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GUIA FOTOGRÁFICO A V E S D O L I T O R A L D O R I O G R A N D E D O S U L
M U S E U D E C I Ê N C I A S N A T U R A I S D A
U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D O R I O G R A N D E D O S U L
E X P O S I Ç Ã O T E M P O R Á R I A
C U R A D O R I A A L I C E P E R E I R A
P436g Pereira, Alice.
Guia fotográfico: aves do Rio Grande do Sul. Exposição
temporária / Alice Pereira ; Maurício Tavares [revisão] ;
Lucas A. Morates [organizador]. –
Imbé, RS: Alice Pereira, 2018.
49 p. : il. color.
Exposição temporária do Museu de Ciências Naturais (MUCIN) da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – Aves do litoral do
Rio Grande do Sul.
1. Aves litorâneas do Rio Grande do Sul. 2. Ecossistemas costeiros e
marinhos. 3. Tavares, Maurício. I. Morates, Lucas A. II. Título.
CDU 598.2(816.5) (036)
Ismael Cabral CRB 10/2484
MUSEU DE CIÊNCIAS NATURAIS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO
GRANDE DO SUL
GUIA FOTOGRÁFICO
IMBÉ/RS 2018
Alice Pereira
AVES DO LITORAL DO RIOGRANDE DO SUL
EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA
REALIZAÇÃO
APRESENTAÇÃO O Museu de Ciências Naturais da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (MUCIN/UFRGS), faz parte do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos – CECLIMAR, e tem sido desde sua inauguração em 1983, um espaço de referência educativo-cultural no Litoral Norte do Estado. Sua temática está relacionada às questões
ambientais, como a biodiversidade e a conservação dos ecossistemas costeiros e marinhos.
Para a exposição temporária de 2018, o tema escolhido foi o grupo das aves. Algumas grandes, outras pequenas, algumas mais
coloridas que outras. Pernas compridas, pernas curtas, bico comprido, bico pequeno. No ar, no mar, na terra. Por onde quer que andemos
sempre é possível avistar alguma ave, mesmo sem percebermos que é enorme a diversidade desses animais que habitam os diferentes
ecossistemas do nosso planeta. Ao olharmos com atenção, é possível perceber peculiaridades de
cada uma delas, porém, há algumas características que só descobrimos estudando-as. Para tanto, elaboramos a presente
exposição e este guia, no intuito de demonstrar alguns dos muitos aspectos fascinantes sobre elas. Com enfoque no litoral do Rio Grande
do Sul, mais especificamente, nas aves marinhas, limícolas e costeiras, exploramos um pouco dos hábitos e
características de cada grupo. Além disso, propomos uma reflexão sobre o estado de conservação dessas aves e como
podemos colaborar para sua sobrevivência. Com esse guia esperamos despertar o interesse para o conhecimento e
proteção desses animais.
Boa leitura!
Revisores Aline Portella Fernandes
Daniela Martins Ismael Cabral
Guilherme Tavares Nunes Maurício Tavares
Fotografias
Alexandre Azevedo Alice Pereira
Daniela Martins Ignacio Benites Moreno
Maurício Tavares
Diagramação Lucas Antonio Morates
A ZONA COSTEIRA RIO GRANDE DO SUL
A zona costeira do Rio Grande do Sul estende-se desde Torres até a Barra do Chuí, totalizando 620 km, e em alguns setores, pode alcançar mais de 100 km de largura (1). A região costeira é contínua lateralmente, retilínea e influenciada por ventos dos quadrantes SO- NE, sendo também sua característica uma costa aberta e dominada pela ação das ondas (2). Além disso, a região apresenta um complexo sistema do tipo laguna- barreira, em que barreiras arenosas aprisionam corpos lagunares de tamanhos variados. Esses corpos d'água podem estar isolados ou conectados por canais entre si, e formam uma bacia hidrográfica que se conecta com o mar (3). A planície costeira do RS é formada por um mosaico de ambientes composto por praias arenosas, lagoas, lagunas, marismas, banhados, campos, dunas, e matas de restinga (3). No entanto, esta disposição do ambi- ente costeiro é, em muitos locais, interrompida devido à urbanização.
FE
AT
UR
E
ST
OR
YA zona urbana está invariavelmente sobre os campos de dunas, estendendo-se até as margens de lagunas ou sobre as dunas frontais. As lagoas são margeadas por banhados e marismas, que também podem ocorrer nos campos de dunas em períodos de alta precipitação (3, 4, 5). As dunas móveis não são vegetadas e são constantemente modificadas pelo regime de ventos ao longo do ano (6). Os ventos de sudeste no inverno e nor-deste no verão controlam o perfil da costa, bem como os alagamentos nas margens das lagoas. Esse ambiente entre a face praial e a lagoa é rico em diversidade tanto florística quanto faunística: ofe- rece alimento e lugares ideais para ninhos e tocas de aves, pequenos mamíferos, serpentes e lagartos e outros. Além do mais, os corpos d’água temporários abrigam peixes sazonais e uma ampla diversidade de anfíbios (4), o que também atrai uma ampla diversi- dade de aves.
Lagoa do Rincão
Lagoa do Cipó
Lagoa da Porteira
Oceano Atlântico
Campos Arenosos
Campos Vegetados
Face Praial
Região da localidade de Quintão, litoral médio-leste. Imagem Google Maps, 2018.
A ZONA OCEÂNICA DO RIO GRANDE DO SUL
No que tange à porção oceânica do nosso Estado, o Rio Grande do Sul está inserido na Plataforma Sul. Esta região compreende a porção continental entre o Cabo de Santa Marta, no Estado de Santa Catarina (SC), e o Chuí (RS). Além de incluir a porção arenosa da costa, a Plataforma Sul estende-se mar adentro até o limite de 200 m de profundidade, o que se dá entre 120-200 km de distância da costa (7). As águas costeiras e oceânicas dessa unidade são influenciadas pela confluência da Corrente Marí- tima do Brasil, vinda do nordeste do país, e das Malvinas, vinda do sul da América do Sul. A primeira é uma massa de águas tropicais e a segunda de águas subantárticas, e a resultante de sua convergência são águas ricas em nutrien- tes, de características oceanográficas únicas (4).
FE
AT
UR
E
ST
OR
YA biomassa de fito e zooplâncton gerada pela abundância de nutrientes alimenta uma intrinca- da teia trófica durante todo ano. Os índices de clorofila que identificam a abundância do fito- plâncton são elevados durante o final de inverno e primavera (8). A biomassa de zooplâncton é mais alta nas águas costeiras durante o verão e nas águas oceânicas durante o inverno (9). Esses organismos sustentam uma grande biomassa de peixes, o que pode ser observado na abundância de pescarias que ocorrem no RS, um importante polo pesqueiro no Brasil. A alta produtividade biológica na Plataforma Sul, devido às caracterís- ticas oceanográficas descritas, torna-se impor- tante área de alimentação para diversos orga- nismos, entre eles as aves marinhas (10, 11, 12).
Oceano Atlântico
. Imagem Google Maps, 2018.
Rio Grande do Sul
Corrente das Malvinas
Corrente do Brasil
AVES MARINHAS
São todas aquelas que dependem do am-
biente marinho para alimentação, e devido ao alto
nível de adaptação para esse ambiente, não so-
breviveriam longe dele. Passam a maior parte da
sua vida deslocando-se pelos oceanos, permane-
cendo em terra firme apenas no período reprodu-
tivo. Quase todas as aves marinhas reproduzem-se
em ilhas oceânicas ou costeiras. Raras exceções
como os pinguins reproduzem em faixas costeiras
desabitadas. A reprodução ocorre apenas uma
vez ao ano e em algumas espécies de albatrozes
é bianual. O casal formado pode se repetir por
toda vida dos indivíduos, ou no mínimo por toda a
estação reprodutiva. O cuidado parental pelo ca-
sal é fundamental para garantir a sobrevivência
do filhote em um ambiente de recursos de difí-
cil aceso e diversos predadores. Em geral, geram
apenas um filhote em cada estação. Algumas
espécies colocam um ovo a mais, chamado de
"ovo de segurança", porém dificilmente conse-
guem sustentar dois filhotes. A reprodução se da
na primavera/verão, de acordo com o hemisfério
de origem da ave (13, 14, 10, 15).
Algumas das adaptações cruciais das aves
para sobreviver neste ambiente inóspito são:
a) Ponta do bico em a forma de gancho que possi-
bilita a captura de presas rápidas e lisas, como pei-
xes e lulas.
b)Glândulas de sal que retiram o excesso de cloreto
de sódio do sangue. Essas glândulas situam-se em
uma cavidade entalhada no crânio e posicionada so-
bre cada órbita. O sal ingerido via alimentação é
excretado em forma de solução concentrada pelas
narinas.
c) As patas são palmadas, ou seja, possuem uma
membrana entre os três dígitos anteriores. Elas exer-
cem função de remo, auxiliando na natação, na de-
colagem e no pouso dessas aves no mar.
d) A forma da asa proporciona economia de energia
durante o voo. Em oceano aberto e também nas bor-
das das ilhas predominam ventos fortes e constantes
que servem de “combustível” para o voo dessas aves.
Ao invés de baterem asas constantemente, os alba-
trozes, pardelas e petréis planam nessas correntes
de vento. Os pinguins são aves exclusivamente mer-
gulhadoras-propulsoras, deslocando-se como se
"voassem" embaixo d'água. Para tal, suas asas são
em forma de nadadeiras como as dos golfinhos.
É uma das espécies de albatroz mais
abundante nas águas do Rio Grande
do Sul junto do albatroz-de-
sobrancelha. Nidifica apenas no
Oceano Atlântico Sul, nas ilhas
subantárticas do Arquipélago de
Tristão da Cunha e na ilha de Gough.
Forrageia principalmente no Atlântico
Sul, ocorrendo desde águas costeiras à
águas profundas. Prefere águas mais
quentes, sendo dominante nas águas
oceânicas do sudoeste do Atlântico,
quando a corrente do Brasil (quente) é
mais intensa. É o menor dos albatrozes
de seu gênero, com média de
envergadura de 1,8 metros.
Exibe diferentes estágios de
plumagem e coloração de bico ao
longo da vida. O adulto (foto)
apresenta o dorso do bico de um
amarelo brilhante, a ponta rósea e as
laterais do bico e mandíbula negras.
Atinge a maturidade sexual a partir dos
5 anos. Reproduz-se anualmente e a
postura é de somente um ovo.
Albatroz-de- nariz-amarelo
Thalassarche chlororhynchos
Foto: Ignacio Benites Moreno
Albatroz-de-nariz-amarelo Thalassarche chlororhynchos Foto: Ignacio Benites Moreno
Um dos albatrozes mais comuns nas
águas do Atlântico Sul. Utilizam as
águas do sul do Brasil como área de
invernagem (fora do período
reprodutivo), e é durante os meses de
maior intensidade da Corrente das
Malvinas/Falkland em que são mais
comuns. O período reprodutivo ocorre
entre setembro e abril. A maior parte
das aves que frequentam a Plataforma
Sul nidifica nas Ilhas Malvinas/ Falkland.
O albatroz-de-sobrancelha pode
atingir a envergadura de 2 metros
e massa corporal em torno de 2 quilos.
Também apresenta diferentes
plumagens e colorações de bicos
relacionadas a idade da ave. O
indivíduo adulto (foto) exibe o bico
amarelo-alaranjado com ponta rósea.
Pode atingir a maturidade sexual a
partir dos 7 anos, quando finalmente
volta ao lugar em que nasceu para
acasalar.
Albatroz-de- sobrancelha
Thalassarche melanophris
Foto: Daniela Martins (acima) Ignacio Benites Moreno
Indivíduo jovem
Indivíduo adulto
Albatroz-de- sobrancelha Thalassarche melanophris Foto: Ignacio Benites Moreno
Restrito ao Hemisfério Sul, o
petrel-grande é migrante austral,
ocorrendo na Plataforma Sul
durante os meses de inverno. Os
juvenis são mais frequentes de
serem avistados do que os adultos
fora da temporada reprodutiva. É
carniceiro de aves e mamíferos
marinhos mortos ou moribundos.
Preda ovos e filhotes de outras
aves, além de alimentar-se de
peixes. Pinguins são parte
importante de sua dieta. Nidifica
nas ilhas de Geórgia do Sul,
Malvinas/Falkland, Gough e ilhas
próximas ao continente Antártico.
Possui plumagem diferenciada
entre o jovem e o adulto, assim
como os albatrozes. Também se
assemelham no porte aos
albatrozes menores, com uma
envergadura média de 1,8 metros,
podendo pesar quase 3 quilos de
massa corporal.
Petrel-grande Macronectes giganteus
Foto: Alice Pereira
Petrel-grande Macronectes giganteus Foto: Alice Pereira
A espécie reproduz-se tanto no Oceano
Atlântico, ao longo da costa da Argentina e
Ilhas Malvinas/Falkland, como também no
Oceano Pacífico, no Chile. Os indivíduos da
costa Atlântica iniciam sua migração de inverno
saindo de suas colônias em meados de março
dirigindo-se para norte do continente sul-
americano, chegando ao litoral do Uruguai e
Brasil. Retornam em meados de setembro para
as colônias de origem. O sul do Brasil é área de
invernada e importante área de alimentação
para jovens e adultos. O Rio Grande do Sul é
o Estado brasileiro com maior incidência dessas
aves em suas águas, bem como de carcaças
encontradas nas praias.
A maior parte dos indivíduos de pinguim-de-
Magalhães encontrados mortos e recebidos
vivos em centros de reabilitação no Brasil é de
jovens no primeiro ano de vida. A partir dos 5
anos estão aptos para reprodução. A postura é
de um a dois ovos, sendo que tanto macho
quanto fêmea cuidam ativamente dos ovos e
filhotes. Como outras aves marinhas, são
longevas.
Pinguim-de- Magalhães Spheniscus magellanicus
Foto: Alice Pereira
Indivíduo adulto
Pinguim-de-Magalhães Spheniscus magellanicus Foto: Ignacio Benites Moreno
Indivíduo jovem
Migrante do Hemisfério Norte, realiza
migrações transequatoriais vindos de
suas colônias na Europa, na Islândia e
nas Bermudas. Fogem do inverno boreal
migrando para as águas argentinas e
são encontrados nas águas do Rio
Grande do Sul durante os meses de
setembro a novembro. Podem cobrir
mais de 7500 km em seis dias, somente
na vinda para costa argentina. Podem
realizar um percurso muito maior no
retorno, passando ao longo de toda
costa brasileira e pelas ilhas do Caribe.
É pequeno, com 35 cm de comprimento
e em média 300 g. Nidifica em buracos
escavados pela própria ave. A ave mais
velha anilhada, recapturada em 2002,
tinha 55 anos. Alimenta-se de peixes e
crustáceos.
Bobo-pequeno Puffinus puffinus
Foto: Alexandre Azevedo
Bobo-pequeno Puffinus puffinus Foto: Maurício Tavares
Aves Limícolas
As aves limícolas pertencem a ordem dos Charadriiformes. Nidificam em praias arenosas ou rochosas, mas é muito comum a nidificação próxima à lagos, lagoas e rios interioranos (16, 17). As espécies limícolas que realizam migra- ções longas, em sua maioria, são oriundas do Hemisfério Norte, onde nidificam na região da tundra ártica. Algumas espécies são oriun- das do extremo sul do Hemisfério Sul (18). Mas, por que essas aves, em geral, tão pequenas (como o maçarico-de-sobre branco, que mede entre 13 e 15 cm de comprimento) deslocam-se para tão longe de onde nascem e se reprodu- zem?
A migração acontece em função da escassez de alimento nos locais onde essas aves nascem e reproduzem. O inverno rigoroso das regiões austrais e boreais os impulsiona a buscar alimentos em regiões em que presas similares são abundantes. Assim, uma grande jornada se dá, sincronizada com cada pico de abundância de presas em seus locais de parada/alimentação. Existem espécies de aves limícolas re- sidentes no Brasil, como a narceja (Gallinago
paraguaiae) e a batuíra-de-coleira (Chara-
drius collaris).
Batuíra-de-bando Migrante do Hemisfério Norte, é uma espécie comum em praias arenosas e lodosas ao
longo da costa brasileira. Abundantes no outono, o pico de indivíduos registrados na La-
goa do Peixe, no litoral médio do Rio Grande do Sul, em abril registrou 767 indivíduos (19).
Chegam a América do Sul a partir de setembro e a preparação para o retorno aos sítios
reprodutivos começa em março e dura até maio, quando essas aves deixam o continente
sul-americano. Alguns indivíduos podem ser vistos durante o restante do ano, esperando o
próximo período reprodutivo. Reproduzem-se em junho na região ártica. Medem entre 17 e
19 cm de comprimento. Apresentam um colar negro no peito, pernas alaranjadas e as
patas semipalmadas, ou seja separadas parcialmente por uma membrana de pele entre os
dedos. Os indivíduos reprodutivos, apresentam a base de seu pequeno bico alaranjada e o
restante é todo negro. Durante esse período, a porção branca da testa e fronte é mais
estreita, dando lugar a um margeado negro acima do bico, na testa e olho. Os indivíduos
fora do período reprodutivo têm bico acinzentado e a fronte com uma larga área branca.
A plumagem do dorso e peito é similar à reprodutiva, mas em geral, menos viva e mais
acinzentada nas porções negras.
Foto: Daniela M
artins
Charadrius semipalmatus
Batuíra-de-coleira Esta batuíra é residente e reproduz-se nas dunas costeiras ao longo da costa do RS.
O pico de abundância desses indivíduos na beira da praia é entre abril e maio, quando
os jovens deixam os ninhos e se juntam aos pais forrageando ao longo da costa. Possui
um colar negro no peito, mas diferente da batuíra de bando, esse colar não se com-
pleta no dorso. A fronte é branca e a testa possui uma larga banda negra, também di-
ferente da batuíra-de-bando. O topo da cabeça e nuca exibe cor marrom-acanelada.
O dorso é acinzentado e o bico negro, com um traço alaranjado na base da mandíbu-
la. Indivíduos reprodutivos e não-reprodutivos são iguais, já os jovens são acinzenta-
dos, sem qualquer traço de cor negra no colar e na testa. Mede 15 cm.
Foto
: A
lice
Pere
ira
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.) D
anie
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arti
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ir.)
Charadrius collaris
Maçarico-branco É uma das espécies mais abundantes no Brasil em seu período migratório. Fedrizzi
(2008) registrou 7.000 indivíduos em abril do Arroio Chuí a Mostardas, no RS. Em dezem-
bro, durante a migração para o sul da América do Sul, foi o mais abundante na Lagoa do
Peixe, sendo registrados 4.000 indivíduos. Nidifica em áreas ao longo do Círculo Polar
Ártico, voando em média 25 mil km até chegar à sua área de invernagem na Terra do
Fogo, extremo sul da América do Sul. A reprodução ocorre em junho, e em agosto já po-
dem ser encontrados no Brasil, sendo abundantes em novembro no RS e depois no final
de abril, quando estão retornando para o Ártico. Mede entre 20 e 21 cm, e a massa é
bastante variável, podendo pesar quase 100 g quando prestes a se reproduzir e 40 g
quando em fase de engorda. A plumagem não reprodutiva é marcada pelo dorso acin-
zentado com porções pardas, peito e ventre brancos. Quando reprodutivo, o maçarico-
branco exibe um tom avermelhado no dorso. As patas e o bico são negros.
Foto: Maurício Tavares
Calidris alba
Maçarico-grande-de- perna-amarela
Migrante do Hemisfério Norte, o RS faz parte do limite meridional de sua área de mi-
gração, ocorrendo em menores números se comparados a registros no norte do Brasil e
países do norte da América do Sul. Reproduz-se em maio e junho no Canadá, apare-
cendo no Rio Grande do Sul a partir de agosto e voltando para o Canadá a partir de
março. No entanto, alguns indivíduos podem permanecer nos locais de invernada o ano
todo. Costuma permanecer bastante tempo junto aos sangradouros que desembocam
na beira da praia. Mede entre 29 e 33 cm. Pode ser confundido com o maçarico-de-
perna-amarela (Tringa flavipes) ao primeiro olhar, no entanto este último é menor, entre
23 e 25 cm de comprimento.
Foto
: Mau
ríci
o Ta
vare
s (e
sq.)
e A
lice
Pere
ira
(dir
.)
Tringa melanoleuca
Batuíra-de-peito-tijolo
Migrante do sul da América do Sul, é comum no outono na Lagoa do Peixe,
representando 5% do total de aves limícolas registradas. Ao longo da costa é
menos abundante, sendo registrada de abril a junho. Nas áreas de invernada
prefere alagados lodosos, banhados, sangradouros e, em menor abundância,
na porção arenosa da face praial. Migram dos locais reprodutivos como Terra
do Fogo, sul da Argentina e ilhas Malvinas/Falkland para o norte entre março e
abril, retornando entre o final de agosto e setembro. No RS é geralmente vista
em plumagem não nupcial (foto), em que o peito cor de tijolo não está presen-
te. Nenhuma outra espécie migrante austral é similar a esta. Mede de 19 a 22
cm.
Foto: Alice Pereira
Charadrius modestus
Maçarico-de-sobre-branco
Migrante do Hemisfério Norte. É considerado comum durante a primavera e outono no
RS, meses em que se desloca para o sul da América do Sul e passa pelo RS retornando
para as colônias reprodutivas, respectivamente. Na Lagoa do Peixe, Fedrizzi (2008)
registrou o pico de 14.000 indivíduos em novembro e pouco mais de 8.000 em abril. Nidifi-
ca entre junho e agosto na tundra ártica, geralmente próximo à costa. A característica
principal deste maçarico é a faixa branca na região do uropígio (acima da cauda), que
pode ser vista quando a ave alça voo. Apresenta também uma faixa branca acima do
supercílio, ventre branco e peito manchado de marrom. Dorso amarronzado, pés e bico
pretos. Indivíduos não reprodutivos exibem plumagem similar, porém mais pálida e
acinzentada. Entre 15 e 18 cm de comprimento.
Foto
: Mau
ríci
o Ta
vare
s
Calidris fuscicollis
A longa jornada do
maçarico-de-papo-vermelho
Pesquisadores do projeto Shorebird
Recovery (EUA) equiparam 47 maçaricos-de-
papo-vermelho com geolocalizadores em
sua parada anual na Baía de Delaware,
Estados Unidos. O que eles descobriram foi
impressionante: os pequenos maçaricos
viajaram 26.700 quilômetros em um ano. Os
dados revelaram que durante a migração
para o sul, tempestades tropicais forçaram
as aves a tomarem rotas mais distantes. O
novo caminho custou preocupante perda de
energia para seguirem sua jornada. Um dos
maçaricos desviou-se em mais de 1.400 km
de sua rota original.
O aquecimento global sugere um au-
mento no número e na intensidade de tem-
pestades tropicais, o que será devastador
para essas aves costeiras em sua migração
para o Hemisfério Sul.
O maçarico-do-papo-vermelho (Calidris
canutus) mede entre 23 e 25 cm de compri-
mento e sua envergadura é de no máximo
18 cm. Seu peso é variável, dependendo do
estado corporal ao longo migração. Pode
ser visto ao longo das praias do RS em duas
épocas do ano: entre agosto e novembro,
quando se dirigem para passar o inverno no
extremo sul da Argentina; e entre fevereiro
e abril, quando voltam para suas áreas
reprodutivas no Canadá.
Para esta ave, o RS serve como área de
condicionamento, em que adquirem reserva
de energia para migração e realizam a
muda da plumagem de descanso (acinzen-
tada) para a pré-nupcial, com seu alaran-
jado característico em todo o corpo, no
retorno para o Ártico.
Foto: Daniela Martins
Aves Costeiras Não há uma definição única e bem definida para o termo "ave costeira". As aves limícolas po- dem ser consideradas aves costeiras e algumas aves consideradas marinhas também podem ser tidas como costeiras. Para este guia, considera- mos como aves costeiras todas aquelas que vemos com frequência utilizando a faixa de praia ou am- bientes associados. Neste sentido, reunimos as garças, savacus e socós (Pelecaniformes), o cabe- ça-seca, e o joão-grande (Ciconiiformes), os mergulhões (Podicipediformes), os biguás (Sulifor- mes) e também os Charadriiformes como o per- nilongo-de-costas-brancas, o piru-piru, o talha- mar, os trinta-réis e as gaivotas. O que estas aves, embora morfologicamente distintas, tem em comum? Elas encontram na re- gião costeira, seja na face praial, seja nas lagoas e campos de dunas, alimento abundante, locais ideais para construção de seus ninhos e ponto de descanso durante os movimentos de dispersão.
Sendo a zona costeira um ambiente que pro- gressivamente se torna urbano, algumas dessas aves se adaptaram a essa mudança. Espécies oportunistas como garças e gaivotas aproveitam resíduos deixados pelos humanos nas praias. A pesca artesanal e esportiva é um prato cheio para os biguás, gaivotas, garças e savacus. Essas aves permanecem de tocaia junto aos pescadores esperando algum peixe por ventura deixado de lado ou especialmente lançado a elas como regalo. No Litoral Norte, a barra do Rio Tramandaí reúne de maneira especial diferentes aves costeiras. Podem ser vistas ali comumente as garças, gaivotas, savacus e biguás que se aproveitam da interação com os pescadores, como também diferentes espé- cies de trinta-réis, mergulhando feito um pequeno torpedo em busca de pequenos peixes, e grupos de talha-mar cortando a superfície da água com seus bicos especializados.
Mergulhão-grande(Podicephorus major)
Os mergulhões, da ordem Podicipediformes, são aves altamente
adaptadas ao ambiente aquático. Possuem uma plumagem densa,
similar à plumagem dos pinguins. Suas asas são extremamente
reduzidas, estando no limite da capacidade de proporcionar o voo.
Por isso, decolam com dificuldade e se mantém voando por meio
de muitas batidas de asa . As patas são posicionadas atrás do
corpo, o que praticamente impede essas aves de caminhar. As
patas são lobadas, funcionando como uma hélice durante o nado.
Essas adaptações pouco úteis em terra são perfeitas para a vida
aquática. Alimentam-se de peixes, crustáceos e vegetais.
Ocorrem em lagoas, lagos, estuários e também no mar esporadi-
camente. O mergulhão-grande nidifica entre outubro e novembro
no RS e pode migrar para o Sudeste do Brasil no inverno.
Foto
: Mauríc
io Tavares
Foto: Alice Pereira
Biguá(Nannopterum brasilianus)
O biguá é também conhecido por mergulhão e cormorão. O bico é
amarelo acinzentado e os olhos azuis. Quando encontra-se no
período reprodutivo, apresenta um tufo de penas brancas alongadas
na região auricular. O indivíduo jovem é mais acinzentado. É
encontrado tanto em água doce de alagados interioranos como no
mar e lagoas costeiras. Tem massa corporal em torno de 1,5 quilos e
sua envergadura pode chegar a 100 cm. É frequentemente encon-
trado em terra firme de asas abertas, balançando-as continuame-
nte. Este hábito é comum para que após a natação sequem suas
penas, que apresentam baixa impermeabilização. Alimenta-se de
peixes e crustáceos, mas é oportunista, podendo alimentar-se de
descartes de pescarias, rãs e insetos aquáticos. Pode mergulhar a
mais de 20 metros de profundidade!
Foto: Ignacio Benites Moreno
Foto: Alice Pereira
Jaçanã(Jacana jacana)
A jaçanã (Jacana jacana, Jacanidae), é uma uma ave típica de ambientes alagados, como
banhados, marismas, manguezais, sangradouros e estuários. As pernas e, principalmente, os
dedos das patas são extremamente alongados, o que permite que essa ave caminhe sobre a
vegetação (e.g. aguapés, alface-d'água, ninféia) em busca de alimento na superfície da
água. Nesse ambiente busca por insetos, pequenos peixes, moluscos e sementes. O indivíduo
jovem (foto acima) difere do adulto, que exibe a cabeça, o pescoço, o peito e o ventre
negros. O dorso e as penas do dorso da asa (coberteiras) são de cor castanha, mas as penas
de voo (rêmiges) são amarelo-pálidas, sendo vistas quando a ave abre suas asas para alçar
voo. Possui um esporão em cada asa para a sua defesa, assim como os populares quero-
queros. Mede entre 22 e 24 cm de comprimento. Podem ser migratórias fora do período
reprodutivo, deslocando-se entre áreas úmidas em busca de alimento.
Foto: Alice P
ereira
Indivíduo jovem
Marreca-piadeira(Dendrocygna viduata)
Os patos pertencem à ordem Anseriformes e as
marrecas-piadeiras são bastante comuns nas lagoas e
banhados da zona costeira. Muitas vezes sobrevoam o
mar e também podem ser encontradas pousadas na
beira da praia. As marrecas-piadeiras também são
chamadas de irerê, medem 44 cm e alimentam-se
diretamente na água: comem invertebrados aquáti-
cos, plantas submersas, girinos e alevinos. São bas-
tante ativas no crepúsculo e seu canto característico
pode ser ouvido, principalmente quando sobrevoam
as cidades dirigindo-se às áreas de descanso.
Foto: Daniela Martins
Foto: Alice Pereira
Indivíduo jovem
Maria-faceira(Syrigma sibilatrix)
A garça maria-faceira é única em seu padrão de plumagem e coloração do bico. Em período
reprodutivo as cores se apresentam ainda mais vivas. O indivíduo jovem tem coloração similar
a do adulto, porém é mais esmaecida. É comum em banhados, arrozais e campos secos.
Visita solos recém arados em busca de minhocas e outros invertebrados. Nos terrenos alaga-
diços captura anfíbios, pequenos peixes e insetos. Pode alimentar-se de cobras e roedores
também. O nome desta ave em inglês é whistling heron, traduzindo perfeitamente o seu
canto característico, similar a um melodioso assobio. O seu canto é bastante diferente das
demais garças. Sick (2001) detalha que no seu voo, a maria-faceira encolhe menos o pesco-
ço do que as demais garças. Mede 53 cm.
Foto: Daniela Martins (esq.) Alice Pereira (dir.)
Garça-branca-grande(Ardea alba)
Ave comum em todo o Brasil junto a corpos d'água. Na zona
costeira é frequente nos estuários, alagados e banhados. É
menos frequente na beira do mar, em comparação à presença
da garça-branca-pequena. Quando em seu período reprodu-
tivo (primavera/verão) apresenta um véu formado por longas
penas que lembram o esqueleto de folhas (filigrana), chama-
das de egretas. Seu pescoço é longo e seu bico exibe forma
de lança, facilitando na captura de animais aquáticos. É ge-
neralista e oportunista, alimentando-se de peixes, rãs, insetos,
cobras e até descarte de alimento. Costuma manter-se perto
dos pescadores à espera de peixes descartados por eles, ou
mesmo para furtar algum desavisado. Seu canto é um grasna-
do baixo e rouco. Mede entre 80 e 100 cm. À noite empolei-
ra-se em árvores e arbustos próximos a corpos d’água.
Foto: Alice Pereira
Foto: Daniela Martins
Gaivotão(Larus dominicanus)
É uma ave muito comum em todo o litoral do RS, sendo a gaivota
de maior porte (58 cm) entre as espécies que ocorrem no Estado.
Pode ser vista o ano todo, entretanto, grandes bandos são mais co-
muns no outono e inverno. Os jovens (foto acima) exibem diferentes
tipos de plumagem até chegar a plumagem do adulto (foto à esq.)
São oportunistas e generalistas, podendo se aproveitar dos descar-
tes de peixes, resíduos urbanos, carcaças de mamíferos e aves ma-
rinhas, crustáceos, insetos. As aves que nidificam no inverno nas
ilhas da região sul-sudeste do Brasil (e.g. Santa Catarina) são mais
comuns no RS na primavera e verão. As populações austrais que
nidificam na primavera no Uruguai e na Argentina são migrantes de
inverno em nosso Estado.
Foto: Ignacio Benites Moreno
Foto: Daniela Martins
Indivíduo jovem
Indivíduo adulto
Tapicuru-de-cara-pelada(Phimosus infuscatus)
Sua característica mais marcante é o bico curvado e a face des-
provida de penas. É comum em alagados de água doce e salobra.
Também pode ser encontrado em campos recém arados e quintais,
perfurando o solo em busca de invertebrados enterrados. Alimenta-
se também crustáceos, moluscos e matéria vegetal. Nidifica em
juncais. No final da tarde costumam a voar aos bandos deslocando-
se para sua área dormitório. É migratório. Mede 54 cm, a plumagem
do juvenil é similar ao adulto. Também conhecido no Rio Grande do
Sul como maçarico-de-cara-pelada, ou somente maçarico. Quando
desloca-se em bandos cruzando os céus, muitas vezes é confundido
com os biguás. A diferença maior é o ritmo de voo, sendo que o
tapicuru bate pouco e graciosamente as asas ao voar.
Foto: Daniela Martins
Foto: Alice Pereira
Pernilongo-de-costas-brancas(Himantopus melanurus)
Também chamado apenas de pernilongo ou pernalonga, é
residente no RS e pode habitar tanto a região costeira como
açudes, lagos e outros alagados interioranos. É localmente
migratório. Nidifica em terrenos brejosos e o seu ovo é similar
ao do quero-quero. Na beira da praia alimenta-se de inverte-
brados bentônicos, podendo estar solitário ou em bando.
Grandes grupos reúnem-se ao longo dos sangradouros que
desembocam no mar, alimentando-se de larvas de insetos,
moluscos e crustáceos. Mede 38 cm de comprimento e suas
pernas em média 16 cm. O indivíduo jovem exibe plumagem
mais amarronzada nas porções negras.
Foto: Alice Pereira
Foto: Alice Pereira
Trinta-réis-de-bando(Thalasseus acuflavidus)
O trinta-réis-de-bando, muitas vezes chamado também de trinta-réis-de-bico-amarelo é uma
espécie migratória no RS, proveniente de outros países do norte da América do Sul como de outros
estados brasileiros. Nidifica em ilhas costeiras em Santa Catarina e Espírito Santo, entre maio e
setembro. Este trinta-réis em seu período reprodutivo exibe toda a cabeça negra. A medida que vai
saindo do período reprodutivo, a fronte vai tornando-se paulatinamente branca e assim permanece
durante o descanso reprodutivo (plumagem de eclipse). O amarelo do bico é bastante variável:
pode mostrar-se todo amarelo, manchado de negro (foto acima) e quase todo negro com
pequenas porções amareladas. É característico o seu topete nucal, muitas vezes arrepiado. Não é
raro encontrar o trinta-réis-de-bando em meio a outros grupos de espécies, como o trinta-réis-de-
bico-vermelho, gaivotas, talha-mar, pousados em bando na beira do mar. Mede 41 cm de compri-
mento. Alimenta-se de peixes, lulas e crustáceos, mergulhando como um torpedo na superfície do
mar ou das águas estuarinas.
Foto: Ignacio Benites Moreno
Talha-mar(Rynchops niger)
O talha-mar é conhecido pela sua singular adaptação: o bico. A ranfoteca mandibular é mais
longa que a maxilar, além de ambas as porções serem extremamente comprimidas lateralmente.
Assim, a ave sobrevoa rente à superfície da água, enquanto "corta" a água com seu bico. Ao
encontrar uma presa próxima à superfície, a ave pinça-a. O bico é rico em enervações, o que
possibilita-a pelo tato identificar a sua presa. Alimenta-se de peixes e camarões, geralmente à
noite e no crepúsculo. Tão extrema é esta adaptação que o talha-mar não poderia alimentar-se de
outra forma, por exemplo escavando o solo. Nidifica em pequenos buracos escavados na areia, na
Amazônia, região Centro-Oeste e também no RS. O comprimento médio é de 50 cm, exibe asas
longas e estreitas, e sua cauda é bifurcada e as pernas são curtas com pés palmados. Grandes
bandos podem ser vistos na Lagoa do Peixe no verão, bem como nas desembocaduras de sangra-
douros ao longo de todo litoral do Rio Grande do Sul.
Foto: Ignacio Benites Moreno (dir.) Daniela Martins (esq.).
Gaivota-maria-velha(Chroicocephalus maculipennis)
Menor que o gaivotão, mede 53 cm. Durante o período
reprodutivo, apresenta um capuz cor de café cobrindo
toda a sua cabeça, por isso também é conhecida como
gaivota-capuz-café (foto acima). No repouso reproduti-
vo, exibe a cabeça branca com manchas cinzas disper-
sas, dando-lhe um aspecto grisalho. O mais marcante
desta fase é a mancha negra auricular (foto à esq.). É
comum em nosso litoral aos bandos. Também frequenta
alagados interioranos. Alimenta-se de peixes e ocasio-
nalmente de insetos e suas larvas. É migratória, ocorren-
do na Argentina, Uruguai, Chile e Brasil, e nidificando
nas porções austrais da América do Sul. No RS, pode
nidificar nos banhados durante o mês de novembro.
Foto: Alice Pereira
Foto: Alice Pereira
Garça-branca-pequena(Egretta thula)
Esta ave é muito comum à beira mar, como também em estuários e manguezais. Frequenta tam-
bém alagados interioranos. É bem menor que a espécie anterior, por isso muitas vezes é confundida
como “filhote” da garça-branca-grande (Ardea alba). O bico e as pernas são pretos e patas amare-
las. Também forma as egretas no período reprodutivo. Ao contrário de outras aves que utilizam a
glândula uropigial para espalhar o óleo que impermeabiliza suas penas, as garças impermeabilizam-
se com um pó liberado por plumas localizadas nas laterais do corpo. Alimenta-se de peixes, crustá-
ceos, insetos, anfíbios e répteis. Pescam utilizando o balançar da pata dentro d’água como isca, re-
volvendo uma pequena quantidade de substrato de fundo e confundindo os curiosos peixes que se
aproximam. Seu comprimento médio é de 54 cm, seus ninhos são construídos em arbustos próximos à
água e seus ovos apresentam cor verde-azulada.
Foto: Daniela Martins
Savacu(Nycticorax nycticorax)
É uma ave de hábitos noturnos e crepusculares, pouco ativa
durante o dia. O bico e pernas são robustos. Os indivíduos jovens
são bastante diferentes dos adultos em sua plumagem: são carijós
(foto à esq., indivíduo abaixo). Seu canto é comum de ser ouvido à
noite em cidades da costa brasileira. Ocorre em todo o Brasil. Fre-
quenta a beira mar, os estuários, manguezais, rios e lagos. Em sua
dieta estão os peixes, crustáceos, anfíbios e répteis. O savacu
têm o hábito de permanecer próximo aos pescadores esperando
algum petisco, ou mesmo pode tentar furtar algum peixe quando
sente que o pescador se distraiu. A reprodução acontece de se-
tembro a janeiro. Seus ninhais ficam juntos de outras aves como
garças e socós. O savacu também é chamado de garça-noturna.
Foto: Ignacio Benites Moreno
Foto: Alice Pereira
Indivíduo adulto
Indivíduo jovem (abaixo)
Piru-piru(Haematopus palliatus)
É uma ave costeira e estuarina, comum durante o ano to-
do ao longo da orla do RS. Distribuem-se em grandes bandos
próximos aos sangradouros. Também é chamado de ostreiro,
pois alimenta-se de bivalves, principalmente do marisco-bran-
co (Mesodesma mactroides) no RS. Pode alimentar-se de gas-
trópodes e crustáceos. Com seu potente bico corta a muscu-
latura que controla a abertura da concha do bivalve, sepa-
rando as valvas para acessar o corpo mole do marisco. É resi-
dente e nidifica nos campos arenosos vegetados próximos à
beira-mar. O comprimento médio do piru-piru é de 40 cm e
tanto as pernas como o corpo é robusto. O indivíduo jovem
exibe o dorso mosqueado de branco, e o bico e as pálpebras
são de um vermelho-alaranjado (foto à esq.)
Foto: Maurício Tavares
Foto: Maurício Tavares
AMEAÇAS AS AVES DO AMBIENTE MARINHO E COSTEIRO
A zona costeira é uma das áreas de maior tráfego do País. Apresenta intensa atividade de comércio e transportes,
além do impacto pela exploração do petróleo. A zona costeira do Brasil abrange 17 estados, e sua faixa
continental abriga 13 das 27 capitais brasileiras, incluindo regiões metropolitanas em que vivem milhões
de pessoas.
A pesca comercial é responsável por parte da mortalidade de aves marinhas. Mesmo não sendo o objetivo da atividade capturá-las, algumas artes de pesca oferecem risco de captura incidental. No caso da pesca de espinhel pelágico, as iscas são colocadas em um grande número de anzóis enfileirados em uma linha longa, rente à superfície do mar. A isca atrai não só os peixes, mas as aves marinhas também. O problema acontece quando ao tentar se alimentar da isca as aves ficam presas pelo bico nos anzóis. Ali, morrem afogadas, são feridas pelo anzol ou são mutiladas mortas ou ainda vivas para que o bico se solte do anzol sem que o petrecho de pesca tenha que ser danificado (foto acima) para soltar a ave. Isto não só é triste como é preocupante: segundo estudo de Anderson e colaboradores (19), no mínimo 160.000 aves marinhas são vítimas de captura incidental pela pesca. Outras artes de pesca também oferecem risco às aves marinhas, como a pesca com rede de emalhe, rede de cerco, arrasto entre outras (20).
PESCA
Os petrechos utilizados para pescar também são um problema para as aves marinhas. Pedaços
de rede, linhas, chumbadas e anzóis dispersos no ambiente são potencialmente danosos quando ingeridos ou ao se enrolarem no corpo da ave. É difícil capturar
uma ave livre no ambiente. Não é raro que ela permaneça enredada no petrecho até que este deixe-a moribunda, só então existindo a
chance de capturá-la. Entretanto, pode ser tarde demais para
ajudá-la.
Foto: Cam
ila T. Rigon
HABITAT A perda da qualidade do habitat de aves costeiras, marinhas e limícolas é alarmante. O habitat das
aves são destruídos devido à urbanização crescente, tomando conta de campos de dunas, margem de
rios, lagoas e dunas frontais. A retirada de vegetação ciliar e assoreamento de banhados afugenta diversas
aves dependentes de zonas úmidas. O trânsito constante de veículos na beira da praia, além de trazer
contaminação por combustível, pode ocasionar o atropelamento de aves e seus filhotes. Outro problema
associado aos carros na praia é a compactação do sedimento, onde estão enterradas suas presas, e a
diminuição do tempo de alimentação por espécies de aves migratórias que têm um cronograma migratório
bem definido. Não acumular gordura suficiente a tempo pode causar mortalidade entre pontos de parada.
As aves marinhas também sofrem com a destruição dos locais onde se reproduzem, seja pelo aporte
de resíduos plásticos trazidos pelas correntes oceânicas, seja pela invasão de espécies exóticas ao local,
como ratos, gatos e cães, principalmente. Esses animais exóticos invasores predam ovos e filhotes de aves
marinhas, prejudicando seu sucesso reprodutivo. A retirada de vegetação ou introdução de vegetação
exótica também é impactante num ambiente fechado como é o caso das ilhas oceânicas. A mudança do
substrato vegetal ou a falta dele prejudica a nidificação (21). O problema com espécies não-nativas e
animais domésticos, não é exclusivo das ilhas oceânicas, ocorrendo na zona costeira de forma mais
profusa.
As aves limícolas sofrem com a degradação de seus pontos de descanso durante a migração. A de-
gradação desses locais está levando a diminuição de suas presas (16). Essas presas, os pequenos inverte-
brados que estão enterrados na areia são sensíveis ao pisoteio. Além disso, tanto limícolas como outras
aves costeiras que se alimentam em banhados e sangradouros contaminados por esgoto estão sujeitas à
doenças causadas por diversos patógenos presentes no ambiente contaminado. Zonas mortas também são
mais uma ameaça, somada a eutrofização dos corpos d'água por efluentes domésticos, depleção de
oxigênio e a proliferação de bactérias anaeróbicas que liberam toxinas.
Cidreira, campo de dunas. Foto: Alice PereiraTramandaí, orla e barra. Foto: Alice Pereira
OS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
A Lei 12.305/10 institui a Política Nacional dos Resíduos Sólidos. Esta lei, se cumprida em sua inte- gralidade, garantiria a resolução de muitos dos problemas ambientais que o país enfrenta hoje, principal- mente na disposição, destinação, reciclagem, reaproveitamento e redução dos resíduos sólidos no Brasil. No entanto, passados oito anos desde a publicação da lei, pouquíssimos avanços foram observados. A maior parte dos resíduos dispersos nos mares são de origem continental. O resíduo abandonado na praia pelos banhistas e pelos comerciantes, o saco de lixo rasgado em ruas próximas à beira-mar, o descarte de construção, e outros, sem exceção, é trabalhado pela ação dos ventos, do clima e das ondas. O saco plástico que está preso em uma camada de areia em uma duna frontal pode chegar ao mar no momento em que uma tempestade faz o mar subir e erodir essa duna. Esse saco poderá ser levado de volta à beira da praia, mas também poderá vagar pelo oceano sendo degradado em pequenos pedaços. Esse "microlixo" é facilmente engolido por peixes, que serão consumidos pelas aves (22). As aves limícolas, por exemplo, ingerem as pequenas partículas de resíduos, sobretudo plástico, ao buscarem suas presas enterradas na areia. Aves curiosas e famintas consomem resíduos diretamente, desde bitucas de cigarro a bexigas de festa de criança. O documentário intitulado "Midway" é bastante ilustrativo acerca da situação dos resíduos no ambiente marinho. Este filme, de Chris Jordan, mostra que mesmo nas ilhas mais distantes dos continentes o ambiente é afetado pelos resíduos urbanos trazidos transportados pelas correntes oceânicas. O resíduo que impacta o ambiente marinho e costeiro também pode ser descartado no mar por em- barcações ou ser perdido "por acidente" durante o transporte de mercadorias. Este é o caso dos pellets (terceira foto à direita). Os pellets são esférulas poliméricas utilizadas como matéria-prima na fabricação de itens plásticos. Navios carregados dessas minúsculas esférulas as perdem durante o transporte, e não é raro observar os pellets aglomerados na beira da praia, delineando o contorno da onda na areia. A ingestão de resíduos plásticos causa inúmeros problemas como inanição, constipação, alterações hormo- nais, além das comorbidades relacionadas a esses sintomas (23).
Foto
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Foto
: Alic
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Foto
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Os Poluentes Orgânicos Persistentes (POP) são resistentes à degra-dação no ambiente e bio-acumulam nos organismos vivos, sendocarcinogênicos e mutagênicos, além de causar danos à curto prazonos sistemas reprodutor, endócrino e imune das aves (22). Essassubstâncias estão contidas nos agrotóxicos. Atividades industriaisque despejam efluentes nos rios levam metais pesados diretamenteà praia. Os organismos enterrados na areia e os peixes acumulamesses compostos disponíveis na água e no substrato em seustecidos, sendo então passados às aves ao se alimentarem dessaspresas. Os metais pesados são mutagênicos e carcinogênicos, comefeitos tanto crônico quanto agudos dependendo da exposição(25).
CONTAMINANTES: PETRÓLEO, AGROTÓXICOS, METAIS PESADOS, PATÓGENOS E OUTROS
A contaminação por petróleo e derivados pode afetar as aves de maneira crônica, como também imediata após o contato com a substância (22). As aves petrolizadas sofrem prejuízo à impermeabilização das penas, impedindo o voo e o mergulho. Ao tentar retirar o óleo do corpo as aves ingerem o produto, contaminando ainda mais o organismo. Ao exporem-se ao sol e ao calor com a superfície corporal tomada por petróleo, há chance de parte do produto volatilizar, podendo ser incorpo- rado pela via respiratória. Não é necessário um grande derra- mamento de petróleo para causar sérios danos às aves mari- nhas. Pequenos escapes durante os procedimentos de carga e descarga do produto são os acidentes mais comuns.
Organismos patogênicos como vírus e bactérias também são fontes de contaminação para as aves marinhas, costeiras e limí- colas. A maioria delas é sensível a: micro-organismos de origem
humana, micro-organismos favorecidos pela degradação de ha- bitat, ou micro-organismos desconhecidos no habitat natural da ave (21). Doenças como a malária aviária, hespervírus, poxvírus,
aspergilose e outras podem ser contraídas até mesmo nos centros de reabilitação (24). A maior preocupação em relação
aos patógenos é que eles sejam introduzidos nas colônias reprodutivas quando as aves retornam a esses locais.
Foto: Alice Pereira
Foto: Alice Pereira
Foto: Alice Pereira
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AVES DO LITORAL DO RIO GRANDE DO SUL
MUSEU DE CIÊNCIAS NATURAIS (MUCIN) 2018
Ficha Técnica Rui Vicente Opperman
Reitor
Clarice Bernhardt Fialho Diretora do Instituto de Biociências
Carla Penna Ozorio
Diretora do CECLIMAR
Lucas Antônio Morates Coordenador do Mucin
Aline Portella Fernandes
Museóloga
Alice Pereira Curadoria/Taxidermias
Equipe Mucin
Aline Portella Ferandes Cariane Campos Trigo Janaína Carrion Wickert
Maurício Tavares Neuza Pacheco Feliciano Wollmann
Paulo Edmundo dos Santos Silvio Luís de Oliveira
AGRADECIMENTOS
À equipe de servidores do CECLIMAR;
À Color Sing Comunicação Visual;
À Alice Pereira, pela curadoria e concretização desta exposição.
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