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EFEITOS PSICOSSOCIAIS DO RACISMO: O SOFRIMENTO PSÍQUICO EM
DISCUSSÃO
CARNEIRO, Cristiano de Andrade; DA SILVA, Jefferson
Olivatto (Doutor em Ciências Sociais); DIGIOVANNI, Alayde
Maria Pinto (Doutoranda em Psicologia); MASCARIN,
Fernanda de Oliveira Pavão; MEZZOMO, Rafaela (Mestre em
Educação), SANTOS, Thais Rodrigues (Mestranda em
Educação) - Comissão Temática Étnico-Racial - CRPPR
Resumo: O tema racismo tem suscitado na Psicologia brasileira na última década reflexões
sobre posicionamentos etnocêntricos em suas epistemologias e metodologias. Procuramos
contribuir com essa discussão tendo em vista concepções latino-americanas e afrocêntricas
sobre o sofrimento psíquico decorrente de relações racistas. Observamos ser necessário
reformular alguns posicionamentos epistemológicos que se constituíram historicamente
deixando de lado o sofrimento psíquico de populações oprimidas – como negras, indígenas e
ciganas. Pela interface com a História e a Antropologia, a Psicologia Social Comunitária
poderá compreender a demanda por atitudes e reflexões psicológicas que abarquem a
dimensão patológica decorrente de um vasto espaço social e por várias gerações. Nesse
contexto, é necessário evidenciar os privilégios da branquitude também nos movimentos
feministas, e a importância de a Psicologia compreender os efeitos psicossociais do racismo
para o seu enfrentamento, pensando dialeticamente, as contradições existentes nos fenômenos
de estudo, bem como as diferentes complexidades do processo, compreendendo o fenômeno
estudado dentro de um contexto sócio-histórico. Pela evidência de efeitos psicossociais de
longa duração, consideramos que a produção desse tipo de sofrimento supera o caráter pessoal
e familiar, qual seja, pelos vínculos partilhados entre essas populações há uma abrangência
multigeracional. Assim evidencia-se a necessidade de romper com a banalização de que “toda
Psicologia é social”, sendo que a complexidade não está na análise das relações interpessoais,
é preciso descolonizarmos o olhar e identificarmos as forças sociais, políticas e culturais
vigentes para a construção de uma prática psicológica sensível as questões de raça e gênero e
comprometida com a redução do sofrimento psíquico causado por esses determinantes sociais.
Por isso, para que a Psicologia consiga desenvolver dispositivos analíticos que correspondam
ao sofrimento produzido pelo racismo, outras vertentes e outros olhares precisam fazer parte
de suas análises, já que os efeitos psicossociais dessa exclusão iniciaram-se desde o início do
processo colonizador no Brasil.
Palavras-chave: Branquitude, Racismo, Sofrimento Psíquico, Psicologia Social Comunitária,
Empoderamento
O PAPEL DA PSICOLOGIA NO ENFRENTAMENTO AOS EFEITOS
PSICOSSOCIAIS DO RACISMO
MEZZOMO, Rafaela (Mestre em Educação); DA SILVA,
Jefferson Olivatto (Doutor em Ciências Sociais)
Resumo
Considera-se que a ação política de mulheres negras sinaliza cada vez mais as imbricações
entre racismo e sexismo na luta feminista, o que sugere a necessidade de, nos movimentos
feministas, ser colocada em pauta a existência da violência simbólica que a branquitude, como
padrão estético privilegiado e hegemônico, exerce sobre as mulheres negras. Essa articulação
é fundamental para fortalecer a luta comum entre mulheres negras e brancas no contexto da
luta feminista. Assim, esta pesquisa tem como objetivo apresentar resultados parciais de
estudo bibliográfico que está sendo desenvolvido, a fim de evidenciar os privilégios da
branquitude nos movimentos feministas, e a importância de a Psicologia compreender os
efeitos psicossociais do racismo para o seu enfrentamento. O desenvolvimento desta pesquisa
se dará pelo exercício do pensamento dialético, o qual considera as contradições existentes
nos fenômenos de estudo, bem como qualitativa que permite encontrar resultados no
processo, compreendendo o fenômeno estudado dentro de um contexto sócio-histórico.
Palavras chave: branquitude, feminismo, racismo, Psicologia
Introdução
A vida em uma sociedade permeada por relações sociais que são determinadas por
hierarquias entre sexo, raça e classe demanda fôlego no enfrentamento às discriminações e
aos preconceitos, que são desenvolvidos em um longo processo histórico acompanhado por
um processo político correspondente. Sendo assim, a atuação em movimentos sociais exige a
compreensão desse processo, bem como uma visão de mundo que identifica essas relações
como resultado de um sistema patriarcal, racista e capitalista, construído culturalmente e não
natural, ou seja, passível de transformação e mudança.
Entre os movimentos sociais pela luta de direitos econômicos, culturais e contra as
desigualdades, existem os movimentos feministas, que se fortalecem à medida que expõem a
mulher como sujeito e dona de si, permitindo a ruptura com a ideologia sexista de submissão
e subalternidade do gênero feminino. Esses movimentos feministas têm sua origem em
diferentes países, sendo impulsionados pela realidade vivenciada por diferentes grupos de
mulheres, entre elas burguesas, proletárias, estudantes, mulheres pobres, ricas, negras,
brancas, mães, solteiras, casadas etc.
Com a ideia da existência de uma diversidade de mulheres nos movimentos feministas e
de que estas carregam realidades, histórias, visões de mundo e vivências diferentes, e portanto
pautas diferentes de luta, é que buscamos compreender a união destas pautas levantando o
questionamento sobre a interseccionalidade do feminismo e possibilidades da luta comum
contra a opressão de gênero.
Vale destacar que neste texto será abordada, principalmente, a branquitude como
privilégio à luta das mulheres negras, pois enquanto mulher branca e pertencente a
movimentos feministas, foi possível identificar barreiras que dificultam a luta por igualdade
de gênero. E, ainda, partindo de estudos realizados na comissão étnico-racial do Conselho
Regional de Psicologia do Paraná (CRP – PR), entendemos que o sofrimento psíquico
causado pelo racismo tem uma construção histórica de longa data, constituído a partir da
exploração das populações que tiveram sua vida apropriada durante todo o processo colonial
e, portanto, seu fim sugere desgaste e lutas intensas, sendo que a Psicologia deve estar
instrumentalizada para abranger o enfrentamento do racismo.
A Psicologia como ciência da subjetividade humana em suas diferentes dimensões pode
fornecer subsídios consistentes para explicar fenômenos como apatia social, vínculos,
desenvolvimento psicossocial e os efeitos psíquicos do racismo nas relações humanas. Para
tanto, é fundamental que haja um processo dialógico com outras áreas que já investigam o
fenômeno, como História, Antropologia e Literatura. Esse diálogo possibilitará à Psicologia
compreender a estruturação e manutenção simbólica, afetiva e cognitiva do racismo,
demonstrando sua implicação em somatizações e a deficiência em diagnósticos clínicos,
educacionais ou jurídicos, quando não consideram essa marca social. Dessa forma, a
Psicologia precisa se debruçar nesse momento sobre questões sócio-históricas e comunitárias
para entender a amplitude do racismo na história latino-americana (CADERNO TEMÁTICO
DA COMISSÃO ÉTNICO-RACIAL, 2016).
De acordo com Carneiro (2003), as mulheres se tornam novos sujeitos políticos ao
denunciar as desigualdades de gênero nos movimentos feministas, mas o ser mulher não
exclui que grupos de mulheres negras e grupos de mulheres indígenas possuam demandas
específicas que não podem ser tratadas apenas sob a rubrica da questão de gênero. Deste
modo, vale levar em conta as óticas particulares que exigem práticas que ampliem a
concepção e o protagonismo feminista na sociedade brasileira.
Partindo do reconhecimento deste enfrentamento no interior do movimento feminista,
vale investigar e reconhecer os privilégios, estes referentes a direitos econômicos, sociais,
culturais e ambientais das mulheres brancas na luta por igualdade de direitos, em que a
branquitude está inserida, para se ter o cuidado de não ocupar a fala e silenciar as mulheres
negras, contribuindo para sua exclusão. Isso não significa que a mulher branca não possa
enfrentar o racismo, pois comprometer-se com a luta anti-racista e a defesa dos princípios de
equidade racial-étnica faz parte do movimento feminista na luta contra todas as formas de
opressão.
Deste modo, primeiramente será apresentada definição de branquitude e discutido o
branqueamento das raças, partindo de estudos de Schucman (2014), Bento (2014) e Schwarcz
(2012), cujo entendimento proporciona a reflexão acerca da identidade das mulheres negras e
a valorização desta identidade, apresentando privilégios simbólicos e materiais
proporcionadas pela branquitude, como ocorre com a apropriação cultural, denunciada
intensamente pelas mulheres negras na atualidade em blogs e redes sociais da internet. Nessa
parte, também serão feira considerações a respeito de como a Psicologia pode ser inserida no
combate ao racismo à medida que utilizar os instrumentais da Psicologia Social Comunitária,
que teve maior historicidade de atuação e implicação a partir das comunidades latino-
americanas, o rompimento das barreiras sociais do racismo poderá acontecer por novas
estratégias e encaminhamentos, como a conscientização enquanto atuação psicológica.
Logo em seguida será pontuada a reflexão e a necessidade de considerar os percalços
entre a luta feminista negra e branca, valendo destacar a realidade de que mulheres negras
exigem pautas diferenciadas que não são reconhecidas pelas feministas brancas.
Branquitude e braqueamento das raças
Atualmente observa-se que cada vez mais homens negros e mulheres negras afirmam sua
identidade, confrontando valores étnico-raciais difundidos na história da humanidade
envolvidos por discriminações racistas. A valorização da identidade negra assume sua
presença na mídia veiculada principalmente na internet, em páginas das redes sociais e em
sites como Negras Soul Blog, Geledés – Instituto da mulher negra, Blogueiras negras, Black
is Power, para citar alguns. Esses sites reforçam cotidianamente a beleza, a resistência, o
valor, não apenas das mulheres negras, mas do povo negro como um todo. Além de
apresentarem personalidades negras importantes para o empoderamento, ensinam, pelos
artigos e textos, as novas gerações a aceitarem-se, como por exemplo, campanhas para adoção
dos cachos, cabelo afro, popularizado como “black power”, impulsionam a ruptura com
preconceitos racistas ao fenótipo do homem e da mulher negras. Porém, ainda vivenciamos
uma cultura predominantemente racista em que além da raça, a cultura negra sofre com o
branqueamento.
Bento (2014) trata desse assunto ao apresentar estudos sobre a branquitude, isto é, “traços
da identidade racial do branco brasileiro a partir das ideias sobre branqueamento”.
Branqueamento refere-se à miscigenação entre as raças que geraram outros padrões de cor,
como pardo, por exemplo. Nesses moldes, tem-se como ideologia que ser branco se constitui
em modelo a ser seguido e invejado, provocando a perda da identidade negra. A autora
destaca que para a elite e classe branca, a discriminação entre as raças é um problema apenas
das pessoas negras, pois ser branqueado significava uma forma de ascenção social. No
entanto, é necessário pautar que as desigualdades raciais brasileiras são sim problemas da raça
branca, que não é “acostumada” a pensar no outro por receio de perder privilégios ao longo da
história dados a ela, pois a raça branca não carrega a escravidão em sua vida e cultura.
Levando em consideração a história do povo negro marcada pela escravidão, exploração
dos negros pelos brancos, Schwarcz (2012) elucida que o processo de abolição brasileiro
carregava a crença de um futuro que levaria a uma naçao branca, e que viu na entrada de
imigrantes europeus a solução para a presença africana no Brasil. Assim a miscigenação entre
os europeus e os escravos livres seria uma maneira de “tornar o país mais claro”.
Desta forma precisamos compreender como a ideologia do branqueamento atinge os
negros e as negras se quisermos lutar por uma sociedade mais igualitária. “A militância negra
tem destacado persistentemente as dificuldades de identificação racial como um elemento que
denuncia uma baixa autoestima e dificulta a organização negra contra a discriminação racial”.
(BENTO, 2014)
Isso signifca que ser da raça branca é carregar uma gama de privilégios e não precisar
pensar sobre o outro. Pertencer à raça branca é não ter sua história marcada por estudos
científicos que corroboram a ideia de que seu cérebro é menor e, portanto, sua gente é
passível de ser explorada. Ser branca é estar nos padrões de cultura e beleza e não se
preocupar que sua fala será silenciada devido a sua cor. A branquitude precisa ser questionada
nos movimentos feministas.
A definição de branquitude se realiza a partir dos estudos de Schucman (2014), que
ponderou colocar a lógica opressora em cheque evidenciando estudos de Du Bois (1935),
Fanon (1980), Guerreiro Ramos (1957), entre outros que discutiram sentimento de raça, os
benefícios conferidos pela branquitude e a importância de reconhecer o negro como sujeito e
não como objeto de pesquisa.
Branquitude é entendida como uma posição em que sujeitos que
ocupam esta posição foram sistematicamente privilegiados no
que diz respeito ao acesso a recursos materiais e simbólicos,
gerados inicialmente pelo colonialismo e pelo imperialismo, e
que se mantêm e são preservados na contemporaneidade.
(Schucman, 2014)
Então, os estudos sobre a branquitude auxiliam a preencher as lacunas deixadas pelos
estudos sobre as relações raciais, cooperando na não naturalização da ideia de que quem tem
raça é apenas o negro.
Ruth Frankenberg (1995 apud BENTO, 2005) entende branquitude como um
“posicionamento de vantagens estruturais, de privilégios raciais”, sendo um lugar a partir do
qual as pessoas brancas olham a si mesmas, aos outros e a sociedade, sendo lugar de poder
aparente nas instituições como universidades e empresas, conservadoras e reprodutoras das
desigualdades.
Assim, reconhecer a hierarquia e as formas de poder da branquitude contribui para
que as lutas feministas de mulheres brancas e negras contra a opressão do machismo não se
configure como uma luta entre mulheres brancas e negras. As mulheres brancas devem
denunciar a opressão e as especificidades da luta das mulheres negras contra a opressão do
racismo e reconhecendo seus privilégios de raça e lutando ao lado das mulheres negras, sem
ocupar o protagonismo e lugar de fala, não determinando o que é racismo e não decidindo o
sofrimento da mulher negra.
Neste contexto, é importante a Psicologia considerar que o racismo não será
desconstruído por práticas “tradicionais” de superação subjetiva, já que é estruturante do
cotidiano. A superação precisa ser comunitária. Sabemos ser significativa a superação
subjetiva desse tipo de sofrimento, porém a cada novo nascimento e novas relações
intersubjetivas que se estabelecem, haverá a perpetuação de adoecimentos. Nesse sentido, é
no acolhimento e na dialogicidade que são estabelecidos vínculos de reconhecimento de si no
e pelo grupo, fundamentais à estruturação subjetiva (CADERNO TEMÁTICO DA
COMISSÃO ÉTNICO-RACIAL, 2016).
De outra forma, a sensação da não necessidade dessa coletividade só é possível se
houver, anteriormente, a estruturação do sujeito que foi acolhido e teve condições para,
posteriormente, romper com vínculos considerados menos agradáveis.
Feminismo Negro X Feminismo Branco: Desafios ao Feminismo Interseccional
Considerando o exposto até aqui referente a algumas questões que impulsionaram
mulheres brancas à luta contra as opressões de gênero e às mulheres negras à luta contra
opressão de gênero e raça, cumpre levantar a discussão sobre diferenças entre feminismo
negro e feminismo branco. Assim como pontua Eliane, no artigo do blog Geledés (2016), que
“Ser feminista negra é uma coisa e ser feminista branca é outra coisa”, argumentamos a partir
da leitura do artigo da revista Cult de Cisne (2016) a militância feminista, e quais as
possibilidades e desafios para a interseccionalidade.
A autora apresenta alguns pontos, chamados por ela, de eixos que estruturam a
consciência militante feminista, sendo eles fundamentais não apenas na construção da luta
política, mas como modo de vida que emancipa e fortalece as mulheres em seu cotidiano. Não
sendo em ordem sequencial e nem mesmo hierárquica de importância, o primeiro eixo
apresentado diz respeito à luta pela autonomia e o reconhcecimento de si como sujeito de
direitos. Somos donas dos nossos corpos, com desejos e vontades próprias, o que permite a
desconstrução de pensamentos como “essa é mulher pra casar”, “mulher de respeito é dona de
casa, com filhos e marido”, que determinam, escolhem e decidem qual caminho a mulher
deve seguir. Com isso em mente, “deixamos de pertencer ao outro e de apropriadas, passamos
a nos apropriar de nós mesmas” (CISNE, 2016).
O segundo ponto a ser considerado é referente à ruptura com a naturalização de que a
mulher é a única responsável pelo lar e pela família. Ao mesmo tempo que a luta feminista
trouxe conquistas na saída da mulher para o mercado de trabalho, também atribuiu a ela
intensa jornada, pois sendo ela a única responsável pelo lar, adquire dupla jornada, e a
identificação e luta por essa ruptura exige o enfrentamento a instituições como família e
igreja, além de toda construção ideológica de que a mulher deve servir o outro.
Neste ponto, vale ressaltar as diferenças existentes entre a vida de mulheres brancas e de
mulheres negras. Estas têm em sua história a herança da escravidão que ao longo dos anos
designou o trabalho da mulher como fundamental em sua sobrevivência, trabalho este que
muitas vezes era restrito a servir mulheres brancas, o que significa que as mulheres negras não
se tornaram donas de seus lares, pois “não havia muito espaço para a imagem da esposa
passiva, submissa ao marido e dedicada exclusivamente ao lar” (NEPOMUCENO, 2012).
É de conhecimento que a liberdade da mulher e conquista do espaço público no mercado
de trabalho e na política são ordens que impulsionaram luta por igualdade de gênero. Porém,
ilustra-se com estudos de Hooks (2014) e Nepomuceno (2012) que mulheres negras e brancas
partiram de patamares diferentes para o ingresso na luta feminista. No Brasil, o
branqueamento interferiu de maneiras diferentes na saída das mulheres do lar para o mercado
de trabalho. Para mão de obra branca, a maior disponibilidade de trabalho se dava no
comércio, no qual era exigida boa aparência, já para a mão de obra negra, as vagas eram
destinadas às Indústrias.
Como aponta Schucman (2014), ser branca no Brasil está ligado à aparência, ao status, ao
fenótipo, caracterizando os privilégios das mulheres brancas no movimento feminista. É
constantemente denunciado por mulhers negras que a sua cultura está sendo apropriada pelas
brancas, no uso de acessórios, roupas, tipo de cabelo, música entre outros. A apropriação
cultural fere a resistência que negros e negras enfrentaram ao longo de sua história, pois
quando usam tranças, assumem os cachos, sofrem do preconceito como “cabelo ruim”,
“cabelo sujo”, “roupa suja”, porém quando um branco ou branca utiliza dos mesmos
acessórios, viram capa de revista, noticiando as “tendências da moda”.
Outro privilégio que deve ser reconhecido no feminismo pelas mulheres brancas é o que
Nepomuceno (2012) afirma sobre acesso a educação. As mulheres negras tiveram não só o
acesso ao mercado de trabalho interferido pelo racismo, mas também o acesso à educação.
Quando conquistavam o espaço nas instituições de ensino, sofriam com a discriminação de
professores e colegas, assim, recorriam a educação em casa ou a professores particulares. A
garantia de sobrevivência da família também estava sob responsabilidade da mulher negra, o
que quase sempre as mantiveram afastadas do universo escolar, isto ocorrendo por gerações.
O terceiro ponto/eixo apresentado por Cisne (2016) é a percepção de si na outra que nos
fortalece individual e coletivamente, imbricada na ideia de que enquanto uma mulher não for
livre, nenhuma será. Aqui destaca-se o tipo de feminismo que é tomado dentro de um coletivo
de mulheres, pois é sabida a existência de feministas radicais que não tem como pauta a luta
pela liberdade de mulheres negras e LGBTTS. Sendo assim, cabe no corpo do texto explicar
que o feminismo adotado se trata do interseccional.
O conceito de interseccionalidade foi proposto e difundido por feministas negras nos anos
1990. Crenshaw (1994 apud HIRATA, 2014) afirma que a interseccionalidade propõe a
consideração das múltiplas fontes de identidade, sem, no entanto, propor uma nova teoria
globalizante da identidade. Neste sentido, o feminismo interseccional procura abarcar as
relações de poder imbricadas por opressões de gênero, raça e classe que se fortalecem
enquanto instrumento de luta política.
A interseccionalidade nos movimentos feministas é fundamental para que haja de fato a
luta por igualdade, porém reflete desafios que devem ser acrescentados nas discussões,
quando se trata dos privilégios que as mulheres brancas possuem e precisam reconhecer para
o fortalecimento da luta política.
Deste modo, o quarto e quinto ponto/eixo eixo ressalta a importância do grupo e da
militância política, bem como formação política. Um depende do outro, pois a organização
entre grupos e coletivos possibilita a percepção coletiva da ação política no enfrentamento às
opressões e desigualdades que vão construindo a consciência militante feminista.
A consciência militante feminista, portanto, não resulta apenas de uma
simples reação às opressões. Ela é um continuum que envolve um
movimento dialético entre formação política, organização e lutas, que
vão da dimensão individual, da ruptura com o “privado” à dimensão
coletiva, de organização política voltada para a transformação social.
(CISNE, 2016, p. 35)
Isto posto, ter em mente estas questões reflete as problemáticas existentes dentro de
organizações de mulheres, que mesmo com objetivo comum da emancipação do gênero
feminino, deve-se ter em conhecimento as diferenças no desenvolvimento social e econômico
das mulheres não brancas, e que seu lugar é o de denúncia das opressões sofridas pelas
mulheres negras, sem silenciá-las.
Considerações Finais
É importante, nos coletivos feministas que trazem em sua constituição a discussão
interseccional da luta contra opressões de gênero, raça e classe, que as mulheres brancas
pontuem o reconhecimento dos privilégios da branquitude, e se não existe este
reconhecimento, vale o aprendizado, pois a visibilidade e invisibilidade aparecem em
momentos em que os sujeitos adquirem privilégios por serem brancos, devendo ser
disseminada esta discussão.
As mulheres negras são acusadas de fragmentar a luta feminista quando apontam as
problemáticas existentes em não se considerar a apropriação cultral e o não reconhecimento
de mulheres brancas das diferenças entre feminismo negro e feminismo branco.
A luta feminista deve trazer bandeiras em defesa da política de cotas nas universidades,
defesa dos direitos das empregadas domésticas - que em sua maioria são negras -, das
mulheres pobres - que em sua maioria são negras -, das mulheres trabalhadoras e operárias,
defesa por melhores salários, pois as mulheres negras recebem menos que homens negros
que, por sua vez, recebem menos que mulheres brancas, e enegrecer o feminismo. Reconhecer
que a mulher negra é triplamente oprimida por sua raça, gênero e classe, pois a discriminação
racial, além da de gênero, contribui muito para a precária situação de vida, e denunciar as suas
pautas torna a luta feminista mais justa e fortalecida.
Para finalizar, cumpre informar que esta pequisa está ainda no seu início, pois existem
muitos estudos, artigos e considerações a serem colocadas em questionamento, além de novas
discussões e informações veiculadas na mídia, principalmente em sites da internet, nos quais é
mais visível a publicação das problemáticas apontadas pelas mulheres negras, é válida a
valorização destes sites, citações de suas entrevistas, como a realizada com Eliane, esposa de
Mano Brown, referência no Brasil ao evidenciar a marginalização da raça negra, cada vez
mais difunfido e de fácil acesso, o que possibilita leituras mais frequentes, para que mulheres
brancas realizem uma autoavaliação de como é seu feminismo, assim como, enquanto
feminista branca procuro realizar no cotidiano.
Com relação à Psicologia, esta tem papel crucial para estabelecer mecanismos
coletivos de reconhecimento social, dialogando na e pela diversidade e possibilitando espaços
sociais de acolhimento legítimos para o desenvolvimento amplo da subjetividade.
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BENTO, Maria Aparecida Silva. Branqueamento e branquitude no Brasil. In: Carone, Iray;
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SCHWARCZ, Lilia Moritz. Pela história: um país de futuro branco ou branqueado.
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brasileira. 1 ed. São Paulo: Claro enigma, 2012. p. 37-45
TRABALHO 2
CONTRIBUIÇÕES ÀS DISCUSSÕES TEÓRICAS SOBRE O SOFRIMENTO
PSÍQUICO CAUSADO PELO RACISMO
DA SILVA, Jefferson Olivatto (Doutor em Ciências Sociais);
SANTOS, Thais Rodrigues (Mestranda em Educação)
Resumo: O tema racismo tem suscitado na Psicologia brasileira na última década reflexões
sobre posicionamentos etnocêntricos em suas epistemologias e metodologias. Procuramos
contribuir com essa discussão tendo em vista concepções latino-americanas e afrocêntricas
sobre o sofrimento psíquico decorrente de relações racistas. Observamos ser necessário
reformular alguns posicionamentos epistemológicos que se constituíram historicamente
deixando de lado o sofrimento psíquico de populações oprimidas – como negras, indígenas e
ciganas. Pela interface com a História e a Antropologia, a Psicologia Social Comunitária
poderá compreender a demanda por atitudes e reflexões psicológicas que abarquem a
dimensão patológica decorrente de um vasto espaço social e por várias gerações. Dessa forma,
consideremos características desse tipo de exclusão: o longo período de vulnerabilidade, a
tensão social delimitante da vivência de sadismo e persecutoriedade, e o comportamento
social decorrente da assimetria cotidiana. Assim por essas condições, desenvolvemos um
dispositivo analítico denominado de contingenciamento, que abrangendo relações
multigeracionais atravessam a experiência comunitária, conforme a sintomatologia relativa ao
racismo.
Palavras-chave: Racismo, Exclusão Social, Epistemologias, Psicologia Social Comunitária.
Introdução
Consideramos o racismo segundo uma variedade de sintomas que aponta para um
conjunto que caracteriza os efeitos psicossociais das relações intersubjetivas de longa
duração, denominados enquanto sintomatologia que atravessa a experiência subjetiva, sendo
uma reprodução de relações perceptuais e imaginárias constitutivas da produção e
manutenção de sofrimentos psíquicos específicos. Nesse sentido, é preciso uma compreensão
epistemológica que avance na discussão de vínculos multigeracionais (comunitários) de longa
duração no território brasileiro. Por isso, há um esforço por estabelecer relações
intersubjetivas sobre tal interpretação e prática psicológica. Enfatizamos a distinção entre
multigeracional e transgeracional (esta última atestada por Rehbein e Chatelard (2013)), visto
que os efeitos do racismo transpõem núcleos familiares, por atingir pessoas a eles vinculadas
ou não, mas que pela estruturação intersubjetiva identitárias e de ações refratárias socialmente
que se reproduz há séculos, promoveram exclusões cotidianas. Além disso, o aspecto
comunitário ou coletivo das comunidades negras, indígenas e ciganas, mesmo que distintas
entre si, evidenciam de um lado a tensão provocada pela discriminação e de outro a
interdependência dos pares não apenas consanguíneos.
Vale lembrar que no documento Política Nacional de Saúde Integral da População
Negra, 2007, há no Brasil, um consenso sobre doenças e agravos prevalentes na população
negra - que podem, como iremos expor em alguns casos, se estender a indígenas e ciganas.
Eles se agrupam em três categorias:
a) geneticamente determinados – tais como a anemia falciforme,
deficiência de glicose 6-fosfato desidrogenase, foliculite; b)
adquiridos em condições desfavoráveis – desnutrição, anemia
ferropriva, doenças do trabalho, DST/HIV/aids, mortes violentas,
mortalidade infantil elevada, abortos sépticos, sofrimento psíquico,
estresse, depressão, tuberculose, transtornos mentais (derivados do uso
abusivo de álcool e outras drogas); e c) de evolução agravada ou
tratamento dificultado – hipertensão arterial, diabetes melito,
coronariopatias, insuficiência renal crônica, câncer, miomatoses
(PNUD et al, 2001). Essas doenças e agravos necessitam de uma
abordagem específica sob pena de se inviabilizar a promoção da
equidade em saúde no país. (p. 28-29).
Por isso, é importante entender que há efeitos psicossociais relativos às doenças
étnicas, - também atingem populações similares pelas doenças negligenciadas (SOUZA,
2010) - que são produtos intersubjetivos, ocasionado por exclusões e situações contínuas de
sofrimento psíquico. Porém essa condição precisa ser compreendida em sua espessura
histórica de cinco séculos, principalmente as que fazem parte da segunda e terceira categoria.
Objetivo
Este trabalho versa sobre o debate a respeito da produção do sofrimento psíquico causado
pelo racismo, tendo em vista a contribuição de uma perspectiva analítica de longa duração.
Metodologia
Por meio da Psicologia Social Comunitária com interface entre História e Antropologia
desenvolver um dispositivo analítico que abranja os efeitos psicossociais do racismo,
considerando os aspectos comunitários e compartilhados de vários séculos.
Resultados
Primeiramente, há diferenças necessárias para que entendamos dois aspectos tratados
de forma homogênea, isto é, com o mesmo peso analítico. Inicialmente, é preciso atentar para
a constatação de que há diferenças sobre a vulnerabilidade humana e que podem produzir
distúrbios psíquicos. Determinados condicionantes psicossociais delineiam possibilidades ou
limitações intersubjetivas. A constituição subjetiva para lidar com sofrimentos específicos é
distinta entre as pessoas. No entanto, conforme as relações intersubjetivas simbolizam
determinados traumas, pode ocorrer a percepção em menor ou maior grau de intensidade do
sofrimento e, consequentemente, da constituição do trauma.
Nesse sentido, o sofrimento que atravessa uma família quando ocorre o falecimento de
seus anciãos será entendido diferentemente de quando falece prematuramente uma de suas
crianças ou jovens. Diferente será a dimensão quando a perda acontece por conta de um
acidente ou se porventura há desaparecimentos de familiares. Todos esses eventos fazem parte
de nosso cotidiano e assim somos vulneráveis a tais sofrimentos.
Mas há diferenças se ponderarmos nossa prática quando pessoas ou grupos são
oriundos de situações de guerra ou perseguições étnicas. Os encaminhamentos,
consequentemente, serão outros para estabelecer a reestruturação intersubjetiva, pois será
fundamental simbolizar processos persecutórios ou de rompimentos identitários gerados pela
crueldade de guerras.
Continuando esse processo de diferenciação dos condicionantes, de forma ilustrativa,
nós psicólogos(as) devemos nos debruçar quando há o dimensionamento intersubjetivo de
relações degradantes como a convivência diária com violências físicas e sociais. Assim
também ocorre em famílias e grupos que convivem com a fome continuamente, podendo em
determinadas circunstâncias configurar subjetividades mendicantes, outras em que a revolta
ou o desespero proporciona condições de brutalidade também pela falta de segurança e outras
que não se enquadram no acesso a determinados direitos sociais.
Outras situações de vulnerabilidade acercam grupos e populações específicas e que
asseveramos ser um processo multigeracional de longa duração. O que precisamos apontar
nesse caso é que determinados condicionantes psicossociais, traumas e traços de percepção
agonísticos, se perpetuaram e se metabolizaram em formas de exclusões por quase cinco
séculos – contínuos e diários. Para entender melhor basta fazermos uma conta: 24 horas/dia X
7 dias/semana X 30 dias/mês X 12 meses/ano X 100 anos X 5 séculos em todo o território
nacional. Assim foi que os condicionantes de crueldade e discriminações institucionais
legitimaram perseguições, assassinatos e recusa de reconhecimento de que havia a
proliferação do terror contra africanos, indígenas, ciganos e seus descendentes. O estupro de
meninas negras menores de 12 anos como simpatia contra a sífilis no início do século, o
atropelamento sistemático de indígenas e a recusa no atendimento de ciganos em postos de
saúde por falta de documentos demonstram de que maneira a perpetuação de sofrimentos
específicos condicionam as relações intersubjetivas desses grupos. Vale ressaltar que a
percepção dessa discriminação sócio-histórica se torna muito explícita se tentarmos usar a
marca social étnica ou cor para grupos sociais que não possuem tal condicionantes nas
relações intersubjetivas, como é o caso de gaúchos.
Enquanto profissionais da Psicologia, podemos entender que situações de
espontaneidade, de pouca resistência subjetiva, nas relações sociais possibilitam o surgimento
de manifestações racistas, como aparecem nas expressões de ódio e de contentamento.
Baseados em relatos e observações há tantas outras manifestações de desagrado, que se
somam a reprodução de lógicas emocionais por categorias racistas, como são recorrentes tipos
de olhares ou até de embotamento subjetivo para se esquivar de sentimentos de enojamento
ou de asco pelo qual algumas pessoas, majoritariamente brancas, sentem no contato físico
com negros, indígenas ou ciganos. Por outro lado, nessas circunstâncias os que são alvos de
contatos refratários, muitas vezes, não conseguem nomear o que percebeu ou tentar minimizar
a percepção pela recusa em assumir que é um fenômeno cotidiano e constante. Não havendo o
reconhecimento epistemológico desse tipo de sofrimento, nem de que constitua uma patologia
social, o máximo é um debruçar em sua característica peculiar e similar a tantas outras
situações de vulnerabilidade corriqueiras.
Como expusemos acima, a circunstância de discriminação de determinadas populações
étnicas aponta tanto para uma vulnerabilidade de longa duração e difundida por condições
degradantes em larga escala nacional. Assim chegamos ao ponto de desenhar o universo
intersubjetivo necessário para que ocorra o reconhecimento de um tipo de complexo de
desprezo que foi sendo metabolizado nas relações diárias. Igualmente já foi apontado que é
multigeracional, sendo assim as pessoas experimentam e vivenciam esse complexo. Ele se
torna a chave para compreendermos que há convergências simbólicas pelas quais nossos
afetos são direcionados e constituídos na forma de sentimentos, ideias, pensamentos, por
situações de humilhações, descasos e crueldades exacerbadas, que ao longo de nossa história
compartilhada, desdobraram-se em atitudes mais sutis e sofisticadas nos vínculos e nas
práticas sociais.
Nas palavras de Silvia Lane (1981, p. 64):
Enquanto o homem não recuperar para si a sua atividade que é,
psicológica, social e historicamente, pensamento e ação, e que só
ocorre através da sua relação com os outros homens, concretizando o
pensamento na comunicação e a atividade em ações cooperativas, ele
estará alienado de sua própria realidade objetiva, com uma falsa
consciência social e, consequentemente, com uma falsa consciência de
si.
Consideramos ser o complexo de desprezo um dispositivo analítico para entendermos
com maior amplitude intersubjetiva o racismo. Restituir sobre a nossa historicidade esse
dispositivo analítico possibilitará compreender nossa percepção e nosso imaginário por uma
matriz a partir da condição latino-americana, isto é, oriunda de um longo processo colonial.
Por isso precisamos insistir que os dispositivos analíticos eurocêntricos podem nos oferecer
auxílios, mas não têm condições constituintes de interpretar a amplitude do racismo brasileiro,
já que a espessura histórica do processo colonial supera outras tragédias humanas modernas.
O olhar sobre a experiência deve ser reconduzido a partir de seus condicionantes
latino-americanos. A configuração de vínculos e a racionalidade atribuída aos motivos
aparentes pela demanda de relações degradantes e persecutórias estruturam-se pela
aprendizagem social do complexo de desprezo. Este serve de pivô para que novas categorias
sejam desdobradas para estruturar identidades e mobilizar diante dessas emoções e ideias
segundo uma assimetria social. Assim, o sofrimento e seu reconhecimento passam a ser
justificados em conformidade com essa assimetria, qual seja, se for extremamente degradante,
estará em um limbo interpretativo reforçando a impossibilidade de ser destacado em sua
amplitude – já que a proposição eurocêntrica mantém dispositivos analíticos de experiência
individualizada, quando muito generalizada para grupos.
Esse é o processo analítico ao qual também nos convida Martin-Baró (1996), de trazer
na coletividade os mecanismos estruturantes da ideologia que torna comum a falta de empatia
e o sofrimento de partes da população. Por meio dessa estratégia outras atitudes racistas
podem ser desveladas de práticas excludentes da área da psicologia.
Ao afirmar que o horizonte primordial da psicologia deve ser a
conscientização, se está propondo que o quefazer do psicólogo busque
a desalienação das pessoas e grupos, que as ajude a chegar a um saber
crítico sobre si próprias e sobre sua realidade. Como conseqüência do
viés da psicologia, assume-se como óbvio o trabalho de desalienação
da consciência individual, no sentido de eliminar ou controlar aqueles
mecanismos que bloqueiam a consciência da identidade pessoal e
levam a pessoa a comportar-se como um alienado, como um “louco”,
ao mesmo tempo em que se deixa de lado o trabalho de desalienação
da consciência social, no sentido de suprimir ou mudar aqueles
mecanismos que bloqueiam a consciência da identidade social e levam
a pessoa a comportar-se como um dominador ou um dominado, como
um explorador opressivo ou um marginalizado oprimido. (p. 17).
Por esse vereda latino-americana devemos considerar o entorno do complexo de
desprezo, sobre o qual constrangimentos repetitivos asseguram a continuidade de abusos e a
ignorância de sua abrangência no adoecimento, como observamos nas denominadas doenças
étnicas. Todavia, há que ser entendido que esse complexo constitui nosso imaginário e nossa
percepção, respondendo por tensões diárias e pessoais e, por isso, metabolizando-se por meio
da inclusão de outros grupos, como migrantes nordestinos e trabalhadores do campo, em que
o princípio de exploração da força de trabalho é mais evidente.
Devemos apontar que o racismo se configurou como resultado eurocêntrico de práticas
culturais que se impuseram sobre as relações intersubjetivas e que seus efeitos adoeceram tais
relações: de um lado o medo da alteridade que impulsiona atitudes sociais sádicas que
naturalizam a crueldade e de outro a persecutoriedade de historicidade multigeracional. Por
isso, Nah Dove (1998) juntamente com Frances Cress Welsing (1991), Bobby Wright (1994) e
Asa Hilliard (1995) classificam o racismo como distúrbio mental, produtor de sofrimento e de
degradação contínua e constante de outrem.
Maria Aparecida Bento (2012) contextualiza o racismo diante da afetação do medo em
decorrência da história da elite ocidental com receio dos despossuídos, dos denominados de
primitivos, viajantes, estrangeiros e marginais. À medida que mais eram encurralados os
despossuídos maior desconforto material e psíquico era produzido. Com efeito, podemos
lembrar da revolta no Antigo Regime que, em 1789, produziu o Grande Medo dos
proprietários e a ruína dos privilégios jurídicos que assentava a monarquia. Assim
conseguimos apontar que o racismo é fruto de um regime colonial embasado no medo e, por
isso, sedimentou suas relações intersubjetivas pela violência sobre os despossuídos (africanos,
indígenas e ciganos).
Desvendando a ideologia que torna a empatia a esse sofrimento como algo distante,
não podemos nos esquecer o processo significante da violência sobre aquele que sofre e de
seus familiares e conhecidos. Há um desmembramento do terror que se instala nesses vínculos
por vigilâncias autoritárias.
No caso de familiares que são assassinados no círculo próximo instalam-se marcas de
vigilância específicas, como dívidas ou brigas, que podem proceder em novas violências.
Quando esse tipo de violência é realizado pela polícia, quer da morte ou do desaparecimento
de algum familiar, há uma reprodução de indignação e vulnerabilidade reproduzidas na
relação com o Estado. Ademais, são desfeitas relações afeto-emotivas criadoras de
subjetividades, que pelo trauma inibem novos vínculos empáticos. Assim é que mantem nesse
ambiente subjetividades vulneráveis que encontram fugas como apatia, religiosidades
autoritárias, associação ao tráfico e banalidade ao sofrimento.
A proteção familiar e da propriedade não se constituem de fato como um artefato
simbólico inviolável, já que a qualquer momento atos de violência podem eclodir no ambiente
do “em casa”. Os exemplos dessa vigilância autoritária podem ser observados por uma
investida da força policial que retiram do lar quem objetivam o aprisionamento, vasculham o
ambiente e seus compartimentos, bem como os que ali se encontram.
Mas também há formas de vigilância que a priori são tidas como positiva por políticas
públicas, mas que reproduzem o des-vínculo da imagem de proteção de tais famílias. Esse é o
caso das visitas de agentes de saúde, conselheiros tutelares ou de assistentes sociais. Por mais
que possa parecer uma proteção de direitos os familiares sabem que algumas visitas são
propositivas, como dos conselheiros tutelares ou dos assistentes sociais. Com efeito, geram-se
matizes de ansiedade por possíveis punições que ocorrem como perda de benefícios por conta
de algum bem adquirido e de familiares pelo argumento de violação de direitos ou situação de
risco.
As atitudes racistas demonstrar ser no cenário social a incapacidade de os sujeitos
interagirem flexivelmente em diferentes ambientes e grupos sociais. Igualmente essa
incapacidade reflete-se como responsável por sentimentos de embaraço; que por sua vez,
produzem situações estressantes tanto para recompor papeis sociais quanto para destruí-los.
São os pressupostos dessas interações que constituem pequenos sistemas ou padrões de
comportamento no interior de grupos e entre grupos.
Goffman (1975) comenta que diante do desmoronamento do pequeno sistema social
que mantem as relações sociais, o sentimento de embaraço pode ser contagioso e até instalar
um sofrimento social a todos os participantes. Inclusive por aquele que rompe com esse
sistema, pois conforme destrói a imagem do outro se apresenta como incapaz de se comportar
de forma hábil e diplomática.
Enquanto componente de estruturas imaginárias e estruturantes de nossa interação
social, os juízos de valores sobre a determinação hierárquica entre grupos e instituições
discriminatórias, realiza-se um expediente para que os que são discriminados e inferiorizados
resguardem essa posição. No entanto a fragilidade desse sistema reside no desenvolvimento
de vínculos de afeto de forma discriminatória, o que pressupõe na manutenção de
subjetividades subalternas. Por outro lado, sem um controle absoluto, felizmente, essas
interações promovem novos desdobramentos psíquicos contestatórios para além da suposição
estruturante única. Isto significa dizer que concomitante ao processo de segregação e de
barreiras sociais impostas às subjetividades mestiças, negras ou indígenas, houve rupturas e
manifestações contrárias a esses marcadores sociais, denominadas de atitudes elusivas (DA
SILVA, 2015).
Além dessas circunstâncias corriqueiras, e relatadas, há outras que causam maior
desconforto na integralidade intersubjetiva. A esquiva e a recusa da escuta do paciente ou o(a)
profissional (negro, indígena e cigano) são seguidas de manifestações somáticas, como
franzimento de testa, boca e distanciamento corporal que demonstram desprezo, descaso e,
inclusive, nojo. Essas manifestações produzem situações de constrangimentos que podem
mesmo não serem entendidas, causarem desconfortos e incompreensões sobre o estado de
saúde e sofrimento de quem a percebe. Repetimos com Maria Ap. Bento Silva (2012), o
reconhecimento se constitui em situações em que outrem estão presentes de forma autêntica,
isto é, escuta, olha e presta atenção no que está sendo manifestado pelo sofrimento. Como já
relatado por pessoas com Doença Falciforme: “sabemos que a dor continuará, porém
precisamos de acolhimento para amenizar nosso sofrimento!”. Há uma denotação pontual do
sentido de sofrimento e de que como esse estado pode diminuir ou não a qualidade de vida de
alguém. Ultrapassa a simples constatação do tempo para a dor ser amenizada, visto que
compreende a totalidade existencial de alguém que precisa de acolhimento, de estar junto, de
acompanhar e, certamente, de tocar para aquele(a) que sofre experimentar o conforme e alívio
da autenticidade do encontro humano.
Diante da questão de longa duração e da assimetria social observamos que as
populações negras, indígenas e ciganas, de forma distinta, porém similarmente conseguiram
preservar determinados vínculos e práticas culturais diante do complexo de desprezo das
categorias eurocêntricas. Assim, foi que vínculos intersubjetivos comunitários foram
reproduzidos sem a compreensão social de sua eficácia no reconhecimento social entre seus
pares. Tais comportamentos sociais constituíram-se em atitudes elusivas, como produção
social a partir de um ambiente intersubjetivo de longa duração (por vários séculos), que diante
das crueldades coloniais e da falta de reconhecimento de sua produção de sofrimento,
tornaram-se incognoscíveis às categorias eurocêntricas (DA SILVA, 2015).
Diante dessas situações consideramos ser imprescindível ações na coletividade para
que o desenvolvimento de reapropriações de reconhecimento social, não apenas do
sofrimento, mas da existência humana integral, e empoderamento no sentido freireano (1979;
1987). Como Freire aponta, o sentido de empoderamento ocorre pela capacidade de
acolhimento e sentimento de pertença ao grupo. Nesse sentido de forma comunitária as
pessoas podem se perceber em conjunto a legitimidade de sua integralidade, sentindo-se
segura de atuar como profissional em um ambiente que a(o) acolhe em sua humanidade, da
mesma forma, de ser ouvida e atendida no reconhecimento da validade de seu sofrimento. É o
processo de empoderamento que constitui na coletividade e o diálogo autêntico, em que duas
experiências se encontram e partilham integralmente de um momento. Esse diálogo se difere
de um momento de intimidade entre conhecidos e amigos, por sua realização homogênea de
sentimentos e partilhas de afetos e emoções.
Dessa forma, podemos considerar que a atuação profissional demanda novas posturas
em sua prática, principalmente quando consideramos que há uma permanente tendência a
considerar como profissão e, dessa forma, estamos sozinhos em uma disputa de competências.
Considerar que nosso imaginário reproduz exclusões e que o rompimento dessas estruturas
imaginárias e sensoriais ocorrem no diálogo autêntico com a diferença, significa que o
encontro com a alteridade é instrumental para uma atuação humanizante. À medida que
percebemos que o caminho deve ocorrer pela amplitude do contingenciamento, isto é, no
cenário social de longa duração, a partir do qual poderemos desenvolver novas estratégias de
atuação menos solitárias e mais compartilhadas com os grupos, pessoas e outros profissionais
com os quais exercemos nossa atividade.
Como aconselha Pedrinho Guareschi, esse processo de diálogo com comunidades
pressupõem práticas coletivas, dessa forma há dois parâmetros a serem seguidos: 1) com
cuidado e humildade respeitar os saberes comunitários; 2) com a partilha de saberes –
científicos e comunitários – a garantia de autonomia e autogestão das pessoas em coletivo.
Também pode ser útil a proposição de Esther Langdome Eliana Diehl (2007) sobre relações
interculturais, principalmente se estamos lidando com comunidades tradicionais, para a
convergência de interesses que concorram ao bem-estar da comunidade de forma consensual e
compartilhada.
Conclusão
Buscando sistematizar o racismo enquanto sua configuração psicopatógica, isto é, na
qualidade de sofrimento humano, em sua dimensão ampla, precisamos delimitar alguns
entornos psicossociais. Dessa forma, procuramos contribuir por meio das configurações de
dispositivos analíticos que considera um período de longa duração de experiência
compartilhada. Por isso, faz parte desse entorno a concepção de contingenciamento, enquanto
relações intersubjetivas multigeracionais metabolizadas desde o processo colonial, geradora
de relações assimétricas em que determinados grupos são destituídos do reconhecimento de
sua humanidade.
Esse processo de longa duração configurou uma situação de vulnerabilidade
específica, posto que é oriunda do colonialismo e que manteve a assimetria social. À medida
que as relações intersubjetivas foram atravessadas por tal tensão foram sendo configurados
processos relativos ao direcionamento da percepção cotidiana e da produção e reprodução do
imaginário, diferenciando-se de vulnerabilidade como possibilidade de restituição
intersubjetiva prontamente. Dessa forma, de um lado havia o sadismo em tornar a crueldade e
a exploração humana como condição necessária ao bem-estar social, de outro, a
persecutoriedade como resposta da população excluída diante dessa relação. Observou-se que
a co-presença sadismo-persecutoriedade delimitou polos de percepção social que respondem
pela compreensão do racismo como uma patologia social.
Todavia, a falta de entendimento dessa produção psíquica também possibilitou a
continuidade de comportamentos sociais das populações, tangenciando as categorias
eurocêntricas. Tais comportamentos por meio de vínculos intersubjetivos atravessou o
colonialismo e se tornou uma forma de resposta política específica, isto é, impregnando várias
manifestações sociais que apenas as percebiam em fragmentos encantadores, como a ginga da
capoeira, o drible do futebol brasileiro e rebolado do samba. Com efeito sua perpetuação
tornou-se incorporada no cotidiano, mesmo que a compreensão eurocêntrica apenas conseguia
capturar parcialmente sua importância psicossocial.
De outra forma, pela perspectiva da Psicologia Social Comunitária no reconhecimento
social que produz coletivamente o empoderamento é possível destituir a relação sadismo-
persecutoriedade por meio de estratégias que reatualizem o convívio comunitário enquanto
espiritualidade e a valorização de si no coletivo como forma de enaltecimento da
ancestralidade.
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TRABALHO 3
A PSICOLOGIA FRENTE A REDUÇÃO DE SOFRIMENTO PSÍQUICO DO
RACISMO
CARNEIRO, Cristiano de Andrade; DA SILVA, Jefferson
Olivatto (Doutor em Ciências Sociais); DIGIOVANNI, Alayde
Maria Pinto (Doutoranda em Psicologia); MASCARIN,
Fernanda de Oliveira Pavão; MEZZOMO, Rafaela (Mestre em
Educação); SANTOS, Thais Rodrigues (Mestranda em
Educação)
Resumo:
O presente trabalho tem como objetivo discutir a atuação profissional do psicólogo referente
as relações étnico-raciais, no campo da saúde mental acerca das formas como lida com o
sofrimento psíquico produzido pelo racismo. A discussão será balizada por meio da
perspectiva da Psicologia Social/Comunitária referente a temática étnico-racial, bem como
contribuições de outras áreas (Antropologia, História) que auxiliam a compreender o
sofrimento psíquico acometido pelo racismo. Nesse aspecto, vale pensarmos no
Contingenciamento, tal qual é constituído por dinâmicas multigeracionais ou de longa
duração por meio de partilha de sistemas identitários. Tais processos são estruturantes do
Imaginário Social e proporcionam, simultaneamente, Sofrimento Psíquico e Atitudes
Elusivas. Nesse sentido, podemos afirmar que o Sofrimento Psíquico em sua diversificação
cotidiana potencializa modelamentos das Atitudes Elusivas, que são formas específicas de
ações compartilhadas diante do racismo. Assim evidencia-se a necessidade de ir além do
clichê de que “toda Psicologia é social”, a complexidade não está na análise das relações
interpessoais, é preciso descolonizarmos o olhar e identificarmos as forças sociais, políticas e
culturais vigentes para a construção de uma prática psicológica sensível as questões étnicos-
raciais e comprometida com a redução do sofrimento psíquico pelo racismo.
Palavras-chaves: Psicologia Socia/Comunitária; Atuação da Psicologia; Racismo; Relações
étnico-raciais
Introdução
Para iniciar a discussão sobre as questões étnicos-raciais como transversais as práticas
de atuação da psicologia, temos que entender como essa área de conhecimento foi construída
nessas relações. A regulamentação da Psicologia (1962) se deu em um contexto repressor, do
conseguinte período ditatorial, de suspensão dos direitos fundamentais, incluídas as liberdades
de organização e de expressão, que a Psicologia, profissão e formação profissional. Frente a
esse cenário histórico nos primeiros 20 anos, a Psicologia se estabeleceu como uma ciência
burguesa, exercida por e tratando burgueses. O padrão de normatividade também segue o que
advém da burguesia. (YANOMOTO; OLIVEIRA, 2010). Ainda, nessa lógica, muitos
discursos (científicos, biomédicos, ideológicos) sustentaram o mito da democracia racial, que
se constituiu e de certa forma ainda se faz como, uma justificativa para explicar as condições
materiais, psicológicas, de status e tantas outras: a própria incompetência, algo inato da raça
negra (DA MATA, 2014). Munanga (1994) aponta que no Brasil os de direita acusam os
negros em busca da afirmação da sua identidade de criar falsos problemas ao falar de
identidade negra numa sociedade culturalmente mestiça, enquanto os de esquerda,
geralmente, os acusam de dividir a luta de todos os oprimidos, cuja identidade numa
sociedade capitalista deveria ser a mesma de todo e qualquer oprimido. Acrescenta ainda, a
impossibilidade da conciliação desses discursos, visto que se faz necessário ter coragem de
encarar e de analisar o Brasil, de fato, sociologicamente e culturalmente, e não nos
prendermos a uma projeção ideológica do país, presa nas malhas desse mito da democracia
racial.
Esse mito camufla os privilégios historicamente destinados à população branca e
assim essa superioridade é naturalizada nas relações sociais. Esse pano de fundo se torna um
terreno fértil para a/o psicóloga/o que não se aproxima das discussões referentes as relações
raciais, reproduzir e legitimar a discurseira do senso comum e acusar a vítima como culpada
da sua situação (DA MATA, 2014).
Para tanto, é crucial problematizarmos como essa discussão aparece na formação de
Psicologia, para Schucman (2012) a formação de psicólogas/os ainda está centrada na
perspectiva de humanidade universal e de um desenvolvimento do psiquismo humano igual
entre os diferentes grupos racializados. A falta de representatividade nos espaços acadêmicos
e a influência do mito da democracia racial torna a temática também invisível nesse contexto.
Da Mata (2014) acrescenta ainda, que a mentalidade clínica fechada da maioria dos
estudantes e profissionais, que não conseguem enxergar as práticas e questões psicológicas
além do consultório, corrobora para a manutenção desse quadro. Depoimentos de pessoas
negras indignadas com a despolitização de seus psicoterapeutas são assustadoramente
frequentes: as narrativas têm em comum profissionais despreparados e sem senso crítico, que
atribuem o sofrimento causado pelo racismo a algo individual e a uma questão de aceitação e
superação. Por mais absurdo que isso possa parecer, esses depoimentos mostram que uma
quantidade enorme de psicólogos e psicólogas responsabiliza os negros pelo racismo que
sofrem, sugerindo que os negros precisam se aceitar ou que estão enxergando racismo demais
onde há uma situação unicamente subjetiva.
Para exemplificar, temos a reportagem, Meu psicólogo disse que racismo não existe
veiculada na Revista Fórum:
Marília Lopes, mulher negra e professora universitária de 38
anos, procurou uma psicóloga porque sofria com depressão há
muitos anos. Sentia que precisava de ajuda e que seu trabalho
estava sendo severamente prejudicado. Na primeira sessão de
psicoterapia, sentiu a necessidade de falar sobre as diversas
situações em que sofreu racismo, contando de sua infância
trabalhando como empregada doméstica e babá sob o pretexto
de que estava “brincando com a filha da patroa”, até casos mais
recentes, em que fora seguida dentro de lojas onde fazia
compras. Ao final, a psicóloga – que era branca – afirmou que
Lopes precisaria mudar o comportamento de ‘se vitimizar e
transformar acontecimentos normais em racismo’. (REVISTA
FORUM, 25/06/2015).
Esse é um dos casos entre tantos em que o fenômeno social do racismo é encarado na
esfera individual. Dessa forma, as/os profissionais em diferentes instâncias legitimam e
perpetuam o racismo nas suas práticas, na contramão a Resolução 018/2002 que diz respeito a
prática psicológica diante do racismo e afirma que:
Art. 1º - Os psicólogos atuarão segundo os princípios éticos da profissão
contribuindo com o seu conhecimento para uma reflexão sobre o
preconceito e para a eliminação do racismo.
Art. 2º - Os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a
discriminação ou preconceito de raça ou etnia.
Art. 3º - Os psicólogos, no exercício profissional, não serão coniventes e
nem se omitirão perante o crime do racismo.
Art. 4º - Os psicólogos não se utilizarão de instrumentos ou técnicas
psicológicas para criar, manter ou reforçar preconceitos, estigmas,
estereótipos ou discriminação racial.
Art. 5º - Os psicólogos não colaborarão com eventos ou serviços que
sejam de natureza discriminatória ou contribuam para o desenvolvimento
de culturas institucionais discriminatórias.
Art. 6º - Os psicólogos não se pronunciarão nem participarão de
pronunciamentos públicos nos meios de comunicação de massa de modo
a reforçar o preconceito racial.
Retomando a problemática da individualização e consequentemente simplificação da
complexidade do fenômeno racial, primeiramente, vale destacar o atenuamento do quadro de
sofrimento psíquico dos clientes negros que vão ao consultório e contam longas histórias de
vida repletas de discriminação e violência; basta imaginar o que é ouvir que a
responsabilidade pelo racismo é sua, quando o racismo não é uma questão de falta de
motivação ou vontade de mudar. A discriminação racial não vai desaparecer da sociedade se
aquele cliente decidir que se aceita, tampouco deixará de ter suas influências sobre ele –
especialmente em sua realidade física, quando é barrado em ambientes e instituições. Nesse
sentido, a Psicologia dá margem ao estado deplorável de erro e despolitização. E não dá só
para transferir a responsabilidade para os péssimos profissionais que fazem esse trabalho
omisso, visto a dificuldade em ser efetivamente política é enfrentada por todas as pessoas que
compõem o campo da Psicologia (DA MATA, 2014). Entretanto, a Psicologia
Social/Comunitária nos instrumentaliza no fazer de uma Psicologia crítica e politizada e
frente as demandas das questões étnico-raciais,
Objetivos
O presente trabalho tem como objetivo discutir a atuação profissional do psicólogo no que
tange as relações étnico-raciais, no campo da saúde mental acerca das formas como lida com
o sofrimento psíquico produzido pelo racismo.
Métodos
A discussão será balizada por meio da perspectiva da Psicologia Social/Comunitária referente
a temática étnico-racial, bem como contribuições de outras áreas (Antropologia, História) que
auxiliam a compreender o sofrimento psíquico acometido pelo racismo.
Resultados
A dimensão psicossocial do racismo precisa ser desvelada nas práticas cotidianas para
que os profissionais da Psicologia consigam compreendê-la e desenvolver práticas adequadas
contra esse tipo de sofrimento psíquico, valorizando a experiência dos coletivos em sua
alteridade.
Vale ressaltar que dentre os tipos de racismo que atinge várias áreas onde o/a
profissional de psicologia atua encontramos o racismo institucional. Ele é aquele que precisa
ser constatado, combatido e desestruturado para que haja maior justiça social em termos
amplos (LÓPES, 2012), visto que resulta como falha do sistema de saúde, educação, cultural,
da previdência, enfim de amplas ações institucionais e organizacionais: “o racismo
institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou étnicos discriminados em situação de
desvantagem no acesso a benefícios gerados pelo Estado e por demais instituições e
organizações” (CRI, 2006, p. 22).
Além disso, na contramão a prática individualizante, é essencial que a psicologia,
interessada em questões relativas à identidade e à subjetividade, volte-se também para o
estudo de processos de subjetivação não-hegemônicos, como é o caso dos quilombolas. A
relação com o passado, o vínculo com o território, as negociações com a sociedade
circundante são questões que envolvem a dinâmica de constituição identitária quilombola,
podendo lançar luz aos estudos sobre os processos identitários e de subjetivação tão
frequentemente restritos aos espaços urbanos e hegemônicos (FURTADO; SUCUPIRA;
ALVES, 2014).
Nesse aspecto, vale pensarmos no Contingenciamento, tal qual é constituído por
dinâmicas multigeracionais ou de longa duração por meio de partilha de sistemas identitários.
Tais processos são estruturantes do Imaginário Social e proporcionam, simultaneamente,
Sofrimento Psíquico e Atitudes Elusivas. Nesse sentido, podemos afirmar que o Sofrimento
Psíquico em sua diversificação cotidiana potencializa modelamentos das Atitudes Elusivas,
que são formas específicas de ações compartilhadas diante do racismo, ou seja, um tipo
especifico de ação política.
De um lado, esse sofrimento não é compreendido devido a uma ideologia de exclusão
contínua e assim não legitima como recursos terapêuticos adequados. Algo que fica evidente
pelas ementas e projetos políticos pedagógicos dos cursos de Psicologia ou pela dificuldade
dos profissionais de psicologia em compreender a experiência do racismo e seus efeitos
psicossociais. De outro, os grupos convivendo nessas condições por longo períodos
aprenderam a perpetuar signos identitários - isto é, de reconhecimento coletivo –
impregnando nas práticas cotidianas suas resistências. Ao mesmo tempo em que essas práticas
são ininteligíveis elas se perpetuam por seu encantamento sensorial, como foi ensinado pela
demanda do exotismo.
Devemos entender, que a impregnação dessas práticas de resistências foi perpetuada a
quase cinco séculos de discriminação diária, a ponto de a crueldade contra a população negra
– mulheres, homens, jovens, crianças, bebês, idosas e idosos – ascender à percepção social em
caráter de naturalidade. Seu extermínio, seja por qual o motivo for manuseado, é passível de
juízo de correção, de justiça ou até de benevolência contra sua natureza indomável. Por isso
consideramos a necessidade de vínculos comunitários para que haja o acolhimento das
experiências, as mais diversas em quantidade e horror, do sadismo vivido no cotidiano e em
qualquer ambiente.
Esse arsenal de práticas de violação se instaurou em todas as instituições sociais, desde
a família até a burocracia acadêmica. Tal arsenal nos posiciona face a face com condições e
situações de exploração, extermínio e apropriação, que incialmente estavam as populações
ameríndias, depois africanas e logo em seguida seus descendentes. Se há um respaldo da
mídia para criminalizar a experiência da miséria, tomando essa como ponto de referência para
péssimos atendimentos públicos e privados contra os que vivem nessas condições. Devemos
compreender que a tríade acima se direcionou para múltiplos interesses, independentemente
dos argumentos veiculados e aceitos, dizimou vidas, laços de pertencimento, bem como
deteriorou a produção simbólica necessária ao desenvolvimento humano em estado saudável.
Assim foi que ideias, imagens, pensamentos e sentimentos desagradáveis bloquearam
o desenvolvimento psíquico satisfatório. Nesse rol podemos mencionar diagnósticos de
depressão (chamado de banzo), manias, pensamentos e sentimentos persecutórios, paranoia e
tantos outros distúrbios. Embora, ainda seja hipótese, mas a falta de acolhimento duradouro,
carência alimentar associada ao estresse constante produziram condições suficientes para o
aparecimento de doenças étnicas; isto é, agravos que tem maior incidência em populações
negras e ameríndias.
Sem um determinismo biológico causado pelo racismo, podemos detectar barreiras
cognitivas ou defasagens no processo educativo. Pelo enredo de exclusão experimentado
desde a relação intrauterina, via vivência com a exclusão materna, a luta pela saúde mental
exige igualmente parte da energia vital. Se não há como mensurar em termos de gerações e de
historicidade cotidiana e secular, pelos mesmos instrumentos clínicos, podemos, de outra
forma, detectar por meio da escuta de acolhimento as experiências desse terror. A
caracterização que fazemos desse tipo de momento é uma escuta comunitária, fundamental
para desenvolver epistemologias dessas condições.
Com efeito, as psicólogas e psicólogos poderão não dirimir ou equipar os sofrimentos
em uma vala comum, como tudo sendo racismo ou como se esse não existisse, educando sua
escuta ao grupo em questão. Ao mesmo tempo, esse momento oportunizaria à coletividade
compreender que certas crises, sentimentos ou pensamentos, tanto não são comum a todos
indivíduos fora daquele grupo como atividades mentais irrisórias.
Quanto as Atitudes Elusivas em sua complementarização do Contingenciamento
precisa ser observada pela lente da descolonização ou desideologização, como apontou Martin
Baró. É essencial lembrar que o exotismo – enquanto parcela instituída da alteridade –
perpetua resíduos e dinâmicas de resistências sem tomar ciência. Escapa à subjetivação
colonial presente na perpetuação do racismo a experiência da exclusão em sua totalidade.
Segundo Silva (2015)
As atitudes elusivas são caracterizadas pela historicidade das relações
assimétricas coloniais, segundo as quais a presença do colonizador remetia a
diferentes significados de conflitos e de sofrimentos operados no cotidiano.
Dessa forma, com a dinâmica de tal operacionalização os significados
podiam atrair novos signos ou resíduos de outros conflitos reorganizando-se
em novas categorizações de conflitos. Quanto aos resíduos esses eram
considerados resultantes de conflitos comunitários, tendo a função de
amenizar anseios ou interesses atualizados em comportamentos sociais de
esquivas. De outra forma, somente tem essa função social se refletir ou for
incorporado em atitudes similares, visto que é legitimado no interior de
disposições pré-estabelecidas.
Com efeito, as relações intersubjetivas cotidianas, que são delimitadas por estruturas
cognitivas eurocêntricas, são atravessadas e reproduzem a resistência e suas estruturações sem
se darem conta desse processo. Há um fechamento perceptual cerceado pelo desprezo e pela
arrogância que os distam da experiência coletiva da alteridade.
Não há uma mera questão de escolha, em se planejar o evitar do aniquilamento
absoluto. Diante da aversão contra qualquer sinal de alteridade em si, mas admitindo-se sua
propriedade de para o outro como exótico, por meio dessa permissividade signos do em si
também são perpetuados, adaptados e transmitidos por gerações distantes quer no espaço quer
no tempo.
Nesse contexto, cabe a escuta profissional entender que há especificidade na relação
intersubjetiva não evidente, assim como os paradigmas psicológicos se constituíram alheios a
essa condição subjetiva. Atentar-se também, para a mão dupla do constrangimento na prática
psicológica. O constrangimento direciona-se para a evidência da assimetria social, constituída
de condicionantes do imaginário e percepção. Dessa forma, o constrangimento revela a
alteridade de produções racistas.
No que tange as experiências coletivas desenvolvem dinâmicas de reconhecimento de
si no e pelo grupo. Há interdependência direta entre os membros arquitentando estruturas de
pertença. Caminho esse que possibilitará a construção simbólica ampla para semioses
cognitivas e afetivas. É o que podemos compreender de epistemologias centradas na
experiência comunitária.
Se as epistemologias psicológicas eurocentradas tendem para uma concepção de
experiência individualizada, isso também significa uma redução da concepção
espaciotemporal para a qual a intersubjetividade comunitária se desdobra.
Considerações Finais
Ainda que, a demanda por psicólogas e psicólogos no campo das Políticas públicas
tenha aumentado, as formações têm passado por micro transformações, quando acontece. As
Instituições de ensino, aliadas à representação social do trabalho do psicólogo, continuam
privilegiando o trabalho de clínica individual no consultório como o principal. Da Mata
(2014) afirma que somente no século XXI a Psicologia acordou para estudar o fenômeno do
racismo e suas repercussões psicológicas. Por décadas psicólogos desenvolveram teorias que
sustentaram e ratificaram o binômio superioridade/inferioridade das raças humanas.
O mesmo autor acrescenta que, no Brasil, temos a forma mais sofisticada de racismo
já elaborada, sem leis explícitas que ratifiquem a exclusão, é um racismo que vai sendo
veiculado em doses às vezes homeopáticas, às vezes cavalares, no cotidiano. Os atores sociais
vão assimilando essas crenças, que determinam lugares, justificam o status quo, dentre outras
consequências. Cabe à Psicologia, juntamente com outros saberes, ajudar a decifrar esse
enigma, essa ideologia perversa que aprisiona e produz sofrimento de diversas ordens. Cabe
aos psicólogos enfrentarem o mito da democracia racial, dentre tantos outros mitos, para que
possamos criar uma ciência e profissão realmente engajada na promoção dos direitos
fundamentais, para a construção de uma sociedade equânime
Para essa transformação a academia precisa ser um espaço de transformação social e a
Psicologia precisa ser social sem interrupção. Ou seja, é preciso ir além do clichê de que “toda
Psicologia é social”, pois infelizmente a realidade está bem distante dessa colocação. Ser
social é mais do que enxergar a interação entre os indivíduos e a importância das relações
interpessoais, é saber identificar as forças culturais vigentes e lutar para romper a exclusão.
Não é possível construir uma Psicologia verdadeiramente transformadora se ela não for anti-
racista (DA MATA, 2014).
Referências Bibliográficas
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