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POEMAS
Volume I
Bernardino Teixeira
2020
POEMAS
Volume I
Bernardino Teixeira
2020
1
O que seria o amor?
Este sentimento tão complexo
Terno e carinhoso, mas que causa dor
E faz nos comportar sem nexo?
Alguém encontrará explicação?
Ou será mistério insolúvel
Adentrar o humano coração
Sede de tanta paixão volúvel
Quem encontrar, me diga
Será eterno amigo. Ou amiga
2
Amar é tarefa penosa, triste
Mas, o amor se faz eterno
Ser amado: melhor sensação não existe
É estar nos céus. Ainda que no inferno
É ser importante para alguém
Que nos alegra, sente piedade ou dó
Infeliz quem possui ninguém
Se entristece e se alegra – só!
Amor, sublime sentimento
Abrigo para o cruel relento
3
Apaixonar-se pela primeira vez
O coração a bater, descompassado
Enrubesce a face, a tez
Tudo fica confuso, descontrolado
Querer encontrar a palavra bela
Elogiar a roupa, o jeito
Desejar o toque da mão dela
Não notar qualquer defeito
Medir o que se fala, sedutor
Sugar o néctar, qual beija-flor
4
Quem ama, vive e não fenece
Traz no olhar o brilho da vida
Se viveu muito, não parece
Não afloram as dores da dura lida
Aprecia tudo com sabor especial
Aproveita todo e qualquer instante
Distingue o que é certo: o bem do mal
Escolhe a verdade, não o falso brilhante
Com sua amada ou amado, tropeça
Mas, logo ergue-se e recomeça
5
A vida sem amor! Que fracasso!
Não ter quem devotar este tesouro
Não sentir o calor dum abraço
Não possuir algo mais valioso do que ouro
Não enxergar-se nos olhos do semelhante
Não desejar a boca, o corpo alheio
Não possuir o calor no semblante
Tudo é cinéreo: monótono e feio
Mesmo assim, viver em paz
Sem amor, duvido quem seja capaz!
6
No entanto, o amor deturpado
Dirigido por interesses banais
Causa dor, provoca machucado
Resulta desolação e tristes ais
Torna o que é puro, imundo
O que é potável, em imbebível
Corta e dilacera, profundo
Cria sofrimento indizível
Deus nos livre desses tormentos!
Coleção de toda sorte de lamentos!
7
Se alguém te feriu, perdoa
Não aflija a alma com isso
Responde à ação má, com a boa
Assume novo compromisso
Torturar-se por quem não merece?
Loucura! Presta atenção no que digo
Supere e vença! Por que padece?
Escuta o conselho do amigo
Quem deixa de amar, de repente
Nunca amou. É vero, simplesmente
8
Os olhos dela são pedras preciosas
E a boca vermelha é um rubim
Seu corpo, fonte de alegrias ditosas
Guardadas somente para mim!
Renovo minhas gastas energias
Com seus encantos e charme
Recomponho-me da dureza dos dias
Que nada no mundo me alarme!
Pois, com ela, sou invencível
Farei toda sorte de coisa incrível!
9
O que posso fazer sem ela?
Ela é o meu sustentáculo
Meu escudo contra toda mazela
Meu norte e o meu oráculo
Quando caído estou, desanimado
Vem e ergue-me, com doçura
Sinto-me leve, renovado
Tudo graças à sua candura
E recomeço em sua companhia
Certa na noite, como no dia
10
Um coração ferido. Chaga dolorosa
Que faz qualquer um padecer
É o preço da saga amorosa
A dor que se sofre, sem merecer
E o sofrimento contundente
Por dentro, machuca e arrebenta
Faz nos balançar, fortemente
Qual barco na terrível tormenta
Livra-te deste mal e segue adiante
Não perca a esperança do fiel amante!
11
Fiz tantas coisas notáveis
Busquei sua tola atenção
Contudo, seus olhos admiráveis
Miravam noutra direção
Perdi tempo, dinheiro e energia
Pois, agora sei que nada valeu
Senti a dor e a grande agonia
Dei tudo a quem nada me deu
Aprendi! Gritarei a plenos pulmões
Não confiar em palavras, meras ilusões!
12
Chora, chora em meu ombro
Te alivia da dor pungente
Recebo-te sem maior assombro
Isto acontece com qualquer vivente
As carícias, o deleite, os gemidos
A noite que não deveria terminar
Todos os prazeres desmedidos
E a aflição que isto pode causar
Abandonou-te! Dura realidade!
Mas, encare os fatos! Viva a verdade!
13
Amar e ser amado: situação formidável
Que todos anelam, com grande certeza
Ter ao lado, a companheira admirável
Seja na escassez ou na riqueza
Entregar-se com total confiança
E esperar, contente, a retribuição
No porvir, depositar toda esperança
Sentir a batida dum só coração
Ser um, parecendo ser dois
Viver o agora, esquecer-se do depois!
14
Devota-se amor verdadeiro
Sincero e desinteressado
Esforça-se por ser cavalheiro
E aguenta-se tudo, calado
Porém, nos é feita a traição
E quem se confiava, apunhala
Perfura o singelo coração
Perde-se a voz. Nada mais se fala
Neste momento, retira-se: fronte erguida
E não te espante: assim é a vida!
15
Quem ama, torna-se eterno
Mesmo morto, ainda vive
É sol brilhante no inverno
A chama, que ao vento, sobrevive
É a árvore de raiz profunda
Que torna-se firme e frondosa
Frutífera, forte e bem fecunda
Com a copa aberta e majestosa
Assim, desejo ficar guardado
No âmago dela, preservado
16
Traição! Verme nu e cruento
Causador da amorosa decadência
Torna o alegre dia, cinzento
Polui e corrói a suave essência
O amor, antes forte, qual rocha
Abala-se, débil e vacilante
A desconfiança desabrocha
O antes certo, é agora, hesitante
O tempo faz aumentar a chaga
Que não cicatriza, nem se apaga
17
Entreguei-me de coração aberto
Pensando ser verdade, ser real
Fiz o honesto e fiz o certo
Dei o bem. Recebi o mal
Sendo violentamente aviltado
Sem saída e sem defesa
Com o peito machucado
Fui a caça, a perfeita presa
Recupero-me, tentando esquecer
E esquecendo, poderei ainda viver
18
A rosa, a flor tão estimada
Que cuidaste com tanto apreço
Não permite a sua chegada
Se aproximas, pagas o preço
Fere a mão nos espinhos
Exagerada e dolorosa proteção
E de nada adiantam os carinhos
Ofertados de alma e coração
De longe, admira a criação divina
E lamenta esta cruel sina
19
Não a esqueço! Dentro de mim
Permanece. O que faço?
Jamais fiquei assim
Nunca quis tanto um abraço
Um beijo tão desejado
Angustiando a minh’alma
Sou sofredor, amante desesperado
Sem paz, sem sossego, sem calma
Preciso sarar ou padecerei
E o remédio, só a ela, pedirei!
20
Ir contra as convenções
Amar, se entregar sem hesitar
Sem diretriz, sem direções
Ao total amor, se devotar
Seria bom, se não houvesse
O amanhã. As responsabilidades
Quem dera, se não as tivesse
Viveria de amor e de saudades
Todavia, tudo demais, perde o valor
O que causa prazer, trará a dor
21
A loucura amorosa
Doença das mais estranhas
Vem devagar, misteriosa
Se instala nas entranhas
Acaba com o juízo e a razão
Deixa o corpo exaurido
Abate o pobre coração
Faz do robusto um enfraquecido
Pondera, então, seus sentimentos
Não cries, para ti, tantos tormentos!
22
Não se compra um coração
Nem é possível subornar
É perda de tempo; tudo em vão
No fim, nada irá adiantar
A atração será desmantelada
E nem o ouro a juntará
A mulher tão desejada
Com outro, de certo, ficará
É infrutífera esta luta
Perdes, de imediato, a disputa
23
Dei meu coração. O que recebi?
Não imagina o sofrimento
Agora realmente percebi
De nada valeu o juramento
Palavras, palavras vazias
Nada significam; sem sentido
Nada falavas, nada dizias
Deixaste um pobre coração partido
Bebi a água da fonte amara
Brotou-me chaga que não sara!
24
Você oferta-me alegria
Terna, simples e sincera
Tornou-se o sol do meu dia
Amansa-me a terrível fera
Que deseja me aniquilar
Fica comigo, na tempestade
E sendo forte, me faz suportar
Devota-me total lealdade
Grande tesouro: te encontrei
Contigo, meus dias, dividirei
25
Se me vires chorando
Não te preocupas, passará
Ainda seguirei cantando
A dor não me vencerá
Este coração que tanto amou
Ainda bate; ainda tem vida
Lições o amor me ensinou
Busco sempre a flor querida
Pois quem ama, é forte
E espera, calmo, a sua sorte
26
Não se esconde um amor
Pois ele deseja ser revelado
Vem à tona, aparece sua cor
Mostra-se ao ser amado
Não adianta ocultá-lo
Nas profundezas dum precipício
Inquieto e triste irá deixá-lo
Causando grande suplício
Só resta dizer, falar
Não importa o preço a pagar
27
Decepções, angústia, solidão
Isto foi tudo o que ele me deu
Este amor insensível, este ladrão
Ninguém sofre mais do que eu!
Fui gentil, honesto e direito
E não fui correspondido
Cravou-se a espada em meu peito
Pego no contra-pé, desprevenido
Dura e sofrida, esta experiência
É a ilusão, do amor, a essência!
28
Pobre homem amargurado!
Erraste tanto pelo caminho
Cumpriste a jornada, calado
Agora descansas: estás sozinho
Contudo, não provaste o verdadeiro
Amor. Apenas, um triste esboço
Deitas no leito derradeiro
Tranca-se no frio calabouço
Dormes o sono dos justos
Pois enfrentaste grandes custos!
29
Caído ao chão, desesperado
Sem encontrar as respostas
O amante que foi deixado
Sente a dor. Chibata nas costas
Profundamente perdido
Os olhos d’água estão cheios
Como pudera ser traído
Se amou sem receios!?
Dor e tristeza a lancinar
Qual lâmina, a perfurar!
30
Seu amor é a redenção
Minh’alma e energia
O toque da suave mão
Que leve, me acaricia
Quando o amor se manifesta
Te entregas, sem pensar
E fazes a minha festa
O que posso mais anelar?
Como pássaro feliz no ninho
Sou dependente de seu carinho
31
Amor sem raiz forte
Logo fenece. É vencido
Já nasce sem sorte
É sentimento corrompido
Só dura uma curta estação
Logo em seguida, irá morrer
Não possui bases no chão
Não medra; não irá crescer
E assim, causa sofrimento e dor
Desbota logo, perde a cor
32
O amor sincero e forte
Tudo vence, não importa
Passa o tempo, supera a morte
Destranca a custosa porta
E, a cada dia, se fortalece
Alimentado pelo bem-querer
Jamais perde ou se esquece
Do que ainda há por fazer
Amantes sempre em união
São dois, mas um só coração
33
O que faço sem seu amor?
Morro. Abatido e amargurado
Fenece, sem água, a flor
Perece o lírio desidratado
Por isso, ouve meu lamento
Esteja ao meu lado, constante
Torna real meu intento
Faça eterno cada instante
E assim, ficarei feliz
Tendo tudo que sempre quis!
34
Esta força tão devastadora
Qual um ciclone ou furacão
Arrasa tudo, destruidora
Arranca do peito, um coração
Transforma o sábio em demente
O rico, em um pobre mendicante
Faz do saudável, um doente
Acaba com tudo, num instante
Assim é o amor, sentimento louco
Que pede muito, oferecendo pouco
35
Amor recíproco, não tem preço
Fortíssimo qual um rochedo
Pergunto-me: será que o mereço?
Se enche o peito de dúvidas, medo
Quando se encontra a alma
Gêmea, tudo se completa, faz sentido
O coração, rebelde, se acalma
Encontra-se o que estava perdido
Os corpos se unem, sem hesitar
Faz-se um só caminho, a trilhar
36
A tristeza que tanto amargura
Deixa tudo em trevas, escuro
Torna fel, o que era doçura
Sem vislumbre de futuro
Amar, sem ser amado
Desgraça, dor e solidão
Ser a alguém tão devotado
E não ter a retribuição
Viver deste cruel jeito
Flecha cravada no peito
37
Novo vivente que surge
Mira no espelho, a beleza
A esperança que ressurge
Cresce uma nova certeza
Em fazer certo, o presente
Do passado, esquecer
Novo corpo, nova mente
Ansiosos por merecer
Novos amores e paixão
Que renovam o terno coração
38
A cicatriz ainda permanece
Contudo, é a condecoração
De quem tanto se embrutece
Por sair de triste situação
Quem foi aos infernos e voltou
Experimentou o veneno e viveu
Decaiu, mas logo se levantou
Tombou, mas forte, renasceu
Amarga é esta história
Ainda viva na memória!
39
Quando abro os olhos e te vejo
Sinto-me contente, tão feliz
Pois sacias o meu desejo
Dá-me tudo o que sempre quis
E penso: sem ti, o que faria?
Seria o mais triste, imperfeito
Pois és o sol do meu dia
Aceita-me do meu jeito
Tenho um vero tesouro
Vales mais que o pur’ouro
40
Rosto lindo, bonito, sem par
Beleza que não tem fim
Como não haveria de notar
Uma obra-prima perto de mim?
Uma palavra, uma expressão
Nada! Ideia alguma saiu
Sumiu em meio a multidão
A luz tênue se extinguiu
Qual miragem, no deserto sufocante
Tive-a, por um único instante!
41
E agora!? Como te encontrar?
Onde moras? Qual seu endereço?
Passo dias e noites a te procurar
Dizei-me! Suplico-te. Pois mereço!
Mesmo que seja tola ilusão
Preciso ver-te, urgentemente
Não tortures um pobre coração
Sacias este desejo ardente!
Pois isto que fazes é loucura
Não me ofertas tua candura!
42
Quando se é olvidado
Pela pessoa tão amada
O coração é despedaçado
Alma vira terra devastada
É triste, tudo o que se cria
Nada contenta, nada dá ânimo
Perde-se o riso, a alegria
Crescem o medo e o desânimo
Tudo é cinzento, não tem cor
Insípido, inodoro, sem sabor
43
Amei quem não me amou
Cuidei de quem não me valeu
Zelei por quem quase me matou
Dei a ela tudo que era meu
Ela sorri; hei de chorar
Aprender com o sofrimento
Pesada pedra a carregar
Ouvindo os ecos de lamento...
Toda noite, a cama fria
E a solidão, por companhia
44
Um alguém a nos amar
Isto é por tantos desejado
Vero carinho a ofertar
Adormecer, tranquilo, sossegado
Sem perguntas, sem imposições
É especial cada momento
Sinceras todas as ações
Somente doce contentamento
Será isto desejo inatingível?
Será isto anelo impossível?
45
Ter ao lado quem se estima
Encontrando a força vital
Que impulsiona, que anima
Livrando de todo o mal
Onde se possa recostar
Ombro amigo, a palavra certa
Que nos diz: passou! Vais, recomeçar
O coração opresso, desaperta
Remédio para toda ferida
Prêmio maior da vida!
46
Como dormir à noite?
Se meu pensamento
Nela está. Qual açoite
Flagela. Dor e sofrimento
Amar. Entregar o coração
Nada pedir. Apenas esperar
Um beijo, o corpo, suave mão
Sofrer, sem medida, sem cessar
Possuir a esperança dum dia
Encontrar a perdida alegria!
47
Nada posso te oferecer
Não possuo qualquer riqueza
Comigo, muito irás sofrer
Vida limitada, muita tristeza
Só tenho o corpo combalido
Já enfraquecido e sem vigor
Tantas vezes fui perseguido
Compus meu rosário de dor
Aviso-te, desde agora:
Afasta-te desta alma que chora!
48
Alma boa e angelical
Ao meu lado, és constante
Mostra-me o bem e o mal
Vale mais que o diamante
Quando caí, me levantaste
De lama, meu rosto limpou
Minhas lágrimas enxugaste
Por tua causa, vivo hoje estou
Sigo caminhando, querida
Contigo, por toda a vida!
49
Não permitirei que a tristeza
Seja a minha companheira
Lutarei, com toda certeza
Até atingir a vitória inteira
Ergo-me, começo a caminhada
Bebo a água pura das fontes
E trilho a longa estrada
Há grandes vales, bosques e montes
Continuarei seguindo e amando
Caindo. Mas me levantando
50
Amor por séculos cantado
Para matronas e donzelas
Quantos tiveram seu agrado
E escreveram páginas tão belas
Por tua causa, quanta morte
Seu sentido modificaram
A paixão solitária da consorte
E dos amantes que tanto choraram
Assim, cantei nestes singelos versos
O amor que unifica os universos
Ainda bate um coração!
I
Tornei-me uma fera
Aprisionada. Eterna espera
Que parece sem fim
Prisão feita por mim
Pela corrente das ilusões
Aquilo que tanto se esmera
Revela-se uma quimera
Lábios de vermelho carmim
Boca de um querubim
Que estraçalha os corações!
II
Ela veio; não me encontrou
Não estava. Mas deixou
Um bilhete rabiscado
Num papel dobrado
Que ficou preso à porta:
“Quem veio e não te achou
O coração, aqui, depositou
Peço que devolva-o imaculado
Intacto e bem guardado
O resto, já não importa!”
III
Perdi-me de ti, doce alma
Perdi, toda minha calma
Padeço em demasia
Exaurida foi a alegria
Ficou-me o tormento
Sem seu carinho que acalma
Beijo a beijo, palma a palma
Dia e noite, noite e dia
Por ti, tudo faria
Mas, estou só, no relento
52
Tanto dissabor! A loucura
Acalentada no coração
Indefeso. Mal sem cura
Triste e dorosa condição
Amar, desejar e ver-se só
A lua, de grande brancura
Ilumina a terrível escuridão
A constante e terrível jura
O desvelo de uma paixão
Depois, virá o fim. Pó a pó!
53
Limpa este rosto bonito
Acaba com o choro aflito
Que só traz sofrimento
Cesse, termine este lamento
Chega, basta de padecer!
Aprecie o amor infinito
Prêmio de valor bendito
Nobre e belo sentimento
Guarda este momento:
Quem hoje ri, há de sofrer!
54
Por ti, atravessei o deserto
Fiz errado o que era certo
Me perdi na longa estrada
Mulher cruel e desalmada
Atirou-me ao cativeiro
Fui tolo, não esperto
Vim de peito aberto
Caí da íngreme escada
Tive a paixão torturada
Amou metade; amei inteiro
55
Vai ao país, distante e estrangeiro
Mata teus irmãos, qual formigueiro
Incômodo. Que deve destruir
Não importa se irá ferir
A criança, a mulher inocente
Extermine tudo, por inteiro
Cumpre a ordem do brigadeiro
Tenente-coronel, a instruir
Acredita na vitória. Posa a sorrir
Na foto com o correspondente
56
Te amei com todo ardor
Ofertei-te ver’amor
Te dei o melhor de mim
E tudo acaba assim
Um adeus e nada mais
Tira as pétalas da flor
Rouba do arco-íris a cor
Observo, triste e incapaz
O que sobra!? É o fim
Pobre Abel. Viva Caim!
57
Ao longe, plora um violão
Melodia sincera e pungente
Parece sofrida esta paixão
Tão real e tão envolvente
O amor que não se completa
Bate forte só um coração
Que tortura o peito doente
Fazendo sonora pulsação
Não vá parar de repente!
Matando o anônimo poeta
58
Nestas linhas tortuosas
Descrevo as dores sentidas
Das paixões sempre ditosas
E jamais correspondidas
De que vale, amar sozinho?
Tantas batalhas custosas
Diversas noites mal-dormidas
Forças bem mais poderosas
A mais cruel das lidas
Afastam-me do beijo e do carinho!
59
Seu rosto belo, ao entardecer
A luz de seus olhos brilhantes
Faço o impossível para te ver
Por meros e preciosos instantes
Mas, não me dá oportunidade
Brinca comigo de se esconder
Faz o doce jogo dos amantes
Contudo, no fim, hei de vencer
Te amar, como nunc’antes!
Desejo e paixão nesta doce idade!
60
Os raios de sol atravessam o vitral
Desenhando flores nos velhos tapetes
Flores, folhas, algum animal
Tão simples e singulares enfeites
E a figura de uma rosa bonita
Enganou o coitado do beija-flor
Cujo aspecto de uma real imita
Por ser bela de tão viva cor!
Bica, bica – nada a sugar
Mas, tenta, tenta – sem cessar
61
Seus cabelos tão macios
Doirados são os seus fios
São minha maior conquista
Não há homem que resista
À sua beleza luminosa
Mas, tudo isto é só meu
Prêmio de quem mereceu
Quem ama de verdade
Está repleto da felicidade
Da alegria mais ditosa
62
A rosa ainda em botão
Que pende da bela roseira
Imagem de pura perfeição
Lembrança duma vida inteira
Permanecerá na memória
No bater de um coração
Da donzela que me queira
Objeto de minha devoção
Frondosa qual imperial palmeira
Protagonista de bonita história!
63
Cultivei o amor com carinho
Te ofertei o melhor de mim
Te livrei de tanto espinho
E, hoje, me trata assim!
Como um objeto sem valor
Só me resta caminhar para o fim
Triste, solitário e sozinho
Seus lábios de vivo carmim
Vermelhos qual tinto vinho...
São d’outro. Agora sou um tolo sofredor
64
Amor que não se esquece
O desconsolo de quem padece
O espinho ferino que brota
Fonte límpida que se esgota
Sem água a jorrar
Os olhos já estão fechados
Os belos lábios, selados
Beijo nenhum a oferecer
Todo desejo a se perder
Só a dor a ficar!
65
Seu doce olhar
Que vivo a contemplar
Todos os dias, a admirar
Objeto do mais alto primor
A formosíssima flor
Motivo de minha alegria
Obra de grande maestria
Prêmio de alta valia
Queria ser seu amante
Mas, estás tão distante...
66
Sou seu, você é minha
Constante ao meu lado
Ave bela que se aninha
Nos braços de seu amado
Só com ele se satisfaz
Me deste o que nunca tive
Ver’amor desinteressado
Deste bem jamais me prive
Deixa meu coração sossegado
Batendo, quieto, em paz!
Itinerário
I
Ah! A vida é tão simples
Por isto é tão complicada
Buscando o amor certo
Amando a pessoa errada
II
Andando sem saber
Para aonde ir...
Caminhando velozmente
Sem sair do lugar...
III
Ah! O medo é tão grande
Medo de errar
Mas, não acerto
Porque não quero tentar
Procurando encontrar
O que ninguém perdeu...
Assim é a vida!
I
Depois de tantos anos de ilusão
E de promessas não cumpridas
Você me olha e nega a mão
Como se não me conhecesse mais
II
O que foi que aconteceu?
Por que você se entregou
Nada do que fiz valeu
Você não acreditou!
III
Não adianta chorar
Só resta aceitar
O que você fez foi demais
Não penso mais em voltar
Já aprendi a lição...
69
Mais um o amor que começa
Logo, finda; timidamente
Acaba a farsa, a peça
Se faz triste, o sorridente
Perde-se o norte e o chão
É isto: já terminou
Nada mais arde ou queima
A chama se extinguiu, apagou
O que resiste é pura teima
Bate só um coração!
70
A alegria tão bem-vinda
Logo, se torna tristeza
A donzela tão linda
Perde a candura, a delicadeza
Se torna vulgar e maçante
Os encantos se perdem
Tudo se torna trivial
Prazeres que se medem
A comida sem tempero, sem sal
Dissabor a cada instante
71
Te vi, não te esqueci
Pobre de mim...
Não fui premiado
Com o dom de te esquecer...
De ver e logo perder
A imagem, os contornos
Os atributos da beleza
Não posso dormir
Fecho os olhos – e vens!
Invade meus pensamentos
E me torno refém, cativo
Desta ilusão
Poema de Março
Desde o momento em que te vi
Não encontrei as certas palavras
Para dizer-te tudo o que sinto
Dentro de mim, dentro do coração
São tantas coisas, tantas sensações
E tão poucas palavras, poucas emoções...
Desde aquele dia, desde aquela vez
Obra do acaso ou do destino?
Não consigo deixar de te esquecer
Seu belo rosto, seu belo sorriso
Seu jeito, seu olhar, a me provocar
Tudo tão marcante, fascinante
Não sei o que fazer
Se não voltar a te ver
A Dorosa Lição
I
Por algum tempo cultivei
A semente estéril que jamais vingaria
Regava-a com meu pranto, todos os dias
Esperando que os céus ouvissem minha voz
Não ouviram: tudo perdeu-se
II
Frequentei a escola da ilusão
Onde fui aluno exemplar
Deixei-me enganar com palavras
Que nada eram; palavras ao vento
E descobri que tudo não aconteceu
Aliás, esqueceu de acontecer
III
Agora, peso o que restou-me:
Silencioso, retiro-me da batalha
É sempre assim, quando coloca-se
O coração na linha frente
Não importando o quanto machucará
74
O amor é simples
Por isso não é entendido
Só por isso é amor
Pois, se fosse fácil
Não seria amor
O amor é simples
Contudo, não é fácil
O amor brota das ruínas
Cresce e medra nos corações
Tristes e embrutecidos
Onde nada pode viver – lá vive o amor!
Pois o amor é contradição
Este é o seu sobrenome
E quem sabe seja por isso
Que ele exista até hoje?
75
A borboleta deveria se preocupar:
O que fazer!? Aonde ir!?
Quem conhecer!? Por que!?
Como!? Quando!? Quem!?
Onde!? O que!?
Mas, ela só voa...
E voa. Muitos, muitos quilômetros...
76
Se ficas ao meu lado
Me sinto forte, ainda que fraco
Se ficas ao meu lado
Me sinto bem, ainda que mal
Se permaneces comigo
Me sinto firme, mesmo que trêmulo
Se permaneces comigo
Me sinto confiante, mesmo hesitando
Se me dá a mão, sigo em frente
Mesmo com medo
Se me dá um beijo, me ergo
Ainda que com temor
Pois você me completa, me ajuda
Está aqui. Só de você preciso
Para realizar. Qualquer coisa
77
De você terei todo amor
Imaginável e possível
Será a amada irrepreensível
Prêmio do mais alto valor
Por você, tudo enfrentarei!
Beijos e muitas carícias
Sem conta. Amante cuidoso
Alegre e repleto de ledícias
Ao seu lado, sempre zeloso
Por você, tudo farei!
78
Corramos pelos campos selvagens
Admirando as lindas paisagens
Apreciando as inúmeras criações
Cantando as belas canções
Celebrando a vida, a alegria
Festejando a noite e o dia
Esta paixão que fortalece
Que vivifica e jamais fenece
Faz tudo em volta, vicejar
Quando se tem a quem amar!
79
Corri mundo. Conheci lugares
Diferentes países e nações
Atravessei rios e mares
Visitei povos e civilizações
Contudo, o que mais procurava
E tanto, tanto desejava
Se encontrava tão perto
Que nem quis acreditar
Você... Oásis no meu deserto
Só contigo hei de ficar!
80
Calado sou, falo pouco
Só quando se faz preciso
Posso passar por louco
Porém, não fico indeciso
Opino, tendo os fatos!
Quem muito fala, nada acrescenta
Molha onde já choveu
Mostra só o que aparenta
Não é firme: já desceu
Calculo bem os meus atos!
81
Queria que me amasse
Com toda a sua energia
Por mim, tudo deixasse
E se tornasse minha alegria
Sendo infalível companheira
Na tristeza, seria meu riso
Prudente, austera e certeira
Na loucura, seria o meu siso
Seria tão bom, minha amada
Tê-la, ao lado, na longa estrada
82
I
Cantemos os amores impossíveis
As promessas risíveis
Feitas no calor das horas
Vamos, isto é humano
Puro sentimento insano
Ainda é cedo para ir embora
II
Corramos os campos, pradarias
Contando as noites e os dias
Vendo o tempo passar
Pois quem amamos, já partiu
Nem de nós se despediu
Só quis conosco brincar
III
Sentemos, sós, nos bares
Admiremos os mares
Onde ela deve estar?
Rindo de nosso desespero
Do carinho, cultivado com esmero
Que queríamos ofertar
IV
Caiamos nesta poça de lama
Apaguemos a vibrante chama
Pois nada há a fazer
Tudo se torna tão escuro
Sem vislumbre de futuro
Só nos resta o sofrer...
83
Quantas vezes invadido
Pela imensa saudade
Me senti perdido
Me senti metade
Um guerreiro vencido
Dor em profundidade
Sofri, no chão estendido
O preço da deslealdade
Quem tanto se amou, esqueceu
A rosa murchou, feneceu
84
A ti dedicaria todo cantar
Todo cantar de amor
Possível ou impossível
Sano ou insano
Puro ou impuro
Santo ou profano
Cantar singelo e sincero
A ti dedicaria as palavras
Vindas do vero coração
Apaixonado e contente
Forte e vibrante
Que ainda deseja, teimoso
O seu bem-querer
A ti dedicaria o sentimento
Mais inocente e mais verdadeiro
Todavia, não me daria atenção
Me chamaria de louco
Perdido, um triste sonhador
Mas que vive e respira
Mesmo com todo desprezo
Com a ingratidão e o desespero
85
Jamais morrerei por amor
Ainda que carregue toda a dor
Mesmo tendo o espinho à flor
Mesmo tendo o frio ao calor
Padecendo, perdendo a cor
Comendo sem prazer, sem sabor
Não dormindo; constante torpor
Seguindo. Sem ambição, sem furor
Tudo é cinéreo. Nada me é tentador
Passei! Fui um mero espectador!
86
Dor que se carrega, todo dia
Toda hora, a fustigar
A encher de agonia...
O coração, teimoso, a pulsar
Não há mais alegria
Não há mais cantar
Cesse toda melodia
Pois hoje, irei me fechar
Só ouço o piar da cotovia
Embalando meu lento soluçar
87
Olhar para o firmamento
E nele procurar você
Quiçá, escondida entre os astros
Errantes, caminhantes
Neste céu tão infinito...
O pobre amante
Também tem alma infinita
Onde cabem mil amores
E milhões de dissabores
Coração nas trevas
I
Coloquei meus singelos sonhos
Aos teus pés. E os pisaste
Com desdém. Não pisavas neles
Pisavas em mim
II
Pus o meu coração
Em tuas suaves mãos
E o partiste. Com indiferença
Zombou de meu ver’amor
Escarneceu de meus cuidados
III
Coloquei meus planos
Ao teu conhecimento
Não deste atenção
Destruiu-os, um a um
Com sua loucura
E sua insensatez
IV
Ofertei a minha vida
E tu, me relegaste ao último lugar
Cavou, com tudo isto
Um abismo
Insuperável
Insuportável
Nada de novo no front
I
Nada somos, nada seremos
Só aquilo, que um dia, fomos
Aqui, a triste escuridão
É a única companhia
II
Nada temos, nada teremos
Só aquilo que nos foi tirado
A dor e a desilusão
Perseguem noite e dia
III
Olhei para você. Você sorriu
Mas, depois partiu. Não esperou
O que era pouco demais
Acabou-se antes de amanhecer
IV
Agora, está tão longe
Imaginei você comigo
E tudo fez sentido
Mesmo que o fogo seja amigo
V
Queria retornar
Para casa, para o lar
Para amar, ser o que sempre quis
Queria pensar naquilo que desejo
Quero voar, quero ser feliz!
VI
As armas estão apontadas
Engrenagens azeitadas
Tudo pronto para avançar
Não vejo você ao meu lado
Neste claro dia
Tombou, a poucos passos
Da inimiga artilharia
90
Velha carta amarrotada
Guardada no bolso da camisa
Escrita com letra bordada
Num papel de seda lisa
Palavras que me comovem
Quando as leio, neste momento
Sentimentos que me consomem
Tornam-se terrível tormento
Carta antiga, lembrança fugidia
Do amor que tive, certo dia
91
O homem mata e morre
No campo de batalha
Fere, sangra; socorre
Jaze em uma mortalha
Conflitos e grande guerra
Ceifam a vida de milhares
Explode-se toda a terra
Espalha-se morte pelos ares
Tudo isto, quem sabe, acabará
Quando homem não mais existirá
92
Cantei todos os meus amores
E vejo que sozinho fiquei
Sofri toda sorte de dores
E mesmo assim: amei!
Pois acreditava na paixão
No seu tesouro tão caro
Que guarda-se no coração
Bondoso. Mas, que é amaro
Não entrega-se com fervor
Fica cinéreo, sem cor
93
Muitas vezes, não importa o que somos
O que importam são nossos sonhos
Aquilo que tanto almejo
Seu olhar, sua boca e seu beijo
94
Que estranha força é esta?
Forte qual um rio que no mar deságua
Que me come por dentro
Deixa meus olhos, rasos d’água!
95 Não mais sofrerei inutilmente
Ainda tenho juventude e vida
Novos, o corpo e a mente
Preparados para qualquer lida
O coração, sofrido, ainda bate
Desejoso de novos desafios
Repleto de ternura e arte
Hei de cruzar montanhas e rios!
Serei firme, serei forte
Não me curvarei à morte!
96
Coração de dura pedra
Onde não nasce verdura
Onde o amor não medra
Sede de rancor e amargura
Sofrimentos tão brutais
Fizeram estes estragos
Traição que sempre traz
Golpes onde havia afagos
E amar tornou-se um risco
Ovelha fora do aprisco
Lições de Desespero
I
Sofrimento instalado no coração
A lembrança que não se apaga
O leve toque de sua mão
Que acaricia e afaga
Nada tenho. Perdi tudo
Não falo mais. Fiquei mudo
Tornei-me calado e triste
Carrego a dor que existe
Para sempre desolado
Tendo o peito despedaçado
II
Dura lida! Dura jornada!
Não lembrar e esquecer-te
Não poderia. Seria em vão
Pois fizeste sua morada
Dentro do puído coração
Cansado, cansado de dor
Que deu e nada recebeu
Foi fiel e ficou só
Foi correto e está triste
III
Mas, amiga, de fato
Não posso expulsar-te
De minha miserável vida
Pois, tornou-se, você
A essência da mesma...
IV
Olhar para os astros
Neles, tentar encontrar você
Talvez escondida nas estrelas
Que andam errantes
Neste céu infinito
O pobre amante
Também tem sua alma
Infinita
Onde cabem mil amores
E milhões de dissabores
V
O amor, minha cara
É simples, sem rodeios
Nos enredamos por sutis
Ardis que acabaram
Com nossa efêmera
Alegria. O que fizemos?
Destruímos o que nos unia...
VI
Casa com mil portas
Casa com mil janelas
Sendo que uma porta
Seria o suficiente...
Amamos sem pensar
Amor que pode nos matar
98
A alegria é dividida
O lamento é solitário
De amargo-doce é feita a vida
Caminhos de sentimento vário
Que traz algum dissabor
Na volta ou na ida
Faz o seu inventário
Diga a palavra má ou bendita
Reclame o seu salário
Chore o seu perdido amor
O Drama jamais superado
I
Durante quatro anos
Me engajei numa guerra
A qual jamais poderia vencer
Foi um tempo de doces quimeras
De alguma vã esperança
Com alguma sorte do destino
E um imenso peso da realidade
Assim, se perde a inocência
Com as ilusões que se consomem
Devido ao incontrolável pendor
Em crer naquilo que nunca existiu
II
Não se deve culpar o passado
Pela situação que agora, se vive
O hoje é o filho do que aconteceu
Mas, não é tão simples assim
Carrega-se sobre os ombros
As cargas de campanhas desastrosas
Fracassos de terríveis perdas
Daquilo que ficou pelo caminho
Letras escritas na madrugada
E que nunca verão a luz do dia
III
Quando se lança ao ataque
Com total abandono, de corpo e de alma
Se espera que o outro lado
Faça o mesmo. Possua este dever
Contudo, pode haver outra visão
Que acabará sendo a vitoriosa
E todo o arroubo de confiança
Glória, vaidade e doçura
Se esvai... se torna obsoleto
IV
Esta página é virada
Esquecida por uma parte
Rememorada por outra – cada vez mais
Isto prova que quando se ama
Não se faz necessário estratagema
Medir o próximo passo, o que dizer
Deve-se ir em frente
Ser o cavaleiro de alma imaculada
E amar – amar, com todo ardor
Mesmo que, no fim, tudo se esvaneça
Mesmo que, no fim, só reste lamentar!
A Condição Humana
I
Não deve-se esperar
O reconhecimento daqueles
Que amamos
Quiçá, depois que partirmos
Talvez alguém entoe um cântico
Alguém componha uma canção
Preste singela homenagem
Mas, no fim, nada valerá
Os mortos não ouvem
II
Do túmulo, pode brotar uma flor
Tímida e pálida, mas flor
Última lembrança de uma era
Que findou no dia, na aurora
Alguém a arrancará
A levará para lugar distante
Iremos também
Mesmo que a contragosto
III
Não espere o amor tranquilo
Pois este só existe no mar de silêncio
Mar de lápides e jazigos
Que escondem a torpeza humana
Se amar, ame com furor, com élan
Se fizer o bem, esqueça a gratidão
Assim, sua vida será plena
E ditosa
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