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7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades
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Contos do Mundo
(Interculturalidades)
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A longa viagem comea com um passo (Portugus)
(Chins)
Lung cltorie ncepe cu un singur pas (Romeno)linn putnachinaetsya s odnogo shaga (Russo)
Le long voyage commence par un pas (Francs)
Viajen lngo ca coma cu passo (crioulo de S. Tom e Prncipe)
Um viagem e ta cunsa cu um passo cumprido (crioulo da Guin)
Um grand viagem t comea kon um passe (crioulo de Cabo Verde)
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Contos do Mundo
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ndice
Nota de Abertura Pg. 7
Prefcio .. Pg. 9
Introduo Pg. 11
Glossrio Pg. 13
Contos do Mundo Pg. 15
Contos de Portugal
Portugal . Lenga-lengas .. Provrbios Lendas . Contos Tradicionais ..
Pg. 17
Pg. 19
Pg. 28
Pg. 37
Pg. 59
Contos de Angola
Angola . Contos Tradicionais . Pg. 83Pg. 84
Contos do Brasil
Brasil Mitos Lenga-lengas .. Lendas .
Pg. 91
Pg. 94
Pg. 99
Pg. 100
Contos de Cabo-Verde
Cabo-Verde . Contos Tradicionais ..
Pg. 101
Pg. 103
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Contos da China
China Lendas . Provrbios
Pg. 105
Pg. 108
Pg. 114
Contos da Guin-Bissau
Guin-Bissau .. Contos Tradicionais .
Pg. 117
Pg. 119
Contos de Moambique
Moambique .. Contos Tradicionais .
Pg. 131
Pg. 133
Contos da Romnia
Romnia Lendas
Pg. 149
Pg. 151
Contos da Rssia
Rssia .. Contos Tradicionais
Pg. 161
Pg. 163
Contos de So Tom e Prncipe
So Tom e Prncipe . Lendas . Contos Tradicionais ..
Pg. 183
Pg. 185
Pg. 190
Agradecimentos .. Pg. 197
Bibliografia Pg. 198
Equipa Tcnica .. Pg. 199
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Contos do Mundo
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Nota de Abertura
Moura terra de lendas, terra de contendas, afirma-se hoje como um
Concelho solidrio e um Concelho que rene e acolhe no seu seio um
caldo de culturas que o enriquecem e valorizam.
A publicao deste livro representa o testemunho de diversas formas
de expresso de raiz popular que, na sua diversidade, compem um
mosaico de carcter universal, tendo como trao comum a afirmao
da sua identidade e das suas origens e referncias.
Ancorados nas suas prprias razes estabelecem laos com outras
gentes e outras culturas.
A publicao deste livro, em que as palavras vertidas no papel
espelham a imaginao dos nossos antepassados, um contributo
inestimvel para que as novas geraes aprendam o significado dos
contos e para que estes no se percam na nossa memria. Ficam aqui
registados para memria futura.
E faz sentido conhecer contos de todo o Mundo porque, o Mundo, anossa casa comum.
Presidente da Cmara Municipal de Moura e
Presidente da Direco da Comoiprel - Ciprl
Jos Maria Prazeres Ps-de-Mina
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Contos do Mundo
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Prefcio
Era uma vez um homem que um dia, depois de comer, se estendeu de
ventre ao sol e se ps a cismar...Ter sido nesse dia, talvez em frica, que o nosso av deu um passo
fundamental, saiu de dentro de si para perseguir um sonho, coisa que
mais nenhum bicho sua volta conseguiu fazer. O pau, a pedra ou a
lana podiam chegar aos cus sem esforo algum, derrubando aves
apetecidas ou ento partirem rente ao cho ao encontro do animal h
muito desejado. Isso era possvel se o sonhasse. Movido de
entusiasmo, experimentou pintar a sua divagao numa parede
utilizando o sangue de uma presa que abatera. E saiu uma cena de
caa, um desejo colorido, o primeiro sonho pintado, com o acrescento
mgico (outra sua descoberta) de que, pintando-o, o podia tornar
realidade. O homem afinal no pintava s um sonho, um desejo, mas
tambm contava um conto que so coisas nascidas no mesmo bero.
A partir da nunca mais parou.
S que precisou de tempo para contar contos de outro modo. Tentou
ainda escavar a rocha esculpindo animais to perfeitamente que areproduo levada a cabo ainda hoje nos espanta. Sobrepunha o
mesmo bicho vrias vezes ou sobrepunha-o a outros bichos,
especialmente de perfil, de p, deitados, feridos por setas. Histrias
contadas sua maneira com os meios de que dispunha.
Faltava uma forma mais prtica, mais moderna de expresso, a dos
sons formando palavras e estas desenhando frases. Com o domnio
deste instrumento o homem ganhou o mundo, contando o real e oinventado, tudo a seu belo prazer. Nasciam as Odisseias, as Bblias, as
Tvolas Redondas, o Santo Graal, as Histrias das Mil e uma Noites, as
Fbulas de Esopo. Tudo narrado de forma oral, passando de velhos
para novos, numa cadeia que se manteve mesmo depois de inventadas
as escritas e que perdurou at aos nossos dias. De preferncia em
forma rimada, que se fixa e se transmite melhor. E como quem conta
um conto sempre lhe acrescenta um ponto no houve monotonia, as
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mesmas histrias deram a volta ao mundo com as variantes mais
espantosas. que os ambientes culturais so diferentes mas os
homens so sempre os mesmos, com os mesmos anseios, os mesmos
medos, as mesmas paixes, as mesmas crenas, os mesmos ridculos,
estes insistentemente explorados por todos,
Todavia a humanidade no se deteve somente nas histrias com
princpio, meio e fim. Escolheu palavras terminando no mesmo som e
f-las rimar, em lengalengas s vezes com aparente falta de sentido. Os
homens sempre se perderam por ver as coisas voltadas do avesso. So
formas ldicas, brincadeiras muito ao gosto das crianas, que, de certo
modo, se vo perpetuando.
No nosso mundo rural, onde h menos de meio sculo o tempo aindatinha a dimenso dos homens, preenchia-se o tempo que sobrava com
a voz dos avs contando histrias aos netos. Hoje estes j no tm
tempo para ouvir, para eles o passado o futuro e os avs que restam
quase se acanham de murmurar na sua frente o era uma vez. No ecr
do computador abre-se-lhes o mundo inteiro e pouco lhes interessa o
Um, dois, trs macaquinho de chins ou O menino da mata e o seu co
Piloto. Figuras de antropides com picos ameaadores e cores
repelentes, falando um spero ingls, eliminaram do seu horizonte os
contidos personagens campestres de linguagens macias. Quer se
queira quer no, os tempos so outros. face da terra todos os jovens
vem as mesmas coisas, pouco diferindo nos gostos. a globalizao.
O que o presente livro faz preservar a memria do conto contado
como patrimnio dos povos, neste caso at com preocupaes multi-
culturais, antes de ser triturado pelas redes planetrias, acautelando
testemunhos culturais a que, com bonomia, todos gostamos de voltarquando a presso tecnolgica nos cansa com o rigor das imagens e dos
nmeros.
Bem-haja por isso a equipa que fez e organizou esta recolha.
Joo Mrio Caldeira
Fev/2010
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Contos do Mundo
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Introduo
Vivemos dentro de um espao, de um tempo e de uma realidade que
estabilizam as nossas referncias, mas tambm nos limitam e por vezes
oprimem-nos. Essas fronteiras transmitem-nos segurana, mas
tambm nos convidam a ultrapass-las num acto em que casem a
curiosidade e o esprito de aventura. Viver dentro de um referencial
viver de acordo com uma narrativa que se conta a si prpria, mas por
vezes experimentamos o desejo e a necessidade de transformar essa
narrativa, de a reinventar.
H vrias maneiras de transformar as nossas narrativas, umas maisdestrutivas, outras mais construtivas, como nos ensina um olhar sobre
a nossa histria e sobre a nossa sociedade. Quando sonhamos,
enquanto dormimos, deslocamo-nos no tempo. Quando viajamos para
um pas estrangeiro, por exemplo em frias, deslocamo-nos no espao.
Quando vemos um filme ou assistimos a uma pea de teatro, estamos
a entrar noutra realidade, que muitas vezes nos faz esquecer a nossa.
Quando aumentamos a nossa conscincia acerca de um dado
fenmeno ou situao, estamos a modificar a realidade, a nossa
realidade. Transpor os limites do espao, do tempo e da nossa
realidade so formas de evaso. Ao longo da sua histria, os humanos
sempre procuram de diversas maneiras essas formas de evaso e de
expanso dos limites do possvel. As crianas passam o tempo a faz-
lo. Os adultos, muitas vezes j esqueceram essa possibilidade mgica.
As lendas, os provrbios, os mitos ou os contos tradicionais so formas
de construir e reviver outras narrativas e, nesse sentido de vivenciarrealidades alternativas. Transportam-nos para um domnio mitolgico
e para uma lgica mais devedora imaginao e liberdade de
pensamento do que aos constrangimentos funcionais que so o
cimento da nossa sociedade. Povoam o nosso imaginrio e exercem
um notvel fascnio sobre ns. Mas porqu?
Talvez porque nos lembram as nossas origens; porque so uma
referncia mtica do nosso mundo infantil; porque nos recordam um
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tempo nas nossas vidas em que a imaginao era um dado sensvel, um
poderoso catalisador de mudanas.
As lendas, os mitos, as lenga-lengas ou os contos que constam nesta
publicao so elementos roubados nossa imaginao colectiva, meio
reais, meio imaginrios. Mergulharmos neles equivale a abraar as
nossas origens e a desconstruir as nossas estruturas mentais, que
dividem o mundo em ilhas incomunicveis a no ser atravs de
processos de dominao.
Trata-se de uma recolha intercultural, abrangendo textos de Portugal,
Angola, Brasil, Guin, Moambique, So Tom e Prncipe, Romnia,
Rssia e China.Parecem-nos urgentes estes mitos da criao humana para sentirmos o
quanto tudo possvel, ou seja, o quanto a nossa viso das coisas
relativa e transitria e pode ser alterada.
Trazer de volta esses elementos eternizar personagens e vivncias
indispensveis para a compreenso da nossa histria e das nossas
vidas, imortalizar sentido de liberdade e transgresso que nos
oferece qualquer fronteira.
Estes enredos carregados de sentido mtico insuflem em ns a
nostalgia de um tempo que no conhecemos mas de que,
paradoxalmente, sentimos saudade. Fornecem uma explicao
plausvel, ensaiam um movimento perptuo e circular de expanso dos
limites do possvel, bebendo da imaginao, da inspirao e da intuio
as bases para deitar abaixo as falsas fronteiras que a nossa falta de
imaginao produz e inventar novos laos em que a dominao
sucumbe ante a cooperao.Esta recolha tem por objectivo recordar-nos o dever de nos
aproximarmos uns dos outros, at como forma de nos aproximarmos
de ns mesmos e redescobrir a nossa identidade essencial.
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Contos do Mundo
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Glossrio:
Lenda uma narrativa fantasiosa transmitida pela tradio oral atravs
dos tempos.
De carcter fantstico e/ou fictcio, as lendas combinam factos reais e
histricos com factos irreais que so meramente produto de
imaginao humana. Algumas lendas fornecem explicaes plausveis,
e at certo ponto aceitveis, para as coisas que no tm explicaes
cientficas comprovadas, como acontecimentos misteriosos ou
sobrenaturais. Podemos entender que a lenda uma degenerao domito. As lendas, pelo facto de serem repassadas oralmente de gerao
em gerao, sofrem alteraes medida que vo sendo recontadas.
Conto a forma narrativa, em prosa, de menor extenso. Entre suas
principais caractersticas, esto a conciso, a preciso, a densidade, a
unidade de efeito ou impresso total. Logicamente a primeira fase a
oral, a qual no possvel precisar o seu incio: o conto tem origem
num tempo em que nem sequer existia a escrita; as histrias eram
narradas oralmente ao redor das fogueiras das habitaes dos povos
primitivos geralmente noite. Por isso o suspense e o fantstico que
o caracterizou. O conto necessita de tenso, ritmo, o imprevisto dentro
dos parmetros previstos, unidade, compactao, conciso, conflito,
incio, meio e fim; o passado e o futuro tm significado menor.
Lenga-lenga uma cantilena transmitida de gerao em gerao naqual se repetem determinadas palavras ou expresses. Poderemos
dizer que uma lenga-lenga conversa fiada, uma ladainha.
Provrbios sentena de carcter prtico e popular, que expressa de
forma sucinta, e no raramente figurativa, uma ideia ou pensamento.
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Mito uma narrativa tradicional com carcter explicativo e/ou
simblico, profundamente relacionado com uma dada cultura e/ou
religio. O mito procura explicar os principais acontecimentos da vida,
os fenmenos naturais, as origens do Mundo e do Homem por meio de
deuses, semi-deuses e heris (todas elas so criaturas sobrenaturais).
Pode-se dizer que o mito uma primeira tentativa de explicar a
realidade.
Ao mito est associado o rito. Este o modo de se pr em aco o mito
na vida do Homem (ex: cerimnias, danas, oraes, sacrifcios...).O termo "mito" , por vezes, utilizado de forma pejorativa para se
referir s crenas comuns (consideradas sem fundamento objectivo ou
cientfico, e vistas apenas como histrias de um universo puramente
maravilhoso) de diversas comunidades. No entanto, at
acontecimentos histricos se podem transformar em mitos, se
adquirem uma determinada carga simblica para uma dada cultura.
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Contos do Mundo
15Contos do Mundo
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Contos do Mundo
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Contos de Portugal
Portugal
Localizado no sudoeste da Europa, cujo
territrio se situa na zona ocidental da
Pennsula Ibrica e em arquiplagos no
Atlntico Norte, Portugal possui uma rea
total de 92 090 km e considerada anao mais ocidental do continente
europeu. O territrio portugus delimitado a Norte e a Leste por
Espanha e a Sul e Oeste pelo Oceano Atlntico, e compreende a parte
continental e as regies autnomas: os arquiplagos dos Aores e da
Madeira. Possui no total 18 distritos, sendo Lisboa a capital.
Com uma populao estimativa (2008) de 10.627.250 habitantes e uma
densidade populacional de 115.3 hab/km
2
. O clima temperadomediterrnico e temperado ocenico.
Durante os sculos XV e XVI, Portugal foi uma potncia mundial
econmica, social e cultural, constituindo-se o primeiro e o mais
duradouro imprio colonial de amplitude global.
hoje, considerado um pas desenvolvido, economicamente prspero,
social e politicamente estvel e com um ndice de desenvolvimento
humano muito elevado. Encontra-se entre os 20 pases do mundo com
melhor qualidade de vida.
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1Imagens
1Paisagens do Baixo Alentejo, plancie de Moura, distrito de Beja
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Contos do Mundo
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Lenga-lengas
Um d li tCara de amendo
Um segredo
Coloreto
Quem est livre, livre est
Um aviozinho militar
Atirou uma bomba ao ar
Diga l, meu menino,
A que terra foi parar?
Anani, anano
Ficas tu
E eu no
To-balalo
Cabea de co
Orelhas de gato
No tem corao
No tem corao nem voz nem alento
Orelhas de gato
Cabea de vento
Pirata da perna de pau, olho de vidro e cara de mau!
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O Rato Roeu a Rolha da Garrafa do Rei da Rssia!
A criada l de cima
feita de papelo,
Quando vai fazer a cama
Diz assim ao patro:
Sete e sete so catorze,Com mais sete vinte e um,
Tenho sete namorados
E no gosto de nenhum.
Bichinha gata
Que comeste tu?Sopinhas de leite
Onde as guardaste?
Debaixo da arca
Com que as tapaste?
Com o rabo do gato
Sape, sape, sape!
Caracol, caracol
Pe os pauzinhos ao sol
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Contos do Mundo
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Dedo mindinho
Seu vizinhoPai de todos
Fura bolos
Mata piolho
Este menino achou o ovo
Este o assouEste sal lhe deitou
Este o provou
Este o papou
Joaninha voa, voa
Que o teu pai est em Lisboa
A tua me no Moinho
A comer po com toucinho
Joaninha voa, voa
Que o teu pai est em Lisboa
Com um rabinho de sardinha
Para comer, que mais no tinha
Lagarto pintado
Quem te pintou?
Foi uma velha que aqui passou
No tempo da eira
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Fazia poeira
Puxa lagarto
Por aquela orelha!
Janeiro, gear
Fevereiro, chover
Maro, encanar
Abril, espigar
Maio, engrandecer
Junho, ceifarJulho, debulhar
Agosto, engravelar
Setembro, vindimar
Outubro, resolver
Novembro, semear
Dezembro, nascer
Nasceu um deus para nos salvar
Nove vezes nove, oitenta e um
Sete macacos e tu s um
Fora eu que no sou nenhum
Pico, pico serenico
Quem te deu tamanho bico?
Ou de ouro ou de prata
Mete a mo neste buraco
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Contos do Mundo
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Pico, pico serenico
Quem te deu tamanho bico?
Foi o filho do Lus
Que est preso pelo nariz
Pico, pico serenico
Quem te deu tamanho bico?
Foi a filha da rainha
Que est presa na cozinha
Salta pulga da balana
E vai ter at Frana
Cavalinhos a correrMeninas a aprender
Qual a mais bonita
Que se ir esconder
Pim, pam, pum
Cada bola mata umDa galinha pr per
Quem se livra s tu!
Sola, sapato,
Rei rainha
Foi ao marBuscar sardinha
Para a mulher
Do juiz
Que est presa
Pelo nariz;
Salta a pulga
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Na balana
Que vai ter
At Frana,
Os cavalos
A correr
As meninas
A aprender,
Qual ser
A mais bonita
Que se vai
Esconder
O tempo perguntou ao tempo
Quanto tempo, o tempo tem
O tempo respondeu ao tempo
Que o tempo tem tanto tempo
Quanto o tempo o tempo tem
Era uma vez um era no era,
Que andava lavrando na serra,
deu por notcia que o pai era morto,
e a me por nascer,
deitou-se a um vale abaixo a correr,
Encontrou-se com uma aveleira carregada de roms,
Deitou-se a ela a colher mas,
Veio de l o ladro dos marmelos,
o que ests tu fazendo, ladro,
num faval alheio, a colher pepinos?
Atirou-lhe com um caroo de ginja testa
E quebrou-lhe o joelho.
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Contos do Mundo
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Arco-da-velha,
Tira-te da,Que as moas bonitas
No gostam de ti!
Menina bonita
No sobe janela
Que bicho mui feio
Carrega com ela;
Se quer alvos ovos,
Arroz com canela,
Menina bonita
No sobe janela.
L vem o Tio Z Godinho
A cavalo no burrinho;O burrinho fraco,
A cavalo no macaco;
O macaco valente,
A cavalo na trempre;
A trempre de ferro,
A cavalo num martelo;
O martelo bate sola,
A cavalo numa bola;A bola vermelha,
A cavalo numa telha;
A telha de barro,
A cavalo num cocharro;
O cocharro de cortia,
A cavalo numa chouria;
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A chouria preta,
A cavalo numa boleta;
A boleta doce
O burrinho deu um couce
E acabou-se a papa-doce.
O que est na varanda?
Uma fita de ganga
O que est na panela?
Uma fita amarelaO que est no poo?
Uma casca de tremoo
O que est no telhado?
Um gato malhado
O que est na chamin?
Uma caixa de rap
O que est na rua?
Uma espada nua
O que est atrs da porta
Uma vara torta
O que est no ninho?
Um passarinho
Deixa-o no morno
D-lhe pozinho.
Meio-dia batido panela ao lume
Barriga vazia
Macaco pintado
Vindo da Baa
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Contos do Mundo
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Fazendo caretas
D. Maria.
Eu fui a Viana
A cavalo numa cana
Eu fui ao Porto
A cavalo num burro morto
Eu fui a Braga
A cavalo numa cabra
Eu fui ao Douro
A cavalo num touro
Um, dois, trs, quatro
Foi na rua vinte e quatro
Que a mulher matou o gato
Com a ponta do sapato
O sapato derreteu
E a mulher morreu
Arre burro para so Martinho,
Carregado de po e vinho.
Arre burro para Loul,
carregado de gua p.
Arre burro para Mono,
carregado de requeijo.
Arre burrinho arre burrinho,
sardinha assada, com po e vinho.
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Provrbios
A
A cavalo dado no se olham os dentes.
A Csar o que de Csar, a Deus o que de Deus.
A corda sempre parte do lado mais fraco.
A curiosidade matou o gato.
A galinha da vizinha sempre melhor que a minha.
A grandes males, grandes remdios.
A justia tarda, mas no falha.
A mentira tem perna curta.A morte no espera.
A noite boa conselheira.
noite todos os gatos so pardos.
A ocasio faz o ladro.
A palavra prata, o silncio ouro.
A palavras loucas, orelhas moucas.
A pressa inimiga da perfeio.
terceira de vez.
A unio faz a fora.
gua mole em pedra dura tanto bate at que fura.
guas passadas no movem moinhos.
Albarda-se o burro vontade do dono.
Amigos, amigos; negcios, parte.
Amor com amor se paga.
Ao menino e ao borracho pe sempre Deus a mo por baixo.Aps a tempestade vem a bonana.
As paredes tm ouvidos.
Abril chuvoso e Maio ventoso, fazem o ano formoso.
A primeira esposa foi vassoura, a segunda senhora.
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Contos do Mundo
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B
Bom filho casa torna.
Burro velho no aprende.
C
Cada cabea, uma sentena.
Cada louco com sua mania.
Cada macaco no seu galho.
Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso.
Cada um d o que tem.Cada um por si, Deus por todos.
Cada um puxa a brasa para a sua sardinha.
Cadelas apressadas, parem ces cegos.
Caiu na rede peixe.
Candeia que vai frente alumia duas vezes.
Co que late no morde.
Casa arrombada, tranca na porta.
Casa de ferreiro, espeto de pau.
Casa onde no h po, todos brigam e ningum tem razo.
Cesteiro que faz um cesto faz um cento.
Custa os olhos da cara.
D
De Espanha, nem bom vento nem bom casamento.De boas intenes o inferno est cheio.
De mdico, poeta e louco, todo mundo tem um pouco.
De pensar morreu um burro.
De pequenino que se torce o pepino.
Deitar cedo e cedo erguer d sade e faz crescer.
Depois da tempestade vem a bonana.
Depois de casa roubada, trancas na porta.
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Deus d nozes a quem no tem dentes e d dentes a quem no tem
nozes.
Deus escreve direito por linhas tortas.
Devagar com o andor, que o santo de barro.
Devagar se vai ao longe.
Diz-me com quem tu andas que eu te direi quem tu s.
Dois bom, trs demais.
Duas cabeas pensam melhor que uma.
E
melhor prevenir do que remediar. preciso ver para crer.
Em boca fechada no entra mosca.
Em briga de marido e mulher no se mete a colher.
Em casa de enforcado, no fales em corda.
Em casa de ferreiro, espeto de pau.
Em tempo de guerra, no se limpam armas.
Em terra de cego, quem tem um olho rei.
Enquanto o pau vai e vem, folgam as costas.
Estamos todos no mesmo barco.
F
Fia-te na Virgem e no corras.
Falar fcil, fazer que difcil.
Fazer o bem sem olhar a quem.F em Deus e p na tbua.
Feio roubar e no poder carregar.
Filho de peixe sabe nadar.
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Contos do Mundo
31
G
Gaivotas em terra tempestade no mar.
Gato escaldado de gua fria tem medo.Gro a gro, enche a galinha ao papo.
Guarda de comer no guardes que fazer.
Guarda o melhor tio para a noite de S. Joo.
H
H males que vem para o bem.
Homem pequenino, ou velhaco ou bom danarino.
Homem prevenido vale por dois.
J
Janeiro molhado, se no cria po cria gado.
L
Ladro que rouba ladro tem cem anos de perdo.
Laranja: de manha ouro, tarde prata, de noite mata.
Lua nova trovejada, trinta dias molhada.
M
Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo.
Mal vir que bem se far.
Maro marago, de manh Inverno, tarde Vero.
Mate dois coelhos com uma cajadada.
Muito riso, pouco juzo.
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N
No chore sobre o leite derramado.
No d o peixe, ensine a pescar.
No faas aos outros aquilo que no queres que te faam.No h bem que sempre dure, nem mal que sempre se ature.
No h fumo sem fumaa.
No h domingo sem missa, nem segunda sem preguia.
No h duas sem trs.
No h regra sem excepo, nem mulher sem seno.
No h fome que no d em fartura.
Nem tanto ao mar, nem tanto terra.
Nem tudo que reluz ouro.
No dia de S. Martinho (11/11) vai adega e prova o vinho.
Nunca digas: desta gua no beberei.
O
O barato sai caro.
O feitio costuma virar contra o feiticeiro.
O que os olhos no vem o corao no sente.
O saber no ocupa lugar.
O seguro morreu de velho.
Olho por olho, dente por dente.
Onde come um, comem dois.
Onde h fumaa, h fogo.
Os ces ladram e a caravana passa.Os homens no se medem aos palmos.
Ovelha que berra bocado que perde.
7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades
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Contos do Mundo
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P
Por morrer uma andorinha no acaba a Primavera.
Paga o justo pelo pecador.Palavra de rei no volta atrs.
Palavras no enchem barriga.
Palavras leva-as o vento.
Pancada de amor no di.
Para baixo, todos os santos ajudam.
Para bom entendedor meia palavra basta.
Para grandes males, grandes remdios.
Pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita.
Pela boca morre o peixe.
Pior cego o que no quer ver.
Por fora, bela viola, por dentro, po bolorento.
Pratica o Bem sem olhar a quem.
Presuno e gua benta, cada um toma a que quer.
Pscoa em Maro, fome ou mortao.
Q
Quando a esmola demais, o santo desconfia.
Quando a esmola muita, o pobre desconfia.
Quando a cabea no pensa, o corpo padece.
Quando a cabea no tem juzo, o corpo que paga.
Quando Maio chegar, quem no arou, h-de arar.
Quem ama o feio, bonito lhe parece.Quem avisa amigo .
Quem anda chuva molha-se.
Quem boa cama faz, nela se deita.
Quem brinca com fogo queima-se.
Quem cala consente.
Quem canta seus males espanta.
Quem casa no pensa, quem pensa no casa.
7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades
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Quem casa, quer casa.
Quem com os ces se deita, com pulgas se levanta.
Quem conta um conto aumenta um ponto.
Quem corre por gosto no cansa.
Quem d aos pobres empresta a Deus.
Quem d o que tem a mais no obrigado.
Quem desdenha quer comprar.
Quem diz o que quer, ouve o que no quer.
Quem vivo sempre aparece.
Quem espera desespera.
Quem espera sempre alcana.
Quem fala o que quer, ouve o que no quer.Quem muito se abaixa mostra o rabo.
Quem os meus filhos beija, minha boca adoa.
Quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita.
Quem nasceu para dez ris no chega a vintm.
Quem no arrisca, no petisca.
Quem no chora no mama.
Quem no deve no teme.
Quem no quer ser lobo no lhe vista a pele.
Quem no tem co caa com gato.
Quem no trabuca no manduca.
Quem o feio ama, bonito lhe parece.
Quem parte e reparte e no fica com a melhor parte, ou burro ou
no tem arte.
Quem quer faz, quem no quer manda.
Quem procura acha.Quem semeia ventos colhe tempestades.
Quem tem boca vai Roma.
Quem tem telhado de vidro no atira pedra no telhado do vizinho.
Quem tem unhas toca guitarra.
Quem tudo quer tudo perde.
Quem vai ao (m)ar perde o lugar.
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Contos do Mundo
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Quem v cara no v corao.
Querer poder.
Quem diz o que quer ouve o que no quer.
R
Ri melhor quem ri por ltimo.
Ri-se o roto do esfarrapado e o sujo do mal lavado.
Roma no se fez num s dia.
Roupa suja lava-se em casa.
S
Saco vazio no fica em p.
Santo de casa no faz milagre.
Se a barba significasse respeito, bodes no teriam chifres.
Setembro molhado, figo estragado.
Sinal no peito, mulher de respeito.
T
Tal pai, tal filho.
Tantas vezes vai o cntaro fonte que deixa l a asa.
Tempo dinheiro.
Todos os caminhos vo dar a Roma.
Toma l d c.
Tristezas no pagam dvidas.
Tudo bom quando termina bem.
Tudo o que demais enjoa.
Tarda mais no falha.
7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades
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U
Uma imagem vale por mil palavras.
Uma mo lava a outra, ambas lavam o rosto.Um dia da caa, outro do caador.
Um homem prevenido vale por dois.
Um mal nunca anda s.
V
Vale mais um pssaro na mo que dois voando.
Vozes de burro no chegam ao cu.Vo-se os anis, fiquem os dedos.
Z
Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades.
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Contos do Mundo
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Lendas
Lenda da Moura Salquia2
Em 1165, Moura era uma cidade chamada Al-Manijah, capital deprovncia. Governava ento nessa importante cidade uma formosa
moura, de nome Salquia, filha de Abu-Assan, que se apaixonou pelo
alcaide de Arouche, de seu nome Brfama.
Chegada a vspera do dia das npcias, grande alegria reinava no
castelo de Al-Manijah. Salquia esperava ansiosamente, no alto da
torre, ver surgir o seu noivo, entre os
densos olivedos.
Entretanto Brfama acompanhado
de brilhante comitiva, cheio de
contentamento e desprovido de
armas, pois ia para um festim e no
para a guerra, deixava Arouche e
tomava caminho da terra da sua
amada, que estava localizada a dez
lguas de distncia.
3Imagem
Todo o Alentejo, ao norte e a oeste
de Moura j tinha sido conquistado
pelos cristos.
El-Rei D. Afonso Henriques, encarregou D. lvaro Rodrigues e D. Pedro
Rodrigues, dois irmos fidalgos muito valentes e ilustres, de
2Recolha oral da lenda de alguns habitantes de Moura.
3Imagem retirada do blog Melody
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conquistarem Al-Manijah, uma das mais importantes cidades
muulmanas, alm do Guadiana;
Estes dois fidalgos, sabedores do que se passava no castelo, foram
esconder-se com o seu exrcito num olival e a esperaram o
desventurado alcaide e a sua comitiva para, traioeiramente, matarem
os infelizes rabes.
Depois de travada a batalha e de todos estes estarem mortos, os
cristos despiram-se e vestiram-se com os seus trajes.
Disfarados de muulmanos e simulando alegres canes mouriscas,
dirigiram-se pobre cidade que de nada suspeitava.
Salquia, ao v-los, mandou baixar a ponte levadia, julgando que seunoivo se aproximava e depressa percebeu que tinha sido trada. Os
invasores ao transporem os muros, baixaram as mscaras de rabes
honrados e comearam a ferir, sem d, a desprevenida guarnio de
AL-Manijah.
Sabedora do que se passava, a alcaidessa preferiu a morte escravido
e num derradeiro esforo, verdadeiramente herico, tomou as chaves
do castelo e precipitou-se da torre onde se encontrava.
Depois da morte da alcaidessa e da conquista da cidade, os irmos
Rodrigues, pelo que parece, quando vieram referir-se a Al-Manijah
diziam a terra de moura, a vila (que nesse tempo significava cidade) de
Moura.
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Contos do Mundo
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Serpente do Rio Anas4
Imagem5
Na parte mais ocidental da Europa, a Ibria,
ainda era conhecida por esse mundo alm,
por a terra das Serpentes. No sabemos se
com razo ou sem ela, o que certo que a
Serpente tambm entra na lenda da
fundao de Serpa. Na verdade, vem de
tempos muito recuados, dos tempos emque Serpa era s charneca, a lenda de que
as suas terras e as das vizinhanas eram
domnio de uma serpente alada, forte,
vigorosa, que at parecia deitar lume pelas
ventas e que vivia acoitada nas fragas do rio
Anas, hoje chamado Guadiana. Logo que
sentia Serpa em perigo ela se aprestava para
vir em socorro das suas terras, e as defendia, vitoriosamente, de quemviesse para lhes fazer mal. Deve ter tido muito que lutar, mas o certo
que Serpa sobreviveu a todos os perigos e hoje uma vila bonita,
muito castia, que sabe guardar as suas belezas e tem uma Serpe no
seu braso a recordar a sua guardi de outros tempos.
4Arquivos de Serpa - Edio Cmara Municipal de Serpa
5Imagem de Joo Almeida
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A Cobra da Quinta do Fidalgo
Era uma vez uma dama muito linda, fidalga, chamada Ana, que estava
encantada e transfigurada em cobra, diferente das outras cobras por
apresentar uma cabea com farta cabeleira e uns olhos de fogo, muito
vivos e brilhantes. Refugiava-se a Cobra junto de uma frondosa figueira
ali, na Quinta do Fidalgo, entrada da Vila. Esta Cobra aparecia na
manh de S. Joo, com um tesouro, muito rico de ouro e prata, para
dar pessoa que a desencantasse. Para se dar o desencanto a Cobra
dizia: " Eu no engano ningum e quem for corajoso que venhadesencantar-me". Na verdade era precisa muita coragem para se
desencantar a cobra da Quinta do Fidalgo, como aqui se conta.
Primeiro era preciso gritar o nome da dama encantada: "Ana".
Ao ouvir este nome a cobra transformava-se em touro que marrava a
torto e a direito. Se o homem corajoso que chamasse pela dama "Ana"
no mostrasse medo o touro transformava-se em Co Preto. Se o
homem continuasse a no manifestar receio o Co Preto transfigurava-se em Cobra encantada que se aproximaria dele e se lhe enroscaria
cintura dando-lhe um beijo na face. Se o homem corajoso desse,
ento, sinais de medo ou repugnncia a cobra mord-lo-ia e o encanto
continuaria. Se o homem valente no mostrasse qualquer temor dar-
se-ia o desencanto, a cobra transformar-se-ia novamente na linda e
nobre Senhora chamada Ana e o homem sem medo ficaria rico para
toda a vida com o tesouro de ouro e prata.
Esta a lenda da Cobra da Quinta dos Fidalgos e h muitos anos que j
se no fala nela. Ningum sabe se apareceu o homem sem medo que
tenha desencantado a dama chamada Ana.
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Contos do Mundo
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A Lenda da Costureirinha6
Entre as crenas que algum dia existiram no Baixo Alentejo, a da
costureirinha era uma das mais conhecidas. No difcil, ainda hoje,
encontrar pessoas de alguma idade, e no tanta como isso... que
ouviram a costureirinha. O que se ouvia, ento? Segundo diversos
testemunhos, ouvia-se distintamente o som de uma mquina de
costura, das antigas, de pedal, assim como o cortar de uma linha e at
mesmo, segundo alguns relatos, o som de uma tesoura a ser pousada.
Um trabalho de costura, portanto. O som trepidante da mquina podiaprovir de qualquer parte da casa: cozinha, quarto de dormir, a casa de
fora, e at mesmo de alpendres. De tal modo era familiar a sua
presena nos lares alentejanos que no infundia medo. Era a
costureirinha.
Mas quem era ela? Afirma a tradio que se tratava de uma costureira
que, em vida, costumava trabalhar ao domingo, no respeitando,
portanto, o dia sagrado. esta a verso mais conhecida no Alentejo.
Outra verso afirma que a costureirinha no cumprira uma promessa
feita a S. Francisco. Esta ltima verso aparece referenciada num
exemplar do Dirio de Notcias do ano 1914 em notcia oriunda de
aldeias do Ribatejo. Pelo no cumprimento dos seus deveres religiosos,
a costureirinha fora a condenada, aps a morte, a errar pelo mundo
dos vivos durante algum tempo, para se redimir. No fundo, a
costureirinha uma alma penada que expia os seus pecados, de
acordo com a crena que os pecados do mundo, o desrespeito pelascoisas sagradas e, nomeadamente, o no cumprimento de promessas
feitas a Deus ou aos Santos podiam levar errncia, depois da morte.
J no se houve, agora, a costureirinha? Terminou j o seu fado, expiou
o castigo e descansa em paz? A urbanizao moderna, a luz elctrica,
os seres da TV, afastaram-na do nosso convvio. Desapareceu,
6Lenda retirada da obra Contos tradicionais e populares de Moura
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naturalmente, com a transformao de uma sociedade rural arcaica,
que tinha os seus medos, os seus mitos, as suas crenas e o seu modo
de ser e de estar na vida.
Imagem7
A menina e o lobo8
Naquele ano eram os
princpios de Maio. Sara do
povoado uma mulher montada
num burrico, levando testeira
da albarda uma filhinha que,
de anos, teria meia dzia.Deixando para trs o outeiro
da Penha Ventosa, enveredou
pelo velho caminho de cabras,
em direco a um barranco l para os lados de Fornilhos.
() Para alm de umas velhas azinheiras l estava um regato
gorgolejando guas para o Ardila.
() Espera, filha, segura-te! Vamos descer e lavamos aqui! Boa gua,
boa lenha para levarmos tarde!
() A pequenita que se rebolara nas ervas e entretivera a apanhar
flores de margaa, ouviu um grilo que trilava talvez a uns dois metros.
Aproximou-se. Com o rudo dos seus passitos o grilo calou-se e a
pequenita ficou ouvindo outro grilo a maior distncia. Insistindo na
curiosidade, tambm esse se calou e logo outro por detrs de um
silvado se fazia ouvir. Desanimando de ver o bicho, que cantava por
entre as ervas, foi surpreendida pela msica de um melro folgazo eassim foi andando na sua curiosidade e no emaranhado dos matagais
at afastar-se da me e perderam-se uma outra. Quando esta deu
pela falta da filha, correu por entre o bosque, chamando e gritando em
7Imagem de autoria de Jos Santana - aluno da Escola Profissional de Moura,
de nacionalidade portuguesa8Lenda retirada da obra Contos tradicionais e populares de Moura
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Contos do Mundo
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pranto, mas a mida vencida pelo sono, no ouvia a me que em vo a
procurou.
Correu a mulher aflita aldeia e com vizinhos e caadores, toda a noite
e dias seguintes e procurou mas de balde. At que muitos dias depois,
foi encontrada por um pastor, brincando muito contente como se nada
a preocupasse, dizendo apenas que queria ir me, o que logo
sucedeu. A criana explicou ento que uma senhora lhe aparecia a dar
de comer e lhe dera tambm uma vara para se defender dos bichos
maus. Isto foi tomado como um grande milagre de Nossa Senhora e
pintado em quadro e oferecido Senhora do Carmo de Moura onde se
via a menina com a vara afugentando um lobo.
Lenda do Sino e de Nossa Senhora9
Uma mulher que vivia no Castelo, ouvia os mais dos dias o toque de
um sino, uma msica suave para a parte da ermida de Santa Ana
(ermida junto ao Castelo, entre o Norte e o Poente e nos tempos
antigos pouco frequentada). Examinando com muita curiosidade o que
ouvia mais se certificava, o que fez presente a algumas pessoas que
curiosas acreditavam naquele sitio, e no desmentindo a sua diligncia
no efeito, o mesmo que a mulher afirmava, investigaram mais curiosos
o stio e vieram a entender que no era na ermida, mas sim junto da
porta dela, cavaram a terra, acharam os princpios de um poo,
seguiram-no abaixo e no fundo descobriram a imagem Santssima de
Nossa Senhora que a que est na Capela-Mor, e um sino que o que
serve de relgio. Colocaram a imagem no altar da mesma ermida eficou continuando em seu culto e devoo dos poucos moradores.
O sino que se achou no poo, quiseram levar para o Convento de
Lisboa e que chegando a carreta em que o levaram, a levaram a pouca
distncia na estrada da Barca, se quebrou por trs vezes, e no lugar em
9Lenda retirada da obra Contos tradicionais e populares de Moura
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que o sino cara, se abrira a fonte que vemos naquele lugar com o
nome da Santa.
O sino o mesmo que existe neste ano de 1721, fundiu-se de novo, por
se haver quebrado.
A menina e a velha10
rom etirmi i uma irm; u Z irmi` e from a curr mundu, i a
ficarom a ela . Ela um dia fi a lab ali a um barrancu i e tir uma
toca que lebaba, y byu uma guia i e l leb; i agora ela e foi
correndu, i dizendu: guita, d-mi a minha tuquita. A guia le dizia:Anda mi para dianti, que ondi hto u`teuz irmi ta d. A guia foi
i a dx caenima duma xa, i a rapariga xig l, abriu a porta da
xa i e dx ht ali ata que bieromu Z irmi, i logu noiti berom.
Elinunca mau quizeronm que ela e fi, para que ficai ali tratando
deli. Dali logu a treh diafi a buhc aelga, y encontro uma blha, i le
dice: N bya t longi, dxa que eu lebu aqui e te d. I la e fi, i
noite, quandu bierom u z irmiehtiberom jantandu, maz ela n tinhabontadi, i n cumu. tro dia e lebant i ehtabom u z irmi -
ftuem boi, i logu ela n tbi mairemediu que lebalua cum plu
campu.
Dali a di z treh diafoi, pao por um caminhu dondi a biu u Rei, i le
die purqu ehtaba ela ali, i ela le ehtebi contandu. U Rei anto le die
que e dexe eht ali ubida num arbu, que eli ia leb uboii bltaba a
buhc-la. Debxu du arbu ehtaba uma fonti ela bia a ombra dela, y
por acazu beyu uma blha a buhc gua, i b a ombra, dizia: t
guapa i t furmozaBipur agua aqui poa!
Partiu u cntaru, i e foi a caza. Aim beyu di z tr dia, at que beyu
c um de lata; i ehti j no era cap de partilu; i tantugolpile deu, que
a rapariga e riu. A blha, au b-la le die: Que fzi z a ubida ? I
anto a rapariga lehtebi cntandu que ehtaba hperndu u Rei. E ela
10Histria escrita na pronncia de Barrancos
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Contos do Mundo
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le die: Bxa-te, que te penteyu para que ehrejamiguapa, quandu
eli benha. A rapariga e f czu, i quandu a ehtaba pentiandu le tanx
um alfineti na cabea: e f numa pomba i e foi buandu; e dpoia
blha ubiu ncima du arbru, i ehper u Rei. Quandu ehti beyu, i a biu,
le die: T gupa que te dx, i t fa que te teipthu! I ela le
rehpondeu: Bnc tantu e ti tardadu. Que u ol me t~ei turrado U
ri anto a leb, i e caz cula. Lgu dpoid algum tempu
apareia a pomba u jardim i cantaba aina: Cmu bai u ri com ua
rica mra? Bei, inhra! I u mininu canta xra? Canta,
inhra. Ieu pur ehiticampu i u m trhti z irmanituacariandu c i
terra para u campu da Mra! U ri u bi ihtu, trat de culh a pomba,ma z li armaba u lau i a blha u tiraba; ata que um dia a culhu. Eli a
trataba muntu bi, a blha que trataba m. Um dia ehtaba u rei
paandu a mo pela cabea da pomba, i au b um bltu na cabea
pux, i era u alfineti. Anto foi, e f furmza u mehmu que era, i
lehrebi cntandu tudu; e cazarom e matarom a blha; i ali ficaram
bibendu.
Traduo (resumo)
Sete irmos foram correr mundo, ficando em casa a irm. Um dia ela
foi lavar e uma guia levou-lhe a touca. Pediu-a guia, que a levou
tambm cabana onde estavam os manos. Eles quiseram que ela
ficasse a trabalhar para eles. Dias depois foi apanhar acelgas e
encontrou uma velha que lhe deu das que ela levava. Ao jantar, a moa
no quis comer, mas os irmos sim, ficando eles transformados em boi.
E ela teve de os levar a pastar. Encontrou o rei e contou-lhe o que sepassara e ele disse-lhe que fosse ela para cima de uma rvore e o
esperasse, que ele levaria os bois e voltaria. Por baixo da rvore havia
uma fonte e foi l uma velha que acabou por convencer a moa a
deixar-se pentear. Ela deixou e a velha espetou-lhe um alfinete na
cabea, transformando-a numa pomba. Foi ento ela para cima da
rvore. Quando veio o rei estranhou a diferena e ela respondeu que
ele demorara tanto que o sol a queimara. E levou-a com ele. Depois, no
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jardim apareceu a pomba a fazer-lhe perguntas. Conseguiu o rei
apanh-la e ao passar a mo pela cabecinha encontrou o alfinete e
tirou-o. Apareceu ento a moa. Mataram a velha e viveram felizes
para sempre.
A Lenda de Beja11
H muitos, muitos anos atrs, no local onde se encontra hoje a cidade
de Beja, vivia um pequeno povo em cabanas de colmo. Todos os
campos lavrados e semeados que hoje avistamos, em redor da cidade
de Beja, eram em tempos longnquos, um grande
matagal, onde o homem, em alguns stios,quase no conseguia entrar. Assim, o povo que
aqui habitava sobrevivia da caa que fazia na
vasta floresta, que albergava um grande
nmero de animais.
Entre os animais que viviam nesta grande
floresta, havia uma serpente monstruosa,
maior do que podemos imaginar. Esta serpente
gigante percorria todo o matagal que existia em
redor da pequena povoao, devorando e destruindo tudo o que
encontrava no seu caminho.
Os habitantes viviam em constante sobressalto, pensando no dia em
que poderiam encontrar nas suas caadas a terrvel serpente que, sem
d nem piedade, os devoraria num abrir e fechar de olhos, alis, o que
j acontecera a algumas infortunadas pessoas que saram para as suas
caadas e nunca mais voltaram.Mas certo dia, um dos habitantes desta pequena povoao, conhecido
pela sua coragem e mestria na resoluo de problemas, teve uma
brilhante ideia: envenenar um toiro e deit-lo para a floresta onde
existia a tenebrvel serpente.
11Beja capital do distrito de Beja, da regio do Baixo Alentejo
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Contos do Mundo
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Este valente homem reuniu o povo e explicou a sua ideia de envenenar
um toiro e lev-lo para a floresta, onde seria certamente devorado pela
serpente, que morreria envenenada ao comer o pobre animal. Depois
de um longo debate, todos concordaram com esta arriscada ideia.
Ento, envenenaram um robusto toiro, que era visto
esperanosamente como o salvador desta amedrontada gente, e
partiram para a arriscada tarefa de coloc-lo na grande e perigosa
floresta, onde a monstruosa serpente costumava fazer as suas vtimas.
Com muito custo, l conseguiram deixar o toiro na floresta. Contou que
ouviu que, entre a serpente e o toiro, ainda houve uma tremenda luta,
pois o toiro ainda estava vivo quando fora encontrado pela horrendaserpente. Mas o toiro foi vencido pelo efeito do veneno e foi devorado
pela gigantesca serpente.
Passados alguns dias, a serpente foi encontrada morta ao lado dos
restos do toiro salvador.
Diz-se ento que a cabea de toiro que se encontra no braso da
cidade de Beja originou desta lenda e representa tambm a riqueza da
regio em cabeas de gado.
A Lenda da Serpnia
Era uma vez uma jovem e linda Princesa, chamada Serpnia, que vivia
nas longes terras do outro lado da Ibria, l para os altos Pirineus. Seu
pai, Cfilas, rei dos trdulos, tribo da Ibria, era um homem bom.
Num Pas vizinho, vivia um outro rei, de raa, celta, que era cruel e
muito ambicioso, Rolarte de seu nome, que quando viu a formosa
princesa quis casar com ela. Mas a princesa no se agradou dele.
Um dia um Prncipe, Orosiano, visitou o Rei Cfilas e a sua filha
Serpnia. Os dois prncipes gostaram um do outro e combinaram casar.
Mas o rei Rolarte, quando soube, no gostou que Serpnia fosse dada
em casamento a Orosiano e jurou vingar-se tratando logo de reunir os
seus soldados e de fazer guerra a Orosiano.
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O Noivo de Serpnia morreu e Rolarte ficou ferido.
O Rei dos Celtas no ficou satisfeito com a morte de Orasiano a jurou
fazer guerra ao pai de Serpnia, mas este, informado do que Rolarte
preparava, abalou para as longnquas paragens da outra banda da
Pennsula Ibrica.
E andaram, andaram at chegarem a um stio onde a Princesa se sentiu
encantada com as formosas Terras que seus belos olhos avistavam.
Campos recobertos de luxuriantes verduras, flores campestres a
perfumarem os ares que respirava, tudo prenunciando abundncia de
gua, de terras frteis, ubrrimas.
Serpnia logo deu parte a seu pai de que gostava destes stios. Cfilas
examinou a regio. Tudo aparentava terras fartas e amenidade declima. Perto corria o Ana. Por toda a parte se viam Oliveiras, muitas
Oliveiras, a garantir alimento, untura, tempero e luz na candeia.
E logo ali acamparam e escolheram local para construir uma cidade
que ficou a ser a capital de novo reino. E em homenagem a Serpnia, a
formosa filha do Rei Cfilas, nova cidade se ficou chamando Serpe.
Esta seria a capital da Turdetnia, o novo reino criado na regio do
Ana, hoje chamado Guadiana, e que se estendia at ao mar.
Tempos depois chegou a Serpe a notcia da vinda at um Porto do
Ana, aonde chegavam as guas salgadas do mar, de barcos Fencios -
povo de navegadores que vivia no Norte de frica. Cfilas, Rei dos
Trdulos, fez aliana com os chefes Fencios e, naquele porto,
construram uma cadeia a que deram o nome de Mirtilis, em honra da
Deusa Mirto, sua me que o teve de Mercrio.
Em um dos barcos vinha um Prncipe, jovem, guerreiro e bem parecido,
que ao ver Serpnia se apaixonou por ela. E Serpnia amou Polpio, obelo Prncipe Fencio. E logo ficaram noivos.
Polpio regressou Fencia. E Serpnia, enquanto esperava o seu noivo,
dedicava-se caa pelo que seu pai lhe construiu, beira do Rio
Limosine, que ia desaguar no Ana, um castelo onde ela ficava quando
ia caar. Ali havia muitos loendros e Serpnia deu sua nova casa o
nome de Castelo de Loendros.
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Contos do Mundo
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Imagem12
Serpnia j tinha esquecido
Rolarte, mas Rolarte noesquecera Serpnia, nem a
vingana de que lhe jurara.
E uma noite, noite escura como
breu, o Castelo dos Loendros foi
atacado por Rolarte e os seus
soldados. Mas o Rei dos Celtas foi
vencido pelos soldados de Cfilasque guardavam o castelo de
Serpnia. Com medo de novos
ataques a princesa mandou aviso
ao pai, que estava em Mirtilis, que
hoje se chama Mrtola, o qual regressou com muitos soldados, e que
esporeando os seus corcis corriam a toda a brida na companhia de
Polpio, o prncipe noivo, que j tinha regressado da Fencia para as
bodas com Serpnia.Rolarte voltou a assaltar o castelo mas este, que tinha agora muita
tropa, venceu os soldados de Rolarte e o Rei dos Celtas fugiu e foi
morrer afogado no Ana. Serpnia casou com Polpio e os noivos foram
para a Fencia. Serpe, que recorda a linda princesa Serpnia e que
sempre manteve o seu nome, hoje a Serpa em que vivemos.
12Imagem de Lucas Fracalossi
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Nossa Senhora das Pazes13
H uma lenda antiga
Que conheo desde criana,
E em que a crena popular
Inspira confiana,
Que nos conta
Que, em tempos idos,
J muito distantes
E por todos esquecidos,
Houvera uma brigaNos terrenos constantes
Entre Ficalho e Chana.
Eram aos montes, os
feridos,
E imensos os gemidos!... 14
Imagem
No havendo esperanaDe a luta parar,
Nem de se esboar
Uma leve bonana,
A luta crescia, crescia!...
Era cada vez mais forte!...
Para muitos,
J tinha chegado a morte!
O povo olhava,
Assustado e aturdido, aquela luta sem igual, julgando-se
Perdido
O prprio torro natal.
13Esta lenda pertence Freguesia de Vila Verde de Ficalho, concelho de Serpa,
distrito de Beja14
Imagem retirada do blog Fotos de Ficalho
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Tudo ficou em completa inaco.
A Virgem Maria,
Que,
Nessa viso,
Era das Pazes,
Em amigos os convertia.
Foi dessa viso feliz,
Que esta lenda datou,
Que o povo de Ficalho,
Segue,
Crente,A f que criou.
Para consagrar a apario,
No lugar da contenda
Numa ermida se ergueu
Bela e alvinitente.
E com devoo,
O povo contente,
Ante a alegria pura dos rapazes,
Celebra em cada ano,
A festa das Pazes.15
15Texto de autoria de Rigo Valente, de nacionalidade portuguesa.
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Contos do Mundo
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A lenda de Nossa Senhora das Necessidades16
Num fraguedo de uma herdade
Em cima de uma rochinha
Apareceu a Virgem das Necessidades
Do tamanho de uma bonequinha
Um pastor que por ali passou
Com o seu gado a pastar
Ao ver a bonequinha to lindaTratou logo de a levar
Andou todo o dia muito contente
A pensar na alegria que ia dar
Levar to linda bonequinha
Para sua filhinha brincar
J tarde ao chegar malhada
Muita alegria disse para a filha:
Hoje trouxe-te uma boneca
Vai v-la que est dentro da mochila
A mida muito contente
A bonequinha foi logo buscar
Mas ao ver a mochila vaziaEla se ps a chorar
16Retirado da obra Lendas e Narrativas de Santo Aleixo da Restaurao
Santo Aleixo da Restaurao pertence ao concelho de Moura, distrito de Beja.
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O pastor muito aborrecido
Sem saber que pensar
Disse-lhe: No chores filha
Que eu amanh a vou procurar
De manh cedo com o seu gado
Pelos mesmos passos a foi procurar
Depois de o terreno ter percorrido
Em cima da rochinha a foi encontrar
Ele logo a apanhou
E na mochila a meteuMas ao chegar malhada
O mesmo caso se deu
A outro pastor que estava prximo
Ele foi contar o sucedido
O pastor muito srio lhe disse:
Isto milagre meu amigo
No dia seguinte o caso foi contado
A todos que por ali passaram
Todos quiseram ir certificar-se
Porque em milagre no acreditaram
Quando iam j muito prximo
A Santinha todos puderam verMas ao dela se aproximarem
Todos a viram desaparecer
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Contos do Mundo
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A olhar uns para os outros disseram:
Ela Santinha mesmo a valer
E ela quer aqui uma Igreja
E ns todos lhe a vamos fazer
E muito em breve de tudo foram tratar
Mas vendo o terreno da frente mais direito
Resolveram fazer ali a igreja
Porque ficava melhor e fazia mais jeito
Todos comearam logo a trabalhar
Com muita f e muita devoo
Mas ao l chegarem no dia seguinte
Todo o seu trabalho eles viram no cho
Sem zangas nem azedumes
Comearam novamente a trabalhar
Mas novamente no outro dia
Tudo cado eles foram encontrar
Foi ento quando um deles disse:
A Santinha no quer a Igreja aqui
Ela quer que se faa onde ela aparece
E ns vamos faze-la ali
Depressa tudo para l mudaram
Comeando logo todos a trabalhar
Ela parecia-lhe que no faziam nada
Mas o seu trabalho eles viam aumentar
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Muito em breve a Igreja ficou pronta
Com a imagem da Santinha e seu altar
Todos l iam com muita f e devoo
Aos ps da Santinha ajoelhar e rezar
A Santinha rejeitou melhor terreno
Por de Barrancos ela no querer ser
Ela preferiu rochas e fraguedos
Para a Santo Aleixo ela pertencer
Outro grande milagre a Santinha ali fez
Quando os de Santo Aleixo l andaram a ceifarEles viram vir um fogo com muita rapidez
J muito prximo deles a chegar.
Logo eles correram a pedir Santinha
Para lhes valer em to grande necessidade
Que lhe salva-se todas as searas
E os livra-se de to grande calamidade
No astro logo apareceu uma nuvem
Que em uma trovoada se transformou
Apagando imediatamente todo o fogo
E todas as searas ela salvou
Todas as searas ela salvou
Algumas delas j ardidasMas s as palhas o fogo queimou
Ficando as lindas louras espigas
Com maior f e devoo
Santinha todos foram agradecer
Chamando-lhe Nossa Sr. das Necessidades
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Contos do Mundo
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Por em to grande necessidade era lhes valer
Em honra de Nossa Sr. das Necessidades
Pois assim se continuou a chamar Santinha
Todos os anos em Agosto lhe faziam uma festa
Conhecida pela festa da Tomina
De toda a parte vinha muita gente
Alguns at as suas festas traziam
Traziam tambores, guies e a mocidade
E ao p da azinheira Benta dormiam
De manha cedo todos abalavam
Com muita pressa e devoo
Todos queriam chegar l a horas
De acompanhar a Santinha na procisso
Muitos portugueses e espanhis
Nenhum ano queriam faltar
Eles continuavam sempre a dizer
Que era a melhor festa de Portugal
Depois fizeram l um Convento de Frades
O Convento da Tomina como todos diziam
Passando a vir muita gente de todas as localidades
Pois de toda a parte Padres e Frades para ali iam
A herdade passou a ser a Coutada dos Frades
Nome que ainda hoje continua a ter
Ainda vem muita gente ver as runas
Porque elas so dignas de se ver
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Quando acabaram ali os Frades
O Convento comearam a saquear
Os de Santo Aleixo foram buscar a Santinha
Com receio que lhe a fossem roubar
Em Santo Aleixo a festa se continuou a fazer
Com o mesmo respeito e a mesma f
De toda a parte vinha muita gente
E muitos de bem longe aqui vinham a p
Na horta de cima entrada da aldeia
Passaram ento as festas ali a ficar
Na vspera de manh cedo abriam os portes
E todo o dia ali se viam festas a chegar
Depois as festas foram deixando de vir
Mas de oito ainda eu me lembro bem
E de vir a grande filarmnica de Brinches
E grupos de cantares alentejanos tambm
Hoje as festas j deixaram de vir
Mas a festa ainda se continua a fazer
Ainda vem muita gente de toda a parte
E os nossos emigrantes c vm comparecer
Nossa Senhora das Necessidades
Santinha linda e milagrosa
Tu sers sempre protectora
Desta Terra gloriosa
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Contos Tradicionais
Capuchinho vermelho17
Era uma vez uma menina que vivia numa casinha perto da floresta. O
passatempo preferido da menina era apanhar flores para oferecer
me e av. A av desta menina tambm vivia numa casa do outro
lado da floresta. Para visitar a av, a menina tinha que andar muito
pois no podia atravessar a floresta a direito por causa de um lobo que
l vivia e que apanhava e comia todas as pessoas que por l passavam.
Um dia, a me da menina chamou-a e disse-lhe que ela tinha de levar
um lanche a casa da av porque ela estava doente e no podialevantar-se. A me avisou
bem a menina para no
entrar na floresta e no se
demorar muito pelo
caminho. A menina colocou
a sua capa com um capuz
vermelho, pegou no cesto
do lanche e saiu para casa
da av.
18Imagem
A meio do caminho pensou que seria bom levar um raminho de flores
av para a alegrar. Viu umas bem bonitas no caminho na orla dafloresta e comeou a apanh-las. De repente, junto de uma rvore l
mais adiante, viu umas flores amarelas que ela nunca tinha visto.
17Obra de Charles Perrault, adaptada para portugus
18Imagem retirada do blog Tukakubana
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Para apanh-las tinha que entrar um bocadinho na floresta mas
pensou que se aparecesse algum, ela teria tempo de fugir.
Entusiasmada com as flores, nem reparou que j tinha entrado
demasiado na floresta e que as rvores e arbustos no a deixavam
encontrar o caminho de volta.
Quando procurava a estrada por onde tinha ido, sentiu algum atrs
dela. Voltou-se e deu com o focinho do lobo mesmo encostado a ela. O
lobo estava j a pensar que tinha encontrado um belo petisco para
aquele dia mas resolveu conversar um pouco com a menina antes de a
comer. Perguntou-lhe onde ia e quando ouviu dizer que ela ia visitar a
av ficou todo contente e comeou a pensar na maneira de comer asduas.
Sugeriu menina divertirem-se um bocadinho e fazerem uma corrida
at casa da av. A menina comeou a pensar que o lobo, afinal, no era
to mau como se dizia e aceitou fazer a corrida com ele. Partiram os
dois e o lobo, que conhecia muito bem todos os caminhos da floresta,
foi por um atalho e chegou rapidamente a casa da avozinha. Bateu
porta e disfarou a voz para fingir que era a menina. Quando entrou,
foi logo para o quarto da av que ficou muito assustada e desatou aos
gritos.
O lobo abriu a boca e engoliu a av de uma s vez. Depois, vestiu uma
das camisas de dormir da av, ps uma touca na cabea e deitou-se na
cama espera que a menina chegasse para comer a sobremesa.
Quando a menina chegou, bateu porta pensando que tinha ganho a
corrida. O lobo mandou-a entrar fazendo uma voz fininha para fingir
que era a av. A menina ficou admirada por ver a av com um aspectoto diferente do habitual e pensou que ela devia estar mesmo muito
doente. Perguntou-lhe porque tinha uns olhos to grandes e o lobo
respondeu, sempre disfarando a voz, que era para ver melhor a sua
querida netinha. Depois, a menina perguntou porque tinha ela as
orelhas to grandes e o lobo respondeu que era para a ouvir melhor.
Em seguida, a menina perguntou-lhe porque tinha ela a boca to
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grande e o lobo, j sem disfarar a voz, disse que era para a comer
melhor e saltou da cama para fora para engolir tambm a menina.
Ela conseguiu sair a correr do quarto antes que o lobo a comesse e
correu para a rua a gritar por socorro. Um caador que passava ali
perto ouviu os gritos e correu para junto da casa da av. Assim que viu
o lobo quase a apanhar a menina, apontou-lhe a espingarda e
disparou. O lobo caiu no cho e a menina ouviu os gritos da av que
estava dentro da barriga do lobo comilo.
O caador abriu a barriga do lobo com uma faca e a avozinha saiu l de
dentro muito contente por ainda estar viva. Fizeram uma grande festae comeram os trs o belo lanche da av. A partir desse dia toda a gente
podia passear vontade pela floresta, pois j no tinham que ter medo
do malvado do lobo.
Os trs porquinhos19
Era uma vez, na poca em que os animais falavam, trs porquinhos que
viviam felizes e despreocupados na casa da me.
A me era ptima, cozinhava e fazia tudo pelos filhos. Porm, dois dos
filhos no a ajudavam em nada e o terceiro sofria em ver a sua me
trabalhando sem parar.
Certo dia, a me chamou os porquinhos e disse:
- Queridos filhos, vocs j esto bem crescidos. J hora de terem
mais responsabilidades e para isso, bom morarem sozinhos.
A me ento preparou um lanche reforado para os seus filhos edividiu pelos trs as suas economias, para que pudessem comprar
material e construrem uma casa.
19Obra de Joseph Jacobs, adaptada para portugus
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Estava um bonito dia, ensolarado e brilhante. A me porca despediu-se
dos seus filhos:
- Cuidem-se! Sejam sempre unidos! - desejou a me.
Os trs porquinhos, ento, partiram pela floresta em busca de um bom
lugar para construrem a casa. Porm, no caminho comearam a
discordar em relao ao material que usariam para construir o novo
lar.
Cada porquinho queria usar um material diferente.
O primeiro porquinho, um dos preguiosos foi logo dizendo:
- No quero ter muito trabalho! D para construir uma boa casa com
um monte de palha e ainda sobra dinheiro para comprar outras coisas.O porquinho mais sbio advertiu:
- Uma casa de palha no nada segura.
O outro porquinho preguioso, o irmo do meio, tambm deu o seu
palpite:
- Prefiro uma casa de madeira, mais resistente e muito prtica.
Quero ter muito tempo para descansar e brincar.
- Uma casa toda de madeira tambm no segura - comentou o mais
velho - Como te vais proteger do frio? E se um lobo aparecer, como te
vais proteger?
- Eu nunca vi um lobo por estas bandas e, se fizer frio, acendo uma
fogueira para me aquecer! - respondeu o irmo do meio - E tu, o que
pretendes fazer, vais brincar connosco depois da construo da casa?
- J que cada um vai fazer uma casa, eu farei uma casa de tijolos, que
resistente. S quando acabar que poderei brincar respondeu o mais
velho.O porquinho mais velho, o trabalhador, pensava na segurana e no
conforto do novo lar.
Os irmos mais novos preocupavam-se em no gastar tempo
trabalhando.
- No vamos enfrentar nenhum perigo para ter a necessidade de
construir uma casa resistente disse um dos preguiosos.
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Cada porquinho escolheu um canto da floresta para construir as
respectivas casas. Contudo, as casas seriam prximas.
O Porquinho da casa de palha, comprou a palha e em poucos minutos
construiu a sua morada. J estava descansado quando o irmo do
meio, que havia construdo a casa de madeira chegou, chamando-o
para ir ver a sua casa.
Ainda era manh quando os dois porquinhos se dirigiram para a casa
do porquinho mais velho, que construa com tijolos sua morada.
- Ainda no acabaste! No est nem na metade! Ns agora vamos
almoar e depois brincar disse irnico, o porquinho do meio.O porquinho mais velho porm no ligou aos comentrios nem s
risadas, continuou a trabalhar, preparava o cimento e montava as
paredes de tijolos. Aps trs dias de trabalho intenso, a casa de tijolos
estava pronta, e era linda!
20Imagem
Os dias foram passando,at que um lobo
percebeu que havia
porquinhos morando
naquela parte da floresta.
O lobo sentiu a sua
barriga a roncar de fome,
s pensava em comer os
porquinhos.
20Imagem retirada do site Cultura e Diverso
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Foi ento bater na porta do porquinho mais novo, o da casa de palha.
O porquinho antes de abrir a porta olhou pela janela e avistando o lobo
comeou a tremer de medo.
O lobo bateu mais uma vez, o porquinho ento, resolveu tentar
intimidar o lobo:
- Vai-te embora! S abrirei a porta para o meu pai, o grande leo! -
mentiu o porquinho cheio de medo.
- No sabia que o leo era o pai do porquinho. Abre j essa porta
disse o lobo com um grito assustador.
O porquinho continuou quieto, tremendo de medo.
- Se no abrires por bem, abrirei fora. Eu vou soprar muito forte e atua casa ir voar.
O porquinho ficou desesperado, mas continuou resistindo. At que o
lobo soprou uma vez e nada aconteceu, soprou novamente e da palha
da casinha nada restou, a casa voou pelos ares. O porquinho
desesperado correu em direco casinha de madeira do seu irmo.
O lobo correu atrs.
Chegando l, o irmo do meio estava sentado na varanda da casinha.
- Corre, corre e entra dentro da casa! O lobo vem a! gritou
desesperado, correndo o porquinho mais novo.
Os dois porquinhos entraram a tempo na casa, o lobo chegou logo
atrs batendo com fora na porta.
Os porquinhos tremiam de medo. O lobo ento bateu na porta
dizendo:
- Porquinhos, deixem-me entrar s um bocadinho! - De forma alguma
lobo, vai-te embora e deixa-nos em paz - disseram os porquinhos.- Ento eu vou soprar e soprar e farei a casinha voar. O lobo ento
furioso e esfomeado, encheu o peito de ar e soprou forte a casinha de
madeira que no aguentou e caiu.
Os porquinhos aproveitaram a falta de flego do lobo e correram para
a casinha do irmo mais velho.
Chegando l pediram ajuda ao mesmo.
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- Entrem, deixem esse lobo comigo! - disse confiante o porquinho mais
velho.
Logo o lobo chegou e tornou a atorment-los:
- Porquinhos, porquinhos, deixem-me entrar!
- No vais entrar seu lobo mau! - respondeu o porquinho mais velho.
- J que assim, preparem-se para correr. Esta casa em poucos
minutos ir voar! O lobo encheu seus pulmes de ar e soprou a casinha
de tijolos que nada sofreu.
Soprou novamente mais forte e nada.
Resolveu ento jogar-se contra a casa na tentativa de derrub-la. Mas
nada abalava a slida casa.O lobo resolveu ento voltar para a sua toca e descansar at o dia
seguinte.
Os porquinhos assistiram a tudo pela janela do andar superior da casa.
Os dois mais novos comemoraram quando perceberam que o lobo foi
embora.
- Calma, no comemorem ainda! Este lobo muito esperto, ele no
desistir antes de aprender uma lio - advertiu o porquinho mais
velho.
No dia seguinte bem cedo o lobo estava de volta casa de tijolos.
Disfarado de vendedor de frutas.
- Quem quer comprar frutas fresquinhas? - gritava o lobo
aproximando-se da casa de tijolos.
Os dois porquinhos mais novos ficaram com muita vontade de comer
mas e iam abrir a porta quando o irmo mais velho entrou na frente
deles e disse:- Nunca passou ningum vendendo nada por aqui antes, no suspeito
que na manh seguinte do aparecimento do lobo, surja um vendedor?
Os irmos acreditaram que era realmente um vendedor, mas
resolveram esperar mais um pouco.
O lobo disfarado bateu novamente na porta e perguntou:
- Frutas fresquinhas, quem vai querer?
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Os porquinhos responderam:
- No, obrigado.
O lobo insistiu:
- Trs sem pagar nada, um presente.
- Muito obrigado, mas no queremos, temos muitas frutas aqui.
O lobo furioso se revelou:
- Abram logo!
Os porquinhos nada responderam e ficaram aliviados por no terem
cado na mentira do falso vendedor.
De repente ouviram um barulho no tecto. O lobo havia encostado uma
escada e estava subindo ao telhado.
Imediatamente o porquinho mais velho aumentou o fogo da lareira, naqual cozinhavam uma sopa de legumes.
O lobo enfiou-se pela chamin, na inteno de surpreender os
porquinhos entrando pela lareira. Foi quando ele caiu bem dentro do
caldeiro de sopa fervendo.
- AUUUUUUU!- Uivou o lobo de dor, saiu correndo disparado em
direco porta e nunca mais foi visto por aquelas terras.
Os trs porquinhos decidiram ento morar juntos daquele dia em
diante. Os mais novos concordaram que precisavam trabalhar alm de
descansar e brincar.
Pouco tempo depois, a me dos porquinhos no aguentando as
saudades, foi morar com os filhos.
Todos viveram felizes na linda casinha de tijolos.
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Gato das botas21
Era uma vez um moleiro que tinha trs filhos. Um dia, chamou-os para
lhes dizer que ia repartir por eles todos os seus bens.
Ao mais velho deu o moinho, ao do meio deu o burro e ao mais novo
deu o gato.
O filho mais novo ficou muito triste porque o pai no tinha sido justo
para com ele.
Mas, surpresa das surpresas, o gato comeou a falar!
- D-me um saco e um par de botas.
O rapaz ficou muito espantado e obedecendo ao pedido do gato no dia
seguinte, l foi comprar um saco e umas botas.- Aqui esto, meu amigo! - disse ele.
O gato calou as botas, pegou no saco e l foi floresta fora. Como era
muito esperto, no demorou muito a apanhar uma lebre bem
gordinha, que a ps dentro do saco.
Com o pesado saco s costas, o gato dirigiu-se ao castelo do rei e
ofereceu-lhe a lebre, dizendo:
- Majestade, venho da parte do meu amo, o marqus de Carabs,
trago-lhe esta linda lebre de presente.
O rei ficou muito impressionado e contente com aquela atitude e disse:
- Diz ao teu amo que lhe agradeo muito!
Da em diante o gato repetiu aquele gesto vrias vezes, levando vrios
presentes ao rei e dizendo sempre que era uma oferta do seu amo.
Um dia, diz o gato a seu amo:
- Senhor, tomai banho neste rio que eu trato de tudo.
O gato esperou que a carruagem do rei passasse junto ao rio onde oseu amo tomava banho e ps-se a gritar:
- Socorro! Socorro! O meu amo, o marqus de Carabs, est a afogar-
se! Ajudem-no!
O rei mandou logo parar a carruagem e ajudou o marqus, dando-lhe
belas roupas e convidando-o
21Obra de Charles Perrault, adaptada para portugus
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a passear com ele e com a filha, a princesa, na carruagem real.
O gato desata ento a correr frente da carruagem. Pela estrada fora,
sempre que via algum a trabalhar nos campos, pedia-lhes que
dissessem que trabalhavam para o marqus de Carabs.
O rei estava cada vez mais impressionado!
O gato chega por fim ao castelo do gigante, onde todas as coisas eram
grandes e magnficas.
O gato pede para ser recebido pelo gigante e pergunta-lhe:
- verdade que consegues transformar-te num animal qualquer?
- ! disse o gigante.
Ento o gato pede-lhe que se
transforme num rato. E assim foi.O gato que estava atento, deu um
salto, agarrou o rato e comeu-o.
O rei, a princesa e o marqus de
Carabs chegam ao castelo do
gigante, onde so recebidos pelo
gato:22
Imagem
- Sejam bem vindos propriedade do
meu amo! diz o gato.
O rei nem queria acreditar no que os
seus olhos viam:
- Tanta riqueza! Tem que casar com a minha filha, senhor marqus - diz
o rei.
E foi assim que, graas ao seu gato, o filho de um moleiro casou com aprincesa mais bela do reino.
22Imagem retirada do site O Globo
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Contos do Mundo
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A Carochinha e o Joo Rato23
Era uma vez uma carochinha que estava a varrer a casa. Depois de
muito bem varrida, foi limpar o p dos mveis e, com tanta sorteachou cinco ris no canto duma gaveta.
Acabado este trabalho domstico, que tantas vezes ela costumava
fazer, foi lavar-se, pentear-se e toucar-se e, em seguida, ps-se janela
a ver quem passava na rua.
No tardou que um co, que seguia o seu caminho, no passasse por
baixo da janela onde estava a carochinha muito formosa e lavadinha.
Vai da, o co vendo-a to formosa e linda deu-lhe os bons dias e disse:
- Bom dia, Carochinha, to formosa e bonitinha que ests! J sei:
achaste cinco ris no canto da gaveta, queres casar comigo?
- Como a tua voz? perguntou-lhe ela.
- A minha voz esta: o, o, o
- Ai, - lhe diz a Carochinha que feia que ela ! No quero, no, que
tenho muito medo!
Alguns minutos depois passou um gato que, agradando-se tambm da
formosura da carochinha, lhe perguntou:- Carochinha, queres casar comigo?
- Ento como a tua voz? perguntou ela.
- A minha fala respondeu-lhe o gato esta: miau, miau, miau,
renhau, nhau
- Ai, que feia que ela ! no quero, no!
Em seguida, passou pela rua um burro que, igualmente, gostou da
Carochinha e lhe perguntou se ela queria casar com ele.E, quando a Carochinha lhe pediu que desejava ouvir a sua voz, ficou
horrorizada e cheia de medo quando o burro, abrindo a boca enorme,
soltou um zurro potente e bem timbrado que se fez ouvir distncia.
- No quero, no, tenho muito medo!
23Histria retirada de contos populares portugueses, de Adolfo Coelho e
adaptada.
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Passaram ainda pela rua um porco, um carneiro e um boi, aos quais ela
disse-lhes que no casava com eles porque eram feios e tinham vozes
to desagradveis que metiam medo.
Finalmente passou um rato que, vendo
to formosa como bela Carochinha, se
apaixonou logo por ela e lhe props
casamento.
- Carochinha, queres casar comigo?
- Ento como a tua fala?
- A minha fala diz-lhe o rato esta:
chiu, chiu, chiu
Imagem24
- Ai que bela voz que tu tens, quero sim,
quero!
Com grande entusiasmo e satisfao dos
noivos e de suas famlias fez-se o casamento, que decorreu, como era
de esperar, no meio de grande alegria e animao.
Era a Carochinha muito devota e crente em Deus, por isso no havia
missa nem festa de igreja a que ela no assistisse.
Vai da, no primeiro domingo logo a seguir ao casamento, ela depois de
se lavar, pentear, de se toucar devidamente e pr perfume no cabelo e
no lencinho que costumava meter na manga do vestido, quando saa,
disse para o marido, o Joo Rato (era este o seu nome) que se
preparasse de chapu alto de plo, de casaca e botas pretas, e foram
ambos de brao dado missa.
Chegados igreja, a Carochinha notou que se havia esquecido dasluvas brancas e pediu ao Joo Rato que fosse, depressa, a casa busc-
las, mas que no demorasse muito.
Tambm lhe lembrou que no se assomasse panela que estava ao
lume a ferver, no fosse caso escorregarem-lhe os ps e cair dentro
dgua.
24Imagem retirada do site Sonhos Contados
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Contos do Mundo
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Depois de ouvir com muita ateno o recado e conselho da esposa, o
Joo Rato correu a casa a buscar as luvas. Mas, guloso e desobediente
como certos meninos, o Joo Rato, depois de ter tirado duma das
gavetas do toucador as lindas luvas brancas, rendadas e perfumadas da
Carochinha, no tendo mo em si, correu cozinha a ver a panela que
estava ao lume a ferver a bom ferver. Nela tinha a Carochinha deitado
a carne da galinha, a linguia e o toucinho para se cozerem.
O maroto do Joo Rato, rpido como o vento, trepou ao fogo e, com
certo esforo, pois a panela estava muito quente, destapou-a.
A gua fervia em cacho, a bom ferver, e vai da o cheiro a carne cozida
era to delicioso que fazia criar gua na boca ainda aos menosgastrnomos, o que mais e mais espevitava o apetite devorador de
Joo Rato.
Subindo com dificuldade at borda da panela, pois estava muito
quente, o nosso homem, olhando com olhinhos muito espertos e finos
como os de um rato, j se v, para dentro e para o fundo da panela, via
surgir superfcie da gua para logo desaparecer e mergulhar at ao
fundo, a linguia, o toucinho e a carne da galinha.
A tentao de Joo Rato pela carne era grande e, quando o toucinho
ou a linguia surgiam superfcie da gua a ferver, logo ele lhes atirava
a patinha para a puxar para si. E, tantas vezes repetiu a odisseia que,
escorregando-lhe as patas, caiu na gua a ferver.
Vendo, em sobressaltos, que o seu Joo Rato j tardava, a Carochinha,
dando-lhe pancada o corao, decidiu tirar-se de dvidas e correu a
casa.
Foi ao quarto, chamou pelo marido, e ele no respondeu. Foi sala devisitas, e copa, e casa-de-banho, e nada de ver o marido.
Por fim, foi cozinha e, como a panela do jantar destapada, assomou a
ela e verificou, com grande pesar seu, que Joo Rato estava morto e
cozido dentro dela. Soltou um grande grito de desespero e, cheia de
comoo, lamentava-se deste jeito:
- Ai o meu Joo Rato, cozido e assado no caldeiro!
- Ai o meu Joo Rato, cozido e assado no caldeiro!
7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades
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O Frade e a Sopa de Pedra25
Um frade andava ao peditrio; chegou porta de um lavrador, mas
no lhe quiseram a dar nada. O frade estava a cair com fome, e disse:
Vou ver se fao um caldinho de pedra. E pegou numa pedra do cho,
sacudiu-lhe a terra e ps-se a olhar para ela para ver se era boa para
fazer um caldo. A gente da casa ps-se a rir do frade e daquela
lembrana. Diz o frade:
Ento nunca comeram caldo de pedra? S lhes digo que uma coisa
muito boa.
Responderam-lhe: Sempre queremos ver isso.
Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, disse:
Se me emprestassem a um pucarinho.
26Imagem
Deram-lhe uma panela de
barro. Ele encheu-a de
gua e deitou-lhe a pedra
dentro.
Agora se me deixassem
estar a panelinha a ao p
das brasas.
Deixaram. Assim que a panela comeou a chiar, disse ele: Com um bocadinho de unto que o caldo ficava de primor.
25Este conto tem origem em terras escalabitanas, mais concretamente de
Almeirim, de onde surgiu a lenda do frade.26
Imagem com a esttua dedicada ao frade da lenda da sopa da pedra, emAlmeirim. Fonte: wikipdia
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Contos do Mundo
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Foram-lhe buscar um pedao de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa
pasmada para o que via.
Diz o frade, provando o caldo:
Est um bocadinho insosso; bem precisa de uma pedrinha de sal.
Tambm lhe deram o sal. Temperou, provou, e disse:
-Agora que com uns olhinhos de couve ficava que os anjos o
comeriam.
A dona da casa foi horta e trouxe-lhe duas couves tenras. O frade
limpou-as, e ripou-as com os dedos deitando as folhas na panela.
Quando os olhos j estavam aferventados disse o frade: Ai, um naquinho de chourio que lhe dava uma graa...
Trouxeram-lhe um pedao de chourio; ele botou-o panela, e
enquanto se cozia, tirou do alforge po, e arranjou-se para comer com
vagar. O caldo cheirava que era um regalo. Comeu e lambeu o beio;
depois de despejada a panela ficou a pedra no fundo; a gente da casa,
que estava com os olhos nele, perguntou-lhe:
senhor frade, ento a pedra?
Respondeu o frade:
A pedra lavo-a e levo-a comigo para outra vez.
E assim comeu onde no lhe queriam dar nada.
O conto do periquito27
Era uma vez um periquito e uma periquita. E a me mandou o
periquito ao azeite e a periquita ao vinagre, dizendo-lhes quem cchegar primeiro, ganha uma coisinha.
Como o periquito foi mais rpido, chegou primeiro. E sua me que
estava sua espera, matou-o e com ele fez o almoo. E quando a
periquita chegou disse-lhe a sua me vai levar o almoo ao teu pai. E
27Recolha oral gentilmente facultado pela D. Maria Carrasco aluna da
Universidade Snior de Moura.
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quando l chegou, entregou o almoo a seu pai que o comeu e deitou
os ossos do periquito para baixo de uma laranjeira. E eis que nasce o
periquito carregado de laranjas. E a me pede-lhe d-me uma
laranja, ao que o filho responde no que me mataste; e o pai pede
d-me uma laranja, e o filho responde no que me comeste. E
pede-lhe a irm d-me uma laranja e o irmo responde a ti dou-te
todas pois me salvaste. E diz-se que a esta hora esto os dois irmos
comendo po com amoras.
"Atiro a porta me?"
Vivia um menino pobre, com sua me, nas ltimas casas de uma aldeia.A me ia trabalhar, todos os dias, deixando o menino sozinho. Antes de
sair recomendava-lhe:
- No abras a porta a ningum, nem mostres as nossas vernicas!
O menino respondia-lhe que fosse descansada, porque ele faria
conforme ela lhe estava a recomendar.
Mas, certo dia, uns homens, que pareciam boas pessoas bateram
porta e perguntaram ao rapazinho se l em casa haveria alguma coisabonita que ele lhes pudesse mostrar.
O menino correu a buscar as vernicas, que a me guardava na
cmoda do quarto. Os ladres porque era isso que eles eram
pegando no saco, imediatamente se foram embora.
Pouco depois, chegou a me. O menino estava triste e confessou-lhe o
que se tinha passado. A pobre mulher, vendo-se sem o seu tesouro,
lanou mos cabea e comeou a correr estrad
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