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Florianópolis, Dezembro de 1989
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I
(I
**Melhor
Peça GráficaI e II Set
UniversitárioMaio 88
Setembro 89
ZEBOJornal-laboratório do Curso
de Jornalismo da UniversidadeFederal de Santa Catarina.Arte: Frank. Hubert, Mirko
!liá. QuinoColaboradores: professor
César Valente; Patrick Chawel.Stephen Ferry. Devoss-Werner-Reichenback (fotos). Pierre Rou"elin. Vavv PachecoBorges (textos); Inside. IstoéSenhor. Time.Coordenação: profe�sora
Neila 13ianchin _
Diagramação: AlessandraMeinicke.BllIe. Christiane Balbys. Fabiano Melato. JeanineBellini. Josiane Laps. NilvaBianco. Pedro Saraiva, Viviande AlbuyueryueEdição: Daniela Aguiar. Fa
biano Melato. Geraldo Hoffmann. Ivaldo Brasil Jr. MariaTeresinha da ·Silva. Murilo Valente. Rogério F. da Silva. Sônia BridiEdição e supervisão: profes
�or Ricardo BarretoFotogralia: Ana Paula Mar
cili. Carol do Vale Pereira . .Iac-4"es Mick. Maria T da Silva.Marta Moritz. Romir RochaLaboratório fotográlico: Pe
dro MelloTextos: Christiane Balbys.
Clari"" dos Santos. Deise Freita:-.. Elaine Tavares. FabülI10Melato. Geraldo Hoffmann.Heloísa Dalanhol. Iv,ildo Brasil.Ir. .Iacqllt:� Mick. "Marta Moritz. Murilo Na�polini. Ozia�Alves Jr. Pedro dos Santos, Pedro Saraiva. Rafael Ma�:-.cli.Robert Willecke, R""me Porto. Sílvia Pav��i'Telefone: (04X2) 33-Y2 I 5Telex: (t14X2) 240 HRTclerax: 3340(1Y
.
At'ahamentn e impressão: JIll-prelarCorrespondência: Caixa Po:-.
tal .fT:!, Depart,.ullLntn dt' Conlllnic;,I�,.IO, Cur:-.o de .Inrnali�-1110, Flnrianüpoli:-.-SCCircula(;;jo dirigidaDístrihuiçúu gratuita
VENCE O FENÔMENO VIDEO-C'LIPo
o candidato dos poderososLe Figaro não
se impressionacom o eleito
�o candidato chega num
ambiente efervescente, ergue os punhos em sinal dedeterminação. A multidão se
comprime, querendo tocálo, abraçá-lo. O "belo" Fernando Collor é o fenômenodesta campanha eleitoral.Campeão em todas as pesquisas e puro produto damagia mediática,' ele estabelece um contacto físico com
o seu público. Uma equipede "fazedores de imagens" ,que não fica nada a deveraos publicitários de Manhattan e de Los Angeles, rodeiao jovem pródigo da políticabrasileira. Os seus comíciossão verdadeiros espetáculos,onde a exuberância do carnaval se mistura ao rigor deHollywood.
Collor não recorre aos I
efeitos dramáticos, que jásão tradição em tribunas latino-americanas. Os favelados e os pobres do interiornão vão escutá-lo falar. Habitualmente, ele não discursa por muito tempo. Só falapor alguns minutos antes deseguir para outros comíciosneste gigantesco país. São es
tas aparições q�e o povão vaiassistir: aparições que paraeles têm um pouco de milagre. "kbaixo Judas, vivaCollor". Uma mulher da favela da Fregut;sia do Ó, naGrande São Paulo, brandiaeste cartaz em apoio ao can
didato. Deus sabe porquê ...
Fernando Collor de Mello, ex-governador de Alagoas, garantiu sua vaga paradisputar o segundo turno no
dia IT de dezembro. E temboas chances de toçnar-se o
próximo Presidente do Brasil, o primeiro Chefe de Estado eleito pelo voto diretoapós 29 anos. O candidatotem 40 anos, e quer encarnara nova geração. Metade dos·82. milhões' de eleitores tem
L!:� oetues oens oe ta
ta ...eta tt"UJ ccs llOurgaele�ce I mteneur. ne vrennentoas pour recovrer Comme
d nabnune. II ne parter aQue cueroues minutes,avant de Iller vers un auve
. �naen��;�u�,<t��s cv�e��;�1 ��VOir, ass.stet ii cene appannon QUI, pour ecx. trent un
peu du miracle .. A basJudas, vive Collor I .. Uneternme de Ia favela de Frf'·questa rO. dans Ie grandSao Paulo, br ancrsseu ceneoancarte I autre Jour Drevsan oour cuc..
fernando Collor eleMette ancien oouverneurdu cem Elat de-I'Alagoasdans Ie Noroeste eSI manouemenl assure de disputerIe oeuneme lour qur auralieu te 17 oecembre. II a debonnes cnances de oevemrte orocnam- prés.oent duêr és!t. te premier cnetd'Etat élu au suttiaçe uru
versei ceours vmçt-neutans. A quarente ans: LI veutmcarner Ia nouvelle gene.retrcn. La moitlê des quatre-vmct-oeux millions
" ���I���:;�eal��n�:��s�oter
MERCREDI 15 NOVEMBRE 19B!
La chasseaux " maharajas »
Beau çosse. athlênoue.Collor est cemture none deaeretê. II 8 bAh eon Imagesur une idee simple Quiplait aux petnes gens dont iiveut se tarre Ie heros: .. Lesmaux du Brésil sont liés àIa corrupt/on de ses jdiri·geanls et de sa cresse po/i·tIque ..
Collor s'est fait Ie champion de Ia .. chasse awe
maharaJas ., tes tcncnonnanes qui touchenl des sa
íarres miTifiques et ne se
présentent pranquement jamais à leur travail. - Nausallons emprisonner les íribuns ., a-t-il annoncé en·
profitanl de I'impopularite.
du gouvernement pour fa iredu president. José Sarney,sa prLnclpale têle de Turc.
II se veul intra liable à
I'egard de ces fonctlonnai-'res Qui, du haut en bas de Iahiérarchle, dOlvent leur�place au .. c/ienté/isme poli·tique ", .. Nous allons en
fmlr avec ces corrompus etces incapabJes qui �eulenltransformer /e Brésil en une
mer, de désespolf. .. Des
slogans simplistes, des formules à I'emporte-p,êce, unphysiQue qui passe bien à12 télevision, Ia receite éstconnue
FernanCo Collor est IeRonald Reagan des milieux
Ion. rl Irl.: fJd��t: fJéI� oe I «o
rue a 16 core-e II Lrrt- etmaneie M:S mOI�. Ie pOlngIerme Collor est un mau
vais orateur Ses ccnseu
lers lU! onl eeoc Clil oe par.
ler te morns possible Drxrmnutes te plus souvent. II a
adopte un rvtnme euréoéQUI rmpreasronne !!'plO)!!!!..� de reooesse.
tloen��r;�a��IS���rmlOa.5esãõVeTmes cons
der ent QU'II nest au un.. candida' video-clip �
Peut-etre MaiS ca marcheparti de nen. II est monte
rusou'a 42 % Clans res son
cages avant de se stabuser a 25 % á ta vetne dupremier 10Ul, 1010 cevantses concunents oe caucne
Collor fall carnpeçne au
nom du pent peupte. m�!!...est soutenu par les_.DIUSp��o Ma
r)nno, te proOfletarre de Iachame de tetevlSlon _oGlobO c�ntróle 70 % ã80 % de raucrence cesrun arne de cotes. Le canmdai mene sa crorsadecentre Ia classe potrucue.mais ii en 'est Iui-mêrne Ie
proouu, Petit-fils d'un ministre
��s����:n:��I�V�;;�l��r:(Ies chets pohtlQues du Nordeste), son pére a tue. un
jour. un de ses cg"êgllesd'un COllp de pistolel au
c cuzs d'lIop pye au
�Aormratecr de Margaret
Tnatctrer; Collor n a pas élé'res expliCite sur spo programme, It veut pnvauser et1iDãfãTiSer t'econorrúe. II
compte sur Ie .. choc psych%gique .. de son election pour vemr à bout del'inflaUon QUI e n etnt1300%.
Fernit.do Coil r a corn
mencé sa
a IX ans: en devenantmaire de Macelo, Ia capitale de l'Alagoas,�volonté de's mitilaires. Ouelques années auparavant. iiavait pns Ia direction dugroupe familial: un journal,une stallon de televiSion el
deux slatLons de radio.Les conseillers du can
didal aHlrmenl que, s'i1 eslélu, ii fera appel aux " forces socis/es progressistes ..
pour soulenir son acILon,Impulsil el d'esprit independant., iI cache son jeu : " Lagaúche a peur de Collor àcaUse 'fie son psssé; Isdroile â cause de son ave
nif ", resume un observateur bresilien.
P.R.
çâo, de "machismo".Os seus adversários o con
sideram um candidato "vídeo-clip". Talvez. Mas issomarca: saído do nada, ele subiu até 42% nas pesquisas,antes de se estabilizar em
25 % nas vésperas do primeiro turno. Mesmo assim superando todos os outros con
correntes..
Collor faz campanha em
nome dos mais pobres, comoele gosta de afirmar,. mas é
.
apoiado pelo. todo-poderosoRoberto. Marinho,. proprietário da Rede Globo de Televisão, que controla entre70% a 80% da audiência no
país. É um aliado de peso.O candidato direcioná sua
cruzada contra a classe polítira, da qual é produto. Eneto de um ministro do Trabalho Ide Getúlio Vargas nos
anos 30 e filho de Senador.Na pura tradição dos "coronéis" (os chefes políticos doNordeste), seu pai matou,um dia, um de seus colegas,com um tiro de pistola, durante uma rixa 11.0, Congresso.
Admirador de Ma'rgaretThatcher, Collor não foi explícito sobre seu programa.Ele quer privatizar e liberara economia, contando com
"o choque psicológico" quepode advir da sua eleição.Não esclatece como combaterá a inflação que está su
bindo a um ritmo galopante.Fernando Collor de Mello
começou a sua vida política,há dez anqs, quando foi no-meado prefeito biônico deMaceió, capital da Alagoas.Alguns anos depois assumiu� direção dó grupo familiar:um jrlrnal, uma estação detelevisão e duas emissoras derádio.
Os seus assessores afirmam que,- se eleito, Collorfará um apelo às "forças so
ciais progressistas" paraapoiarem sua ação. Impulsivo e de espírito independente, o candidato do PRNsó representa uma incerteza:"a esquerda tem receio deCollor pelo seu passado político; a direita pelo seu futu-'ro", resume um observadorbrasileiro.
entielle
�dQ__Collor I
��n__'à la brésilienne
d'affaires bresiliens, UneéQUlpe de .. faiseurs d'images "', qui n'a rien à envieraux publicistes de Manhattan et de Los Angeles, efltoure Ie jeune prodlge de Iapolitique 'brésillenne. Sesmeetings sont de vraisspectacles au I'exubérancedu carnaval se mêle ii. Iarigueur d'Hollywood.
Le Figaro: Collor é um demagogo Reagan latino
Pierre RouSSelinTradução Pedro Santos
RIO DE JANEIRO:,., de notre envoyé spécial
P;e.... ROUSSELtN
,Le candida! arrive dans
'une bousculade eHrénee. 11tend les poings en I'air en
slgne de' determination. Lafoule se presse. On veut Ietoucher, I'embrasser, Lebeau Fernando Collor est tephénomene de cette cam
pagne électorale, Champion toutes catégorieS' dessondages, pur produit de Iamagie médlatlque, ti établitun contact physique avec
son pubhc,
Candidalcc vidéo-clip ..
Ce n'est pas un tribun âIa mode latino-amencaine.Ouand it parle, ii ne pratique pas d'eftets dramali
que�: de changem�nl" de II
com os corruptos e os incapazes que querem transformar o Brasil num mar de desesperança". Este discursoapaixonado só convence o
povão, que infelizmenteconstitui boa parte dos elei�tores brasileiros.Fernando Collor de Mello
é Ronald Reagan de meiotom, e não passa da ironiaà cólera. Ele grita e martelaseus slogans, com o punho _
cerrado. Collor é um mau
orador. Os seus conselheiroslhe recomendaram falar o
menos possível.Dez minutos de palanque,
bastam. Eni compensaçãoadotou um ritmo aceleradoque impressiona, e projetauma imagem de juventude,de energia, de determina-
menos de 30 anos.
"Belo rapaz", atlético,Collor é faixa preta de karatê. Identificou a sua imagema uma idéià simples e queagrada aos jovens, de quemele quer fazer-se heroí: "Osmales do Brasil estão ligadosà corrupção de seus governantes e da sua classe política". Ele se fez' campeão àcaça aos marajás. "Nós va
mos prender os corruptos",anunciou aproveitando-seda impopularidade do governo Sarney, sua principalcabeça de turco.
-
Os discursos do candidatobaseiam-se em slogans simplistas e em fórmulas talhadas pela indústria televisiva.Mas, ele não se cansa de re
petir: "Nós vamos acabar
Em IS de novembro come
morou-se os cem anos de vida
republicana e se processa, de
pois de 29 anos, a escolha dlreta e universal, por 80 milhõesde brasileiros, de um novo
presidente. É uma coincidência importante para o país e
que traz algumas inquietaçõese reflexões: o que comemorarnesse centenário'? O que pensar do século de vida republiana cujo terço se passou "emregime de exceção"? O fantasma dessa excepcionalidade, ou seja, de uma ditadurabaseada na força militar, éuma-constante em nossa vida'republicana, que desde sua
proclamação foi vista como
mera quartelada pelos que a
desvalorizavam ,e ignoravama evolução das aspirações re
pub l i c a n a s . Na sucessãoatual, essa excepcionalidadefunciona como uma espada deDâmocles a influir num voto
aparentemente cada vez maisconsciente de sua importânciana história do país.
O que significa a Repúblicapara nós brasileiros? O termorecobre formas diferentes,pois .vern da Antigüidade greco-romana, passando pela"respublica christiana" me
dieval. .. Em 1776, houve a
primeira concretização republicana na América Norte, e
em 1792, a Primeira República Francesa, durante o período revolucionário: as duasmarcaram profundamentenosso imaginario cotidiano e
nossas aspirações. Nossa no
ção de República parece terse fundido com a de democracia, baseada nas experiênciasacima, com característicastais como liberdades políticas,império da lei, sufrágio eleitoral ... universalizados somente
para os cidadãos proprietários.
A prática republicana foimuito diversa e mostra em
cem anos diferentes ordens jurídico-políticas. De 1889 a
1930 houve a Primeira República, de início presidida pordois militares, depois por civis, eleitos sem voto secreto.Esse regime termina com o
movimento político-militar deoutubro de 30, que instala no
poder o Governo Provisóriode Getúlio Vargas. Em 34houve nova Constituição queprolongou o governo Vargas,por eleição indireta, até 37,quando o mesmo grupo proclama o "Estado Novo". Oano 4'5 traz novo golpemilitare nova mudança de regime,com um período de quase 20anos de eleições regulares como voto secreto. Em 64, outrogolpe e novo período ditatorial.No conhecimento histórico,
DESAFIO
-Brasil festejaos cem anos de
falsa RepúblicaHistoriadora questiona as comemoraçoes
pontos nevrálgicos da históriacontemporânea para a discussão das rupturas, das transições de um tipo de sociedade
para outro, assim como paraa discussão da democracia.Percebeu-se que a política temseus limites: não se consegue,de uma hora para outra,transformar uma sociedade
por um passe de mágica, comum golpe militar ou mesmo
uma revolução. Há hoje inclusive um consenso sobre a lentamudança dos valores, dos hábitos e mesmo as instituições.Mas há também outro consen
so: apesar de seus limites, o
campo da política é fundamental para efetivar transfermações, pois nele se explicitam e se resolvem conflitos detoda natureza. Mudanças es
trurais jamais ocorrem de forma súbita, por mais que as
vontades políticas o desejem!A eleição em questão pode ser
um momento fundamental
para os destinos do país, masnão é uma revolução. ,
Xeste centenário. o que se
den comemorar não é a Proclamação da República. Essafoi a ruptura do regime ante
rior, apresentada oficialmente como o fim do processo em
que o país esteve preso às suas
origens coloniais, à monar
quia. - ao trabalho escravo: a
Abolição teria libertado os es
cravos, a República igualariatoda a nossa população. todosos homens exerceriam livremente sua condição de cidadãos e/ou venderiam sua forçade trabalho. As elites dominantes paulistas. já antes da
República, assumiram a dire
ção da formação de um mer
cado de trabalho que hoje.com as alterações de mais decem anos, aí está. Mas, e o
exercício do direito-de cidadania para a imensa maioria da
população?A oportuna coincidência
den nos incitar para, em con
tinuidade com antigas aspirações democráticas, travaruma discussão sobre como implementar essa república democrática não concretizada,onde todos sejam realmente.cídadãos: na qual as garantiasindivlduais (igualmente perante a lei, liberdade de cren-
o ça, de expressão, de associa,� çáo) assim como os direitos soo cia is (a educação e a saúde pu� blica, a moradia, o trabalho
e sua remuneração condizente) sejam realidade para todoo povo brasileiro..
....
.
I<I ".
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• •• t I. '.�
,,"f.:-,
I'
\'a\"�' Pacheco Borges
\"a\., Pacheco Burues, historiadora. é professora da Lniversidude Estadual de Campinas ll"nicamph membro da As.so(.·ja-.:ào:\adonal dos Prulessures L'niv t'rsitoil'i(J� deUistúria tAnpuh r, autora de "(;eluiiuVaruas e a Oligarquia Paulista ".
-
.
,
:" DEZ-89 ZERO" P 3-
', ,
•
•"1 I'
a ordenação dos acontecimentos é uma das funções primordiais para a abordagem do objeto. Essa cronologia dos regimes tem seu sentido óbvio e
uma função explicativa inerente, mas também seus limites; ao citá-Ia, e evidenciamossuas diferenças e o que dessasdecorre, não explicamos con
tinuidades estruturais que se
prolongaram pelo século e queaté hoje impedem, à imensa
maioria de nossa população,o exercício dos direitos essen
ciais do cidadão. Essa contí- -
nuidade de dominação se perpetua desde o início da vidarepublicana, porém se concretizou, logicamente, sob diferentes circunstâncias.Ao historiador compete ex
plicar as transformações e as
continuidades das sociedades;ora, quais são e como se dãoasmudaças sociais? A grande
transformação - sempre ater
rorizadora para as minoriasdominantes - desde as mudan
ças que culminaram na Inglaterra' do século 17 com a "Re
volução Gloriosa", de 1688,é chamada de "revolução".Foram feitas inúmeras análises sobre o significado dessemovimento assim ç.omo ás re
voluções Francesa e Russa de1917 e de suas decorrências.Isso por serem consideradas
I'ISEM-TETO & SEM-MURO
Prefeito descumprepromessa,
. é vaiadoe o povo leva a culpaDia da abertura dos trabalhos
de elaboração da lei orgânica do
município de Florianópolis. Opovo queria entrar para reivindicar seus direitos. Dentro da Câmara de Vereadores, um pelotâoda Polícia Militar esperava es
condido dentro de uma sala. Noscorredores, o clima entre os funcionários era de tensão. "Não vaientrar ninguém. só quem .tiver'0 crachá". repetiam feito autômatos.O motivo de toda esta expec
tativa era a chegada de um grupode "sem-teto", que viria protestar contra o não cumprimento deum acordo já firmado pela Prefeitura, com o aval da Câmara.No dia da abertura solene dos trabalhos, eles lá estiveram e cobraram do prefeito EsperidiãoArnin, também presente, a com
pra do terreno para alojgr as famílias que vivem na via expressa.O prefeito não deu satisfações e
saiu debaixo de muita vaia.Foi por causa desta "afronta"
ao prefeito, que o (Presidente da
Ir pra onde, Amin?
Câmara de Vereadores. AdirCentil. decidiu baixar uma or
dem. Só entrariam no plenáriopessoas credenciadas, e cada H
reador teria direito de credenciarapenas duas pessoas. A lei pegoude surpresa todos os vereadorescom prometidos com as causas
populares. Jalila Achkar. do PV,recusou-se a pegar as duas cre
denciais. "Isto' é um absurdo, a
ditadura já acabou e as pessoasquerem participar do processo.'ião vou compactuar com isso','.Vitor Schmidt, do PT, tambémestava indignado. "Restriglrammais uma vez a participação dopO\O'·. João Ghizoni, do PC doB. afirmava que ia devolver os
crachás e registrar um protestocm ata.
SEM-TETOEnquanto isso, os "sem-teto"
"e reuniram em frente à Catedral, discutindo como entrariamna Câmara para assistir à sessão.Eram mais de 300 pessoas. ElesIcmbraram a falta de palavra doprefeito, que sõ naquela semana
mandou derrubar sete barracos.O acordo estava quebrado. OFundo de Terras criado pela Prefeitura, com a aprovação da Câmara, não estava saindo do papel, Diziam ainda que o dinheiroestava no banco e a prefeituranão 'comprava o terreno. por"questão pohticá".Na Praça XV, os policiais des
filavam com seus cães e dentroda Câmara havia um pelotão de'soldados. "Eles estão lá dentropara defender o quê?", perguntavam os "sem-teto" _ Lembravam que, "se os dominantes fecham as portas para fazer as leis,com força de polícia, é porquenão estão pensando no povo"."Vamos pra lá", foi adecisáo.E marcharam pela rua com faixas e cartazes, gritando palavrasde ordem. Em Florianópolis são
quase 500 famílias sem teto amea
çadas de despejo, por estaremmorando em áreas irregulares.O grupo avançou rumo à porta
da Câmara, os soldados fecharam um cordão e com empurrõesimpediram a entrada. Os "semteto" sentaram na entrada doprédio e ocuparam a rua. "Nin
guém sai daqui sem uma solução", diziam/La em cima, os vereadores prosseguiam a reuniãocomo se nada estivesse acontecendo. Só as janelas foram fechadaspara evitar o barulho.
Os vereadores Vitor Schmidtdo PT, João Ghizzoni do PC doB e Jalíla do PY são os únicosque vão solidarizar-se com os\"sem-teto". As lideranças con
versam com os vereadores. Játêm um documento pronto, querem falar com os líderes dos partidos. Duas crianças cantam uma
canção que fala da vida dura de
quem não tem casa pra morar.
Só aí a sessão é suspensa. Os líderes dos partidos decidemconver-:sar. "Foi mais uma vitória da or:ganização do povo, da união das
pessoas em torno da justiça",,
acreditava hone Perassa, do Caprom (Centro de Apoio e Promoção ao Migrante).
Mas o problema da terra na
capital não está resolvido. A Pre'feitura comprou um terreno, quevai beneficiar poucas famílias. Orestante vai ter que continuar o
jogo de correlação de forças. Outro grupo, há pouco tempo conseguiu parar a construção de um
posto de gasolina_ Na área existem moradores que estão sendoexpulsos corn violência. Foi outravitória, só obtida .porque , segundo suas lideranças, "o movimento dos sem-teto está coeso. firmena luta pelo cumprimento das
promessas" .
Elaine Tavares
Depois de 28 anos, cai um trecho de uma barreira de 28 milhas
Redemocratizaçãodo Leste derrubao muro 'de BerlimBerlinensescelebram nos
dois lados
A vassoura democrática quevarre o planeta têm limpado pouco a pouco a sujeira e os resquícios de poeira dexados pelos regimes autoritários implantados na
Europa pós-guerra e na Arnérica-milico- Latina.
1\1i1 nov ecentos e oitenta é nOHti o ano. Excluindo-se a questãomilenarmente não resolvida daPalestina, o massacre chinês na
praça da Paz Celestial, as mortescausadas pela máfia narcotraficante colombiana e a insustentáHI guerra civil salvadorenha ,
1989 foi um bom ano. Pode ser
melhor ainda se o collorido globalnão emplacar em 17 de dezembro.O ser humano continua estú
pido, ludibriando a si mesmo. Felizmente nem tudo está perdido.Eleições presidenciais diretas na
Argentina, no Brasil, no Uruguai, no Uruguai, no Chile e na
Polónia. Abertura democráticana lJRSS. Conseqüências glasnostianas nos países do Leste eu
ropeu com .o rompimen-to de sistemas po.líticos unipartidários na
Hungria, na Tchecoslovaquia e
na Alemanha Oriental (a democrática!). Decididamente o mun
do clama por liberdade, igualda-
Vma fuga via túnel em 64: nunca mais,
de e fraternidade!Apenas seis dia separam dos
grandes momentos históricos: a
queda do muro berlinense no dia09 e a eleição direta para presidente do Brasil em 15 de novem
bro. Lá, em Berlim, federalistase democráticos assistiram à queda ideológica do muro que enver
gonhava a nação alemã. Aqui, noBrasil, assistimos à queda do muro autoritário que sufocava a na
ção brasileira. Em Berlim sonhase corn a unificação alemã, no
Brasil sonha-se com a justiça so-
cial, com a erradicação da miséria e com a igualdade de oportunidades._
Há quem diga que o dia D nãoexiste e sim a era apocalípticaatualmente vivenciada por todosnos. Pois então que o apocalipseseja denso e doce, lento o suficiente para que os homens acor
dem e derrubem as muralhas queinsistem em ficar de pév-E paraa nova década, axé muito axé.
Murilo Naspolini
Os grupos que formam a Frente são: Exército Revolucionáriodo Povo (ERP), Forças Popularesde Libertação (FPL), Partido Comunista Salvadorenho (PCS),Exército de Resistência Nacional(ERN) e Partido Revolucionáriodos Trabalhadores Centro-Americanos (PRTC). A facção majoritária hoje é o ERP, que conta'com o maior estrategista da guerrilha, o ex-estudante de Economia, Joaquin Villalobos, de 38anos. A ERP tem sua origem no
Movimento Estudantil e adota a
tática da insurreição popular -participação direta da popula-
o SEMPAZ I, i
i
Entidades . repudiam massacre
Vários paísescondenam governo'salvadorenho
till grupode ultradireita invadiu a L'niverxidade Católica da
capital de EI Salvador, no dia 16de novembro, e assassinou seis
padres jesuítas, entre eles o reitor, 19mírio Ellacuria, que teveseu cérebro arrancado devido a
torturas que sofreujunto com ou
tras vítimas. Â direita acusava
'()� jesuítas de colaborarem com
a Frente Farabundo Manti de Libertação Nacional (FMLN I, quelançou uma ofensiva à capital,San Salvador quatro dias antes,numa tentativa de demonstrarforça. O atentado se caracterizoucomo represália à Frente que éo pólo oposto ail governo nessa .
guerra civil que já dura 17 anos.
Em repúdio a esse assassinatoe em favor da proposta de uma
solução política para o conflito -
defendida pela FMLN - é queo Instituto Cultural de Amizadee Solidariedade entre os Povos(Icasp) resolveu encaminhar um.abaíxo-assínado a várias entidades de Florianópolis.
.
Maurício Tomazoní, do Icasp,explica que, a proposta de uma
solução política negociada con
tém várias exigências, como: o sa-
neamento das Forças Armadas;a transformação da ajuda militardos Estados Unidos - de 1,8 milhões de dólares diários em ajudaeconômica para a reconstruçãodo país e a garantia de socorro
aos feridos, já que a Cruz Vermelha Internacional e a Cruz Verdeestão proibidas de atender aos fe-ridos da FMLN.
'
A FMLN, que controla a terçaparte do país há sete anos, iniciouuma ofensiva geral contra o governo do presidente Alfredo Cristiani no dia 12. Segundo a embaixada americana, a batalbajá ma
tou mais de I.SOO pessoas só na
primeira semana, Os ataques do
gOHrno não poupam nem os
bairros civis mais populosos, como os de Mejicanos e Cuscatancingo, na capital, que foram atingido� por bombas de até 250 kg,lançadas (' � aviões de combate.
Estrangeiros - Além dos padres jesuítas, dos 10 sindicalistasmortos e 23 feridos no atentadoà sede da Federação Nacional dosSindicatos Salvadorenhos, os es
trangeiros são também vítimasda violência. No dia 17 de novembro o jornalista britânico DavidMichael Blundy, 44 anos, do"Sunday Correspondent". foimorto por uma bala "perdida"na periferia de San Salvador.Outra estrangeira vítima da
violência foi a norte-americanaBrenda Hubbard, de-41 anos.
Brenda estava cumprindo missãoem favor dos direitos humanos
junto ao Comitê de Mães e Parentes de Prisioneiros, Assassinadose Desaparecidos Políticos de EISalvador (Comadres). Ela e mais
oito pessoas foram presas pelapolícia alfandegária, quando estainvadiu uma das sedes do Comadres. Os policiais torturaram todo o grupo e os fotografaram em
frente às paredes, que estavamcobertas com propaganda daFMLN. Além das torturas, Brenda ainda foi estuprada.
,
Com a dívulgaçâo desses fatos,hou ve manifestações em favor dopovo salvadorenho em váriaspartes do mundo. No Brasil, o
governo não se pronunciou, masa Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e o ComitêTeotônio Vilela mandaram uma
moção de repúdio ao governo deEI Salvador. Em Florianópolis,o Icasp enviou dois telegramas deprotesto: um ao Itamaraty e ou
tro ao palácio presidencial deCristiani.Em 20 cidades norte-america
nas também realizaram-se manifestações em apoio à solução política pregada pela FMLN. A Europa, através da Anistia Internacional, organizou protestos emfrente às embaixadas de EI Salvador em todos os países do continente a favor do povo salvadorenho, contra Tomasini.A FMLN é reconhecida em di
versos países como México, Dinamarca, Suécia e Holanda. Mesmo os Estados Unidos - que financiam o 'governo Arena, deCristiani - há 400 entidades desolidariedade. O Icasp de Florianópolis é ligado ao Comitê de Solidariedade aos Povos do 3� Mundo, e é formado por entidades sindicais e partidos políticos. Este é o argumento da direita salvadorenha
Entenda El Salvador.Farabundo Marti foi assassi
nado justamente com 30 mil camponeses ao liderar uma revoltapela reforma agrária em 1932.
"Marti era membro do PartidoComunista Salvadorenho, foiamigo pessoal de-Sadino e até lutou a seu lado na Nicarágua. A·Frente que leva seu nome é a
união de cinco. grupos de esquerda de EI Salvador e foi criadaem 1980 - oito anos após o inícioda Guerra Civil.
ção. A segunda força dentro daFrente é a FLP, que é uma dissidêncía do Partido Comunista queprega a guerra popular prolongada. -A estratégia conta apenascom o apoio logístico da popula- �
ção, sem sua participação diretano confronto.
No governo está a Aliança Republicana Nacionalista (Arena),que elegeu Alfredo Cristiani em19 de março deste ano para súbstituir Napolean Duarte, da Democracia Cristã. A Arena é o
mesmo partido domajor RobertoD'Abuisson, - que foi ó man
dante do assassinato do padreprogressista Monsenhor Romero, em 1981 - .tem corno refrãode seu hino "Pátria sim, comunismo não".A oligarquia salvadorenha é
formada por 14 famílias e recebeuma ajuda diária de 1,8 milhõesde dólares e 55 assessores militares, ambos vindos dos EstadosUnidos para manter a guerra civil. Para arrumar soldados o
exército do governo invade aldeias onde recruta à força garotos a partir de 13 ano de idade.
TextosDeise Freitas
'"'
FICÇAO
Impasse. na cobertura da ciênciaram longos anos de vida docientista, mas em sua inabilidade em abordar este tipode entrevistado.A presença de André-y
ves Portnoff foi valiosatambém para demonstrar oquanto a experiência brasi-
-
leira nesta área de Jornalismo ainda é primária. Acomunidade científica dequalquer país desenvolvidorespeita e até reconheceplenamente a importânciadadivulgação científica porjornalistas, ao invés de ten- _
tar substituí-los em suas
funções. Depoimentos demédicos e pesquisadores'brasileiros forneceramsubsídios para análises decoberturas jornalísticas detemas como a Aids e as va
cinas anti-meningite, queefetivamente "mexeram"com seu público. Ainda quea abordagem sobre a Aids
pareça ser completa e
abrangente, à vista de ummédico ela negligencia diversos aspectos e bate insistentemente nas mesmas te
clas, nem sempre nas maisimportantes.A Associação Brasileira
de Jornalismo Científicoaproveitou o 2� CongressoI realizado sete anos apóssua primeira edição em
1972, para anunciar a
abertura de inscrições paraestudantes de Comunicação. Mediante o pagamentode uma taxa, o associadopassa a receber o boletiminformativo da entidade.Desta forma, ainda durante a fase de graduação, os
aspirantes a Jornalismo podem tomar consciência quea maioria das matérias deveria ser ácompanhada porum box com a abordagemcientífica do assunto. Asprovas que a ciência oferece têm a força de desmascarar opiniões inconsistentes e fariam a festa aos se
rem confrontadas com as
baboseiras que hoje ocu
pam lugar nos jornais.
Jornalismo nãotem habilidade
com o tema
-
Não hã nada que justlfi.
que a omissão da maioriados jornais brasileiros no
que se refere à divulgaçãode matérias de cunho científico e tecnológico. Olnstituto Gallup de Opinião PÚblica já indicou que 16 mi-
, lhões de brasileiros afirmam ter interesse em notícias desta natureza, atravésde um levantamento realizado em 1987. Foi para discutir as razões desta lacunano jornalismo nacional queprofissionais de comunicação e cientistas reuniram-seem outubro, em São Paulo,para a segunda edição do
Congresso Brasileiro deJornalismo Científico.
O evento, promovido pela Associação Brasileira deJornalismo Centífico, ser
viu para que assessores deimprensa, repórteres, redatores de empresas jornalísticas e cientistas confrontassem suas críticas mútuase detectassem onde estão os
problemas que impedem o
fluxo da informação científica na sociedade. Apesarda inevitável troca de farpas, os 88 participantes saíram com uma certeza: a deficiência da cobertura jornalística na área de ciênciae tecnologia tem a ver com
a formação insuficiente dosprofissionais de comunicação. Escrever sobre ciênciaexige mais que técnica aliada a bom senso.
No Brasil não existe se
quer um curso de especialização em jornalismo científico. A única universidadeque promove o ensino daespecialidade é o InstitutoMetodista de São Paulo.Seu mestrado em Comunicação Científica atende aos
interesses de formação depesquisadores neste cam
po, mas de forma algumainstrumenta jornalistasque pretendam trabalhardentro das redações.
o
"Sem preparo, o jornalista é controlado pelo dis-
o
O
O
Q-
curso científico", observa o
vice-diretor da ASBJ, Demócrito Moura, que editao informativo da Associa-
o ção e trabalha no Jornal daTarde. Na medida em queos redatores não conse
guem efetuar a tradução daterminologia técnica e dalinguagem dos cientistas, osjornais passam a argumentar que não vale investir emmatérias incompreensíveispara o público leigo. Estáconfigurado o círculo vicioso.
Outro obstáculo à evolução do jornalismo científicoé o conservadorismo com
que sempre foi tratado.Quando um jornalista optapor uma abordagem maiscriativa do tema, cientistase leitores reagem contra a
ousadia na linguagem e no
tratamento de um assunto"tão sério". Veículos con-
nizados para defender seusdireitos profissionais e para.garantir a repercussão dosresultados de seu país nestecampo, conforme foi relatado pelo editor da revistáfrancesa "Sciences &Technologie", André-YvesPortnoff, No Brasil, a unidade interna da .categoriaé inviabilizada pela richahistórica entre jornalistasde empresas-e assessores deimprensa dos Centros dePesquisas. Estes reclamamdo não-aproveitamento dosreleases enviados e de aindaterem que arcar com a fúria dos pesquisadores queinsistem em apontar "distorções" na menor das no
tas que envolvem seu nome,às vezes, com razão. O problema não está no jornalista apressado que em
meia hora pretende saberde investigações que toma-
ceituados como a Folha deS. Paulo ainda mantêm a
prática de, em muitos ca
sos, reservar a redação denotícias sobre a produçãocientífica e tecnológica aos
próprios pesquisadores, aoinvés de atribuir a tarefaa um profissional treinadoexatamente para este fim.
Até na China os jornalistas científicos estão orga-
Heloisa Dalanhol
o endereço da Associação Brasileira de Jornalismo Científico éRua Francisco de Morais, 137 -
Chácara Santo Antônio, SãoPaulo, Capital. CEP 04714. Fo'ne: (011) 548-1649.
Luta perdida no segundo. round
Depois de 100 anos de República sem povo, o primeiroencontro de dois candidatosao segundo turno das eleiçõespresidenciais - tansmitido ao
vivo por um "pool" de emissoras de rádio e televisão no
dia 3 de dezembro - revelouporque Collor de Mello (PRN)fugiu de pelo menos quatrodebates no primeiro turno. Nocampo das idéias é manco,mas usa meias palavras nos
meios de comunicaçáo como
multe para atacar a canela doadversário. Se debate decideeleição, Lula (da Frente BrasilPopular) será o futuro presidente do Brasil. .
Collor não conseguiu esconder a sua insegurança atrásdo terno escuro, do cabelobem penteado e da "pose deestadista". Tentou conter os
nervos com um bom tom devozmonocórdio, mas o cons
tante piscar de olhos denunciava que as palavras não es
tavam muito claras no seu te
leprompter cerebral. Cinismoà parte, o candidato não foitão mal assim. Se estivessecerto da vitória, não teriacomparecido ao debate.Agradecer a Lula um su
posto "elogio" ao governadorde Alagoas e ignorar os 57 diasde críticas da Rede Povo foi,no entanto, começar um debate com as mesmas mentirascom que Collor alimenta sua
campanha. Mentiras que re
petiu durante as 2h47min deduração do programa e queextrapolaram o limite do ridículo quando o ex-governadortentou desmentir uma fotografia em que aparece fazendo um gesto agressivo duranteum confronto com militantesdo. PDT, PT em Niterói. Foiunia banana para os telespectadores.
Nos dois primeiros"rounds" os candidatos estudaram um ao outro, boxeandodentro das linhas programáticas. Collor parecia programado para vomitar mímeros,teoremas tecnocráticos discutidos com a "sociedade brasileira" , formada por 400 técni-
.
cos. Os colloridos devem tertido orgasmos diante da inteligência artificial do garoto-
Lula venceu o 1�.
debate, mas
perdeu o decisivo
»:
propaganda dos sonhos dasagências de publicidade. Atensão fez Lula escorregar nosrevides aos primeiros ataques
. rasteiros do adversário. Ocandidato da Frente não res
pondeu às surradas críticascontra as prefeituras administradas pelo PT. Passou os doisprimeiros blocos rebatendo"inverdades" desferidas pelocandidato do PRN.
Já descontraído Lula passou à ofensiva no terceiro bloco, sobre "Justiça e Democracia". Avisou que, se Collorcontinuasse "falando inverdades, sairia dali sendo chamado de Pinóquio pelos teles
pectadores". Mostrou fotoscom cenas de violência protagonizadas por seguranças doPRN, criticou o autoristarismo à 1 '; Hitler do seu oponentee defe.ndeu as alianças.
"Nandinho do PÓ" só con
seguiu gaguejar quando Lulalembrou das contratações ir
regulares feitas pela prefeitura de Maceió na sua gestão.Não convenceu, também,'quando Lula quis saber comoaumentaria de fato o poder decompra do salário mínimo.Collor tentou desmoralizar o
candidato da Frente ressuscitando a farsa do "Caso Lube
ca", mas foi nocauteado porLula: ':£u sabia que meu adversário era collorido por forae Caiado por dentro" .
O debate não trouxe fatosnovos, como era esperado.Além das farpas e martelaçõesprogramáticas, só confirmouque Lula é um democrata,aberto às negociações corn as 1
forças que resistiram à ditadura militar, e que Collor agecomo um andróide de 100 milhões de dólares (o custo desua campanha 'no primeiroturno), que tenta projetaruma capacidade de fazer tudosozinho, nos moldes do"prendo e arrebento". Colloridos e lulistas gostaram do
desempenho dos candidatos,mas não é preciso nem recor
rer à pesquisa do Datafolhapara comprovar que Luladerrotou o marajá das Alagoas. Logo depois do debate,o ex-presidenciãvel e ex-governador Leonel Brizola(PDT) anunciou que "subiria.aos pal�nques" da Frente.Brasil Popular, e até o indeciso tucano Mário Covas migrou para a esquerda, convencidos de que Collor devemesmo "morrer na praia" nodia 17 de dezembro.
2� TURNO
/
Mentiras convicentes Lula: excesso de cautela
Surge um campeão de audiência. ,
.
E veio o segundo turno dapropaganda eleitoral, invadindo, coin Lula e Collor, 40minutos por dia, a telinha e
as ondas do rádio dos eleitoresbrasileiros. Pode parecermentira, mas o horário eleitoral do primeiro turno na TVsó foi superado em audiênciapelos debates da Bandeirantese do SBT. Nesta etapa o programa tem tudo para- repetiros mesmos ou ter maiores índices. A guerra eletrônica foiretomada na terça-feira 28 dedezembro.Lula e Collor gastaram me
tade dos dez minutos que cadaum tem direito apelando paraa fidelidade eleitoral. Collorabriu o programa esbanjandoefeitos especiais e exibindo a
estatística que the foi favorável no primeiro turno: liderança nas urnas de quase todos os estados. Com um visualimpecável, posou no vídeo co
mo o Juscelino Kubistcheckpós-moderno e como pidão de
votos, tornando a usar o jardão "I need you".
"Agora é a vez do povo".Começa o programa da Frente Brasil Popular e do Movimento Lula Presidente. Antonio Fagundes, o galã da RedeGlobo (agora da Rede Povo),foi escalado para tirar um sar
ro de quem não acreditava:"Oi nós aqui traveiz". Lula,agora apelidado de "sapobarbudo", surge na telaquente do segundo turno cer
cado por Brizola, Freire, Ar-. raes e Covas, uma aliança quefinalmente se materializou.Ao final dos 10 minutos, a
Frente/Movimento tira maisum sarro: mostra Collor cercado por Mario Amato e ou
tros empresários da Fiesp,
O segundo programa eleitoral (dia 29 de novembro) nãofoi muito diferente. Lula falouda distribuição de renda e·
mos!rou o jogo de esconde-es-
conde de Collor com AntonioCarlos Magalhães, RobertoMarinho e outros colloridos-'(ou seriam píllantras"). Collor não deixou por menos e
abriu seu segundo programacom o que considera cambalacho. Mostrou Lula, Brizola,Covas, Sarney, Jorge Murade outros pendurados no mes
mo cacho de bananas.'
Esconde-esconde e cambalachosão a parte "Xuxa" do
programa eleitoral, um pratocheio para os indecisos Se per-
-
derem de vez eu optarem pelomais engraçado. Começou o
segundo round.Até a hora de votar serão
18 dias, 720 minutos, 12 horasde p�ograma no rádio e na
'LV. E a Rede Povo contra a
Rede Globo. O' "Sapo Barbudo" contra o JK pós-modernoou Pillantra Collorido.
Rosane Porto
/
ENFIM
Título garante voto ... ., .que vai pra urna ... ...e segue pra apuração Schuster: empenho
Um direito recuperado após'I'
•
29 anos de inquieta ·espera
Momento crítico: a fiscalização
À primeira vista aquela quarta-feira poderia parecer um feriado comum. O calçadão da Felipe Schmidt estava deserto, o comércio fechado, os ônibus partindo lotados
rumo às praias. Os habitantes da "Ilha da
Magia" aproveitaram para curtir o sol e
as belezas naturais de Florianópolis. Masas aparências enganam: qualquer pessoa
que prestasse um pouco mais de atenção sentiria um certo clima de expectativa, um ner
vosismo que, com certeza,' não se devia à
proibição do consumo de bebidas alcóolicas.O dia 15 de novembro de 1989 podia ser
tudo, menos um dia comum. A datamareou,muito mais que OS 100 anos de República,o reencontro da população brasileira com
as urnas que levarão ao Palácio do Planalto,no dia 15 de março de 90, o primeiro presidente eleito diretamente em quase 30 anos.
Em Floripa, como de resto em todo o país,a votação foi tranqüila. A maior parte do
eleitorado votou ou justificou seu voto pelamanhã. A tarde, o dia quente e ensolarado
pedia um banho de mar e o movimento nas
seções eleitorais e no Correio diminuiu bastante.
Cenário de uma democracía genuína
Os poucos cidadãos que ficaram perambulando pelas ruas cruzavam, esporadicamente, com policiais ou com grupos de em
polgados militantes fazendo sua boquinha ...de urna. De vez em quando eram importunados pelas equipes de reportagem, que rondavam a cidade atrás de q_ualquer fato quepudesse ilustrar, com precisão, o momento
histórico pelo qual o país passava.Aliás, tocando no assunto, a imprensa es
tava ouriçada: flashes ao vivo iam para o
ar a toda hora, páginas de revistas e jornaiseram reservadas pra a cobertura das elei
ções. Em meio a esta febre por informações,algumas enquetes com "populares" foramfeitas e as respostas eram as mais divergentes. Manifestaram-se os esperançosos, os
pessimistas, os "sei lá", os "vamos ver no
que dá", os janistas arrependidos, os brizolistas, petistas, covistas, malufistas, colloridos ... enfim, a convivência pacífica dos
opostos, característica básica da democra
cia.Às 17 horas as urnas foram lacradas e
a tensão eleitoral se concentrou nos locaisde apuração: no ginásio do SESC, a 12� zona,
e no ginásio do Colégio Catarinense, a 13�zona. Os trabalhos de escrutínio mobiliza
ram fiscais, políticos, imprensa, militantes,escrutinadores convocados e, é claro, a Justiça Eleitoral.Durante mais de seis horas o movimento
de contagem e fiscalização de votos foi inin
terrupto, fazendo com que Florianópolis tivesse uma ds apurações mais rápidas' dopaís. Na primeira hora da madrugada do
dia 16 encerraram-se os trabalhos de escru
'tínio, com a vitória de Brizola. Apesar doresultado, enquanto o pessoal que participouda apuração ia deixando o ginásio do Catari..
nense, militantes simpatizantes do PT canta
vam alegremente suas palavras de ordem,talvez vislumbrando a futura passagem deLula para o segundo turno.Em Florianópolis o dia 15 chegava ao fim,
junto com o primeiro turno da eleição presidencial, mas deixava atrás de si uma liçãode maturidade política. Além de uma irresis
tível vontade de beber cerveja!
Militantes e
adesões foram
armas do PTOs militantes da Frente Brasil Popular realiza
ram várias carreatas pelo centro de Florianópolispara comemorar a ida de Lula para o segundoturno, logo após o TSE informar a sua virada
sobre Brizola. Segundo Cláudio Schuster, assessor de imprensa do PT, as carreatas não foram
só comemoração, mas sim trabalho de campanha. Schuster enfatizou que a campaha da FrenteBràsil Popular já ganhou as ruas para o segundoturno e com a força dos militantes de outros partidos, promete derrubar a candidatura de Fernando Collor de Mello.
Já na sexta feira, 17 de novembro, a FrenteBrasil Popular realizou uma ato no calçadão paracomemorar a vitória da esquerda. Nesta come
moração estiveram presentes também, militantesdo PDT e do PCB. 'No sábado à noite, a Frentefez uma festa (mais uma) na União Catarinensedos Estudantes (UCE), onde estavam presentesos eleitores de Lula e partidários de outras cand]daturas - que agora vão apoiar a de Lula. Afesta estava muito animada, mas quem não gostoumuito foi a vizinhança que convocou apolícia.Mas nem a PM estragou as comemorações: o
volume da musica foi diminuído e a festa rolou
até a madrugada.
Mas nem só de festa sobrevive a candidatura
Lula. Na reunião da Executiva Nacional do PT,realizada no dia 20 em São Paulo, o partido dei
xou claro que não abandonará os treze pontosque são a base da campanha. Os outros partidosque se juntarem à Frente, farão movimentos de
apoio, com propostas que poderão ser incorporadas ao programa já existente. Segundo Vilson
Santin, presidente do PT em Santa Catarina,"as alianças serão feitas em cima de propostas,mas todas devem ser coerentes com as que a
Frente vem mostrando durante toda a campanhado primeiro turno" .
Segundo Cláudio Schuster, desde que o TSEanunciou que Lula ia para o segundo turno, militantes de varlos partidos foram ao comitê buscarmaterial de campanha. Além disso, 'nesta segunda fase, precisa-se de muito mais gente na rua
para o corpo-a-corpo e a formação de novos comitês. Agora, concorrendo com um só candidato,talvez fique mais fácil, ja que as propostas deLula e Collor são totalmente antagônicas. ParaVilson Santin, a campanha não terá muitas difi
culdades, pois a classe trabalhadora já votóu na
esquerda no primeiro turno. Além disso, Santindiz que os eleitores de Maluf, Afif e de outros
candidatos da direita não votaram em ideologiae sim na simpatia que tinham pelo candidato.
"Agora',' completa, "precisaremos trabalharem cima desses eleitores, fàzer campanha de massa, com contato direto com a população".
-
Além de militantes, várias lideranças políticasde outros partidos já declararam apoio à candidatura de Lula. E o caso do vice-governador Casildo Maldaner, que declarou que vota em Lula,mas não definiu ainda se fará campanha publicamente. Já o senador Dirceu Carneiro e o deputado federal Wilson de Souza, ambos do PSDB"e Nelson Wedekin, do PMDB, declararam apoioe disseram que vão fazer campanha.
Sílvia PavesiPedro Saraiva
A chuva intensa não dispersou o público que foi ouvir Lula e seus aliados
São Pedro colloriuO comício de Luís Inácio Lula da Silva a primeira estrela a brilhar". Q episódio
em Florianópolis reuniu cerca de 20 mil pes- curioso da noite foi o casamento que aeon
soas, que enfrentaram uma forte chuva na teceu na catedral, atrás do palanque, quannoite de sexta-feira, dia 1� de dezembro, pa- do a noiva declarou que considerava Lula
ra ouvir o candidato da Frente Brasil Popu- seu padrinlto.lar. Florianópolis foi a última cidade de'San- Varios políticos�discursararn apoiando o
ta Catarina visitada por Lula, antes do se- candídato.do-P'I'.. entre eles o ex-eandídàto
gundo turno da eleição, mas a imprensa local do PCB, Roberto Freire, o presídente está
não deu destaque ao fato, apesar do grande, dual doPDT, Manoel Dias, o senadorNelson'número de jornalistas presentes. , Wedekin (PMDB) e os deputados FranciscoA Frente Brasil Popular organizou um Küster e Vilson" de Souza (PSDB). Também
comício-festa no Largo da Catedral, com a falaram participantes da "novembrada",
participação de diversos artistas, que sere- que em 1979 puseram o general Figueiredovezaram no palanque depois das cinco horas e o ministro César Cals para correr e foramda tarde. Aos poucos, formou-se uma multi- enquadrados na Lei de Segurança Nacional.dão, que acompanhava o ritmo da música O candidato a vice na chapa da FrenteBrasil
agitando as bandeiras do Brasil, do PT, do Popular, José Paulo Bisol, também fez um
PC do B e de outros partidos que apóiam discurso.
a candidatura de Lula. Ao anoitecer, o ator Lula chegou ao comício. depois das nove
Ademir Rosa deu um toque poético à mani- e meia, debaixo de chuva e fogos de artifício,festação, dizendo ao público: "Agora, olhem acompanhado do presidente nacional do PT,para a esquerda e vejam, ao lada da Lua, deputado Luiz Grushiken. Muitosmilitantes
e jornalistas esperavam o candidato, que te
ve dificuldades em chegar ao palanque. Lulapôs na cabeça o capacete de um mineiro
da Companhia Brasileira Carbonífera de
Araranguá (CBCA) e foi aplaudido pelamultidão.
No discurso, Lula enfatizou os compromíssos do PT e da Frente Brasil Popularcom a reforma agrária, a suspensão do pagamento da dívida externà e a democracia.
Disse que queria ver todos os trabalhadores
"com um bom salário, uma boa casa, podendo tomar uma cerveja depois do expedientee ir à praia no fim-de-semana", vivendo co
mo a classe média. E pediu a união das forçasprogressistas contra a direita e as elites, queapóiam Fernando Collor de Mello.
Robert Willecke
)<
A máscaracedeu espaçopara ouviro discursocontundente
A concentraçãodos eleitores
diagnosticavao
candidato
o eleitor mirim resistiu incólume na frente do palanque
Mas a foicee o marteloainda assustam
Comunista. Esta palavra ainda assusta muita gente. Mas hojeem dia o mito mais forte parecenão ser mais o de que "comunistacome criancinhas". Na campanha, para a eleição presidencialdo ,l.Íltimo dia 15 de novembro;o candidato - comunista - Roberto Freire, procurou combateros preconceitos que sofre essa
corrente política.A guerra ideológica contra o
comunismo foi intensificada durante 01' 60 dias de propagandaeleitoral gratuita no rádio e na
TV. As mudanças recentes no
mundo socialista deram o tomdas acusações não só contra o
PCB, mas também contra qualquer partido de proposta socialista. A cor vermelha foi usadacomo símbolo do comunismo énão faltaram acusações de que as
bandeiras - vermelhas - de alguns partidos substituíriam a,
•bandeira nacional. O que nãodeixa de ser uma nova versão dahistória de comer criancinhas.O aposentado Antônio Silva,
59 anos, considera o candidatodo Partido Comunista Brasileiro(PCB), Roberto Freire, uma
"ótima pessoa", mas lembra que"dizem que o comunismo não
presta", O vendedor Nilton Rosa, 41, está ente esses: "se o Freire for eleito, estamos todos perdi-'dos". E a aposentada JuventinaFarias, 71 anos, não tem mais dúvidas: "não sei o que é comu
nismo, mas sei que o mundo vaificar ruim".A força dos mitos que cercam,
o comunismo não pode ser subestimada. Angela Melo, 18 anos,acredita que "com o comunismoa gente não' teria mais lazer e o
PRECONCEITO E EXPECTATIVA
povo não pararia de trabalhar".Ou então, como suspeita um ven
dedor de calçados chamado Paulo, 20 anos, que não quis infor-.mar seu sobrenome, "com o co
munismo o mundo só ficaria em
greve" .
Mas existem aqueles que con
seguem ter opiniâo menos preconceituosa e até simpática. A lavadeira Marta de Souza , 41anos,' acha que "Freire poderiamudar o Brasil". E o bancárioGilberto Moritz, 30 anos, apostanos bons ventos da perestroika,"que está sendo muito boa paraa àtualização do comunismo". Jáo servente João Simão, 53 anos,vê o PCB como uma opção paravotar "caso os partidos que estiverem no poder fracassem". Atémesmo adversários políticos, como o secretário do Partido daFrente Liberal (PFL), de Biguaçu, Hermes de Azevedo, 29 anos,reconhecem que "Freire está en
tre os mais- qualificados". Paraele, no entanto o PCB necessitaconstruir uma estrutura maisconsistente para poder crescer
eleitoralmente.A demonstração mais evidente
de que o PCB, com a candidaturaRoberto Freire, tem vencido preconceitos, está na declaração domédico Marivaldo de Assis, 4'0anos, pertencente ao diretório doPRN de Biguaçu, partido do candidato ·Collor de Mello, acusadopor seus adversários de servir defachada moderna para a velha direita: "a candidatura de RobertoFreire deu impulso não só parao PCB, mas para a esquerda".Religião - Acreditar em
Deus, no Brasil, parece ser requisito indispensável para candidatos a qualquer cargo público (queo diga Fernando Henrique Cardoso, cuja derrota à prefeiturade São Paulo foi atribuída ao fatode ter declarado, na TV, que nãoacreditava em Deus). Na verdade, esta é uma questão fundamentai para grande número deeleitores. Não é difícil.encontrar
quem possa tornar isto uma realidade .
•É o caso de Benta de Assis e de seu Rafael. Benta trabalhacomo servente da UFSC e seu Rafael vende pipocas no pontode ônibus da cidade Universitárià. Ele não votou no primeiroturno porque, além de não conhecer os candidatos nem ter
assistido ou lido nada à- respeito deles, o seu título está em
Imbituba. Seu Rafael acredita que não vale a pena gastar seudinheiro, que já é pouco, só para ir votar, preferiu justificarno correio.
Freire no comício de Lula: modernidade
vigários, principalmente em cidades pequenas, como Biguaçu,que ainda recitam velhos chavõesda década de 60: "a religião corresérios riscos com um comunistano poder".O agricultor Roque Orso, 42
anos, está convicto: "sou católicoe
.
nós temos de votar ém gentecatólica". E mesmo eleitores quese dizem sem religião, como Paulo Oliveira, 22 anos, acham que'''0 presidente tem que acreditarem Deus". O assunto torna-seainda mais grave quando as opiniões são dadas por seguidoresde seitas pentecostais, como Carlos Rodrigues, 27 anos, que sente"raiva" pela ousadia de um co
munista pretender disputar a
presidência: "Roberto Freire éum ateu hipócrita que não crêem si próprio", afirma. E adverte que "a palavra de Deus condena o comunismo". A evangélicaRosângela Silva teme pelas igrejas que fechariam num governocomunista "por não poderem pagar as altas taxas que seriamobrigadas". E arremata: "o povo fala que só gente burra votaneles". Ela votou em Paulo Maluf por causa de suas posições anti-comunistas.Socíalismo-- É difícil encon
trar alguém que saiba exatamente o que significa socialismo e co
munismo. Mesmo sem-saber exatamente o que é uma e outra coisaou mesmo quais as diferenças e
Comunismo não' dá mais cadeia-r
Promessas de campanha vistas com muito ceticismo por eleitoresA campanha presidencial está de novo nas ruas e em meio'
à festa dos panfletos e todo tipo de propaganda, o eleitor pareceainda estar confuso. Nas ruas, a expectativa de mudança mistura-se às dúvidas diante de tantas propostas e' promessas.A funcionária da UFSC, Fátima de Aquino, apesar de ter
anulado seu voto nas eleiçôes do primeiro turno, confiava na
vitória de Brizola, do PDT. Para a eleitora, ele seria capazde fazer algumas mudanças, principalmente na economia. Fátima não está satisfeita com o resultado de 15 de novembro e
por isso vai anular seu voto novamente. "Espero que depoisdessas eleições o Brasil melhore pelo menos 0,5%". . .
Já Ana Cristi, estudante de letras na UFSC e pr ofessora.
primária, aposta numa mudança, não só na economia, mas
no sistema. Para ela, a mudança institucional no Brasil, seriaum processo lento, '.'mas não impossível". Ana aposta no candidato do PT, Lula. Na sua opinião, Collor não tem interesseem mudar muita coisa.
As expectativas convergem para um ponto em comum: mu
dança. Mas os próprios eleitores não sabem ao certo o quesignifica esta mudança. e corno ela deve ser feita. Apenas espera-se .urn novo país após as eleições, com uma nova economia
e uma nova política. O Nível de informação a respeito dos
programas dos partidos e do conhecimento dos reais problemase suas respectivas soluções, por parte .dos eleitores, deixa a
desejar. Por esta razão algumas pessoas tendem a se apegarna pessoa do candidato e achar que qualquer um deles podecriar um país novo em cinco anos ou até menos.
.0 presidente do diretório municipal dó PFL de Florianóplis,Miguel Sedrez, diz que uma mudança só deve ser esperadapara seis meses após a posse do novo presidente e que o povonão deve aguardar um milagre. �'O povó.brasileiro ainda tem
medo da mudança e por isso prefere Collor, pois vê nele uma
mudança sem perígo. A esquerda para eles, ainda é um bichode sete cabeças". Miguel afirma que o PT tem propostas inviáveis como' o não pagamento da dívida externa.A respeito de um mudança no sistema Miguel Sedrez afirma:
"não se passa de capitalismo para socialismo por decreto nem
por lei".Só que depoisde tanto esperar por uma melhora em todos
os sentidos, os brasileiros parecem cansados e desespei ançosos,Os trabalhadores, que sempre foram a classe menos privilegiadano Brasil, estão querendo ver suas vidas melhorar, e procuram
,"-
...
Benta afirmou confiar em Brizola, do PDT, para melhoraro país e esperava que ele ganhasse, mas agora não sabe em
quem votar. Disse que não tem mais esperança que as coisasmelhorem. "Dizem que o Lula é pobre e pode fazer algumacoisa por nós. Eu espero que melhore e quem assuma façaalguma coisa de ·bom" .
e semelhanças, é visível uma acei� tação maior' para o socialismo.B A professora do 2� grau, Julieta:l' dos Reis, 26 anos, acha' que "o* socialismo é o regime ideal para�vP Brasil". O lavrador José Lins
� Cunha, 51 anos, que acredita que:ii o comunismo é ditatorial, prefere
o socialismo, "um regime ondeo governo produz para a sociedade". Existem também aquelesque não gostam nem de um nem
de outro, como o motorista deônibus José Silva, 34 anos, paraquem "socialismo é bom para filhinho de papai".Contra-inf'orrnaçâo - "Não
deu na Rússia, a Polônia estácaindo fora e na China mataram
os estudantes", analisa.o vendedor Waldemar Hofmann, 57anos. Mesmo tendo certeza de játer ouvido falar em Karl Marxna TV (" não é alguém ligado àpolítica externa'?" ou então com
alguma participação na queda domuro de Berlim, "não foi'?"), eleincorpora o noticiário das mu
danças no leste europeu à visãoque tem da candidatura RobertoFreire no Brasil.A junção dos preconceitos,
com a leitura apressada e descontextualizada dos recentes acontecimentos históricos, talvez ajudea explicar a votação recebida peloPCB: 1 % do total dos votos. Talvez um pouco mais, se for possível avaliar quanto dos votos daFrente Brasil Popular (que apóiaLula), podem ser creditados ao
PC do B, o outro partido comu
nista.'
Esse quadro do primeiro turnocertamente terá cores ainda mafsfortes no segundo. Fernando Collor e os setores que o apóiam provavelmente insistirão em acusar
Lula de "radical e perigoso",adicionando, como prova e reforço da idéia,' que ele é "apoiadoe influenciado por comunistas".
ReportagemOzias Alves Jr.
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ReportagemChristiane Balbys
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REAÇOES
Polarização entre estrangeiros
Fator "ex-namorada" nocauteou Lula
Tesoura-press no JB'
novas democracias ou para os O estudante identificado
Mesmo sem votar países em fase de mudanças com a esquerda acha justa a
políticas. O evento serviu de "briga" de Lula pelas mu-
eles escolheramexemplo para muitos países danças no país, -e solidariza-seque pregam reformas 'e aber- com as propostas de governoturas políticas, mas relutam do candidato. O outro tam-
seus candidatos quando se fala de pluralismo bém considera justas as pro-partidário, filosófico ou reli- postas sociais da Frente Brasilgioso. Alguns admitem a for- Popular, mas entende que
- O meu candidato é Paulo mação de agremiações ou as- ainda não é chegada a vez desociações de convicções dife- Lula governar o Brasil, "Ele
Maluf', Se eu fosse votar não rentes, mas a superestrutura tem ainda muito que apren-hesitaria em escolhê-lo. Ele é mantém-se a mesma, ou seja, der; precisa solidificar a sua,o melhor de todos os candi- a formação política no poder postura política" diz. Já umdatos. Entende muito bem da ganha o caráter vitalício. Os padre estrangeiro receia quepolítica, é competente e sabe outros partidos ficam como fi- "se O Lula chegar ao Planaldofazer o "jogo de cintura". No gurinos políticos ou como a vai sofrer restrições ds facçõesGoverno de São Paulo ele máscara de pluripartida- radicais do PT, que habitual-mostrou do que é capaz de fa- rismo. mente recusam o diálogo comzer para o Brasil. A eleição de 15 de novem- outros partidos; a pressão dos
Que mau gosto! Por que 10- bro mostrou que ao povo empresários e generais con-
go Maluf, um dos piores can- quando é dada a oportunida- servadores; dos fazendeiros
didatos de direita? Um "filho- de de decidir, escolhe o que da UDR e das forças políticaste da ditadura", como diz o
lhe agrada. Se a escolha foi de direita no Congresso". Ba-Brizola. Em São Paulo ele fez errada desta vez, el.e não repe- seado nestes fatores, o padreobras bonitas, grandes estra-
te o mesmo erro pois, se não diz-se cético quanto ao sucesso
das com viadutos. Mas, en-tem grande cultura política, do Lula se eventualmente se
quanto os ricos trafegam co-unia coisa o povo saber fazer: eleger. A opinião "de todos
mo seus carros em cima, osderrubar os governantes e os converge para um ponto: a
miseráveis se abrigam em bai- partidos que no poder não falta de título universitário
xo das pontes. Grande compe- correspondem às suas asp ira- não atrapalha a candidatura
tente que ele é! Será que é dis- ções. Exemplos do PDS, der- de Lula. A sua experiênciaso que o país está precisando? rotado através do Colégio parlamentar e sindical e o seu
_ Quanto a mim, eu, votaria Eleitoral em 1985 e do PMDB dinamismo valem mais que o
num dos candidatos de es-e PFL, coligação da fracassa- diploma universitario.:
querda. A direita governou ada Aliança Democrática. Os
fio durante um século, semcandidatos Ulysses Guima- -Quanto ao candidato do
mudar coisa alguma.rães (PMDB) e Aureliano PRN, seu oponente FernandoChaves (PFL) não passaram Collor de Mello, a 'posição da
Se o leitor pensa que este de ridículas posições na classí- -maloría dos estrangeiros é defoi um diálogo entre brasileí- ficação geral para o segundo expectativa, uma vez que seros se enganou. Foi um "pa- turno. conhece pouco seu programa
-r-
po" entre dois estudantes Durante a campanha e no,
de governo. A propagandaafricanos: um malufista e ou- dia da votação o povo não es- promovida pela imprensatro esquerdista. condia a alegria de poder vo-
conservadora conferiu a ele a
tar, alguns pela primeira vez, imagem de principal crítico_Para um, deles, a candida- depois de 29 anos. Acesos de- da administração Sarney e de
tura Maluf representava a bates não faltaram na rua, nas "caçador de marajás". Maspossibilidade de um redimen- escolas, nos bares. Todas as
é propaganda.sionamento das estruturas da
pessoas estavam envolvidasUnião e o replenejamento das
,no processo, mas dírecíona- Enquanto, os brasileiros es-empresas públicas. Para ele,a experiência política do can-
dos de 22 maneiras, até que tão preocupdos em votar paradidato pelo PDS influiria mui-
o TSE decidiu baixar o núme- mudar os destinos do País, aosto nestas mudanças.
ro para 21 alternativas. Os es- estrangeiros, só resta a expec-trangeiros sentiram-se partí- tativa de quem será eleito. E
Para o segundo as candida-cipes do processo. Cada um qual será a posição do futuroa seu modo mas sempre por chefe de Estado em relação ,
turas de esquerda, notada- trás das câmeras - fazia suas aos estrangeiros. Todos estão "mente de Lula, Freire, Mário apreciações sobre o aconteci- em suspense. Os empresáriosCovas e Brizola são as defen-sáveis. Para ele qualquer um
mento. e investidores estrangeiros se
perguntam se o futuro gover-dos candidatos de esquerda Casos de maior polêmica no não adotaria medidas se-que chegasse ao Planalto faria como a pretensão de Sílvio rnelhantes àquelas que estãomudanças profundas na eco- Santos a candidato, o número sendo cogitadas contra os bra-nomia e nas relações sociais, elevado de concorrentes, al- .slguaíos pelo Parlamento docom o objetivo de beneficiar guns desconhecidos da cena Paraguai. Os estudantes e bol-a maioria da população, não política brasileira e a candí- sistas também se perguntamumaminoria como tem aeon- datura do torneiro-mecânico
quanto ao seu futuro no país.tecido até agora. Lula, fora os pontos de maior Pelo voto dos mais de 80 mi-discussão política. Se o caso Ihões de eleitores, os estran-
Embora com visões ideoló- SIlvio Santos e o excessivo nu- geiros ficarão sabendo o quegicas inconciliáveis, os dois mero da candidatos deixaram
o futuro lhes reserva no Bra-africanos reconhecem que as os estrangeiros estupefatos e sil.eleições do dia 15 de Novem- sem referência histõrica, as
bro e toda a campanha foram opiniões se dividem quanto àum autêntico exercício de de- candidatura de Luís Inácio Pedro dos Santos
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mocracia e uma lição para as Lula da Silva.
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$OL E ÁGUA FRE$CA
Esporte cresce e,
estimula vendasÉdison Ronchi, 30 anos, casa
do, formado em jornalismo pela(fFSC. editor chefe da revista Inside e presidente da FederaçãoCatarinense de Surf (Fecasurf),é uma personalidade conhecidano meio do surf.
ração de uma classe. Porém, estaultima tentativa foi feita de cimapara baixo: os senhores RicardoBocáo e Frederico, D'Orev buscaram benefícios apenas para os 30melhores colocados no rankingda Abrasp, E os outros'? E neces
sário criar uma consciência declasse, mas não fracionar estaconsciência. Imagine o Lula pedindo melhorias apenas para 30funcionários de uma fábrica demil.
Em seu escritório, entre inúmeros telefonemas e intermináveis com ersações, Édison (podechamar de Ledão) recebeu o re
pórter Pedro Saraiva e bateu um
papo sobre o momento atual do'esporte no País.
'
P - E Santa Catarina. C0l110
�e posiciona no contexto nacio-'nul?R - Eu poderia dizer que o
Estado tem a hegemonia em termos de infra-estrutura. Veja só:aqui se realizam três etapas docircuito nacional (inclusive a
abertura e o encerramento, sendo que uma delas tem premiaçãodobrada); uma etapa do circuitoamador (que aliás é agora, entre7 e 10 de janeiro, na Joaquina,as dez etapas do circuito catarinense e, para terminar, em 90teremos nas praias de Floripaduas etapas do circuito mundial.Para não falar que a Fecasurf éa única entidade do surf brasileiro legalizada junto ao Conselho Nacional de Desportos.
'
P - Como você viu o circuitode 89. encerrado recentementena Praia da Joaquina')R - O circuito de 89 foi me
lhor que o anterior, assim como
o de 88 foi melhor que o de 87.Na verdade, quem quiser analisar o surf brasileiroem 89 vaiter que, necessariamente, voltara 87 e lembrar do nascimento daAssociação Brasileira de SurfProfissional (Abrasp) e do apoiode um grupo de empresários quepossibilitararn a realização doprimeiro circuito nacional. Comoesta organização do esporte era
uma necessidade além de ser umaárea interessante de investimentos, a evolução foi acontecendo:surgiram novos patrocinadores,ampliou-se o número de etapas ...enfim, o próprio circuito se pro-fissionalizou de fato.
'
Só boas ondas não bastaP - De que modo o surf é
atingido pela situação política e
ecõnômica do país?R - O Surf é auto-suficiente.
Tanto que no meio da maior crisecontinua evoluindo. No entanto,se vivêssemos com uma economiaestável, tenho certeza que as coi-sas melhorariam ainda mais. Seas empresas pudessem projetaro seu futuro com o mínimo desegurança, os investimentos no
esporte, inclusive no valor daspremiações, aumentaria sensivelmente, assim ajudando o esporte.
Surfista tam-bémexige reajuste.Mas falta união
P - Durante o Sea Club Final, Heat, muitos atletas reclamaramda falta de reajuste nas premiações, Houve inclusive um movimento para reivindicar um pisosalariàl para os Top 16 e os Back14, Gomo fica esta história?
R - Este movimento foi malfeito. Já ocorreram outros movimentos reivindicatórios que, se
não foram atendidos por inteiro,pelo menos atingiram parte deseus objetivos, e esse tipo de coisaé normal no processo de estrutu-
ZERO - Qual o papel da imprensa no desenvolvimento dosurf?R - Primordial. Costumo a
dizer que existem dois eixos quecohsolidaram o surf: a organização, que trouxe os investimentos,e a imprensa, tanto a especializada quanto a diária. Os jornais,TVs e rádios familiarizaram a so
ciedade com o surf, tornando o
esporte e os atletas conhecidos e
respeitados. '
ZERO - E aquele velho es
tigma de que surfista é vagabun-do? .
R - Quem diz isso diz um absurdo, vive em outro mundo.Aqui, o próprio trabalho que estásendo feito com o surf prova queisto é uma idiotice, um preconceito sem fundamento na realidade. Creio que o fim deste estigmaé um fato. consumado.
de 88 Jojó de Olivença e, por fim,venceu Picuruta Salazar numabateria emocionante.Enquanto na água as compe
tições rolavam, nos bastidores os
atletas reclamavam do não 'rea
juste nas premiações e surgia um
movimento buscando um piso sa
larial para os surfistas que são
Top 16 e Back 14. Até agora essa
reivindicação não surtiu efeitoprático algum' e mereceu inúmeras críticas pelo seu caráter elitizante. Mas, no futuro ... Quemsabe algum dia se ouvirá:
- Surfistas de todo o mundouni-vos.
car nas mãos de Felipe Dantas,do Rio Grande do Norte. O catarinense David Husadel conquistou o terceiro lugar, 20 pontosatrás de Dantas, e o baiano Jojóde Olivença, .surfista de Cristo,ficou com a quarta colocação.
Dia 12 de novembro na Praiada Joaquina, ao terminar o SeaClub Final Heat de Surf, encerrava também o circuito brasileirode surf profissional versão 89após sete etapas e algumas confusões.Mesmo antes do último cam
peonato, o vencedor da tempo-'
I"ada já era conhecido: o cariocaPedro Müller sagrou-se campeãocom 4340 pontos. As maiores dis-
- putas durante a etapa final foramem tomo da segunda posição dadefinição dos Top 16 e Back 14(explicando: os 30 surfistas me
lhores colocados no ranking brasileiro de 89 e que não terão queenfrentar as fases de triagem nas
competições do ano que vem). Ovice-campeonato 'acabou por fi-
A surpresa ficou por conta dopaulista Paulo Kid, que espantoua todos ao vencer o Sea Club Final Heat, assim avançando milpontos na classificação geral e entrando, na última hora, no seletogrupo dos Top 16. Para conquistar a etapa final do circuito 89,Paulo Kid venceu competidoresconsagrados do surf brasileiro:"matou" o amador Jair Oliveira, o experiente Cauli Rodrigues,o vice Felipe Dantas, o campeão
Textos e entrevistaPedro Saraiva Ledáo: esporte evolui
).
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TEDIO
Muito gasto e poucas novidadesBienal 89 não
superou anterior.
O cartaz sim
Como acontece em todo evento
periódico, como a Copa do Mundo e as Olimíadas, a XX Bienalde Artes Plásticas foi aguardadaansiosamente pela possibilidadede superar a exposição de 1987.No entanto, a expectativa foifrustrada. Não que a exposiçãodeste ano chegue a decepcionar,mas para o desorientado espectador, que lotou o estacionamentodo Parque Ibirapuera (SP), eladeixou muito a desejar.
Durante os três meses de exposição o parque se transformou no
reduto de artistas, críticos e intelectuais de 42 países (inclusive o
Brasil), formando uma -imensatorre de Babel. Porém, o entendimento era possível graças aos hieróglifos artísticos. Já, para o público, pouco acostumado com es
sa forma de linguagem, foramcontratados monitores especializados, com o objetivo de esclarecer O' significado das obras, ,
Segundo Mário Gallo, a propostá da XX Bienal era possibilitar uma visitação descomplicáda, cum espaços para descansoe reflexão, com um mínimo deinterferência visual. Arquiteto-responsável pelo aproveitamentodo espaço físico, Mário confiromou que os acessos já existentesnu edifício (rampas e escadas ro
lantes) foram enfatizados na tentativa de tornar O' trajeto O' maisnatural possível. Evitava-se, dessa maneira, os constrangedoreslabirintos.
o projeto da XX Bienal eraconstituído por três áreas: Eventos Especiais (térreo). Internacionais e Salas Especiais Internacionais (I ':, 2': e 3': andares, juntoà rampa) e Brasileiros (2': andar).
Apesar da completa distinçáo deestilos, que variavam tanto quanto a versão dos monitores paraa mesma obra, um dos destaquesunânimes foi Tomie Ohtake.
Com inconfundível talento, elaexibiu maquetes f fotos do cenário da opera Madame Butterfly.
Já nas salas reservadas aos ex·
positores Internacionais O' interesse do publico oscilou. Afinal,
.
o aborrecimento de percorrercentenas de metros quadrados,apárentemente indecifráveis e a
falta de novidades intrigantes cu
mo na Bienal passada, começavaa pesar. Nem a boa vontade e
a ensaiada retórica dosmonitoresconseguia convencer os visitantesde que obras consagradas não
da obra "Saguão de Hotel", deHamilton, sugeriu definições co
mo a da professora de Artes Sandra Salles: "Pur alguma mágicaé possível habitar um quadro".Contrariando a teoria de Wai
ter Benjamin sobre a írreprodutibilidade de uma obra de arte, David Hockney, discípulo da arte
pup, enviou todas as suas via telefax. Cornu se nâo bastasse a perda da aura dos quadros, segundoos teóricos da Escola de Frankfurt; o renomado artista inglêsacabou comprometendo tambéma admiração de seus fãs, que es
tranharam bastante a atitude deHockney.Encerrada no último dia 10,
a XX Bienal de Artes Plásticasao contrário de finalizar algunsanos de trabalhos inicia os preparativos para a exposição de 1991.Desde já esperada ansiosamentepela possibilidade de superar a
de 19R9.
Clarissa dos Santos
eram alusões a supostas visões Iisérgicas de seus idealizadores.Apesar do contratempo das in
terpretações, um dos grandesmomentos das salas internacionais ficou pur conta do francêsYves Klein. Apaixonado pela corazul, Klein utiliza a tinta em suas
obras como a idéia principal. Outro francês, Alan Jacquet também se sobressaiu com uma se
quência de fotos, nas quais eleconsegue captar a magia da artecósmica. Porém, na galeria dosmais cotados, a Inglaterra foi coroada pelo êxito da instalação deRichard Hamilton. A perspicácia
Abstracionismo e visões lisérgicas
YvesKlein,destaqueindividuale corno
delegaçâo
,
tr:' ./
. "
J.!
Censurar ninguém se atreve .I
o rock continua vivo'!
Marcelo Nova
ficou só
para a elite
Marcelo Nova lotou o Clube Doze de Agosto, no dia 18de novembro, com os fãs doseu rock, que enfrentaramatémesmo o preço salgado do in-:gresso e a limitação de lugares. Muita gente teve que voltar para casa chupando o dedo porque encontrou as portas fechadas.
No show, uma aula de,rock'n roll matando a saudade daqueles que sempreacompanharam sua trajetória musical. Apresentando a
nova banda' e as melhorescanções de seu, último disco,Marcelo Nova já iniciou em
alta temperatura, própria deuma "Panela do Diabo".
Atendendo aos pedidos dopúblico, o roqueiro homenageou seu eterno ídolo, RaulSeixas: cantou as antigas"Trem das Sete", "Rock dasAranhas" e a antológica
,
..Maluco Beleza". Depois relembrou os grandes sucessosdo Camisa de Vênus: "Eu nãomatei Joana D'arc", "Hoje", "Bete Morreu" e "Simca Chambord". Um show eletrizante que deixou, maisuma vez, a certeza de que o
rock não vai morrer nunca.
ReportagemRafael Masselí
Um LP resgataa obra de
Arnaldo Baptista
Numa época onde o imediatismo e a descartabilidadepredominam em quase todasas produções artísticas, um
LP que tenta resgatar - sem
saudosismos de última hora..:... uma figura importantíssima do rock nacional, acabasoando injustamente deslocado do contexto geral. O discoem questão chama-se Sanguinho Now lançamento do Estúdio Eldorado e o homenageado. é Arnaldo Baptista.
Para quem não se lembra(ou não era nascido ainda),Arnaldo Baptista integrava,ao lado de Rita Lee e SérgioDias, os Mutantes, considerado por boa parte do públicoe crítica como a única bandade rock que o país já teve.Num primeiro m om e n to(1966), os Mutantes soavam
como um cruzamento entreThe Mammas and The Papase a fase psicodélica dos Beatles, evoluindo em seguida para um rock progressive, semperder, porém, o frescor daTropicália movimento queajudaram a lançar. Eles delinearam junto com a turma daBahia, um mapa de referências para orientar boa parteda produção musical das décadas seguintes. Tocaramjuntos com Caetano Veloso a
anárquica "É proibido proibir" (vaiada ao extremo no IIIFesfíval Internacional daCanção da Rede Globo, em
1968), gravaram "Panis etCircensis" (de Gil e Caetano,"2001" (composta em parceria com Tom Zé), esta com
direito a uma introdução"caipira", com viola e sanfona e ainda "Rua Augusta",de Hervé Cordovil.
Em 72, após o lançamentodo LP "Os Mutantes no Paísdos Baurets", Rita e Arnaldosaem do grupo, deixando-onas mãos do guitarrista SérgioDias, durando só mais algunsLPs: Rita Lee evolui (sic)aquilo que ela faz hoje e Arnaldo grava dois discos, Lôky?(74) e Singin' A/one (81),além de participar da bandaPatrulha do Espaço (77). Nesse meio tempo ele mergulhanuma estranha e conturbadaprodução filosófica/musical,entrecortada por trips de ácido, chegando ao limiar da lou-
REVERÊNCIAS
A falta de memória nacional está perto do fim
Mutantes: foi há 20 anos
Sepultura: metal
cura. Em 82, Arnaldo se atirado terceiro andar do Hospitaldo Servidor Público (SP), onde estava internado. Escapapor pouco e recolhe-se num
sítio em Juiz de Fora (MG).São Paulo, 1989. Treze
bandas mais Paulo Miklos(Titãs) gravam "SanguinhoNovo", revisitando Arnaldo e
cedendo a ele os direitos dagravação. Por um lado, a vontade de acabar com a "faltade memória nacional" e deoutro, pôr em prova a tempo-
Vzyadoq: experimental
Angélica: hard
ralidade da obra dos Mutantes e de Arnaldo Baptista. Osegundo objetivo foi cumprido quando se ouve o disco. Abrincadeira foi inevitável: o
moderno e ó antigo se entendem na mesma cama.
De Belo Horizonte, o SexoExplícito (cujo primeiro LPsaiu recentemente pela Eldorado) recria "O Sol". E tome
psicodelia ("eu quero ver o
nascer do sol. .. ), entremeadapor densos climas de guitarra.O grupo mineiro Sepultura
••
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� P 14 '
, I' •,-
" ZERO/
o, ·DEZ-89, '
transformou"A Hora e a Vezdo Cabelo Nascer" (censurada quando foi lançada originalmente) em um thrash me
ta/ estilo que tem feito dessabanda uma das mais respeitadas no exterior. "JardimElétrico" seguiu pelo mesmo
caminho pelos ínstrumentosdos Ratos do Porão.
3 Hombres - banda paulistana até então inédita em vinil- regravou "Dia 36", uma
belíssima balada com sotaqueprogressivo. Os mineiros d'OUltimo Número também optaram pela balada ("I Fell inLove One Day" I, mais pesada. com longos solos de guitarra. "Bomba H Sobre SãoPaulo" ganhou do sorocabano Vzyadoq Moe um arranjocaótico (latas na percussão e
pedais de efeitos), assim corno"Sittin' on The Roadside",regravada pela banda gaúchaAtahualpa i us Panquis: um
must em distorção e microfonia. Já Paulo Miklos deixoudiscreta a "Superfície do Planeta", órgão e voz em harmonia perfeita.
Akira S e As Garotas queErraram esbanjam bateriaeletrônica e samplers, transformando a faixa-título no
momento mais dançante dodisco, ao lado de "E fácil"(Scowa & A Máfia), permeada por scratches. Maria An
gélica e Fellini (velhos batalhadores do undergroundpaulistano) se encarregaramrespectivamente de "Te Amo,Podes Crer" (lenta e pesada,um hard rock agonizante) e
"Cê Tá Pensando que Eu SouLóky?", pura MPB da década passada.
"Sanguinho Novo" não é o
disco do ano. Mas é fundamental a partir do momentoque prova a modernidade desuas composições (Scratches e
samplers são elementos típicos da música desta década),sem alterar a sua essência. Ouentão fique com a frase com
que Marcelo Dolabela encerraum texto sobre os Mutantesno seu livro "ABZ do RockBrasileiro": "Tupi or not tupithis is question this is revo
lution", O ponto fraco do projeto fica por conta da capa:o frasco de sangue estouradomais parece uma anêmona domar cor de rosa.
A propósito, qual dessasmúsicas Marisa Monte vaigravar no seu próximo LP?
Fabiano Melato
PULODOGATO
Som inteiro e não pela metade-
o Titãs cometem
blésq disco
blom da década
Uma ode à "alta sofísticaçáo intelectual e tecnológicaaliada à brutalidade" é uma
boa definição para este quintodisco dos Titãs. O Blésq Blomconsegue sintetizar todo o passado do grupo de maneira genial onde a evolução sonora
e as letras das músicas são primorosas. o "desesperanto"babélico do novo folclore introduz, nos primeiros suleosdo vinil, a fantástica viagemao som titãnico. O petardo so
noro mais inventivo da tempo-. rada: "Õ Blésq Blom" , a música que abre, fecha e dá títuloa esse último disco dos Titãsnão saiu de nenhuma das oitocabeças pensantes, mas deuma dupla de repentistas per-nambucanos.
_
O casal Mauro e Quitériadivide as dádivas deste LPcom os Titãs. Mauro é o in-
ventor do canto multilingüístico que alia inglês, alemão,francês, russo, grego e japonês, que no século XVI já era
usado por grupos de teatro e
que os especialistas chamamde simulação de línguas.Quando ainda trabalhava no
cais do porto de Recife, Mauro ouvia osmarinheiros e maistarde os turistas e foi incorporando à sua música os váriosidiomas que ouvia. Agoraaposentado, ele e Quitéria,sua esposa, cantam na Praiada Boa Viagem, em Recife,para ganhar algum dinheiroextra. Esse é apenas o início
.da história de um nordestinopobre- e cego e de sua companheira. Até que num dia elessão descobertos pelos "Titangues", como diz Mauro, e a
vida de super starsse inicia."Eu ouvi aquilo-e achei ge
nial. Não é o folclore mortodo bumba-meu-boi. Mauroatualiza o folclore", diz Arnaldo Antunes que foi contraa idéia de alguns dos outrosTitãs de levar a dupla paraabrir seus shows. Arnaldoacha que os brasileiros não
.compreenderiam aquela mensagem. Mas, a verdade é que
Mauro e Quitéria são protagonistas ao lado dos oito titãsneste disco. "O canto de Mauro e Quitéria, modal e moderno,miserável e criativo, cegoe visionário", como escreveu
Caetano Veloso no encarte,aliado à produção esplendorosa de Liminha, coloca uma
banana na boca daqueles que.acham a música brasileira inferior e sem criatividade, copiando tudo o que vem doNorte. Aleluia, uma luz se
acendeu no túnel!Introduzida por "Õ Blésq
B1om", "Miséria" resulta co-.
mo a melhor música do LP.A batida
é
forte e contagiante,assim como o refrão: "misériaé miséria em qualquer canto/riquezas são diferentes". Aofinal da música o canto deMauro e Quitéria é inseridoadquirindo nuancesde worldmusic. "Racio Sfmio" é a se
guinte, fazendo uma paródiacom os ditados populares.Num reggaegostoso e ao gostodos Titãs ouve-se um discursopara saber quais as diferençase semelhanças entre �'O Camelo e o Dromedário". A voz
de Paulo Miklos está à frente
Promoção Titãs foiprorrogadaResponda o que significa a expressão Õ Blesq 'Blom, junte este recorte (ou
cópia) e envie para "Promoção Disco", C.C.E., Curso de Jornalismo - UFSC,Trindade, Florianópolis, CEP 88.049 até o dia 31 de dezembro. Não esqueçade indicar seu endereço e telefone pois se, você for sorteado será avisado. Vocêestará concorrendo a uma discografia completa dos Titãs, quarenta discos e10 camisetas O Blesq Blom. Mexa-se.
.
dos instrumentos cantando a
redundância sobre os amigosruminantes. "Palavras" parecem querer sair das caixasacústicas, a canção tem ritinosufocante e crescente que desembocam em palavras como:"palavras para esquecer/versos que repito/palavras paradizer/de novo o que foi dito".E para terminar o lado A,"Medo". Um recado certeiropara as outras bandas perderem o medo da música, damorte, da musa e deles mes
mos, coisa que os Titãs vem
conseguindo desde CabeçaDinossauro em 86, e que se
concretiza aqui.A música de trabalho deste
LP, "Flores" abre o lado Bcom o ótimo Paulo Miklos no
saxofone. Enquanto a massa
sonora nos leva à pista de dança, a letra da música surge co
mo um pensamento niilista.Idéia que perpassa em "OPulso" com seu desfile dedoenças que podem ser com
parados aos personagens de"Nome aos Bois", do LP Jesus Não Tem Dentes ... Aindafaltam a faixa "32 Dentes"onde o violão de 12 cordas dáum camp com a inconfundívelperformance de Branco Melo;"Faculdade", música urbanasobre as "dades" da urbanidade num som forte; e "Deuse o Diabo", um tremendofunk com pitadas de Scowa e
Máfia e de Duran Duran (!).E para finalizar fique com "ÕBlésq B1om", a interação damiséria com a riqueza.
Õ blésq blomneon neon rightcome one nion heionion blésq au rightdiz que dizõ blésq blomele era um pioneiroé na tela de cinemano ni dé o rei do rockvou nimbora rindiomaele bera ispiqui englishvou me blast blergh inglêsô no blast siparsr Inglaterraela diz que a fila avançatem a base nuclealsó nidera lá de Londresela diz que a fila avançaeu falava italiano
r
eu telav« ispiqui 1,'sonidera ispiquioniberi na Espanhaele eri um rei
Ivaldo Brasil Jr.
• l
Proposta do JoucoMeyer Filho paracelebrar 70 anos
. Maluco, ingênuo e marciano éa dfscrição que fazem dele. Masnão é nada disso. Se passa poringênuo, engana todo mundo,pois é muito esperto. Maluco eleé mesmo, mas consciente destaloucura, ele faz tipo. Marciano?Não, essa história é velha. Na verdade nasceu em Haja! e fez setenta anos dia quatro de dezembro.
o pintor Ernesto Meyer Filhonunca teve meias palavras. Sempre fez e disse o que quis, usandoe desprezando a sociedade ao seu
redor, que o cuItua e faz dele umafigura folclórica em Florianópolis. Meyer Filho tem uma imagemque engana, pois a primeira im
pressão. é de um velhinho frágile de fala macia. Mas isto só atése ouvir sua voz, entre outras ca
racterísticas ele fala muito, é umcontador de histórias inveterado.Tanto que numa época, contavapiadas ao meio-dia em "horárionobre'", no programa de ·CézarSouza. Carismático e irônico, demonstrava um vigor incomumem outros de sua idade.
Artista plástico, começou a desenhar aos quatro anos e aos oitojá fazia os bichos, que tanto marcam seus trabalhos. E conhecidocomo pintor de galos, pois estesímbolo está presente em todasas suas obras. "E uma imagemúnica mas múltipla", diz TayroSchimidt, outro artista, "sem se
repetir e sem deixar de ser a mesma". Talvez relacionada
-
com a
infância de Ernesto numa chácara ou com as brigas de galo, antigamente muito comuns em Itajaí.Afinal, acontece que ele mesmo
é um galo, tanto fisicamentequanto na própria forma de falar. "Todo mundo é um galo,principalmente os latinos", dizele. Os galos do universo "meyeriano" não são comuns, são galosirreais, compostos por formas
MALUCO, ESPERTO E MARCIANO
Ele faz arte até nos cheques
abstratas e rodeados por seres extraterrenos e sobrenaturais quepovoam a mente do artista. Tudocondizente com o clima de exa
gero e fantasia que faz parte dacultura de Florianópolis, afinalele se considera o primeiro pintorfantástico surrealista do Estado.
Sua pintura é por isso muito
pessoal. Criou um estilo pessoalparticular da mesma maneira
que Eli Heil. Meyer Filho considera a arte catarinense tão boa
quanto do resto do país e afirma:
Pintar 35 telas simultaneamente
_ Vai desmascarar invejosos na autobiografia
"para ser um artista da minha
categoria tem que ter no mínimoestas três qualidades: olhar de
lince, paciência de Jõ e saco deFiló!". Atualmente ele pinta trinta e cinco quadros simultaneamente num trab�_o que já somaa dois anos e meio�visando uma
grande exposição para comemo
rar seus 70 anos. Diz que esta
é a melhor performance da sua
vida artística e que duvida queoutro artista tenha realizado esta
façanha.
Arte, ele nunca estudou. Devido às limitadas condições culturais de Florianópolis, na épocaque começou a desenhar, ele éum autodidata, que buscou ad
quirir o máximo de conhecimento nos livros. "Descobriu que seu
negócio era arte com uma exposição de artistas franceses que viuem 46, quando conheceu a artemoderna, Nessa época, já formado em Ciências Contábeis, MeyerFilho trabalhava no Banco doBrasil. Anos hilários aqueles,
. quando entre muitas histórias háa que em pleno expediente de trabalho Ernesto desaparecia. Osamigos, preocupados com a chegada do chefe, ao procurá-lo en
contravam-no trancando no banheiro desenhando. "Um dia fuifazer uma sacanagem, Eu sabia
"Galo galáxico":signo permanente
que o chefe iria.me procurar.Tranquei a porta do banheiro e
quando ele meteu os pés pela porta falei: " Puxa, nessa agêncianem se pode fazer cocô descansado? Em 71 se aposentou dandograças a Deus. Nos trinta anos
e 61 dias que trabalhou, elaborou30 mil desenhos, dos quais doismil conserva em sua casa.
Nos 'cheques que passa até hojesua assinatura é o desenho de um .
galo, pois como todo artista, Ernesto Meyer Filho não se moldaao meio. Está escrevendo sua au
tobiografia onde fala que vai"botar o que pensa sobre- certasfiguras de Florianópolis que nãosão merda nenhuma e se achamgrandes gênios". Para ele "aquié uma terra de olho grande, ninguém quer verninguém progredir, como já me dizia FranklinCascaes".
Em 64, durante uma exposiçãoem São Paulo, a segunda que fezlá, contou que foi a Marte. O re
lato da viagem teve uma audiência enorme num programa de rádio chamado Mesa·Quadrada.Entrevistado por Manuel de Menezes, por mais de quatro horasele contou sobre como viajounum disco voador até o planetavermelho e como eram "belíssi:mas" as marcianas. Polvorosa na
cidade. "Foi uma paródia a Orson Welles que aumentou minhafama de maluco" .
Casado desde 45, tem três filhos, todos artistas plásticos premiados, com os quais já expôs
varras vezes, Ernesto Meyer Filho tem uma relação com os jovens fora do comum. Fala igualcom uma pessoa de 50 ou cincoanos. A esposa, Dona Rute, éuma pessoa admirável que soubeassimilar o espírito inquieto domarido e conviver com todas as
suas nuances.
Considerado um dos poucosartistas do Brasil que consegueagradar a críticos e ao públicoao mesmo tempo, seus quadrossão muito valorizados no merca
do nacional. Mas no começo nãofoi assim: "Na minha época tinhaque se dar o quadro e ainda a
moldura". Deir seus primeirostraços como cartunista e logo fundou o Grupo de Artistas Plásticosde Florianópolis (GAPF), hojeextinto. Guarda em suas obras
Ium sabor bom, do selvagem sem
violência, em estado, puro, doinstinto animal verdadeiro. Oelemento expansivo de sua personalidade é retratado através dascores luminosas e diretas, com o
uso de tinta acrílica americana,onde o vermelho é o vermelhomais forte e o verde é o mesmo
e só verde, obtendo este efeito depois de 'várias camadas de tinta.Toda sua trajetória e maturaçãohoje está íncorporada em sua
obra. A idade o tornou mais calmo e traqüilo, mas ele nunca vaideixar de ser o mesmo maluco,ingênuo e inarciano.
Marta Moritz
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