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PROCESSO DESENCARNATÓRIO
MANOEL P. DE MIRANDA
Para desvencilhar-se das amarras do organismo físico, o
Espírito necessita de adestramento e habilidade que se desenvolvem desde quando
deambula encarcerado no mecanismo da reencarnação.
Impressões longamente fixadas e sensações vividas com sofreguidão assinalam
profundamente os tecidos sutis do perispírito, impondo
necessidades e dependências que a morte
não logra, de imediato, interromper.
Da mesma forma que o processo reencarnacionista se alonga desde a
concepção até os primeiros momentos da adolescência, num complexo assenhoreamento das
células que se submetem aos moldes do corpo de plasma biológico, a liberação da clausura exige um
período de adaptação à realidade de retomo.
A ruptura dos vínculos de manutenção do Espírito ao corpo é somente um passo
inicial na demorada proposta da
desencarnação.
Normalmente encharcado de impressões de forte teor
material, o Espírito se demora mimetizado pelas vibrações a
que se ambientou, prosseguindo sob estados de
variadas emoções que o aturdem.
Quando aclimatado às experiências psíquicas e
mediúnicas, mais fácil se lhe faz o desenovelar-se dos grilhões que o prendem à retaguarda, readquirindo a lucidez, cuja claridade racional apressa o
mecanismo de libertação.
Mesmo assim, necessita de conveniente adaptação, a
fim de readquirir as funções que jaziam bloqueadas pelo
corpo ou sem uso conveniente, em razão do
comportamento carnal.
A mente responde, portanto, por vasta quota de responsabilidade
no fenômeno da morte física.
Conforme a experiência corporal, assim se fará o desligamento
espiritual.
Nesse transe, para o qual todos os homens se devem preparar,
através de exercícios de renúncia e desapego, torna-se imprescindível o conhecimento da vida espiritual, que estua, atraente, dando curso a quaisquer empreendimentos que, por acaso, fiquem interrompidos...
Desimpregnar-se das sensações mortificantes,
que anteriormente escravizaram, é o capítulo
mais penoso da convalescença post
mortem.
Acostumado a viciações e hábitos perniciosos, que se comprazia
em vitalizar com as atitudes físicas e mentais, vê-se o
desencarnado subitamente interditado de dar-lhes
prosseguimento, o que então lhe constitui tormento inenarrável, levando-o a arrojar-se sobre os despojos em decomposição.
Ávido de gozo impossível, nele próprio produzindo estados
umbralinos de perturbação psíquica em que passa a jazer por longo
período, ou se atira, por afinidade de gostos, em intercursos obsessivos,
em que as suas vítimas lhe emprestam o veículo para a nefária
dependência...
A morte já não é um ponto de interrogação, como antes,
graças às informações dos que lhe transpuseram a aduana e
retornam para desvelar os aparentes enigmas que a
vestiam com o misterioso e o sobrenatural.
O Espírito veste-se e despe-se do corpo obedecendo ao
automatismo das leis do progresso, que propõem a solução
dos seres, sendo facultado aos que o desejem, pelo esforço e
estudo, a aprendizagem e o uso das técnicas de renascer e
desencarnar sem choques nem padecimentos perfeitamente
evitáveis.
Compreendendo que o fenômeno da morte faz parte do
compromisso da vida, o homem se arma de valores para o
momento da própria como da libertação dos afetos, que voltará a encontrar na grande pátria de
onde todos procedemos.
Com esse cuidado completa-se o quadro de auxílio aos desencarnados, por parte dos
familiares e amigos que permanecerão por mais um pouco no corpo, evitando-se as emissões de ondas mentais de rebeldia e desespero, de mágoa e angústia, que são
verdadeiros ácidos que ardem e requeimam naqueles desencarnados em
cuja direção se arremessam tais vibrações de desconforto e insatisfação.
Morrer é desnudar-se diante da vida, é
verdadeira bênção que traz o Espírito de volta
ao convívio da família de onde partiu...
A experimentação mediúnica desenvolvida pelo
Espiritismo é o mais seguro guia destinado a esclarecer o transe da morte e preparar os homens para a inevitável
decorrência libertadora.
A libertação, todavia, depende de cada criatura
que experimenta o acidente fisiológico que
lhe interrompe o ciclo, propiciando a tranqüilidade ou o demorado sofrimento
que carpirá.
Partindo-se da experiência espírita que elucida o fenô meno da morte, ressuma a filosofia
comportamental que se alicerça na moral cristã, lavrada no amor
a Deus e ao próximo, a expressar a vivência da caridade sob todas as modalidades e em cuja prática o Espírito evolve, progredindo sem cessar no
rumo da plenitude.
ESPÍRITO: MANOEL P. DE MIRANDA
FONTE: TEMAS DA VIDA E DA MORTE
FEB
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