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7ª Promotoria de Justiça de GoiâniaMeio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ª VARA DA FAZENDA
PÚBLICA MUNICIPAL DA COMARCA DE GOIÂNIA – GO.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por sua Promotora
de Justiça que ao final assina, com fundamento nos artigos 1º, inciso IV, 5º e 21, da
Lei nº 7.347/1985 (Lei de Ação Civil Pública), no artigo 25, inciso IV, alínea "a”, da Lei
nº 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), e artigos 127 e 129,
incisos II e III, da Constituição Federal, vem propor na forma da legislação civil e
processual em vigor, a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA
PROVISÓRIA DE URGÊNCIA
em face de:
MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, pessoa jurídica de direito público
interno, representado por seu Prefeito, instalado no Paço Municipal de Goiânia, sito
na Av. do Cerrado, nº 999, Quadra APM9, Park Lozandes, nesta Capital;
AGÊNCIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE - AMMA, pessoa jurídica
de direito publico interno, representada por seu Presidente, localizada à Rua 75,
esq. c/ Rua 66, nº 137, Centro, Goiânia, Goiás;
SPE INCORPORAÇÃO OPUS FLAMBOYANT 01 LTDA, pessoa jurídica
de direito privado, inscrita no CNPJ nº. 09.267.529/0001-40, localizada à Rua 14-A,
Qd. B-31, Lts. 12/14-19/21, Setor Jardim Goiás, Goiânia, Goiás, na pessoa de seu
representante legal, responsável pelo empreendimento RESIDENCIAL IMPERADOR
DO PARK;
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 1 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
7ª Promotoria de Justiça de GoiâniaMeio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo
PLANO ENGENHARIA E CONSTRUÇÕES LTDA, pessoa jurídica de
direito privado, inscrita no CNPJ nº 33.578.204/0001-63, localizada à Ru 54 Q B6, lote
12, Goiânia, Goiás, CEP: 74810-220, na pessoa de seu representante legal,
responsável pelo empreendimento RESIDENCIAL JARDINS DO LAGO;
SPE INCORPORAÇÃO OPUS FLAMBOYANT 03 LTDA., inscrita no
CNPJ/MF nº 12.034.215/0001-02, localizada à Avenida 136, Qd. C-8, Lt. 17, Jardim
Goiás, Goiânia, CEP: 74.810-170, na pessoa de seu representante legal, responsável
pelo empreendimento PARQUE HOUSE FLAMBOYANT;
TCI INPAR – PROJETO IMOBILIÁRIO PREMIER UNIQUE, pessoa
jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 09.262.181/0001-07, localizada à Rua
15 com Rua 49, quadra C-02, lote 01, Jardim goiás, Goiânia, Goiás, na pessoa de
seu representante legal, responsável pelos empreendimentos RESIDENCIAL PREMIER
DU PARC, CONDOMÍNIO RESIDENCIAL PREMIER VISION e CONDOMINÍO RESIDENCIAL
PREMIER UNIQUE;
SOCIEDADE RESIDENCIAL BOSQUE FLAMBOYANT S/A EBM
INCORPORAÇÕES S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº
03.025.881/0002-74, localizada à Av 136, nº 960, Andar 16, 18 E 19
Setor Marista, Goiânia, Goiás, CEP 74180-040, na pessoa de seu representante legal,
responsável pelos empreendimentos CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO RESERVA DU PARC e
RESERVA GRANN PARC;
ENEC EMPRESA NACIONAL DE ENGENHARIA E CONSTRUÇÕES LTDA,
pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 02.779.429/0001-54, localizada
à Rua 17A, nº 722, Goiânia, Goiás, na pessoa de seu representante legal,
responsável pelo empreendimento RESIDENCIAL LANDSCAPE;
R DINIZ INCORPORADORA E CONSTRUTORA, inscrita no CNPJ nº
03.853.579/0001-23, localizada à Avenida Presidente João Goulart, Aria Shopping,
Bloco A, Sala 06, Aparecida de Goiânia, Goiás, CEP: 74968-890, na pessoa de seu
representante legal, responsável pelo empreendimento RESIDENCIAL CHABLIS;
PRUMUS CONSTRUÇÕES E EMPREENDIMENTOS LTDA, pessoa jurídica
de direito privado, inscrita no CNPJ nº 05.835.650/0001-70, localizada à Rua T-30, nº
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 2 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
7ª Promotoria de Justiça de GoiâniaMeio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo
839, Setor Bueno, Goiânia, Goiás, na pessoa de seu representante legal, responsável
pelo empreendimento CONDOMÍNIO RESIDENCIAL FLAMBOYANT PARC;
LOFT CONSTRUTORA E INCORPORADORA LTDA, pessoa jurídica de
direito privado, inscrita no CNPJ nº 02.633.437/0001-98, localizada à Rua T-63, nº
3182, Qd.147 Lotes 1 e 2, Sala 803, Edifício Aquarius Center EMPR, Setor Bueno, na
pessoa de seu representante legal, responsável pelo empreendimento
CONDOMÍNIO LOFT GYN;
BROOKFIELD TOWERS INCORPORAÇÕES, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ nº 21.253.507/0001-27, localizada à Av. Deputado Jamel
Cecílio, S/N, Quadra B-27, Jardim Goiás, Goiânia, Goiás, CEP: 74810-100, na pessoa
de seu representante legal, responsável pelo empreendimento CONDOMÍNIO
BROOKFIELD TOWERS;
EUROAMÉRICA INCORPORAÇÕES, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ nº 08.470.614/0001-49, localizada à Rua 56, quadra B25,
lote 05, Jardim Goiás, Goiânia ou Rua 1, esquina com rua 02, nº 116, Chácara Alto
da Glória II, Goiânia, Goiás, na pessoa de seu representante legal, responsável pelo
empreendimento GENIALE RESIDENCIAL;
CONSTRUTORA EMISA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita
no CNPJ nº 02.297.927/0001-60, localizada à Av. Brasil Sul, 3130, Setor Sul Jamil
Miguel, CEP: 75124-820, Anápolis, Goiás, na pessoa de seu representante legal,
responsável pelo empreendimento RESIDENCIAL CARAÍBAS;
BRASAL INCORPORAÇÕES E CONSTRUÇÕES DE IMÓVEIS LTDA,
pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 00.323.063/0001-89, localizada
à Rua 1139, quadra 248, lote: 22, Setor Marista, Goiânia, Goiás, CEP: 74180-180 na
pessoa de seu representante legal, responsável pelo empreendimento FLAM PARK
RESIDENCIAL CLUB;
CONSTRUTORA REGIONAL, pessoa jurídica de direito privado,
inscrita no CNPJ nº 02.3238.480/001-87, localizada à Rua 55, Qd. B-13, Lt. 9, nº 298,
CEP: 74.810-230, Setor Jardim Goiás, Goiânia, Goiás, na pessoa de seu representante
legal, responsável pelo empreendimento RESIDENCIAL VERMONT;
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 3 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
7ª Promotoria de Justiça de GoiâniaMeio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo
1. DOS FATOS
Esta Promotoria de Justiça instaurou Inquérito Civil nº 450/2014, protocolo
Atena nº 201000012627, a fim de averiguar denúncia, datada de 03/02/2015,
referente à possível lançamento contínuo de água emergente de lençol freático,
diretamente em via pública, com consequente desgaste do capeamento urbano,
proveniente de diversos empreendimentos localizados na Zona de Amortecimento
do Parque Flamboyant, Jardim Goiás, nesta Capital.
No bojo da investigação civil, apurou-se, por meio do Ofício nº 086/2012
de lavra da Agência Municipal do Meio Ambiente – AMMA (fls. 33/62), que diversos
empreendimentos localizados na zona de amortecimento do parque (até 100m de
distância deste) realizavam o rebaixamento do lençol freático, e, inclusive, que tal
rebaixamento já estava comprometendo a zona de saturação que mantém a
lâmina d'água dos lagos existentes no parque.
Com o afloramento do lençol freático, a água proveniente deste estava
sendo lançada em via pública, sem nenhuma destinação, água límpida e própria
para utilização.
Foi sugerido, na ocasião, a instalação de um sistema de infiltração e
retenção no entorno da área, e, ainda, que para concessão de uso do solo de
novos empreendimentos fosse detalhadamente avaliado o índice de
permeabilidade mínima e impermeabilização da superfície. Os problemas quanto à
destinação da água servida utilizada pelos usuários dos imóveis também foram
mencionados e também estavam sendo lançadas diretamente em via pública.
Na tentativa de solucionar tais problemas e conforme orientado pela
Agência Municipal do Meio Ambiente (fls. 61/62 e 70/74), foi celebrado um Termo
de Ajustamento de Conduta entre o Ministério Público de Goiás, representado pela
8ª PJ, e as construtoras responsáveis por 12 (doze) empreendimentos localizados na
Zona de Amortecimento do Parque (fls. 76/78). Nesta oportunidade, as
compromissárias ficaram obrigadas a contratar empresas para instalação de
trincheiras de infiltração, no prazo de 120 dias, prorrogados por mais 60 dias,
conforme projetos apresentados e aprovados pela AMMA (fls. 77- verso). A fim de
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 4 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
7ª Promotoria de Justiça de GoiâniaMeio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo
minimizar os impactos dos empreendimentos sobre a drenagem, foram propostas a
captação das águas pluviais de cobertura e, ainda, o aproveitamento das águas
de afloramento em subsolo, direcionando-as às trincheiras, realimentando o lençol
freático e contribuindo para a manutenção da lâmina d'água dos lagos do Parque,
para o equilíbrio ambiental em geral.
No decorrer da execução do TAC diversos problemas foram observados,
especialmente com relação às irregularidades de obras, como utilização de
material argiloso, que impossibilitaria a real função das trincheiras, que é a
infiltração das águas; retirada de cobertura vegetal das áreas onde houve
intervenções; abandono de resíduos de construção civil na área de preservação;
valas de instalação destampadas, potenciando ocorrências de acidentes, entre
outras questões levantadas pelo Relatório Técnico nº 271/2012 e 342/2012.
Novos fatos foram conhecidos por esta Especializada em setembro de
2014, denunciando o desgaste do pavimento asfáltico e ausência de manutenção
deste, em decorrência do assoreamento do asfalto causado pela água em diversas
vias públicas nos arredores do Parque, agravando, progressivamente, o desgaste
asfáltico (fls. 232/233).
Continuadamente, esta Promotoria requisitou e, reiterou por diversas
vezes, informações quanto à atual situação dos projetos de drenagem de TODOS os
empreendimentos inseridos na Zona de Amortecimento, considerando que o TAC
realizado em 2012 contemplou apenas 12 (doze) edificações e, atualmente,
conforme informações da Agência Municipal Do Meio Ambiente – AMMA,
aproximadamente 47 (quarenta e sete) empreendimentos estão construídos na
Zona de Amortecimento do Parque, destes, 21 (vinte e um) realizam o
rebaixamento permanente do lençol freático e portanto, necessitam de
interligação ao sistema de infiltração para que destinem adequadamente a água
aflorada do lençol (fls. 360/379), nos termos da Lei Municipal nº 9.511/2014.
Conforme a própria Agência afirma, há, ainda, edificações prontas que não
possuem, sequer, licenciamento ambiental.
No entanto, apesar das mencionadas requisições, os pareceres
encaminhados pela AMMA, apesar de estarem relacionados à investigação em
curso, não contribuem para o andamento do procedimento, tendo em vista queRua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 5 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
7ª Promotoria de Justiça de GoiâniaMeio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo
apenas reiteravam informações já fornecidas, sem realizar nova análise da
situação.
A faixa lindeira ao Parque está ocupada por edifícios que chegam à
trinta pavimentos de altura, alguns com até dois pavimentos de subsolo. Em
decorrência do rebaixamento do lençol freático, poderá ocorrer uma diminuição
significativa da quantidade de água disponível no solo e, consequentemente,
diminuição da vazão das nascentes, sobretudo nos períodos de seca.
Mesmo buscando uma solução e acompanhamento extrajudicial aos
diversos problemas atinentes à preservação do Parque, sobretudo com relação ao
afloramento do lençol freático, visando uma amenização e prevenção de severos
danos causados pela ocupação desenfreada nos arredores da Unidade de
Conservação, a certo momento, a Agência Municipal do Meio Ambiente, deixou
de atender as requisições ministeriais, fornecendo informações incompletas,
insatisfatórias e insuficientes.
Até o momento, não se sabe quantos edifícios realizam o rebaixamento
do lençol, mas estão interligados ao sistema de trincheiras, quais não estão
interligados, mas procederão a ligação e quais não apresentaram projeto de
drenagem.
Assim, restou prejudicada a efetividade e conclusão do objetivo da
então investigação, qual seja, zelar pelo meio ambiente em convívio social,
cumprindo as disposições legais, garantindo o direito ao meio ambiente de todos
ecologicamente equilibrado no que tange ao impactos dos arredores do Parque
Flamboyant.
2. DO DIREITO
2.1. Da legitimidade ministerial para propositura da presente ação civil
pública
A Lei nº 7.347/1985 – Lei da Ação Civil Pública – é clara ao dispor em seu
artigo 1º, inciso VI, que:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular,as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:I – ao meio ambiente;(…)
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 6 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
7ª Promotoria de Justiça de GoiâniaMeio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo
O Ministério Público está constitucionalmente legitimado para mover
Ações Civis Públicas que visem tutelar o meio ambiente, conforme expressa o artigo
129, inciso III, da Constituição Federal de 1988:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (…)III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção dopatrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusose coletivos.
No mesmo sentido, preceitua o artigo 117, inciso III, da Constituição do
Estado de Goiás:
Art. 117. São funções institucionais do Ministério Público:III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para proteção dopatrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusose coletivos;
Luís Paulo Sirvinskas preconiza que “o Ministério Público e os co-
legitimados poderão agir para a defesa dos seguintes interesses transindividuais: a)
meio ambiente (...) É função do Ministério Público a promoção do inquérito civil e
da ação civil pública para a proteção do meio ambiente, dentre outros. Vê-se,
pois, que o Ministério Público tem legitimidade para defender o meio ambiente de
maneira expressa e clara”.
Resta, portanto, comprovada a legitimidade ministerial para promover a
presente ação judicial.
2.2. Da violação ao direito difuso
Os interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos tem sua
definição insculpida no art. 81 do Código de Defesa do Consumidor:
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas
poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos para efeitos deste Código,
os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste
Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
uma relação jurídica de base;
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 7 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
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III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os
decorrentes de origem comum.
O lençol freático que está sendo progressivamente deteriorado é
definido por Caroline Faria como “um reservatório de água subterrânea decorrente
da infiltração da água da chuva no solo nos chamados locais de recarga”.
Quando ocorre a infiltração da água, está perfaz-se por entre as rochas,
filtrando as impurezas, tornando-a portável. A água proveniente do lençol freático é
admissível para consumo humano, sem necessidade de tratamento.
Sendo a água o objeto aqui discutido, para além do direito
constitucionalmente tutelado ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, do
qual a água é elemento indispensável, legislações específicas, também, cuidaram-
se de resguardar esse bem vital, como será visto a seguir.
A Lei 9.433/1997 definiu a água como bem de domínio público, bem de
uso comum do povo assim definido por Maria Sylvia di Pietro:
“Consideram-se bens de uso comum do povo aqueles que, por
determinação legal ou por sua própria natureza, podem ser utilizados por
todos em igualdade de condições, sem necessidade de consentimento
individualizado por parte da administração”
Sendo assim, quando o lençol freático, que resguarda a água potável, é
disposto indevidamente, e a água é inutilizada, por conseguinte, inutilizável,
proibindo um futuro consumo de outrem, toda a coletividade é lesada.
Rizzato Nunes pontua:
Os chamados direitos difusos são aqueles cujos titulares não sãodetermináveis. Isto é, os detentores do direito subjetivo que se pretenderegrar e proteger são indeterminados e indetermináveis.
Nesse diapasão, os inúmeros malefícios ocasionados com afloramento do
lençol, violam o meio ambiente equilibrado, gerando, a longo prazo, disfunções
sociais que serão grave e diariamente, como já o são, sofridas por toda sociedade.
2.3. Do direito constitucional ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado está amparado
pelo art.225 da Constituição Federal, nos seguintes termos:
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 8 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
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Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
Quando dito “ecologicamente equilibrado”, o constituinte quis
garantir o direito de um bem essencial à vida, prezando pela conservação de
propriedades e das funções naturais, de forma a permitir sua natural existência,
evolução e desenvolvimento ecológico. Possuir o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado equivale a afirmar que há um direito aos recursos da
natureza essenciais à vida, bem como sua manutenção para uma vida digna: sol,
solo, ar e água, sem que haja prejuízo a qualquer um destes.
Assim, tal garantismo para Édis Milaré é: “uma extensão do direito à
vida, quer sob o enfoque da própria existência física e saúde dos seres humanos,
quer quanto ao aspecto da dignidade dessa existência – a qualidade de vida –,
que faz com que valha a pena viver”.
É necessário perceber que a vida humana está intrinsecamente
ligada aos recursos naturais e a necessidade de manutenção destes, se o equilíbrio
se desfizer o primeiro a sentir as consequências é o ser humano.
O mencionado estado de equilíbrio não visa à obtenção de uma
situação de estabilidade absoluta, sem nenhum tipo de alteração, considerando
que a natureza possui os próprios ciclos de evolução constante, porém, quer
repudiar a interferência das ações antrópicas prejudiciais.
Em relação à sadia qualidade de vida constante, esta não está
associada a viver em uma região bem localizada ou de alto valor imobiliário, pelo
contrário, a sadia qualidade de vida relaciona-se com a locação adequada dos
recursos naturais, de maneira à zelá-los e preservá-los com fim de proporcionar
melhor qualidade de vida a toda coletividade. A construção irregular de imóveis
desconsidera as prerrogativas para resguardar essa sadia qualidade de vida,
prejudica toda a coletividade, principalmente as gerações futuras, ainda mais, com
o desperdício da água proveniente do afloramento do lençol.
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 9 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
7ª Promotoria de Justiça de GoiâniaMeio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo
Incumbe ao Poder Público proteger e prezar pela permanência do
equilíbrio, interditando as práticas que coloquem em risco sua função ecológica ou
provoquem a extinção dos recursos.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais assim dispôs:
REEXAME NECESSÁRIO E APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - ESTAÇÃODE TRATAMENTO DE ESGOTO (ETE) - NÃO IMPLEMENTAÇÃO - LANÇAMENTODOS DEJETOS 'IN NATURA' EM CURSOS D'ÁGUA - PROTEÇÃO CONSTITUCIONALAO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO - NÃO VIOLAÇÃO AOPRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES - MULTA COMINATÓRIA -POSSIBILIDADE - TERMO INICIAL. - A Constituição Federal, em seu artigo 225,caput, impõe ao Poder Público o dever de defender e preservar o meioambiente ao dispor que "Todos têm direito ao meio ambienteecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial àsadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade odever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações." - Acoleta e destinação dos esgotos urbanos é espécie de serviço público geralou universal, o qual é prestado a todos os cidadãos e, por se tratar deserviço essencial, inserido no direito social ao saneamento básico, deverá serprestado de forma adequada à saúde pública e à proteção do meioambiente, evitando-se que o esgoto sanitário atinja cursos d'água, com o fitode perpetuar os recursos naturais para as próximas gerações. - Não há quese falar em ingerência do Poder Judiciário na esfera do Poder ExecutivoMunicipal, de forma que estaria configurado o desrespeito ao princípio daseparação dos poderes e da razoabilidade, porquanto não hádiscricionariedade do administrador público frente a direitos consagradosconstitucionalmente. - Constatada a obrigação da concessionária deconcluir a construção de estação de tratamento de esgoto, que consiste emetapa final da ligação do Município de Capelinha à rede de esgoto compossibilidade efetiva de seu tratamento, não há como estabelecer prazosdiversos para a conclusão da obra e a obrigação de não despejar naságuas do córrego que cruza o Município os resíduos sem tratamento, sobpena de impor-se ao ente público e à concessionária obrigação inexequível(Des. Edgard Penna Amorim)(TJ-MG - AC: 10123100004407002 MG, Relator:Paulo Balbino, Data de Julgamento: 18/02/2016, Câmaras Cíveis / 8ªCÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 02/03/2016)
In casu, com a ausência da devida fiscalização, bem como com a
emissão de licenças sem considerar os gravíssimos impactos ambientais de
determinados empreendimentos, o serviço público essencial não tem sido prestado
com fins de preservação do parque/nascente e da água, que é inutilizada com
consequência do afloramento do lençol sem drenagem de recirculação.
A obrigação de fiscalizar, reparar e sancionar sobre matéria
ambiental é indisponível ao Poder Público, sendo que, as ações dos órgãos e
entidades públicas devem ser concretizadas através do exercício do poder de
polícia, visando ao bem-estar da coletividade. Quanto aos agentes poluidores, o
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 10 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
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Poder Público deverá estabelecer um molde de ajustamento de conduta que leve
à cessação das atividades nocivas. Ainda, se não forem suficientes, far-se-á
necessária a imposição judicial para o cumprimento das demandas. O poder
público, neste caso, não conseguiu sanar ou ao menos mitigar os impactos dos
empreendimentos que rebaixam o lençol freático, tornando-se imprescindível a
atuação jurisdicional.
Ainda extraído das prerrogativas constitucionais, o Princípio do
Poluidor-Pagador trata da intolerância com a poluição e qualquer tipo de
degradação ambiental. Para que haja condenação à tais práticas, busca-se, por
meio de sanções econômicas, interromper qualquer interesse individual que tente
prevalecer ao do coletivo, com relação ao meio ambiente.
Quando um empreendimento polui ou degrada o meio ambiente
deve-se aplicar a ele não apenas medidas mitigadoras do problema, mas também
punições que o impeça de realizar novamente. Não se fala em tolerar um impacto
negativo ao meio ambiente por um preço, tampouco não deve haver valor para
autorização de atividades que degradem o ambiente. O valor econômico não é o
fim das obrigações, é um meio, inclusive, educativo a fim de evitar novas práticas.
Quando se fala em questão econômica, tanto os grandes empresários quanto o
cidadão comum poluidor, pensarão duas vezes, principalmente, porque esta
medida será ainda cumulada com outros tipos de sanções e/ou punições previstas
no ordenamento jurídico.
A intenção é tentar reverter qualquer ideia de impunidade no
âmbito do Direito Ambiental com aplicação de valores significativos ao invés da
ideia de exigir verba para autorização de atividades que se contradizem com a
manutenção da qualidade do ambiente natural. Refere-se ao princípio poluidor-
pagador (poluiu, paga os danos).
Nesse sentido, este é o entendimento jurisprudencial do Tribunal Regional
Federal da 1ª Região, consagrando a disposição de que o meio ambiente não
pode ser refém da motivação econômica privada:
AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ÁREA DEPRESERVAÇÃO PERMANENTE (RIO GRANDE). SUSPENSÃO DE ATIVIDADESAGRESSORAS AO MEIO AMBIENTE. PRINCÍPIOS DA REPARAÇÃO INTEGRAL E DO
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 11 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
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POLUIDOR-PAGADOR. CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER (REPARAÇÃODA ÁREA DEGRADADA E DEMOLIÇÃO DE EDIFICAÇÕES), DE NÃO FAZER(INIBIÇÃO DE QUALQUER AÇÃO ANTRÓPICA SEM O REGULAR LICENCIAMENTOAMBIENTAL). POSSIBILIDADE. IRRETROATIVIDADE DO NOVO CÓDIGO FLORESTALPOR IMPERATIVO DO PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO ECOLÓGICOEM DEFESA DO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO. ORIENTAÇÃO DA CARTAENCÍCLICA SOCIAL-ECOLÓGICA LAUDATO SI, DO SANTO PADRE FRANCISCO,NA ESPÉCIE DOS AUTOS. I - "Na ótica vigilante da Suprema Corte, "aincolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interessesempresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramenteeconômica, ainda mais se tiver presente que a atividade econômica,considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentreoutros princípios gerais, àquele que privilegia a "defesa do meio ambiente"(CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções demeio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambienteartificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral (...) O princípio dodesenvolvimento sustentável, além de impregnado de carátereminentemente constitucional, encontra suporte legitimador emcompromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representafator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e asda ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado,quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionaisrelevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometanem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitosfundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bemde uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favordas presentes e futuras gerações"(ADI-MC nº 3540/DF - Rel. Min. Celso deMello - DJU de 03/02/2006). Nesta visão de uma sociedade sustentável eglobal, baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais,na justiça econômica e numa cultura de paz, com responsabilidades pelagrande comunidade da vida, numa perspectiva intergeracional, promulgou-se a Carta Ambiental da França (02.03.2005), estabelecendo que "o futuro ea própria existência da humanidade são indissociáveis de seu meio naturale, por isso, o meio ambiente é considerado um patrimônio comum dos sereshumanos, devendo sua preservação ser buscada, sob o mesmo título que osdemais interesses fundamentais da nação, pois a diversidade biológica, odesenvolvimento da pessoa humana e o progresso das sociedades estãosendo afetados por certas modalidades de produção e consumo e pelaexploração excessiva dos recursos naturais, a se exigir das autoridadespúblicas a aplicação do princípio da precaução nos limites de suasatribuições, em busca de um desenvolvimento durável. A tutelaconstitucional, que impõe ao Poder Público e a toda coletividade o deverde defender e preservar, para as presentes e futuras gerações, o meioambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida,como direito difuso e fundamental, feito bem de uso comum do povo (CF,art. 225, caput), já instrumentaliza, em seus comandos normativos, o princípioda precaução (quando houver dúvida sobre o potencial deletério de umadeterminada ação sobre o ambiente, toma-se a decisão maisconservadora, evitando-se a ação) e a consequente prevenção (pois umavez que se possa prever que uma certa atividade possa ser danosa, eladeve ser evitada), exigindo-se, assim, na forma da lei, para instalação deobra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradaçãodo meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se darápublicidade (CF, art. 225, § 1º, IV)" (AC 0002667-39.2006.4.01.3700/MA, Rel.DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE, QUINTA TURMA, e-DJF1 p.172de 12/06/2012). II - Na visão holística da Carta Encíclica Social-EcológicaLaudato Si, do Santo Padre Francisco, datada de 24/05/2015, "Toda aintervenção na paisagem urbana ou rural deveria considerar que os
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diferentes elementos do lugar formam um todo, sentido pelos habitantescomo um contexto coerente com a sua riqueza de significados. Assim, osoutros deixam de ser estranhos e podemos senti-los como parte de um" nós"que construímos juntos. Pela mesma razão, tanto no meio urbano como norural, convém preservar alguns espaços onde se evitem intervençõeshumanas que os alterem constantemente. (...) Neste contexto, sempre sedeve recordar que"a proteção ambiental não pode ser assegurada somentecom base no cálculo financeiro de custos e benefícios. O ambiente é umdos bens que os mecanismos de mercado não estão aptos a defender ou apromover adequadamente". Mais uma vez repito que convém evitar umaconcepção mágica do mercado, que tende a pensar que os problemas seresolvem apenas com o crescimento dos lucros das empresas ou dosindivíduos. Será realista esperar que quem está obcecado com amaximização dos lucros se detenha a considerar os efeitos ambientais quedeixará às próximas gerações? Dentro do esquema do ganho não há lugarpara pensar nos ritmos da natureza, nos seus tempos de degradação eregeneração, e na complexidade dos ecossistemas que podem sergravemente alterados pela intervenção humana". IV- Na hipótese dos autos,a edificação descrita nos autos foi erguida, sem o prévio, regular ecompetente licenciamento ambiental e sem observância dos marcosregulatórios da legislação ambiental, aplicável na espécie, no interior deÁrea de Preservação Permanente (APP Rio Grande), assim definida nalegislação e atos normativos de regência, a caracterizar a ocorrência dedano ambiental, impondo-se, assim, além da sua demolição, a adoção demedidas restauradoras da área degradada, bem assim, a inibição da práticade ações antrópicas outras, desprovidas de regular autorização do órgãoambiental competente, apurando-se o quantum indenizatório do danomaterial ao meio ambiente agredido através de competente prova pericial,na fase de liquidação do julgado, por arbitramento (CPC, arts. 475-C e 475-D). Precedentes da Primeira e Segunda Turmas do STJ. "A recusa deaplicação, ou aplicação truncada, pelo juiz, dos princípios do poluidor-pagador e da reparação in integrum arrisca projetar, moral e socialmente, anociva impressão de que o ilícito ambiental compensa, daí a respostaadministrativa e judicial não passar de aceitável e gerenciável" risco oucusto normal do negócio". Saem debilitados, assim, o caráter dissuasório, aforça pedagógica e o objetivo profilático da responsabilidade civilambiental (=prevenção geral e especial), verdadeiro estímulo para queoutros, inspirados no exemplo de impunidade de fato, mesmo que não dedireito, do degradador premiado, imitem ou repitam seu comportamentodeletério" (REsp 1145083/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDATURMA, julgado em 27/09/2011, DJe 04/09/2012). VI - Apelação desprovida.Sentença confirmada. (TRF-1 - AC: 00048563820074013802, Relator:DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE, Data de Julgamento:09/09/2015, QUINTA TURMA, Data de Publicação: 16/09/2015).
Dessarte, o direito fundamental-constitucional à moradia digna (art. 1º,
inc. III, c/c art. 6º, ambos da CF/88) e o direito à cidade sustentável constituem-se
nos parâmetros norteadores da promoção da política urbana idealizada pelos arts.
182 e 183 da Constituição, a qual, impõe ao Município o dever de evitar e corrigir as
distorções do crescimento urbano desordenado e seus efeitos negativos sobre o
meio ambiente, ou seja, deve o Poder Público direcionar, da melhor maneira, o
direito a moradia e desenvolvimento urbano e social, resguardando o direito ao
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meio ambiente ecologicamente equilibrado, à cidade sustentável e, quando e se
necessário, realizar as devidas inspeções de maneira a ajustar os problemas
emergidos.
2.4. Da Política Nacional do Meio Ambiente – Lei 6.931/1981
A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente foi instituída com objetivo
de preservar, melhor e recuperar a qualidade ambiental propícia à vida, buscando
propiciar condições para o necessário desenvolvimento socioeconômico,
considerando a segurança nacional e a dignidade da pessoa humana.
Neste sentido, assim prevê o art. 9º da Lei de Política Nacional do Meio
Ambiente:
Art. 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:
I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
II - o zoneamento ambiental;
III - a avaliação de impactos ambientais;
IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente
poluidoras;
V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou
absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;
VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder
Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção
ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;
(Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989).
Quando parâmetros ambientais são positivados, busca-se direcionar o
crescimento econômico associado à preservação/recuperação ambiental. Nesta
perspectiva que são estabelecidos parâmetros de qualidade ambiental; avaliação
das consequências de determinados projetos; o devido licenciamento e a revisão
de atividades poluidoras, considerando os impactos e viabilidade do projeto.
Quando os empreendimentos localizados na Zona de Amortecimento do
Parque afloram o lençol freático, políticas tais as quais mencionadas precisam ser
aplicadas.
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Assim, carece de incentivos à instalação de equipamentos, no caso de
um sistema de drenagem que reabasteça o lençol, para efetiva melhoria da
qualidade ambiental, uma vez que quando não utilizada a água essencial à vida
biótica, não apenas os seres humanos sofrem agressivamente, diretamente, as
consequências são no meio ambiente de seres vivos como um todo.
Da Política Nacional do Meio Ambiente, o princípio da prevenção e
reparação está explícito no artigo 2º da lei 6.938/81, no que diz respeito à proteção
da área ambiental:
Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a
preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à
vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento
socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas
representativas;
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
O dever de proteger, expressamente elencado, demonstra a
responsabilidade do Poder Público em evitar a consumação de danos ao meio
ambiente, conforme pacificado em convenções, declarações e sentenças de
tribunais internacionais.
Será uma prevenção eficaz aquela que se fizer de dados,
pesquisas, informações específicas e organizadas a fim de identificação científica
do local e de possíveis irregularidades. A prevenção impõe-se em razão do caráter,
como neste caso, irreversível dos prejuízos causados ao meio ambiente e da difícil
reparação deste tipo de dano.
No Brasil, é adotado por meio da lei de Política Nacional do Meio
Ambiente, a responsabilidade objetiva ambiental, tendo a Carta Magna já
pacificado como imprescindível a obrigação de reparação dos danos causados
ao meio ambiente.
Para Paulo Affonso (Direito Ambiental Brasileiro, p.355), o Direito
Ambiental engloba as duas funções da responsabilidade civil objetiva: a função
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preventiva – procurando por meio eficazes, evitar o dano – e a função reparadora –
tentando reconstituir e/ou indenizar os prejuízos ocorridos.
Ainda, como sabido e mencionado, assevera José Juste Ruiz “O
princípio mesmo da responsabilidade e reparação dos danos ambientais constitui,
sem dúvida, um dos princípios reconhecidos no Direito Internacional do Meio
ambiente”.
Assim, poderão ser concedidas medidas jurisdicionais com escopo
de fortalecer tais princípios, conforme decisão a seguir:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AMINISTRATIVO. AMBIENTAL. COLETA E ANÁLISE
DE AMOSTRAS DAS ÁGUAS MARÍTIMAS. FEPAM. - Os termos do artigo 225 da
Constituição Federal, é direito de todos o meio ambiente ecologicamente
equilibrado, já que constitui bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. - O
deferimento de tutelas de urgência em matéria ambiental, além de
concretizar mandamento constitucional, encontra apoio no artigo 12 da Lei
7.347/85, a qual regula a ação civil pública. Segundo citado dispositivo, o juiz
poderá conceder mandado liminar, constatadas a presença de periculum in
mora, ou seja, o risco de dano, e de fumus boni iuris, que diz respeito à
plausibilidade do direito material. - Razoável que a FEPAM seja impedida de
repassar à CORSAN os serviços de coleta e análise da de amostras das
águas marítimas do litoral norte gaúcho para monitoramento de
balneabilidade, alterando, por meio de Convênio, e sem prévio estudo e
amplo debate, procedimento que há muitos anos é de responsabilidade do
próprio órgão ambiental. (TRF-4 - AG: 50534543020154040000 5053454-
30.2015.404.0000, Relator: RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA, Data de
Julgamento: 09/03/2016, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: D.E.
10/03/2016).
Neste sentido, é imperiosa e medida urgente de levantamento geral de
todos os empreendimentos, pela AMMA com apoio da SEPLANH, que realizam o
rebaixamento do lençol freático, especialmente na Zona de Amortecimento do
Parque Flamboyant, mas não redirecionam à água de forma a reabastecer a
bacia, e seguidamente, ordenar os empreendimentos à obrigação de fazer de se
adequarem ao sistema de drenagem, nos termos da Lei Municipal 9.511/2014 a
seguir explicitada.
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2.4.1. Da Unidade de Conservação do Parque Flamboyant
O Parque Flamboyant é um Parque Municipal, é uma Unidade de
Conservação resguardada nos termos da Lei 6.931/1981- Lei de Sistema Nacional
de Unidades de Conservação, localizado no Setor Jardim Goiás, entre as ruas 46, 15,
12, 55, 56, 73, 58 e Avenida H, com área de 125.572,71m² e 1.937,53 m de perímetro.
As Unidades de Conservação são respaldadas pelo art. 225, §1º, inciso III,
da Constituição Federal de 1988, pela Lei Federal nº 9.985/00, pelo Decreto Federal
nº 4.340/02 e Lei Estadual nº 14.247/02, tem a seguinte definição nos termos do art.
2º, inciso I, Lei Federal nº 9.985/00:
Art. 2º Para fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais,
incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes,
legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e
limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteção;
Toda Unidade de Conservação tem ao seu redor uma área de proteção,
as Zonas de Amortecimento. Tem por objetivo “filtrar” os impactos negativos das
atividades que ocorrem da Unidade, tais como: poluição e avanço da ocupação
humana, especialmente nas unidades próximas a áreas intensamente ocupadas.
Na situação fática, a Zona de Amortecimento do Parque Flamboyant
não tem prestado à sua função de amenização de impactos negativos,
especialmente quanto à ocupação humana. Os prédios localizados na ZA do
Parque afloram o lençol freático, desperdiçam água proveniente deste,
descumprem determinação legal e, sobretudo, contribuem para o desequilíbrio do
meio ambiente.
Ademais, o afloramento do lençol, diminui, gradativamente, a força das
nascentes próximas, estas que abastecem o parque, principalmente a nascente do
Córrego Sumidouro, afluente da margem direita do córrego Botafogo, responsável
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pelo abastecimento de água do Parque. Com esta diminuição contínua, a longo
prazo, tempo este que não consideram, a lâmina d'água diminuirá cada vez mais
até que a nascente se desative, consequentemente os lagos do parque secarão.
Sem água, a unidade de conservação será um amontoado de terras ao redor de
uma escavação seca.
2.5. Do Estatuto das Cidades – Lei 10.257/2001
O dispositivo legal Lei Federal nº 10.257 de 10 de julho de 2001, a fim de
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da
propriedade urbana determinou algumas diretrizes previstas no art. 2º do
dispositivo:
(…)VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ouinadequados em relação à infraestrutura urbana;g) a poluição e a degradação ambiental;
Da análise do dispositivo, depreende-se que o legislador preocupou-se
em positivar diretrizes a fim de melhor orientar a expansão urbana, de modo a,
entre demais circunstâncias, tanto evitar parcelamentos, edificações e usos
excessivos ou inadequados em relação à estrutura urbana, como a poluição e
degradação ambiental.
As limitações de ordem pública relativas a uso e ocupação do solo e a
funcionalidade e estética da cidade, objetivam propiciar melhor qualidade de vida
à população. Tais preceitos atendem à coletividade como um todo, uma vez que
preservam os recursos naturais destinados ao conforto da população e, para o
bem-estar geral, consagram os critérios de desenvolvimento do Município.
Tais preocupações não foram analisadas para permissão de construção
nos arredores do Parque Flamboyant, na sua Zona de Amortecimento, legalmente
protegida.
A especulação imobiliária, gerando uma ocupação desenfreada na
região, supervalorizou os interesses lucrativos do local, sem considerar os impactos
ambientais altamente relevantes.
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O mesmo art. 2, inciso XIII do Estatuto das Cidades, dispõe também como
diretriz:
(…)XIII – audiência do Poder Público Municipal e da populaçãointeressada nos processos de implantação de empreendimentos ouatividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meioambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança dapopulação;
O Poder Público Municipal deve reunir-se com a população interessada,
em audiência pública, para discutir a implantação de projetos potencialmente
negativos sobre o meio ambiente, neste caso, meio ambiente natural, adequado
para o lazer de todos, com a criação do Parque.
A quem possa interessar a excessiva concentração demográfica na
região, não considera as diretrizes previstas no Estatuto das Cidades. Reunir-se com
a população interessada para discutir os impactos de determinados
empreendimentos na região é de suma importância. Discutir quais serão os efeitos
sofridos com esta demasiada construção de empreendimentos nos arredores do
Parque. Se estes efeitos foram ponderados para autorização da construção, se, ao
menos, foram solicitados os documentos necessários para esta análise. No caso dos
arredores do Pq. Flamboyant, pensou-se, em algum momento, nas diretrizes
determinadas pelo Estatuto das Cidades, em busca do regular desenvolvimento
urbano?
A desordenada ocupação do solo, resultante da não-observância às
normas urbanísticas, traz como consequências graves problemas para o adequado
ordenamento das atividades no espaço urbano, com comprometimento da
qualidade de vida e do meio ambiente, como por exemplo, a falta de sistema de
captação e drenagem de águas e impermeabilização dos terrenos, que impede a
recarga do lençol freático, podendo ocasionar, inclusive, a concentração das
águas no solo, provocando enchentes, o que acaba por afetar a circulação, a
habitação e a saúde pública. A não-observância às normas edilícias que
estabelecem afastamentos frontais e laterais dos imóveis impede a circulação do ar
e a iluminação das residências, colocando, em questão, mais uma vez, o direito
constitucionalmente garantido ao meio ambiente equilibrado.
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Os impactos já sentidos diariamente vão desde o intenso tráfico na
região, com péssimas condições do capeamento asfáltico, a falta de segurança
pública, até os não percebíveis socialmente como o impacto à reserva de água,
pelo afloramento do lençol freático.
Novamente, o dispositivo aqui discorrido, determina maneiras para
melhor viabilização do adensamento populacional, estes que, não foram
observados para a devida construção dos empreendimentos. O Município de
Goiânia, a Agência Municipal do Meio Ambiente e as Construtoras não estão,
sequer, procurando medidas para amenização dos impactos ambientais e
urbanísticos, de conhecimento geral e notório, cotidianamente vividos. A quem
possa interessar a supervalorização da região, com certeza, não considera os
interesses coletivos, são interesses, exclusivamente, lucrativos.
2.6. Do Plano Diretor Do Município de Goiânia
Para garantir os objetivos previstos no Estatuto das Cidades, o
planejamento municipal deve se dar através do Plano Diretor.
O Plano Diretor de Goiânia assim prevê no art. 168:
Art. 168. A localização, construção, instalação, ampliação, modificação e
operação de empreendimentos e atividades utilizadores de recursos
ambientais considerados, efetiva ou potencialmente, poluidores, bem como
empreendimentos e atividades capazes, sob qualquer forma, de causar
significativa degradação ambiental, dependerão da análise da tabela de
incomodidade e a depender do porte do empreendimento, de prévio
licenciamento do órgão municipal competente, nos termos desta Lei.
Afere-se do respectivo dispositivo legal que a instalação de
empreendimentos utilizadores de recursos ambientais potencialmente poluidores,
como os prédios localizados na Zona de Amortecimento do Parque, carecem de
prévio licenciamento ambiental do órgão competente, no caso, da Agência
Municipal do Meio Ambiente.
Embora a emissão do licenciamento ambiental para construções
potencialmente poluidoras seja obrigatória, a autorização de edificação destes
empreendimentos foi emitida sem a devida observância da lei. O órgão fiscalizador,
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AMMA, sabendo de todos os problemas causados pela excessiva e complexa
exploração da Unidade de Conservação, não se ateve a conter as emissões, ao
contrário, sem saber se pressionada pelo setor imobiliário, concedeu tais licenças
sem considerar as consequências aqui levantadas.
Ainda em atenção ao Plano Diretor do Município, foram estabelecidas
áreas de restrição à ocupação, para as quais foram determinadas normas de
restrição parcial ou absoluta para a ocupação humana. Assim dispõe o art. 122, §2º
do Plano Diretor de 2007:
Art. 122. Os parâmetros urbanísticos admitidos na Macrozona Construída,
referentes ao Índice de Ocupação, à altura máxima e aos afastamentos
frontal, lateral e de fundo resultarão da aplicação de uma progressão
matemática gradual por pavimentos, conforme estabelecido na Tabela de
Recuos, constante do Anexo X, desta Lei.
§ 2º Os parâmetros urbanísticos a serem admitidos para as Unidades de Uso
Sustentável, integrantes da unidade territorial definida como Áreas de
Restrição à Ocupação Urbana são considerados especiais e de baixa
densidade, preponderantes sobre os demais e sujeitar-se-ão ao seguinte:
I – dimensão mínima dos lotes de 360m² (trezentos e sessenta metros
quadrados), admitindo-se duas economias por unidade imobiliária;
II – Índice de Ocupação máximo do terreno, igual a 40% (quarenta por
cento);
III – Índice de Permeabilidade do terreno, igual ou maior que 25% (vinte e
cinco por cento);
IV – recuos ou afastamentos, frontal, lateral e de fundo –atender a Tabela de
Recuos sem admissão de excepcionabilidades;
V – altura máxima da edificação, igual 9,00 m² (nove metros).
VI – garantia de 10% (dez por cento) de área de cobertura vegetal interna
ao lote.
O Parque Flamboyant como uma Unidade de Conservação, detém de
prerrogativas especiais de preservação, ora descritos anteriormente. No entanto, os
empreendimentos ao seu redor sustentam aproximada e absurdamente mais de
100m de altura, como bem comprovam o número de pavimentos dos
empreendimentos informados no Ofício nº 0214/2015 (cópia anexa).
Ainda mais, a ocupação dos terrenos é elevadíssima, bem como a
permeabilidade do solo é insuficiente, tanto que a região enfrenta problemas com
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escoamento da água da chuva, o que evidencia, mais uma vez, a preocupação
com o destino da água na região. Além do desperdício da água do lençol freático,
os empreendimentos não detém um sistema de infiltração para captação
adequada das águas pluviais.
A urbanização é tarefa eminentemente pública e o empresário deve
submeter seu intento às conveniências da coletividade, para que este seja tido por
viável, dentro da obrigação das determinações legais.
Finalmente, o Plano Diretor contemplou o Parque Flamboyant como área
especial sujeita às medidas de preservação, nos termos do art. 133:
Art. 133. As Áreas de Programas Especiais de Interesse Ambiental
compreendem trechos do território sujeitos a programas de intervenção de
natureza ambiental, visando a recuperação e conservação de áreas
degradadas, de ecossistemas aquáticos, de fragmentos de vegetação
nativa, de recuperação de solos e contenção de processos erosivos, por
meio da implantação de projetos públicos, ou parcerias público-privadas,
compreendendo:
(...)
IV – Parque Flamboyant;
(…)
Assim, a obediência ou a ofensa aos padrões urbanísticos
necessariamente projeta seus efeitos por toda a parte, alcançando
indiscriminadamente quem more ou, eventualmente, transite pela cidade. Está em
causa a defesa de condições adequadas para a vida coletiva, instaurando-se
entre os possíveis interessados “tão firme união que a satisfação de um só implica
de modo necessário a satisfação de todos; e, reciprocamente, a lesão de um só
constitui, lesão da inteira coletividade”.
Neste sentindo, a fim de evitar ou recuperar destas lesões, cabe ao Poder
Público buscar maneiras de intervir na região a fim de preservar o bem precioso no
lençol freático, a água, tentar amenizar os impactos decorrentes dos problemas
atuais e, ainda, contribuir para recuperação da região como um todo, observando
a questão do assoreamento do solo e dos cuidados com a conservação do
Parque.
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2.7 Do Plano de Drenagem Municipal – Lei Municipal nº 9.511/2014
A Lei Municipal nº 9.511 de 15 de dezembro de 2014, postulou
determinadas condições para empreendimentos que rebaixam o lençol freático, a
saber:
Art. 18. O rebaixamento do lençol freático indicado nos projetos de
edificações, a serem aprovados pelos órgãos municipais de
planejamento urbano, de meio ambiente, de obras e infraestrutura,
deverá seguir as condições subsequentes:
I - em caráter provisório, somente no período de fundação da obra e
obras correlatas, desde que não ultrapasse 180 (cento e oitenta)
dias, a drenagem da água poderá ser lançada diretamente em
galerias pluviais e, em casos excepcionais, buscar outra alternativa,
conforme orientações técnicas dos órgãos municipais de meio
ambiente, de obras e infraestrutura;
II - em caráter permanente desde que condicionado a:
a) Projeto de Drenagem comprovando a viabilidade técnica de
recirculação adequada da água na mesma microbacia
hidrográfica, de forma a mitigar o impacto através da infiltração da
água resultante da drenagem do lençol, em estruturas como poços
de recarga ou vala de infiltração, situados, prioritariamente, a
montante, observando-se a direção e sentido do escoamento do
manancial, de uma nascente e ou áreas verdes públicas, para
conservação e renovação da lâmina dos espelhos d’água e
manutenção da qualidade da água;
b) Laudo Técnico de Sondagem a ser realizado preferencialmente no
final da estação de maior precipitação pluviométrica ou em
qualquer época, desde que comprovada tecnicamente a oscilação
do lençol freático;
Embora a lei seja datada de 2015 e muitos empreendimentos tenham se
concretizado anteriormente, os edifícios devem se adequar à nova determinação
legal. Ademais, aqueles que ainda estão em fase de aprovação para construção e
realizarão o rebaixamento do lençol, deverão apresentar seu projeto de drenagem
como condição para emissão do alvará, nos termos legais apresentados.
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 23 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
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Ainda que as aprovações dos empreendimentos em questão tenham
ocorrido em tempo sem a existência da Lei de Drenagem 9.511/2014, o Plano
Diretor, o Estatuto das Cidades e a Política Nacional do Meio Ambiente garantiam
políticas de preservação ao meio ambiente e, alternativas encontradas para
conservação das águas do lençol freático são primordiais para o equilíbrio deste
meio natural.
Como comprova a documentação anexa, as edificações em questão
realizam o rebaixamento permanente do lençol do freático, porém, não executam
métodos para recirculação da água de maneiras a reabastecer o lençol. Não
tentam, pela infiltração da água proveniente do lençol, mitigar os inúmeros
impactos já relatados.
Ainda, como afere notícia anexa do Jornal “O Popular”, datada em
12/03/2016, os prédios que precisam realizar a drenagem da água proveniente do
rebaixamento do lençol freático, a drenam e a direcionam para o logradouro
público, descumprindo a proibição do inciso IV, do art. 18 da Lei 9.511/2014, a
saber:
(…)
IV - fica proibido o lançamento de qualquer água resultante de
drenagem permanente do lençol na estrutura pluvial urbana e
diretamente no corpo d’água natural, bem como não será admitido
sua utilização para outros fins que não a infiltração de acordo com
análise técnica da situação ou condição da infiltração, exceto a
vazão ocorrida no extravasor como mecanismo de segurança;
Apesar das multas aplicadas pela inadequação à disposição legal, o
problema persiste, os prejuízos se multiplicam, o meio ambiente sofre e, apesar de
não parecer, a coletividade arca e arcará com as consequências.
Extrajudicialmente, as tentativas foram infrutíferas, à adequação a um
sistema que devolva à água drenada à bacia hidrográfica do local é
determinação em lei, é prerrogativa urgente para assegurar esse bem tão precioso,
para garantir o direito ao meio ambiente equilibrado.
Ressalta-se que o problema do afloramento do lençol freático é
agravado na Zona de Amortecimento do Parque Flamboyant em razão de tratar-se
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de região de Unidade de Conservação, próxima à nascente e objeto de
prerrogativas específicas. No entanto, rebaixar o lençol sem observar as
determinações do Plano de Drenagem em comento é descumprir a lei. Por tal que,
a apresentação do Plano de Drenagem é condição para autorização de
construção para QUALQUER, OU SEJA, TODOS, os empreendimentos do município
que realizam o rebaixamento do lençol freático.
Ora, os impactos negativos são agravados nos arredores das Unidades
de Conservação, como por exemplo, o Parque Flamboyant, mas não só neste. Em
Goiânia, todos os parques têm prerrogativas especiais determinadas no Plano
Diretor e todos enfrentam problemas idênticos ao aqui explicitado: Parque Areião,
Parque Cascavel, Parque das Rosas, Parque Vaca Brava e Bosque dos Buritis.
Ainda que não seja ao redor dos Parques, qualquer empreendimento
que aflora o lençol e não reabastece a bacia hidrográfica, não utilizando a água
desviada, não observa as garantias legais aqui descritas e, sobretudo, viola o direito
ao meio ambiente equilibrado.
No âmbito do município de Goiânia, com a atual vigência da Lei
9.511/2014 – Lei de Drenagem, todos os alvarás para construção devem ser
concedidos com observância à determinação do Plano de Drenagem da capital.
Desviar água do lençol freático sem qualquer destinação é infringir direito
constitucional ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, violar bem de
domínio público juridicamente tutelado e, principalmente, desconsiderar uma das
maiores (já raras), riquezas do mundo, a água. Trata-se de água límpida do lençol
freático que tem sido irracionalmente violada, enquanto vive-se, em todo país, crise
de racionamento de água potável.
2.7.1. Do Plano de Manejo do Parque Flamboyant
O Plano de Manejo do Parque Flamboyant foi instituído a fim de
descrever as condições do parque e projetar objetivos com vista à máxima
conservação da estrutura natural da Unidade de Conservação. Deste modo, o
Plano de Manejo preocupou-se em assegurar as prerrogativas do meio natural,
associada ao desenvolvimento econômico-social da região. Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 25 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
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Dentre as disposições do Plano, há determinação de que as construções
deverão estar em harmonia com a paisagem natural e as nascentes encontradas
no interior do Parque deverão ser preservadas com adoção de medidas tais quais:
- coibir escavação de subsolos, em períodos críticos, onde o perfil do lençol
freático possa atingir a cota de pico;
- separação de águas servidas das águas de drenagem, acumulando-as em
reservatórios independentes para a elevação por bombas elétricas;
- aumento da permeabilidade do solo, nos novos e antigos
empreendimentos do entorno, tanto a 100 m do Parque, quanto nos grandes
empreendimentos, como Supermercados, Shopping Centers entre outros
estabelecimentos comerciais;
- aumento de vegetação às margens da nascente e redução de pisoteio em
suas margens.
A impermeabilização do solo e a gradativa interferência no lençol
freático, decorrentes das inúmeras construções no entorno do Parque, ameaçam
gravemente as nascentes, podendo levar, ao longo do tempo, o desaparecimento.
A alimentação dos lagos tem diminuído gradativamente, causando diversos
problemas à fauna e flora local, ao meio ambiente como um todo e conforme dito
anteriormente, à valorização imobiliária na região.
O Poder Público e as construtoras dos empreendimentos devem-se
atentar as prerrogativas do Plano de M anejo, especialmente na questão de
preservação às nascentes, tanto para início das construções, tanto para
adequação dos edifícios face às disfunções emergentes.
2.8. Da Responsabilidade da Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA)
Com fim de garantir o direito constitucional ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, exaustivamente descrito, para desempenhar a
função de fiscalizar a política pública ambiental no Município de Goiânia, a Lei
Complementar Municipal nº 8.537, de 20 de junho de 2007, definiu as funções da
Agência Municipal do Meio Ambiente:
Art. 27. Fica criada a Agência Municipal do Meio Ambiente - AMMA,autarquia integrante da administração indireta do Município de Goiânia,dotada de personalidade jurídica de direito público interno, com autonomiaadministrativa, financeira e patrimonial, sede e foro na Cidade de Goiânia,prazo e duração indeterminado, com a finalidade de formular, implementare coordenar a execução da Política Municipal do Meio Ambiente, voltada
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ao desenvolvimento sustentável, no âmbito do território municipal,competindo-lhe especificamente:I - o licenciamento, controle, monitoramento e fiscalização de todas asatividades, empreendimentos e processos considerados, efetiva oupotencialmente poluidores, bem como daqueles capazes de causardegradação ou alteração significativa do meio ambiente, nos termos dasnormas ambientais vigentes;(...)VIII - a aplicação de penalidades aos infratores da legislação ambientalvigente, inclusive definindo medidas compensatórias, bem como exigindomedidas mitigadoras, de acordo com a legislação ambiental vigente;
A atribuição da Agência Municipal do Meio Ambiente – AMMA, é
cumprir a legislação ambiental no âmbito do Município de Goiânia, conforme
dispõe o Art. 5º, VIII, do Regimento Interno desta (Decreto nº 1878, de 31 de julho de
2014):
VIII – cumprir e fazer cumprir a legislação, normas e resoluções de caráter
ambiental no âmbito do Município, fiscalizando e promovendo a aplicação
de penalidades e/ou multas cabíveis, definindo medidas compensatórias e
as ações administrativas e judiciais necessárias ao cumprimento da
legislação, exigindo medidas mitigadoras e compensatórias do infrator;
O art. 30 do referido dispositivo, assim determina as funções do
Departamento de emissão de Licença Ambiental da Agência Municipal de
Goiânia:
Art. 30.A Diretoria de Licenciamento e Qualidade Ambiental - DIRLAQ é a
unidade da AMMA que tem por finalidade promover a coordenação,
execução e controle das ações referentes ao Licenciamento Ambiental e ao
monitoramento da qualidade do meio ambiente, no âmbito da
competência municipal. Parágrafo único.
Compete ao Diretor de Licenciamento e Qualidade Ambiental:
I - emitir parecer técnico e realizar análises e estudos para o licenciamento
da localização, construção, instalação, ampliação, modificação e operação
de empreendimentos e/ou atividades utilizadores de recursos ambientais,
consideradas efetivas e potencialmente poluidoras, bem como capazes, sob
qualquer forma, de causar significativa degradação ambiental;
Como provado, é instituída em lei a competência da AMMA para
emissão de parecer técnico para localização, construção, instalação,
consequentemente, acompanhamento de empreendimentos que causem
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significativa degradação ambiental, como é o caso daqueles que afloram o lençol
freático.
Em se tratando de localização, as análises para os licenciamentos dos
empreendimentos nos arredores do Parque não observaram as prerrogativas de
construção em Zona de Amortecimento de uma Unidade de Conservação. Apesar
de alguns empreendimentos não possuírem licença ambiental, muitos a possuem e,
se possuem quem a emitiu foi a Agência Municipal do Meio Ambiente. O art. 122,
§2º do Plano Diretor determina as condições para construção em Unidade de
Conservação, no entanto, apesar dos empreendimentos não dotarem de tais
prerrogativas, possuem licença ambiental, alguns, até, sem nenhum tipo de
compensação.
A fiscalização sobre as atividades relacionadas à proteção do meio
ambiente e dos recursos naturais também é atribuição direta desta Agência,
conforme dispõe o Art. 36, do Regimento Interno da Agência Municipal do Meio
Ambiente:
Art. 36. A Diretoria de Fiscalização Ambiental - DIRFS, é a unidade da
Agência Municipal do Meio Ambiente - AMMA, que tem por finalidade
programar, coordenar e controlar as atividades relacionadas à fiscalização
e a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais, coibindo quaisquer
ações/atividades poluidoras ou de degradação ambiental.
(...)
V - fiscalizar o uso e a exploração de recursos naturais;
(...)
XIV - fiscalizar o cumprimento dos termos da Licença Ambiental e/ou outros
termos de autorizações e licenciamento, tendo em vista os padrões e usos
permitidos;
(...)
Desta feita, resta claro que é dever da AMMA fiscalizar, autuar e
impedir o exercício de atividades potencialmente poluidoras, no caso, de
empreendimentos que exploram inadequadamente o uso do solo, com
desatenção ao recurso natural da água.
Com relação à integração ao sistema de drenagem, o artigo 26 do
Regimento da AMMA, Decreto nº 1878/2014, determina:Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 28 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
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Art. 26. Compete à Divisão de Controle de Drenagem Urbana, unidade
integrante da Gerência de Contenção e Recuperação de Erosões e Afins, e
a sua chefia:
I - coordenar a elaboração do Plano Diretor de Drenagem Urbana e da
concepção de projetos de drenagem urbana sustentável, executando os
serviços necessários à implantação dos mesmos;
Os projetos de drenagem apresentados pelas construtoras para
instalação das edificações devem ser coordenados pela Agência Municipal do
Meio Ambiente – AMMA, realizando, ainda, os serviços necessários para
implantação dos projetos.
No caso dos empreendimentos do Parque que ainda não estão
interligados ao sistema de drenagem/infiltração, devem elaborar o projeto,
apresentar à AMMA para aprovação, a Agência deve coordenar sua execução,
auxiliando no que for necessário.
O Regimento Interno da AMMA (Decreto nº 1878, de 31 de julho de 2014),
dispões, ainda, sobre as Unidades de Conservação:
Art. 51. Compete à Gerência de Unidades de Conservação – GEUNC,
unidade integrante da Diretoria de Áreas Verdes e Unidades de
Conservação:
IV - proteger as Unidades de Conservação do Município, preservando sua
biodiversidade, sua estrutura e o funcionamento dos ecossistemas para
manter e recuperar os serviços ambientais;
VI - promover ações de recuperação, conservação e preservação das Áreas
Verdes e Unidades de Conservação do Município de Goiânia, através de
manutenções adequadas, plantios e outras medidas mitigadoras;
No Ofício nº 0214/2015 verifica-se que muitos empreendimentos, não
se adequaram ao sistema de infiltração pelas trincheiras ou o fez de maneira
inadequada (conforme atesta o Parecer nº 01/2013 – GECRE/AMMA em anexo),
desconsideraram, ainda, as advertências provenientes da fiscalização,
prosseguindo na infringência às questões exaustivamente descritas.
Apesar das requisições ministeriais, há mais um de um ano a
Agência Municipal do Meio Ambiente – AMMA, não apresenta um relatório eficaz
sobre a atual situação da região. Quais e quantos empreendimentos estão
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 29 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
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adequados ao sistema trincheira ou qualquer sistema que recircule a água aflorada
de maneira a reabastecer a bacia, quantos e quais operam de forma regular, quais
as providências adotadas e o prazo para adequação. Os pareceres encaminhados
pela AMMA aduzem apenas que o sistema funciona regularmente, no entanto, as
reportagens aferem o contrário e, ainda, como notório e facilmente percebível por
quem conhece a região, há, constantemente, água escorrendo pelas ruas das
imediações do Parque.
Desta forma, a AMMA, não se ateve a tomar as medidas necessárias
para solução dos problemas, tampouco responder satisfatoriamente as requisições
ora realizadas por este órgão ministerial.
Não há óbice em relação à omissão da Agência Municipal do Meio
Ambiente em efetuar suas devidas atribuições, contribuindo para a permissão do
afloramento do lençol freático na região, sem nenhum tipo de compensação,
consequentemente colaborando para o desequilíbrio ambiental, bem como para o
regular desenvolvimento social de toda coletividade. Neste sentindo, a doutrina de
José Carlos de Freitas é incisiva ao dispor que: o Executivo promove a tutela da
ordem urbanística na medida em que aplica corretamente a respectiva legislação
e fiscaliza seu cumprimento pelos administrados. Mas pode ocorrer negligência
nessa conduta, gerando danos à coletividade, quando deixa de exercer seu poder
de polícia, na contenção das irregularidades.
2.9. Da Responsabilidade do Município de Goiânia – Secretaria Municipal de
Planejamento Urbano e Habitação
Entre as diversas competências legais da Secretaria Municipal de
Planejamento Urbano e Habitação - SEPLANH, assim disciplina o art. 31, do Decreto
nº 2869 de 26 novembro de 2015:
Art. 31. Compete à Diretoria de Análise e Aprovação de Projetos, unidade
integrante da estrutura da Superintendência da Ordem Pública, e ao seu
Diretor:
I- analisar e emitir parecer técnico conclusivo versando sobre a aprovação
de projetos de arquitetura e licenças para construção de edificações, obras
de grande porte e empreendimentos de impacto, reformas, modificação,
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 30 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
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reconstrução, acréscimo, aceite, regularização e demolição de edificações,
visando à emissão do respectivo alvará ou autorização;
Os alvarás de construção são concedidos pela Secretaria Municipal de
Planejamento Urbano e Habitação, à época chamada de SEMDUS, se tais
concessões não estão sendo emitidas à luz das legislações ambientais
minuciosamente discorridas, a Secretaria tem exercido sua competência aquém
das disposições legais, tanto federais, quanto municipais, e ainda, em inobservância
aos preceitos ambientais constitucionais.
Quando a Secretaria consente o alvará de construção, sabendo do
afloramento do lençol realizado pelos empreendimentos, mas não exige
apresentação do plano de drenagem, não remete ao órgão competente para
análise e não questiona a viabilidade da edificação naquele determinado lugar
ante aos problemas ambientais surgidos, não considera nenhuma das legislações
ambientais analiticamente desenvolvidas e nas perspectivas de evitar/amenizar
impactos ambientais devastadores.
Ademais, mesmo quando o alvará é concedido desconhecendo o
afloramento do lençol realizado pelo empreendimento, mas não é realizado sua
função fiscalizadora, e quando o é e passa a ter conhecimento do problema mas
não providencia a medida cabível para mitigação do desgaste ambiental
ocorrente, a Secretaria descumpre competência prevista no art. 4º, inciso IX, do
Decreto nº 2869/2015:
Art. 4º São competências legais da Secretaria Municipal de Planejamento
Urbano e Habitação – SEPLANH, nos termos dos art. 29, da Lei Complementar
nº 276/2015, dentre outras atribuições previstas nos incisos XXIX a XLIV deste
Regimento:
IX - a fiscalização das posturas municipais, pertinentes à legislação municipal
sobre edificações, parâmetros urbanísticos e localização e as relativas ao
desenvolvimento de atividades, procedendo às autuações e interdições,
quando couberem;
O último parecer nº 0214/2015, fl.01/41, de lavra desta Secretaria, apenas
reafirmam as informações já fornecidas pela Agência Municipal do Meio Ambiente
– AMMA, porém, como já relatado, os pareceres da AMMA são insuficientes ao
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discorrer com veracidade a atual situação da região. A Secretaria, integrante da
entidade Município, como dispõe o dispositivo acima mencionado, desempenha
função fiscalizadora e punitiva, devendo realizar a devida inspeção in loco, verificar
se procede conforme as legislações descritas, e se necessário, autuar ou interditar a
construção/empreendimento.
Para melhor esclarecimento do que foi dito, basta compreender a
necessidade de qualquer edificação urbana atender determinados critérios, tais
como taxa de ocupação, índice de permeabilidade e apresentação de plano de
drenagem para estabelecimentos que realizam o rebaixamento do lençol freático,
fixados em lei, conforme o zoneamento levado a efeito no plano diretor e em leis
municipais específicas. Não sendo observados esses requisitos, não poderá o poder
público conceder alvará de construção, o que acarretará irremediavelmente em
irreversíveis prejuízos ao meio ambiente, ao direito de toda coletividade.
Nesse contexto, o Poder Público municipal tem papel preponderante a
realizar, quer fiscalizando todas as áreas urbanas que compõe o município, para
detectar, debelar, coibir e determinar a correção de irregularidades, neste caso no
que tange à não implantação de um sistema de drenagem; quer analisando,
corrigindo e só então aprovando projetos de construção.
É exatamente pela existência de tamanha responsabilidade do
Município que a Constituição da República Federativa do Brasil prevê, em seu art.
182 que compete à Administração Municipal disciplinar, no âmbito de seu território,
o uso da propriedade com vistas ao cumprimento de sua função social.
É omissa, a SEPLANH, ao liberar alvarás de construção sem considerar os
prováveis impactos ambientais gerados pelos empreendimentos, bem como é
ineficaz em não realizar as devidas fiscalizações e adotar as medidas pertinentes à
mitigação dos impactos ambientais causados.
2.10. Da Tutela Provisória de Urgência Antecipada
Nos termos do artigo 12, da Lei nº 7.347/1985 Ação Civil Pública, é
permissivo ao Juiz conceder mandado liminar, com a possibilidade de cominação
de multa em caso de descumprimento (§ 2º), a fim de evitar dano irreparável ou
ameaça de danos.
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In casu trata-se de tutela provisória de urgência em caráter
antecedente, prevista do artigo 300 do Código de Processo Civil:
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos queevidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco aoresultado útil do processo.
O deferimento da medida ocorre para evitar um dano irreparável ou de
difícil reparação, ou seja, necessidade de que haja situação de emergência.
As reincidentes condutas exercidas pelas empresas em questão
causaram e continuam causando, além de um dano irreparável ao meio ambiente,
atingindo toda a coletividade (interesse difuso), dano irreversível e imensurável ao
meio ambiente. Desequilibram o meio natural constitucionalmente resguardado,
tutelado pelo Estado Democrático de Direito, previsto na Constituição Federal e nos
dispositivos próprios, tem caráter imaterial e material e dada a essa duplicidade,
causar-lhe dano é atingir o meio físico em suas características próprias, é violar o
direito da coletividade em desfrutar adequadamente do meio ambiente, é avariar
a sadia qualidade de vida das gerações futuras.
O fumus boni iuris está materializado nos fundamentos de direito
expostos, que demonstram de forma inequívoca a obrigação legal e constitucional
da Agência Municipal do Meio Ambiente, titular de políticas públicas, de realizar a
devida análise dos prováveis impactos ambientais de empreendimentos
potencialmente poluidores, bem como de fiscalizar a postura ambiental no
município, acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos das edificações. De igual
modo, resta demonstrada as exigências legais das construtoras em questão que, ao
gerar danos ao meio ambiente e à coletividade, descumprem determinações
legais, estabelecidas tanto pela Política Nacional do Meio Ambiente, Estatuto das
Cidades, Plano Diretor de Goiânia e Plano de Drenagem do Município, bem como
ferem preceitos ora mencionados previstos na Suprema Carta.
O periculum in mora materializa-se no contínuo agravamento dos danos
ocasionados ao coletivo, ao meio ambiente natural, decorrentes da omissão e
ineficiência administrativa por parte da AMMA, que a certo momento deixou de
realizar as devidas inspeções nos empreendimentos degradadores, ou quando o fez
não a realizou com eficiência, contribuindo, dia após dia, para deturpação das
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águas provenientes do lençol freático. O dano causado é irreparável e imensurável
ao meio ambiente físico e aos direitos difusos e futuros de toda sociedade. A cada
vez que a água drenada do rebaixamento do lençol freático é direcionada
inadequadamente, seja para o logradouro público, seja para os lagos, o direito
constitucionalmente resguardo ao meio ambiente equilibrado é violado.
O meio ambiente natural não pode suportar, diariamente, a demora por
demais extensa do julgamento deste feito. O Poder Público e as empresas precisam
fiscalizar e se adequar urgentemente.
O futuro e a própria existência da humanidade são indissociáveis de seu
meio natural, o meio ambiente é um patrimônio comum dos seres humanos, sua
preservação deve ser buscada sob o mesmo título que os demais interesses
fundamentais da nação, pois a diversidade biológica, o desenvolvimento da
pessoa humana e o progresso das sociedades são violados quando há exploração
excessiva dos recursos naturais como ocorre quando, ora já descrito, os
empreendimentos direcionam a água drenada do lençol inadequadamente, sem
reabastecê-lo, apenas retirando e saturando.
Considerando as alegações e o fundado receio de dano irreparável ou
de difícil reparação, em outras palavras, a plausibilidade do direito invocado, o
dano diário decorrente da drenagem do lençol freático, consequentemente, a
necessidade do provimento jurisdicional em caráter de urgência, consagra-se
evidentes os requisitos do art. 300, caput do Código de Processo Civil.
Pleiteia-se, o Ministério Público, pela concessão da tutela provisória de
urgência em caráter liminar a fim de compelir a AMMA à efetivamente adotar todos
os meios necessários para levantamento de TODOS os empreendimentos que
realizam o rebaixamento do lençol freático na Zona de Amortecimento do Parque
Flamboyant e não estão interligados a um sistema de drenagem, nos termos das
legislações expostas e, concomitantemente, que estes empreendimentos se
adéquem a rede de interligação ou promovam sua imediata construção com fim
de reabastecer o lençol freático ora degradado.
3. DOS PEDIDOS
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Diante do exposto, o Ministério Público do Estado de Goiás, requer em
sede liminar:
a) seja concedida liminar inaudita altera parte, em desfavor da Agência
Municipal do Meio Ambiente – AMMA, determinando a identificação de todos os
empreendimentos situados na Zona de Amortecimento do Parque Flamboyant,
construídos e em construção, bem como a apresentação de relatório/parecer
apontando as irregularidades ambientais daqueles, discriminando os que realizam o
rebaixamento do lençol freático, mas não realizam à recirculação da água
drenada com fins de realimentar o lençol, no prazo de 60 dias, sob pena de multa
diária no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais);
b) após a identificação dos empreendimentos irregulares que sejam
todos estes imediatamente compelidos a apresentarem o devido projeto de
drenagem que deverá ser submetido à aprovação da AMMA, em prazo mínimo ora
estabelecido, e, em seguida, que promovam a imediata ligação à rede de
interligação ou realizem as respectivas obras com fins de reabastecer o lençol
freático ora degradado, com prazo a ser determinado.
Quanto ao mérito, requer-se:
a) sejam os réus citados para, querendo, contestarem o pedido, sob os
efeitos da revelia;
b) sejam confirmados os pedidos da tutela provisória de urgência;
c) seja determinado que todos os empreendimentos que realizam o
rebaixamento do lençol freático, em caráter provisório ou permanente, localizados
na Zona de Amortecimento do Parque Flamboyant, promovam as adequações nos
termos das leis discorridas;
d) seja determinado que os empreendimentos existentes e futuros
localizados na Zona de Amortecimento do Parque Flamboyant, bem como o Poder
Público, observem as prerrogativas determinadas no Plano de Manejo do Parque,
sobretudo no que tange à preservação das nascentes, realizando as adequações
necessárias para garantir o meio natural no Plano definido;
e) seja determinado o dever de observância, especialmente pela
SEPLANH, às normas estabelecidas no Plano Diretor de Goiânia – Lei Complementar
nº 171/2007, bem como no Plano de Drenagem Municipal – Lei Municipal nºRua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 35 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
7ª Promotoria de Justiça de GoiâniaMeio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo
9.511/2014, a todas as obras (futuras e em andamento), para emissão de alvará de
construção, referente às Unidades de Conservação;
f) seja a Ré Agência Municipal do Meio Ambiente – AMMA, condenada
na obrigação de fazer consubstanciada em apresentar mensalmente a este juízo,
pelo período de 6 (seis) meses, relatórios técnicos referente a regularidade
ambiental de todos os empreendimentos existentes na Zona de Amortecimento do
Parque Flamboyant;
g) seja a Ré Agência Municipal do Meio Ambiente – AMMA, condenada
na obrigação de fazer consubstanciada em monitorar a execução de todas as
obras que serão realizadas na Zona de Amortecimento do Parque Flamboyant,
promovendo as medias necessárias para melhor eficácia das obras;
h) seja publicado edital, com prazo de 15 (quinze) dias, para dar
conhecimento a terceiros interessados e ao público em geral, considerando,
notadamente, o caráter erga omnes da Ação Civil Pública;
i) sejam os réus condenados ao pagamento de emolumentos e demais
cominações do estilo.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito
admitidos, com especial atenção às perícias, testemunhas e documentos, bem
como por possível emenda, retificação e complementação da presente inicial, se
porventura necessário.
Ressaltando que a causa tem valor inestimável e observando as
determinações da legislação processual, dá-se à causa o valor de R$ 1.000.000,00
(um milhão de reais) para efeitos fiscais.
Goiânia, aos 11 (onze) dias do mês de julho de 2016.
Alice de Almeida FreirePromotora de Justiça
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 36 de 36CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460.
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