View
224
Download
1
Category
Preview:
Citation preview
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Jlio de Mesquita Filho
CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE Faculdade de Cincias e Tecnologia
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA rea de Concentrao: Produo do Espao Geogrfico
Circulao e logstica territorial: a instncia do espao e a circulao corporativa
ROBERTO FRANA DA SILVA JUNIOR
Orientador PROF. DR. ELISEU SAVRIO SPOSITO
Presidente Prudente-SP 2009
Livros Grtis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grtis para download.
UNIVERSIDADEESTADUALPAULISTAJliodeMesquitaFilho
FACULDADEDECINCIASETECNOLOGIACAMPUSDEPRESIDENTEPRUDENTE
PROGRAMADEPSGRADUAOEMGEOGRAFIA
Circulaoelogsticaterritorial:ainstncia
doespaoeacirculaocorporativa
RobertoFranadaSilvaJunior
Orientador:EliseuSavrioSposito
TeseapresentadaaoProgramadePsGraduaoem Geografia da Unesp, campus de PresidentePrudente,nareadeconcentrao:Produodoespaogeogrfico,paraaobtenodo ttulodedoutoremGeografia.
PresidentePrudenteSP
Agostode2009
Silva Junior, Roberto Frana da.
S578c Circulao e logstica territorial: a instncia do espao e a circulao corporativa / Roberto Frana da Silva Junior. - Presidente Prudente : [s.n], 2009
374 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Cincias e Tecnologia Orientador: Eliseu Savrio Sposito Banca: Ricardo Abid Castillo, Mara Mnica Arroyo, Mrcio
Rogrio Silveira, Athur Magon Whitacker Inclui bibliografia 1. Circulao. 2. Logstica. 3. Produo do espao. I. Autor. II.
Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Cincias e Tecnologia. III. Ttulo.
CDD (18.ed.) 910
Ficha catalogrfica elaborada pela Seo Tcnica de Aquisio e Tratamento da Informao Servio Tcnico de Biblioteca e Documentao - UNESP, Cmpus de
Presidente Prudente.
Dedico esta tese aos meus pais e ao meu irmo que
renasceram,cadaumaseumodo;
Nani,peloamor,dedicaoecompanheirismo;
Nayla que nasceu junto com esta tese, apesar dos
diferentestemposdegestao.
AGRADECIMENTOS
Afora
Estateseoresultadodeumabatalhapessoal,noapenasnaacademia,mas
tambmna vida, emque tiveque suplantar vriosobstculos edificuldades.
Nessepercurso,vriaspessoasforamresponsveisdiretaouindiretamentepela
elaboraodestetrabalho.
Primeiramente,destacoEliseuSavrioSposito,pessoa fundamentalnaminha
formao,quesemprefoi,aolongodeseteanosdeorientao(entremestrado
e doutorado), respeitoso, exigente com a conformidade dos processos,
espirituosoeeducadonotratamentoprofissional.Agradeomuitoaconfiana
depositadaemmimparaescreverestatese.
Oestmulo
Quero ressaltar tambm, a importncia de outros professores que tiveram
participaofundamentalnoprocessodeconstruodestatese,prepso
meuingressonodoutoradonaUnesp.
No perodo de prdoutoramento, agradeo Mnica Arroyo que foi, sem
sombra de dvida, uma fonte de inspirao.A sua participao na banca da
minha dissertao demestrado e, principalmente a disciplinaministrada na
Universidade de So Paulo (Territrio e circulao), fomentou em mim a
vontadedeanalisaranoodecirculao.
Nesseperodo,tambmagradeoMaraLauraSilveira,pessoaespecialegentil,
que abriu as portas do Laboplan para que eu pudesse desempenhar
atividadesjuntoaogrupo.Noentanto,arotinanaEscolaEstadualJosAlvim,
deAtibaiaSP,aospoucos foi inviabilizando talprojeto.Adisciplinaministrada
porela(QuestesdemtodoemGeografia)foicrucialnaconstruodatese.
Tambm destaco em sua pessoa um estmulo bastante importante, em um
momentobastantedifcilquevivi.
Quero agradecer tambm a Ricardo Castillo, sem dvida nenhuma uma das
pessoas mais importantes na minha trajetria profissional. Nunca mais
esquecereiodiaqueoconheci,antesmesmodomeu ingressonodoutorado,
umapessoabastanteatenciosaereceptiva.Osconvitesparaqueeufizesseuma
fala junto aos seus orientandos e para a avaliao de monografia foram
estmulosparaqueeuacreditassequemeutrabalhoeravivel.
Oincio(eduranteoscrditos)
Agradeo minha exdiretora da Escola Estadual Jos Alvim, Dona Ana
Regina,quefoicompreensivanabuscademeusonhoprofissional,permitindo
algumassadasparaqueeupudesseprestarconcursoseoexamedoPrograma
dePsGraduao.Tambmqueroaproveitarparaagradecervriosprofessores
que sempreme incentivaram: Lris, Ariadne, Oduvaldo,Mara, Ana Cristina,
Valmara, Ivan,Valria, Imaculada,Mnica, Luiz, Juarez,Karen, Lita,Valria,
Valmara entre outros professores. Existia um climamuito bom e favorvel.
Achoqueistofacilitoualgumascoisasparamim.
Desde a prova de seleo at o ingresso no doutorado, outras pessoasme
acolheram e me auxiliaram com informaes, entrega e busca de
documentaes etc. So eles: Rones Borges Silva, Antonio Sobreira, Luiso
(Luis Paulo Valente) e Gelson Yoshio Guibu. No est representada aqui a
amizade de Rones e de Gelson neste perodo, alm do Cidinho (Aparecido
Coitino)que,emboranotenhacontribudodiretamente,eugostariadeprestar
umahomenagemaohomemqueelerepresenta.
Nocumprimentodecrditosemdisciplinas,tambmdestacoaimportnciade
quatroprofessores:OsvaldoCoggiola,WilsondoNascimentoBarbosa,Heinz
Dieter Heidemann (os trs da Universidade de So Paulo) e ArthurMagon
Whitacker (Universidade Estadual Paulista, campus de Presidente Prudente),
que possibilitaram a feitura de artigos e que contriburam muito para a
organizaodatese.
Os dois primeiros possibilitaram uma nova forma de enxergar a Histria do
ponto de vista terico emetodolgico.Dieter possibilitou que eu reforasse
teoricamenteadiferenaentremobilidadepopulacionalecirculao.
JArthur,consideroumdosmelhoresprofessoresque tive,semprededicado,
colegademuitasconversasesemprepaciente,atentoaouvirtodasasopinies
paradepoisseposicionardecisivamentedemodobastantetranquilo.
Aqualificaoeoreinciodatese
Quero agradecer aosmembros da banca do exame de qualificao, pois foi
quando se definiu a tese. Everaldo dos Santos Melazzo e Mrcio Rogrio
Silveiraforampessoasfundamentaisquiloqueconsideroareconstruoda
tese.
Guardo pelo primeiro, uma grande admirao desde o tempo do oramento
participativo, que juntamente com Srgio BrsMagaldi foi um dos grandes
responsveispela formulaodaminhaatualconscinciapoltica.Emborano
tenha tido aula com Everaldo, tive o privilgio de participar de colquios no
Gasperr e do antigo Laboratrio de Geografia Humana (Laghu), alm de ter
assistidosuaspalestrasedemaisparticipaesnaFCT/Unesp.Agradeoassuas
sincerasconsideraes,assimcomoaspalavrasdeincentivonorecmextinto
cafdaFundacte.
Agradeo ao Mrcio a elevao da minha autoestima em importantes
momentosdaminhavidaprofissional.Agradeooconviteparaaparticipao
do Ciclo de Debates e Ideias do Gedri, quando tive quemobilizar recursos
intelectuaisparapoder terumaparticipaoaomenos razovelnoevento (e
que foram agregadas aqui). Tambm agradeo as suas crticas no exame de
qualificaoquemefizeramreconstruirvriosargumentos.Ocaptulodo livro
organizadoporeletambmfoiincorporadoaqui.
Nesseespao,devoagradecernovamenteaoprofessorRicardoCastilloporter
me auxiliado na qualificao,mesmo enquantomembro suplente. Cheguei
Unicamps10horasesas15horas.Esseperododizmuitoarespeitodesua
participaonatese,sendofundamentalemalgumasdecisestomadasaqui.
Ateseeotrabalho
IngresseinaUnicentro(UniversidadeEstadualdoCentroOeste,campusdeIrati
PR),em2006,econhecigrandesfiguras(eoutrasnemtanto).Entreasgrandes
personalidades,querodestacarAparecidoRibeirodeAndrade,amigodelongas
conversas edebatesdos rumosdaGeografia iratiense e importante colega
quefoi,certamente,meuprincipalreferencialnaUnicentro.Inmerasforamas
situaes de agradecimento que no caberiam neste espao. Aparecido se
sacrificoumuitasvezesparaqueeupudesseconcluirestatese.
Agradeo tambmProfessoraKarlaRosrioBrumespor sempre se lembrar
demim, enviando artigos e outrosmateriais; por ter sido compreensiva no
primeiro semestre de 2009 quanto ao meu afastamento de algumas
discussesdodepartamento,eportersesacrificadoemnomedoDegeo/I.
Outras pessoas importantes foram os professores Wilson Flvio Feltrim
RoseghinieMarisaEmmer,semprecompanheiros.TambmagradeoaMarisa
pela elaborao com muita ateno do abstract, do resumn e do
rsum.
Agradeoaosalunosdasturmasde2006e2007queforam,semdvidaalguma,
importantes refernciase tambmaprincipal respostadequeo trabalhoque
vnhamosdesenvolvendoeraoanseiodacomunidade.
Aoperaotese
Do ponto vista operacional, muitas pessoas foram importantes, mas
destacareialgumasquetiveramumpapelmaisdireto:
Agradeoaminhaprima Lilianpor ter intermediadoo trabalhode campona
jointventuredelogsticadaSKF/Goodyear;
AoAlmirNaboznypelasideias,materiaiseleituradepartedoscaptulos2e3.
AlmirmeapresentouaoMrcioOrnat,responsvelporpartedolevantamento
dos dados e informaes junto aos OTMs, e pelo desenho dos cartogramas
destatesejuntamentecomAlidesChiminJunior;
Quero tambm fazer um agradecimento Katya Elise Cicorum, responsvel
pelolevantamentoinicialjuntoaossitesdasgestorasdefluxosdemercadorias.
Queromanifestar um agradecimento especial Priscilla Bagli,minhamelhor
amiga, competente colega de graduao e de repblica, que fez uma leitura
atentadatese,fazendoarevisoortogrfica.
Asrefernciasfamiliares
Nopossodeixarderegistraraquiasminhasrefernciasfamiliares:
Agradeo aosmeus pais, Laureni de Lira Frana e Roberto Frana da Silva,
semprefortalezas.Apermanentepreocupaodelesumnorteparamim.
Agradeoaomeu irmoRenatopelas informaespreciosaseprecisas sobre
engenharia dos transportes. Tambm agradeo as cpias de vriosmateriais
obtidosnaUSPeenviadosparamimemIrati.
Agradeo muito minha sogra, Dona Jeanete, para mim uma importante
referncia,meauxiliandoemvriassituaes.
AgradeodemaisminhacompanheiraNjela,semprecompreensivaemvrias
situaes.ApesardeterfeitomestradoemEducaonomesmoperodo,ede
serprofessoradaUnicentro, semprequepossvel,parou suasatividadespara
meauxiliar.
Bastidores
AgradeoaMarcia,IvoneteeErinat,atenciosasecompetentesfuncionriasda
seodepsgraduaodaFCT/Unesp,quesempremeauxiliaramnaquiloque
puderam, inclusive guardandominhasmalas quando eu chegava demanh,
num primeiro momento, de Atibaia e, posteriormente de Irati, quando eu
cumpriacrditos.
Agradeo tambm Silvana,MrciaeClaudia,atenciosas funcionriasda
biblioteca.
Osrecursos
Para finalizar,agradeoFundaodeAmparoPesquisadoEstadodeSo
Paulo(Fapesp)porterfomentandooinciodapesquisa.
Opassadoeofuturosoabstraes:construesmentaisque povoam a memria e a expectativa humanas. Opresentea fronteiramvelentreeleso intervaloquesepara o que foi e o que ser no fluxo de nossaexperincia. Do presente podemos dizer, portanto, queeleonomedamoradade tudooque.Nemoantesnemodepois,masodurante incessantementerenovado.Assimcomooprximoeodistantessedefinemapartirdeumpontonoespao,opassadoeo futurospodemserconcebidosapartirdeumpontonotempo.Essepontoopresente:oeternoaquieagoraemque transitamospela vida e a partir do qual tosomente nos dadomanter contato com o mundo (GIANNETTI, 2005: 139,grifosnooriginal)
RESUMO
Ahistriaproduziu formashegemnicasehegemonizadasde circulao, com
baseemtcnicasquesesucederameseagregaramemperodosmarcadospelo
desenvolvimentodopartransportetelecomunicao.Duranteaglobalizao
ocorreu a emergncia de formas hbridas e fusionadas de circulao
(corporativas), que se traduzem no paradigma logstico e telemtico. Este
paradigma da circulao tambm depende dos tradicionais sistemas de
movimentoedastecnologiasdainformaoedascomunicaes,noentanto,a
suamaiorespecificidadeacoordenao racionaldos fluxosdemercadorias.
Com o aprofundamento da diviso internacional do trabalho o comrcio se
complexificou, demandando logsticas territoriais das firmas como
componentesestratgicasdacirculaocorporativa.
Palavraschaves: logsticaterritorial,circulao,tcnicas,normas,produodo
espao
ABSTRACT
Thehistoryproducedhegemonic forms andhegemonizedof circulation,with
base in techniques that happened and they joined in periodsmarked by the
development pair transports telecommunication. During the globalization
occurredtheemergencyinhybridandfusedwaysofcirculation(corporate)that
are translated in the logistic paradigm and telematic. This paradigm of the
circulation also depends on the traditional movement systems and of the
technologiesof the informationandof the communications,however, largest
specificity is the rational coordination of the flows of goods. With the
profoundlyoftheinternationaldivisionoflabourthetradeifbecamecomplex,
demanding territorial logistics of the firms as components strategic of the
corporatecirculation.
Keywords:territoriallogistics,circulation,techniques,norms,productionofthe
space
RSUM
L'histoire aproduit formeshgmoniquesethgmonisde circulation, avec
base dans techniques qui se sont passes et ils ont joint dans priodes
marques pour le dveloppement de paire transports tlcommunication.
Pendant laglobalisations'estpas lurgencedesformeshybrideetfondudans
circulation (d'entreprise) cela est traduit dans le paradigme logistique et
tlmatique. Ce paradigme de la circulation dpend aussi des systmes du
mouvement traditionnels et des technologies de l'information et des
communications, cependant, la plus grand spcificit est la coordination
rationnelledescourantsdemarchandises.Avecleprofondmentde ladivision
international du travail le commerce si est devenu complexe et demande
logistique territoriale des entreprises comme composants stratgique de la
circulationd'entreprise.
Motscls:logistiqueterritoriale,circulation,techniques,normes,productionde
l'espace
RESUMEN
Lahistoriahaproducido la formahegemnicayhegemonizadadecirculacin,
con base en tcnicas que pasaron y unieron em perodosmarcados por el
desarrollo del par transportes telecomunicacin. Durante la globalizacin
ocurri la emergencia de maneras hbridas y fundidas de circulacin (la
corporacin)eso se traduceenelparadigmade la logisticay telemtica.Este
paradigmade la circulacin tambindependede los sistemasdemovimiento
tradicionalesydelastecnologasdelainformacinydelascomunicaciones,sin
embargo,laespecificidadmsgrandeeslacoordinacinracionaldelosflujosde
gnero. Con la profundizacin de la divisin internacional del trabajo, el
comercio increment su complejidadmientrasexiga logsticas territorialesde
lasempresascomoloscomponentesestratgicodelacirculacincorporativa.
Palabrasclave:lalogsticasterritoriales,lacirculacin,lastcnicas,lasnormas,
laproduccindelespacio
LISTADEILUSTRAES
Figura1.OcomrcioeuropeudiantedaHansaTeutnica...................... 175
Figura2.Acadeiadevalores................................................................... 237
Figura 3. Charge ironizando o crescimento da conteinerizao sem
planejamento(07/08/1985)....................................................................
243
Figura 4. Nmero de matrizes de Operadores de Transporte
MultimodalporEstadodaFederao......................................................
266
Figura5.ExemplodeempresacadastradanositedaANTT.Consulta
deOperadoresdeTransporteMultimodalcadastrados..........................
273
Figura 6. Brasil: distribuio geogrfica dasmatrizes de OTMs por
Estadodefederaoepormunicpio......................................................
277
Figura 7. Brasil: distribuio geogrfica das filiais de OTMs por
municpio.................................................................................................
278
Figura 8. Distribuio geogrfica de representantes de OTMs por
municpio.................................................................................................
281
Figura 9. Brasil: distribuio geogrfica de terminais de OTMs por
municpio.................................................................................................
283
Figura 10. Esquema de representao da etapa logstica de
transbordamentodemercadoriasnoterritrio......................................
285
Figura11.Esquemasintticodos fluxosdeoperadores logsticosem
duaspontas(excetopetrleocruegranisslidosminerais)................
302
Figura12.Portiner................................................................................. 307
Figura13.Brasil:portosmaisutilizadospelosOTMs.............................. 309
Figura 14. Terminal de automveis daMultirio no porto do Rio de
Janeiro(umadasempresasdogrupoMultiterminais)............................
310
Figura15.EntradadoPortoSecoBarueri................................................ 313
Figura16.PortossecosdoBrasil............................................................. 317
Figura17.Brasil:portossecoscadastradoscomoOTM.......................... 318
Grfico 1. Evoluo do nmero de habilitaes de Operadores de
TransporteMultimodal............................................................................
267
Grfico2.Interaesmodais................................................................... 286
Grfico3.ModalidadesmaisutilizadaspelosOTMs............................... 287
Quadro1.AsquatrorevolueslogsticassegundoAkeAnderson........ 51
Quadro2.Sistematizaoaproximadaacercadanoodecirculao... 155
Quadro3.Resumodecomoseatingiuaamostradapesquisa............... 275
Quadro4.Esquemasintticoeaproximadodossistemasdeaesdos
operadores logsticos e suas densidades tcniconormativas
(operadoreslogsticosindustriais)...........................................................
298
Tabela1.FiliaisdeOTMsnoexterior....................................................... 279
Tabela 2. Interaesmodais por Estado da federao e o Distrito
Federal.....................................................................................................
288
LISTADEABREVIATURASESIGLAS
AgnciaNacionaldeTransportesAreos(Anac)
AgnciaNacionaldeTransportesAquavirios(Antaq)
ANTT(AgnciaNacionaldosTransportesTerrestres)
AssociaoBrasileiradeConcessionriasChevroletABRAC
AssociaoBrasileiradeLogstica(Aslog)
AssociaoBrasileiradeLogstica(Aslog)
AssociaoBrasileiradeMovimentaoeLogstica(ABML)
AssociaoNacionaldoTransportedeCargaseLogstica(NTC&Logstica)
AssociaoNacionaldosUsuriosdeTransportedeCargas(Anut)
CertificadodeOperadordeTransporteMultimodal(COTM)
ConfederaoNacionaldoTransporte(CNT)
Conveno das Naes Unidas sobre Comrcio e Desenvolvimento
(UNCTAD)
DirioOficialdaUnio(DOU).
FCC(FederalCommunicationsCommission)
FederaodasIndstriasdoEstadodeSoPaulo(Fiesp)
FundaodeAmparoPesquisadoEstadodeSoPaulo(Fapesp)
GPS(GlobalPositioningSystemsistemadeposicionamentoglobal)
GRIS(GerenciamentodeRiscoeSegurana)
InstitutodePesquisasTecnolgicas(IPT)
Mercosul(MercadoComumdoSul)
MinistriodaDefesa(MD)
MinistriodosTransportes(MT)
NTSC(NationalTelevisionSystemsCommittee)
OfficeofScientificResearchandDevelopmentOSRD
OperadordeTransporteMultimodal(OTM)
PlanoNacionaldeLogsticadeTransportes(PNLT)
ProgramadeAceleraodoCrescimento(PAC)
RMA(RadioManufacturersAssociation)
TecnologiasdaInformaoedasComunicaes(TIC)
TerminaldeContineresdoPortodeSantosdaMargemEsquerda(Tecon)
Sumrio
INTRODUO 23
PARTE1
CIRCULAO:INSTNCIADOESPAOGEOGRFICO 64
1. CirculaoeGeografia........................................................................ 65
2. FormaoeconstituiodaGeografiadaCirculao:proposituras
dosclssicos....................................................................................... 75
3. GeografiadaCirculao,dasComunicaesoudosTransportes?.... 96
4. O alargamento dos contextos espaciais como resultado da
contraodoespaoprticoedaintensificaodacirculao......... 109
5. Circulaoevalorizaodoespao.................................................... 124
6. Circulaoeacumulaocapitalista................................................... 139
7. Enfim,oquecirculao?.................................................................. 156
PARTE2
LOGSTICA:FORMAHISTRICADECIRCULAO 163
8. Umapropostadeperiodizaodasformasdecirculao................. 164
9. Paradigma emprico (das sociedades coletoras Primeira
RevoluoIndustrial)......................................................................... 167
10. Paradigmanewcomenianoeeletromagntico(PrimeiraRevoluo
IndustrialatofinaldosculoXIX).................................................... 183
11. Paradigma automotivo e eletrnico (Incio do sculo XX at a
dcadade1950)................................................................................. 195
12. Oparadigmalogsticoetelemtico.................................................. 207
PARTE3
TCNICAS,NORMAS,AGLOBALIZAOEOSOPERADORESDE
TRANSPORTEMULTIMODALNOTERRITRIOBRASILEIRO
226
13. Aglobalizaoquedemandalogsticaecadeiadevalores............... 227
14. OBrasileosparadigmasdacirculao............................................. 240
15. O incipientedesenvolvimentodamultimodalidadenoBrasil:um
exemploclarodaconflunciaentretcnicasenormas..................... 250
16. Alogsticaterritorial.......................................................................... 257
17. Operadoresdetransportemultimodal:algumasquestes.............. 265
18. Operadores de transporte multimodal: espacialidades e
topologias.......................................................................................... 276
CONSIDERAESFINAIS:FIMECOMEO 321
BIBLIOGRAFIA 327
ANEXOS 358
Introduo
23
INTRODUO
Primeiramente,indodiretoaoassunto
Otextooriginal,apresentadobancadenossadefesa,iniciavaapartirdaatual
Problematizaoecontextualizao:dandoformaquestoposta.Aideiaera
envolverosleitoresnumencadeamentoderaciocniosecontextosdeumtema
aindapoucoexploradopelaGeografiabrasileira,quea logstica.Noentanto,
essaorganizaosemostrou ineficaz, inviabilizandouma leituramais rpidae
fcil sobre a questo deste trabalho. Apesar desta considerao, a
problematizao foi importante,enquantoelementodefinidorda linhaterica
queseriaapresentadanatese,sendobalizadoraeunificadoradotrabalho,epor
istomesmo,amantemosaqui,equeserapresentadaaseguir.
Estaapresentaonofoiumasugestodabanca,masumadecisocombase
nascrticasena leiturapsdefesa,sendo tambmuma formademantera
originalidade do trabalho defendido em 6 de outubro de 2009, dando, ao
mesmotempo,maisorganicidadeelimpezaaotrabalho,evidenciandoum
poucomaisaquestocentral:atese.
Esta uma tese sobre a logstica, entendida aqui como uma estratgia
corporativa. Sendo assim, analisaremos a logstica como um instrumento do
grande capital para solucionar os problemas de circulao, e no como
elementoinerenteaosmodosdecirculaonodecorrerdahistria.
Introduo
24
Osurgimentoda logsticacoincidetosomentecomoperododaglobalizao
(etapa culminantedoprocessode internacionalizaodo capital), sendouma
demanda corporativa inventada em universidades dos Estados Unidos. A
logstica , portanto, uma forma histrica de circulao,mas uma circulao
corporativa.
Entre os diversos elementos constituintes da globalizao, destacamos nove
ingredientesfundamentaisparaainvenodalogstica:
1. Disseminaodaideologiadacompetitividade;
2. Expressivo aumento do comrcio internacional (mais normas e novos
contedostcnicos);
3. Gargalosinfraestruturaisenormativos;
4. Crescimentoaceleradodascidades(congestionamentosedeseconomias
deaglomerao);
5. O pouco aumento da velocidade nos meios de transporte (sem
alteraesrevolucionriascomooutrora);
6. Progressivoaumentodaaplicaodacinciatcnicacapitalista;
7. Consolidao de todas as condies bsicas para o fomento s
TecnologiasdaInformaoedasComunicaes(satlites,computadores,
telefoniaentreoutros);
8. Brusco aumento da velocidade dos fluxos informacionais e de
comunicaes, predominando uma situao de definimos como
hipermobilidade, e consequente disseminao da velocidade como
ideologia e como prtica corporativa, no mesmo contexto da
competitividade(Alis,avelocidadeumaspectodacompetitividade.);
9. Ebuliodosetordeservios(internacionalizao)edaterceirizao.
Introduo
25
O foco aqui so as empresas surgidas depois da inveno da logstica, que
estamos chamando aqui de gestoras de fluxos de mercadorias (empresas
especficas de logstica nas suas diversas topologias). No abordaremos os
setoresoudepartamentosdelogsticadascorporaes.
Defendemosatesecombaseemduaspropostaspressupostasebasilares.So
elas:
1. Propor uma noo de circulao vlida para afirmar a logstica como
formahistricadecirculao.Sea logsticauma formadecirculao,
queremos analisar o que circulao, entendendo esta, como uma
instnciadoespao;
2. Propor uma periodizao (paradigmas) a respeito da circulao na
histria.
Estaoposeexpressanaorganizaodestatese,divididaemtrspartes.
Aanlisedanoodecirculaomereceuumaparteporsetratardeumanoo
muito aventada, porm negligenciada quando se trata do seu significado.
Incomodavanosapossibilidadedeafirmara logsticacomoformahistricade
circulao, sem a clareza da noo de circulao. Diante disso, vimos a
necessidadedeanalisaracirculaoeproporumanoovlidaparadiscutira
logstica.
Periodizar importantepara teorizara respeitodeprocessoshistricos.Para
falar em forma histrica, constitumos concretamente os elementos que
fundamentemtalafirmao.Poristodedicamosumaparteparaosparadigmas
dacirculao(ouacirculaonahistria).
Emsuma,proporemosaquiaseguintetese:
Introduo
26
Ahistriaproduziu formashegemnicasehegemonizadasdecirculao,
com base em tcnicas que se sucederam e se agregaram em perodos
marcados pelo desenvolvimento do par transporte telecomunicao.
Durante a globalizao ocorreu a emergncia de formas hbridas e
fusionadas de circulao (corporativas), que se traduzem no paradigma
logsticoetelemtico.Esteparadigmadacirculaotambmdependedos
tradicionaissistemasdemovimentoedastecnologiasdainformaoedas
comunicaes, no entanto, a suamaior especificidade a coordenao
racional dos fluxos demercadorias. Com o aprofundamento da diviso
internacional do trabalho, o comrcio se complexificou, demandando
logsticas territoriais das firmas como componentes estratgicas da
circulaocorporativa.
Emrelaoaottulo,ficaaindaumainterrogao:
O que a logstica territorial que sobressalta no ttulo, mas que no foi
comentadaainda?
Depoisde teorizadasasduasprimeiraspartes,pudemosapresentaraanlise
sobrealogsticaterritorial,teorizandoaeconceituandoa.
Oterritriousadoumrecursoparaosagentescorporativos1,cujaatuaose
demconsonnciacomoEstado.Alogsticaterritorialamaterializaodessa
relaoedoconhecimentodasempresasarespeitodoterritrio,comtodasas
suasnormas,seuslimites,seustrunfosetc.
Todaaestratgia logsticasedno territrio,masnem todaaelaboraode
estratgia logstica parte do territrio. Nesse sentido, analisamos aqui,
1CorporaoestsendoutilizadaaquinosentidodadoporCorra (1995,213233),comooagente mais importante na reorganizao espacial capitalista. Falar em agentescorporativossignificar falarem todososagentesempresariaisenvolvidoscomalgicadeatuaodascorporaes.
Introduo
27
especialmente a materializao da ao das empresas. Para tal intento,
tomamos como exemplo (e no como objeto de estudo), osOperadores de
TransporteMultimodal(OTM)noterritriobrasileiro.
Esses elementos apresentados de modo sinttico e preliminar sero
problematizadosaseguir,ondeprocuraremosqualificaranossatese.
Problematizaoecontextualizao:dandoformatese
Aomesmotempoemqueseestreitaanoodevizinhana,aomesmo tempo em que se impe a criao de instituies decoordenaoe,sobmuitosaspectos,deunificao,aumentamas diferenas de riqueza, de equipamento, de meios deproduo, de nveis de vida. Jamais os povos estiveram,materialmente, to perto uns dos outros e jamais foram todesiguais. E no existe a menor razo para procurar, comonecessidade inadivel, as solues para o problema destacrescentedesigualdade(GEORGE,1974:73)
Omundodehojepareceexistir sobo signoda velocidade.Otriunfo da tcnica, a onipresena da competitividade, odeslumbramentodainstantaneidadenatransmissoerecepode palavras, sons e imagens e a prpria esperana de atingiroutros mundos contribuem, juntos, para que a ideia develocidade esteja presente em todos os espritos e a suautilizaoconstituaumaespciede tentaopermanente.Seratual ou eficaz, dentro dos parmetros reinantes, conduz aconsiderar a velocidade como uma necessidade e a pressacomoumavirtude.Quantoaosdemaisnoincludos,comoseapenas fossem arrastados a participar incompletamente daproduodahistria(SANTOS,2001b).
Em11dejulhode2008foilanadoem22pasesoiPhone,umtelefonecelular
daApple.Olanamentodoprodutofoiaguardadocomgrandeexpectativapor
Introduo
28
milharesdepessoasqueacamparamemfrenteslojasdaAppleparacomprar
oaparelho.Masoqueprovocaesse frenesi?Dopontodevistatecnolgico,o
aparelho celular tem a tecnologia 3G (Terceira gerao aumenta a
velocidade de navegao na internet). Essa tecnologia contm: GPS (Global
Positioning System sistema de posicionamento global), amplamemria de
armazenamentode informaeseatributos relacionados funcionalidade,ao
confortoefacilidadedemanuseio.Atofinalde2008,oaparelhofoilanado
emcercade70pases,inclusivenoBrasil.Masessefrenesitambmrevelaoutra
situao:aprepondernciadacirculaonoperodoatual.Quandofalamosem
preponderncia,noestamosafirmandoaprevalnciada circulao frentes
demais instncias do espao geogrfico (produo, distribuio, troca e
consumo),masreafirmandoograndevultoqueacirculaovemadquirindoe
queseacentuacomopassardotempo.
Segundo Lipietz (1987: 33), a espacialidade pura do modo capitalista de
produo,independentementedoperodo,sugereumaorganizaotendente
especializao,comumadivisodo trabalhobaseadaem ramosautnomose
separao do produtor de seus meios de produo. Para Lipietz existe um
papel dominante da circulao na reproduo das relaes sociais, um
zoning funcionalista, cimentado por um sistema de transporte e de
comunicaes.
Com a evoluo e o progresso das Tecnologias da Informao e das
Comunicaes (TIC) e sua consequente penetrao espacial, a circulao se
evidencia como instncia responsvelpor importantesmudanasde valorno
espaonoque tangeasdistncias (distnciastempoedistnciascustos),que
soexpressesdasrelaesespaciais,dasestratgiasespaciais,daorganizao
daproduoedocontroledosterritrios.
Introduo
29
Harvey(1969,citadoporSNCHEZ),aoexaminaralocalizaodeumaatividade
econmica,consideraquadistnciapode sermedidaem termosdecusto;ao
examinaradifusodainformao,adistnciasemedeemtermosdeinterao
social; ao estudar as migraes, pode ser medida em termos de custo de
oportunidades,eassimsucessivamente.
Sobreanoodedistncia,MiltonSantosalerta:
Reduzir a problemtica do espao s categorias de preo e dedistnciaequivaleacondenloaserbidimensional.Ora,emtodoespaopodese identificaraomenosos seguinteselementos:oshomens, as instituies, as empresas, as infraestruturas e osuporte ecolgico.As qualidades e as idades destes elementosnosoasmesmas.Tratasedeelementosmas,segundoo nveldeescolhaadotado,tratasetambmdeestruturasedesistemas.Fora de uma viso total do sistema espacial, certas categoriasutilizadashmuito tempopelacincia regionalepelaeconomiaespacialno constituem valores verdadeirosmas, sim, simpleselementosisolados,reunidosdesajeitadamente.Damesmaforma,semessaviso,omiteseopapeldotempo,emfunodoqualoselementossetornamvariveis,assimcomseomiteaimportnciadas relaes que os elementos mantm em cada poro doespao. A distnciatempo, como a distnciapreo e como oprprio preo, varia em funo destas relaes (SANTOS, 2003:1123,grifosnooriginal).
Dequalquermodo, asmudanasde valorno espaoocorremdemodomais
intenso atualmente do que em tempos pretritos em funo da velocidade
atingidapelosagenteshegemnicosque,embuscadaacumulao,assumemo
controledotempohistrico.ConformeArroyo(2001:58combaseemSilva),a
circulaorepercutesobreaproduo,obrigandoaamodernizarse,demodo
queos fluxossereproduzememumagrandediversificao,sendoaindamais
importanteshoje,paraarealizaodaproduo.
Acirculaoumaaomobilizadaportcnicasenormas,servindoaobjetivos
econmicosepolticos.Dopontodevistaeconmico,acirculaocriavalor;do
Introduo
30
ponto de vista poltico, atravs da circulao que se exerce o controle
territorial. Portanto, a circulao um importante elemento articulador e
transformador do espao, pois mais movimento conduz a mais mudanas
espaciais (porextenso,sociais,econmicasepolticas).HenriPirenne (1966),
por exemplo, atesta que a circulao foi um dos fatos capitais para a
decomposiodaordem feudaleparaaemergnciadeumaclassecapitalista
nofimdoperododeexpansomedieval,entreossculosXIVeXV.Ocomrcio
de longa distncia pelomar e por grandes rotas terrestres, a expanso das
feiras,a importnciadas ligasdecomrcioeoaumentodocrditonoperodo
medievalproporcionaramoalicerceparaodesenvolvimentodenovasprticas
espaciais(econmicas,polticasesociais)queculminariacomaindustrializao
eaurbanizao(doisdosprincipaissedimentosdocapitalismo).
Atualmente, a circulao ganha ainda mais vulto com as TIC, podendo
enquadrla no sistema de comunicaes em tempo real. SegundoMattelart
(2002:11),estesistemadeterminaaestruturadeorganizaodoplaneta.Da
aldeia global (MarshallMcLuhan, 1969 [1967]) ao fim da geografia (Paul
Virilio), vriasmetforas foram elaboradas para expressar esta situao de
encurtamentoabruptodasdistnciastempo,desdeadcadade1960.Desde
McLuhan, as metforas se sucedem para esta explicao. Segundo Octvio
Ianni:
AdescobertadequeaTerrasetornoumundo,dequeoglobonomaisapenasumafiguraastronmica,esimoterritrionoqual todos encontramse relacionados e atrelados,diferenciados e antagnicos essa descoberta surpreende,encanta e atemoriza. Tratase de uma ruptura drstica nosmodos de ser, sentir, agir, pensar e fabular. Um eventoheurstico de amplas propores, abalando no s asconvices,mastambmasvisesdomundo(IANNI,2002:13).
Introduo
31
Oautortratadoprocessodeglobalizao,quetraz,areboque,outrasalegorias
sob a noo de distncias reduzidas, tais como shopping center global,
Disneylndia global, fbrica global, nave espacial global, nova babel,
entreoutras.DoreenMassey(2008:118)chamariatudoistodeimaginaode
instantaneidade2.Ainstantaneidadeeaubiquidadefazempartedasnarrativas
contemporneassobreacontraodasdistncias,que levamemconsiderao
eminentementeopapeldascomunicaes,comoelementostransfronteirios
e desterritorializados, aventando intensos debates sobre o fim ou no dos
Estadosnacionaisedasfronteiras3.
Paraanalisaropapeldacirculaonomundocontemporneo,consideramosas
comunicaes e os transportes como elementos indissociveis. O
desenvolvimentodascomunicaesadistnciaparipassuaodesenvolvimento
dos transportes possibilitou aos agentes hegemnicos maior capacidade de
articulaosobreosdiversosterritrios.SegundoLvy (2001:22),oprogresso
dos transportes e das comunicaes , ao mesmo tempo, motor e
manifestaodoprocessodediminuiodoespaoprtico.
Insistosobreoparalelismodostransportesedascomunicaes,pois o efeito de atrao mtua constante, fundamental,verificado em toda parte, ao passo que a substituio dotransporte fsico pelas transmisses de mensagens apenaslocal e temporria.A navegaode longo curso e a imprensa
2 Huma imaginaoda globalizaoque retrata comoummundo totalmente integrado(MASSEY,2008:118).3Paraumaleituramaisaprofundadasobreestedebatev.Haesbaert(2007).Oautor(p.1920)questiona: O mundo estaria se desterritorializando? Sob o impacto dos processos deglobalizao que comprimiram o espao e o tempo, erradicando as distncias pelacomunicaoinstantneaepromovendoainflunciadelugaresosmaisdistantesunssobreosoutros,a fragilizaode todo tipode fronteiraeacriseda territorialidadedominante,adoEstadonao,nossasaessendoregidasmaispelas imagenserepresentaesquefazemosdo que pela realidade material que nos envolve, nossa vida imersa numa mobilidadeconstante,concretaesimblica,oquerestariadenossosterritrios,denossageografia?.SugerimostambmaleituradeCataia(2007).
Introduo
32
nascem juntas. O desenvolvimento dos correios estimula eutiliza tanto a eficcia quanto a segurana das malhasrodovirias.O telgrafo se expande aomesmo tempo que asestradasdeferro.Oautomveleotelefonetomamosmesmosrumos. O rdio e a televiso so contemporneos dodesenvolvimento da aviao e da explorao espacial. Ossatlites lanados pelos foguetes esto a servio dascomunicaes.Aaventuradoscomputadoresedociberespaoacompanha a banalizao das viagens e do turismo, odesenvolvimentodotransporteareo,aextensodasrodoviasedaslinhasdetrensdegrandevelocidade.Otelefonecelular,ocomputador porttil, a conexo sem fio com a Internet, embrevegeneralizados,mostramqueocrescimentodamobilidadefsica indissocivel do aperfeioamento das comunicaes(LVY,2001:23,grifosnooriginal).
Portanto, apesar de toda a sensao de fluidez, instantaneidade e
simultaneidade do capital, trazida pelo advento das telecomunicaes,
entendemosquenecessrioumaanlisedotransporteedasimensasmassas
de mercadorias, posto que produo material no circula por meio de
teletransporte4. Assim questionamos: Como transpormais rapidamente os
gargalos5dospasesfaceaampliaodoconsumoe,consequentemente,dos
comrcios nacionais e internacionais? Como reduzir custos de circulao
materialdecorrentedovolumeresultantedessescomrcios?
Essasquestesemsi,demonstramqueamobilidadetodecantadaesbarraem
problemas como: dificuldades emergentes de transportes, manuseio e
armazenamento demercadorias, decorrentes da ampliao dos intercmbios
nacionaise internacionaisdemercadoriasedoaumentodoconsumodebens
industrializados; inchao das grandes cidades; problemas porturios e
4Naficocientfica,transportealongadistncia,queconsistenadesmaterializaodocorpono lugardeorigem, seguidoda rematerializaono lugardedestino.Algumas experinciascientficas vm sendo realizadas, mas com resultados longe de atingir a finalidade detransportarmercadorias.5Metforamuitoutilizadanaeconomia,administraoeoutrasdisciplinasquedesignaaideiadeestreitamentofsicoe/oufuncionalquedificultamosfluxosdemercadoriasnoterritrio.
Introduo
33
alfandegrios; depreciao das infraestruturas de transportes e a
regulamentaodacirculaonospases.Esses fatorescriaramanecessidade
dereestruturaodacirculaoporpartedasempresas,comparecendo,desde
meadosdosculoXX,sobortulodelogstica,trazendoconsigoatributos(que
se tornaramideolgicos),como:eficincia,confiabilidade,qualidade totale,
principalmente,velocidade.
Se os fatores expostos foram as condies para a emergncia da logstica
corporativa6,acompetitividadeomotordestaao.SegundoPetrella(1996:
11), competitividade ummeio convertido em fim edotadodedevastador
sentido de confrontao e aniquilao dos rivais.A competitividade constitui
mais que um instrumento, uma ideologia que se instala. As rpidas
transformaes econmicas, polticas e sociais faziam do espao um desafio
paraascorporaes,culminandonoperododaglobalizao,comoaumento
maisintensodocomrciointernacionaledaproduomultilocalizada.
importante reconhecer que a logstica foi fomentada como disciplina
acadmica,considerandoaaplicaodacincianoprocessodeacumulaodo
capital.RonaldBallou,umdoseminentespesquisadoreseconsultoresdarea
6Osignificadooriginaldelogsticaprovenientedofrancslogistique(oriundodotimologis,queem francssignifica alojamentoede logerquesignifica alojar,aquartelar,abarracar).Conceitualmente, a logsticamoderna deriva da definio do Baro Antoine Henri Jomini,principaltericomilitardaprimeirametadedosculoXIX.NaobraintituladaPrcisdelartdela guerre (1836), o autor considerava a logstica como uma das cinco etapas da arte daguerraque so:estratgia,grande ttica, logstica,engenhariaepequena ttica.ConformeSilvaJunior(2004:112),paraoreferidobaro, logsticaeraaarteprticademovimentarosexrcitos:[...]abrangendonosomenteasquestesdetransporte,mastambmotrabalhode Estadomaior,medidas administrativas e atividadesde reconhecimento ede informaonecessriosparaodeslocamentoeamanutenodeforasmilitaresorganizadas.Ovocbulologsticaeraderivadodopostodemarchaldelogis,existentenoexrcitofrancsnossculosXVII e XVIII e ao qual correspondia, no exrcito prussiano, ttulo de Quartermeister,competindoaambos,asatividadesadministrativasrelativasaosdeslocamentosdastropasemcampanha(SILVAJUNIOR,2004:112).Ovocbulologistics,bemcomtodaaideiasubjacenteparafinsmilitares,foiintroduzidonosEstadosUnidospeloalmiranteAlfredMahannadcadade1880,consolidandootermo.
Introduo
34
de logstica, afirma que a prtica da logstica configura uma disciplina (1993:
28)7.Oquenosignificadizerquenohaviaplanejamentomnimoacercadas
atividadesessenciaisde transporte,controledeestoqueseprocessamentode
pedidos,masapenasentreasdcadasde1960e1970houveuma integrao
dessesprocessos8.OsprimeiroscursosdegraduaoemLogsticasurgiramnas
Universidades deMichigan e Ohio na dcada de 1960, sendo devidamente
reconhecidos pelo governo dos EUA, provavelmente influenciados pelos
seguintesacontecimentos9:
1901Adistribuiofsicademercadoriasexaminadapelaprimeiravez
soboprismaacadmicono inciodosculoXXatravsdeumartigode
John Crowell. No artigo Report of the Industrial Commission on the
DistributionofFarmProducts,oautor tratoudoscustose fatoresque
afetavamadistribuiodosprodutosagrcolas;
1912 Arch Shaw,em seuartigo AnApproach toBusinessProblems,
abordaosaspectosestratgicosdadistribuiofsicademercadorias.No
mesmo ano, L.D.H. Weld introduziu os conceitos de utilidade de
marketing(momento,lugar,posse)edecanaisdedistribuio10.
7BalloupodeserconsideradoumdosfundadoresdadisciplinaLogsticaIndustrial.8Nesse sentido,entendese,assim comoKobayashi (2000:17),a logstica como sendoumatcnicaeaomesmotempoumacincia.9 Apresentados em Macohin (2001) e resumidos aqui conforme a relevncia para odesenvolvimentoposteriordalogsticanadcadade1960.10 As relaesentre as atividadesde criaodedemandaeo suprimento fsico ilustram aexistncia dos princpios de interdependncia e equilbrio. Uma falta de coordenao dequalquerdestesprincpiosounfasedecoordenaoqualquerumdestesprincpiosounfaseoudispndioindevidocomqualquerumdelesvaicertamenteperturbaroequilbriodeforasque representa uma distribuio eficiente. A distribuio fsica das mercadorias umproblema distinto da criao de demanda. No so poucas as falhas nas operaes dedistribuio devido falta de coordenao entre a criao da demanda e o fornecimentofsico. Ao invs de ser um problema subseqente, essa questo do fornecimento deve ser
Introduo
35
1927 Ralph Borsodi, em sua obra The distribution age aproxima a
distribuiofsicadoseucontedoempresarialconhecidohoje.
1956artigopublicadopelaHarvardBusinessSchoolintroduzoconceito
deanlisedecustototalnascadeiasprodutivas.
Acriaodoscursosdelogsticaserelacionademodoindireto,comainfluncia
daSegundaGuerraMundial.Amovimentaodastropas,oarmazenamentode
alimentos eo fornecimentode armas emuniesnesta guerra influenciouo
surgimentodadisciplinadeLogstica.Nadisseminaodoconceitode logstica
do sentido blico/militar para o sentido empresarial, a ideia central do
conceitocorporativopassouaserodeadministrarosfluxosdetransportes,as
informaeseaarmazenagemdeprodutos,desdeaobtenodematriaprima
at o consumidor com qualidade e com diminuio de custos para o cliente
(BALLOU,1993:24;KOBAYASHI2000:18).Destemodo,oclientetratadopelos
acadmicoseempresasdareade logstica,especialmente,acorporao,e
isto ser abordado e fundamentado nesta tese, ou seja, a emergncia da
logsticaperanteumademandacorporativaparadiminuircustoseaumentara
velocidade dos fluxos de mercadorias para o enfrentamento da crescente
competitividade. Segundo Trevisan (2001:1),na transposiodo conceitodo
campomilitarparaocorporativo(...)
[...] esta transferncia de conhecimento e adaptao ao novomeio ocorreu de maneira gradual, vindo se tornar elementoconstitutivo do circuito produtivo das grandes empresas noinciodadcadade1970quandoestas,cadavezmais,passama
enfrentada e respondida antes de comear o trabalho de distribuio (SHAW citado porCHRISTOPHER,1997).
Introduo
36
atuar segundo ummodelo de acumulaomais flexvel e emescalaplanetria(TREVISAN,2007:1)11
Do ponto de vista produtivo, no perodo em questo, houve a transio da
rigidez do fordismo para um sistema de acumulao flexvel, com uma
produoenxutabaseadonojustintime,justinplace.Harvey(2001:148),
queteorizousobreaacumulaoflexvel,expeosfatoresdediferenciao.Os
sistemas de produo flexvel possibilitaram a acelerao das inovaes. O
tempo de rotao foi reduzido com o novo paradigma tcnicoprodutivo
baseado na automao e na robtica, e por novas formas organizacionais,
comoogerenciamentodeestoques.Todavia,Harveyalertaqueaacelerao
dotempodegironaproduoseriaintilsemareduodotempodegirono
consumo. Isto nos leva a destacar o papel do aumento do consumo no
capitalismo, o que demanda uma circulao fsica de mercadorias mais
eficiente.Noentanto,MichelVakaloulisalerta:
Narealidade,aproduocapitalistasemprecombinourigideze flexibilidade. Tal oposio conceitual , portanto,estritamente formal e atinge rapidamente seus limites,enquanto princpio explicativo da reestruturao capitalista.Aflexibilidade no parece estar substituindo a produo emmassa [...] O que parece nesse caso plausvel umapermutao inditadeflexibilidadeerigidezqueprolongaas tendncias essenciais do capitalismo. O capital tornasemvel, hipermvel, tendendo na direo de uma existncianmade crescente. Ele representa uma relao social global,efeito combinadoda transnacionalizaode conjuntode seuscircuitos (capitalprodutivo, capitalmoeda, capitalcomercial).Oespaosocialqueelerecobreambguo,polarizanteequaseirrepresentvel. Ele refora o grau de suaconcentrao/centralizaoeaprofundaosefeitos ligadosaosmecanismos do desenvolvimento desigual. Desse ponto devista,seriainexatoconsideraropsfordismocomoumperodo
11Nonossoobjetivoexplorarmaisprofundamentesobrea logsticanestemomento,bemcomooutros conceitose temas.Analisaremosa logstica,maisdetalhadamente,naparte2.Porora,apenasestamosproblematizandoatese.
Introduo
37
de localismo, de disseminao e de desintegrao: afragmentao funcional do sistema produtivo no deve serconfundida com a fragmentao do capital ede seu controlesobrearelaosocial(VAKALOULIS,2000:52).
A emergncia da logstica se deve a fatores eminentemente econmicos
assegurados pelas inovaes das tcnicas de circulao (transportes,
telecomunicaes, TIC etc.), mas sua existncia e atuao tambm so
normativas. A logstica representa uma forma histrica de circulao
(corporativa, portanto, parcial, pois no abrange a totalidade da circulao),
mas que implica em novas polticas territoriais das empresas diante dos
obstculos tcnicosounormativos, formandonovasespacialidadesapartirdo
controle e uso do territrio. Esse uso corporativo, seletivo e racional. A
intencionalidadedousodoterritriorefleteopoderdasempresasematuarde
modoorganizado,graasinclusiveaosinvestimentosemtecnologiascapazesda
realizaodemovimentosantecipados,antesmesmodamovimentaofsica.
A logstica consiste tambm na separao entre a gesto da circulao e a
gesto da produo. Nesse sentido, em meio ao novo movimento de
terceirizao demeados do sculo XX, surgiram empresas especializadas na
gestodosfluxos,criandoumaespacialidadedacirculaobaseadanadifuso
decapitalfixovoltadoparaagesto,organizao,armazenamento,estocagem,
transbordamentodemercadoriasepontosdedistribuiofsica,visandoreduzir
os tempos de entrega com diminuio de custos. A localizao das
infraestruturasocorrehierarquicamente,partindodascidadesgrandesparaas
intermdias.Aessaorganizaonoterritriochamamosdelogsticaterritorial.
Aformaoocorreemrede,porm,pelograudecomplexidade,tomaremos
emprestadoo termoarquiteturas logsticasdePierreVeltz (2004:235),que
exprimeumnvelde interaoespacialemqueh a imbricaodos servios
informacionaisemconsonnciaaosfluxosmateriais,controlandoos.Essenvel
Introduo
38
derelaesespaciaisdemarcaumacondioemqueadistnciamtricanoa
maisimportante,masaarticulaodoslugarespormeiodessasarquiteturas,
que demarcam espacialidades especficas para a reproduo do capital.
UtilizaremosoargumentodeMassey:
Oespaomaisdoquedistncia.aesferadeconfiguraesde resultados imprevisveis, dentro de multiplicidades. Istoconsiderado, a questo realmente sria que levantada pelaacelerao, pela revoluo nas comunicaes e pelociberespaonoseoespaoseraniquiladoouno,masquetiposdemultiplicidades (padresdeunicidade [uniqueness])erelaes sero coconstrudas com esses novos tipos deconfiguraesespaciais(MASSEY,2008:139).
Para conseguir analisar estas questes, abordaremos o desenvolvimento
histrico da logstica at chegarmos ao entendimento da logstica territorial,
utilizandocomoexemplo,aatuaodosOperadoresdeTransporteMultimodal
(OTM) no Brasil. Como pano de fundo, analisaremos a circulao como
instnciaprodutivadoespao.
OOTMuma firmaque realizao transportemultimodaldecargasdaorigem
at o destino das mercadorias, por meios prprios ou por intermdio de
terceiros, fazendo a gesto da informao e do conhecimento tcnico e
normativo dos sistemas de movimento. Portanto, o OTM pode ser
transportadorouno,poisnonecessrioqueaempresatenhafrotaprpria,
podendosertodaterceirizada,cabendoaooperadorapenasaadministraoe
controle dos fluxos de transportes e informaes. Para ser um OTM
necessrio que a empresa tenha um registro junto Agncia Nacional de
TransportesTerrestres(ANTT),assumindoaresponsabilidadepelaexecuodos
contratos firmados e pelos prejuzos resultantes da perda ou avaria das
mercadoriassobsuacustdia.EstacoordenaoentreEstadoecapitalviabiliza
Introduo
39
aexistnciadeumterritrionormadoetecnificado,comvistasaocontroleda
circulao.
Acirculaopelo territrio,noatualperodohistrico,norealizadaapenas
por meio de tcnicas que viabilizam a movimentao de mercadorias e
informaes, mas por normas e instituies que regulam, organizam e
potencializamessesfluxos.NoBrasil,ossistemasdeengenhariavoltadosparaa
circulao (fixos como rodovias, ferrovias, hidrovias, aeroportos, portos etc.)
nososuficientesparaproduzirafluideznecessriaparaatenderosdesgnios
corporativos, demandando a atuao do Estado para o estabelecimento de
normas (almdas infraestruturas),quepossibilitemaosagenteshegemnicos
obtermaismobilidadeevelocidadenoprocessode circulaodistribuiode
mercadoriaseservios.
Com base nessas prerrogativas, foram criadas normas institucionais que
disciplinamotransportemultimodalnoBrasil,paradotaropasdeumamaior
capacidadede competirnocomrcio internacional.Aprimeiradessasnormas
datade1995 (Decreto1.563de19/07/1995)edispem sobreaexecuodo
acordo de alcance parcial para a facilitao do transporte multimodal de
mercadorias, entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Posteriormente,
outras leis foramcriadasno sentidode regularo transportemultimodal,uma
atividade essencial na tentativa de superao dos gargalos existentes na
movimentao demercadorias, principalmente para exportao.No segundo
mandatodoGovernodeFernandoHenriqueCardosofoiinauguradaumanova
eradaregulaoestatalnoBrasil12,comaformaodasagnciasreguladoras
de setores essenciais na gesto do territrio (energia, transportes,
12Antas Jr. (2005)entendeesteperodo, comoumperodode transiodeuma regulao centradaespecificamente no Estado e no direito romanogermnico para uma regulao hbrida do territrioformalizadaporumregimedeconcesseseprivatizaesreguladosporagnciasreguladoras.
Introduo
40
comunicaes, sade, segurana nacional, inteligncia etc.). Uma delas,
consideradaentreasmais importantes,aprpriaANTT,criadaem2001.Em
2004, sob sua tutela, houve a habilitao do Operador de Transporte
Multimodal (OTM).Mas a criao da figura doOTM veio antes, esteira da
expansodousoda logsticanopasnaprimeirametadedadcadade1990,
quando uma srie de operadores logsticos internacionais e algumas
transportadoras e armazns gerais nacionais passaram a atuar no territrio
brasileiro, decorrentes de um conjunto de variveis especficas da poca. A
atuao (surgimento dos operadores logsticos no Brasil) se deve s
transformaesnocomrciointernacional,aberturaeconmicadoBrasilno
inciodadcadade1990(GovernodeFernandoCollordeMelo)eestabilidade
damoedabrasileiraobtidaapartirdoGovernodeItamarFranco(comoento
ministroFernandoHenriqueCardoso).Concomitantemente,houveumaumento
muitograndedosfluxosdemercadoriasnasltimasdcadas,forjandodeforma
definitiva a necessidade de organizao desses fluxos. Os avanos da
terciarizao e da terceirizao possibilitaram essa organizao. Com isso, o
Brasilsaiudelogsticaoperacional,voltadaparaaadministraodearmaznse
transportes, para uma logstica integrada com o desenvolvimento de
estratgiasdeatuaonomercado.Hoje,partedosoperadores logsticosno
Brasil est na fase do gerenciamento da cadeia de suprimentos (COMEXNET,
2008).
***
Aglobalizao,perodoqueabrangeaconsolidaodalogstica,oapogeudo
processodeinternacionalizaodocapitalcombasenasunicidadesdatcnicae
dotempo,almdacognoscibilidadedoplaneta(SANTOS,1994;SANTOS,2001;
SANTOS,2005).Aciberntica,a informticaeaeletrnicasorepresentativas
das tcnicas no perodo atual, permitindo a circulao da informao e a
Introduo
41
existncia de outras tcnicas. Estas tcnicasmodificaram substancialmente o
usodo tempoepossibilitarama convergnciadosmomentos,oque significa
dizerquetodososlugaressoafetadosdiretaouindiretamentepelastcnicas.
Nas palavras de Santos (2001: 24) cada lugar tem acesso ao acontecer dos
outros.Consequentemente,apartirdasduassituaes,possvelconhecero
planeta como um todo. Isso ainda mais verdadeiro para os agentes
hegemnicos, demodo que as firmas, na busca pela acumulao, passam a
elaborar estratgias territoriais valorizando as localizaes ao seumodo, no
sendo todos os lugares interessantes para os seus objetivos. Assim sendo,
segundo Santos (2001:33), a cognoscibilidadedoplaneta constituiumdado
essencial operaodas empresas e produodo sistemahistrico atual.
Portanto, velocidade, distncia emobilidade passam a ter papis centrais na
circulaodepessoasemercadorias.mister,noperodoatual,sobretudopara
ascorporaes industriais,programaros fluxosdemercadoriasapartirdestas
variveis.
Com as possibilidades disponibilizadas pela evoluo tecnolgica, a logstica
deixoudeser focadaapenasnareduodecustosparase tornarestratgia
competitiva atravs do aumento constante da velocidade das operaes
voltadas para reproduzir o capital e realizar o valor, alm de satisfazer os
consumidores (em quase todos os nveis sociais), cada vezmais vidos por
entregasrpidas.Essesfatoresagregadosideiaderacionalidadeeideologia
da competitividade (na qual a velocidade e a pontualidade so fatores
definitivosnaproduo)elevamostatusdamovimentaodemercadoriasno
circuitoprodutivo.Vejamosaseguintemanchete:Falhasde logsticafrustram
plano de vendas da Sony para PS3 no Japo. A notcia referente a esta
chamadainiciadizendo:
Introduo
42
Atrasos decorrentes da falta de BluRay (um drive para oreferidovdeogame) fazcomqueempresa leveduassemanasalmdoplanejadoparaatingir1milhodeconsolesvendidos.Vendas dos console PlayStation 3, da Sony Computers,atingiram ummilho de unidades no Japo nesta terafeira(16/01), afirmou a companhia.O prazo duas semanasmaistarde que o plano original da Sony, que pretendia atingir amarcaatofinalde2006(WILLIAMS,2007).
Situaes como esta, causam interrupes e rupturas na produo e na
demanda. Como a velocidade se transformou em fator primordial para os
agentes hegemnicocorporativos e a logstica uma ao corporativa,
elaboramosumaperiodizaodacirculaocombasenoprogressivoaumento
da velocidade no decorrer da histria, por se tratar de um elemento que
demonstraoavanodatcnicaeporseconstituircomoelementopoltico.Para
interpretaroaumentodevelocidadeao longodahistriaataemergnciada
logstica,levamosemconsideraoqueosperodosnosocompostosapenas
porumavarivel,masporumconjuntodevariveis(SANTOSeSILVEIRA,2006).
Nesse sentido, consideramos as tcnicas, normas e uso do territrio para
considerarosseguintesperodosdahistriadacirculao:Paradigmaemprico
(dassociedadescoletorasaPrimeiraRevoluo Industrial),compredomnioda
busca pela capacidade de transportarmaiores quantidades demercadorias;
Paradigmanewcomenianoeeletromagntico(PrimeiraRevoluoIndustrialat
o finaldosculoXIX);Paradigmaautomotivoeeletrnico (InciodosculoXX
at a dcada de 1960), quando predomina a velocidade como desgnio;
Paradigma logstico e telemtico (globalizao), quando predomina a
hipermobilidadecomoestratgiacompetitiva.Considerandoadivisoterritorial
dotrabalho,oBrasilsempreparticipoudessesprocessosemdefasagemtcnica
frenteaospasescentrais.
SegundoMiltonSantos(2001:121),avelocidadeseconstituicomoideologia,a
partir da ideia de que a velocidade um dado irreversvel na produo da
Introduo
43
histria,apesardeapenasuma minoria (algumas firmase instituies) ser
rpida(usodemquinasvoltadasparaestefim).Portanto,graasimpostura
ideolgica,ofatodaminoriaacabasendorepresentativodatotalidade,graas
exatamente fora do imaginrio. Para Santos (2001: 122), a utilizao da
velocidade tornase duplamenteumdadodapolticaenoda tcnica,pois
mostradoisladosdasituao,umaescolhaintencionalqueserelacionacomo
poderdosagenteseumalegitimaodessaescolha,pormeioda justificao
deummodelodecivilizao.
Diante da problemtica e pressupostos apresentados, os objetivos centrais
destatesesotrs:
1. Analisar o uso do territrio pelos agentes corporativos a partir da
logsticaterritorial;
2. Compreenderalogsticacomoumaformahistricadecirculao;
3. Sendo a logstica, uma forma histrica de circulao, objetivamos
responderduasquestes:
Oquecirculao?
Qualasuafunocomoinstnciadoespaogeogrfico?
Ousodoterritriopelosagentescorporativosapartirdalogsticaterritorial
O uso do territrio explicado pelas infraestruturas implantadas e pela
dinmicadasociedadeedaeconomia.SegundoSantoseSilveira(2006:21)so
osmovimentosdapopulao,adistribuiodaagricultura,da indstriaedos
servios,oarcabouonormativo, includasa legislaocivil, fiscale financeira,
Introduo
44
que juntamente com o alcance e a extenso da cidadania, configuram as
funesdonovoespaogeogrfico.
Na perspectiva do grupo de Estudos Territoriais Brasileiros (2004), territrio
usado sinnimo de espao geogrfico. Os componentes entendem que a
perspectiva de territrio usado conduz a ideia de espao banal, o espao da
interrelaoentreosfenmenos,atotalidadesocialque levaemconsiderao
osobjetos(materialidade)easaes(dinmicasocial).
Paraos atoreshegemnicos,o territriousado um recurso,garantia da realizao de seus interesses particulares. Dessemodo, o rebatimento de suas aes conduz a uma constanteadaptao de seu uso, com adio de uma materialidadefuncional ao exerccio das atividades exgenas ao lugar,aprofundando a diviso social e territorial do trabalho,medianteaseletividadedosinvestimentoseconmicosquegeraumuso corporativodo territrio.Poroutro lado, as situaesresultantesnospossibilitam,acadamomento,entenderquesefazmister considerar o comportamento de todos os homens,instituies, capitais e firmas (ESTUDOS TERRITORIAISBRASILEIROS,2004:261).
OOTMfoiinstitucionalizadoparadarmaiseficinciaefluidezaotransportede
mercadoriasnoterritriobrasileirocomvistasprincipalmentesimportaese
exportaes.O reconhecimento da amplido do territrio brasileiro com sua
precria infraestrutura para o escoamento produtivo, e dos entraves
burocrticos nos fluxos de mercadorias resultaram na normatizao da
circulaodasempresasresponsveispelo transportemultimodalatuantesno
pas.uma tentativadeviabilizaro territrioaos interessescorporativossem
investirapenasem infraestrutura,poisosOTMssoempresasprestadorasde
servios contratadas por outras empresas. Por isso, analisaremos o uso do
territriopelosagentes corporativos,poisa contrataodeumOTM significa
maisumaetapanoprocessomais amplodeutilizaodo territrio. Entreos
Introduo
45
OTMs existem grandes corporaes, como caso da mineradora Vale (ex
Companhia Vale do Rio Doce), que, ao mesmo tempo, a maior empresa
privadabrasileiraeumadasmaioresempresasde logstica.Outroexemploa
empresateutoamericanaDHL,umacorporaomultinacional.Essescasosnos
remetem utilizao do territrio como recurso tambm por empresas de
logstica. Os OTMs e os embarcadores (aqueles que contratam o frete)
estabelecemuma relaodesolidariedadeespaciale,portanto,nopodemos
desvincular a anlise dos operadores de uma abordagem que leve em
considerao a existncia das corporaes que contratam o frete. Dessa
relaoemergeumaespacialidadeespecficaque sevolta contraditoriamente
para superar os obstculos e para utilizar os recursos oferecidos pelo
territrio. Essa situao do territrio possibilita aos agentes de circulao, o
desenvolvimento de uma inteligncia prpria sobre as melhores condies
paraomovimentodemercadoriasapartirdaschamadassolueslogsticas.
Logsticacomoformahistricadecirculao
A logstica corporativa13 uma forma histrica de circulao com maior
densidade tcnicocientfica, normativa e racional, sendo, portanto, uma
convergncia do processo de racionalizao e da cientificizao da tcnica.
Para compreender a racionalidade da logstica, buscamos em Habermas
(2006: 45 et seq) a ideia de ao racional teleolgica (ao instrumental, a
escolharacionalouafusodessasduasaes).Naperspectivahabermasiana,a
ao racional se organiza a partir da instrumentalizao tcnica de carter
emprico (oua tcnicaem sua condiomais teleolgica,masprincipalmente
ontolgica)eapartirdeestratgias(deumsaberanaltico).
13Otermologsticacorporativafoiutilizadoaquipelaltimavez,comocunhodereforarocarteroqualestamosanalisando.Tambmserviuparadistinguilodalogsticamilitar.Daquiemdiantenoutilizaremosmaisopleonasmologsticacorporativaesimplesmentefalaremosemlogstica.
Introduo
46
A racionalizao, por sua vez, um processo concebido porMaxWeber e
decorrededoisprincpiosfundamentaisdasuperioridadedomodocapitalista
sobreosanteriores,quaissejam:acapacidadedeampliaodossubsistemas
daaoracionalteleolgicaeafundamentaoeconmicaapartirdosistema
de dominao que se adapta s exigncias por racionalidade (HABERMAS,
2006:65).
Outra importante contribuio de Habermas para a nossa tese a ideia de
cientificizaodatcnica,queparaoautorumatendnciaapontadadesdeo
fim do sculo XIX. Segundo Habermas (2006: 72), o capitalismo sempre
demandoucertapressopelaelaboraodenovastcnicas(Eporqueno,de
normas?)paraenergizaraprodutividadedotrabalho14.Comefeito,acincia
veio a se constituir um importante instrumento para impulsionar as aes
racionais neste modo de produo. Entendemos, portanto, como sendo
fundamentalaconsideraodeHabermasarespeitodafusoentrecinciaea
tcnica. Segundo o autor, estes dois elementos, combinadamente, so a
primeira fora produtiva. Desse modo, apesar de sempre ter havido
planificao (capacidade de prideao do homem) no ato de circular, a
movimentaodebenssomentepassouaserracionalapartirdomomentoem
14Osentidodetrabalho,emHabermas,nosecircunscreveapenasao trabalhoenquantoativo de capitalistas, mas tem um sentido mais amplo, o de ao racional teleolgica.Habermas (2006: 52 apud GEHLEN) fala da tcnica (ou a sua histria) sob o aspecto daobjetivao gradual da ao racional teleolgica. [...] a evoluo da tcnica ajustase aomodelointerpretativo,segundooqualognerohumanoteriaprojetado,umaauma,aonveldos meios tcnicos, as componentes elementares do crculo funcional da ao racionalteleolgica,que inicialmente radicanoorganismohumano,eassimeleseriadispensadodasfunes correspondentes.Primeiro, reforaramsee substituramseas funesdoaparelholocomotor(mosepernas);emseguida,aproduodossentidos(olhos,ouvidos,pele)e,porfim,asfunesdocentrodecontrole(docrebro).Se,pois,setempresentequeaevoluotcnica obedece a uma lgica que corresponde estrutura da ao racional teleolgica econtrolada pelo xito e isto significa: estrutura de trabalho, ento, no se v comopoderamos renunciar tcnica, isto , nossa tcnica, substituindose por umaqualitativamente distinta, enquanto no semodificar a organizao da natureza humana eenquantohouvermosdemanteranossavidapormeiodotrabalhosocialecomaajudadosmeiosquesubstituemotrabalho.
Introduo
47
que houve aplicao da cincia nesse processo. Antes disso, havia somente
planificaoenoracionalidade,conformeaperspectivadeHabermas,eque
adotamos aqui. A logstica se insere nesse contexto de racionalidade da
circulaonoespao.
No incio do sculo XX, em nome da demanda corporativa, o engenheiro
estadunidenseFrederickWinslowTaylor(18561915)elaborouosfundamentos
deumaadministraocientficadotrabalhoedaproduo,bemcomotcnicas
de racionalizao do trabalho do operrio, atravs do estudo de tempos e
movimentos, ou seja, a sincronizao do trabalho e da produo.A ideia de
organizar o trabalho era tambm a de separar a administrao (pesquisa e
desenvolvimento(P&D),desenho,projetoetc.)eaproduopropriamentedita,
fazendoqueaorganizaodo trabalho tornassemaisntidaa clivagementre
trabalho manual e intelectual. Na mesma perspectiva organizacional, a
logstica, no perodo da globalizao, foi gestada institucionalmente nas
universidadesparaorganizarosfluxosglobaisdagrandeempresa.
Interessanostambmaconcepodo filsofoJoseOrtegayGasset (1991:12
et. seq.) sobre a tcnica, que, segundo o autor, a reforma que o homem
impe natureza em vista da satisfao de suas necessidades. Essas
necessidades, bsicas ou suprfluas, so satisfeitas pormeio de aes (atos
tcnicos) que vo da inveno ao processo de execuo de atividades que
permitamaohomem,almdesatisfazersuasnecessidadesbsicas,podergozar
essa mitigao com mnimo esforo possvel e criar possibilidades
completamente novas, produzindo objetos que no existem na natureza do
homem. Assim como o navegar, o voar, o falar com o habitante do outro
extremodomundomedianteotelgrafoouaradiocomunicao.Estanoo,
embora elementar, fundamental para compreender a logstica como uma
aoracionalquenose justificapelavisomaisbanalde tcnica,naqualse
Introduo
48
confundecomanoodetecnologia(BENKO,1996:163),quedariaacondio
demobilidadedessaao.
Pensandonamobilidadedohomem(tematangenteaestatese),emprincpio,
os meios para o homem circular foram produzidos diante de demandas
especficasde cada lugar, comoo transportede alimentos edemateriaisde
habitaes. Segundo La Blache (1954: 2924), os artefatos para transpor
obstculos produzidos pelo homem, demonstram umamltipla ecloso de
invenes locais fortementemarcadaspelo cunhodomeio.Paraoautor, a
verdadeira ptria de uma inveno o meio no qual se torna fecunda e
diversificaassuasaplicaes.
Foi,ora a flora,ora a fauna,que se imps contribuio;paratransporasribeiras,as lianasflexveiserobustasdavegetaotropicalderamazoaexpedientesdiversosdaquelesquetinhasimaginadoospastoresdasestepes.Em suma,noh regiesdo globo onde o homem no tenha encontrado algumamatriaprima para utilizar; e, certos casos, mais do que amatria faltou o esforo de esprito, a iniciativa. E podemosdizer aindaqueosmateriais locaisqueohomem conseguiuadaptar ao transporte eram com freqncia recursos toimperfeitosquenoseteriaobstinadoautilizlossefossempossveisas importaes.Tal,sobretudo,a lioqueresultadestesprodutosprimitivosda indstriahumana. (LABLACHE,1954:2923,grifosnossos).
Para lvaro Vieira Pinto (2005: 54 et seq.), a tcnica representa uma
manifestaodoprocessodecriaodohomemporsimesmo,considerando
que a tcnica est presente como base em todos os atos do homem, sejam
materiaisou ideais.Noentanto,o autordeixa claroque ahistrianoum
produtodatcnica,queporsuavezsedesenvolveesecomplexificaapartirdo
maiorconhecimentodohomemsobreomundo.
Introduo
49
A logstica uma tcnica, cuja atuao ocorre a partir de um conjunto de
tcnicas.ParaRicardoCastillo(2007:37),alogsticaumarranjocomplexoque
envolve infraestruturas, instituies e conhecimento. Nas palavras do autor,
logsticaum:
Conjunto de competncias infraestruturais (transportes,armazns, terminais intermodais, portos secos, centros dedistribuio etc.), institucionais (normas, contratos deconcesso, parcerias pblicoprivadas, agncias reguladorassetoriais, tributao etc.) e estratgicas (conhecimentoespecializadodetidoporprestadoresdeserviosouoperadoreslogsticos)que,reunidasnumsubespao,podemconferirfluideze competitividade aos agentes econmicos e aos circuitosespaciais produtivos. Tratase da verso atual da circulaocorporativa(CASTILLO,2007:37,grifosnooriginal).
Portanto,logsticanoseresumeinfraestrutura,noentanto,agestologstica
passapelanecessidadedeelaboraoe fomentodos sistemasdeengenharia
(infraestruturas para o movimento de mercadorias), bem como pela
organizao dos sistemas de movimento. Esses esto entre os fatores que
diferencia a logstica como forma histrica de circulao. Estratgia,
planejamentoe gestode transportes,de armazenagemedas comunicaes
no so suficientesparaexplicara logstica,pois taiselementosexistiram,de
mododiferente,emoutrosperodoshistricos.
No decorrer da histria, ocorreram muitas aes em torno da ideia de
aperfeioaracirculaodemercadorias,atravsdoplanejamentoegestodas
rotas, busca pela melhoria no armazenamento da produo, controle de
estoques,desenvolvimentodetcnicasdetransportescomvistasobtenode
maiorvelocidadeecapacidadedemovimentargrandesquantidadesdecargas
etc. Podese, portanto, trabalhar com a hiptese de que ocorreram, formas
embrionrias de circulao racional que fomentaram o desenvolvimento
histricodalogsticanasegundametadedosculoXX,masquesediferenciam
Introduo
50
em um aspecto fundamental: a espessura tcnicocientficanormativa. Alm
disso, hoje existe o pleno exerccio da logstica entre as corporaes, seja
atravs da terceirizao (contratao de operadores logsticos, consultoria
logsticaetc.)ouatravsdedepartamentosprpriosde logstica.Emperodos
pretritos,aespontuaisdeformasembrionriasdelogstica.
AkeAndersonfoioresponsvelpelatentativadepensaralogsticanahistria.
O autor publicou em 1986, um artigo intitulado Les quatre rvolutions
logistiques15,noqualapresentadaumapropostadeperiodizao inspirada
na discusso deAlistairMees (1975), que por sua vez, tomou a hiptese de
Henri Pirenne (1936) como ponto inicial. Segundo Anderson (2003), o
historiador Henri Pirenne, em essncia, afirma que a razo principal do
renascimento das cidades europias, no fim da Idade Mdia, foi o
aperfeioamentodo sistemade transporte.Apartirdessapremissa,o autor
discorre:
A seqncia de mudanas revolucionrias no mundoeconmicoduranteoltimomilniopodeserexplicadapelasmudanasnaestruturadesistemaslogsticosdemaneirageral.Em outras palavras: As grandes mudanas estruturais deproduo, locao, comrcio, cultura e instituies sodesencadeadas pelas lentas,mas constantesmudanas nasredesdelogstica(ANDERSON,2003,grifosnooriginal).
O autordefine redesde logstica como sendoos sistemasquepodem ser
usados para o movimento demercadorias, informao, dinheiro e pessoas,
associados comaproduoou consumodemercadorias.Deve serdestacado
quemercadorias incluem bens e servios (ANDERSON, 2003).A partirdessa
15Aversoqueutilizamosaquiequeconstanabibliografiafoitraduzidaem2003enoestmais disponvel na Internet. A verso original : ANDERSON, Ake. Les quatre rvolutionslogistiques.UHT2001.Paris:MinistredelquipamentDuLogement,dsTransportsetdelaMer,n.15,p.114,mai.1990.
Introduo
51
perspectiva,oautordiscorre sobreessasrevoluescombasenanoode
desenvolvimentode relaeseconmicasentre regiesnomundodesdeos
anos1000d.C.atofinaldosculoXXI.Andersondivideessastransformaes
emquatrorevolueslogsticas.
Quadro1.Asquatrorevolueslogsticas,segundoAkeAnderson
Revoluo
Logstica
Pasondese
iniciou
pocaque
iniciou
pocaque
terminouou
terminar
Primeira Itlia SculoXI SculoXVI
Segunda Itlia SculoXVI SculoXIX
Terceira Inglaterra SculoXVIIIProvavelmente
nosculoXXI
Quarta
Japo,EUA,
Sua,Suciae
Alemanha
Fimdosculo
XX
No
especificado
peloautor
Fonte:AkeAnderson,2003.Organizao:RobertoFranadaSilvaJunior.
Eliseu Sposito fezmais consideraes a respeito do artigo de Ake Anderson,
contribuindo para a apresentao e organizao do pensamento do autor,
avanandonoquetangesuaaplicaoacercadadiscussosobreoprocesso
demundializaosustentadopornovasformasdecomunicaesetransportes.
Segundo Sposito as revolues logsticas so originrias das seguintes
situaes:
[...] incorporaodastecnologiasaostransportes;necessidadede se aumentar a velocidade nos fluxos de capitais e nacirculaodas informaes,principalmenteaquelas ligadassnovasideias,quepodemgerarmaioreslucros;criaodenovas
Introduo
52
necessidadesassociadasaoconsumodebensnoproduzidosnocircuitoprodutivo[...](SPOSITO,1999:105).
A partir do mtodo braudeliano16 apresentamos, em dissertao de
mestrado, a necessidade de se compreender o processo trabalhado por
Andersone reiteradoporSposito,comosendoalogsticana longadurao,
caracterizada pelo seu desenvolvimento e evoluo, a ponto de ocorrerem
rupturasetransformaesnoprocessodeconstituiodoaparatologstico.
Na longadurao,asmudanasdecorrentesde incorporaestcnicas e tecnolgicas aos processos produtivos e decirculao, bem como as decises de ordem polticoeconmicas nacionais e internacionais (diminuio dos custosdetransao)proporcionamintegraesterritoriaiseregionais,trazendo na sua esteira, diferentes e contraditrios arranjosespaciais. So as revolues logsticas (SILVA JUNIOR, 2004:123).
Mrcio Rogrio Silveira (2003), desenvolvendo uma anlise acerca da
importnciageoeconmicadasferroviasparaBrasil,elaborouuma importante
contribuioparapensara logsticaeas infraestruturasnoBrasil.Emsuatese,
Silveira,emcontraposiopropostadeAnderson,preferiurestringiralogstica
comosendoumaestratgiadetransporteearmazenamento.Nessesentido,a
logsticanopoderiaserumelemento transformadorde todaumasociedade,
comopropeAnderson.NaspalavrasdeSilveira:
Alogsticaimportante,masnomaisdoqueaproduoedoqueocomrcio,poisalogsticaosassessora.Otermotambmno explica, certamente, a evoluo da humanidade(revoluologsticaapartirdarevoluodostransporteseda circulao). [...]. Pensar em fazer eficientemente essastarefas e utilizar as tecnologias possveis desenvolverestratgiaslogsticas.
16 Para uma discussomais detalhada sobre a longa durao ver Braudel (1978: 4177)HistriaeCinciasSociais.Alongadurao.
Introduo
53
Na verdade, a logstica no to complexa e ilimitada,apresentandosenaatualidade,comocontribuioaumnovomodelo econmico, espacialmente mais amplo, ou seja, aglobalizao[...](SILVEIRA,2003:319).
Algunsanosmaistarde,Silveira(2008)requalificousuacrticaeapresentouum
artigo propondo a existncia de cinco revolues e evolues logsticas,
analisandooimpactodessasnoterritriobrasileiro.
OutrosdoisautoresquemencionaramoartigodeAnderson foram LeilaDias
(1997)eMiltonSantos(2004:173),queescreveuquartarevoluo industrial
no lugar de quarta revoluo logstica. Entretanto, apesar da seminal
discusso, trabalharemos entendemos que a logstica foi constituda no
perododaglobalizao, sendoqueodesenvolvimentodos transportesedas
comunicaescontribuiuparamudanasnosprocessosdecirculaoqueuma
aomaisampladoquealogstica.Contudo,oquemaisimportanaanlisea
compreenso da logstica como piv das cadeias de valor das empresas.
Portanto,apartirdaideiadequealogsticaumaformahistricadecirculao,
abordaremos a insero da logstica no processo de realizao do valor das
mercadorias produzidas. Esta realizao se d pelo valor do espao, nas
distnciascustosenasdistnciastempo.
Aexistnciadosoperadoreslogsticos,comoindependentesjuridicamentedas
indstrias, dos varejistas e empresas prestadoras de servios demarca a
logstica como ramo de atividade econmica. Existem atualmente vrias
multinacionais especializadas em logstica, com estruturas jurdicas
independentes.Nomundo,oscustoslogsticosatingiramem2004,cercade3,2
trilhes de dlares, ou seja, 11 por cento do PIBmundial17. Entre os custos
17EmprimeirolugarestaAmricadoNortecomUS$1,137trilho,seguidapelaEuropacomUS$870bilhes,siacomUS$824bilhes,AmricadoSulcomUS$220bilhes,fricacom
Introduo
54
logsticos est a infraestrutura, tais como construo e manuteno de
armazns,centrosdedistribuioeTIC.Emmuitoscasos,infraestruturascomo
pontes, terminais alfandegados, ferrovias, portos secos, rodovias etc. so
construdasouadministradasporempresasdelogstica.
Menosdecincoporcentodoscustos logsticossodelegadosaosoperadores
logsticos,masaindaassimrepresentaummercadonadadesprezvel.Amaior
empresa de logstica domundo a UPS (United Parcel Service) sediada em
Atlanta(EstadodaGergiaEstadosUnidos)efundadaem1907.Em2003,seu
faturamentofoide33,5bilhesdedlareselucrandode2,9bilhesdedlares.
Seu valor demercado de 72 bilhes de dlares. A empresa tem 355mil
funcionrios no mundo e uma frota de aproximadamente 150 mil veculos
terrestres e 600 avies entre prprios e contratados. Em 2003, a empresa
entregoumaisdetrsbilhesdepacotesedocumentosemmaisde200pases
(TIGERLOG,2009).
As empresas norteamericanas destinavam em 2003, 43 por cento de seu
oramentocontrataodeprovedoresdeservioslogsticos.73porcentodas
100maioresempresasrelacionadaspelaFortuneestoutilizandoprovedoresde
servios logsticos; entre as 500 maiores esse ndice de 44 por cento
(TIGERLOG,2009).Entreasgrandesempresasnorteamericanasdosetoresto
UPS,Fedex,Ryder,Penske,EGL,Expeditors,McLaneentreoutras.Almdestas,
duas empresas europias se destacam, a Exel e a Danzas, recentemente
adquiridaspelaDHL,umagrandeempresadelogsticateutoamericana.
NaEuropaOcidental25por centodasoperaes logsticas so realizadaspor
empresasespecficasdoramodelogstica,quefaturaram,em2003,cercade40
US$77bilhes,OceaniacomUS$63bilheseAmricaCentralcomUS$15bilhes(TIGERLOG,2009).
Introduo
55
bilhesdedlares.Asempresaseuropiasgastamemmdia51porcentoem
logstica, essencialmente com provedores de servios logsticos (TIGERLOG,
2009).Osmaioresoperadores logsticoseuropeusso:DHL,Danzas,Schenker,
Geodis,TNTeKuehneNagel.
NaChina,apartirdachegadadegrandesempresas internacionaisde logstica,
as empresasde transporte locaispassaram autilizar apalavra logstica em
suas atividades, sendo uma palavra da moda entre as empresas chinesas
(TIGERLOG, 2009), assim comoocorreunoBrasilno finaldadcadade 1990
(SILVA JUNIOR,2004).grandeomercadodeoperadores logsticosnaChina.
Em2003,oscustoslogsticosquegiravamemtornode16e20porcentodeseu
PIB(US$4trilhes),estandomenosde10porcentoterceirizados.
Situaes como as citadas demarcam a logstica como uma atividade
econmica.Assim comoa indstriaumaatividadeeconmicaeuma forma
histrica de produo, possibilitando a emergncia de agentes especficos, a
logstica uma forma de circulao que permite a atuao de agentes
econmicos especficos, voltados para amovimentao demercadorias, que,
porsuavez,normatizada.
Sealogsticaexisteapartirdeumconjuntodetcnicas,elatambmcomparece
como uma ao normada. O fato de a logstica possuir grande densidade
normativa se deve sua complexidade como atividade responsvel pelo
transportedemercadorias em suadiversidadedeprodutos ede lugaresque
dependemdacirculao.Asnormasseestabelecempararegularomovimento
demercadoriasnoterritrio.Numperodoemqueasrelaesinternacionaisse
tornammais complexas, asnormas se tornammais fundamentaispara a sua
organizao. Isto faz da ordem mundial cada vez mais normativa e mais
normada (SANTOS, 2004: 228). Sob o ngulo da tcnica, o espao, por seu
Introduo
56
contedo tcnico, regulador,masum regulador regulado, jqueasnormas
administrativas (alm das normas internas s empresas) que, em ltima
anlise,determinamoscomportamentos(SANTOS,2004:230).
A circulaonoumaao livrepor ser reguladapor instituiesenormas
diversas. O Programa de Acelerao do Crescimento (PAC), por exemplo,
destinoumuitosrecursosparaainfraestrutura logstica(termoutilizadopelo
governo federal).Os investimentos,entreosanos2007e2010,sodaordem
de 58,3 bilhes de reais18.Muitos destes investimentos foram previstos no
PlanoNacionaldeLogsticadeTransportes(PNLT)doMinistriodosTransportes
(MT)eMinistriodaDefesa (MD), lanadoemabrilde2007.Consideradoum
plano de Estado, o PNLT aponta recomendaes de carter institucional. O
plano prev investimentos em infraestrutura e reorganizao da matriz de
transporte no pas. Isso significa que, embora o plano seja voltado
prioritariamente aos transportes, existe por parte do Estado brasileiro, o
entendimentodequeodesenvolvimentologsticopassapelareestruturaoda
infraestrutrura, considerando os custos na cadeia logstica. Da falar em
infraestruturalogstica.
Segundo Castillo (2007), a logstica a expresso atual da circulao
corporativa.Nocasodoagronegcio,podesedizerqueoEstadobrasileirovem
agindomaisna circulaodoquenaproduopropriamentedita,atravsde
investimentoseminfraestruturaslogsticasenaorganizaodenormas,visando
aumentarafluidezeacompetitividadeterritoriaisparaosetor,formandoredes
extravertidas voltadas necessidade de exportao dos grandes grupos
agroindustriais.Este fatoqueocorredesde1995demarcaumusocorporativo
18DadosdoGovernoFederal.Almdesseeixodeinfraestrutura logstica,outrosdoiseixosso prioritrios para o PAC, quais sejam a infraestrutura energtica (R$ 274,8 bilhes) einfraestruturasocialeurbana(R$170,8bilhes).
Introduo
57
doterritriobrasileiro,apartirdeumademandapor logstica.Castillo(2007
a) considera a logstica como um subsetor estratgico, que cria agentes
especificamenteparaa realizaodesse tipodecirculao.Acirculao surge
ento como a principal varivel ascendente na formulao de polticas
pblicas,naspolticasprivadasenaquelestiposdepolticasquesepoderamos
chamar de hbridas e que regulam hoje a organizao e uso do territrio
(CASTILLO, 2007 a).No agronegcio, por exemplo, os crculosde cooperao
entreasgrandesempresasdoagronegcio (porexemplo,aCargill,aBunge,a
ADM,aMaggi,aCoinbra,aCaramuru),asempresasdelogstica(comoaALL,a
Vale,aHermasa)eoEstado sobemevidentes.SegundoCastillo (2007a)as
grandes firmasdoagronegciodominam,cadavezmais,obeneficiamento,a
assistnciatcnica,oprocessamentoagroindustrial,omercadodefertilizantes,
omercado de sementes, o armazenamento, o financiamento da produo, a
comercializaoeaexportao.
Oquecirculaoequalasuafunocomoinstnciadoespaogeogrfico?
Bem nos lembra BresserPereira (2005: 3) sobre a possibilidade de pensar a
sociedade como sendo constituda por instncias, assim como fezMarx, que
vislumbrouasociedadeapartirde trs instncias:aestrutural,acultural,ea
institucional.
Com base nesta interpretao metodolgica, Milton Santos, em Por uma
GeografiaNova(2002:177190),propsacompreensodoespaocomouma
instnciasocial.EmEspaoeMtodo,omesmoautor(2008a:816),propso
entendimentodoespaoapartirdeinstnciasprodutivas.Comisso,oespao
Introduo
58
uma instncia social que contm outras instncias. Cindir a sociedade e o
espaoeminstnciassignificaanalisarseuscompartimentosfundamentais19.
ParaMnica Arroyo (2001), cada uma dessas instncias produtivas tem um
desenvolvimento desagregado,mas no desarticulado.Nessa direo, para a
autora:
A dissociao geogrfica da produo e do consumo, aespecializao produtiva dos lugares, a diviso territorial dotrabalho so noes que expressam essa divisibilidade. Estaltima, porm, no absoluta, dado que as instnciasprodutivas no esto articuladas atravs da circulao(ARROYO,2001:56).
Como instnciaprodutivadoespao,a circulaodesignaodeslocamentode
mercadorias, pessoas, ideias e informaes, mas tambm a reproduo do
capital.Os dois atos se coincidem nas trocas e na realizao do consumo.
Entretanto, podese argumentar, assim como CamilleVallaux (1914)20, que a
circulaoum fenmenopoltico.O autorprocurou elaboraruma teoria
geraldacirculao,apresentandoumadiferenciaoentreacirculaocomo
fenmenopolticoeacirculaoconsideradasobopontodevistapuramente
econmico. Segundo Vallaux, infelizmente, a noo de movimento est
subordinada,entreosgegrafos,detroca.
No se acha interpretada mais que um deslocamento deprodutos necessitados devido desigualdade produtiva das
19 relevantedenotarqueo termo instnciano estdito comoum termo jurdico,quetambmo,masprincipalmentecomoconjuntodefatores,funesouvaloresqueperfazemum determinado domnio, campo, esfera; categoria, mbito (DICIONRIO HOUAISS). Adefiniododicionrionosauxilianacompreensodanoo,m
Recommended