete (2013), essa teoria assinala à pena um fim
prático, qual seja um fim especialmente voltado à prevenção geral ou especial. A
pena é intimidação para todos, ao ser cominada abstratamente, e para o criminoso,
ao ser imposta no caso concreto.
O crime, bem dizer, não é causa da pena, mas ocasião para que seja
aplicada. Ela não se explica por uma ideia de justiça, mas de necessidade social. O
fim da pena é, pois, a intimidação de todos para que não cometam crimes, é a
ameaça legal. Caso o delito seja praticado, deve essa ameaça ser efetivada, com o
que ainda se intimida o cidadão. O princípio nulla poena sine lege, nulla poena sine
crimine, nullum criminen, nulla poena sine lege, elaborado por Feuerbaché, portanto,
a intimidação da coletividade, através da coação psicológica conseguida através da
pena (IDEM).
A teoria relativa se fundamenta no critério da prevenção, que se divide
em: prevenção geral – negativa e positiva; e a prevenção especial – negativa e
positiva, Greco (2011).
A prevenção geral negativa também conhecida por intimidação a qual tem
seu alvo principal o ambiente social, ou seja, as pessoas têm receios de praticarem
crimes, quando veem seus pares envolvidos numa determinada condenação por
uma prática ilegal, desta feita, outros indivíduos, com medo de receberem penas
semelhantes, pensam antes de se envolverem em crimes (IDEM).
A prevenção positiva ou integradora, nesta, segundo entendimento de
Paulo Souza Queiroz, a pena presta-se não à prevenção negativa de delitos,
demovendo aqueles que já tenham incorrido na prática de delito; seu propósito vai,
além disso: infundir, a fidelidade ao direito; promovendo, em última análise, a
integração social, explica (IDEM).
Segundo a ideia da prevenção especial negativa, a neutralização da
pessoa que violou uma norma jurídica, por sua vez, tal neutralização se dá com a
imposição do indivíduo criminoso na prisão. Por esse raciocínio entende-se que, a
partir do momento que o agente criminoso é preso, não haverá possibilidade de o
mesmo praticar novos crimes, pelo menos na sociedade da qual foi retirado, tendo
em vista, que a imposição da pena aplicada que essa teoria discorre é a privativa de
18
liberdade (IDEM).
A prevenção especial positiva, por outro lado, apregoa o caráter
ressocializador da pena, fazendo com que o autor de crime reflita sobre a
consequência de sua conduta delitiva, fato em que inibe ao agente criminoso de
praticar novos crimes. Acrescenta neste sentido o renomado Bittencourt (2006), que
a prevenção especial não busca a intimidação do grupo social tão pouco a
retribuição da norma jurídica violada, objetivando apenas àquele indivíduo que já
incorreu em prática criminosa, que o mesmo não volte a ferir as normas jurídico-
penais.
2.1.3 Teoria mista
A teoria mista resultou do confronto das teorias absolutas e relativas, das
quais houve uma fusão. O nosso Código Penal, por intermédio de seu art. 59, parte
final prescreve o seguinte: prevê que as penas devem ser necessárias e suficientes
à reprovação e prevenção do crime. Nesse sentido, pode-se dizer que nossa
legislação penal apregoa que a pena deve reprovar o mal produzido pela conduta
praticada pelo agente, bem como, prevenir futuras infrações penais, tendo adotado
uma teoria mista da pena, conforme observa Greco (2011).
Segundo a teoria mista, eclética, intermediária ou conciliatória, a pena
tem uma função dupla na vida do indivíduo criminoso, que é punir o agente e
prevenir a prática do crime praticado pelo mesmo agente, pela reeducação e pela
intimidação coletiva. Esta teoria tem por pressuposto não só punir o criminoso, mas
também, reeducá-lo para que o mesmo tenha uma transformação em uma pessoa
diferente da que foi antes e se torne um ser humano melhor. Observa-se que por
esta teoria houve um passo para a ressocialização do agente criminoso, esclarece
Capez (2012).
2.2 Sistemas prisionais
19
Durante muitos séculos, na história da humanidade, as penas tinham um
caráter de natureza aflitiva, em que o corpo do criminoso pagava pelo mal que ele
havia praticado. Neste período, o delinquente era submetido aos mais diversos tipos
de aflição, como por exemplo, era torturado, açoitado, crucificado, esquartejado,
esfolado vivo, enfim, todo tipo de crueldade era praticada sobre o corpo físico do
agente infrator. Aqui a pena imposta, via de regra, era desproporcional ao mal
cometido a um determinado bem jurídico lesado pelo agente infrator, Greco (2011).
Desde o final do século XVIII, surgiu o primeiro sistema prisional de que se
tem conhecimento na história da humanidade. De lá pra cá, os estabelecimentos
penais destinam-se ao condenado e ao submetido à medida de segurança.
Conforme observa Os sistemas penitenciários, por sua vez, encontraram suas
origens no século XVIII e tiveram, conforme preleciona Cezar Roberto Bitencourt:
Além dos antecedentes inspirados em concepções mais ou menos religiosas, um antecedente importantíssimo nos estabelecimentos de amisterdam, nos bridwells ingleses, e em outras experiências similares realizadas na Alemanha e na Suíça. Estes estabelecimentos não são apenas um antecedente importante dos primeiros sistemas penitenciários, como também marcam o nascimento da pena privativa de liberdade, superando a utilização da prisão como simples meio de custódia (2009, p. 494).
Segundo explana Greco (2011), “dentre os sistemas penitenciários que
mais se destacaram durante sua evolução, pode se destacar os sistemas
pensilvânico, auburniano e progressivo”.
2.2.1 Sistema pensilvânico
O sistema pensilvânico ou de Filadélfia, também conhecido como celular,
surgiu por volta do século XVIII mais precisamente em 1790, na Walnut Street Jail,
uma velha prisão situada na Rua Walnut, na qual reinava, até então, a mais
completa aglomeração de criminosos. Posteriormente, esse regime passou para a
Eastern Penitenciary, construída pelo renomado arquiteto Edwardo Haviland, e que
significou um notável progresso pela sua arquitetura e pela maneira como foi
executado o regime penitenciário em seu interior, explica Pimentel (Apud, GRECO,
2011).
20
Por este sistema o preso era recolhido à sua cela, isolado dos demais,
não podendo trabalhar ou mesmo receber visitas, essa imposição era uma forma de
o preso ser estimulado ao arrependimento da leitura bíblica, condição esta que era
consequência da violação das normas jurídicas criadas pelo estado (IDEM).
Conforme complemente Damásio de Jesus (2004), nesse sistema, utilizava-se o
isolamento celular absoluto, sem trabalho ou visitas, incentivando-se a leitura da
bíblia.
Este sistema por ser considerado severo recebeu incontáveis críticas,
uma vez que, além de extremamente angustiante, não possibilitava ao preso sua
readaptação ao convívio social, devido seu completo isolamento, pois o condenado
permanecia todo o seu tempo enclausurado numa cela que não proporcionava a
mínima condição de dignidade (BITENCOURT, 2006).
2.2.2 Sistema alburniano
Sistema alburniano se deu em virtude de ter sido a penitenciária
construída na cidade de Auburn, no Estado de Nova York, no ano de 1818. Tratando
sobre esta matéria, Bitencourt (2006) explica que este sistema deixou de lado o
confinamento absoluto do preso por volta do ano de 1824, “a partir de então se
estendeu a política de permitir o trabalho em comum dos reclusos, situação que
difere do sistema anterior, mas isso se deu sob a forma de um absoluto silêncio
entre os presos e confinamento solitário durante a noite”.
Esse sistema surgiu devido várias críticas feitas ao sistema Pensilvânico.
Aqui as medidas impostas aos condenados foram menos rigorosas que no primeiro,
pois permitia o trabalho dos presos, inicialmente dentro de suas próprias celas e,
posteriormente, os trabalhos passaram a ser realizados em grupos. Apesar de haver
uma melhora com o tratamento ao indivíduo preso, o isolamento continuou, mas no
período noturno. Uma das características do sistema auburniano diz respeito ao
silêncio absoluto que era imposto aos presos, razão pela qual também ficou
conhecido como silent system (GRECO, 2011). Pimentel (2009) aponta as seguintes
falhas deste sistema:
21
o ponto vulnerável desse sistema era a regra desumana do silêncio. Teria
origem nessa regra o costume dos presos se comunicarem com as mãos,
formando uma espécie de alfabeto, prática que até hoje se observa nas
prisões de segurança máxima, onde a disciplina é mais rígida. Usavam,
como até hoje usam, o processo de fazer sinais com batidas nas paredes
ou nos canos d’água ou, ainda, modernamente, esvaziando a bacia dos
sanitários e falando no que chamam de boca de boi. Falhava também o
sistema pela proibição de visitas, mesmo dos familiares, com a abolição do
lazer e dos exercícios físicos, bem como uma notória indiferença quanto à
instrução e ao aprendizado ministrado aos presos (Apud, GRECO, 2011,
P.487).
Como se pode perceber neste regime os presos permaneciam em
condições bem difíceis, como por exemplo, a proibição de visitas, onde nosso
ordenamento jurídico vigente assegura aos presos como um de seus direitos a visita
de seus familiares. Acredita-se que a imposição do silêncio absoluto aos presos
neste sistema pode ser um dos precedentes dos abusos cometidos no
gerenciamento do sistema prisional para com seus condenados.
Em relação à prevalência do silêncio entre os presos, percebe-se que
algo de errado estava sendo ensinado aos presos, ou até mesmo alguma forma de
tortura ou outra coisa contrária a dignidade do preso não poderia vir a público e nem
mesmo dar ciência aos seus familiares, pois tudo isso era uma maneira de burlar a
forma de tratamento dos condenados.
2.2.3 Sistema progressivo
Na lição de Damásio de Jesus (2004, p.249) “o sistema Progressivo tanto
o inglês quanto o irlandês surgiu na Inglaterra, no século XIX, atribuindo-se sua
origem a um capitão da Marinha Real, Alexander Maconochie”. Este capitão se
sensibilizou pela forma desumana como os presos eram tratados, pois tal situação
fez com que o mesmo modificasse o código penal, assim sendo, Maconochie cria
um sistema progressivo de cumprimento das penas, as quais eram realizadas em
três estágios (IDEM).
22
No primeiro estágio, as regras impostas eram as mesmas do sistema
pensilvânico, só que havia a imposição do trabalho obrigatório a todos os presos;
enquanto as do segundo as mesmas do sistema alburniano, mas com algumas
melhoras ao tratamento com os reclusos, ao passo que no terceiro estágio, com o
passar de algum tempo, com vantagens maiores para os presos; onde de acordo
com esse estágio foi permitido ao preso o livramento condicional.
Com relação à ao sistema em alusão, Cezar Roberto Bittencourt adverte
que:
a essência deste regime consiste em distribuir o tempo de duração da condenação em períodos, ampliando-se em cada um os privilégios que o recluso pode desfrutar de acordo com sua boa conduta e o aproveitamento demonstrado do tratamento reformador. Outro ponto desses períodos importante é o fato de possibilitar ao condenado a sua reincorporação à sociedade antes do término da condenação. O objetivo deles tem dupla finalidade: primeiro a pretensão de constituir um estímulo à boa conduta e à adesão do recluso ao regime aplicado, e, de outro modo, pretende que este regime, em razão da boa disposição adquirida pelo interno, que alavanca a consistência paulatina de sua reforma moral e a preparação para do recluso à futura vida em sociedade (2000, p. 98).
Observa-se que neste último regime há uma preocupação de preparar o
preso para sua convivência em sociedade, que desta feita, o destino que se dá para
que o recluso retorne ao convívio social é por meio de sua ressocialização.
23
3 AS PENAS NO SISTEMA JURÍDICO PENAL BRASILEIRO
Conforme o artigo 32 do Código Penal, as penas são privativas de
liberdade, restritivas de direitos e de multa. No que tange ao presente trabalho,
interessam as privativas de liberdade, ou seja reclusão; detenção; e prisão simples.
Em particular, a forma como elas são executadas.
A reclusão se dá quando a pena aplicada for superior a oito anos o
condenado cumprirá tal pena em regime fechado; se a pena alcançada encontra-se
maior que quatro anos e menor que oito anos deverá cumpri-la em regime
semiaberto, se a pena cominada for igual ou menor que quatro anos o condenado a
cumprirá em regime aberto (BRASIL, 1940).
Em relação ao cumprimento da pena em detenção as penas podem ser
aplicada nos regimes iniciais: semiaberto ou aberto, onde respectivamente as
medidas penais cominadas são maiores que quatro anos e menor que oito para o
primeiro e igual ou menor do que quatro anos para o segundo (BRASIL, 1940).
A prisão simples será aplicada às contravenções penais. Como determina
o art. 6º, caput, da LCP: onde a pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor
penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em
regime semiaberto ou aberto, pois nesta espécie de pena o condenado ficará
sempre separado dos demais condenados à pena de reclusão ou de detenção (§ 1º,
do art. 6º, da LCP).
3.1 Princípios característicos da pena
O art.1º da República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana. Além
disso, segundo o Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
24
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação; LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada; LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial; LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e "habeas-data", e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania (BRASIL, 1988).
Segundo o princípio da legalidade, a aplicação da pena deve estar
prevista em lei vigente, não se permitindo que seja cominada em regulamento ou ato
normativo infra legal, pois como reza o Art. 1º - do CP em corolário com o Art. 5º,
XXXIX, da CF/88, os quais prescrevem: não há crime sem lei anterior que o defina,
nem pena sem prévia cominação legal (nulla poena sine praevia lege) (BRASIL,
1988; 1940).
Conforme o princípio da anterioridade, a lei já deve estar em vigor na
época em que for praticada a infração penal, pois desta feita, para a aplicação da
pena é necessário também à relação do Art. 1º, do CP c/c o art.5º, XXXIX, da CF/88
(IDEM).
A personalidade ou responsabilidade pessoal significa dizer que a pena é
personalíssima, ou seja, não pode passar da pessoa do condenado, também
25
denominado princípio da intranscedência, segundo o qual o processo e a pena, bem
como a medida de segurança, não pode ir além da pessoa do autor da infração,
ainda encontra apoio constitucional, mais precisamente no rol dos direitos e
garantias fundamentais, conforme expressa o art. 5º, XLV, da CF/88.
O princípio da individualidade impõe que a aplicação e o cumprimento das
penas deverão ser individualizados de acordo com a culpabilidade e o mérito do
sentenciado, art.5º, XLVI, da CF/88. Ou seja, a imposição da pena deve ser de
acordo com o grau de culpabilidade do autor do fato típico.
Proporcionalidade é um princípio de suma importância, pois a pena deve
ser proporcional ao crime praticado, conforma o art. 5º, XLVI e XLVII, da CF/88. Este
princípio tem por base inibir o excesso de aplicação da pena, bem como, evitar
abuso de autoridade e outras coisas que possa vir a comprometer a aplicação da
pena, desta feita, haverá um equilíbrio entre a infração praticada e a sanção
imposta.
O princípio da humanidade tem por base a proteção da dignidade da
pessoa humana, assim, não são permitidas em nosso ordenamento jurídico
Brasileiro as penas de morte, exceto em caso de guerra declarada, perpétuas, de
trabalhos forçados, de banimento e cruéis (CF, art. º, XLVII).
Segundo, Nucci (2013) por este princípio o Brasil vedou a aplicação de
penas insensíveis e dolorosas, devendo, por isso, respeitar a integridade física e
moral do condenado, que encontra embasamento legal constitucional no art. 5º,
XLIX, da CF/88.
3.2 Regimes de cumprimento de pena
O regime fechado consiste no cumprimento da pena em estabelecimento
penal de segurança máxima ou média, sendo que aqui o condenado receberá uma
pena superior a 8 (oito) anos, deste modo, o cumprimento inicial da pena é no
regime fechado. Aqui o condenado cumpre sua pena em estabelecimento
26
penitenciário, consoante o art. 87, da lei 7210/84; e o condenado ficará sujeito a
trabalho no período diurno e a isolamento durante o repouso noturno. Pois o
trabalho é um direito do preso segundo o inciso II do art. 41 da LEP (BRASIL, 1940).
Ocorre que o Estado, em virtude de sua incapacidade administrativa, não
lhe oferece trabalho, portanto, não poderá o preso ser prejudicado por essa falha,
uma vez que o trabalho assegura o direito à remição da pena, fazendo com que,
para cada três dias de trabalho, o Estado tenha de remir um dia de pena do
condenado, mas em contrapartida o que realmente acontece é que o preso passa
mais todo o tempo de sua condenação com sua liberdade privada, devido
justamente, o Estado não cumprir o que a lei manda, como por exemplo, oferecer
trabalho ao preso para que este possa remir sua pena.
O trabalho externo será possível para os presos em regime fechado
somente em serviços ou obras públicas realizadas por órgãos da administração
direta e indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas às cautelas contra a
fuga e em favor da disciplina de acordo com o que reza o art. 36 da LEP, já o art.37
desta mesma lei (LEP) ainda aduz que a prestação de trabalho externo, a ser
autorizada pela direção do estabelecimento prisional, dependerá de aptidão,
disciplina, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena.
Neste regime a pena deverá ser cumprida em cela individual com
dormitório, aparelho sanitário e lavatório, segundo dispões o art. 88 da LEP, onde o
parágrafo único deste artigo assegura como requisitos básicos da unidade celular: a)
Salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e
condicionamento térmico adequado à existência humana; b) Área mínima de 6 m2
(seis metros quadrados). O condenado ao cumprimento de pena privativa de
liberdade em regime fechado será submetido, no início do cumprimento da pena, a
exame criminológico para obtenção dos elementos necessários a uma adequada
classificação e com vista à individualização da execução conforme o art. 8º da LEP
c/c art. 34, caput do CP.
A penitenciária de homens deverá ser construída em local afastado do
centro urbano a distância que não restrinja a visitação (art. 90 da LEP), e a
penitenciária de mulheres deverá comportar seção para abrigar as presas que ficam
27
gestantes e a parturiente, bem como, deverá comportar berçário para as
condenadas amamentarem e cuidarem de seus filhos até aos seis meses, e de
creche com a finalidade de assistir criança desamparada, que sejam maiores de seis
meses e menores de sete anos de idade e que a responsável esteja presa.
Conforme elenca os artigos. 83, § 2º, em que, os estabelecimentos penais
destinados a mulheres serão dotados de berçário, onde as condenadas possam
cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, até 6 (seis) meses de
idade.” De acordo com o artigo 89, que diz, além dos requisitos referidos no art. 88,
a penitenciária de mulheres será dotada de seção para gestante e parturiente e de
creche para abrigar crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7 (sete) anos,
com a finalidade de assistir a criança desamparada cuja responsável estiver presa.
No regime semiaberto o sentenciado cumpre a pena em colônia penal
agrícola, industrial ou estabelecimento similar, sendo que, no tocante a este
cumprimento de pena o sentenciado que não seja reincidente, e cuja pena aplicada
seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito) anos, que neste caso, poderá
o condenado desde o início, cumpri-la em regime semiaberto.
Neste regime o condenado poderá ser alojado em compartimento
coletivo, observados os mesmos requisitos de salubridade de ambiente exigidos na
penitenciária (conforme expressa os artigos 91 e 92 da lei 7210/84). São requisitos
básicos das dependências coletivas: a) a seleção adequada de presos; b) o limite de
capacidade máxima que atenda aos objetivos da individualização da pena, art. 92,
parágrafo único da LEP. Neste regime é possível o trabalho externo do condenado,
bem como a frequência em cursos supletivos profissionalizantes, e de instrução de
segundo grau ou superior. O trabalho do condenado em regime semiaberto
possibilita, também a remição de sua pena, na proporção de 3 (três) dias de trabalho
por 1 (um) dia de pena remida.
Por fim, o regime aberto é um regime de cumprimento de pena, é
baseado na autodisciplina e no senso de responsabilidade do condenado, permite
que este, fora do estabelecimento e sem vigilância trabalhe ou frequente curso ou
exerça atividade autorizada, durante o período diurno, e recolha-se em casa de
28
albergado ou estabelecimento similar durante o período noturno, bem como nos dias
de folga.
A guia de recolhimento também é uma exigência legal para esse regime;
pois o art. 107 da LEP determina que ninguém será recolhido, para cumprimento de
pena privativa de liberdade, sem a guia expedida pela autoridade judiciária.
Para se adequar a este regime há a necessidade do condenado de estar
trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente, e o inciso II do
art. 114 da LEP ainda exige que o condenado apresente, pelos seus antecedentes,
ou pelo resultado dos exames a que foi submetido, fundados indícios de que irá
ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade, para que comprovados
todos esses elementos o condenado possa se encaixar no regime aberto.
3.3 Progressão e regressão de regime
Iniciado o cumprimento da pena no regime estabelecido na sentença,
possibilita-se ao sentenciado, de acordo com o sistema progressivo, a transferência
para regime menos rigoroso desde que o condenado tenha cumprido ao menos um
sexto da pena no regime ao qual teve início a sua pena, ou seja, o regime anterior,
bem como o mérito do condenado recomendar a progressão de regime.
Segundo explana o § 2º do art. 33 do CP em que as penas privativas de
liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, de acordo com o mérito do
condenado, sendo que a progressão segue um critério de tempo mínimo de
cumprimento de pena que é o objetivo, e que a cada nova progressão exige-se o
requisito temporal de 1/6 de cumprimento de pena, porém a cada progressão o
cumprimento de um sexto da pena baseia-se no restante da pena e não na pena
inicialmente fixada na sentença; quando ao critério subjetivo o qual vem a ser o
mérito do condenado onde com modificações operadas pela lei nº 10792/03 ao
art.112 da LEP, em que a expressão mérito do condenado foi substituída por “bom
comportamento carcerário”, assim atestado pelo diretor do estabelecimento que o
condenado esteja cumprindo pena.
29
A expressão bom comportamento significa o preenchimento de uma série
de requisitos de ordem pessoal, tais como autodisciplina, senso de responsabilidade
do sentenciado e esforço voluntário e responsável em participar do conjunto das
atividades destinadas a sua harmônica integração social, avaliado de acordo com
seu comportamento perante o delito praticado, seu modo de vida e sua conduta
carcerária.
Segundo Rogério Greco (2011) “a progressão também não poderá ser
realizada por “saltos”, ou seja, deverá sempre obedecer ao regime legal
imediatamente seguinte ao qual o condenado vem cumprindo sua pena. não há
possibilidade de, por exemplo, progredir diretamente do regime fechado para o
regime aberto, deixando de lado o regime semiaberto”. De acordo com o
entendimento de Capez (2012):
progressão por salto, só há um caso em que a jurisprudência admite a progressão de regime por salto: quando o condenado já cumpriu 1/6 da pena no regime fechado, e deste modo não consegue a passagem para o semiaberto por falta de vaga, permanece mais 1/6 no fechado e acaba por cumprir esse 1/6 pela segunda vez. Onde neste caso, entende-se que, ao cumprir 1/6 pela segunda vez no mesmo regime, qual seja o fechado, embora estivesse de fato no mesmo regime, juridicamente ele se encontrava cumprindo pena no semiaberto, não se podendo alegar que houve, verdadeiramente, um salto.
No que diz respeito, ainda, à progressão de regime, o Supremo Tribunal
Federal, na sessão plenária de 24 de setembro de 2003, aprovou as súmulas nº 716
e nº 717, que dizem respectivamente. Admite-se a progressão de regime de
cumprimento da pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela
determinada, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. Não impede a
progressão de regime de execução da pena, fixada em sentença não transitada em
julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão especial. Vale destacar a seguinte
jurisprudência do STF sobre o cálculo de 1/6 para a progressão:
Ementa: "Habeas corpus". Progressão de regime de cumprimento de pena.
Interpretação da parte final ao artigo 112 da Lei de Execução
Penal (Lei 7210, de 11 de julho de 1984). - O calculo de 1/6 da pena a que,
para fins de progressão de regime de seu cumprimento, se refere à parte
final do artigo 112 da Lei de Execução Penal tem como base a pena
30
imposta na sentença que se está executando, e não o tempo que resta da
pena. Inadmissibilidade, no caso, de aplicação analógica do
artigo 113 do Código Penal. "Habeas corpus" indeferido (STF).
Convém, ainda, destacar a Súmula vinculante de nº 26 discorre da seguinte
forma: Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime
hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do
art. 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o
condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício,
podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame
criminológico.
A regressão de regime vem disciplinada no art. 118 da LEP, que diz que a
execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a
transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado: I -
praticar fato definido como crime doloso ou falta grave; II - sofrer condenação, por
crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em execução, torne incabível
o regime (conforme o artigo 111da LEP). Conforme o § 1°, o condenado será
transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas nos incisos anteriores,
frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa cumulativamente
imposta. Já nos termos do § 2º, nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior,
deverá ser ouvido previamente o condenado.
Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: incitar ou
participar de movimento que subverter a ordem ou a disciplina; fugir; possuir,
indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem;
provocar acidentes de trabalho; descumprir, no regime aberto, as condições
impostas; inobservar os deveres referentes à obediência ao servidor e respeito a
qualquer pessoa com quem deva relacionar-se e à execução do trabalho, das
tarefas e das ordens recebidas; tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho
telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou
com o ambiente externo, conforme elenca o art. 50 da LEP.
No entender de Rogério Greco (2011), o qual assinala que, deve ser
esclarecido que a primeira parte do inciso I do art. 118, segundo o próprio, entende
31
que tal dispositivo não foi recepcionada pela nossa Constituição Federal; isso
porque o legislador constituinte, de forma expressa, consagrou em nosso texto maior
o princípio da presunção de inocência, asseverando, em seu art.5º, LVII, que
ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória (GRECO, 2011).
Contudo, no caso de fato definido como crime, entendemos que a regressão
ocorrerá somente quando houver uma decisão definitiva a respeito da infração penal
levada a efeito pelo condenado (GRECO, 2011).
3.4 Uma breve análise da Lei de Execução Penal
A execução penal é um procedimento destinado à aplicação da pena ou
de medida de segurança fixada por sentença. Em regra, a execução penal não
prossegue como fase subsequente ao processo penal condenatório, mas como
processo autônomo. Isso equivale a dizer que os autos são reproduzidos por cópia
e, desse modo, formado novo volume com as peças imprescindíveis ao
acompanhamento de cumprimento da pena e da concessão de benefícios,
notadamente com a guia de execução penal inclusa, Marcão (2012).
Conforme discorre Marcão (2012, p.32), “a Execução Penal é de natureza
jurisdicional, não obstante a intensa atividade administrativa que a envolve”.
A Lei nº 7.210/84 disciplina a execução penal, com institutos jurídicos
próprios, em atenção a medidas de Política Criminal. No entanto, a lei em tela é
pautada pelos princípios gerais da execução penal, merecendo um estudo detalhado
de tais diretrizes, com o objetivo de melhor elucidar tal regra na construção de uma
norma mais justa e eficaz.
O objetivo geral da execução penal é o de efetivar as disposições da
sentença ou decisão criminal. Segundo o art. 1º da LEP, a execução penal tem por
objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar
condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.
32
Assim, a Lei de Execução Penal, nº 7.210, de 11 de Julho de 1984, trata
sobre o direito do reeducando nas penitenciárias do Brasil, e a sua reintegração à
sociedade. Apenas a título de curiosidade é bom lembrar que a lei Nº 10.792, de 1º
de Dezembro de 20032, alterou as leis: Lei n 7.210, de 11 de junho de 1984 - Lei de
Execução Penal; Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de
Processo Penal e estabeleceu outras providências. Importante ressaltar que as leis
mencionadas acima apenas modificaram a Lei de Execução Penal, que continua em
vigor.
Para Mirabete “na moderna concepção penitenciária, o momento da
execução da pena contém uma finalidade reabilitadora ou de reinserção social,
assinalando-se o sentido pedagógico do trabalho”. Entende-se hoje por trabalho
penitenciário a atividade dos presos e internados, no estabelecimento penal ou fora
dele, com remuneração equitativa e equiparada ao das pessoas livres no
concernente à segurança, higiene e direitos previdenciários e sociais (MIRABETE
2004).
3.4.1 Assistência ao preso
Ao preso e ao internado é assegurado o direito à assistência. Estabelece
o art. 10 da Lei de Execução Penal que “a assistência ao preso e ao internado é
dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em
sociedade”, O parágrafo único do respectivo artigo estende tal assistência ao
egresso. Tal assistência tem por escopo evitar tratamento discriminatório e
resguardar a dignidade da pessoa humana.
Segundo comenta MARCÃO (2012), a lei não restringe a assistência
apenas e tão somente aos condenados definitivos. Ao passo que de outro vértice,
internado é o que se encontra submetido a medida de segurança consistente em
internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, em razão de decisão
judicial.
33
A assistência referida pela Lei de Execução Penal será das seguintes
espécies: Assistência material; Assistência à saúde; Assistência jurídica; Assistência
educacional; Assistência social; Assistência religiosa; Assistência ao egresso.
A assistência material, notadamente prevista na LEP, a qual destina-se
ao preso e ao internado que consistirá no fornecimento de alimentação, vestuário e
instalações higiênicas. O estabelecimento disporá de instalações e serviços que
atendam aos presos nas suas necessidades pessoais, além de locais destinados à
venda de produtos e objetos permitidos e não fornecidos pela Administração.
A assistência jurídica é mais um dos benefícios da lei 7210/84, destinada
aos presos e aos internados que não têm recursos financeiros e que não podem
constituir advogado. Segundo o art.16, da LEP:
As Unidades da Federação deverão ter serviços de assistência jurídica, integral e gratuita, pela Defensoria Pública, dentro e fora dos estabelecimentos penais. (Redação dada pela Lei nº 12.313, de 2010). § 1º As Unidades da Federação deverão prestar auxílio estrutural, pessoal e material à Defensoria Pública, no exercício de suas funções, dentro e fora dos estabelecimentos penais. (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010). § 2º Em todos os estabelecimentos penais, haverá local apropriado destinado ao atendimento pelo Defensor Público. (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010). §3º Fora dos estabelecimentos penais, serão implementados Núcleos Especializados da Defensoria Pública para a prestação de assistência jurídica integral e gratuita aos réus, sentenciados em liberdade, egressos e seus familiares, sem recursos financeiros para constituir advogado. (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
A assistência educacional é mais um item que tem embasamento leal
dedicado ao preso ou egresso, que compreenderá a instrução escolar e a formação
profissional do preso e do internado, sendo aqui um dos passos para tirar o preso ou
egresso da ociosidade e proporcioná-los a ressocialização. Assim sendo, conforme
os artigos 18 ao 21 da Lei 7210/84, o ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-
se no sistema escolar da Unidade Federativa. O ensino profissional será ministrado
em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico. A mulher condenada terá
ensino profissional adequado à sua condição.
As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com entidades
públicas ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados.
34
Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de uma
biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos,
recreativos e didáticos.
A assistência social vem expressa na lei 7210/84, e tem por finalidade
amparar o preso e o internado, e tem o condão de ressocializá-los, e bem assim,
prepará-los para o retorno à liberdade e deste modo a convivência em sociedade.
Reza o Art. 23 da lei 7210/84 que incumbe ao serviço de assistência
social: conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames; relatar, por escrito, ao
Diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentadas pelo
assistido; acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas
temporárias; promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;
promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do
liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade; providenciar a obtenção de
documentos, dos benefícios da Previdência Social e do seguro por acidente no
trabalho; orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e
da vítima.
A assistência religiosa é mais uma forma de humanizar e um dos meios
de ressocialização dos presos e internados, e será prestada com liberdade de culto,
permitindo-se lhes a participação nos serviços organizados no estabelecimento
penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa. No estabelecimento
haverá local apropriado para os cultos religiosos, e nenhum preso ou internado
poderá ser obrigado a participar de atividade religiosa, pois trata-se de uma atividade
facultativa.
A assistência não se estende apenas ao preso ou internado, mas
também, se estenderá tal assistência com fulcro no art. 25 da lei de execução penal,
onde será concedida ao egresso o seguinte: consistência na orientação e apoio para
reintegrá-lo à vida em liberdade; na concessão, se necessário, de alojamento e
alimentação, em estabelecimento adequado, pelo prazo de 2 (dois) meses. Esse
prazo de 2 (dois) anos poderá ser prorrogado uma única vez, comprovado, por
declaração do assistente social, o empenho na obtenção de emprego.O art. 26 do
dispositivo legal em comento diz ser o egresso para os efeitos desta Lei: o liberado
definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do estabelecimento e o
35
liberado condicional, durante o período de prova. olaborará com o egresso para a
obtenção de trabalho o serviço prestado pela assistência social.
3.4.2 Deveres e direitos dos presos
São deveres do condenado, e também, no que couber, do preso
provisório, além das obrigações legais inerentes ao seu estado, submeter-se às
seguintes normas de execução da pena, especialmente:
Comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença; obediência ao
servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se;
urbanidade e respeito no trato com os demais condenados; conduta oposta
aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordem
ou à disciplina; execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;
submissão à sanção disciplinar imposta; indenização à vítima ou aos seus
sucessores; indenização ao Estado, quando possível, das despesas
realizadas com a sua manutenção, mediante desconto proporcional da
remuneração do trabalho; higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;
conservação dos objetos de uso pessoal.
Aplicam-essas obrigações, não só aos presos definitivos ou internados,
mas ao preso provisório.
Todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei impostos ao
condenado ou internado são garantidos, sendo vedada qualquer distinção de
natureza racial, social, religiosa ou política.
Portanto, as autoridades devem assegurar o respeito à integridade física
e moral dos condenados, dos presos provisórios e dos submetidos à medida de
segurança, posto isso, constituem direitos da pessoa com sua privação de liberdade,
os seguintes: alimentação suficiente e vestuário; atribuição de trabalho e sua
remuneração; Previdência Social; constituição de pecúlio; proporcionalidade na
distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação; exercício das
atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que
compatíveis com a execução da pena;
36
Esses direitos se estendem à assistência material, à saúde, jurídica,
educacional, social e religiosa; proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;
entrevista pessoal e reservada com o advogado; visita do cônjuge, da companheira,
de parentes e amigos em dias determinados; igualdade de tratamento salvo quanto
às exigências da individualização da pena; e outros (Incluído pela Lei nº 10.713, de
2003).
Em compasso com o que determina o art.15 da CF/, os direitos políticos
não serão cassados, porém, na hipótese de condenação criminal transitada em
julgado, os direitos políticos ficarão suspensos enquanto persistirem os efeitos da
condenação. Por sua vez, o preso definitivo que é o condenado por sentença
condenatória transitada em julgado, não pode exercer os direitos políticos de
cidadania no sentido estrito, ou melhor, ele não poderá votar e nem ser votado. É o
que se vê nas providências finais das sentenças condenatórias, com a ordem do juiz
para oficiar à justiça eleitoral, que desta forma, comunicará a suspensão dos direitos
políticos em virtude da pena imposta.
Observa-se que tal medida não se estende aos presos provisórios e nem
aos submetidos à medida de segurança, porém, na prática há dificuldades para tais
presos exercerem tais direitos, pois conforme argumenta a Justiça Eleitoral acerca
de tal situação, existe uma inviabilidade de instalação de seções eleitorais no interior
dos presídios o que somado a estas dificuldades impossibilita os presos provisórios
de exercerem sua cidadania.
3.4.3 O trabalho do preso
De acordo com a Lei de Execução Penal, o trabalho tem natureza híbrida,
é direito do preso, e desta feita é instrumento que assegura sua dignidade humana,
tem finalidade educativa e produtiva, e também, sob este último enfoque, é um dever
social que deve respeitar às precauções referentes à segurança e à higiene,
porquanto não esteja submetido ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho.
37
O trabalho quanto ao preso político constitui uma exceção, pois o art. 200
da lei de execução penal diz que, o condenado por crime político não está obrigado
ao trabalho. É devida remuneração em razão do trabalho prestado pelo condenado,
sendo prestado ao mesmo os benefícios da Previdência Social, conforme preconiza
o art. 39, do Código Penal. O preso terá por remuneração ¾ (três quartos) do salário
mínimo.
O trabalho do condenado poderá ser interno ou externo. A LEP estabelece
que o condenado à pena privativa de liberdade tem o dever de trabalhar na medida
de suas aptidões e capacidade. O trabalho para o preso provisório não é obrigatório,
mas quando prestado por este, só poderá ser executado no interior do
estabelecimento (GRECO, 2011).
Por outro lado, o trabalho externo será admissível para os presos
condenados em regime fechado, desde que se trate de serviço ou obras públicas
realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas,
sendo necessária a tomada das cautelas contra a fuga e em favor da disciplina (art.
36, LEP):
§ 1º O limite máximo do número de presos será de 10% (dez por cento) do total de empregados na obra. § 2º Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a remuneração desse trabalho. § 3º A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso do preso.
O objetivo do trabalho destinado aos presos é uma garantia e não a
aplicação de uma segunda punição àquele que já tem a liberdade cerceada, mas,
pelo contrário, possibiliata reabilitar e ressocializar o preso, auxiliando sua
recuperação e preparando-o para a reinserção na vida em sociedade por meio do
mercado de trabalho. Ainda é importante ressaltar, que quando sair do sistema
prisional, o mesmo buscará sua readaptação social através do trabalho, ajudando
assim sua empregabilidade futura.
38
4 OS LIMITES E POSSIBILIDADES DA RESSOCIALIZAÇÃO NO CEARÁ
Só no ano passado, ou seja, no ano de 2013, 32 presos foram mortos no
Ceará. Segundo relatam os agentes penitenciários, equipamentos de alta tecnologia,
comprados pelo governo, estão fora de uso por falta de locais adequados para
serem usados. A situação dramática das cadeias públicas e a livre entrada de
drogas e celulares nas cadeias é uma constante. Além disso, nas ruas, agentes
prisionais protestam por melhores condições de trabalho.
Confirmando a falência do sistema prisional cearense, o Conselho
Nacional de Justiça realizou um mutirão, em 06/08/2013 e com previsão de término
para o dia 06/09/2013, cujo objetivo delineado era a análise de benefícios que
pudessem ser concedidos aos presos provisórios e condenados no Estado do
Ceará. O diagnóstico do CNJ revelou que o Estado não tem um controle efetivo da
população carcerária.
4.1 Os dados do CNJ sobre a superlotação do sistema prisional brasileiro
O Brasil está entre os países com maior população carcerária do mundo.
O levantamento carcerário mundial com os dez países de maior população
carcerária demonstra isso. Senão vejamos o ranking dos 10 países com maior
população prisional do mundo divulgado pelo CNJ (2014)1:
1 Trata-se de levantamento do CNJ inédito e que foi apresentado na última quarta-feira do mês de
junho de 2014 a representantes dos tribunais de Justiça brasileiros. No estudo, o conselho consultou os juízes responsáveis pelo monitoramento do sistema carcerário dos 26 estados e do Distrito Federal. A pesquisa inclui também levantamento das prisões domiciliares. A nova população carcerária brasileira é de 711.463 presos. Os números apresentados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a representantes dos tribunais de Justiça brasileiros, nesta quarta-feira (4/6), levam em conta as 147.937 pessoas em prisão domiciliar. Para realizar o levantamento inédito, o CNJ consultou os juízes responsáveis pelo monitoramento do sistema carcerário dos 26 estados e do Distrito Federal. De acordo com os dados anteriores do CNJ, que não contabilizavam prisões domiciliares, em maio deste ano a população carcerária era de 563.526 (CNJ, 2014).
39
Embora em números absolutos o Brasil se encontre na 4ª posição,
levando-se em consideração os mais de 147 mil presos em prisão domiciliar, o Brasil
fica em 3ª (terceira) posição2. Assim, de fato, no ranking dos dez países com maior
população carcerária, o Brasil se encontra em duas posições, ocupando a 3ª
(terceira) posição, quando se leva em conta os presos em prisão domiciliar (CNJ,
2014). Senão vejamos:
2 A nova metodologia adotada pelo CNJ, no levantamento que resultou nos dados aqui debatidos,
além de alterar a população prisional total, a inclusão das prisões domiciliares no total da população carcerária também derruba o percentual de presos provisórios (aguardando julgamento) no País, que passa de 41% para 32%. Em Santa Catarina, a porcentagem cai de 30% para 16%, enquanto em Sergipe, passa de 76% para 43%. “A porcentagem de presos provisórios em alguns estados causava uma visão distorcida sobre o trabalho dos juízos criminais e de execução penal. Quando magistrados de postura garantista concediam prisões domiciliares no intuito de preservar direitos humanos, o percentual de presos provisórios aumentava no estado”, disse o coordenador do DMF/CNJ, juiz Douglas Martins. O novo número também muda o déficit atual de vagas no sistema, que é de 206 mil, segundo os dados mais recentes do CNJ. “Considerando as prisões domiciliares, o déficit passa para 354 mil vagas. Se contarmos o número de mandados de prisão em aberto, de acordo com o Banco Nacional de Mandados de Prisão – 373.991 –, a nossa população prisional saltaria para 1,089 milhão de pessoas”, afirmou o conselheiro Guilherme Calmon.
40
De acordo com esses dados observa-se que o número de presos no país
chegou à cifra de 715 655 pessoas presas, com isso, o Brasil passa a ter a terceira
maior população carcerária do mundo. O dado foi divulgado no dia 05 de junho de
2014 pelo Conselho Nacional de Justiça e envolve detentos nas penitenciárias e em
prisão domiciliar. Vê-se que o ranking é liderado pelos Estados Unidos com
2.228.424 presos, seguido da China com 1.701.344 pessoas presas (CNJ, 2014).
Estes dados permitem compreender o problema da superlotação
carcerária do país. O sistema carcerário brasileiro tem capacidade para 357.219
presos, portanto, o déficit nacional é de 210.436 vagas, se levar em consideração o
número de prisões domiciliares, o déficit passa para 358 mil vagas (CNJ, 2014).
41
Conforme o CNJ, o número atualizado de detentos coloca o Brasil como a
terceira maior população carcerária do mundo, considerando informações do Centro
Internacional de Estudos Prisionais, do King’s College, de Londres. A Rússia que
tem 676.400 presos ocupava a terceira posição do ranking.
4.2 Dados do CNJ sobre a superlotação do sistema prisional cearense
Conforme demonstra a tabela abaixo, extraída da pesquisa feita pelo
CNJ, o Estado do Ceará tem uma das maiores populações carcerárias do País. De
fato, com base no levantamento carcerário das unidades da Federação, observa-se
que a população carcerária atual do Ceará é de 15.447 presos, onde sua
capacidade é de 11015 (onde mil e quinze) vagas, assim há 4.432 presos a mais
que a capacidade (CNJ, 2014).
Esses dados são de levantamento realizado pelo Departamento de
Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de
Medidas Socioeducativas, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O excedente de
presos é de 40% (quarenta por cento). Com isso, o Ceará ocupa o 9º nono lugar do
42
ranking de população carcerária e o 10º em déficit de vagas no sistema penal
brasileiro (CNJ, 2014).
Além disso, de acordo com o gráfico em análise, verifica-se que em
relação à população carcerária do Nordeste do País o Ceará ocupa o segundo lugar
com o maior número de pessoas presas, perdendo apenas para o estado de
Pernambuco, percebe-se pelo gráfico que o Estado do Ceará conta com uma
população de 15447 pessoas presas, enquanto, Pernambuco tem 30149 presos.
Com isso, a cada dia, não só piora a credibilidade do Estado em
ressocializar o detento, como também aumentam os números da criminalidade nas
ruas. Isso porque não se pode prender o criminoso se não se tem local digno para
mantê-lo preso.
Segundo dados da própria Secretaria de Administração Penitenciária, há
nas casas que foram visitadas 6.774 (seis mil e setecentas e setenta e quatro)
vagas, mas havia, nas datas das respectivas inspeções, uma população carcerária
de 8.636 (oito mil e seiscentos e trinta e seis) presos. Ocasionando, assim, um déficit
de 1.862 (um mil e oitocentas e sessenta e duas) vagas, o que faz com que algumas
casas prisionais transformem-se em um verdadeiro depósito de pessoas que vivem
43
amontoadas de forma indigna, com total desrespeito a seus direitos humanos
básicos.
Lamentavelmente, a realidade da superlotação carcerária no Estado do
Ceará é algo bastante preocupante para os órgãos estaduais e para toda a
sociedade, pois, a partir do momento em que não há políticas públicas, a
vulnerabilidade atingirá todos os setores locais, prejudicando ainda mais a imagem
do Estado no cenário internacional.
4.2.1 Evolução da população carcerária cearense de 2013 para 2014
Segundo reportagem realizada pela Rede Record de Televisão em
07/03/2014, com a superlotação e a falta de agentes penitenciários situações que
transformam as prisões do Ceará em um caos. Em Maranguape, no interior do
Estado, na cadeia pública, detentos ocupam celas sem luz e sem água, que foi
interditada pela Vigilância Sanitária. Em Fortaleza, e no entorno da capital cearense,
a situação não é diferente (R7.COM).
Isso mostra que poder público cearense, mais precisamente a Secretaria
de Justiça e Cidadania (SEJUS) a qual é responsável diretamente pelo sistema
penitenciário do estado do Ceará, apresenta sérios problemas na sua estrutura
administrativa carcerária, pois esta secretaria tem por responsabilidade abrigar os
presos ou internados e de oferecê-los condições dignas de higiene e alojamento;
mas a realidade carcerária cearense passa por momentos inóspitos com relação aos
seus detentos, situação que fere um direito constitucional adquirido aos presos,
onde nossa carta magna assegura aos mesmos, o respeito à integridade física e
moral (art. 5º, inciso XLIX da CF/88).
Nesse sentido um confronto dos dados da população carcerária cearense,
produzidos pela Secretaria de Justiça do Estado do Ceará (SEJUS) pode ser
esclarecedor. Vejamos os dados relativos ao ano de 2013:
44
Vejamos o levantamento carcerário de dezembro de 2014:
PENITENCIÁRIAS E PRESÍDIOS
UNIDADES CAPACIDADE TOTAL EXCEDENTES
CPPL CAUCAIA 900 980 80 8.88%
CPPL I 900 1256 356 39,55%
CPPL II 944 1584 640 67,79%
CPPL III 944 1562 618 65,46%
CPPL IV 944 1642 698 73,94%
IPPOO II 493 923 430 87,22%
IPFHVA 525 925 400 76,19%
PIRC 549 705 156 28,41%
45
PIRS 500 626 126 25,2%
IPF (Feminino) 374 698 324 86,63%
TOTAL 7073 10901 3828 54,12%
COMPLEXOS HOSPITALARES
UNIDADE CAPACIDADE TOTAL EXCADENTES
HSPOL 33 34 1 3%
TOTAL 33 34 1 3%
CADEIAS PÚBLICAS
UNIDADES CAPACIDADE TOTAL EXCEDENTES
MASCULINO 3164 6617 3453 109,13%
FEMININO 142 254 112 78,87%
TOTAL 3306 6871 3565 188%
COLÔNIAS AGRÍCOLAS
UNIDADES CAPACIDADE TOTAL EXCEENTES
CAPJAEM 40 10 -30 -75%
CA. AMANARI 120 0 -120 -100
TOTAL 160 10 -150 93,8%
CASAS DE ALBERGADO
IPPOO I CAPACIDADE TOTAL
IPPOO I 393 680
ALB. FORTALEZA CAPACIDADE TOTAL
MASCULINO 0 2317
FEMININO 0 81
AIB. ITAPIPOCA CAPACIDADE TOTAL
MASCULINO 0 90
FEMININO 0 0
ALBERGADO SOBRAL CAPACIDADE TOTAL
MASACULINO 48 236
FEMININO 12 20
ALBERGADO TURURU CAPACIDADE TOTAL
MASCULINO 0 4
FEMININO 0 0
TOTAL 60 2748
DELEGACIAS
CAPACIDADE TOTAL
MASCULINO 67 173
FEMININO 0 0
TOTAL 67 173
TOTALGERAL
MASCULINOS FEMININOS TOTAL
20363 972 21335
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Conforme se nota, é percebido que a quantidade de presos provisórios do
Estado Cearense é maior do que o de presos definitivos, ou seja, daqueles que já
foram julgados, talvez isto mostra a morosidade do poder judiciário para com a
população carcerária notadamente o estado em foco. Que pelo percentual
apresentado, mais da metade de nossa população prisional ainda aguardam
julgamento.
Por esse levantamento mostra-se como cresce o número de pessoas
presas no estado do Ceará, o que mostra também, que ainda perdura um déficit no
número de vagas nos estabelecimentos prisionais do estado, ou seja, a cada
contagem feita pelo órgão responsável do sistema carcerário sempre há uma
carência do número de vagas, o que somado a isso contribui pela má condição
higiênica dos presos.
4.3 Projetos voltados para ressocialização dos presos no Ceará
De acordo com dados encontrados na Secretaria de Justiça e Cidadania,
(SEJUS) existem, dentro do sistema penal cearense, alguns projetos que buscam
realizar uma ressocialização do encarcerado, projetos esses que estão em pleno
funcionamento.
Tratam-se dos seguintes projetos: acordes para a vida - Aulas de violão
para internos; arca das letras - produção de arcas que são doadas para serem
utilizadas como biblioteca; batalhão ambiental - programa de limpeza dos parques
públicos; brincar vir ver - ações que buscam fomentar os vínculos afetivos entre as
mães dos presidiários e seus filhos, de até 11 anos de idade; cores da liberdade -
parceria com empresas privadas que capacitam presos para trabalhar com pinturas
e ainda harmonizam as unidades prisionais com cores; fabricando oportunidade -
oportuniza o trabalho de artesanato dentro das unidades: patchwork, tenerife,
tapeçaria, mosaico e outros artesanatos.
Além destes, há também os projetos: lapidar - Programa de fabricação de
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joias e lapidação das pedras; Maria Marias - Oferta de cursos de integração social
nas áreas de dança de salão, coral, ginástica e teatro e de capacitação profissional
nas áreas da construção civil, corte e costura, artesanato, informática, jardinagem,
cabeleireira, depilação, manicure e culinária; mãos que constroem - Amplo projeto
que capacita e emprega presos na construção civil de obras públicas, a exemplo da
Arena Castelão, obras de mobilidade urbana e urbanização, além de programas de
habitação popular; plantando o amanhã - Capacitação de jardinagem para os
cumpridores dos regimes aberto e semiaberto; oficina de serigrafia - Fabricação e
confecção de peças com pintura feita a partir de técnicas de serigrafia; vozes da
liberdade - Coral com turmas na unidade masculina e unidade feminina; grafitar -
Ensino de técnica do grafite para internos3.
Diante de tantos programas que viabiliza a volta do detento ao convívio da
sociedade, fazemos a seguinte pergunta. Porque os dados do CNJ e outros órgãos
não vê crescimento na Ressocialização? Onde estará o erro? Será que o Estado
esta tem profissionais capacitados? Algum problema deve existir. Do ponto de vista
prático, não é possível que o Estado do Ceará com tantos projetos ainda seja
considerados um dos piores sistemas carcerário do país.
Esses projetos não estão funcionando de forma a abarcar todos os
presos, ou então, são dados que ainda não saíram do papel, pois como já mostrado,
o sistema prisional cearense encontra-se numa situação de estrangulamento, haja
vista, a superlotação de detentos numa mesma cela sem as mínimas condições de
higiene e outras formas básicas de propiciar ao preso um melhor bem-estar.
Resta saber se há uma fiscalização das autoridades competentes no
acompanhamento desses projetos, e se na pedagogia deles para com os presos há
profissionais qualificados que possam instruí-los de forma a capacitá-los a uma
condição digna de ser humano na busca de se tornar uma pessoa qualificada e
pronta para sua reinserção no convívio social.
3 Com tantos projetos voltados para tirar os presos da ociosidade, de animá-los a se dedicar a uma
determinada profissão e dela tirar o próprio sustento e de sua família, somado a parte voltada a remição da pena, pois tais projetos além de capacitar os presos lhes garante a diminuição da pena. Contudo, de fato, tais projetos não estão surtindo o efeito necessário ao sistema carcerário cearense. Percebe-se nesta dinâmica algum tipo de erro, o qual deverá ser investigado e saber de onde encontra-se o mistério que ainda não alavancou a ressocialização no sistema prisional cearense.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
O objetivo desse trabalho foi demonstrar que, embora a Lei de Execução
Penal, Lei nº 7210/84, seja norteada por princípios que representam um ganho para
os presos definitivos e provisórios – representando no campo abstrato certa
segurança jurídica tanto para os presos como para a sociedade – até agora, depois
de mais de 30 (trinta) anos de sua vigência, ainda é muito pouco eficaz para
transformar a realidade carcerária brasileira.
Observa-se que um dos mais importantes objetivos da LEP, a aplicação
da ressocialização do preso no sistema prisional do Brasil e principalmente do
Estado do Ceará, ainda não foi alcançado. A realidade prisional cearense demonstra
isso. O Estado do Ceará é o primeiro do nordeste Brasileiro que apresenta más
condições de higiene, acompanhada de uma massa carcerária que vive em um
ambiente prisional que não oferece condições mínimas de dignidade para seus
presos ou internados, segundo informações colhidas pelo CNJ.
Frente a esses problemas percebe-se que a população carcerária
cearense encontra-se à míngua, ou seja, eles precisam com urgência que as
autoridades competentes tenham, ou melhor, assumam a responsabilidade de
organizar o seu sistema prisional, e dessa forma, possibilitar aos seus presos
melhores condições de vida.
Em face desse quadro, é necessário que haja uma cobrança pela
população cearense, bem como, pela família dos presos no intuito de cobrar das
autoridades competentes a aplicação da lei de execução penal em suas
penitenciárias, para que os presos sejam melhor acolhidos.
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REFERÊNCIAS
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