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As alterações climáticas são já uma realidade e é, por isso, importante conhecer as principais causas destas mudanças, os seus impactes e formas de os solucionar. Os professores do ensino básico e secundário têm um papel ativo no ensino desta temática aos alunos. Através dos média, os docentes podem comunicar as mudanças que estão a acontecer no clima e nas formas como podemos lidar com as mesmas, numa linguagem familiar aos alunos.Este curso é dedicado às alterações climáticas e à utilização dos média para facilitar a aprendizagem do tema em sala de aula. Ocurso está estruturado em cinco módulos, e destina-se a professores das áreas científicas que se debruçam sobre a temática das alterações climáticas, aos responsáveis pelos média escolares e a todos os interessados nestas matérias.O curso tem como objetivo apoiar os professores no desenvolvimento das competências necessárias para o ensino das mudanças do clima, de forma inovadora e eficaz.
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7/17/2019 Da Literacia Mediática à Literacia Científica Francisco Javier Cervigon Ruckauer
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Índice
1 SUMÁRIO ............................................................................................................................... 1
2 A LITERACIA MEDIÁTICA ........................................................................................................ 2
2.1 ENQUADRAMENTO GERAL ............................................................................................ 2
2.2 O CONCEITO .................................................................................................................. 2
2.3 VANTAGENS DA LITERACIA MEDIÁTICA ........................................................................ 7
2.4 PAPEL DA ESCOLA .......................................................................................................... 8
3 A LITERACIA CIENTÍFICA ........................................................................................................ 9
3.1 ENQUADRAMENTO GERAL ............................................................................................ 9
3.2 O CONCEITO ................................................................................................................ 10
3.3 A LITERACIA EM CIÊNCIA CLIMÁTICA .......................................................................... 14
3.4 VANTAGENS DA LITERACIA CIENTÍFICA ....................................................................... 14
3.5 PAPEL DA ESCOLA ........................................................................................................ 15
4 O USO DOS MÉDIA PARA A PROMOÇÃO DA LITERACIA CIENTÍFICA EM SALA DE AULA .... 16
4.1 A COMPLEMENTARIDADE DA LITERACIA CIENTÍFICA E MEDIÁTICA ........................... 16
4.2 OS MÉDIA, A CIÊNCIA E A SALA DE AULA .................................................................... 17
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 19
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1 SUMÁRIO
Na chamada Sociedade da Informação ou em Rede é crucial ter competências
que nos permitam não só interpretar a informação que recebemos diariamente
através dos média, mas que nos ajudem também a criar conteúdos mediáticos, usando
as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). A literacia mediática é um conceito
que ganha um papel de destaque neste cenário. Esta define-se como a capacidade
para aceder, analisar, avaliar e criar conteúdos mediáticos.
De entre as várias competências que um cidadão literato a nível mediático deve
ter, destaca-se a capacidade para avaliar a fiabilidade da informação que recebe dos
média, sobretudo em ambiente digital. A literacia mediática ajuda-nos a compreendero papel dos média na sociedade e fornece os instrumentos necessários para o
exercício de uma cidadania ativa e para a inclusão do indivíduo na Sociedade da
Informação.
A literacia científica é um conceito polissémico e difuso. Contudo, podemos
afirmar que, de uma forma geral, se relaciona com a capacidade de os cidadãos
compreenderem a natureza e os processos da Ciência, assim como de usarem esses
conhecimentos de forma pragmática nas questões do dia a dia. Segundo o Programme
for International Student Assessment (PISA), a literacia científica caracteriza-se por
quatro aspetos interrelacionados: competências, conhecimentos, contextos e atitudes.
Ou seja, um cidadão cientificamente literato deve ser capaz de explicar fenómenos
cientificamente; avaliar e planear investigações científicas; e interpretar dados e
evidências cientificamente. Estas competências requerem conhecimentos substantivo,
processual e epistemológico e devem ser mobilizadas nos contextos pessoal, local,
nacional e global. Também as atitudes que temos em relação à Ciência desempenham
um papel fundamental no interesse e atenção que dedicamos às áreas científicas e
tecnológicas.
A Escola exerce uma função crucial no que toca a formação de estudantes com
literacia mediática e científica.
Palavras-chave: literacia mediática; literacia científica; Sociedade da Informação ou em Rede;
Educação.
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2 A LITERACIA MEDIÁTICA
2.1
ENQUADRAMENTO GERAL
A Sociedade da Informação ou em Rede transformou a nossa interação com o
mundo. Vivemos hoje numa sociedade pós-industrial alicerçada nas Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC), onde a informação é o pilar do desenvolvimento. As
chamadas TIC estão a provocar um conjunto de transformações na vida cultural,
política, social e comunicacional dos cidadãos, os quais podem agora também produzir
e distribuir informação. Como sabemos, o avanço tecnológico modificou a maneira
como comunicamos uns com os outros e provocou igualmente alterações na forma
como os média1 transmitem as suas mensagens. Vivemos na sociedade mais
mediatizada de que há memória e enfrentamos novas realidades e desafios.
Como consequência, o volume e a diversidade de informação que recebemos
diariamente é enorme. Assim, torna-se necessário ter um conjunto de competências
que nos permitam não só interpretar criticamente a informação que lemos, vemos e
ouvimos através dos média, mas que nos ajudem também a participar socialmente,
criando novos conteúdos mediáticos, através das TIC. Neste cenário, é urgentedesenvolver novas literacias relacionadas com o uso da tecnologia e dos média. Surge
assim a literacia mediática e informacional, conceito que abrange um conjunto de
competências essenciais para o exercício de uma cidadania ativa e para a inclusão do
indivíduo na Sociedade da Informação, como veremos mais abaixo.
2.2
O CONCEITO
A literacia mediática, também designada frequentemente como “Educação
para os média” ou de “literacia para os média”, define-se como a capacidade para
aceder, analisar, avaliar e criar média (MLP, S.d.). De uma forma geral, tem como
objetivo despertar no cidadão um sentido crítico relativamente à informação que
recebe dos diversos meios de comunicação. Como sabemos, nem toda a informação é
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O termo média é utilizado para descrever todos os meios de comunicação, que permitem emitir etrocar mensagens. A televisão, a rádio, a imprensa e a Internet são exemplos de média.
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credível e as mensagens mediáticas não refletem exatamente a realidade tal como ela
é, pelo que importa saber desconstruí-las. Assim, pretende-se que o indivíduo se
questione relativamente ao que vê, ouve e lê nos média, mas também que seja capaz
de criar/produzir conteúdos, através do uso das TIC.
Em suma, um cidadão com literacia mediática deve ser capaz de:
1) aceder aos diferentes meios de comunicação, desde a imprensa, à televisão,
passando pela rádio e Internet.
2) avaliar e interpretar criticamente os média e a informação que eles veiculam,
o que implica compreender que:
a)
os média são construções sociais. Os meios de comunicação não refletem arealidade tal como ela é. A informação apresentada resulta de uma
construção cuidadosa que reflete muitas decisões/opções, as quais
resultam da conjugação de vários fatores. A literacia mediática procura
desconstruir essas construções, mostrando como é que as mensagens
foram elaboradas (Pungente et al., 1999 in CML, 2002a).
b) as mensagens possuem implicações comerciais. Um cidadão com literacia
mediática tem de entender que os média são influenciados por interesses
comerciais, que podem determinar o seu conteúdo, técnica e distribuição.
Além do mais, deve ter em mente que os meios de comunicação estão
inseridos em grandes grupos económicos que procuram, principalmente, o
lucro, o que pode influenciar as mensagens a transmitir (Pungente et al.,
1999 in CML, 2002a).
c) as mensagens contêm diferentes valores e ideologias. Todos os produtos
mediáticos promulgam valores e estilos de vida. (Pungente et al., 1999 in
CML, 2002a).
d) as mensagens têm implicações sociais e políticas. Os média têm uma
grande influência na vida política e na mudança social. A televisão, por
exemplo, pode influenciar a eleição de um determinado político, com base
no poder da imagem (Pungente et al., 1999 in CML, 2002a).
e) cada meio de comunicação possui a sua própria linguagem.
Concretamente, existem meios que, pelas suas características, são mais
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adequados para comunicarem um determinado acontecimento do que
outros. Por exemplo, o vídeo pode ser mais indicado quando se quer
transmitir imagens fortes e o áudio quando se pretende despertar a
emoção do ouvinte (Pungente et al., 1999 in CML , 2002a).f) os anúncios publicitários transmitidos pelos média utilizam técnicas de
marketing que procuram tornar um determinado produto aliciante aos
olhos do consumidor. Importa, pois, compreender o que está a ser vendido
e qual o objetivo do anúncio (Pungente et al., 1999 in CML, 2002a).
g) as mensagens mediáticas podem omitir deliberadamente determinados
aspetos de um assunto.
h)
as pessoas utilizam o seu sistema de crenças e experiências pessoais para
darem significado às mensagens mediáticas, o que significa que uma
mesma mensagem pode ser alvo de diferentes interpretações.
i) as mensagens mediáticas influenciam crenças, atitudes, valores,
comportamentos e, até, o processo democrático.
j) muita informação que consultamos na Internet pode não ser fiável. Como
hoje em dia qualquer pessoa pode publicar conteúdos online, desde que
tenha as ferramentas adequadas para tal, é necessário saber avaliar se a
informação a que acedemos é de facto credível, ou se, por outro lado, a
devemos excluir.
3) Criar mensagens mediáticas e comunicar em diferentes contextos e meios de
comunicação. A educação para os média não se debruça apenas na
compreensão dos textos mediáticos e nas suas implicações para a nossa cultura
e sociedade, mas também na criação de conteúdos por parte dos cidadãos.
Como vimos, um indivíduo com literacia mediática deve ser capaz de avaliar a
fiabilidade da informação que recebe dos média, sobretudo em ambiente digital.
Devido à importância desta competência nos dias que correm, vamos debruçar-nos
sobre os principais critérios usados para determinar se uma informação é ou não
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credível. A Georgetown University Library 2 (GUL, 2015) elenca um conjunto de normas
que nos ajudam a avaliar a qualidade/fiabilidade dos recursos que encontramos na
Internet e que iremos apresentar de seguida. Assim, antes de utilizar recursos online é
conveniente considerar uma série de questões relacionadas com o autor; o propósito da criação da página/conteúdo online; a objetividade da informação; a precisão; a
fiabilidade e a credibilidade; a atualidade dos conteúdos; e a existência de
hiperligações para outras páginas.
Autor
O nome do autor está presente na página?;
A sua ocupação, anos de experiência e educação são apresentados?; O autor está qualificado para escrever sobre o tópico que aborda?;
O endereço de e-mail do autor está presente na página?;
Há alguma hiperligação para a sua homepage?;
O autor aparece identificado com alguma organização? De que forma surge
essa associação?;
No caso de o autor da página/informação não estar identificado, o que
podemos dizer da origem do website, a partir do seu URL?.
Propósito
Qual é a audiência-alvo da página?;
Visa, por exemplo, informar ou ensinar?;
Procura persuadir?;
Quer vender um produto?.
Objetividade
A informação veiculada é um facto, uma opinião ou propaganda?;
O ponto de vista do autor é objetivo e imparcial?;
A linguagem é isenta de pendor emotivo?;
2 Website oficial: http://www.library.georgetown.edu/. Página referente à fiabilidade da informação na
Internet: http://www.library.georgetown.edu/tutorials/research-guides/evaluating-internet-content , aqual serviu de base para a enumeração das normas apresentadas neste trabalho.
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A filiação do autor a uma instituição ou organização parece influenciar a
objetividade da informação?.
Precisão
Existem fontes externas para que a informação possa ser verificada?;
Há alguém identificado para fazer a revisão do conteúdo apresentado?;
A informação foi revista por alguém?;
É possível verificar toda a informação através de fontes independentes ou
mediante o nosso conhecimento?;
A informação possui erros gramaticais ou tipográficos?.
Fiabilidade e Credibilidade
Por que razão devemos confiar na informação do website?;
A informação parece ser válida? Resultou de investigação? É suportada por
evidências?;
Que instituição (empresa, universidade, etc.) apoia a informação?;
Se se trata de uma instituição, já ouvimos falar sobre ela antes? Conseguimos
encontrar mais informação sobre a mesma?;
Existe material exterior à web que permita verificar a legitimidade dos
conteúdos apresentados?.
Atualidade
Há alguma indicação da última atualização do website?;
A informação do website é atualizada frequentemente?.
Hiperligações
A página contém ligações relacionadas com o tema discutido?
As ligações são úteis para o propósito do website?;
Os links continuam atuais?.
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Em suma, ter literacia mediática implica:
Figura 1 - Síntese das competências de um cidadão “média competente”.
2.3
VANTAGENS DA LITERACIA MEDIÁTICA
A literacia mediática ajuda-nos a compreender o papel dos média na sociedade e
fornece os instrumentos necessários para que possamos expressar-nos corretamente
em democracia. É, sem dúvida, uma capacidade de enorme relevância para o indivíduo
do século XXI. Vejamos quais as suas principais vantagens:
estímulo ao pensamento crítico;
menor probabilidade de ser manipulado por informação propagandística ouenganosa;
Literacia
Mediática
Aceder aos
vários meios decomunicação
Interpretar
criticamente
os média
O que implica questionar,
por exemplo:
1) Quem criou a mensageme com que propósito?
2) Que técnicas foram
usadas para captar a
atenção do público?
3) Que estilos de vida ou
pontos de vista são
transmitidos?
4) Como é que diferentes
pessoas podeminterpretar a mensagem?
5) O que é omitido?
Saber criar
/produzir
conteúdos
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conhecimento das diferentes técnicas de persuasão utilizadas;
compreensão de omissões presentes nas mensagens mediáticas;
compreender como a interpretação das mensagens mediáticas varia em
função das crenças e valores; aptidão para fazer escolhas responsáveis com base na informação recebida;
desenvolvimento da criatividade, através da produção de conteúdos
mediáticos;
maior compreensão do ambiente digital, o qual é cada vez mais
predominante;
capacidade de criar e de partilhar as próprias mensagens no universo
online;
maior exigência em relação aos conteúdos que são produzidos pelos média;
disponibilidade para exigir adaptações do sistema mediático a uma
sociedade multicultural;
compreensão do modo como as mensagens mediáticas moldam a nossa
cultura e a sociedade;
maior capacidade para exercer uma cidadania ativa na atual Sociedade da
Informação.
2.4 PAPEL DA ESCOLA
A literacia mediática propõe uma nova abordagem para a educação neste século
(CML, 2002b). A Escola, enquanto agente que promove a educação dos futuros
cidadãos de uma nação, deve agir no sentido de criar alunos “média competentes”. É
fundamental que os professores expliquem aos estudantes como é que os meios de
comunicação criam narrativas, qual a razão de o fazerem e de que forma o fazem.
Como? Utilizando, por exemplo, recursos mediáticos em sala de aula para ensinar
determinados conteúdos. Na tabela abaixo, apresentamos algumas sugestões de
educação para os média.
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Tabela 1 – Sugestões de educação para os média
Recurso Atividade em sala de aula
Documentário Ao usar este recurso, que serviria para ilustrar um conteúdoprogramático relevante, o professor deveria também explicar oprocesso de produção de um documentário. Seria útil explicar,por exemplo, que as imagens exibidas resultam de um longoprocesso de recolha, que pode levar vários meses ou até anos.Também deveria transmitir que, antes de se partir para asfilmagens, é necessário efetuar uma pesquisa sobre o tema atratar e elaborar um guião prévio, que oriente o trabalho nocampo de ação. Além do mais, era também necessário explicarque o documentário comporta sempre a visão que o autor temsobre a realidade. Desta forma, o aluno compreenderia oprocesso de produção de um documentário e as dificuldadesinerentes à sua realização.
Reportagem escrita ou televisiva Poderão ser utilizadas duas reportagens que abordem omesmo assunto, sob pontos de vista diferentes. Assim, osalunos teriam a oportunidade de perceber que um mesmo
acontecimento pode ser tratado sob perspetivas diferentes.Internet Esta é uma excelente ferramenta para a criação de conteúdos.
Os professores poderão incentivar os estudantes a criaremuma página web ou um blog para o trabalho de uma disciplina,dando enfoque à componente noticiosa. Desta forma, estarãoa incentivá-los a usar as novas tecnologias para a produção demensagens mediáticas.
3 A LITERACIA CIENTÍFICA
3.1
ENQUADRAMENTO GERAL
A relação da sociedade com a Ciência é complexa. Um número cada vez maior das
nossas decisões quotidianas está baseado em dimensões de Ciência e Tecnologia
(C&T). O desenvolvimento destas áreas conduziu a uma maior preocupação política e
institucional pela perceção social da Ciência. Como resultado, desde os anos 50 que se
iniciaram estudos sobre a relação dos cidadãos com a Ciência. O conceito de literacia
científica e o seu estudo surgem neste contexto3.
Um novo interesse pelo conceito emergiu na década de 80 do século passado, com
o reconhecimento da importância da C&T para o desenvolvimento económico, cultural
e social das sociedades ocidentais (Carvalho, 2009). Interesse este que se mantém nos
3 Bauer, Allum e Miller (2007) falam-nos em três períodos que incorporariam três paradigmas dacompreensão pública da Ciência: Science literacy, Public Understanding of Science (PUS) e Science and
Society . Esta última abordagem tem vindo a ser substituída pela denominação Public Engagement with
Science and Technology (PEST). A discussão sobre a conceptualização tem sido extensa (Bauer, Shukla &
Allum, 2012; Brossard & Lewenstein, 2010; Miller, 2012; entre muitos outros), mas encontra-se fora doâmbito deste módulo.
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dias de hoje. De facto, a C&T permeiam a nossa sociedade e é, por isso, desejável que
os cidadãos detenham um conhecimento considerável nestas áreas. Assim, poderão
não só avaliar de forma crítica as decisões políticas de cariz científico-tecnológico, mas
estarão, também, aptos para tomar decisões adequadas a nível pessoal e social. Ecomo vivemos na chamada Sociedade da Informação ou em Rede, é igualmente
relevante saber interpretar e questionar criticamente a informação que recebemos
diariamente dos vários meios de comunicação e que tenha por base um conhecimento
científico.
Como vemos, a literacia científica é uma necessidade das sociedades democráticas
contemporâneas. As competências de um cidadão literato cientificamente podem ser
desenvolvidas em contextos diversificados, mas daremos particular destaque à
educação em contexto escolar, devido aos objetivos de aprendizagem do presente
curso. Analisaremos de seguida o conceito de literacia científica, cuja definição não é
consensual.
3.2 O CONCEITO
A literacia científica, também frequentemente designada de “compreensão pública
da ciência” ou “cultura científica” (Carvalho, 2009), é um termo que tem recebido
várias definições, sendo, por isso, um conceito polissémico e difuso. De uma forma
geral, relaciona-se com a capacidade de os cidadãos compreenderem a natureza e os
processos da Ciência e de usarem esses conhecimentos de forma pragmática nas
questões do dia a dia (Fives, Huebner, Birnbaum & Nicolic, 2014). Concretamente,
refere-se ao conjunto de capacidades que permitem que um cidadão formule um juízo
crítico sobre, por exemplo, uma notícia científica que leu num jornal ou sobre um
programa televisivo, no qual se debateram assuntos de cariz científico.
Neste manual, iremos adotar a definição de literacia científica avançada pelo
Programme for International Student Assessment (PISA) em 20134. O PISA é um estudo
internacional trienal lançado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Económico (OCDE) em 1990, que visa avaliar a mobilização de competências de
4
PISA 2013:http://www.oecd.org/pisa/pisaproducts/Draft%20PISA%202015%20Science%20Framework%20.pdf
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matemática, ciências e leitura na resolução de problemas do quotidiano por jovens de
15 anos, originários de diversos países. Na edição de 2015, participam 70.
A escolha da definição proposta pelo PISA prende-se não só com o facto de a
literacia científica surgir frequentemente associada aos objetivos da educação emCiência (Bybee, 2012), mas também porque o sentido dado ao conceito no programa
foi validado por uma equipa internacional de investigadores em educação, o que lhe
confere credibilidade. Apesar de os aspetos que abaixo vamos mencionar estarem
sobretudo relacionados com a avaliação da literacia científica em jovens, estes podem
também ser aplicados a adultos.
De acordo com o programa PISA, o conceito de literacia científica caracteriza-se
por quatro aspetos interrelacionados: competências, conhecimento, contextos e
atitudes. Vejamos como estes aspetos se relacionam entre si. Um cidadão
cientificamente literato deve conseguir mobilizar um conjunto de competências
científicas no seu dia a dia e em diversos contextos, tanto pessoal, como local, regional
ou global. Mas para ter competências científicas, é necessário que possua
conhecimentos de Ciência a vários níveis. Referimo-nos, por exemplo, a conteúdos de
Matemática ou Biologia e ao próprio processo de construção do conhecimento
científico. Por fim, o interesse natural que temos pela Ciência e o valor que lhe
atribuímos, no fundo, as nossas atitudes em relação à C&T, influenciam a forma como
usamos as nossas competências. Examinemos em pormenor cada um destes quatro
aspetos.
1) Um cidadão cientificamente literato deve mobilizar as seguintes competências
(OECD, 2013):
explicar fenómenos cientificamente, ou seja, reconhecer, propor e avaliar
explicações para fenómenos naturais e tecnológicos;
avaliar e comentar resultados de investigação e propor formas de abordar
questões cientificamente;
interpretar dados e evidências cientificamente, isto é, analisar e avaliar
dados, afirmações e argumentos, numa variedade de representações (por
exemplo, gráficos, figuras e esquemas) para chegar a conclusões
apropriadas.
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2) Todas estas competências requerem conhecimentos de ordem diversa,
concretamente (OECD, 2013):
conhecimento substantivo, ou seja, o conhecimento dos factos, dos
conceitos, das ideias e das teorias sobre o mundo natural propostos pelaCiência. Referimo-nos, por exemplo, ao entendimento do processo de
efeito de estufa e ao reconhecimento da fórmula química do dióxido de
carbono. No fundo, o conhecimento substantivo diz respeito ao
conhecimento sobre os conteúdos da Ciência;
conhecimento processual, isto é, a compreensão das práticas e dos
conceitos em que a investigação científica se baseia, tais como o controlo
de variáveis e a repetição de medições para reduzir o erro e a incerteza;
conhecimento epistemológico, ou seja, o entendimento do processo de
construção do conhecimento em Ciência. Concretamente, inclui o
reconhecimento da função que as questões, as observações, as teorias, as
hipóteses, os modelos e os argumentos desempenham na Ciência. Engloba
também a reflexão sobre a importância da revisão dos trabalhos científicos
pelos pares.
3)
As competências científicas devem ser mobilizadas em diversos contextos, a
saber (OECD, 2013):
pessoal, quando, por exemplo, recorremos ao conhecimento científico para
fundamentar as nossas escolhas, como trocar lâmpadas de filamento de
tungsténio por lâmpadas de baixo consumo ou separar resíduos para
reciclagem para reduzir a necessidade energética da nossa sociedade;
local, sempre que precisamos de tomar decisões que envolvam a nossa
comunidade próxima. A título de exemplo, se tivermos conhecimento sobre
espécies ameaçadas que vivam perto da nossa zona de residência, podemos
procurar preservá-las. O lobo ibérico é um desses casos para quem vive no
distrito de Bragança;
nacional, quando necessitamos de estar informados para participar em
assuntos políticos relacionados com decisões ambientais, como a instalação
de novas infraestruturas para centrais hidroelétricas;
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global, por exemplo, para conseguirmos construir uma posição
fundamentada sobre as alterações climáticas.
4) As atitudes que temos em relação à Ciência desempenham um papel
fundamental no interesse e atenção que dedicamos às áreas científicas etecnológicas. O PISA avalia o interesse dos alunos nas seguintes áreas (OECD,
2013):
interesse científico, concretamente, o interesse por determinados
assuntos relacionados com a C&T. Estudos anteriores do PISA constataram
que os jovens que têm um elevado interesse por Ciência têm maior
probabilidade de seguirem carreiras científicas no futuro;
valorização da abordagem científica, o que implica valorizar formas
científicas de recolher dados; pensar de forma criativa e racional; valorizar
a crítica como meio de estabelecer a validade de qualquer ideia; entre
outros aspetos;
consciência ambiental, o que engloba uma preocupação pelo ambiente e
pela vida sustentável e a disposição para empreender e promover
comportamentos ambientais sustentáveis.
Em suma, ter literacia científica implica:
Figura 2 – Literacia científica, segundo o PISA (OECD, 2013, p. 12).
Conhecimento:
. Substantivo;
. Processual;
. Epistemológico.Competências:
. Explicar fenómenos
cientificamente;. Avaliar e planear
investigações científicas;
. Interpretar dados eevidências
cientificamente.
Contextos:
. Pessoal;
. Local/nacional;
.Global
Influenciam ouso de
Atitudes:
. Interesse científico;
. Valorização daabordagem científica;
. Consciência ambiental.
Exigem o uso de
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3.3
A LITERACIA EM CIÊNCIA CLIMÁTICA
Uma vez que este curso é dedicado ao uso dos média para a comunicação das
alterações climáticas, é conveniente abordar o conceito de literacia em ciência
climática, termo que traduzimos do inglês climate science literacy , ou apenas literacia
climática.
A literacia em ciência climática é uma das vertentes da literacia científica e
caracteriza-se pela compreensão da influência que os seres humanos exercem sobre o
clima e do efeito que este exerce, por sua vez, sobre as pessoas e a sociedade (CLN,
2014).
Uma pessoa com literacia em ciência climática deve (CLN, 2014):
compreender os princípios essenciais do sistema climático da Terra, o que inclui
entender também os fatores naturais e humanos que o afetam;
avaliar informação científica credível sobre o clima;
comunicar sobre o clima e sobre as alterações climáticas;
perceber como é que os registos de observações climáticas e as modelações
computadorizadas contribuem para o conhecimento científico do clima;
tomar decisões fundamentadas e responsáveis no que diz respeito às açõesque podem afetar o clima.
Não se espera que a pessoa literata em ciência climática compreenda todos os
detalhes relativos aos conceitos fundamentais desta área. Contudo, o clima é um tema
interdisciplinar a que o cidadão será exposto e que convém que estude ao longo da
vida, uma vez que, em sociedades democráticas, pode ser chamado a participar em
debates de tomada de decisão com o objetivo de redução das alterações climáticas e
dos seus impactos (CLN, 2014).
Como podemos constatar, as características de um cidadão literato, a nível do
clima, acabam por enquadrar-se nos parâmetros mencionados pelo programa PISA.
3.4
VANTAGENS DA LITERACIA CIENTÍFICA
Se bem que a relação entre alta literacia e o apoio a políticas não seja um dado
adquirido, e envolva uma complexidade maior do que inicialmente previsto pelos
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educadores, cientistas e políticos, parece haver um consenso no sentido de promover
a literacia científica das populações. As vantagens habitualmente associadas a essa
maior literacia são:
nível social:
potencial contributo para o desenvolvimento económico do país através de
incorporação de valor nos bens e serviços transacionáveis;
maior compreensão do conhecimento envolvido em algumas situações e
subsequente apoio a políticas públicas de Ciência;
maior capacidade para responder a futuros desafios tecnológicos;
maior participação democrática na vida pública/exercício da cidadania pela
melhor compreensão do que está em causa;
nível individual:
acesso a empregos de maior qualificação e maior empregabilidade;
maior conhecimento para tomar decisões adequadas no dia a dia (sobre
saúde, bem-estar e lazer);
perceção da importância da Ciência nas nossas vidas;
enriquecimento da vida individual através da incorporação da Ciência comas Artes e com as outras áreas da cultura;
menor suscetibilidade à manipulação;
maior integração na Sociedade da Informação e Comunicação.
3.5
PAPEL DA ESCOLA
A literacia científica é frequentemente apontada como um dos objetivos
fundamentais da educação em Ciência (Carvalho, 2009). Assim sendo, a Escola
desempenha um papel de extrema importância no que toca à formação de estudantes
cientificamente literatos. Sabe-se que as atitudes que temos para com a Ciência se
formam nas fases iniciais da vida (Eshach, 2006), pelo que é durante esse período que
se deve apostar em atividades diversificadas que permitam aos estudantes
estabelecerem contacto com os ambientes científicos.
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De que forma pode a Escola contribuir para o incremento da literacia científica dos
estudantes? Existem várias metodologias que podem ser implementadas, mas, tendo
em conta os propósitos do presente curso, iremos dar destaque ao ensino da Ciência
através dos média.
4 O USO DOS MÉDIA PARA A PROMOÇÃO DA LITERACIA CIENTÍFICA EM
SALA DE AULA
4.1
A COMPLEMENTARIDADE DA LITERACIA CIENTÍFICA E MEDIÁTICA
Conforme vimos anteriormente, o importante papel da C&T para o
desenvolvimento das sociedades e a subsequente necessidade de divulgação
encontram-se na ordem do dia. Os progressos e transformações da Ciência
apresentam uma aceleração sem precedentes, muitos dos quais com potencial para
transformar radicalmente a existência humana. Consequentemente, as notícias sobre
Ciência são cada vez mais importantes (Weigold, 2001). Afinal, as comunidades e os
indivíduos são frequentemente confrontados com escolhas que exigem informação econhecimento relativos à Ciência (Nelkin, 1995).
Em tempos de acelerada mudança nas relações sociais, as transformações
verificadas nos média e nas regras de comunicação têm desempenhado papéis
determinantes. Estas transformações têm vindo a desencadear novas necessidades e
exigências comunicativas que se traduzem, entre outros, numa crescente
diferenciação e acessibilidade da informação e do conhecimento, para públicos
distintos.
No caso específico da comunicação da Ciência, e tendo em conta que a Ciência é
dependente da legitimação pública, importa compreender a perceção pública da
Ciência, através de um melhor entendimento da relação dos processos mediadores
presentes na construção destes discursos com a apropriação destes mesmos discursos
por audiências ativas (Azevedo, 2007).
A desconfiança da opinião pública em relação a projetos científicos e tecnológicos
(como, por exemplo, em relação aos alimentos geneticamente modificados) tem vindo
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a ser alvo de uma cada vez maior cobertura por parte dos órgãos de comunicação
social. Assim sendo, torna-se relevante que exista uma análise de como os média
estabelecem a mediação da Ciência, assim como das técnicas que são empregues para
o fazer de uma forma efetiva.Nesta linha, alguns autores incluem no conceito de literacia científica a
componente de science media literacy (literacia mediática científica) (Fives et al.,
2014), para designarem a capacidade crítica que cada indivíduo deve ter para com as
conclusões científicas presentes nas notícias. Esta componente refere-se
especificamente às capacidades de:
colocar questões para avaliar a validade do relato científico presente nos
vários meios de comunicação, sabendo que:
a) toda a investigação científica se baseia em trabalhos anteriores;
b) os resultados dos estudos são sempre sujeitos a incertezas;
c) é necessário conhecer as fontes de financiamento do estudo, pois estas
podem forçar o enviesamento dos resultados;
d) é importante prestar atenção ao que é dito, mas também ao que é
omitido;
avaliar a qualidade e a pertinência das fontes utilizadas na peça jornalística.
4.2
OS MÉDIA A CIÊNCIA E A SALA DE AULA
Uma das formas de fomentar a literacia científica dos jovens passa pela introdução
de produtos mediáticos na sala de aula. De facto, as notícias são uma forma divertida
de captar a atenção dos estudantes e de auxiliá-los no desenvolvimento dos seus
conhecimentos e competências (Jarman & McClune, 2007). Além do mais, dado que
vivemos na Sociedade da Informação ou em Rede, onde os fluxos de informação são
constantes, torna-se necessário fornecer aos estudantes conhecimentos para que
estes percebam se as notícias estão ou não a transmitir conteúdos com informação
científica correta e se as suas fontes são fidedignas.
Além disso, à medida que os jovens vão abandonado a Escola, os média tornam-se
a sua principal fonte de informação sobre Ciência (Jarman & McClune, 2007), pelo que
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prepará-los para saberem “ler” os dados científicos que recebem dos média afigura-se
uma opção justificada.
Introduzir os média em sala de aula para explicar certos conceitos científicos, como
por exemplo, o efeito de estufa, pode ser uma oportunidade para desenvolversimultaneamente a literacia mediática e a literacia científica dos estudantes.
Colocamos abaixo uma tabela com algumas aspetos a ter em consideração quando
analisamos notícias sobre Ciência (notícia 1 e notícia 2, sobre o mesmo evento, mas de
diferentes meios noticiosos, por exemplo, uma notícia do jornal “Público” e outra do
“Correio da Manhã”). A resposta a estas perguntas ajuda-nos a perceber se a
informação noticiosa é ou não credível e permite-nos comparar o tratamento que o
mesmo assunto recebeu em notícias diferentes (Jarman & McClune, 2007).
Tabela 2 – Comparação entre a informação noticiosa
Informação mencionada Notícia 1 Notícia 2
Fonte utilizada (cientista,organismo, etc.)
Âmbito do estudo
Como foi realizado o estudo
Quando foram os resultados
tornados públicosOnde foi o estudo publicado
Qual a metodologia utilizada
Em síntese, de acordo com Jarman & McClune (2007), podemos dizer que estudar
a Ciência nos média tem o potencial de:
ilustrar a relevância da Ciência;
aumentar o envolvimento dos jovens na Ciência;
auxiliar a aprendizagem da Ciência;
encorajar a aprendizagem ao longo da vida;
promover as literacias mediática e científica.
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