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Solange Cristina de Camargo Moreira Couto
Dimensões da Vulnerabilidade da População Travesti
à Infecção ao HIV/AIDS
Monografia apresentada no curso de Especialização em Prevenção do HIV/AIDS no Quadro da Vulnerabilidade e dos Direitos Humanos do Programa de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Orientador: Veriano Terto Junior
São Paulo
2011
Solange Cristina de Camargo Moreira Couto
Dimensões da Vulnerabilidade da População Travesti
à Infecção ao HIV/AIDS
Monografia apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Especialista em Prevenção ao HIV/AIDS no Quadro da Vulnerabilidade e Diretos Humanos junto ao Programa de Medicina Preventiva.
Orientador: Veriano Terto Junior
São Paulo
2011
Agradecimentos
Agradeço,de maneira especial o meu orientador Veriano Terto Júnior pela permanente disponibilidade e pela forma tranquila e precisa que me conduziu até o final deste trabalho.
Agradeço à Coordenação, Professores e Monitores do Curso de Especialização em Prevenção ao HIV/AIDS no Quadro da Vulnerabilidade e Direitos Humanos pela dedicação pessoal que conduziram este curso, em especial à Gabriela J. Calazans pela sua monitoria cuidadosa na construção dos conhecimentos que sustentaram a realização deste trabalho.
Agradeço também o investimento e a confiança da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, representada pela Coordenadoria de Controle de Doenças e Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS-SES/SP e a Secretaria Municipal de Saúde do Município de Santa Bárbara D’Oeste/SP. De forma especial agradeço a Nelisa Abe Cruz, amiga e coordenadora do Programa de DST/AIDS do Município de Santa Bárbara D’Oeste até Outubro de 2011, pelo incentivo e apoio incondicional.
Sumário
RESUMO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 01
1.1 Objetivos Gerais........................................................................................ 05
2 REVISÃO DA LITERATURA...................................................................... 06
2.1 Capítulo I: Os Desafios Da Construção De Um Feminino Travesti............. 06
2.1 Capítulo II: A Marca Da Violência No Ser Travesti.................................... 19
2.2 Capítulo III: O Exercício Da Profissão Na Vida Travesti............................ 24
2.3 Capítulo IV: A Representação da AIDS No Contexto Travesti.................... 28
3 DISCUSSÃO............................................................................................... 34
4 CONCLUSÃO............................................................................................. 38
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 40
RESUMO
Este trabalho abordou as vulnerabilidades sociais e individuais das
travestis de Salvador, Porto Alegre e Rio de Janeiro à infecção ao HIV/AIDS,
a partir da análise de contextos cotidianos da vida travesti sob três aspectos:
as condições em que o corpo travesti é construído, a violência que perpassa
as suas vidas e as condições do exercício da prostituição, aliado ao
significados que o HIV/AIDS tem para estas travestis dentro destes
contextos.
Foi utilizada a metodologia qualitativa a partir de três etnografias
publicadas em livros.
O que encontramos no entrelaçamento destes contextos, foram
estigma, preconceito, discriminação, violência, relação de gênero e de
poder, além da violação de direitos, o que produz vulnerabilidades sociais e
individuais importantes para as travestis aos mais diferentes riscos, entre
eles ao HIV/AIDS, onde respostas de prevenção estão pouco presente em
seus discursos.
Concluímos que as estratégias de prevenção ao HIV/AIDS para essa
população devem ser sustentadas por ações que enfrentam essas
condições de vulnerabilidades favorecendo a construção de sujeitos de
direitos.
INTRODUÇÃO
A análise dos dados epidemiológicos e a observação empírica vinda da
minha experiência profissional, na assistência da população travestis
portadoras do vírus HIV, mostraram-me vulnerabilidades importantes das
travestis para o risco à infecção ao HIV/AIDS.
As estratégias de prevenção voltadas para a população LGBT (lésbicas
gays bissexuais e travestis) ainda são incipientes e isto agrava-se em
relação as travesti. Considerando que temos uma epidemia concentrada
neste grupo populacional, tenho observado que estas estratégias parecem
atingir ainda menos as travestis. Levanto a hipótese que isso ocorra em
decorrência de que ser travesti implica em contextos sociais e individuais
muito específicos e que, portanto, suas vulnerabilidades individuais, sociais
e programáticas à infecção ao HIV são muito diversas das outras
populações.
O conceito de vulnerabilidade aqui empregado é o da somatória de
situações individuais e sociais, vividas no cotidiano, que tornariam as
pessoas ou um grupo delas mais suscetíveis a uma doença e suas
conseqüências, bem como, com menores condições de dar respostas que
lhes permitam se proteger. 1(Ayres et.al , 2006 a e b ; Mann et al, 1996,1992;
apud Ayres, Paiva, França Júnior ,SP2010 p.7) .
1 Ayres, J.R., Calazans, G., Salleti, H. C. Fo., & França, I. Jr. (2006ª). Risco, vulnerabilidade e práticas de
prevenção e promoção da saúde. In G.W. de S. Campos, M.C de S. Minayo, M. Akerman, M. D. Jr., &
1
Dentro desse conceito o sujeito é compreendido como sujeito de
direitos e intersubjetivos, ou seja, constrói e é construído nas relações
sociais, o que implica que as três dimensões da vulnerabilidade, que se
apresentam indissociadamente: a individual (sujeito de direito, com seus
recursos individuais), a social (relações sociais, culturais) e a programática
(respostas governamentais que garantam e protejam os direitos humanos)
atravessam o sujeito aumentando ou diminuindo a sua exposição ao risco de
uma doença (Ayres,Paiva,França-Júnior,2010).
Sendo assim, este trabalho se propõe conhecer os contextos sócios
culturais e individuais das travestis e as vulnerabilidades implicadas, para
pensar em estratégias de prevenção para essa população, que de fato,
favoreça a construção de respostas que ampliem as suas possibilidades do
exercício do direito à saúde na perspectiva do contexto considerado neste
estudo,ou seja, da prevenção à infecção ao HIV/AIDS.
Foi utilizada como marco teórico, a revisão de literatura de três estudos
etnográficos publicados em livros. A escolha pelo estudo etnográfico se deu
por abordar o contexto social em que elas vivem, trazendo também as
questões de âmbito individual. Esses estudos foram publicados nos últimos
30 anos (período da epidemia no Brasil), isso nos mostra que já foram
avaliados, inclusive, por pares e comitês editoriais, o que nos exime de
realizar novos estudos de campo. Sendo assim, esses estudos permitem-
Y. M. de Carvalho. (Orgs.). Tratado de Saúde Coletiva (PP.375-417). São Paulo; Rio de Janeiro:
Editora Hucitec; Editora Fiocruz Mann, J.,& Tarantola, D.J.N. (Eds). (1996). AIDS in the world II. New
York: Oxford University Press.
Mann, J., & Tarantola, D. J. N, & Netter, T.W. (Eds.) (1992). AIDS in the world. Cambridge. Havard
University Press.
2
nos analisar o que eles revelam sobre a AIDS e sobre aspectos individuais e
sociais que podem apontar as condições de vulnerabilidades das travestis.
Este trabalho está estruturado da seguinte forma: o capítulo um traz a
construção do gênero feminino, marcado no corpo, e o quanto esta busca
incessante pelo feminino, sem condições adequadas, às expõem aos mais
diferentes riscos à saúde. Além disso, a vulnerabilidade gerada pela relação
de gênero que reproduz relações de poder e de submissão, em algumas
situações, do gênero feminino em relação ao masculino; gênero, aqui
considerado, como uma construção social do que é ser homem e ser mulher,
numa dada sociedade. (Paiva, 2000)
No capítulo dois é analisado como a violência se torna o pano de fundo
da vida travesti, desde as relações familiares, ainda na infância, passando
pela violência policial, da rua, dos clientes, da sociedade como um todo e o
que isto implica na construção de vulnerabilidades.
O capítulo três mostra as condições do exercício da prostituição,
principalmente marcada pelo estigma e todas as representações negativas
ligadas a ele, além da exposição à rua, aos clientes, à ação policial e sua
importância na construção do ser travesti, também identificando as
vulnerabilidades implicadas.
E no capítulo quatro é apresentado como a AIDS aparece nos
discursos das travestis estudadas. A presença do silêncio, do medo e as
ambigüidades, nesses discursos, apontam para representações que podem
gerar vulnerabilidades individuais importantes à infecção ao HIV.
3
A partir da análise desses contextos procuramos identificar
vulnerabilidades à infecção ao HIV/AIDS, no plano social e individual. No
plano programático, ainda que não fosse objeto deste estudo, mas
considerando que os planos são indissociáveis, pudemos também identificar
vulnerabilidades que nos forneceram elementos de sua importância para o
aumento da exposição ao risco à infecção ao HIV/AIDS.
A compreensão das dimensões da vulnerabilidade, nesses contextos,
permite-nos concluir que as estratégias de prevenção, as quais possam
produzir respostas mais eficazes, devem ser sustentadas por ações que
visem a garantia e proteção dos direitos dessa população.
4
OBJETIVO GERAL
Analisar, a partir de estudos etnográficos, o contexto sócio-cultural e
individual, de parte das travestis brasileiras para compreender as condições
de vulnerabilidades sociais e individuais à infecção pelo HIV/AIDS.
5
CAPÍTULO I: O Corpo: Os Desafios da Construção De U m Feminino
Travesti
Neste capitulo, apresentaremos as condições em que ocorrem as
transformações no corpo das travestis, na busca incessante de uma estética
feminina que reflita na construção de um feminino travesti.
Este feminino travesti, como nos mostrará os estudos, é o que lhe dá
uma identidade, um lugar social; as transformam em sujeitos (Benedetti,
2005). Portanto, podemos perceber que o corpo e a metamorfose, pelo qual
se submete, têm importância seminal na construção do sujeito travesti e de
suas subjetividades.
Segundo Benedetti (2005), as travestis investem muito em seus corpos
(tempo, conhecimento, dinheiro) quando decidem transformá-los. É no corpo
que a marca do masculino e do feminino aparece, tanto pela ordem do
biológico, ou seja, do sexo, quanto pelas representações que temos sobre
ele, e, neste sentido ele é um produto social, pois está na ordem da
linguagem, portanto da cultura, não havendo como separar o que é
simbólico do que é real. Para as travestis, o corpo é sobretudo uma
linguagem; confere-lhes um lugar social. É no corpo que as travestis se
constituem enquanto sujeitos (Benedetti, 2005).
As transformações do menino para a travesti começam lentamente e
as características corporais são consideradas fundamentais para a
diferenciação de gênero, nesta “fabricação do feminino” (Benedetti, 2005a,
6
p.51). Sendo assim, iniciam-se, estas transformações, por partes do corpo
que seriam mais fáceis de serem modificadas e também reversíveis, como
por exemplo, as mãos e os cabelos, embora também tenham a função de se
identificarem gradativamente com atributos femininos caracterizando um
período de transição (Benedetti, 2005). Neste momento, a maquiagem
começa ter importância fundamental, pois além de ser uma marca do
feminino, tem a função de esconder os atributos masculinos. O batom
vermelho é o principal produto, pois é a maior marca do feminino uma vez
que, carrega a representação da sensualidade e da sedução, supostamente,
irresistível para os homens.
A maior marca do masculino é a barba ou os pêlos do corpo. Por isso
lutam diariamente contra eles, segundo Benedetti (2005), a pinça é utilizada
frequentemente por horas e, normalmente com muita habilidade, até mesmo
sem a necessidade de espelho. Há também a utilização de ceras
depilatórias, água oxigenada para clareá-los, uso de hormônios e até a
eletrólise, que Kulick (1998) nos mostra como um método muito doloroso de
depilação, pois é feito com agulhas e precisa ser realizado por bons
profissionais, para que não traga danos a estética, porém tem efeitos mais
duradouros. Enfim, conhecem todos os recursos para eliminar os pêlos, com
mais ou menos sofrimento.
Ainda falando dos pêlos, têm as sobrancelhas, que recebem atenção
especial das travestis, pois não basta diminuí-los, eles devem ter um formato
que lhes confiram traços mais femininos, para isso são utilizados desde a
pinça até a maquiagem definitiva e outros recursos.
7
Os cabelos devem ser longos, com cortes femininos e bem cuidados.
Para isto, também utilizam-se de todos os recursos disponíveis (tinturas,
alisamentos e outros). O cabelo é muito valorizado no universo feminino, por
isso, para as travestis ele é utilizado como símbolo de superioridade em
relação às outras travestis; é comum ridicularizarem as que usam perucas
(Benedetti, 2005).
A voz é outra marca do masculino, da qual a travesti tem que se
dedicar diariamente para ocultá-la. Exige um treinamento, de forma que os
fonemas sejam pronunciados de maneira mais aguda (Benedetti, 2005).
Hélio Silva (2007), nos relata, porém, que a voz grave ou grossa é uma
marca do masculino que insiste, apesar de todos os esforços, pois ao
acordar todas relatam a voz grossa e, segundo Silva (2007), é possível
observar que nos momentos onde estão mais descontraídas ou no final da
noite quando a possibilidade de um cliente é menor, a voz ir se tornando
mais grave. Mas, segundo Benedetti (2005), é a tentativa de feminilização da
voz que conclui a primeira fase deste processo de transformação em busca
do feminino.
Paralelo a esta fase, desenvolve-se gradativamente, desde a infância,
“a montagem” (Benedetti, 2005a, p.67) que é definida por ele como:
“um processo de manipulação e construção de uma
apresentação que seja suficientemente convincente,
sob o ponto de vista das travestis, de sua qualidade
feminina” (Benedetti, 2005a, p.67.)
8
Esse processo de vestir-se com roupas femininas têm função
importante na construção da identidade travesti, pois é a primeira estratégia
utilizada para despertar o desejo dos homens (a maioria das travestis
relatam que com 6 ou 7 anos já vestiam roupas da mãe ou de irmãs), além
disso, a vestimenta comunica símbolos sobre a pessoa que a veste, ou seja,
lhe confere atributos sociais, bem como reconhecimento social, sendo
assim, as travestis investem horas por dia na tentativa da construção de uma
estética feminina perfeita (Benebetti, 2005).
As roupas íntimas assumem nesse contexto uma grande importância,
pois estão diretamente relacionadas a valores e práticas femininas, como
por exemplo, a calcinha, peça obrigatória na vestimenta cotidiana das
travestis. Além disso, as roupas íntimas são fundamentais para o trabalho de
prostituição, pois permitem que as peças fiquem a mostra como objeto de
sedução e seus corpos: seios, nádegas e pernas como objeto de desejo de
seus clientes.
Nessa montagem do feminino não pode faltar os sapatos de salto,
frequentemente muito altos, pois é uma importante marca do feminino, do
qual as travestis não abrem mão mesmo tendo que suportá-los de 6 a 10
horas por dia, circulando pelas ruas durante o trabalho de prostituição
(Benedetti, 2005).
Porém, na fabricação deste feminino travesti, outras marcas no corpo
começam a se fazer necessárias para lhe garantir um lugar de
pertencimento a esse grupo, pois as mudanças que aparecem ao olhar do
outro, é o que lhe dá um lugar social. (Benedett, 2005). Estamos falando da
9
entrada dos hormônios em grandes quantidades e sem orientação médica,
da aplicação de silicone líquido em condições inadequadas e de implantes
de prótese de silicone. É o início de uma nova fase da construção do
feminino, no sentido de dar a este corpo formas mais arredondadas,
característica esta do corpo feminino (Benedetti, 2005).
Segundo Hélio Silva (2007), é o nascimento de um novo corpo, porém
não um corpo de mulher, pois tem características e atributos diferentes. “É
um corpo de travesti” (Benedetti, 2005a, p.73). Contudo, nesta nova fase os
riscos à saúde aumentam pela falta de condições adequadas para o uso
destes métodos.
De acordo com Benedetti (2005), a decisão pelo uso dessas técnicas,
está diretamente relacionada com a decisão de assumir a identidade
travesti, pois implica em decisões corporais mais definitivas e mais visíveis,
que vão para além da montagem. Normalmente, iniciam com o uso diário de
altas dosagens de hormônios (progesterona e estrógeno) para se conseguir
efeitos mais rápidos e isso ocorrendo por volta dos 14 ou 15 anos,
provocando o aumento dos seios, afinando a cintura e a voz (algumas
travestis, informantes de Benedetti (2005), contradizem esta informação) e
diminuindo os pêlos do corpo e da barba.
Kulick (1998) nos mostra, com as travestis de Salvador, que muitas
vezes o início do uso de hormônios, é marcado com a saída da casa da
família, ou por necessidade pelo fato de não aceitarem a sua condição
travesti, ou também pelo desejo de se sentirem mais livres para a
construção do ser travesti.
10
As travestis mais velhas, normalmente, são quem incentiva as mais
novas a usarem hormônios; acreditam que quanto antes começarem melhor
o resultado. Kulick (1998) traz o relato de travestis que iniciaram o uso de
hormônio entre 7 e 8 anos. Os parceiros, também costumam incentivar o seu
uso, pois para serem consideradas travestis de verdade, precisam ter
características femininas.
Há muitos mitos e fantasias em torno da ingestão de hormônios, que
lhe dá o lugar de “veículo do feminino” (Benedetti, 2005a, p.77). Algumas
travestis acreditam que além dos efeitos físicos, eles também teriam efeitos
sobre atitudes, formas de pensar, sentir, até a expressão do olhar poderia
ser modificada pelo o hormônio, possibilitando a construção de um feminino
travesti (Benedetti, 2005).
Quanto aos efeitos colaterais (náuseas, problemas circulatórios e
outros), os que mais incomodam é a perda da ereção, pois comprometem o
trabalho de prostituição, já que muitos clientes querem ser penetrados por
elas e por este motivo, algumas suspendem o tratamento, dando início a
aplicação de silicone ou fazem um tempo de interrupção e depois reiniciam
(Kulick,1998).
Algumas fantasias também recaem sobre os efeitos colaterais, como a
de que os hormônios são eliminados na ejaculação, diminuindo assim seus
efeitos, o que levam algumas a não quererem ejacular enquanto estão
fazendo uso de hormônios (Kulick, 1998). Outra fantasia é de que os
hormônios afinam o sangue e isso deixaria a pessoa mais vulnerável para
doenças, levando a consumirem doses mensais de penicilina, sem
11
necessidade. É encontrada também, a fantasia de que os hormônios
aumentam a irritabilidade e o nervosismo, que parece vir da associação de
um traço feminino de que a mulher seria mais nervosa que o homem,
segundo (Benedetti, 2005), os hormônios fazem uma integração entre o
físico e o moral, entre o real e o simbólico, pois age no corpo real e no corpo
moral.
O próximo passo após o hormônio, segundo Benedetti (2005), é a
aplicação de silicone líquido, que, normalmente é uma decisão mais
pensada, uma vez que é irreversível. Embora seja muito valorizada entre as
travestis, pois produzem efeitos imediatos, nem todas usam. O silicone é
aplicado em toda parte do corpo, pelas chamadas “bombadeiras” (Kulick,
1998a, p 95.), que é o nome dado as mulheres ou travestis mais velhas, com
algum tipo de experiência nesta técnica e que, portanto realizam a aplicação
do silicone líquido, sendo na grande maioria das vezes, sem condições
adequadas de assepsia, instrumentos e outros, o que aumenta o risco de
infecções e outras complicações de saúde que podem ser fatais.
Entretanto, Kulick (1998) nos relata que as travestis de Salvador,
consideram o silicone líquido como “revolucionário” (Kulick, 1998a, p.86.),
pois possibilita características femininas rapidamente e as deixam “mais
bonitas que muitas mulheres” (Kulick,1998a, p.86). São, preferencialmente,
aplicados nos quadris, nádegas e pernas, de acordo com o padrão estético
valorizado pela cultura do Brasil.
Como já nos mostrou Benedetti (2005), a decisão de aplicar o silicone
líquido, não é repentina. Kulick (1998), mostra que há vários aspectos a
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serem considerados, entre eles: precisam pensar na dor, nos riscos de
deformações do corpo, que traz prejuízos à estética e também no dinheiro
para adquirirem o silicone. Com todas estas questões a serem consideradas,
a aplicação raramente começa antes dos 16 ou 17 anos. A partir desta
idade, aplica-se, periodicamente até os 25 anos, quando, param para
reiniciarem em torno dos 35 anos, período que sentem que estão perdendo
a beleza e a juventude.
As travestis também usam as próteses de silicone, embora muito
menos que o silicone líquido, em função do alto custo financeiro e porque
algumas relatam rejeição (Benedetti, 2005).
Porém, apesar da dor e de relato de deformidades corporais causadas
pelo silicone, a supervalorização trazida pelos bons resultados dá origem a
expressão “Toda feita” (Benedetti, 2005a, p.86.), expressão esta que intitula
o livro de Benedetti.
A cirurgia plástica é um recurso pouco utilizado, pelo alto custo
financeiro, mas é um desejo muito relatado, principalmente, o de “fazer o
nariz” (Benedetti, 2005a, p.87), que significa deixá-lo mais feminino. A
cirurgia para mudança de sexo, como também nos mostra Silva (2007),
quando aparece no discurso travesti como um desejo, aponta mais para uma
forma de marcar uma identidade feminina e o gênero feminino, do que o
desejo real de utilizá-la.
Kulick (1998) nos revela que o que as travestis querem é se sentirem
mulher e não ser mulher. São homens que desejam outros homens e que
transformam seus corpos, em corpos femininos para atrair, seduzir os
13
homens que elas desejam. O pênis é objeto de gozo; precisam do pênis
para gozar, por isso, normalmente, são contra a cirurgia para mudança de
sexo “Nasci homem vou morrer homem” (Kulick, 1998a, p.101). Além disso,
para elas a operação não produz mulheres, apenas tiram a possibilidade do
prazer sexual. Assim, Kulick, nos mostra que não é uma questão de sexo,
mas de gênero.
Para finalizarmos este processo de transformação corporal em um
corpo travesti, e como já é possível observar, que o que se busca no corpo
não é uma mudança de sexo, mas de gênero, ou seja, a construção do
gênero feminino, uma técnica importantíssima, apresentada pelos três
estudos, é fazer a genitália feminina. Esta técnica é chamada “acuendar a
neca” (Kulick,1998; Silva, 2007; Benedetti, 2005), que significa esconder o
pênis na região pubiana de forma que a aparência fique semelhante ao
genital feminino e esta técnica é desenvolvida com muita destreza.
A expressão “toda feita”, trazida por Benedetti (2005), segundo o
próprio autor, também marca que todo o processo de transformação do
corpo, não só pela aplicação do silicone, mas também pela utilização de
toda tecnologia disponível, produziu resultados satisfatórios neste corpo, o
transformando num corpo travesti, portanto resultados eficientes na
transformação de gênero. Em contra partida, para aquela travesti, que não
consegue bons resultados no processo de “modelagem” (Benedetti, 2005a,
p.86) de seu corpo, é chamada pela a expressão “plastificada” (Benedetti,
2005.p. 86).
14
Kulick (1998), também traz que as travestis que optam por não fazerem
transformações mais definitivas ou radicais em seus corpos, como a
aplicação de silicone ou a ingestão de hormônios, não são consideradas
como travestis “de verdade” (Kulick,1998a, p.83) e são chamadas de
transformistas, sendo vista pelas outras travestis com certo incômodo. O
mesmo acontece com as travestis, que mantém traços mais masculinizados.
Segundo Benedetti (2005), é no corpo que se constroem as dinâmicas
e os sinais culturais de um grupo. Portanto, podemos observar que todas
essas intervenções no corpo realizadas pelas travestis, mostram o quanto
esse corpo precisa ser posto à prova, desafiado, “reconstruído e
resignificado” (Benedetti,2005. p.96) para que possam fazer parte de um
grupo e assim ter um lugar social.
Outro aspecto importante a ser considerado, que os autores nos
mostram, é que para se sentir mulher, não basta ter aparência de mulher,
precisa se comportar como uma e isto implica em ter um namorado ou
marido, ou seja, um homem para se relacionarem afetivamente. Sendo
assim, para as travestis é muito importante ter um namorado ou marido e
que sejam tidos e vistos como homens heterossexuais. Por isso buscam
homens com estereótipos fortemente masculinos, normalmente, envolvidos
com o crime, com outras mulheres ou travestis, prostituição e drogas. São
comumente sustentados pelas travestis, que se sujeitam a qualquer situação
de exploração para ter um namorado.
Como já discutimos acima, o corpo comporta o biológico e as
representações que fazemos sobre ele. As travestis constroem, num corpo
15
masculino, o gênero feminino, suas práticas e usos. Nessa busca obsessiva
em si mesmo, da produção da mulher num ideal de perfeição, que nunca
chega (Silva, 2007), se expõe aos mais diferentes riscos, suporta as mais
diferentes dores.
Pelúcio (2009) e Kulick (1998) mostram através dos relatos das
travestis que usar o preservativo em suas atividades de prostituição é algo
que já está, de modo geral, incorporado no cotidiano das travestis. Porém,
quando saem desse contexto e vão para suas vidas pessoais, para os
homens com os quais mantém relacionamentos de afeto e prazer
(namorados, maridos) e com os quais, muitas vezes, também estão
submetidas aos diferentes tipo de exploração, o uso do preservativo
desaparece, pois precisam manter estes homens a qualquer preço, para se
sentirem mulher e também porque saem do lugar da profissional para o lugar
de amante e do prazer, como podemos observar no relato de uma travesti
que diz: “...ah, fui profissional a noite inteira...aí você vê aquele menino
bonitinho querendo namorar com você... vai se preocupar com isso, bem?...
(Pelúcio, 2007a, p.82). E como já vimos e é importante considerar, esses
homens com os quais mantém relação de afeto, estão em contextos de
grandes vulnerabilidades à infecção ao HIVAIDS. Vemos aqui uma
vulnerabilidade social importante em relação a questão de gênero, na
constituição do feminino e também individual nas relações afetivo sexual.
Uma grande vulnerabilidade individual a ser considerada, nesse
contexto, é a falta de condições adequadas em que as travestis realizam as
16
transformações em seus corpos, além do uso excessivo de hormônios sem
acompanhamento médico, acarretando muitos efeitos colaterais.
No caso da aplicação do silicone os riscos são ainda maiores, pois a
falta de assepsia do local e dos instrumentos a serem utilizados aumentam
os riscos de infecção sem intervenção adequada de antibióticos, caso
necessário. Outro aspecto é quanto a utilização de silicone industrial, o que
é inapropriado, implicando em riscos importantes à saúde, o que é
aumentado pela falta de assistência médica em caso de alguma
intercorrência.
Toda essa ausência de cuidados com a saúde integral das travestis as
vulnerabilizam a várias doenças o que também pode aumentar a
vulnerabilidade ao HIV, pois uma baixa no sistema imunológico devido à
presença, de outro quadro infeccioso, aumenta o risco à infecção ao HIV.
Além disso, uma travesti soro positiva para o HIV que esteja
imunodeprimida, numa intervenção nestas condições, pode ser fatal. Aqui
encontramos uma vulnerabilidade programática, na falta de serviços de
saúde que garantam condições para as travestis realizem as intervenções
em seus corpos de forma adequada, sem por em risco a sua saúde. Pois, o
risco de contaminação ao HIV, sucumbe a tantos outros riscos que elas são
obrigadas a correr e assim, o cuidar de si ou da saúde ou fazer sexo seguro,
pode não fazer o menor sentido na vida delas, diante desse contexto.
Por isso ações de promoção de saúde que garantam atendimento
integral e adequado as necessidades das travestis de transformações
17
corporais2 são importantes, pois trazem para o repertório de vida das travesti
a noção do cuidado, que ela nunca conheceu e isso pode abrir a
possibilidade da construção de um discurso de cuidar de si.
2 O Centro de Referência e Treinamento de São Pulo e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul
são exemplos de serviços de saúde especializados para as demandas de travestis e transexuais,
desde clinica geral, hormônio terapia até encaminhamentos para redesignação sexual.
18
CAPÍTULO II: A Marca Da Violência No Ser Travesti
Neste capítulo vamos mostrar como a violência fomenta a
vulnerabilidade social das travestis à infecção ao HIV. Nos três estudos
etnográficos, a violência aparece de forma muito evidente e estrutural da
identidade travesti. “A violência é um eterno pano de fundo de suas vidas”
(Kulick, 1998a, p.47).
As travestis são vítimas tanto da violência física quanto da violência
psicológica. Segundo Larissa Pelúcio (2005), o contato com a violência
começa muito cedo na vida da travesti. Ainda na infância, elas trazem
relatos de xingamentos e agressões físicas por parte dos familiares e que,
muitas vezes, culminam com a saída de suas casas ou por expulsão ou por
decisão própria por não suportarem mais aquela situação. Depois vem a
violência da rua, do policial, dos clientes, dos assassinatos, da miséria, pois
a maioria, que já são de famílias pobres, se mantém em situação de miséria,
e do preconceito e da discriminação gerados pelo estigma de ser travesti.
Todas essas formas de violência têm como conseqüência, uma expectativa
de vida que não ultrapassa os 45 anos (Kulick, 1998). Ainda segundo Kulick
(1998), as travestis morrem antes dos 50 anos de idade, vítimas da
19
violência, do uso de drogas, das conseqüências da aplicação de silicone
industrial e cada vez mais de AIDS.
As travestis convivem com a expectativa de serem agredidas física ou
verbalmente, a qualquer momento, por parte das pessoas que se sentem
incomodadas com a sua presença. Ao mesmo tempo em que atrai olhares
libidinosos de alguns homens, atrai a ira de outros. Porém, quando estão
trabalhando, no exercício da prostituição, estão mais vulneráveis à violência
policial, das pessoas que circulam pelo local de carro, de ônibus, entre
outros. Na maioria das vezes são agressões verbais, mas muitas vezes
também são físicas (Kulick,1998). Este autor nos conta ainda, que objetos
eram jogados contra as travestis como garrafas e latas pelas janelas dos
ônibus e carros, além de algumas vezes ocorrer disparo de armas de fogo
contra elas. Raramente os agressores eram identificados e presos, mas
quando isso acontecia eram submetidos à penas leves.
Porém, para as travestis de Salvador, segundo Kulick, (1998), a maior
violência vinha da polícia. Ocorreu durante décadas, uma ação de violência
organizada pela polícia militar sobre as travestis que iam desde a prisão,
passando por humilhações, estupro e espancamentos, chegando até aos
assassinatos. Até a década de 90, uma travesti ao sair para o trabalho não
sabia se voltaria para casa naquela noite. No momento em que realizou sua
pesquisa, Kulick, (1998) nos diz que já não existia mais uma ação
organizada, contudo, não era pouco comum encontrar ações individuais de
agressão contra travestis, realizada por policiais. Segundo Silva (2007), ao
reconstituir o processo histórico das Travestis da Lapa, relata que antes da
20
década de 60, não lhes era possível sair à rua sem receber algum tipo de
agressão.
Como já vimos, o corpo travesti não só tem cravado em si a marca do
gênero feminino, mas também carrega as marcas da violência, pois o
espancamento faz com que o silicone se desloque para outras partes do
corpo, fazendo com que as travestis fiquem com seus corpos deformados.
Além disso, nos períodos históricos de maior violência, os autores mostram
que precisavam utilizar-se da automutilação para se defenderem, mesmo
que isto lhes custassem marcas e cicatrizes, que muitas vezes, eram
apresentadas à sociedade como símbolo de sobrevivência e de resistência à
violência.
Kulick (1998), mostra-nos que uma defesa muito utilizada pelas
travestis de Salvador contra a ação policial, era cortar uma veia do braço e
“esborrifar sangue” (Kulick, 1998a, p.50) contra eles, por isso sempre
carregavam uma lâmina (gilete) escondida em alguma parte do corpo, às
vezes até na boca. Esta já era uma prática utilizada antes do surgimento da
AIDS, ganhando um significado a mais com a ameaça de transmissão do
HIV 3(Oliveira,1994:148-149, Mott &Assunção,1987 apud Kulick,1998a p.50).
Com a diminuição da violência, a automutilação também diminuiu,
sendo mais comum encontrar marcas de mutilação em travestis mais velhas
do que nas mais jovens, que buscavam se defender fugindo ou ameaçando
denunciar à imprensa, porém com pouco efeito (Kulick,1998).
3 Oliveira N.M de. Damas de Paus: O Jogo Aberto dos Travestis no Espelho da Mulher. Salvador:
Universidade Federal da Bahia, 1994
Mott, L & Assunção, A. A Gilete na Carne: Etnografia das Automutilações dos Travestis na Bahia.
Revista do Instituto de Medicina Social de São Paulo, 4(1):41-47, 1987.
21
A violência também deixa marcas na construção da identidade social
das travestis, pois se de um lado buscam incessantemente a beleza, pois
lhes conferem, como já vimos, um lugar social e também lhes possibilita
mais trabalho, e portanto, mais dinheiro, como veremos a seguir, por outro
lado tem que conviver com os ataques da sociedade que ridicularizam esta
beleza tão investida com risos, piadas e humilhações. (Silva, 2007). “As
travestis sentem na pele o brilho da purpurina e a acidez da humilhação”
(Silva, 2007a, p. 64). É desta mistura que vai surgindo um sujeito que teve
que aprender a atacar para se defender dos ataques de uma sociedade e
por isso foram vistas como “perigosas” (Benedetti, 2005a, p.66). Hélio Silva
(2007), nos diz que tiveram que se utilizar do homem que havia guardado
dentro delas, para se impor de alguma forma na vida pública. “E se vêem
obrigadas a reafirmar a cada instante o seu direito de ocupar o espaço
público” (Kulick,1998a, p. 47).
A necessidade de defesa tornou as travestis desconfiadas. De modo
geral, elas têm muita dificuldade de confiar em outras pessoas e estão
sempre esperando ser enganadas e traídas, ou seja, estão sempre a espera
de um ataque (Kulick,1998).
Podemos perceber que nesse contexto de tanta violência que para
tentar se manter viva social e fisicamente, precisa se defender das mais
diferentes formas, proteger-se contra um vírus ou uma doença pode fazer
pouco sentido, mostrando-nos que a violência constitui-se como uma
vulnerabilidade social importante à infecção ao HIV/AIDS.
22
A promoção de saúde tendo em vista o acesso das travestis aos
serviços de saúde precisa considerar esse contexto de violência, na
construção do ser travesti, para possibilitar uma aproximação dos serviços
de saúde, de forma que elas possam sentir-se seguras de que ali, é um
espaço possível de se criar vínculos de proteção e de cuidado, dos quais
elas não precisem se defender e também criar espaços de discussão e
participação nas políticas públicas de forma que elas não tenham que se
impor no espaço público, mas sim que façam parte dele, como direito.
23
CAPÍTULO III: O Exercício Da Profissão Na Vida Trav esti
Neste capitulo, apresentaremos a importância e as condições do
exercício da prostituição na vida das travesti. Ela foi amplamente estudada,
pelas três etnografias, pela importância que ela assume na vida e na
construção do ser travesti. Considerando que a transmissão do HIV, ocorre
principalmente pela via sexual, a prostituição torna-se contexto de
vulnerabilidade importante para a infecção do HIV às travestis.
Segundo todos os autores estudados, a prostituição tem um papel
importante na vida das travestis sob dois aspectos: o primeiro diz da
necessidade de sobrevivência, ou seja, de ganhar dinheiro para se
sustentar. Para a grande maioria delas, a prostituição ou “batalha” como
nomeiam o seu trabalho, é a única forma de ganhar dinheiro, pois o
preconceito e a discriminação dificultam a aquisição de outra atividade
profissional e quando isto ocorre são em atividades femininas e pouco
remuneradas (Kulick,1998).
Como vimos anteriormente, as travestis abandonam, ainda
adolescentes, as casas de suas famílias, já de origem muito pobres, para
24
morarem sozinhas, precisando assim, se sustentarem. Somado a isso, surge
o desejo e a necessidade de transformação de seus corpos, o que também
como já vimos, consome muito dinheiro. É um desejo, pois querem ter um
corpo feminino, para atrair os homens que desejam e também para se sentir
mulher e é também uma necessidade, pois quanto mais feminino e belo este
corpo for mais terá um reconhecimento social pelo seu grupo, e mais
desejável e rentável este corpo será para o mercado do sexo. Benedetti
(2005) relata que todas as travestis com as quais trabalhou, afirmam que
travesti com poucas formas femininas ganham pouco dinheiro.
Kulick (1998) relata que, historicamente o trabalho de prostituição das
travestis começa na década de 70 e 80 com a chegada dos hormônios
femininos, tornando-as mais atraentes e assim deixam de pagar para
receber ao fazer sexo. Ainda nesse sentido, esse mesmo autor nos diz que
muitas travestis têm prazer sexual com seus clientes. Algumas descobrem a
prostituição por acaso. Benedetti (2005) e Kulick (1998) nos trazem relatos
de travestis que após ter relações com homens com a quais elas desejaram,
receberam dinheiro e, então perceberam que esta era uma forma possível
de ganhar dinheiro.
Kulick (1998) nos diz que antes dos hormônios, para conseguir fazer
um programa por dinheiro, precisavam se passar por mulher. Um dado
interessante que ele nos traz, é que usavam absorventes sujos de batom,
para dizerem que estavam menstruadas e que por isso só podiam fazer sexo
anal. A entrada dos hormônios e silicone permitiu que pudessem assumir o
lugar de travesti.
25
Para além do desejo e das necessidades de investir no corpo, também
precisam de dinheiro para comprar afeto da família, pois muitas ajudam seus
familiares e enviam-lhes presentes, como forma de conseguir se sentir
amada (Silva, 2007) e também comprar afeto de um homem (namorado,
marido), para se sentir mulher. Diante desse contexto, a prostituição torna-se
um trabalho como outro qualquer, “caem na vida” (Kulick,1998a, p.151),
expressão usada para se referir ao início da prostituição, como atividade
profissional.
Mas a prostituição tem outro papel importante. A rua, enquanto espaço
do exercício da prostituição, é o único contexto social, onde elas podem ser
reconhecidas e admiradas, portanto dando lhes um valor pessoal, além de
se sentirem verdadeiramente como objeto de grande desejo (Kulick,1998).
Fora desse contexto tornam-se invisíveis para a sociedade; não tem
ninguém para conversar com elas, para convidá-las para jantar ou para ir ao
cinema, que possa inscrevê-las num outro contexto que permita surgir afeto
e outros sentidos (Silva, 2007).
As travestis se queixam da prostituição; gostariam de ganhar dinheiro
em outra atividade profissional; projetam estudos, moradias dignas, mas
sem abrir mão da sua condição travesti (Silva, 2007). A sociedade aceita ou
reconhece a travesti na sua condição de travesti prostituta, caricatura de
mulher, mas não a aceita como cidadãs de direitos como todos os outros;
direito a empregos dignos, moradias, estudos, saúde e outros.
Enquanto isso continuaremos a assistir travestis morrerem na miséria,
diante da impossibilidade de trabalho, pela perda da saúde, da beleza e da
26
juventude, e assim de ganhar dinheiro com a prostituição (Silva, 2007).
Porém, é importante ressaltar que nem todas as travestis se prostituem, mas
a rua, mesmo para aquelas que ali não buscam clientes, continua sendo
uma das únicas possibilidades de convívio e reconhecimento social (Pelúcio,
2009).
As condições de prostituição pelas as quais as travestis estão
submetidas, ou seja, a rua, considerando que esta traz de forma mais
contundente a violência, a marginalidade, a exclusão e a repressão policial,
além da exposição ao frio e a chuva, utilizar práticas de sexo seguro pode
torna-se mais difícil. Como observamos existe uma ambigüidade entre
desvalorização e valorização da prostituição que comporta prazer e
sofrimento e talvez o uso do preservativo também esteja submetido a esta
ambigüidade.
Podemos pensar que uma possibilidade de estratégia de prevenção
com as travestis, no contexto de prostituição, seja trabalhar o aspecto
valorizado da prostituição, que é a exibição do corpo belo e portanto,
saudável e desejável. Associar esse corpo belo a um corpo saudável, talvez
seja uma possibilidade de cuidado com este corpo que vá além dos atributos
femininos.
Além disso, investir em estratégias que discutam estigma, preconceito
e discriminação em relação à diversidade sexual, também é fundamental,
pois a rua ou o exercício da prostituição não pode ser o único espaço
possível de existência social da travesti.
27
CAPÍTULO IV: A AIDS No Contexto Travestis
Neste capitulo, apresentaremos como a AIDS aparece no discurso das
travestis, através dos relatos trazidos pelas etnografias estudadas e quanto
esses discursos sobre a AIDS podem contribuir para a construção de
vulnerabilidades.
Nos três campos etnográficos estudados, o discurso sobre a AIDS,
pelas travestis, não tem destaque relevante, pois este não era o objeto de
estudo desses autores. Os três campos etnográficos tinham como objetivo
trazer o cotidiano das travestis apontando para questões de gênero,
violência, prostituição, relacionamentos e outros. Porém, nas entre linhas,
deste cotidiano, esses estudos no forneceram caminhos importantes que
nos conduziram para o que é a AIDS para as travestis. Para ampliar o
nosso olhar, buscamos outra etnografia que tinha como objeto de estudo a
AIDS no contexto travesti.
O que encontramos, nesse percurso, é um jogo de silêncio que ao
mesmo tempo é encobridor e revelador tanto por questões programáticas
quanto pelo o que a AIDS representa para esse grupo.
28
No discurso das travestis de Salvador (Kulick,1998), a AIDS se mostra
como apenas mais uma causa de morte, entre tantas outras. Isso fica
justificado, na fala delas, pela dificuldade de acesso ao serviço de saúde,
levando as próprias travestis a fazerem os seus diagnósticos e se
automedicarem. Num contexto desse, a AIDS ou qualquer outra doença, não
está submetida a uma investigação clínica, ou seja, ninguém tem certeza de
qualquer diagnóstico, deixando sempre um espaço para a incerteza se
morreu mesmo de AIDS, possibilitando, assim, um encobrimento da
presença da AIDS.
Outro aspecto apresentado por Kulick (1998), são as crenças
fantasiosas bastante comuns, de que os testes de HIV não são confiáveis,
que podem dar um resultado positivo e depois, se repetido, pode dar um
resultado negativo e por isso não é possível saber, com certeza, quem tem
ou não o vírus. Outra crença das travestis de Salvador, é a de que existe a
possibilidade de infectar-se por níveis diferentes de HIV, sendo assim, se
alguém se infectar com pouca quantidade de vírus terá a saúde pouco
comprometida. Podemos perceber que essas crenças deixam espaço para a
dúvida e a incerteza, portanto, para a possibilidade da ausência do vírus.
Todavia, nos três campos de estudo, é possível observar que a palavra
AIDS esta carregada de preconceitos, que tem origem ainda no início da
epidemia, com a associação da homossexualidade às práticas sexuais
desviantes. Essa associação de sexualidade, doença e culpa, colocando a
AIDS ligada a “comportamentos desviantes, promíscuos e perigosos”
(Pelúcio, 2009a, p.116) e portanto, na ordem da moral (Pelúcio, 2009),
29
tornou as travestis um alvo fácil para o preconceito e a discriminação , pois
elas carregam, de acordo com o discurso hegemônico das ciências médicas,
as marcas do “desvio” no próprio corpo pela presença da incongruência
entre sexo e gênero, além de historicamente, serem vistas como promiscuas
e perigosas. Sendo assim, o ser travesti fica referenciado à AIDS, ou seja,
se é travesti tem AIDS. Isso nos ajuda a compreender, o porquê contrair o
HIV é motivo de grande sofrimento, pois além de ter que enfrentar as
questões clínicas que a AIDS traz, como por exemplo, o impacto no corpo
causado pela lipodistrofia, corpo este como já vimos, que é altamente
investido para ser belo e para lhe garantir um lugar social, tem também que
enfrentar o preconceito e a discriminação que Parker e Daniel (1991)
caracterizam como a Terceira Epidemia, o que compromete tanto o seu
lugar social no grupo , quanto o exercício da prostituição de onde tira o
dinheiro necessário para sua sobrevivência e também para a sua existência
enquanto sujeito, sustentado pelo corpo travesti.
Segundo Hélio Silva, a AIDS é referida, pelas travestis da Lapa como
“a maldita” (2007a, p.87). Kulick (1998) reforça essa idéia ao relatar que a
palavra aidética é utilizada para agredir outra pessoa, normalmente outra
travesti, como forma de xingamento ou retaliação, o que nos mostra os
juízos de valores negativos que a AIDS carrega. Por outro lado, quando
morre uma travesti, supostamente de AIDS, pela qual se tem afeto, justifica-
se essa morte pelas causas mais diversas como problemas cardíacos,
respiratórios, de estômago e até psiquiátrico como a depressão. Isso pode
ser observado em falas dos diagnósticos construídos por elas mesmas:
30
“problemas pulmonares”, “infecção no estômago”, “coração inchado” ou “ela
não tinha mais vontade de viver” (Kulick,1998a, p.45), mas nunca de AIDS.
Porém, se morre uma travesti pela qual se tem desafeto, independente da
causa, ela morreu de AIDS.
O estigma da morte que a AIDS carrega, está presente também nos
três estudos. Hélio Silva (2007), a partir dos relatos das travestis da Lapa,
com as quais trabalhou nos mostra que para elas morrer de AIDS é a pior
morte. Apresenta falas de travestis que dizem que “se eu fizer o teste e der
AIDS eu me suicido” (Silva, 2007a, p.116). Benedetti (2005a, p.107) reforça
essa relação com a morte, trazendo o relato de uma travesti que ao ter sido
levada ao hospital, devido a uma crise respiratória, foi submetida ao teste do
HIV. Ao descobrir-se soropositiva saltou do 4º andar do hospital e morreu
instantaneamente. E o discurso recorrente das outras travestis é que não
teriam “estrutura” (Benedetti, 2005a, p.108) para aguentar esse
diagnóstico,e que também suicidariam-se.
Com esses relatos é possível inferir que a AIDS tem uma
representação tão assustadora, que não pode ser falada e nem vista. As
travestis que passam a vida expostas ao olhar do outro, exibindo seus
corpos transformados nas “pistas” (Kulick,1998a, p.160)4, tanto para ter um
lugar na sociedade, quanto para o exercício da prostituição, se escondem
para morrer, principalmente se for de AIDS (Silva, 2007). Kulick (1998)
também mostra que muitas voltam para casa de familiares ou de alguém que
possa cuidar em suas cidades de origem, na grande maioria pequenas e
4 Pista é o nome dado ao espaço da rua onde realizam o exercício da prostituição.
31
com poucos recursos médicos ou vão para em algum quarto, escondido no
meio da cidade, mas longe do olhar das outras travestis. As travestis se
isolam, fogem do olhar das outras travestis para morrer. Assim podemos
dizer que o preconceito, a clandestinidade, o isolamento tem efeitos mais
mortíferos do que a própria AIDS, pois as levam à uma morte social. Deixam
de existir antes da própria morte.
Esse é o preço para não morrer de AIDS, diante do olhar do outro.
Negar a presença da doença é forma de se manter vivo socialmente. Há
uma tensão entre o que é falado e o que é silenciado, nos mostrando o
quanto ter AIDS, para as travestis, implica em contradições que geram
grandes conflitos e sofrimentos. Helio Silva (2007) nos mostra que muitas
das travestis da Lapa, vivem como se não estivessem doentes. Vão para a
“batalha” (Kulick,1998a, p.157), expondo-se à friagem, a chuva, como se a
doença não existisse.
Os estudos de Larissa Pelúcio (2009), que teve como objeto principal a
compreensão do contexto da AIDS, na vida das travestis, como citado no
início deste capítulo, traz que a questão da AIDS para as travestis com as
quais trabalhou, é apenas mais uma questão a ser enfrentada na vida, pois
trazem uma história marcada por dor, sofrimento, violência e tragédias,
produzidas tanto pela condição de pobreza quanto pela condição de gênero,
e que a AIDS só vem a agravar. Refere-se ao relato de uma travesti que diz:
“O HIV é um detalhe na minha vida. Porque tenho que resolver muitas
coisas antes do que o HIV” (Pelúcio, 2009a, p.111). Nesse contexto de
violência e pobreza, onde estar vivo já é uma grande conquista, cuidar da
32
saúde, parece tornar-se irrelevante, seja usando o silicone industrial seja se
prevenindo da AIDS (Pelúcio, 2009).
A partir da análise desses estudos, podemos entender que a
construção social da AIDS, desde o início da epidemia, como apontado
acima, somada aos contextos individuais e sócio-culturais das travestis
produziram representações tão assustadoras que não podem ser vistas ou
faladas, construindo um silêncio mortífero, precisando de fantasias, como
nos aponta Kulick (1998), para encobrir esta angústia ou a produção da
própria morte, seja ela simbólica ou real, como nos mostra Silva (2007) e
Benedetti (2005). Em oposição a essa idéia, Pelúcio (2005) nos mostra que
a AIDS, para as travestis com as quais trabalhou,apresenta-se como sem
importância, apenas como um detalhe de vida se comparada a tantos outros
riscos e em enfrentamento para estar viva ou como algo já esperado pela
própria condição de ser travesti.
Porém, apesar de representações ambíguas, um traço comum do
discurso travesti em relação a AIDS, é que produzem um discurso
encobridor do HIV/ AIDS. Esses discursos produzem uma vulnerabilidade
individual para as travestis, que podem representar um impacto importante
na exposição ao risco à infecção ao HIV, pois como se proteger de algo que
não pode ser visto ou que já está dado como destino?
Estas representações da AIDS para as travestis precisam ser
consideradas para elaboração de qualquer projeto de prevenção.
33
DISCUSSÃO
Ao longo deste trabalho o que pudemos observar é que os contextos
que constroem e sustentam o ser travestis são marcados por contradições,
ambigüidades e tensões que nos levam a concluir que o risco à infecção ao
HIV está muito além de comportamentos e práticas de risco, e que as
dimensões individuais e sociais da vulnerabilidade devem ser
compreendidas e consideradas para a elaboração de estratégias de
prevenção mais eficazes.
As dimensões da vulnerabilidade estão implicadas uma as outras,
sendo difícil separá-las e é a partir delas que os sujeitos constroem
respostas individuais, entendidas como intersubjetivas, pois o sujeito
constrói e é construído pelas relações sociais (Ayres, Paiva, França-Júnior,
2010). Daí a importância da compreensão dos contextos de vida das
travestis para identificar as vulnerabilidades que aumentam a exposição ao
risco à infecção ao HIV/AIDS.
No plano individual encontramos as condições de transformação
corporal, as impossibilidades de cuidado com a saúde, as relações
familiares, as relações afetivo-sexual, a baixa escolaridade e suas
vivências/cena subjetivas e intersubjetivas na relação com o outro
34
(Ayres,Paiva,França-Júnior,2010). No plano social evidenciamos a grande
vulnerabilidade trazida pela relação de gênero e, consequentemente de
poder pela diferença de gênero, pelo processo de estigmatização e
preconceito relacionado à homossexualidade gerado pela construção social
de uma normatização da sexualidade (Paiva, 2010) e na falta de proteção
dos diretos como, por exemplo, a proteção contra violência, à saúde integral,
emprego/salário, educação, informação, prevenção e outros
(Ayres,Paiva,França-Júnior,2010).
No plano programático, ainda que não fosse objeto de estudo deste
trabalho, encontramos a falta de organização dos serviços de forma a
garantir informação, acesso, equidade, saúde integral, participação na
construção de políticas específicas e outros (Ayres, Paiva, França – Júnior,
2010). É importante ressaltar que existem movimentos sociais organizados
que vem buscando fazer o enfrentamento dessas condições ou melhor,
dizendo, dessas não-condições(Galvão,2000).
A construção do ser travesti trazida na busca frenética do gênero
feminino marcado no corpo, sem condições adequadas de saúde, de
assistência médica e outros, nos estigmas encontrados na prostituição e na
rua, numa trajetória construída sob a violência das mais diferentes formas,
iniciada ainda na infância dentro de suas famílias, nos apontam para a
questão do quanto ser travesti implica em riscos. Se viver já é um risco para
as travestis ele é ainda maior, se considerarmos que todo esse processo de
construção é marcado pelo estigma, preconceito e discriminação, que leva a
violência, a falta de escolarização, a falta de trabalho e ao acesso a um
35
serviço de saúde. Todos esses fatores nos apontam para o porquê para as
travestis é tão difícil ser sujeito de direitos.
Diante desses contextos de incertezas, falta de possibilidade de
cuidado e de direitos, e, portanto de muitos riscos, onde (sobre) viver, tentar
existir enquanto sujeito é uma luta diária, não encontramos no repertório de
vida das travestis o cuidar de si, como possibilidade de resposta de proteção
ao HIV e a AIDS, por mais assustadora que esta possa aparecer para
algumas delas. Parece que a proteção não encontra lugar no discurso das
travesti, pois a construção de uma resposta de cuidado é muito difícil para
elas, uma vez que muitas passaram a vida sem saber o que significa
cuidado ou proteção, por isso talvez não saibam como construir essas
respostas e parece que as ações programáticas também encontram
dificuldades nessa construção.
O contexto das travestis tem suas especificidades como qualquer outro
contexto, mas é fundamental conhecê-las , como nos diz Hélio Silva (2007),
para colocá-la num discurso do humano, portanto do afeto e do direitos
humanos, na construção “sujeitos-cidadãos” 5 (Paiva, 2002a, p.13 apud
Ayres, Paiva e França-Júnior,2010).
Uma política de prevenção ao HIV/AIDS, para as travestis, deve ofertar
acesso, equidade, saúde integral, participação social para possibilitar a
5 Ayres, J.R., Calazans, G., Salleti, H. C. Fo., & França, I. Jr. (2006ª). Risco, vulnerabilidade e práticas de
prevenção e promoção da saúde. In G.W. de S. Campos, M.C de S. Minayo, M. Akerman, M. D. Jr., &
Y. M. de Carvalho. (Orgs.). Tratado de Saúde Coletiva (PP.375-417). São Paulo; Rio de Janeiro:
Editora Hucitec; Editora Fiocruz
Mann, J.,& Tarantola, D.J.N. (Eds). (1996). AIDS in the world II. New York: Oxford University Press.
Mann, J., & Tarantola, D. J. N, & Netter, T.W. (Eds.) (1992). AIDS in the world. Cambridge. Havard
University Press.
36
construção conjunta de respostas que favoreçam o surgimento de sujeitos e
direitos, para que o cuidar de si passe a fazer sentido em seus discursos,
nas cenas e cenários de suas vidas (Paiva, 2010).
37
CONCLUSÃO
A análise desses contextos mostrou que as travestis têm dificuldades
de dar respostas preventivas ao HIV/AIDS, pois não faz parte da construção
do ser travesti o cuidar de si, uma vez que estão submetida as mais
diferentes formas de violência vindas da rua, da sociedade, da violação de
direitos como, por exemplo, a falta de acesso à saúde integral, moradia,
educação, emprego e outros. Numa realidade como essa, sobre (viver) pode
ser considerado uma grande conquista, onde a prevenção não encontra
lugar.
Concluímos que a compreensão do que é ser travesti no Brasil, nos
aponta para importância de respostas programáticas que intervenham nos
três planos da vulnerabilidade, criando condições adequadas para que
realizem as transformações corporais de forma segura para a sua saúde,
oferecendo proteção contra todo o tipo de violência, garantindo o acesso à
educação, à informação, à saúde, moradia, trabalho, propiciando espaços de
discussão sobre os efeitos nocivos à sociedade do estigma, preconceito e
discriminação, incluindo a sexualidade, objetivando a desconstrução social
da hegemonia da heterossexualidade, e assim também diminuindo
preconceitos em busca da inclusão da diversidade sexual. Enfim, ações
sustentadas pela garantia e proteção dos direitos humanos, no
fortalecimento de movimentos sociais organizados, que já vem realizando
38
lutas importantes contra a violência, ao preconceito, ao direito de saúde
integral e outros, favorecendo a construção de sujeitos de direitos e assim
buscando respostas conjuntas, incluindo no discurso travesti o direito a se
proteger, inclusive do HIV/AIDS.
39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Galvão Jane. Aids no Brasil: a agenda de construção de uma epidemia. Rio
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Parker Richard; Daniel Hebert. Aids: A Terceira Epidemia (ensaios e
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2007.
41
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