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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO CENTRO DE CINCIAS
DO AMBIENTE PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DO
AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZNIA
JEFFERSON DA SILVA ARAGO
O ACESSO AO SANEAMENTO URBANO: OS DESAFIOS DA
UNIVERSALIZAO NO ABASTECIMENTO
DE GUA E ESGOTAMENTO SANITRIO. UM ESTUDO DE CASO EM
MANAUS - AM.
MANAUS
2017
2
JEFFERSON DA SILVA ARAGO
O ACESSO AO SANEAMENTO URBANO: OS DESAFIOS DA
UNIVERSALIZAO NO ABASTECIMENTO
DE GUA E ESGOTAMENTO SANITRIO. UM ESTUDO DE CASO EM
MANAUS - AM.
Dissertao apresentada ao Programa de
Ps-Graduao em Cincias do Ambiente e
Sustentabilidade na Amaznia
PPGCASA/UFAM como parte dos
requisitos para a obteno do ttulo de
mestre em Cincias do Ambiente e
Sustentabilidade na Amaznia, sob
orientao do Prof. Dr. Joo Tito Borges.
MANAUS
2017
3
4
Jefferson da Silva Arago
O ACESSO AO SANEAMENTO URBANO: OS DESAFIOS DA
UNIVERSALIZAO NO ABASTECIMENTODE GUA E ESGOTAMENTO
SANITRIO. UM ESTUDO DE CASO EM MANAUS- AM.
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias do Ambiente e
Sustentabilidade na Amaznia como requisito para a obteno do ttulo de Mestre em
Cincias do Ambiente e Sustentabilidade na Amaznia.
Aprovado em 12 de julho de 2017.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________
Prof. Dr. Joo Tito Borges, Presidente.
__________________________________
Prof. Dr. Paulo Ricardo Rocha Farias, Membro.
__________________________________
Prof. Dr. Armando Arajo de Souza Jnior, Membro.
__________________________________
Prof. Dr. Flavia Kelly Siqueira de Souza, Membro.
5
DEDICATRIA
A minha me Ivone da Silva Arago, por me ensinar a
ter tica, moral acima de tudo, honestidade, por mostrar o valor
da vida e que o trabalho dignifica o homem e me ensinar que
nada impossvel se acreditarmos que Deus pode tudo.
6
AGRADECIMENTOS
A Deus primeiramente, pois sem ele nada possvel.
minha famlia pela compreenso e por fornecer um ambiente propcio ao
estudo.
Ao meu orientador professor Dr. Joo Tito Borges por mostrar a importncia e
me inserir no estudo do Saneamento urbano em nossa querida cidade Manaus.
Ao Centro de Cincias do Ambiente, seu corpo tcnico, administrativo e os
discentes que compe este centro de estudos pela ajuda em especial da Sra. Fernanda
Mendes e todas as contribuies dos professores.
amiga Amanda Lorena Duarte de Souza Leal pelo companheirismo e apoio
incondicional, pelas longas conversas de troca de ideias e por dividir as angstias e
conquistas nessa jornada.
amiga Luciene Souza da Costa que pelo apoio e ajuda incondicional durante o
caminhar do curso.
Por fim o maior de todos os agradecimentos, ao meu grande amigo/irmo Alex
Braga de Lima, por ter estado ao meu lado desde o incio deste curso e por ter feito
muito mais do que lhe cabia, pela ajuda sem igual, pelas horas de estudo junto comigo,
por ter divido as no s angstias, mas tambm as felicidades, minha gratido eterna!
7
RESUMO
A busca da universalizao do acesso ao sistema de abastecimento de gua e ao
esgotamento sanitrio (SAE) um dos grandes desafios da capital do Estado do
Amazonas. Nesta pesquisa foi realizada uma ampla reviso da literatura que acerca dos
SAE, apresentou-se estrutura dos SAE na cidade de Manaus, por meio de um
levantamento histrico, que iniciou no fim de 1800. O estudo tem caracterstica
descritiva com abordagem qualitativa, foi desenvolvido por meio da anlise da srie
histrica do sistema nacional de saneamento (SNIS), dos relatrios de atividade da
ARSAM, d anlise de metas do contrato de concesso dos SAE em Manaus, e do
ranking do saneamento que contemplaram dentre outros indicadores, a infraestrutura e
outros indicadores como extenso da rede de gua, quantidade de ligaes totais de
gua, populao urbana atendida com abastecimento de gua, extenso da rede de
esgotos, populao urbana atendida com esgotamento sanitrio, e investimentos em
gua e esgoto desde o ano 2000 at 2015. A pesquisa mostrou a fragilidade dos sistemas
e verificou-se que a extenso da rede de esgoto muito inferior extenso da rede de
abastecimento. H uma discrepncia entre os dados da ARSAM em relao aos dados
obtidos no SNIS. Os dados quantitativos fornecidos pela ARSAM em seus relatrios de
atividade no contemplam os dados do PROURBIS. Os dados do SNIS (fornecido pela
Manaus Ambiental) no contemplam os dados do PROSAMIM e PROURBIS, no
ficando claro de fato qual percentual de atendimento urbano de abastecimento de gua
e esgotamento sanitrio em Manaus. Considera-se que os desafios enfrentados pela
cidade para ampliao do acesso ao sistema de esgotamento sanitrio esbarram em
questes que vo alm da poltica ou da gesto privada do sistema. Contemplam
tambm aspectos econmicos, pela incapacidade de investimento do governo em obras
de infraestrutura e da prestadora dos servios em priorizar os investimentos em apenas
um dos servios, tambm pela dificuldade de pagamento aos servios pelos usurios.
Quanto aos aspectos sociais observou-se que h ausncia de uma poltica mais clara por
parte do governo municipal para garantir que toda populao tenha acesso aos SAE,
mesmo aqueles que no tm recursos para pagar. Quanto aos aspectos culturais, a
populao se acostumou a no querer se ligar de forma oficial s redes tanto de gua
quanto de esgoto em decorrncia das tarifas e taxas impostas, recorrendo aos gatos e
isso por sua vez leva a perdas na distribuio e na qualidade da gua. Por fim, as obras
de infraestrutura da cidade so realizadas de acordo com a disponibilidade de verba e da
poltica de cada ente e o repasse de obras do Estado para o Municpio e desse para a
prestadora de servios um processo moroso e burocrtico protelando a administrao
dessas obras. Manaus ocupa a 97 posio entre as 100 maiores cidades brasileiras no
ranking do saneamento e apesar dos avanos, a cidade ter dificuldades de universalizar
os servios e no alcanar a universalizao do esgotamento sanitrio em 2033 como
exposto no plano nacional de saneamento bsico.
Palavras-chave: Saneamento; Infraestrutura Urbana; Meio Ambiente; Qualidade de
Vida.
8
ABSTRACT
The search for universal access to the water supply and sewage system (SAE) is
one of the great challenges of the capital of the State of Amazonas. In this research
carried out a wide review of the SAE literature, SAE structure was presented in the city
of Manaus, through a historical survey, which began in the late 1800s. The study has a
descriptive characteristic with a qualitative approach. It was developed through the
analysis of the historical series of the national sanitation system (SNIS), the activity
reports of the ARSAM, analyzes the goals of the SAE concession contract in Manaus
and the ranking Which included, among other indicators, infrastructure and other
indicators such as extension of the water network, quantity of total water connections,
urban population served with water supply, extension of the sewage network, urban
population served with sanitary sewage, and investments In water and sewage from the
year 2000 to 2015. The research showed the fragility of the systems and it was verified
that the extension of the sewage network is much inferior to the extension of the supply
network. There is a discrepancy between the ARSAM data in relation to the data
obtained in the SNIS. The quantitative data provided by ARSAM in its activity reports
do not include data from PROURBIS. Data from the SNIS (provided by Manaus
Ambiental) do not include data from PROSAMIM and PROURBIS, and it is not clear
what percentage of urban water supply and sewage service in Manaus is. It is
considered that the challenges faced by the city to increase access to the sewage system
run counter to issues that go beyond the policy or the private management of the
system. They also include economic aspects, the inability of government investment in
infrastructure works and the service provider to prioritize investments in only one of the
services, also due to the difficulty of paying for services by users. Regarding the social
aspects, it was observed that there is no clear policy by the municipal government to
ensure that all people have access to SAE, even those that do not have the resources to
pay. As for cultural aspects, the population became accustomed to not wanting to
officially connect to both water and sewage networks as a result of the tariffs and fees
imposed, using the "cats" and this in turn leads to losses in distribution and water
quality. Finally, the infrastructure works of the city are carried out according to the
availability of funds and the politics of each entity and the transfer of works from the
State to the Municipality and from the service provider is a time consuming and
bureaucratic process, delaying the administration of these works. Manaus occupies the
97th position among the 100 largest Brazilian cities in the ranking of sanitation and
despite the advances, the city will have difficulties to universalize the services and will
not reach the universalization of sanitary sewage in 2033 as exposed in the national plan
of basic sanitation
Keywords: Sanitation; Urban infrastructure; Environment; Quality of life.
9
LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 - Localizao da rea de estudo. Municpio de Manaus, Estado do Amazonas. Brasil . 21
Figura 2 - Grupo de dados .......................................................................................................... 22
Figura 3 Componentes do conceito de direitos fundamentais .................................................. 33
Figura 4 - Eixos do saneamento ................................................................................................. 48
Figura 5 - Sistema de abastecimento padro .............................................................................. 52
Figura 6 Constituio do esgoto sanitrio................................................................................ 54
Figura 7 Sistema de coleta convencional ................................................................................. 56
Figura 8 - Nveis de tratamento do esgoto .................................................................................. 57
Figura 9 - Nveis de tratamento de esgoto na Europa 1 .............................................................. 58
Figura 10 - Nveis de tratamento de esgoto na Europa 2 ............................................................ 59
Figura 11 - Etapas da coleta e tratamento de esgoto ................................................................... 60
Figura 12 - Proporo da populao que usa fontes melhoradas de gua potvel em 2015 ........ 69
Figura 13 - Populao com melhorias no acesso ao saneamento ................................................ 70
Figura 14 - Acesso aos SAE no Brasil entre 2010 e 2014 .......................................................... 85
Figura 15 - Reservatrio Moc................................................................................................... 93
Figura 16 - Represa da Cachoeira Grande .................................................................................. 93
Figura 17 - Sistema de abastecimento de Manaus ...................................................................... 95
Figura 18 - Complexo Ponta do Ismael ETA I e ETA II ............................................................ 96
Figura 19 - Complexo Mauazinho .............................................................................................. 97
Figura 20 - Captao e ETA Complexo PROAMA .................................................................... 98
Figura 21 - Manancial subterrneo (SISTEMA POOS) ........................................................... 99
Figura 22 - Mapa da rede de distribuio de Manaus no ano de 2013 (anexos) ....................... 101
Figura 23 - Obras no leito de um dos igaraps ......................................................................... 105
Figura 24 - Obra de infraestrutura do PROSAMIM ................................................................. 105
Figura 25 - Despejo de esgoto no igarap ................................................................................ 106
Figura 26 - Extenso da rede de abastecimento de gua (km) .................................................. 112
Figura 27 - Extenso da rede de esgotamento sanitrio (km) ................................................... 112
Figura 28 - Ligaes totais de esgoto ....................................................................................... 115
Figura 29 - ligaes totais de rede de gua ............................................................................... 116
Figura 30 - Evoluo da populao urbana atendida pela rede de abastecimento de gua x rede
de esgotamento sanitrio .......................................................................................................... 117
Figura 31 - Concentrao dos vinte melhores municpios no ranking do saneamento por Estado
da Federao ............................................................................................................................ 134
Figura 32 - Histograma contagem de municpio por tipo de gesto.......................................... 137
Figura 33 - Concentrao dos dez piores municpios no ranking do saneamento por Estado da
Federao ................................................................................................................................. 140
Figura 34 - Histograma contagem de municpio por tipo de gesto.......................................... 142
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Relao dos indicadores SNIS .................................................................................24 Quadro 2 - Relao de informaes do SNIS .............................................................................25 Quadro 3 - Relao de Indicadores ARSAM ..............................................................................27 Quadro 4 - Relao de Indicadores do Contrato de Concesso ..................................................28 Quadro 5 - Relao de Indicadores do Ranking do Saneamento ................................................30 Quadro 6 - Geraes dos direitos fundamentais .........................................................................34 Quadro 7 - Pases que obtiveram menos de 50% da populao com acesso a melhoras sanitrias
...................................................................................................................................................72 Quadro 8 - Pases que obtiveram 100% da populao com acesso a melhoras sanitrias ...........74 Quadro 9 - Populao que obtiveram melhora do abastecimento de gua potvel e instalaes
sanitrias em reas urbanas e rurais (%) .....................................................................................76 Quadro 10 - A transformao mundial de 1990 a 2015 em relao ao saneamento ....................79 Quadro 11 - Histrico do saneamento no Brasil .........................................................................81 Quadro 12 - Gesto e infraestrutura estrangeira .........................................................................92 Quadro 13 - Capacidade de produo dos complexos de abastecimento em 2015 .....................98 Quadro 14 - Volume de Reservao .........................................................................................102 Quadro 15 - Relao de obras da infraestrutura urbana em Manaus PAC .............................109 Quadro 16 - Infraestrutura a partir da concesso ......................................................................109 Quadro 17 - Investimentos nas redes MA / COSAMA ..........................................................119 Quadro 18 - ndices de Atendimentos ......................................................................................120 Quadro 19 - Evoluo da cobertura de gua pela extenso da rede de abastecimento: 2000 a
2015 (ARSAM) ........................................................................................................................122 Quadro 20 - Evoluo da cobertura de esgoto por extenso de rede coletora: 2000 a 2015
(ARSAM) .................................................................................................................................123 Quadro 21 - Plano de metas e indicadores A ............................................................................128 Quadro 22 - Plano de metas e indicadores B ............................................................................128 Quadro 23 - Plano de metas e indicadores C ............................................................................129 Quadro 24 - Plano de metas e indicadores D ............................................................................130 Quadro 25 - Plano de metas e indicadores E ............................................................................130 Quadro 26 - Plano de metas e indicadores F ............................................................................131 Quadro 27 - Os vinte melhores e dez piores no ranking do saneamento ...................................132
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - ndices de coleta e tratamento de esgotos ................................................................ 114
Tabela 2 - Cidades que alcanaram a universalizao do abastecimento de gua na rea urbana
por tipo de operador ................................................................................................................. 137
Tabela 3 - Cidades que alcanaram a universalizao do esgotamento sanitrio na rea urbana
por tipo de operador ................................................................................................................. 138
12
LISTA DE ABREVIATURAS
AA Abastecimento de gua
AIDIS - Asociacin Interamericana de Ingeniera Sanitaria y Ambiental
ARSAM Agncia Reguladora dos Servios Pblicos Concedidos do Estado do
Amazonas
BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social
BNH - Banco Nacional da Habitao
CEPAL - Comisin Econmica para Amrica Latina y el Caribe
CESB - Companhias Estaduais de Saneamento Bsico
CF Constituio Federal
CNI - Confederao Nacional da Indstria
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais
COSAMA - Companhia de Saneamento do Estado do Amazonas
CPAS - Produo de guas Subterrneas
CPI Comisso Parlamentar de Inqurito
DITEC - Diretoria Tcnica de Concesses e Regulao da Qualidade
DUDH - Declarao Universal dos Direitos Humanos
EEE Estao Elevatrias de Esgoto
EPC - Estao de Pr-Condicionamento
ES Esgotamento Sanitrio
ETA Estao de Tratamento de gua
ETE Estao de Tratamento de Efluente
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Servio
FIPE - Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas
FNSA - Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental
FUNASA Fundao Nacional de Sade
IBGE - Instituto brasileiro de Geografia e Estatstica
MA Manaus Ambiental
ODM Objetivos do Milnio
ODS Objetivos do Desenvolvimento Sustentvel
OMS Organizao Mundial de Sade
ONU Organizao das Naes Unidas
PAC - Programa de Acelerao do Crescimento
PLANASA - Plano Nacional de Saneamento
PLANSAB - Plano Nacional de Saneamento Bsico
PLC Projetos de Leis da Cmara
PMM - Prefeitura Municipal de Manaus
PNMA - Poltica Nacional do Meio Ambiente
PNUMA Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente
PPP Parceria Pblico - Privado PROAMA Programa guas para Manaus
PROSAMIM - Programa Social e Ambiental dos Igaraps de Manaus
PROURBIS Programa de Desenvolvimento Urbano e Incluso Socioambiental de
Manaus
PV Poos de Visita
SAA Sistema de Abastecimento de gua
SABESP Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo
13
SAE Sistema de Abastecimento e Esgotamento Sanitrio
SEINFRA Secretaria de Estado de Infraestrutura
SES Servio de Esgotamento Sanitrio
SNIS Sistema Nacional de Informaes Sobre Saneamento
SNSA - Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental
TIL - Tubo de Inspeo e Limpeza
TL - Terminal de Limpeza
UTS Unidade de Tratamento Simplificado
ZFM - Zona Franca de Manaus
14
SUMRIO
INTRODUO ...................................................................................................................... 16
2 ESTRATGIA METODOLGICA.................................................................................. 18 2.1 OBJETIVOS .............................................................................................................................. 18
2.2 RELEVNCIA .......................................................................................................................... 19
2.3 PROCEDIMENTOS METOLGICO DA ELABORAO DA DISSERTAO .................. 20
2.4 REA DE ESTUDO .................................................................................................................. 21
2.5 CARACTERIZAO E PROCEDIMENTO DE ANLISE .................................................... 22
2.5.1 O Sistema Nacional de informaes sobre saneamento SNIS........................................... 23
2.5.2 ARSAM............................................................................................................................... 27
2.5.3 Metas do Contrato de Concesso ......................................................................................... 28
2.5.4 Ranking do saneamento ....................................................................................................... 29
3 ASPECTOS CONCEITUAIS ............................................................................................. 31 3.1 OS SAES: O DIREITO HUMANO E FUNDAMENTAL DE ACESSO SEGUNDO A
LEGISLAO BRASILEIRA ........................................................................................................ 31
3.1.1 O direito humano aos SAE .................................................................................................. 31
3.1.2 As geraes dos direitos fundamentais e a dignidade da pessoa humana............................. 34
3.2 CONHECENDO OS SAE NA HISTRIA MUNDIAL ............................................................ 39
3.3 SERVIOS DE SANEAMENTO .............................................................................................. 48
3.4 O SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE GUA (SAA) E O SISTEMA DE
ESGOTAMENTO SANITRIO (SES) ........................................................................................... 50
3.4.1 O tratamento do esgoto ........................................................................................................ 56
3.5 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL NA PERSPECTIVA DOS SAE E SEU PAPEL
PARA O ALCANCE DA UNIVERSALIZAO ........................................................................... 60
3.5.1 A agenda 2030 dos objetivos do desenvolvimento sustentvel (6 objetivo) em relao ao
saneamento ................................................................................................................................... 65
3.5.1.1 O acesso aos SAE pelo mundo .......................................................................................... 68
3.5.1.2 Os SAES no Brasil ........................................................................................................... 80
4 OS SAE NA CIDADE DE MANAUS ................................................................................ 89 4.1 A INFRAESTRUTURA URBANA DOS SAE NA BELLE EPOQU ...................................... 89
4.2 A INFRAESTRUTURA URBANA DOS SAE PS-CONCESSO ......................................... 94
4.2.1 Sistema de abastecimento de gua ....................................................................................... 94
4.2.1.1 Sistema de aduo, distribuio e reservao ................................................................ 100
4.2.2 Sistema de esgotamento sanitrio ...................................................................................... 103
4.2.3 Projetos urbanos acerca dos SAE ...................................................................................... 103
4.2.3.1 PROSAMIM .................................................................................................................... 104
4.2.3.2 Prourbis.......................................................................................................................... 107
4.2.3.3 PAC saneamento ............................................................................................................ 108
5 RESULTADOS E DISCUSSO....................................................................................... 111 5.1 GRUPO 01: SNIS SISTEMA NACIONAL DE INFORMAES SOBRE SANEAMENTO
....................................................................................................................................................... 111
5.1.1 Extenso das redes AA e ES .............................................................................................. 111
5.1.1.2 ndices de coleta e tratamento de esgoto ........................................................................ 114
5.1.1.3 Ligaes totais de esgoto ................................................................................................ 115
5.1.2 Populao atendida pela rede AA e ES .............................................................................. 117
5.1.3 Investimentos realizados nos SAA e ES ............................................................................ 118
5.1.4 ndices de atendimentos SAA e SES ................................................................................. 119
5.2 GRUPO 02: ARSAM - AGNCIA REGULADORA DOS SERVIOS PBLICOS
CONCEDIDOS DO ESTADO DO AMAZONAS ......................................................................... 121
5.2.1 Rede de abastecimento de gua ......................................................................................... 121
5.2.2 Rede de esgotamento sanitrio .......................................................................................... 123
5.3 ANLISE SOBRE AS ABORDAGENS DOS INDICADORES DE DESEMPENHO
CONFORME ARSAM E SNIS ...................................................................................................... 124
15
5.4 GRUPO 03: METAS E INDICADORES DO CONTRATO DE CONCESSO DOS SAE EM
MANAUS ...................................................................................................................................... 127
5.5 GRUPO 04: RANKING DO SANEAMENTO 2016 ................................................................. 131
5.5.1 O ranking do saneamento dos vinte melhores colocados ................................................... 134
5.5.1.1 Por tipo de gesto (contratos) ........................................................................................ 136
5.5.1.2 Cidades que universalizaram os SAA por tipo de operador ........................................... 137
5.5.1.3 Cidades que universalizaram os SES por tipo de operador ............................................ 138
5.5.2 O ranking do saneamento dos dez piores colocados .......................................................... 139
5.5.2.1 Por tipo de gesto (contratos) ........................................................................................ 141
6 CONCLUSO .................................................................................................................... 144
REFERNCIAS.................................................................................................................... 149
ANEXOS................................................................................................................................ 162
16
INTRODUO
Aps o apogeu do perodo ureo da produo da borracha (1890 1920), Manaus
passou por uma estagnao em sua economia, que refletiu principalmente em seu baixo
crescimento populacional que se deu at a implantao da Zona Franca de Manaus (ZFM),
com a criao do Distrito Industrial e outras estruturas no final da dcada de 1960. A grande
oferta de emprego na Zona Franca acarretou em uma forte migrao de pessoas vindas de
diversas partes do mundo, de outros estados e do interior do Amazonas para a capital
amazonense. A cidade no estava preparada para atender a demanda da populao por
servios bsicos e por infraestrutura urbana e proporcionalmente ao crescimento populacional
vieram os problemas socioambientais, como no caso do saneamento bsico.
Entre os anos 1970 e 1999, os servios de abastecimento de gua, coleta e tratamento
de esgoto ficaram a cargo da empresa Companhia de Saneamento do Estado do Amazonas
COSAMA e, a partir do ano 2000, a Prefeitura Municipal de Manaus (PMM), ento titular
dos servios permitiu a concesso das atividades de abastecimento de gua e esgoto sanitrio
da cidade, iniciativa privada vencedora da licitao, hoje denominada Manaus Ambiental
(ARSAM, 2015). Os servios de gua e esgoto oferecidos pela Companhia de Saneamento do
Estado do Amazonas COSAMA eram precrios e a empresa passava por srios problemas,
operacionais, financeiros e a alta inadimplncia dos consumidores agravou a sua crise
(OLIVEIRA, 2011). Nesse perodo, tanto Estado e Municpio no tinham como fazer
elevados investimentos, foi ento que o prefeito da poca Amazonino Mendes, abriu
concorrncia para concesso dos servios de gua e esgoto da cidade, o que permitiu um ente
privado gerir o sistema por meio da concesso (CASTRO, 2008). A concesso se deu em um
perodo de grandes mudanas na gesto pblica, quando a lei federal n. 8.987/95 garantiu que
empresas privadas pudessem gerir por tempo determinado os servios antes exclusivos do
Estado e do Municpio, a fim de garantir a qualidade da oferta dos mesmos populao.
Nessa poca as concesses j eram comuns, contudo, no correr da dcada de 1990,
predominou no Brasil a orientao do Governo Federal que foi endossada por vrios Estados,
no sentido de privatizar empresas pblicas, em particular nos setores de telecomunicao,
energia, transporte e bancos estaduais. Nesse perodo privatizaram servios de abastecimento
de gua e esgotamento sanitrio, a saber: Limeira, (SP), Regio dos Lagos (RJ), Niteri (RJ)
Jundia (SP), Itu, (SP), Araruama (RJ), Campos (RJ) e Saquarema (RJ), Ribeiro Preto (SP),
17
Araatuba (SP), Petrpolis (RJ), Paranagu (PR), de forma total ou parcial (OLIVEIRA;
REZENDE; HELLER, 2011; PARLATORE, 2000).
Nos primeiros anos da gesto privatizada em Manaus muito se questionou sobre sua
eficincia operacional, decorrente em grande parte da insatisfao da populao na poca em
relao aos servios oferecidos. Ocorreram mobilizaes sociais, que culminou na criao de
uma CPI, a fim de investigar as aes da empresa e o processo que garantiu a concesso,
como noticiado na impressa local na poca, como nos lembra (CASTRO, 2008). No total
foram feitos cinco aditivos no contrato de concesso, onde ocorreram diversas alteraes nas
metas iniciais e outros quesitos, alm de obras de infraestrutura, entre outros, e que garantiu a
extenso dos servios por um total de 45 anos empresa concessionria (ARSAM, 2015).
Cada municpio escolhe a melhor forma de gerir o setor, por exemplo, aqueles
municpios que no concederam os servios a um ente privado, tm seus servios geridos pelo
poder pblico municipal ou estadual, sendo estes denominados sistemas autnomos, como o
caso da SABESP, COPASA, COSAMA e outras companhias municipais e estaduais. No
estado do Amazonas, 12 dos 62 municpios tm seus servios de abastecimento de gua,
coleta e tratamento de esgoto gerenciado pela COSAMA e na capital do Amazonas, estes
servios esto a cargo da empresa Manaus Ambiental, que detm a concesso do sistema de
abastecimento, coleta e tratamento de esgoto. A concesso dos servios de abastecimento de
gua e esgotamento nesta cidade no o objetivo desta pesquisa, mas o fato de ser
privatizado torna esta caracterstica diferenciada dos SAE1 em Manaus, sendo esta a nica
cidade do estado do Amazonas com esses servios privatizados.
At 2007 no existia uma poltica clara de saneamento bsico e a gesto de
saneamento era regida pelas normas gerais vigentes, porm, foi com o advento da lei federal
n. 11.445/2007 que o setor passou a ter um marco regulatrio que entre outros, garantiu
regulou a gesto dos servios, definiu o titular dos servios, estabeleceu diretrizes e normas
para cobrana, de qualidade dos servios prestados e definiu o objetivo primordial dessas
aes no Brasil que alcanar a universalizao2 dos servios.
1 Para separao e melhor compreenso o saneamento no foi tratado de acordo com o conceito mais amplo, e sim a partir da delimitao de aes, ou seja, sob a tica dos SAE Sistema de Abastecimento de gua e
Esgotamento sanitrio sendo esses importantes componentes do saneamento 2 O termo relativamente novo, mas ideia central que remete aos direitos iguais e dignidade da pessoa humana que surgiu aps a segunda guerra mundial, no prembulo da Declarao Universal dos Direitos Humanos,
embora a universalizao seja definida de forma genrica optou-se pela ideia definida no marco regulatrio do
setor de saneamento (Lei Federal n. 11.445/2007) que em linhas gerais diz respeito ao acesso equitativo de toda
populao aos mesmos servios (SAE).
18
Previsto na Lei Federal 11.445/2007, o Plano Nacional de Saneamento Bsico
(PLANSAB) institui com redao inicial em 2008 e consolidado em 2014, e prev dentre
outros a universalizao dos servios de abastecimento com gua potvel at 2023 e de
esgotamento sanitrio at 2033. Tais servios so essenciais ao ser humano e a ausncia deles
provoca diversos problemas principalmente relacionados sade pblica.
Com intuito de minimizar as aes negativas da falta de saneamento foram criados
diversos programas, no municpio de Manaus, destaca-se o Programa Social e Ambiental dos
Igaraps de Manaus PROSAMIM que beneficiou diversas famlias que viviam e vivem em
situao de risco iminente, hoje sendo expandido para outras cidades do Estado do Amazonas,
e o Programa de Acelerao do Crescimento (PAC), que prev diversas obras de
infraestrutura no Pas, dentre os quais no saneamento.
Pesquisar o saneamento, sobretudo o abastecimento de gua e esgotamento sanitrio,
desafiador principalmente na regio amaznica. Ainda que detenha a maior concentrao de
gua doce do mundo, a populao da regio sofre com falta de gua e com doenas
relacionadas falta de coleta e tratamento de esgoto. Neste sentido o grande questionamento
desta pesquisa se baseia na investigao dos desafios enfrentados pela cidade de Manaus para
ampliao do acesso ao abastecimento de gua e ao sistema de esgotamento sanitrio. O
presente estudo poder dar suporte aos atores envolvidos na gesto do saneamento em
Manaus, pois trar informaes teis aos gestores pblicos e privados, e principalmente
esclarecer a sociedade sobre as dificuldades encontradas para a universalizao destes dois
servios.
2 ESTRATGIA METODOLGICA
No presente, sero apresentados os elementos constitutivos que deram suporte para a
elaborao desta dissertao de mestrado.
2.1 OBJETIVOS
Alcanar a universalizao do saneamento um dos anseios mais urgentes enfrentados
pela populao mundial, tanto que foi eleito como um dos Objetivos do outrora chamado
Objetivos do Milnio e agora Objetivos do Desenvolvimento sustentvel, que influncia
19
diretamente na sade pblica, na qualidade de vida e do bem-estar da populao, ou seja, de
cunho social, econmico, cultural e ambiental.
O principal propsito desta pesquisa foi compreender como a capital do Estado do
Amazonas ainda sofre com a falta de servio de abastecimento de gua e esgotamento
sanitrio.
Como objetivos especficos:
- Apresentou-se o histrico dos servios de abastecimento de gua e esgotamento
sanitrio em na cidade de Manaus;
- Apresentou-se e discutiu-se sobre o estado atual dos servios de abastecimento de
gua e esgotamento sanitrio oferecidos pela prestadora Manaus Ambiental;
- Avaliou-se o cumprimento das metas estabelecidas no contrato de concesso dos
SAE com vistas a alcanar a universalizao do acesso a estes servios.
2.2 RELEVNCIA
A presente pesquisa possui relevncia por se tratar de um tema sensvel a qualquer
pas, pois, demonstra a dinmica urbana vivenciada pela humanidade e apelo feito pelos
Objetivos do Desenvolvimento Sustentvel para erradicar dentre outros a discrepncia em
termos de acesso ao saneamento no mundo onde milhes de pessoas ainda no tm acesso
gua potvel e de qualidade e outros milhares sequer tm acesso a descargas sanitrias,
conforme exaustivamente demonstrado pela ONU em seus relatrios anuais. A meta dos
Objetivos do Milnio (ODM) em relao ao saneamento no mundo no foi completada na
vigncia da agenda 2015, e novamente foi incorporada na agenda 2030 dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentvel (ODS). No Brasil, a situao no diferente, mesmo tendo
avanando no que tange s polticas pblicas, o setor ainda no evolui como deveria, e
governos da regio amaznica que est cerceada de gua no conseguem oferecer suas
populaes gua tratadas, muito menos servios de esgotamento sanitrio. Compreender o
processo ocorrido nessa regio pode contribuir para criao de polticas pblicas para o uso
deste recurso. Alm de contribuir para a diminuio da lacuna cientifica existente na rea,
dado o nfimo registro de pesquisas cientficas sobre o assunto na regio.
20
2.3 PROCEDIMENTOS METOLGICO DA ELABORAO DA DISSERTAO
A presente pesquisa dedicou-se especificamente no que concernem s aes
(operacionais) dos SAE com vistas universalizao desses sistemas. A abordagem escolhida
foi o estudo caso, que envolver fontes de evidncias tais como levantamento bibliogrfico
com intudo de promover a contorno terico-metodolgico e destacar os principais autores
que esto ligados ao tema escolhido desta pesquisa. Foi utilizado o conceito de estudo de caso
dado por Yin (2015, p. 17) ao qual define estudo de caso como sendo um estudo que
investiga um fenmeno contemporneo (o caso), em profundidade e em seu contexto no
mundo real, especialmente quando as fronteiras entre os fenmenos e o contexto possam no
estar claramente evidentes. Seguindo esse pensamento corrobora Goldenberg (2007) dizendo
que o estudo de caso uma anlise holstica, ou seja, considera a unidade social como
um todo, com objetivo de compreend-los em seus prprios termos. Em relao ao
levantamento bibliogrfico, Severino (2007, p.122) afirma que aquele que realizado a
partir do registro disponvel, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos,
como livros, artigos, teses, etc.
Esse tipo de pesquisa visa o levantamento das contribuies dadas por outros
pesquisadores na rea de estudo atravs da publicao dos resultados de suas pesquisas. O
segundo passo foi pesquisa documental tais como o contrato de concesso e seus cinco
aditivos de contrato, relatrios de atividade da Agncia Reguladora dos Servios Pblicos
Concedidos do Estado do Amazonas (ARSAM). Concomitantemente a anlise documental
segundo Ludwig (2012) so fontes ricas e estveis e que fundamentam as afirmaes do
pesquisador alm de completar informaes obtidas por meio de outras tcnicas. Constituem
tais fontes: leis, regulamentos, ofcios, estatutos.
Por ter sido elegido o estudo de caso como abordagem, o mtodo qualitativo se torna
mais indicado para nortear estar pesquisa. Segundo Minayo (2006, p. 57) o mtodo
qualitativo o que se aplica ao estudo da histria, das relaes, das representaes, das
crenas, das percepes e das opinies, produto das interpretaes que os humanos fazem a
respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos....
Goldenberg (2007, p. 53) nos diz que os dados qualitativos consistem em descries
detalhadas de situaes com o objetivo de compreender os indivduos em seus prprios
termos. Une-se a este elenco, Richardson (2015) afirmando que uma forma adequada para
entender a natureza de um fenmeno social. Sob estes prismas esse tipo de pesquisa amplo e
flexvel, podendo estudar as os mais diversos fenmenos, indivduos ou situaes.
21
Para o levantamento qualitativo, utilizou-se a anlise descritiva das informaes e
indicadores fornecidos pelo SNIS que envolveram os anos de 2000 a 2015, as metas do
contrato de concesso, relatrios de atividade da ARSAM, e os indicadores utilizados no
ranking do saneamento 2016 do Instituto Trata Brasil proporcionando ao pesquisador a
possibilidade de proceder com a anlise e discusso acerca do tema proposto por essa
pesquisa. Esse de carter descritivo-exploratrio, cujo objetivo levantar informaes,
tornando o objeto da pesquisa mais familiar ao pesquisador uma vez que o contedo a ser
estudado pouco explorado, permitindo conhecer as caractersticas, causas e consequncias
de um fenmeno. (GIL, 2008; RICHARDSON, 2015; SEVERINO, 2007).
2.4 REA DE ESTUDO
Foi definido o estudo de caso como sendo do tipo nico, assim sendo o recorte
geogrfico desta pesquisa foi a rea urbana do municpio de Manaus, capital do estado do
Amazonas, pois dentre as cidades amazonenses apenas Manaus, possui estrutura razovel de
funcionamento dos servios de abastecimento de gua e estrutura mnima de rede de esgoto.
Alm de deter a maior concentrao populacional do estado e a nica com tais servios
privatizados.
Figura 1 - Localizao da rea de estudo. Municpio de Manaus, Estado do Amazonas.
Brasil
Fonte: O prprio autor, 2017.
22
Em rea de unidade territorial total Manaus mede 11.401,092 km2, e uma populao
estimada de 2.094.391 habitantes segundo o IBGE (2016). Localiza-se margem esquerda do
Rio Negro e a rea urbana mede 377 km2, fazendo limites com as cidades de Presidente
Figueiredo, Careiro, Iranduba, Rio Preto da Eva e Novo Airo3. At 2009, a cidade era
dividida em 56 bairros, atualmente so 63 registrados (MANAUS, 2010).
2.5 CARACTERIZAO E PROCEDIMENTO DE ANLISE
Por se tratar de uma anlise qualitativa de indicadores, quatro grupos de base de dados
foram escolhidos, sendo essas bases de dados nacionais e locais, sendo escolhidos por
retratarem a situao dos SAE em Manaus e situar a cidade de Manaus em relao s vinte
cidades mais bem posicionadas do pas, fornecendo evidncias que expliquem a sua posio
no ranking do saneamento promovido pelo Instituto conforme figura 2 pelo Instituto Trata
Brasil e divulgado em 2016.
Figura 2 - Grupo de dados
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.
3 conforme informaes obtidas no site da Suframa: http://www.suframa.gov.br/zfm_turismo_manaus.cfm
http://www.suframa.gov.br/zfm_turismo_manaus.cfm
23
2.5.1 O Sistema Nacional de informaes sobre saneamento SNIS
Foi criado em 1996 pelo Governo Federal e administrado pela Secretaria Nacional
de Saneamento Ambiental (SNSA) do Ministrio das Cidades, hoje o maior e mais
importante sistema de informaes acerca do setor de saneamento no Pas, contm
informaes de carter institucional, administrativo, operacional, gerencial,
econmico-financeiro e de qualidade sobre a prestao de servios de gua,
esgotos e manejo de resduos slidos urbanos.
Estando disponveis dados desde 1995 at 2015 (no momento), a base de dados
composta por meio de resposta voluntria de questionrios por parte das operadoras de
saneamento brasileiras e servem de apoio para a tomada de deciso e das polticas pblicas.
Divide-se em dois componentes: gua e esgotos e resduos slidos, sendo essas informaes
coletadas anualmente e provm de prestadores de servios ou rgos municipais encarregados
da gesto dos servios. Para esta presente pesquisa utilizou-se o SNIS Srie Histrica que
um programa possvel de ser acessado na web e permite consultar informaes e indicadores,
alm de poder cruzar essas informaes permitindo uma avaliao melhor, sendo utilizada a
base de dados desagregada a fim de ampliar os dados referentes aos prestadores de servios.
Os dados coletados foram escolhidos depois de minuciosa avaliao por tratar de temas que
afetam diretamente a expanso das redes de gua e esgoto e se considerou os anos de 2000 a
2015, pois, o longo perodo de tempo coincide com o primeiro perodo de concesso (15
anos).
24
Quadro 1 - Relao dos indicadores SNIS
IN015 - ndice de coleta de esgoto
Forma de Clculo Informaes envolvidas Unidade
______ES005_____x100
AG010 - AG019
AG010: Volume de gua consumido
AG019: Volume de gua tratada exportado
ES005: Volume de esgotos coletado
Percentual
IN016 - ndice de tratamento de esgoto
Forma de Clculo Informaes envolvidas Unidade
__ES006 + ES014 + ES015 x 100
ES005 + ES013
ES005: Volume de esgoto coletado
ES006: Volume de esgoto tratado
ES013: Volume de esgoto bruto importado
ES014: Volume de esgoto importado tratado nas instalaes do importador
ES015: Volume de esgoto bruto exportado tratado nas instalaes do importador
Percentual
IN023 - ndice de atendimento urbano de gua
Forma de Clculo Informaes envolvidas Unidade
_AG026_ x 100
GE06a
AG026: Populao urbana atendida com abastecimento de gua
G06A: Populao urbana residente dos municpios com abastecimento de gua
POP_URB: Populao urbana do municpio do ano de referncia (Fonte: IBGE):
Percentual
IN047 - ndice de atendimento urbano de esgoto referido aos municpios atendidos com esgoto
Forma de Clculo Informaes envolvidas Unidade
_ES026 _ x 100
GE06b
ES026: Populao urbana atendida com esgotamento sanitrio
G06B: Populao urbana residente dos municpios com esgotamento sanitrio
POP_URB: Populao urbana do municpio do ano de referncia (Fonte: IBGE):
Percentual
IN049 - ndice de perdas na distribuio
Forma de Clculo Informaes envolvidas Unidade
AG006 + AG018 AG010 AG024_ x 100
AG006 + AG018 AG024
AG006: Volume de gua produzido
AG010: Volume de gua consumido
AG018: Volume de gua tratada importado
AG024: Volume de servio
Percentual
Fonte: Diagnstico dos Servios de gua e Esgotos 2015.
25
Quadro 2 - Relao de informaes do SNIS
AG005
EXTENSO DA REDE DE GUA
Comprimento total da malha de distribuio de gua, incluindo adutoras, subadutoras e redes distribuidoras e excluindo ramais prediais, operada
pelo prestador de servios, no ltimo dia do ano de referncia. Unidade: km.
AG021
QUANTIDADE DE LIGAES TOTAIS DE GUA
Quantidade de ligaes totais (ativas e inativas) de gua rede pblica, providas ou no de hidrmetro, existente no ltimo dia do ano de
referncia. Unidade: Ligaes.
AG026
POPULAO URBANA ATENDIDA COM ABASTECIMENTO DE GUA
Valor da populao urbana atendida com abastecimento de gua pelo prestador de servios, no ltimo dia do ano de referncia. Corresponde
populao urbana que efetivamente atendida com os servios. Unidade: Habitantes.
ES004
EXTENSO DA REDE DE ESGOTOS
Comprimento total da malha de coleta de esgoto, incluindo redes de coleta, coletor tronco e interceptores e excluindo ramais prediais e
emissrios de recalque, operada pelo prestador de servios, no ltimo dia do ano de referncia. Unidade: km.
ES009
QUANTIDADE DE LIGAES TOTAIS DE ESGOTOS
Quantidade de ligaes totais (ativas e inativas) de esgotos rede pblica, existentes no ltimo dia do ano de referncia.
Referncias: X035; X040; X080; X090. Unidade: Ligaes.
ES026
POPULAO URBANA ATENDIDA COM ESGOTAMENTO SANITRIO
Valor da populao urbana beneficiada com esgotamento sanitrio pelo prestador de servios, no ltimo dia do ano de referncia. Corresponde
populao urbana que efetivamente atendida com os servios. Unidade: Habitantes.
FN023
INVESTIMENTO REALIZADO EM ABASTECIMENTO DE GUA PELO PRESTADOR DE SERVIOS
Valor do investimento realizado no ano de referncia, diretamente ou por meio de contratos celebrados pelo prprio prestador de servios, em
equipamentos e instalaes incorporados ao (s) sistema (s) de abastecimento de gua, contabilizado em Obras em Andamento, no Ativo
Imobilizado ou no Ativo Intangvel. Unidade: R$/ano. (Continua...)
26
(Continuao...)
FN024
INVESTIMENTO REALIZADO EM ESGOTAMENTO SANITRIO PELO PRESTADOR DE SERVIOS
Valor do investimento realizado no ano de referncia, diretamente ou por meio de contratos celebrados pelo prprio prestador de servios, em
equipamentos e instalaes incorporados ao (s) sistema (s) de esgotamento sanitrio, contabilizado em Obras em Andamento, no Ativo
Imobilizado ou no Ativo Intangvel. Unidade: R$/ano.
FN042
INVESTIMENTO REALIZADO EM ABASTECIMENTO DE GUA PELO (S) MUNICPIO (S)
Valor do investimento realizado no ano de referncia, diretamente ou por meio de contratos celebrados pelo Municpio, em equipamentos e
instalaes incorporados ao (s) sistema (s) de abastecimento de gua, contabilizado em Obras em Andamento, no Ativo Imobilizado ou no Ativo
Intangvel. Unidade: R$/ano.
FN043
INVESTIMENTO REALIZADO EM ESGOTAMENTO SANITRIO PELO (S) MUNICPIO (S)
Valor do investimento realizado no ano de referncia, diretamente ou por meio de contratos celebrados pelo Municpio, em equipamentos e
instalaes incorporados ao (s) sistema (s) de esgotamento sanitrio, contabilizado em Obras em Andamento, no Ativo Imobilizado ou no Ativo
Intangvel. Unidade: R$/ano.
FN052
INVESTIMENTO REALIZADO EM ABASTECIMENTO DE GUA PELO ESTADO
Valor do investimento realizado no ano de referncia, diretamente ou por meio de contratos celebrados pelo Estado, em equipamentos e
instalaes incorporados ao (s) sistema (s) de abastecimento de gua contabilizado em Obras em Andamento, no Ativo Imobilizado ou no Ativo
Intangvel. Unidade: R$/ano.
FN053
INVESTIMENTO REALIZADO EM ESGOTAMENTO SANITRIO PELO ESTADO
Valor do investimento realizado no ano de referncia, diretamente ou por meio de contratos celebrados pelo Estado, em equipamentos e
instalaes incorporados ao(s) sistema(s) de esgotamento sanitrio, contabilizado em Obras em Andamento, no Ativo Imobilizado ou no Ativo
Intangvel. Unidade: R$/ano. Fonte: Informaes retiradas integralmente do Diagnstico dos Servios de gua e Esgotos 2015.
27
2.5.2 ARSAM
A Agncia Reguladora dos Servios Pblicos Concedidos do Estado do Amazonas
ARSAM4 foi criada pela Lei n 2.568, de 25 de novembro de 1999, para atuar como uma
autarquia, em regime especial, integrante da administrao indireta do Poder Executivo. A
partir da Lei Delegada n 105, de 18 de maio de 2004, essa agncia passou a ser vinculada
Secretaria de Estado de Infraestrutura SEINFRA. Mais recentemente, a partir da Lei n
4.163, de 9 de maro de 2015, a ARSAM teve sua estrutura organizacional alterada, sofrendo
a reduo de sete para duas diretorias e seus respectivos departamentos, e passou a ficar
vinculada diretamente Casa Civil do Governo Estadual do Amazonas.
A ARSAM tem como atribuies a fiscalizao, mediao, controle e regulao da
qualidade dos servios de transporte coletivo rodovirio intermunicipal de passageiros, de gs
natural canalizado e, por fora de convnio com a Prefeitura Municipal de Manaus, os
mesmos procedimentos sobre o abastecimento de gua e esgotamento sanitrio da capital. A
regulao dos servios concedidos respaldada por convnios, contratos, termos ou outras
legislaes que regulamentam a prestao dos servios diretamente, ou mediante regime de
concesso, ou, ainda, por permisso. Os indicadores avaliados levam em considerao, assim
como o grupo do SNIS, quinze anos (2000 a 2015), mas, em menor quantidade, os
indicadores avaliados pela ARSAM e calculados por metodologia prpria.
Quadro 3 - Relao de Indicadores ARSAM
Extenso de
rede de gua
(m)
N de economias
de gua
N de ligaes
de gua (N
econ/1.2)
Populao
atendida
Evoluo da
cobertura de
gua por
extenso de rede
(%)
Extenso de rede
coletora de
esgoto (m)
N de
economias
de esgoto
N de ligaes
de esgoto
(econ. /1.2)
Populao
Atendida
Evoluo da
cobertura de
esgoto por
extenso
de rede (%) Fonte: Relatrio de atividades 2015.
4 Informaes retiradas integralmente do relatrio de atividade da ARSAM (2015). Disponvel em: http://www.arsam.am.gov.br/wp/wp-content/uploads/Relat%C3%B3rio-de-atividades-ARSAM-2015.pdf.
http://www.arsam.am.gov.br/wp/wp-content/uploads/Relat%C3%B3rio-de-atividades-ARSAM-2015.pdf
28
2.5.3 Metas do Contrato de Concesso
A Concesso dos servios de abastecimento de gua e esgotamento sanitrio
formalizada em 04/07/2000 previa a avaliao das metas contratuais a ocorrem nos meses de
junho de 2006, 2011, 2016, 2021, 2026 e 2029.
Nas avaliaes de 2006 e 2011 foi constatado que no estavam contempladas as
metas anuais e/ou intermedirias que espelhassem a evoluo e a qualidade da
prestao dos servios. As principais avaliaes realizadas pela Diretoria Tcnica de
Concesses e Regulao da Qualidade DITEC da ARSAM, no perodo de 2003 a
2006, demonstraram que no estava ocorrendo o cumprimento total das 13 (treze)
metas pactuadas. Por isso, foi realizada uma avaliao dessas metas por uma
comisso especial, criada para o estudo do novo regime tarifrio, em abril de 2005.
Por exigncia do poder concedente, a Prefeitura de Manaus, foram realizadas, ento,
vrias avaliaes para uma reviso das metas de concesso. Assim, em abril de
2006, foi apresentada a avaliao da Fundao Djalma Batista; em junho de 2006, a
avaliao pela Fundao Getlio Vargas; em novembro de 2006, outra avaliao
pela Deloitte Tohmatsu Consultores Ltda.; e em maro de 2012 nova avaliao pela
Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas FIPE. Dessa forma, foi possvel, com
base nas avaliaes das diferentes instituies mencionadas, a realizao de termos
aditivos para os servios de abastecimento de gua e esgotamento sanitrio de
Manaus. Esses termos aditivos ao contrato de concesso original foram celebrados
entre a Prefeitura de Manaus com a Concessionria guas do Amazonas, em
diferentes datas. (ARSAM, 2015 p. 23)
Cabe a ARSAM fiscalizar e avaliar as metas estabelecidas no contrato, alm de propor
aes corretivas e sanes, quando for o caso. Das metas dispostas no anexo IV do contrato
de concesso sete foram escolhidas para anlise, possveis de comparao com os dados da
ARSAM e SNIS.
Quadro 4 - Relao de Indicadores do Contrato de Concesso
INDICADOR UNID
1 Cobertura do servio de gua %
2 Cobertura do servio de esgoto %
7 Continuidade do servio de gua H
10 Porcentagem de tratamento dos esgotos gerados e controlados %
11 Volume total de reservao de gua m
14 ndice de hidrometrao %
Fonte: Contrato de Concesso dos SAE em Manaus.
29
2.5.4 Ranking do saneamento
O Ranking do saneamento brasileiro uma publicao do Instituto Trata Brasil a cada
quatro anos, o ltimo relatrio de 2016 e o anterior de 2013.
Sua metodologia de anlise prpria e dentre outros se considerou:
Os 100 maiores municpios do Brasil em termos populacionais;
Os dados foram retirados do Sistema Nacional de Informaes sobre o Saneamento
(SNIS);
Os dados coletados no SNIS foram tratados de forma a expressarem sua prpria
metodologia5, ento cada municpio foi classificado de acordo com seus indicadores e
ordenados da maior para a menor nota.
As variveis escolhidas englobam as informaes e indicadores fornecidos pelo SNIS,
foram utilizadas as seguintes varveis (populao, fornecimento de gua, coleta e tratamento
de esgoto, investimentos e perdas), a escolha desses indicadores se deu em razo de refletirem
a anlise principal desta pesquisa, a universalizao dos SAE, sobretudo em Manaus e como
os dados apresentados at o momento influenciaram no panorama geral da posio de Manaus
no ranking em relao as demais cidades sua base de dados considerou os dados do SNIS do
ano de 2014 como base por causa da sua defasagem natural de ano de publicao, ou seja, o
ranking atual se baseou nos dados coletados e apresentados no ano base de 2014.
5 Para mais detalhes sobre a metodologia utilizada consultar o relatrio do ranking. Disponvel em: http://www.tratabrasil.org.br/ranking-do-saneamento-4.
http://www.tratabrasil.org.br/ranking-do-saneamento-4
30
Quadro 5 - Relao de Indicadores do Ranking do Saneamento Indicador IN023 - ndice de Atendimento Urbano de gua
Valor da populao urbana atendida com abastecimento de gua pelo prestador de servios, no ltimo dia do ano de referncia. Corresponde populao urbana que
efetivamente atendida com os servios.
Indicador IN024 - ndice de Atendimento Urbano de Esgoto
Valor da populao urbana beneficiada com esgotamento sanitrio pelo prestador de servios, no ltimo dia do ano de referncia. Corresponde populao urbana
que efetivamente servida com os servios.
FN058 Investimentos totais / FN006 Arrecadao total
A informao FN058 Investimentos totais realizados pelo Estado definida como: valor total dos investimentos realizados no ano de referncia pelo Estado.
Corresponde ao resultado da soma dos investimentos realizados pelo Estado em abastecimento de gua, em esgotamento sanitrio, em outros investimentos, mais as
despesas capitalizveis; ou da soma dos investimentos com recursos prprios, com recursos onerosos e com recursos no onerosos. A informao FN006
Arrecadao total define o valor anual efetivamente arrecadado de todas as receitas operacionais, diretamente nos caixas do prestador de servios ou por meio de
terceiros autorizados (bancos e outros).
Indicador IN046 - ndice de Esgoto Tratado Referido gua Consumida
Esse indicador mostra, em relao gua consumida, qual porcentagem do esgoto tratada. Quanto maior for essa porcentagem, melhor deve ser a colocao do
municpio no Ranking, pois maior parte do esgoto gerado pelo municpio tratada.
Novas Ligaes de gua Sobre Ligaes Faltantes
AG021-Quantidade de ligaes totais de gua como: quantidade de ligaes totais (ativas e inativas) de gua rede pblica, providas ou no de hidrmetro,
existente no ltimo dia do ano de referncia. J o indicador IN055 Populao Total Atendida com gua: corresponde porcentagem da populao que
efetivamente servida com os servios de gua, ou seja, est associada quantidade de economias residenciais ativas de gua.
Novas Ligaes de Esgoto Sobre Ligaes Faltantes
Quantidade de ligaes totais de esgoto como: quantidade de ligaes totais (ativas e inativas) de esgoto rede pblica, existentes no ltimo dia do ano de
referncia.
Indicador IN049 - ndice de Perdas na Distribuio
Volume de gua Produzido (AG006) corresponde ao volume anual de gua disponvel para consumo, compreendendo a gua captada pelo prestador de servios e a
gua bruta importada, ambas tratadas na(s) unidade(s) de tratamento do prestador de servios, medido ou estimado na(s) sada(s) da(s) ETA(s) ou UTS(s). Inclui
tambm os volumes de gua captada pelo prestador de servios ou de gua bruta importada, que forem disponibilizados para consumo sem tratamento, medidos
na(s) respectiva(s) entrada(s) do sistema de distribuio. J o Volume de gua Tratado Importado (AG018) caracteriza o volume anual de gua potvel,
previamente tratada (em ETA(s) ou em UTS(s)), recebido de outros agentes fornecedores. Por sua vez Volume de gua de Servio (AG024) o valor da soma dos
volumes anuais de gua usados para atividades operacionais e especiais, acrescido do volume de gua recuperado. As guas de lavagem das ETA(s) ou UTS(s) no
so consideradas. Por fim, o volume de gua consumido (AG010) definido como o volume anual de gua consumido por todos os usurios, compreendendo o
volume micromedido, o volume de consumo estimado para as ligaes desprovidas de hidrmetro ou com hidrmetro parado, acrescido do volume de gua tratada
exportado para outro prestador de servios. Fonte: Transcrito do Ranking do Saneamento 2016.
31
2.6 LIMITAES DA PESQUISA
Percebeu-se durante a elaborao desta pesquisa que os anos de 2000 e 2001 que todos
os indicadores selecionados no grupo do SNIS no haviam sido informados corretamente,
nesse perodo a gesto dos servios estavam em transio, mas j era de responsabilidade da
Manaus Ambiental, todavia, os dados foram informados como sendo da COSAMA, dessa
maneira esses anos foram retirados da anlise, afim de no comprometer a entendimento dos
mesmos.
3 ASPECTOS CONCEITUAIS
3.1 OS SAES: O DIREITO HUMANO E FUNDAMENTAL DE ACESSO SEGUNDO A
LEGISLAO BRASILEIRA
3.1.1 O direito humano aos SAE
A histria da humanidade marcada por grandes eventos que mudaram a concepo
humana sobre a vida, grandes batalhas desde os primrdios foram registradas em praticamente
todas as eras, desde as feudais at as modernas, o mundo em que vivemos precisou conhecer a
dor para poder comear a se importar com seus semelhantes. Ainda hoje, vivemos em um
mundo que possui conflitos pelo poder, a maior parte, velados, outros nem tanto.
Esses conflitos sempre estiveram presentes na histria humana, as Guerras Civis
Inglesas, a revoluo Francesa, a revoluo Russa, a primeira e a segunda guerra mundial,
dentre tantas outras, mas s em 1945 a comunidade internacional resolveu tomar medidas
para garantir vida. Inicia-se ento a elaborao do um guia e nos trs anos seguintes
esboaram o que futuramente seria chamada de Declarao Universal dos Direitos Humanos
(DUDH), na tentativa nunca mais permitir atrocidades como as que haviam sido vistas nas
guerras passadas.
O Prembulo da Declarao Universal dos Direitos Humanos (1948) Considera que o
reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da famlia humana e de seus
direitos iguais e inalienveis o fundamento da liberdade, da justia e da paz no mundo, ou
seja, no decorrer de seus artigos prega pela igualdade entre homens e mulheres assim como a
busca por melhores condies de vida.
32
Adotada e proclamada pela resoluo 217 A (III) da Assemblia Geral das Naes
Unidas em 10 de dezembro de 1948, a Declarao Universal dos Direitos Humanos, possui
trinta artigos, dos quais para esta pesquisa destaca-se:
Artigo 3. Todo ser humano tem direito vida, liberdade e segurana
pessoal. (Grifo nosso)
Artigo 7. Todos so iguais perante a lei e tm direito, sem qualquer distino, a
igual proteo da lei [...]. (Grifo nosso)
Artigo 8. Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais
competentes remdio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais
que lhe sejam reconhecidos pela constituio ou pela lei. (grifo nosso)
Artigo 21. [...] 2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao servio pblico
do seu pas. (Grifo nosso)
Artigo 22. Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito segurana
social e realizao, pelo esforo nacional, pela cooperao internacional e de
acordo com a organizao e recursos de cada Estado, dos direitos econmicos,
sociais e culturais indispensveis sua dignidade e ao livre desenvolvimento da
sua personalidade. (Grifo nosso)
Artigo 25. 1. Todo ser humano tem direito a um padro de vida capaz de
assegurar a si e a sua famlia sade e bem-estar [...]. (Grifo nosso)
Os artigos em grifo dizem respeito dignidade e igualdade e so componentes
primordiais em qualquer democracia, o papel do estado claro e no pode ser omisso,
permitir que toda a populao possa usufruir dos mesmos servios condio necessria para
garantir a todos direito vida, e todas as necessidades mais bsicas humanas, que so
indissociveis aos SAE. Garantir que todos sejam tratados iguais perante a lei comprimir
com o princpio da igualdade, pois so grandes injustias sociais e a falta de saneamento que
diversos indivduos so privados, assim como punir o governo por ser omisso aos seus
deveres populao, pois em uma democracia todos tm direitos e deverem,
No Brasil a Constituio Federal respeitando a DUDH inicia com os princpios
fundamentais, elencando os direitos e garantias fundamentais e direitos sociais, sendo esta a
base dos demais artigos e reflete em toda a legislao brasileira com destaque especial:
TTULO I DOS PRINCPIOS FUNDAMENTAIS
Art. 1[...] III a dignidade da pessoa humana;
TTULO II DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Art. 5 - Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade
do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos
seguintes: [...]
CAPTULO II
DOS DIREITOS SOCIAIS
Art. 6 - So direitos sociais a educao, a sade, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia
aos desamparados, na forma desta Constituio.
33
Para Marmelstein (2014) a dignidade da pessoa humana um subitem dos princpios
fundamentais que liga em outros elementos fundamentais conforme figura 3, e que tm entre
outras funes a fundamentar o direito brasileiro, nas palavras de Pinho (2013 p. 57), os
princpios fundamentais so regras que contm os mais importantes valores que informam a
elaborao da Constituio da Repblica Federativa do Brasil, so dotados de normatividade,
ou seja, constituem-se de regras jurdicas efetivas.
Figura 3 Componentes do conceito de direitos fundamentais
Fonte: O prprio autor, a partir de Fiorillo (2013).
Ou seja, para ser considerado um direito fundamental este deve estiver ligado
dignidade da pessoa humana e todos os outros elementos. No entrando no conceito de utopia
do mundo justo e igualitrio importante ampliar o entendimento a dignidade da pessoa
humana vai alm das questes fisiolgica como aborda Fiorillo (2013) para se garantir o
34
direito constitucional necessrio que o indivduo possua uma vida que supere as
necessidades fisiolgicas, e que lhe seja acrescentado outros valores fundamentais a
sobrevivncia, como as culturais, as sociais, as econmicas e as ambientais.
3.1.2 As geraes dos direitos fundamentais e a dignidade da pessoa humana
Um avano histrico e significativo aconteceu entre as geraes do que ora chamamos
de direitos fundamentais6. As Constituies Federais brasileiras, sobretudo a de 1988
sofreram influncia dessas geraes de direitos fundamentais, que abrange diversos tipos de
direitos no s individuais, mas, coletivos, sociais e polticos em nossa sociedade. Os
princpios aqui defendidos como a igualdade e dignidade da pessoa humana, sempre
estiveram presentes nas sociedades, sendo a noo de direitos do homem to antiga quanto a
prpria sociedade (MARMELSTEIN, 2014). E foram se consolidando atravs da histria, a
luta pelo trabalho, a igualdade com as mulheres, pela liberdade, democracia e contra o
preconceito ilustram o tamanho do desafio combatido at chegamos aos Direitos universais
dos homens.
Quadro 6 - Geraes dos direitos fundamentais
1 GERAO
(Direitos individuais)
2 GERAO
(Direitos sociais)
3 GERAO
(Direitos de fraternidade)
Liberdade Igualdade Fraternidade
Direitos negativos (no agir) Direitos a prestaes
Direitos civis e polticos:
liberdade poltica, de expresso,
religiosa, comercial
Direitos sociais,
econmicos e
culturais
Direitos ao desenvolvimento,
ao meio ambiente sadio,
direito paz
Direitos individuais Direitos de uma
coletividade
Direitos de toda a
Humanidade
Estado Liberal Estado social e Estado democrtico e social
Fonte: Marmelstein sob a tica de Karel Vasak 2014.
6 Marmelstein descreve resumidamente a ideia conhecida como teoria das geraes dos direitos, desenvolvida por Karel Vasak que se inspirou na revoluo francesa e formulou o seguinte discurso:
a) A primeira gerao dos direitos seria a dos direitos civis e polticos, fundamentados na liberdade, que tiveram origem com as revolues burguesas;
b) A segunda gerao, por sua vez, seria a dos direitos econmicos, sociais e culturais baseados na igualdade, impulsionada pela Revoluo Industrial e pelos problemas sociais por ela causados;
c) A ltima gerao seria a dos direitos de solidariedade, em especial o direito ao desenvolvimento, paz e ao meio ambiente, corando a trade com a fraternidade, que ganhou fora aps a Segunda Guerra mundial,
especialmente aps a Declarao Universal dos Direitos Humanos, de 1948. O mesmo autor ainda diz que a
teoria surgiu por acaso, quando Karel Vasak, em uma aula inaugural no teve tempo para preparar a exposio
da aula ento lembrou a bandeira francesa, cujas cores simbolizam a liberdade, a igualdade e fraternidade.
35
Hobbes, Maquiavel so exemplos de filsofos que sofreram influncia do pensamento
poltico ocidental da ideia de poder absoluto por partes dos governantes, contudo nas palavras
de Marmelstein, (2014, p. 31):
Os direitos fundamentais foram criados inicialmente, como instrumento de limitao
do poder estatal, visando assegurar aos indivduos um nvel mximo de fruio de
sua autonomia e liberdade. Ou seja, eles surgiram como barreira ou escudo de
proteo dos cidados contra a intromisso indevida do Estado em sua vida privada
e contra o abuso de poder.
E assim como visto nas palavras de Pinho (2003, p. 66) os direitos fundamentais so
produtos da evoluo histrica. Surgem das contradies existentes no seio de uma
determinada sociedade. pautado nesse discurso que se destaca a primeira gerao aps
anos de lutas e com a criao de mecanismos que permitiram a participao popular e a
limitao do poder autoritrio do estado, surgem os valores que se solidificariam com junto ao
estado democrtico de direito como normas, dando incio um processo de positivao dos
direitos fundamentais nas Constituies em diversos pases do mundo.
A segunda gerao marcada pelo grande desenvolvimento tecnolgico trazido pela
revoluo industrial, mas tambm pela luta das mulheres pela igualdade no trabalho, o
pagamento de salrios dignos, de melhores condies de trabalho tanto de homens como
mulheres, ou seja, corresponde aos direitos sociais e econmicos. E nesse contexto surge o
Estado do bem-estar social que se comprometeu em garantir igualdade entre as classes e as
garantias bsicas para uma vida digna. E muitos direitos destinados a melhorarem a qualidade
de vida dos trabalhadores surgem naquela poca, ento que o Estado se comprometeu a
assegurar os direitos econmicos, sociais e culturais da populao que esto ligados s
necessidades bsicas do indivduo como a alimentao, sade e moradia e que influenciam
diretamente nas atividades do trabalho (PINHO, 2003; MARMELSTEIS, 2014).
Diferente a primeira gerao que limitava o poder do Estado, a segunda que imps
deveres a serem realizados pelos Estados a fim de salvaguardar a qualidade de vida da
populao, a terceira gerao tem como meta a fraternidade e solidariedade universal, ou seja,
proteo a todos independente do gnero, segundo Pinho (2003, p. 68) so direitos
decorrentes de uma sociedade de massas, surgidas em razo dos processos de industrializao
e urbanizao e nesse rol de direitos levantados por essa gerao podem ser citados: o direito
ao desenvolvimento, paz, ao meio ambiente, dentre outros que ganharam fora com os
diversos acordos e tratado oriundo dos tribunais internacionais que queria evitar novas
36
atrocidades a cometidas populao durante os sculos, como a Declarao Universal dos
Direitos Humanos de 1948, no Brasil a CF de 1988 por meio do art. 225 reflete o desejo que
todos tenham acesso a um ambiente equilibrado e que promova qualidade de vida, que para
Sirvinskas (2014) s pode ser alcanada mediante ao poder pblico exercer seu papel e buscar
a felicidade do cidado e o bem comum, assim para o autor, o meio ambiente e a qualidade de
vida se fundem ao maior de todos os princpios humanos, o direito vida. Alm da
Declarao de Estocolmo de 1972 que em seu primeiro princpio define: O homem tem o
direito fundamental liberdade, igualdade e ao desfrute de condies de vida adequadas em
um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-
estar, tendo a solene obrigao de proteger e melhorar o meio ambiente para as geraes
presentes e futuras (UN, 1972).
Ainda sobre a CF/88 a mesma inovou e se diferenciou das demais constituies
anteriores do nosso pas ao fixar os direitos fundamentais antes do conjunto de leis que rege e
fundamenta a organizao do Estado brasileiro, assim Pinho (2003, p. 66) os diretos
fundamentais so os considerados indispensveis a pessoa humana, necessrios para assegurar
a todos uma existncia digna, livre e igual. No basta o Estado reconhec-los formalmente,
deve buscar concretiz-los, incorpor-los do dia a dia dos cidados e de seus regentes.
Dessa maneira, permitir que a populao tenha acesso a esses direitos, na verdade
garantir a dignidade da pessoa humana. Sarlet (2002, p. 62) apud Marmelstein (2014, p.16)
afirma que a dignidade da pessoa humana:
a qualidade intrnseca e distintiva de cada ser humano que faz merecedor do
mesmo respeito e considerao por parte do Estado e da comunidade, implicando,
neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a
pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como
venham a lhe garantir as condies essenciais mnimas para uma vida saudvel,
alm de propiciar e promover sua participao ativa e corresponsvel nos destinos
da prpria existncia e da vida em comunho com os demais seres humanos.
J Marmelstein (2014, p. 62-63) a noo bsica de respeito ao outro sintetiza com
perfeio o princpio da dignidade da pessoa humana e lembra que a dignidade um atributo
e no um privilgio de poucos, mas de toda humanidade. Por conseguinte, Pinho (2003, p.
62) lembra que a dignidade da pessoa humana um dos principais valores da ordem social e
jurdica brasileira e que deve ser entendido como absoluto respeito aos seus direitos
fundamentais, assegurando condies dignas de existncia para todos. No basta apenas
garantir que toda populao tenha acesso a esses direitos sem entender que vivemos em
37
uma sociedade de massa caracterizada por um crescimento desordenado e brutal avano
tecnolgico (Fiorillo, 2013 p, 47). Que por vezes se torna excessivamente predatria unindo-
se a uma economia de alto consumo, to desnecessria que a humanidade est disposta a
exaurir suas reservas naturais pela maximizao de seu consumo.
Essa deveria ser base das aes dos SAE no s no Brasil, mas no mundo, somente
pensando em como a populao servida por esses sistemas que podemos caminhar para
melhorar o acesso aos mesmos, permitindo que a prtica esses fundamentos possam ser
aplicados a todos, claro que para isso acontecer necessrio um esforo conjunto de todos
no s entes pblicos, mas da prpria populao ser mais ativa, da participao social de
forma a garantir que os governos cumpram o seu papel.
Saindo dos princpios fundamentais e entrando nas nuances que o acesso aos SAE
provoca, temos a resoluo A/RES/64/292 de julho de 2010 da Assemblia Geral da ONU
reconheceu o direito gua potvel e limpa e ao saneamento como um direito humano e
essencial para o pleno gozo da vida e todos os direitos humanos UN (2010 p. 2). J Oliveira
(2016) afirma que em 2015 aps deliberao da Assembleia Geral ONU entendeu que o
Saneamento bsico um direito humano e deve ser separado do direito gua potvel. Gleick
(1998) se referindo tambm as aes do saneamento concorda que a gua deve ser
considerada como um direito humano fundamental. Hojaij (2015) afirma que o saneamento
bsico fundamento para regatar a dignidade humana e est relacionado diretamente ao
desenvolvimento urbano dos pases. Britto (2016, p. 2) corrobora ao dizer que tambm
obriga os Estados a eliminarem progressivamente as desigualdades de acesso tanto gua
como ao esgoto desigualdades entre populaes nas zonas rurais ou urbanas, formais ou
informais, ricas ou pobres.
Heller (2016, p. 1) analisa:
O significado desses direitos tem sido progressivamente interpretado e
compreendido. O direito humano gua tem sido considerado como compreendendo
a gua fsica e financeiramente acessvel, segura, aceitvel e continuamente
disponvel para o uso pessoal e domstico. Quanto ao direito humano ao
esgotamento sanitrio, entende-se que este servio deva ser fsica e financeiramente
acessvel, prover segurana ao usurio, ser culturalmente aceitvel e disponvel para
todos os usurios e em todas as esferas da vida, alm de assegurar dignidade e
privacidade. Enxergar o acesso gua e ao esgotamento sanitrio sob a lente dos
direitos humanos supe tambm observar seus princpios fundantes, como o direito
participao, o direito ao acesso informao, a igualdade e no discriminao, a
responsabilidade por parte de governos e prestadores de servio e a sustentabilidade.
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Ou seja, as mudanas orientadas pelos direitos humanos implicam dentre outras em
mudana na postura do governo, pois a prtica quase sempre discriminatria. Em exemplo
seria a acessibilidade financeira no s das prestadoras, mas tambm dos titulares do servio
em resguardar o acesso das pessoas economicamente vulnerveis, Heller (2016, p. 2) lembra
que o corte da ligao de uma moradia ao sistema pblico, por ausncia de pagamento
violao a esse direito, mas Bertollo (2016) nos situa que embora esses servios (SAA e
SES) estejam na categoria de direitos essenciais h uma controvrsia a Lei Federal n.
11.445/2007 no art. 40 3 sugere a possibilidade de interrupo dos servios em caso de
inadimplncia, sendo esse um grave retrocesso poltico, econmico e social vivido pela
populao brasileira.
Para Barlow (2015, p. 17):
O direito a gua no um vale-tudo permitindo que um use a quantidade que bem
entender para qualquer finalidade; em vez disso, ele garante gua potvel limpa e
acessvel, assim como saneamento, para uso pessoal e domstico para todos. [...]
fundamentalmente o direito humano gua uma questo de justia, no de
caridade. Ele exige um desafio s estruturas de poder atuais que do suporte ao
acesso s reservas de gua doce do mundo, cada dia mais escassas.
evidente que os recursos hdricos devem ser levados em considerao, j que sem
gua, no existiria esgoto, ou seja, no existiria o SAE, e a preocupao com gua, de longe
o mais urgente dos problemas ambientais vividos no mundo, prover gua de qualidade a todos
questo de sobrevivncia e se caracteriza como princpio a vida, neste nterim:
A gua no uma questo de escolha. Ela indispensvel. O direito gua consiste
no fornecimento em quantidade suficiente, de custo acessvel e de qualidade [...]
considerando que gua no tem preo, h que se fomentar e promover um novo
modelo de desenvolvimento sustentvel, no mbito local e regional, que garanta a
todos o acesso a esses servios essenciais WARTCHOW (2009 p. 275).
Corrobora ainda Galvo Junior (2009, p. 549) O acesso dos servios de saneamento
bsico condio necessria dignidade da pessoa humana e, particularmente, sua
sobrevivncia. J Madeira (2010, p. 126) afirma que dadas as externalidades dos servios e
a sua essencialidade se tornam a questo da universalizao7 e equidade8 fundamentais aos
cidados.
7 Universalizao: segundo a Lei Federal n. 11.445/2007 a ampliao progressiva do acesso de todos os domiclios ocupados ao saneamento bsico. 8 Equidade: Souza (2007 p. 766) destaca que o entendimento que a equidade mais do que tratar todos iguais, teria um valor de justia, ou seja, de se buscar dar mais a quem precisa mais.
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Heller; Castro (2013, p. 30) presumem que:
As polticas concernentes ao saneamento devam se fundamentar no princpio que
esses servios constituem um direito social do cidado, em outras palavras,
obrigao do Estado garantir o acesso universal a eles. Essa conceituao apoia-se
nos princpios da universalidade e da equidade, de acordo com os quais todo cidado
independente de sua classe social, gnero, origem tnica, ou qualquer outro fator de
diferenciao social, tem direito irrestrito aos bens e servios julgados essenciais
manuteno da vida numa sociedade civilizada.
A combinao do acesso gua potvel e ao sistema de esgotamento sanitrio
condio para se obter resultados satisfatrios tambm na luta para a erradicao da pobreza e
da fome, para a reduo da mortalidade infantil e pela sustentabilidade ambiental
(CAMPANHA DA FRATERNIDADE, 2016). Assim evidente a importncia desses
sistemas a humanidade, sem eles no poderamos pensar em bem-estar.
3.2 CONHECENDO OS SAE NA HISTRIA MUNDIAL
As aes de saneamento sempre estiveram presentes na histria da humanidade, as
civilizaes antigas como a grega, romana, asitica e tantas outras demonstravam sinal de
preocupao com a higiene e sade da populao e os legados dessas civilizaes ainda esto
presentes na atualidade. As primeiras grandes demandas por gua surgiram ainda na pr-
histria com a agricultura, o homem primitivo passa de uma vida nmade para uma vida
sedentria, que tornou a vida das populaes menos complexas, sobretudo no tange o
abastecimento de gua dessas populaes (HELLER, 2006).
Em funo das condies de vida das civilizaes antigas, provvel que, em suas
pocas, a preocupao com aes de natureza sanitria tenha sido relativa ao suprimento de
gua para consumo humano, irrigao e disposio dos efluentes FUNASA (2015, p.11).
Permitindo construrem suas cidades prximas s bacias hidrogrficas e vencerem as
dificuldades impostas pela natureza na busca pela gua (SILVA, 1998).
Heller (2006) lembra que o povo inca mostrou seus conhecimentos de engenharia
sanitria por meio das estruturas que construram na antiguidade, essas estruturas tinham
sistemas bastante eficientes de esgotamento sanitrio, de drenagem pluvial, e reservatrios de
gua. J para Rosen (1994, p. 31) os stios escavados em Mohenjo-Daro, no vale da ndia, em
Harappa, no Punjab, indicaram vestgios de uma cidade que fora construda por uma
civilizao muito antiga que data de quatro mil anos atrs. Aparentemente a cidade fora
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construda em blocos retangulares, respeitando leis de construo, haviam banheiros, as ruas
eram largas, pavimentadas e drenadas por sistemas de esgoto cobertos. Os sistemas de
esgotos urbanos foram originalmente desenvolvidos nas antigas cidades do vale do Indus, por
volta de 4000 a.C, e so, portanto, uma inveno da sia meridional (LOBINA, 2013).
Em Nippur, na ndia, por volta de 3750 a.C, foram construdas galerias de esgotos
para escoarem os efluentes da cidade e no vale do Indo, muitas ruas e passagens possuam
canais de esgoto cobertos por tijolos e com aberturas para facilitar a inspeo (AZEVEDO
NETTO, 1959 apud CAZZELI 2013).
Rosen (1994, p. 32) relata que:
Dois mil anos antes da era crist j se tinham resolvido em parte o problema da gua
para comunidades maiores. A cultura creto-micnica, por exemplo, dispunha de
grandes aquedutos. Escavaes revelaram, em Tria, um sistema de suprimento
muito engenhoso. Em toda parte, que existiam sistemas de abastecimento de gua de
beber regulava-se tambm o destino dos dejetos e se desenvolvia o sistema de
esgotamento. Em palcios, como o de Cnossos, em Creta, do segundo milnio pr-
cristo, havia no apenas magnficas instalaes para o banho, como tambm
descargas para os lavatrios. Instalaram-se torneiras cujos vestgios ainda se veem
entre as runas de Priene, na sia Menor em casas particulares, talvez muito cedo,
mesmo sendo usual, em muitos lugares para retirar a gua de poos pblicos.
Impressionantes runas de sist
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