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RELAÇÃO CIDADE-CAMPO: UMA ANÁLISE DO ESPAÇO PERIURBANO
NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE
Sonale Vasconcelos de Souza
Programa de Pós-Graduação em Geografia/Universidade Federal da Paraíba
sonalegeo@gmail.com
Resumo
Este artigo baseia-se no projeto de pesquisa do mestrado que vem sendo desenvolvido
no PPGG/UFPB; tal estudo tem como objetivo compreender a permanência e a
reprodução das práticas rurais no espaço periurbano de Campina Grande na Paraíba.
Para isso, temos procurado fundamentar nosso trabalho a partir de leituras que buscam
entender: a divisão do trabalho entre cidade e campo, as transformações atuais
verificadas na relação entre os dois espaços e a permanência do modo de vida rural na
cidade. É necessário destacar com relação à metodologia, que temos nos esforçado para
combinar dados quantitativos obtidos em instituições com dados qualitativos alcançados
nos trabalhos de campo, contudo, são os dados qualitativos que vem sendo mais
explorados em nossa análise.
Palavras chave: práticas rurais, espaço periurbano, cidade, campo, modo de vida.
Introdução
A relação cidade-campo, bem como a divisão do trabalho que distingue essas
duas espacialidades, ao longo do tempo tem se tornado complexa e contraditória. Desde
a divisão do trabalho que se dá no modo de produção capitalista, cidade e campo se
separam, já que o trabalho é compartido entre estes dois espaços. Assim, a cidade em si,
caracteriza-se por concentrar as atividades dos setores secundário e terciário, além
disso, comumente remete ao moderno e ao tempo rápido. Já o campo está associado às
atividades primárias e ao tempo lento. Contudo, cada vez mais essa dicotomia tem se
diluído, e é perceptível observar mesmo nas grandes cidades espaços imbricados, em
que se verificam tanto aspectos característicos do urbano, quanto característicos do
rural.
Com o desenvolvimento da técnica e, por conseguinte com a modernização da
agricultura, áreas agrícolas vêm sendo dominadas por novos aparatos técnicos e por
novas lógicas de produção. No Brasil, sobretudo a partir da década de 1950, a
incorporação de tecnologias e a modernização no campo, redefiniram as relações
cidade-campo. Desde então, observa-se o que alguns autores denominam de
‘modernização agrícola conservadora’, a qual ocorreu tomando por base a manutenção e
ampliação da concentração e da especulação fundiária pelos grandes proprietários
rurais. Este fato expulsou muitos pequenos agricultores do campo, forçando-os a
migrarem para as cidades. Pois, sem terem condições de competir com os grandes
produtores e manterem sua produção, tiveram como saída procurar na cidade melhorias
de vida. Assim, alocados nas cidades, nas mais diversas condições, muitos mantiveram
práticas originarias do campo, por ‘necessidade’ ou por ‘desejo’ (MAIA, 1994).
Dessa maneira, faz-se necessário destacar que a relação cidade-campo, pode
ser entendida a partir de várias abordagens, dentre elas destaca-se: “a urbanização do
campo” em que os estudos compreendem essa relação levando em consideração a
expansão da cidade e da urbanização em direção ao campo, onde este passa a ter um
incremento de atividades industriais, de setores de fornecimento de insumos e de
atividades voltadas ao turismo; outros estudiosos fazem um percurso contrário buscando
entender essa relação refletindo a partir das atividades e práticas rurais presentes na
malha urbana das cidades, as quais se encontram principalmente na ‘franja rural-urbana’
ou no ‘espaço periurbano’. É de acordo com esta última postura que pretendemos
analisar os espaços rurais encontrados no perímetro urbano de Campina Grande,
tentando compreender como se dá a sua permanência e a sua (re) produção nessa
cidade.
O interesse por estudar os espaços rurais em Campina Grande surgiu a partir da
observação das margens da malha urbana desta cidade, onde frequentemente
começamos a nos deparar com currais, vacarias, pocilgas, “vazios urbanos” sendo
utilizados como área para pasto de gado na cidade e pequenas criações de caprinos e de
aves domésticas. Vale ressaltar que geralmente estas atividades se localizam em bairros
ou áreas afastadas do núcleo central com habitações das camadas populares, de modo
geral, as pessoas utilizam a pequena produção (leite, carne e derivados) para o consumo
próprio e/ou para a comercialização em locais próximos.
Esses fatos nos fizeram pensar sobre a relação cidade-campo, e começamos a
nos perguntar o porquê dessas práticas em espaços tão urbanizados, onde dificilmente é
possível mantê-las. Será que estas atividades sempre existiram no perímetro urbano da
cidade e com o tempo, com o adensamento populacional e com o crescimento urbano,
elas foram sendo empurradas para mais distante? Ou será que estas atividades
encontravam-se distantes da cidade, e devido à expansão da malha urbana, começaram a
ser envolvidas pela cidade? As pessoas que mantém as atividades rurais são os
migrantes expulsos do campo que não se inserem no mercado de trabalho urbano, ou
existem proprietários fundiários que as mantém por puro hobby? Estes são alguns
questionamentos que nos guiaram para a elaboração desta pesquisa.
Divisão do trabalho entre a Cidade e o Campo
Ao tentar compreender uma determinada cidade, geralmente adotam-se como
elementos de análise: as funções (industrial, comercial, os serviços), as formas
(edificações e planos de rua) e as estruturas que lhes são características. No entanto, faz-
se necessário evidenciar que as cidades nem sempre se caracterizaram da mesma forma
assumindo as mesmas funcionalidades em tempos-espaços diferenciados. Nesse sentido,
Lefebvre (2001, p. 66) aponta que assim como a cidade, a “relação cidade-campo
mudou profundamente no decorrer do tempo histórico, segundo as épocas e os modos
de produção: ora foi profundamente conflitante, ora mais pacífica e perto de uma
associação.”
A distinção entre cidade e campo, ou melhor, a divisão territorial do trabalho
entre esses dois espaços ocorre na Europa com a intensificação da urbanização
associada ao surgimento da industrialização. A partir daí tem-se uma clara separação e
oposição entre a cidade indústria e o comércio e o campo agricultura. Neste
período, baseando-se em Marx e Engels (2005), começa a se ter o entendimento de que
“A cidade é de fato o local da concentração da população, dos instrumentos de
produção, do capital, dos prazeres e das necessidades, enquanto o campo mostra
exatamente o fato oposto, isto é, o isolamento e a dispersão” (Marx & Engels, 2005, p.
83).
Entretanto, no Brasil e nos países onde a industrialização ocorreu tardiamente,
a divisão do trabalho entre cidade e campo e a intensificação da urbanização,
inicialmente, não vai ocorrer associado ao advento da industrialização, como na Europa.
Anteriormente à divisão do trabalho entre cidade e campo, ocorreu uma divisão social,
devido ao modelo de urbanização adotado, em que os grandes proprietários fundiários
que frequentavam a cidade, com o desejo de modernizar-se, buscaram reproduzir o
modelo de urbanização ocidental.
Conforme Queiroz (1979, p. 168), até meados do século XIX, esta urbanização
não estava diretamente ligada a uma industrialização, mas a uma difusão cultural de
uma maneira de viver eminentemente citadina. Pois, a produção agrícola voltada para a
exportação era bastante forte e mantinha tanto o campo como a cidade, a qual se
constituía apenas enquanto centro político-administrativo.
Complexidade na delimitação: a compreensão dos espaços de transição
Atualmente, a relação entre a cidade e o campo no Brasil têm-se modificado. A
cidade não compreende apenas um núcleo urbano único e denso com diferenciação bem
delimitada entre centro e periferia, local próprio para o comércio e a produção
industrial, ela apresenta cada vez mais uma estrutura dispersa e fragmentada, em que ao
caminhar deparamos, sobretudo nas margens da malha urbana, com resíduos rurais, os
quais revelam uma maneira de produzir e viver diferente da predominante imposta pela
modernidade.
No campo também não se encontram somente camponeses e seus hábitos
tradicionais, mas há grande incorporação de infraestrutura e hábitos urbanos, além
disso, observam-se algumas atividades próprias da cidade estabelecendo no campo,
como: indústrias e empresas de serviços voltadas para o lazer. Assim, alguns autores,
como José Graziano da Silva (2000) compreende que as diferenças entre o rural e o
urbano cada vez mais deixam de existir, e o rural se torna um ‘continuum’ do urbano,
ocorrendo assim a “urbanização do campo”.
Contudo, acreditamos que embora exista uma tendência à intensificação da
vida urbana no campo, este fato não implica na homogeneização dos espaços, pois esta
tendência não é única, há também o inverso ou o reverso. Pois, apesar da expansão
urbana dos centros não-metropolitanos, observa-se a presença de espaços rurais nas
cidades, como por exemplo, na cidade de Campina Grande onde encontramos
estábulos e plantações de capim localizados em bairros populares próximos a Alça-
Sudoestei, como nos bairros Malvinas e Três Irmãs.
Entendemos assim como Sposito (2006) que no período contemporâneo
observa-se uma grande dificuldade na distinção e na definição entre os espaços urbanos
e os espaços rurais, entre a cidade e o campo, contudo:
O reconhecimento de um contínuo cidade/campo não pressupõe o desaparecimento da cidade e do campo como unidades espaciais
distintas, mas a constituição de áreas de transição e contato entre esses
espaços que se caracterizam pelo compartilhamento, no mesmo
território ou em micro parcelas territoriais justapostas e sobrepostas, de usos do solo, de práticas socioespaciais e de interesses políticos e
econômicos associados ao mundo rural e ao urbano (SPOSITO, 2006,
p. 121). [grifo nosso]
Maia (1994), ao analisar a relação entre a cidade e o campo, expõe que estes
dois espaços sofreram alterações ao longo do tempo, bem como atualmente ambos vêm
passando por alterações contínuas. Desse modo, hoje já não se pode dizer que há apenas
a existência de dois modos distintos de organização espacial, nem tão pouco afirmar que
as atividades econômicas próprias da cidade também não podem ser encontradas no
campo e vice-versa. Sendo assim, Maia (1994) afirma que com a intensificação da
urbanização, a delimitação entre cidade e campo torna-se complexa e acrescenta:
Esta aparente tendência à urbanização da sociedade põe em xeque as
delimitações. Onde termina o campo e começa a cidade? A vida
urbana não diz respeito apenas à cidade, mas também ao campo.
Porém esta é uma tendência, não significando que o inverso tenha sido abolido. Caminha-se para uma homogeneização, sem contudo perder-
se as heterogeneidades já existentes e ainda criando outras novas.
(1994, p. 41)
Assim, a partir do exposto é perceptível a existência de uma lógica dominante
expressa na expansão da urbanização sobre o campo e da difusão de um modo de vida
urbano, contudo, fundamentando-se em Lefebvre (2008), Maia (1994, 1999, 2000),
Queiroz (1979) e Sposito (2006), reconhecemos que embora haja um inevitável
contínuo da cidade sobre o campo, tal fenômeno não implica numa total
homogeneização dos espaços, pois, a produção do urbano implica na sobreposição de
usos e de práticas espaciais diferenciadas e contraditórias. Assim, observa-se também
imbricadas na cidade a manutenção de atividades e práticas características dos espaços
rurais.
Lefebvre (2001, p. 69), ao discutir a indefinição sobre o que é urbano e rural ou
até que ponto eles podem ser delimitados, diante da ampliação da malha urbana
invadindo o campo, como também da dominação da sociedade urbana sobre este,
escreve que alguns geógrafos encontraram um neologismo para designar esta
indefinição: o ‘rurbano’. A concepção do ‘rurbano’ é utilizada pelos que acreditam na
superação neutra entre os dois espaços, onde se tem o desaparecimento tanto da vida
urbana quanto da vida rural, ou seja, uma fusão entre os dois espaços e os dois modos
de vida. Este termo é utilizado pelo Graziano da Silva (2000) ao mostrar que as
características que distingue cada espaço aos poucos estão sendo diluídas pelo avanço
da urbanização, assim, o autor considera uma questão de tempo para que o campo seja
totalmente transformado e dominado pela expansão do mundo urbano.
Souza (2007, p. 27) reconhece que não é tão simples definir a cidade, como
também mostra a existência de espaços caracterizados por uma lógica rural, onde se
desenvolvem atividades primárias dentro do espaço urbano. Desse modo, afirma que
tais atividades rurais “podem ser encontradas, como minúsculas ilhotas em meio a um
oceano de espaço construído” caracterizando-se enquanto ‘extravagâncias espaciais’.
Como também, segundo o mesmo autor, pode-se observar nas bordas das cidades uma
faixa de transição entre os usos urbano e rural, a qual é denominada por vários
geógrafos de ‘franja rural-urbana’ ou ‘espaço periurbano’.
Vale (2007) em seus estudos aborda o conceito de ‘espaço periurbano’,
segundo a autora este conceito sintetiza vários outros termos utilizados por outros
estudiosos para definir as áreas em que se encontram tanto aspectos característicos da
cidade como do campo, como: franja rural-urbana, franja urbana ou rururbana, rurbano,
etc.. Ainda acrescenta que estas terminologias surgiram antes da designação de espaço
periurbano, e aponta que este termo é recente e tem sido discutido mais intensamente a
partir da década de 1990 no Brasil.
Assim, Vale (2007, p. 237) explica que espaço periurbano refere-se as “zonas
de transição entre cidade e campo, onde se mesclam atividades rurais e urbanas na
disputa pelo uso do solo.”. Desse modo, baseando-se na autora, consideramos como
espaço periurbano, as áreas das cidades voltadas para a expansão urbana, em que se
verificam tanto aspectos e interesses urbanos como: a implantação de equipamentos de
infraestrutura e a presença de espaços loteados “vazios” à espera de valorização
imobiliária, como também, observam-se resquícios de estabelecimentos rurais que
apesar de muito próximos do núcleo da cidade e das atividades urbanas se mantêm com
base em atividades e hábitos rurais.
A apropriação da Cidade para a permanência do Campo
É importante ressaltar que pretendemos entender a (re) produção dos espaços
rurais encontrados no espaço periurbano da cidade de Campina Grande com base no
conceito de ‘espaço vivido’ elaborado por Henri Lefebvre e utilizado por alguns
geógrafos, dentre eles: Amélia Damiani (2008) e Doralice Maia (2000). Este conceito
elaborado por Lefebvre compõe a tríade: ‘espaço concebido’, ‘espaço vivido’ e ‘espaço
percebido’. É a partir de tais conceitos que o autor buscar explicar os momentos
contraditórios existentes na produção social do espaço, assim, entende-se por espaço
concebido aquele construído a partir de estratégias econômicas e políticas, em que
governantes e administradores elaboram modelos abstratos, distantes do real e
reguladores das práticas sociais; já o espaço percebido, consiste nas representações
elaboradas por meio da percepção da produção social do espaço; e por fim, o espaço
vivido, o qual conforme Damiani (2008) é entendido como “o espaço que os habitantes
produzem, apesar da redução das relações diretas, implicada nas formas modernas do
espaço concebido. Este é o plano das práticas espaciais.” (2008, p. 88).
A partir desta citação supomos que os espaços rurais não são produzidos a
partir de normas e nem são levados em consideração no planejamento da cidade; mas
são construídos pelas necessidades cotidianas e por uma maneira de fazer e pensar que
se contrapõem à lógica de produção existente na cidade. Deste modo, as práticas rurais
que se mantêm e se recriam na cidade constituem enquanto ‘espaço vivido’, pois
ocorrem devido à ‘apropriação’ da cidade, que é planejada e concebida como local não
apropriado para as atividades primárias, mas para a produção industrial, a concentração,
o mercado, etc.. Nesse sentido, as pessoas que se apropriam da cidade e se mantêm
basicamente da realização de atividades características do modo de vida rural, realizam
‘táticas’ frente ao ‘espaço concebido’ estrategicamente pelos governantes e
proprietários fundiários.
Michel de Certeau no livro “Invenção do cotidiano – artes de fazer” aborda que
cada prática possui um ‘lugar próprio’ de realização, ou seja, cada atividade possui
espaço apropriado e delimitado por fronteiras que classificam determinada área com
relação a um uso, assim, pode-se pensar na cidade e no campo, respectivamente,
enquanto áreas voltadas para a realização de práticas urbanas e de práticas rurais. No
entanto, o autor lembra que no estudo das práticas sociais não é tão simples classificá-
las ou delimitá-las, pois, existem as ‘modalidades da ação’, que em outros momentos
Certeau também chama de ‘maneiras de fazer ou estilos de ação’. “Esses estilos de ação
intervêm num campo que os regula num primeiro nível, mas introduzem aí uma maneira
de tirar partido dele, que obedece a outras regras e constitui como que um segundo nível
imbricado no primeiro.” (CERTEAU, 1994, p. 92).
A cidade, desse modo, pode ser analisada como espaço regulamentado para as
práticas urbanas, contudo, destacamos que é necessário verificar em determinadas áreas,
práticas que podem ser consideradas estilos de ação diferentes daqueles pensado para a
cidade; por exemplo, as práticas rurais, tais maneiras de fazer e de produzir na cidade
revelam outra forma de vivenciar o tempo e o espaço muito divergente da maneira
predominante de viver na cidade. Diante disso, Michel de Certeau apresenta os
conceitos: ‘estratégias e táticas’. Para o autor “A estratégia postula um lugar suscetível
de ser circunscrito como algo próprio e ser a base de onde se podem gerir as relações
com uma exterioridade de alvos ou ameaças.” (CERTEAU, 1994, p. 99). Em
contrapartida chama “de tática a ação calculada que é determinada pela ausência de um
próprio. Então nenhuma delimitação de fora lhe fornece a condição de autonomia. A
tática não tem por lugar senão o outro.” (CERTAU, 1994, p. 100).
Tendo como base os conceitos acima, propomos pensar nas práticas rurais
encontradas na cidade enquanto ‘táticas’, pois apresentam hábitos e atividades que não
são próprios dos locais onde estão estabelecidos e também por que se mantêm diante de
adversidades encontradas na cidade. Tais práticas geralmente encontram-se enquanto
resíduos localizados no espaço periurbano das cidades, os quais são recriados em
“vazios urbanos” localizados nas margens da malha urbana das cidades; estes vazios
correspondem na maioria dos casos às áreas de proteção ambiental (margem de rios ou
riachos), às áreas com redes de alta tensão e aos “vazios urbanos” que estão à espera de
valorização.
Em Campina Grande verificamos por meio de trabalhos de campo exploratório,
a existência de muitas criações de gado na franja e no interior da malha urbana,
contudo, iremos priorizar as áreas que se encontram na franja urbana ou no espaço
periurbano. Sendo assim, ressaltamos que no espaço periurbano da cidade foram
verificadas muitas pequenas criações de gado e plantações de capim em áreas
impróprias para ocupação, como por exemplo, na área abaixo da rede de alta tensão que
corta a cidade na direção norte e sul.
Algumas considerações sobre o espaço periurbano de Campina Grande
Inicialmente, foi realizado um levantamento bibliográfico sobre trabalhos que
discutem a temática cidade-campo, buscando montar um arcabouço teórico para
responder aos questionamentos e objetivos formulados diante da existência de espaços
rurais na área urbanizada da cidade de Campina Grande. Intercalando as leituras foram
realizados trabalhos de campo em Campina Grande, com o objetivo de identificar as
áreas com práticas rurais na malha urbana.
Neste primeiro momento, utilizamos a observação exploratória/não
participante, já que a Prefeitura Municipal não tem o levantamento de atividades rurais
na cidade, contudo, estas primeiras observações e conversas com as pessoas se deu sem
a realização de entrevistas formais, visando obter informações gerais sobre a área, as
práticas rurais e o cotidiano das pessoas. Nos primeiros trabalhos de campo, houve uma
preocupação fundamental em construir uma relação de confiança com as pessoas que
vivenciam as áreas visitadas, por isso, foram necessárias várias idas a campo para
conversar e esclarecer aos poucos quais eram os objetivos das visitas.
Anteriormente aos trabalhos de campo, utilizamos como ferramenta para a
localização das áreas com aspectos rurais na cidade o levantamento de imagens de
satélite, como por exemplo, as imagens do programa Google Earth. Desse modo, é
necessário ressaltar que a análise das imagens foi fundamental para orientar os
percursos realizados nos trabalhos de campo pela cidade.
Foi a partir destes trabalhos de campo que delimitamos a área de investigação
desta pesquisa, embora seja um dos objetivos específicos localizar os espaços rurais no
espaço periurbano da cidade que se mantém a partir de atividades e costumes rurais,
iremos focalizar os trabalhos de campo, as entrevistas e os registros fotográficos na área
que fica localizada abaixo da rede de alta tensão na cidade.
É importante informar que as áreas localizadas abaixo da rede de alta tensão,
nas quais foram encontradas vários estábulos e pessoas praticando atividades rurais,
caracterizam-se como área pública, imprópria para ocupação e voltada para o uso
restrito da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF). Contudo, observa-se
que estas áreas são ocupadas por pessoas que detém posses e que a utilizam de modo
não autorizado para a prática de atividades rurais. De acordo com os trabalhos de campo
realizados até o momento em Campina Grande, verificamos a existência de muitas
criações de gado. Conforme observamos, na área da CHESF, escolhida como
amostragem, foram encontradas várias pequenas criaçõesii de gado, além disso,
verificamos plantações de capim e criações de equinos visando à participação em
vaquejadas e a utilização como tração em carroças.
Dentre os aspectos que ressaltamos para a escolha da área da cidade como
amostragem estão: a localização, pois se encontra no espaço periurbano da cidade e um
dos aspectos importantes da pesquisa é enfatizar a apropriação de espaços “vazios” na
área de expansão para a realização de práticas rurais; a característica específica da área,
pois as pessoas não são proprietárias dos terrenos e sim possuem pequenas posses, já
que o terreno é público e é proibida a ocupação na área; e a prática das atividades e o
cotidiano das pessoas, que consistem na maioria em pequenas criações de gado voltadas
para o próprio consumo e para a comercialização dos produtos na própria cidade, mas
precisamente nos bairros adjacentes.
A escolha de uma área como amostragem torna viável a realização da pesquisa
que se fundamenta na observação e descrição das áreas e dos hábitos rurais e na
realização de entrevistas com as pessoas que vivenciam e mantém atividades rurais. A
delimitação da área, assim, contribui para uma análise mais minuciosa e um
levantamento mais detalhado de dados e informações sobre esta área, pois seria
praticamente impossível diante do tempo, a realização de trabalhos de campo,
observações minuciosas e entrevistas em todas as pequenas unidades que mantém
atividades agropecuárias no interior do perímetro urbano de Campina Grande.
Até o presente momento vem sendo realizado o levantamento dos espaços que
têm a presença de atividades rurais, como também vem sendo realizadas as entrevistas
semi-estruturadas elaboradas com a intenção de levantar informações que possam
esclarecer os questionamentos e contribuir para a análise qualitativa. Desse modo, as
entrevistas estão sendo indispensáveis para a obtenção de informações importantes
como: o tipo de atividade realizada em determinado espaço (produção e/ou criação de
bovino, eqüino, caprino, suíno, etc.; plantação de hortifrutigranjeiros, como verduras,
frutas e capim para a forragem do gado); a finalidade da atividade (se comercializada,
utilizada para consumo próprio ou ambos); e a história de vida do entrevistado (se
sempre realizou tais atividades rurais? se desempenha outras atividades profissionais? se
sempre morou na cidade? se gosta da atividade que realiza?).
Buscando confrontar as informações obtidas pelas pessoas da área em estudo,
pretendemos entrevistar representantes da Prefeitura de Campina Grande e da
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco visando obter maiores esclarecimentos
sobre a opinião dos mesmos com relação à ocupação da área para práticas de
determinadas atividades. Além disso, está sendo realizado no Cadastro Estadual de
Estabelecimentos Pecuários, que fica sob a responsabilidade da Secretaria de Estado do
Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca (SEDAP), como também no Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), um levantamento dos dados dos
proprietários residentes em Campina Grande, visando alcançar uma maior certificação
dos dados e informações levantados nos trabalhos de campo.
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i A Alça Sudoeste é uma via rodoviária criada com o intuito de agilizar o tráfego de veículos vindos do
Litoral Paraibano e do Agreste Pernambucano, ambos com destino ao Sertão, Curimataú, e Cariri
Paraibano. Esta estrada com cerca de 12 km de extensão, margeia a cidade de Campina Grande e une as
rodovias BR104 (sul) a BR230 (oeste).
ii Ainda não atribuímos uma classificação entre o que seria pequena criação e grande criação de gado,
contudo, a partir da observação em campo e das entrevistas informais verificamos pequenas criações com
cerca de 20 a 30 cabeças de gado e grandes criações com mais de 50 cabeças de gado.
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