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Trabalho de conclusão da disciplina Laboratório de Teoria e Metodologia da História - UFES (2013-1)
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1 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
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5 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
(re)veja REVISTA MENSAL DE INFORMAÇÃO
Trabalho de conclusão da disciplina Laboratório de Teoria da História 2013/1
Departamento de História - UFES
Idealização e direção
Prof. Dr. Julio Bentivoglio
Editoração e capa
João Carlos Furlani
Colaboradores
Aline Almeida de Jesus
Ariane Lucas Guimarães
Bruna Fernandes da Silva
Cainã Mousinho da Silva
Diego Lanes Tonini
Gabriel Juliati Januario
Gerson Moraes Franca
Hermes Pereira da Silva Neto
Iraciane Rosa de Azevedo
Isabela Lopes Polato
Jessica de Andrade Espindula
Karina dos Santos de Souza
Larissa Rodrigues Sathler Dias
Layla Borges Tomas de Sousa
Lomanto Kennedy Amorim Rodrigues
Rayanne Amorim Rody
Roseilta da Silva Coutinho
Sara Abreu Passoni
Valquíria Cordeiro da Vitória
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 6
8 | Carta ao Leitor
10 | Entrevista Dener Pamplona
Panorama
12 | Imagem da Semana
18 | Holofote
Brasil
20 | Especial: Carlos Lacerda x João Gou-
lart
21 | Questão agrária: Agricultores em
prejuízo
Economia
24 | Conjuntura: A economia brasileira
nos momentos finais do governo de João
Goulart
Internacional
30 | Argentina: Arturo Illia, apóstolo dos
pobres
31 | Inglaterra: O assalto ao trem ―paga-
dor‖ inglês surpreende a todos
32 | Estados Unidos: Andando na corda-
bamba
7 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
Geral
36 | Ética: Fim de uma era no Vaticano:
a trajetória de João XXIII junto ao papado
37 | Saúde: O homem com dois corações
poderá tornar-se realidade
39 | Medicina: Novos estudos sobre o
câncer
42 | Vida moderna: O futuro da escrita:
o advento das máquinas de escrever elé-
tricas
43 | Beleza: Brasil no trono da beleza
mundial
Guias
47 | Animais: Dicas de nome para dar
para seu cachorro
Artes & Entretenimento
49 | Cinema: Cleópatra: um filme gran-
dioso
50 | Famosos: Um pouco da vida de Eli-
zabeth Taylor
51 | Música: Jimi Hendrix: o garoto
promete
55 | Livros: Mística Feminina
57 | Cozinha: A pizza nossa de cada dia
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 8
Carta ao Leitor
“Eu tenho um
sonho” s jornais do mundo todo noticiaram em
manchetes de primeira página aquela
que já está sendo chamada de ―Nova
Revolução dos Estados Unidos da Amé-
rica‖, trata-se de enorme manifestação realizada
esta semana em Washington liderada por ativis-
tas defensores dos direitos civis dos negros nor-
te-americanos que contou com a participação de
cerca de 250.000 pessoas negras e brancas de
vários estados do país.
A manifestação realizada em frente ao Memo-
rial Lincoln também chamada de ―Marcha pelo
emprego e pela liberdade‖ é resultante da longa
batalha que os grupamentos negros como a CL-
CL (Conferência dos lideres Cristãos do Sul),
fundada em 1957 pelo pastor e ativista Martin
Luther King Jr.(1929-) vem travando em prol
dos negros. Desejam estes, entre outras coisas,
comer no restaurante ao lado dos brancos, i-
gualdade nas oportunidades de trabalho, efetiva
integração na sociedade norte-americana.
O pastor protestante e ativista político M. Lu-
ther King, um dos líderes do movimento, nasci-
do a 15 de janeiro de 1929, em Atlanta, Geórgia,
Estados Unidos iniciou sua luta em prol dos di-
reitos civis dos negros em 1955, liderando um
boicote aos ônibus de Montgomery pelo fato de
ter sido presa Rosa Parks, mulher negra, que se
recusou a ceder seu lugar no ônibus para um
branco.
Sob os aplausos do povo o pastor defensor
dos princípios preconizados pelo líder indiano,
Mohandas Gandhi, de desobediência civil não
violenta, realizou seu discurso: ―... Eu tenho um
sonho que um dia esta nação se levantará e vive-
rá o verdadeiro significado de sua crença- nós
celebraremos estas verdades e elas serão claras
para todos, que os homens são criados
iguais. Eu tenho um sonho que um dia... os fi-
lhos dos descendentes de escravos e os filhos de
descendentes dos donos de escravos poderão se
sentar junto à mesa da fraternidade...‖.
A discussão em torno dos direitos civis dos
negros tem sido um dos principais assuntos polí-
ticos dos últimos anos e o Presidente John F.
Kennedy às vésperas do ano eleitoral toma deci-
sões que já provocam represálias dos republica-
nos e dos democratas do sul racista. O presiden-
te propõe que
sejam aprovadas leis que visam: I- Terminar
com a segregação racial nos locais públicos; II-
Terminar com a segregação racial nas escolas;
III- Criar condições iguais para brancos e ne-
gros; IV- Criar um serviço federal que se encar-
regará das relações entre comunidades branca e
negra; V- Estabelecer um programa federal inte-
gracionista. O projeto apresentado pelo governo
desperta múltiplas reações. Para comunidade
negra o projeto de legislação sobre os direitos
civis submetida ao congresso pelo presidente
Kennedy, não constitui mais do que uma neces-
sária aplicação dos princípios de liberdade e i-
O
_______________
Luther King, durante a “Marcha a Washington”.
9 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
gualdade consagrados na constituição dos Esta-
dos Unidos. Há também aqueles que prometem
reações violentas como é o caso do grupo racista
Ku Klux Klan, no entanto, já vemos reações posi-
tivas diante da luta empreendida pelos negros, a
universidade da Carolina do Sul aceitou, for-
malmente, no início do mês, seu primeiro estu-
dante negro. Robert Anderson, negro de 20 anos
recebeu a notificação de que sua solicitação de
matrícula havia sido aprovada. A decisão toma-
da pela universidade demonstra que seus fun-
cionários decidiram desistir das manobras legais
para evitar a integração racial.
Havia toda uma preocupação das autoridades
municipais diante da manifestação, 6.500 ho-
mens da guarda nacional e dos bombeiros foram
destacados pelo Departamento defesa para atua-
rem na marcha. Houve também por parte dos
organizadores uma preocupação com o evento.
Philip Randolph, um dos organizadores, prestou
a seguinte declaração horas antes da marcha:
―...Não existe nada debaixo do sol que possa im-
pedir a luta que se desenvolve pelos nossos direi-
tos cívicos, a marcha acontecerá pacífica como
queremos ou com violência, mas todos foram
orientados a não aceitar provocações racistas‖.
Randolph declarou ainda, ―...a marcha é um
símbolo em favor da nossa libertação, sim, por-
que os negros ainda não são livres nos Estados
Unidos, e símbolo da luta dos negros para obter
a cidadania de primeira grandeza e não de se-
gunda ordem.‖
Pelo que se verificou tudo transcorreu dentro
da ordem uma multidão marchou lentamente
sobre Washington ao som do hino nacional e
louvores, a marcha ganhou contornos mais pa-
recidos com uma grande festa da democracia. A
Reveja prossegue na expectativa de registrar e
transmitir aos seus leitores as repercussões que
obterão este grandioso evento e quais serão os
desfechos desta campanha em prol dos direitos
dos negros.
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 10
Entrevista DENER PAMPLONA
Dener Pamplona “Made in Brazil”
“É um luxo!” Foram as palavras usadas pelo estilita Dener Pamplona ao re-
ceber nossa equipe em sua mansão no Pacaembu.
Em meio aos tapetes persas e na companhia da
imensa Fedra Sete Lagos, seu famoso dogue ale-
mão, o estilista da primeira dama do Brasil esban-
ja glamour e excentricidade com muito bom hu-
mor: ―meu bem, antes de mim, para ser elegante
era preciso usar etiqueta de fora‖. Para o gênio da
alta-costura, concorrer com nomes tais como Pi-
erre Cardin, Jacques Fath, Valentino, e Emilio
Pucci, é não só um grande desafio, como também
uma reafirmação de que a moda brasileira pode
atingir patamares internacionais. Em entrevista
exclusiva à nossa equipe, Dener falou um pouco
sobre sua história no mundo da moda e também
sobre as principais tendências para o próximo
verão:
Quando o senhor percebeu seu dom para a
moda?
Querida, desde meus nove anos tenho compulsão
por desenhos (risos). Passei minha infância de-
bruçada sobre papéis, reproduzindo fotografias de
celebridades. Cópias perfeitas! Porém, havia uma
única diferença, os vestidos não eram copiados e
sim inventados por mim.
E como seus desenhos passaram a fazer
sucesso?
Por intermédio de algumas amigas do colégio.
Elas enviaram meus desenhos para a Casa do Ca-
nadá, que naquela época era a mais importante
―casa de modas‖ do Rio. Fui contratado na hora
pela Mena Fiala. Mais tarde montei meu próprio
ateliê de costura. Ali eu recebia vestidos de toda
Europa e aproveitava para estudá-los.
Quando o senhor resolveu se libertar da
moda européia e passou a criar um estilo
brasileiro?
Na verdade resolvi libertar-me das concepções em
destaque e começar a criar da minha cabeça.
Seguindo, é claro, as grandes linhas da orientação
francesa que dita para todo o mundo – mas só a
orientação. Quando aparecia uma cliente com
desenhinhos na cabeça, eu me recusava a atendê-
la. Queria fazer algo brasileiro, cheirando à nossa
terra. O resultado foi sensacional... Criei a moda
brasileira, um estilo próprio, nosso, que fez com
que as grandes senhoras do país não precisassem
ir mais se vestir na Europa. Fiz os brasileiros a-
creditarem na moda e o figurinista passou a ser
assunto. Lancei uma imagem e hoje ninguém tem
vergonha de dizer que se veste no Brasil.
O figurinista hoje é o coadjuvante na mo-
da, e você não é nada menos que o respon-
sável pelos modelos usados pela primeira-
dama. Como é vestir Maria Tereza Gou-
lart?
Maria Tereza é fenomenal! (risos) Vesti-la é uma
grande responsabilidade. Nós temos uma relação
de musa e criador. Eu a lapidei e hoje ela está en-
tre as dez mulheres mais elegantes do Brasil. Fiz
vestidos para todas as ocasiões, casamentos, fune-
rais, solenidades oficiais, mas em todos se sobres-
sai o gênero da simplicidade.
__________________________
11 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
Certa vez você disse que os
tons que melhor combinam
com o tipo moreno das
brasileiras são branco, ro-
sa, azul-claro, verde-água,
turquesa, champanhe e
dourado. Mas qual peça
você acha fundamental no
guarda-roupa de uma mu-
lher?
Meu bem! Minha moda é clás-
sica! Sou uma figura démodé!
Acho um crime não se usar lu-
vas nos modelos de noite. Luvas
são peças sem época e sem mo-
da que representam um hábito
e educação.
Hoje sabemos a importân-
cia da Fenit (Feira Nacio-
nal da Indústria Têxtil) pa-
ra a repercussão interna-
cional da moda brasileira.
Desde 1959 o senhor apos-
ta em um estilo bem nacio-
nalista. Esse ano será dife-
rente?
Isso é surpresa! (gargalhadas
acompanhadas do pedido a
Pierre, seu mordomo, da piteira
de marfim)... Na verdade ainda
não sei. Gosto do que é belo! E
a inspiração no Brasil trás um
resultado surpreendente. Para
mim tudo aqui vira moda, o
período colonial, o café e quem
sabe o Candomblé (mais risos).
Não foi a toa que criei a Linha
Café e a Coleção Colonial!
Bom, sabemos que Clodovil
está apostando em estam-
pas exuberantes para o
próximo verão. Você acha
que essa moda vai alavan-
car no país?
(gargalhadas)... ―Nêga Vina‖
não é boa em apostas! Acredito
que o sucesso esse ano estará
no Dégradé.
O senhor não tem receio
dos grandes nomes da alta-
costura como você, o José
Nunes, César, Ronaldo És-
per, Fernando José, Anna
Frida e Amalfi serem es-
quecidos devido à grande
importação de modelos
como Coco Chanel ou Saint
Laurent, por exemplo?
De forma alguma! Nós fugimos
da comodidade do copismo! A
alta-costura já tem seu lugar no
Brasil! Desenhamos para os
clientes de acordo com seu físi-
co, idade, gosto e em consonân-
cia com nosso clima tropical.
São modelos exclusivos! Você
não corre o risco de ir a um
Casamento e encontrar três
pessoas com o mesmo modelito
(risos).
O senhor acredita que a
marca da mulher refinada
está no que ela veste?
Querida, na verdade digo que
está no que ela mesma quer
vestir, pois a mulher chique fica
bem com qualquer trapinho, já
a mulher realmente refinada se
veste para agradar si mesma,
até quando faz a maior faxina
está sempre arrumada!
__________________________ Entrevista DENER PAMPLONA
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 12
EQUANTO ISSO
O destaque da semana vai para o novo presiden-
te eleito da Argentina, Arturo Umberto Illia, que
depois de tantos golpes, ganha a eleição com
promessa de um novo governo.
JÁ DEIXA SAUDADES
No dia 2 de julho deixou-nos Bruno de Menezes.
Certamente a literatura brasileira sofreu uma
grande perda. Descanse em paz! Menezes escre-
veu, dentre outras obras, Batuque (1931) e Onze
Sonetos (1960).
21 DE JUNHO
Paulo VI sucedeu o papa João XXIII.
O BRASIL É LINDO!
Reina a rainha mais bela do mundo! Ieda Maria
Vargas a beleza brasileira muito bem represen-
tada pela Miss Universo.
23 DE MAIO
Fidel Castro visitou a URSS.
9 DE ABRIL
Winston Churchill foi eleito cidadão honorário
norte-americano pelo Congresso.
Panorama __________________________
13 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 14
15 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
TELEVISÃO
Estreante no horário nobre da TV Excelsior, a novela 2-
5499 Ocupado já faz sucesso. Como casal principal
Tarcísio Meira e Glória Menezes. Essa novela já está
dando o que falar.
DISCOS
The Beatles
Please Please Me
Os ingleses, que já estavam em turnê pela Inglaterra,
lançaram esse disco, com uma batida mais alegre e
juvenil.
Barbra Streisand
The Barbra Streisand Album
O primeiro disco da norte-americana ainda está dando
o que falar. O jazz cantado na maravilhosa voz da
cantora proporciona alegria e tranqüilidade. Sem
dúvida alguma é música de qualidade.
Bob Dylan
The Freewheelin’
Um album repleto de músicas inéditas e de um som
próprio, The Freewheelin’ Bob Dylan proporciona-nos
uma experiência nova e agradável. É, sem dúvida, uma
surpresa.
Ellis Regina
O Bem do Amor
Ellis Regina
A voz inspiradora e maravilhosa da nossa querida
cantora pode ser apreciada nos dois álbuns gravados em
estúdio. Ellis, simplesmente, Ellis.
__________________________ Panorama
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 16
17 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 18
Estreou no último dia 22, na
Tv Excelsior a primeira tele-
novela diária brasileira.2-
5499 ocupado traz em seu
elenco o galã Tarcisio Meira e
a belíssima Gloria Menezes.
Na trama Glória é uma presi-
diária Emily, que trabalha
como telefonista do presídio,
e Tarcisio se apaixona por ela
apenas pela voz ao telefone,
sem saber a verdade. Tarcisio
estrelou, também esse ano, o
filme Casinha Pequenina.
Seguem protestos e greve dos
motoristas contra os veículos
Kombi, que querem fazer lo-
tação fora do horário. Os mo-
toristas fizeram greve por
vários dias, e só vão parar
quando as reivindicações fo-
rem atendidas. A briga é para
que os carros de praça sejam
licenciados.
Rio de Janeiro - O Instituto
Brasil - Estados Unidos co-
munica que se encontram
abertas as inscrições para
bolsas de estudo nos Estados
Unidos. Mais informações
pelo telefone 57-1146. As ins-
crições são para residentes no
estado do Rio de janeiro e
estarão abertas até 31 deste
mês.
Após dois meses do encerra-
mento dos jogos Pan ameri-
canos deste ano, a cidade de
São Paulo ainda comemora o
evento. Apesar de ser chama-
do de modesta, a abertura
que aconteceu no estádio do
Pacaembu foi memorável. A
vila pan-americana, construí-
da para servir de alojamento
aos atletas, será anexada a
universidade de São Paulo.
No dia 1º deste mês de julho,
uma tragédia vitimou o bispo
de Uruguaiana, Dom Luis
Felipe de Natal. O acidente
aéreo, com o DC3 da VARIG,
que caiu no 1º Distrito de São
João da Bela Vista, a 7,5 km
de Passo Fundo, por volta das
18 horas, vitimou 11 pessoas.
Na aeronave estavam nove
passageiros e quatro tripulan-
tes. Dois passageiros conse-
guiram sobreviver.
Panorama __________________________
19 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 20
Carlos Lacerda x João Goulart _____________________________________________________
Carlos Lacerda.
Não é fato desconhecido
para ninguém as divergências
entre o Presidente João Gou-
lart e o Governador da Gua-
nabara, Carlos Lacerda. Mas
essas divergências estão to-
mando um vulto cada vez
mais preocupante. Sob o pre-
texto de ―vigiar‖ Lacerda, im-
putando-o atitudes golpistas,
o Governo Federal prepara
um... golpe. O primeiro passo
é a proposta esdrúxula do
Ministro da Justiça, de fede-
ralizar a polícia militar do
Estado da Guanabara – meio
eficaz para retirar do controle
de Lacerda as forças militares
leais ao estado democrático
de Direito.
Fora essas questões, o Go-
verno Federal já está na ofen-
siva contra a Guanabara faz
tempo. A federalização de
diversas repartições estadu-
ais, como por exemplo a ad-
ministração dos portos de
transporte de pessoas, são
apenas a ponta do iceberg das
reais intenções do Governo
Federal dominado pelos po-
pulistas e seus colaboradores
comunistas.
Carlos Lacerda, porém, re-
siste, e continua denunciando
os planos golpistas de um
Governo que se pretende tor-
nar uma espécie de República
sindicalista, de estilo peronis-
ta. Por essa postura de eterno
sentinela das liberdades de-
mocráticas, a Guanabara está
literalmente sendo sufocada
pelo Presidente João Goulart.
Agora aventa-se simples-
mente a intervenção federal
na Guanabara, sob os mais
fantasiosos pretextos. Ora,
sabe-se bem que se há alguém
planejando algum golpe con-
tra as instituições, esse al-
guém não é o Governador
Carlos Lacerda, paladino das
liberdades democráticas. Os
golpistas estão, na verdade,
ocupando cargos ou manten-
do influência no Governo
Federal. Afinal, a tentativa de
Leonel Brizola de ferir a cons-
tituição com o slogan ―Cu-
nhado não é parente – Brizola
para Presidente‖, bem como
as recentes declarações de
Goulart de que a Constituição
não é uma pedra que não po-
de ser mexida, denotam cla-
ramente de outro se prepara
um golpe contra as institui-
ções do Estado democrático
de Direito.
Poderíamos abranger mui-
tos mais fundamentos para
demonstrar que Leonel Brizo-
la e João Goulart estão fir-
memente com o propósito de
transformar o Brasil em uma
república sindicalista. A sana
desse grupo em sedimentar
__________________________ Brasil
João Goulart.
21 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
esse projeto é tanta que sabe-
se que já há pronto um Decre-
to de Estado de Sítio, espe-
rando somente um momento
oportuno para ser aprovado
pelo Congresso Nacional.
Decreto esse que só não foi
ainda apresentado, segundo
interlocutores, pois está rece-
bendo o veto do Governador
Miguel Arraes, temeroso de
estender tanto assim o poder
do Presidente da República.
Enquanto João Goulart e o
seu cunhado não conseguem
implantar tão horrendo proje-
to, resta à Guanabara sofrer
com as retaliações em doses
homeopáticas e constantes.
Afinal, é necessário enfraque-
cer e perseguir, o máximo que
for possível e ―dentro da Lei‖,
as sentinelas das liberdades
democráticas que possuem
algum poder. Elo mais fraco
na tríade São Paulo / Minas
Gerais / Guanabara, resta à
esse último Estado aguentar
as bordoadas da trupe popu-
lista que governo o país.
____________________
Agricultores
em prejuízo
____________________
Os agricultores e comerci-
antes de várias partes do país
estão passando por graves
momentos e os rendimentos
advindos da produção de café
e de outros alimentos estão
momentaneamente abalados.
Fortes geadas ocorrem em
partes do país devastando
muitas plantações, sendo que
os maiores efeitos negativos
estão na produção do café. O
fato ocorre principalmente
em São Paulo, Norte do Para-
ná e no Sul deixando os agri-
cultores preocupados com as
lavouras e com a comerciali-
zação do produto. De acordo
com a meteorologia, a geada
ocorre quando uma tempera-
tura atinge 0°C sobre as su-
perfícies, o vapor da água em
contato com a superfície fria
passa para o estado sólido
deixando a vegetação com
aspecto esbranquiçado. Em
algumas regiões a temperatu-
ra está sete graus abaixo de
zero. Grandes prejuízos já
estão sendo esperados entre a
elite agrícola, estima-se que a
quebra da próxima safra de
café deve chegar a 50% no
Paraná. Este estado atual-
mente é um dos grandes re-
presentantes do produto, com
aproximadamente 1 bilhão e
350 milhões de cafeei-
ros.Segundo o IBC a safra
prevista para o Norte do Pa-
raná é de 250 bilhões de cru-
zeiros, no entanto se for con-
firmado os danos provocados
pela ação climática, o valor
arrecadado pode chegar a 100
bilhões de cruzei-
ros.Produtores de outros ra-
mos também sentem os efei-
tos das geadas.Comerciantes
de tomate, alfa-
ce,ervilha,vagem,cana e ou-
tros legumes precisarão en-
trar com medidas imediatas
para repor os prejuízos e
manter o fornecimento em
dia.O chefe do IBC Nelson
Maculan anunciou providên-
cias da parte do governo co-
mo a diversificação da lavou-
ra possibilitando o plantio de
algodão,soja,trigo,cereais e
trigo, o financiamento amplo
de órgãos oficiais e da rede
bancária particular e a adoção
da política de preços mínimos
nas fontes de produção.As
medidas visam a restituição
da produção e exportação dos
agricultores e a manutenção
de milhares de trabalhadores
rurais.O café desde o século
XIX, se tornou um importan-
te representante comercial do
país, mas abrirá espaço à no-
vas plantações, com a diversi-
ficação das lavouras.A redu-
ção imediata das safras tem
um significado negativo de
curto e longo prazo para as
finanças do governo federal e
tudo indica que a posição do
café brasileiro sofrerá leves
modificações no cenário
mundial.A estratégia de di-
versificação exige uma articu-
lação para alcançar a mão de
obra necessária para as novas
lavouras.A medida pode ser
bem sucedida para suprir a
lacuna que a falta do café po-
derá provocar na economia
brasileira, além de abrir espa-
ço para novos investimentos
agrícolas.
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 22
23 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 24
A economia brasileira nos momentos
finais do governo de João Goulart _____________________________________________________________
Após o breve governo Jâ-
nio Quadros e do governo
Juscelino Kubistchek, nota-
mos uma forte preocupação
com a alta inflação e déficit da
balança de pagamen-
tos,preocupação que leva ao
início de uma ruptura com a
política no governo anterior e
o retorno da política antinfla-
ção. Durante o início do go-
verno de João Goulart até
agora, o país apresentou su-
perávits em transações cor-
rentes, devido principalmen-
te, a redução das importa-
ções, consequência do desa-
quecimento do mercado in-
terno. No entanto, durante
mais da metade de seu gover-
no, até agora, a ocorrência de
sucessivos déficits correntes
contribuiu para ampliar o
desequilíbrio das contas ex-
ternas, pressionando o gover-
no contra os empresários,
ricos, alta e média sociedade
brasileira.O Produto Interno
Bruto (PIB), que nos seis anos
anteriores (1956-1961) havia
crescido em média 8,2% ao
ano, cresceu de 1962 até o
momento, em média 2,6% ao
ano. Por outro lado, a infla-
ção, medida pelo IGP-FGV
que havia registrado aumento
de 28,7% em 1960 se elevará
para mais de 90% ao final
1964, se tudo continuar como
está caminhando. Durante o
Governo Central, as contas
internas apresentaram déficit
durante todo o período e du-
rante os cinco anos do gover-
no de Juscelino Kubitschek
de Oliveira, esse déficit havia
ficado próximo de 2% do PIB.
Porém, o que nos preocupa
aqui é ver que as coisas não
estão melhorando, muito pelo
contrário, estão mesmo é pio-
rando. Já no atual governo de
João Goulart, o déficit das
contas públicas internas já
está quase alcançando a faixa
de 4% do PIB. Todos esses
números só nos levam a crer
que esse atual governo só
sabe ver a política econômica
de uma forma reduzida, só
sabe dar décimo terceira salá-
rio, dobrar os salários míni-
mo, só sabe ver economias
fechadas em um pequeno
ponto. Porém, ele parece que
não mede os efeitos que tais
medidas podem alcançar,
toma as decisões parece que
impulsivamente. Muitas es-
tratégias ruins podem ter a-
parências de ótimas, mas tu-
do está relacionado com tudo,
em se tratando de macroeco-
nomia. O principal monstro
brasileiro das últimas décadas
é a inflação, ela é o equilíbrio
mais complexo a ser ajustado
na economia. Em se tratando
de inflação temos que levar
todos os números financeiros
e econômicos em considera-
ção, não pode negligenciar
nenhum, pois assim no equi-
líbrio nunca estará no centro.
Temos muito com o que a-
Economia __________________________
25 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
prender com o ajuste fiscal e
inflacionário dos Estados U-
nidos e com a Inglaterra. Sa-
bendo desses problemas que
atormentam a economia bra-
sileira a décadas, e especial-
mente o seu governo, Jango e
seus ministros vêm, após al-
guns fracassos do João Gou-
lart de alavancar a economia,
o Presidente, juntamente com
o Ministro do Planejamento,
Celso Furtado, elaboraram o
Plano Trienal. Plano esse que
tem como objetivo conter a
inflação que, segundo prévias,
irá atingir próximo dos 80%
no final do ano e retomar o
crescimento do PIB para pró-
ximo de 7% ao ano, como de
governos anteriores, e pela
primeira vez iniciar um plano
de distribuição de renda. Esse
plano prevê ainda a reforma
agrária, reforma fiscal, refor-
ma educacional, reforma ban-
cária e a reforma eleitoral
para o país. Contudo, Goulart
vê como necessidade constan-
tes apelos a empréstimos in-
ternacionais, visando a sanar
a escassez de divisas do país,
o tornando cada vez mais
dependente de seus credores
externos, e cada vez mais
submisso a estes, no que se
refere a elaboração de políti-
cas econômicas de seu gover-
no. O plano tem por objetivo
aumentar a taxa de cresci-
mento e a baixa inflação do
país, e um dos grandes moti-
vos disso, segundo analistas,
é para satisfazer as exigências
do Fundo Monetário Mundial
(FMI) para a obtenção de
novos empréstimos interna-
cionais para o país, para pode
fazer uma nova renegociação
da dívida externa brasileira e
para possibilitar mais inves-
timentos. Será que será a se-
gunda vez que Jango tenta
―salvar‖ o país com medidas
populares, mas acaba sendo
engolido por elas. Lembre-se
de sua história: Jango dobrou
o salário mínimo dos traba-
lhadores, quando então Mi-
nistro do Trabalho no segun-
do governo de Getúlio Vargas.
O plano prevê um investi-
mento de 3,5 trilhões de cru-
zeiros para, com isso, aumen-
tar a renda per capita dos
brasileiros de US$323,00
para US$ 363,00 até 1965. O
governo calcula que, com is-
so, a indústria Brasileira irá
crescer 70% no próximo ano.
O governo explica que essa
meta, alta, mas possível, será
alcançado com metas setori-
ais, de, por exemplo, de 4,3
milhões de toneladas de lin-
gotes de aço até 1965, 190 mil
automóveis e 270 mil cami-
nhões e crescimento da capa-
cidade instalada geradora de
energia para 7.432.00 KW em
1965. Plano esse muito a
guardado por todas as donas
de casas, que nos últimos
anos vem sentindo os preços
das mercearias subirem mui-
to rapidamente. As conse-
quências da inflação atingem
todos. Os homens têm que
trabalhar mais, suas esposas
passam a comprar menos e
seus filhos passam a comer
menos. Funcionários de mer-
cados já começam a dar pre-
ços diariamente para seus
produtos e o homem do leite
já anunciou seu preço de um
cruzeiro até dos duzentos
cruzeiros em relativamente
pouco tempo (do jeito que
anda as coisas até seu jegue
aprende a contar). Entretanto
um receio desse novo plano
não dar certo fica no ar. Al-
guns movimentos sociais co-
mo a União Nacional dos Es-
tudantes (UNE) e já estão se
movimentando para protestar
para o fim da exclusão social
e do analfabetismo. Dentro
desse movimento alguns
membros da Igreja Católica
também já estão se mostran-
do contra o governo e se jun-
tando com os estudantes em-
protestos com orientações
socialistas.
Já na agricultura do atual
governo, ela ainda está base-
Sentados à mesa: Miguel Arraes, João Goulart e Darcy Ribeiro. De pé ao lado de João Goulart, Celso Furtado.
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 26
ada em formas arcaicas de
produção, o que causa um
entrave ao desenvolvimento
estável do Brasil. Nosso mo-
delo latifundiário exportador
se mostra menos produtivo
que a produção em lotes mé-
dios e se mostra mais resis-
tente a introdução de novas
técnicas mais modernas de
produção, o que muitas vezes
pode inviabilizar a ampliação
do excedente rural, comenta
especialistas agrícolas. Perce-
bendo um gargalo institucio-
nal, os estruturalistas defen-
dem algumas reformas de
base como a única alternativa
para a retomada do cresci-
mento livre da aceleração
inflacionária, dentre elas a
reforma agrária, que visa di-
namizar o campo. Dentre as
medidas também são men-
cionadas a reforma tributária,
para ampliar as receitas pú-
blicas, e o controle das remes-
sas de lucro, para arrefecer a
incapacidade de importação.
Acredita-se, os estruturalis-
tas, que estas reformas unirão
os setores progressistas da
nação, a indústria e os traba-
lhadores, contra os setores
arcaicos dos grandes latifun-
diários. As coisas acontecem
rápido hoje no país. Pessoas
ganham ou perdem direitos
de uma semana para a outra.
Enquanto os trabalhadores se
reúnem na Confederação Na-
cional dos Trabalhadores na
Indústria e o Pacto de Unida-
de e Ação, de caráter inter-
sindical e eles conseguiram
um salário por ano a mais,
agora ganhando 13 salários
por ano, isso os trabalhadores
urbanos. E enquanto traba-
lhadores rurais realizam o 1º
Congresso Nacional de La-
vradores e Trabalhadores
Agrícolas, em Belo Horizonte,
Minas Gerais, exigindo a re-
forma agrária e a Consolida-
ção das Leis de Trabalho
(CLT). Com isso muitas ligas
camponesas estão se trans-
formando em sindicatos ru-
rais. Enquanto esses traba-
lhadores ganham direito, os
empresários só perdem! O
Presidente continua imple-
mentando medidas de caráter
nacionalista e desagradando
os empresários, como por
exemplo, limitar a remessa de
capital para o exterior, nacio-
nalizar empresas de comuni-
cação e decidir rever as con-
cessões para explorações de
minérios no país. Toda vez
que a presidência toma esse
tipo de medida a retaliação
estrangeira, especialmente a
americana, são rápidas. É
esperado com isso que o go-
verno e empresas privadas
norte-americanas cortem o
crédito para o Brasil e inter-
rompam as negociações da
dívida externa, o que torna
cada vez mais o governo de
Jango contraditório. Cria o
Plano Trienal para possibili-
tar mais crédito internacional
e, por outro lado, cria medi-
das que limitariam o crédito
internacional, por motivos de
medidas nacionalistas.
Como já estamos acompa-
nhando há algum tempo, é
cada vez mais crescente a
aproximação do Presidente
para com os países de regime
comunistas. Lembre-se, que
inicialmente, no governo de
João Goulart, ele manteve
uma política externa inde-
pendendo da atual polariza-
ção mundial (capitalismo x
comunismo). Entretanto,
passando os instantes iniciais
de seu governo, o senhor Pre-
sidente reatou as relações
diplomáticas com a União das
Repúblicas Socialistas Sovié-
ticas (URSS), que estava
rompida desde o ex-
presidente Dutra. Também
não devemos esquecer que
Jango se manifestou contrá-
rio às sanções impostas ao
governo cubano e recusou-se
a apoiar a invasão a Cuba,
proposto pelo presidente a-
mericano Kennedy. Felizmen-
te Jango dá um sinal de luci-
dez criticando o regime políti-
co cubano e vai para Havana
atuar, a pedido dos Estados
Unidos, como mediador,
mostrando a preocupação
brasileira com a instalação de
mísseis soviéticos em Cuba.
Porém, já em dezembro de
1962, Jango destaca a criação
do Grupo de Coordenação do
Comércio com os Países Soci-
alistas da Europa Oriental
(COLESTE) e o decreto que
estabeleceu medidas para a
formação da Zona de Livre
Comércio, instituída pela As-
sociação Latino-Americana de
Livre Comércio (ALALC),
organização que nasceu com
o Tratado de Montevidéu, em
1960.
Os planos de Goulart para
até o final de seu mandato
inclui que ricos fazendeiros
doem parte de suas terras
para quem não tem como
pagar! Isso significa que ago-
ra não precisamos mais tra-
balhar para termos as coisas,
poderemos ficar atoa que o
Presidente Joãozinho irá ar-
rancar de quem tem para nos
dar? O Presidente está tão
louco com suas ideias comu-
nistas que está marcado para
o dia 13 de março a realização
de um comício em frente à
Estação Central do Brasil, no
27 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
Rio de Janeiro. O governo
espera nesse comício um pu-
blico de trezentas a trezentas
e cinquenta mil pessoas para
ouvirem Jango dar o Brasil
para os pobres. Segundo ana-
listas, Jango irá decretar a
nacionalização das refinarias
privadas de petróleo e a desa-
propriação de propriedades
às margens de ferrovias, ro-
dovias e zonas de irrigação de
açudes públicos. Imediata-
mente após essas notícias os
militares posicionaram-se
incisivamente contra os pla-
nos de Jango e o clima entre
os militares e o governo está
cada vez mais piorando. Os
militares já começam a dizer
que é preciso impor uma ma-
nutenção da legalidade e da
restauração da ordem.
Analistas chamam a aten-
ção da alta do preço dos ali-
mentos para a grande atenção
dada pelo governo para os
problemas urbanos e pouco
para os problemas rurais.
Completa dizendo: tanto é
verdade que já podemos ob-
servar a falta de produtos
alimentares em várias regiões
do país. Outro problema para
essa estratégia governamental
é o crescente inchaço de cida-
des já grandes, como São
Paulo e Rio de Janeiro, e um
crescente encolhimento da
região nordestina. Com esses
problemas já podemos obser-
var a crescente insatisfação da
população com a atual reali-
dade de nosso país e os mili-
tares soltam o verbo em ata-
car o governo e diz tentar a
ajudar. Outra característica
marcante da estagnação eco-
nômica em que vivemos ulti-
mamente é percebida pelo
descontrole das contas publi-
cas e externa. Neste sentido, a
existência de déficits em tran-
sações correntes apresenta
forte empecilho à continuida-
de do processo de desenvol-
vimento do país, pois, impos-
sibilita a ampliação das im-
portações de bens-de-capital
e de insumos para a indústria
nacional.
Está marcada para o dia
19 de março em São Paulo a
Marcha da Família com Deus
pela Liberdade. Atônitos com
o desequilíbrio brasileiro, os
manifestantes pedirão a Deus
e aos militares que salvem o
Brasil do perigo comunista,
presente na figura de Jango.
E para piorar o clima en-
tre os militares e a presidên-
cia, tem o fato das estatiza-
ções recentemente feito por
Leonel Brizola das companhi-
as telefônicas e de energia do
Rio Grande do Sul, que per-
tenciam a grupos dos Estados
Unidos. Brizola denunciou
um acordo de indenização
fraudulenta feito com as
companhias dos EUA, quatro
antigas proprietárias das es-
tatais recém-criadas do Rio
Grande do Sul. O ministério
caiu e o acordo foi suspenso,
desagradando aos Estados
Unidos.
Outro problema para
Goulart enfrentar é a ameaça
de rebelião dos sargentos em
Brasília. Eles querem o direi-
to de se candidatar a cargos
eletivos. O alto escalão das
Forças Armadas já se posicio-
nou que isso seria uma severa
ameaça à hierarquia militar.
Os militares não estão muito
insatisfeitos com algumas
condutas de Jango, como, a
de ele apoiar algumas mani-
festações de insubordinação
dos marinheiros e soldados
contra o alto comando mili-
tar, ameaçando a hierarquia
militar.
E no meio de tanta confu-
são política, diplomática e
econômica, aconteceu, na
última semana, uma situação
diplomática embaraçosa, na-
vios franceses foram apreen-
didos pescando lagostas sem
autorização em território bra-
sileiro. Em resposta as apre-
ensões, o general e presidente
Charles de Gaulle mandou
seu navio de guerra Destrói-
erTarto, para o largo Fernan-
do de Noronha, na costa bra-
sileira. Contudo, apensar da
inicial ímpeto agressivo fran-
cês, eles não negam que são
franceses e não gostam de
guerra ou conflito, retirando-
se então do território brasilei-
ro. E por enquanto parece que
não será dessa vez que irá
acontecer a Guerra da Lagos-
ta.
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 28
29 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 30
ARGENTINA:
Arturo Illia, apóstolo dos pobres _________________________________________________________
Como bons expectadores,
acompanhamos durante todo
o mês passado as eleições
presidências de nossos ir-
mãos argentinos. As eleições
ocorreram no dia 7 de julho,
sendo eleito Arturo Umberto
Illia, candidato da União Cívi-
ca Radical do Povo. Mesmo
partido de seu xará, Arturo
Frondizi, deposto em março
de 1962, quando foi vítima de
um golpe militar. No dia 12
do mês anterior, após assumir
os governo,Illia realizou um
ato comemorativo pelo 17 de
outubro na Praça Miserere,
sem nenhuma limitação. Co-
mo primeiras medidas toma-
das, Illiarevogou as restrições
eleitorais, habilitando a parti-
cipação do peronismo nas
atividades políticas, outrora
proibida. Também revogou a
proibição ao Partido Comu-
nista e se promulgou penali-
dades à discriminação e vio-
lência racial. O novo presi-
dente eleito inicia seu manda-
to fazendo importantes mu-
danças no âmbito político.
Devemos portanto consi-
derar que o governo exercido
por Arturo Frondizi, consistiu
na política econômica de de-
senvolvimentismo. Julgando
ser a industrialização de ex-
trema importância, redun-
dando, em teoria, na diminui-
ção do abismo existente entre
os países desenvolvidos e os
subdesenvolvidos. Resta sa-
ber, outrossim, seIllia seguirá
os mesmos passos de seu an-
tecessor, ou como agirá pe-
rante as necessidades econô-
micas e políticas do país. Mas
sabemos que é boa sua ima-
gem perante os pobres argen-
tinos.
Arturo Umberto Illia
(1900-) cursou medicina em
1918 na Faculdade de Medici-
na da Universidade de Bue-
nos Aires, graduando-se em
1927. Sua experiência política
consiste nos anos três anos
(1940-1943) em que foi vice-
governador de Córdoba. Onde
também atuou como médico
por muitos anos. Seu altruís-
mo e amor à profissão ficam
evidentes quando conhece-
mos alguns de seus atos. Sua
fama lhe trouxe o apelido de
Apóstolo dos Pobres, apelido
justificado por sua dedicação
aos doentes sem recursos,
viajando a cavalo, ou mesmo
a pé, para suprir pessoas po-
bres com medicamentos, com
dinheiro proveniente do seu
próprio bolso.
__________________________ Internacional
31 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
INGLATERRA:
O assalto ao trem “pagador”
inglês surpreende a todos _______________________________________
Em 8 de agosto, 15 assal-
tantes levaram de um trem
postal – na Inglaterra – a
fabulosa quantia de 2.631.784
libras esterlinas.O assalto ao
trem pagador envolveu 15
indivíduos, que escapam num
caminhão que havia pertenci-
do ao exército britânico e em
dois veículos Land-Rovers
que acredita-se ter sido rou-
bado as vésperas.
Aparentemente inspirado
nos filmes de roubos em es-
tradas de ferro do Velho Oes-
te nos Estados Unidos, 15
homens tomaram de assalto
um trem do Correio Real que
se dirigia de Glasgow, Escócia
para Londres, Inglaterra. Ao
descobrirem que esse trem do
correio recolhia os depósitos
de bancos da Escócia e os
levava para a capital inglesa.
Eles estudaram a rota e os
horários da locomotiva, esco-
lheram a dedo a data do cri-
me: o dia seguinte a um feria-
do bancário, quando o trem
carregara os depósitos de dois
dias.
Aproximadamente às 3 e
meia da manhã, o trem que
pertencia à categoria dos
trens fantasmas 54-B, cujos
horários eram desconhecidos
do público, passava por uma
região conhecida como Sears
Crossing a 64 km de Londres.
O maquinista Jack Mills, 58
anos, avistou o sinal de perigo
no poste de sinalização da
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 32
estrada de ferro quando se
aproximava da passagem de
nível, e freou a locomotiva
diesel que rebocava nove
vagões. O ajudante David
Whitby, de 26 anos, saltou do
trem a fim de utilizar o
telefone de emergência ali
instalado, quando se deu
conta de que os fios haviam
sido cortados, e que o sinal
verde do sistema de
segurança estava ligado, mas
encoberto por uma luva de
couro.
Ao serem dominados pelos
assaltantes, sob ameaça de
morte. O maquinista e seu
ajudante foram então
algemado juntos, enquanto
eram desconectados da
locomotiva todos os vagões
exceto o primeiro e o
segundo, todo isso no mais
completo silêncio.
O maquinista foi obrigado a
movimentar a locomotiva
com os dois primeiros vagões
apenas, até cerca de um
quilômetro de distância, onde
uma ponte ferroviária
passava sobre a rodovia. Ali,
com o pessoal do trem e do
correio amarrados no
primeiro vagão, os
assaltantes,mascarados com
meias de mulher, lançaram
para dentro de dos caminhões
todos os volumes que
estavam no segundo vagão. A
operação foi completada a-
proximadamente em 15
minutos.
Os assaltantes
desapareceram na escuridão.
Quando os guardas dos
outros sete vagões, que
haviam sido deixados na
passagem de nível, chegaram
a pé pelo leito da estrada para
perguntar o que havia
acontecido, encontraram os
companheiros ainda
amarrados. Investigadores
ingleses mantem sob sigilo as
investigações e nada ainda
sobre a identidade dos assal-
tantes foi divulgado.
ESTADOS UNIDOS:
Andando na corda-bamba _____________________
O JFK é o 35º presidente
americano, embora passe por
um período de complicações
em sua política externa, tem
grande apoio do Congresso
nos assuntos internacionais.
Mas seu maior desafio é a
questão social.
Nos últimos anos os Esta-
dos Unidos tem sofrido per-
das no âmbito internacional.
No mês passado os generais
sul-vietnamitas deram um
golpe de Estado contra o seu
presidente Ngo Dinh Diem,
aliado dos EUA o que preju-
dica ainda mais a Diplomacia
americana. Jonh F. Kennedy,
que em seus dois anos de go-
verno já sofreu com a Crise
dos Mísseis (1962), a derrota
na Baía dos Porcos (1961), e a
construção do Muro de Ber-
lim (1961) tem que enfrentar
uma forte oposição para levar
adiante algumas de suas pro-
postas. Defensor da causa das
minorias e do papel de cada
cidadão no seu país sofre ob-
jeção à política econômico-
social, principalmente da elite
conservadora.
Eventos da maior impor-
tância acontecem durante sua
presidência. Sua política soci-
al leva a sociedade americana
discutir a desigualdade entre
negros e brancos, a condição
feminina entra nas preocupa-
Presidente Kennedy no dis-curso à nação sobre os Direitos Civis, 11 de Junho de 1963.
"Não pergunte o que seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer por seu pa-ís". Com essa frase emblemática o Presidente JFK tomou posse em 1961.
33 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
ções dos políticos, o governo
federal se esforça para esten-
der a assistência médica dos
pobres às pessoas com mais
de 65 anos de idade. E é no
sul do país, onde a tensão
racial é mais delicada, que
Kennedy decidiu intervir pes-
soalmente para garantir os
direitos civis da população
negra. Programa encontros
com empresários, industriais
e fazendeiros da região para
demovê-los da resistência às
suas decisões que geram ex-
plosões de violência.
Economia
Kennedy encerrou um pe-
ríodo de políticas fiscais rigo-
rosas. A política monetária
diminuiu para manter as ta-
xas de juros baixa e estimular
o crescimento da economi-
a. JFK foi o primeiro presi-
dente a quebrar o recorde de
US$ 100 bilhões de dólares
no orçamento em 1962 e seu
primeiro orçamento em 1961
levou ao primeiro déficit or-
çamentário sem guerra ou
recessão na história do país. A
economia voltou a prospera
com o governo Kennedy.
O PIB cresce a uma média de
5,5%, enquanto a inflação
permanece estável em torno
de 1% e o desemprego come-
çou a diminuir. A produção
industrial cresceu em 15% e
as vendas de automóveis de-
ram um salto de 40%.
Defensor da paz
O presidente John F. Ken-
nedy denunciou abertamente
as sociedades secretas que,
segundo ele, dominam e ma-
nipulam secretamente o go-
verno, ele mostra de forma
honrosa ser totalmente contra
essas sociedades e disse que
iria fazer o que pudesse para
proteger o povo americano.
Kennedy articula um acordo
com a União Soviética para
por a proliferação de armas
nucleares, o que desaceleraria
a corrida armamentista. Com
a Aliança para o Progresso e
as Peace Corps (força da paz),
Kennedy emprega o idealismo
americano na ajuda aos paí-
ses em desenvolvimento.
Sua luta por direitos civis,
pelo fim da corrida armamen-
tista e contra as sociedades
secretas, leva o Presidente a
entrar em conflito com pesso-
as do mais alto escalão do
Governo, empresários e go-
vernantes de outros países.
Quais podem ser as conse-
quências de atitudes tão ou-
sadas em períodos onde a paz
e a guerra estão separadas
por uma linha tão tênue?
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 34
35 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 36
Fim de uma era no Vaticano: a traje-
tória de João XXIII junto ao papado _______________________________________
Nascido no dia 25 de No-
vembro de 1881, numa famí-
lia de camponeses, Angelo
Giuseppe nome de batismo
do Papa João XIII; foi o quar-
to de treze irmãos em Sottoil
Monte, diocese e província de
Bérgamo (Itália). O clima
religioso da família e a fervo-
rosa vida paroquial foram a
primeira escola de vida cristã,
que marcou a sua fisionomia
espiritual.Ingressou no Semi-
nário de Bérgamo, onde estu-
dou até ao segundo ano de
teologia. Ali começou a redi-
gir os seus escritos espiritu-
ais. No dia 1 de Março de
1896, o seu diretor espiritual
admitiu-o na ordem francis-
cana secular, cuja regra pro-
fessou em 23 de Maio de
1897.
Aprofundou-se no estudo
de três grandes pastores: São
Carlos Borromeu, São Fran-
cisco de Sales e o então Beato
Gregório Barbarigo. Em 1915,
quando a Itália entrou em
guerra, foi chamado como
sargento sanitário e nomeado
capelão militar dos soldados
feridos que regressavam da
linha de combate. No fim da
guerra abriu a "Casa do estu-
dante" e trabalhou na pasto-
ral dos jovens estudantes. Em
1921 teve início à segunda
parte da sua vida, foi chama-
do a Roma por Bento XV co-
mo presidente nacional do
Conselho das Obras Pontifí-
cias para a Propagação da Fé.
Em 1925, Pio XI nomeou-o
Visitador Apostólico para a
Bulgária e elevou-o à digni-
dade episcopal da Sede titular
de Areopolis.
Em 1944 Pio XII nomeou-
o Núncio Apostólico em Paris.
Depois da morte de Pio XII,
foi eleito Sumo Pontífice a 28
de Outubro de 1958 e assu-
miu o nome de João XXIII. O
seu pontificado, que durou
menos de cinco anos, apre-
sentou-o ao mundo como
uma autêntica imagem de
bom Pastor. O seu magistério
foi muito apreciado, sobretu-
do com as Encíclicas "Pacem
in terris" e "Mater et magis-
tra". Convocou o Sínodo ro-
mano, instituiu uma Comis-
são para a revisão do Código
de Direito Canónico e convo-
cou o Concílio Ecuménico
Vaticano II. O objetivo do
Concílio é discutir a ação da
Igreja nos tempos atuais, a
sua finalidade é "promover o
Geral __________________________
37 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
incremento da fé católica e
uma saudável renovação dos
costumes do povo cristão, e
adaptar a disciplina eclesiás-
tica às condições do nosso
tempo" e do mundo moderno.
O Papa João XXIII "imagina-
va o Concílio como um novo
Pentecostes; uma grande ex-
periência espiritual que re-
constituiria a Igreja Católica"
não apenas como instituição,
mas sim "como um movimen-
to evangélico dinâmico.
Por esta razão, ao contrá-
rio dos concílios ecuménicos
anteriores, preocupados mais
em condenar heresias e em
definir verdades de fé e de
moral, o Concílio Vaticano II
"tem como orientação fun-
damental a procura de um
papel mais
Participativo para a fé ca-
tólica na sociedade, com a-
tenção para os problemas
sociais e econômicos". O pró-
prio Papa João XXIII teve o
cuidado de mencionar a dife-
rença e a especificidade deste
Concílio: "a Igreja sempre se
opôs a erros; muitas vezes até
os condenou com a maior
severidade. Agora, porém, a
esposa de Cristoprefere usar
mais o remédio da misericór-
dia do que o da severidade.
Julga satisfazer melhor às
necessidades de hoje mos-
trando a validez dasua dou-
trina do que renovando con-
denações".
O povo viu nele um reflexo
da bondade de Deus e cha-
mou-o "o Papa da bondade".
Sustentava-o um profundo
espírito de oração, e a sua
pessoa, iniciadora duma
grande renovação na Igreja.
Encerrou sua carreira na tar-
de do dia 3 de Junho de 1963,
quando faleceu deixando um
belo legado de tolerância e
misericórdia.
______________________________________________
O homem com dois corações
poderá tornar-se realidade Pierre DEVAUX – Exclusivo para a FOLHA
________________________________________________
PARIS, junho – O coração
humano, essa bomba pre-
mente cujo trabalho continua
sem parar durante dezenas de
anos – e cujo mínimo desfale-
cimento nos seria fatal – ain-
da não acabou de espantar
fisiólogos e engenheiros. O
coração não é apenas ―corre-
to‖ e automático, mas sabe
também compensar suas fa-
lhas pessoais; são numerosos
homens de hoje que vivem
efetivamente com um coração
defeituoso, miraculosamente
consertado por si mesmo.
Não se conhece muitos moto-
res de automóveis, ou ins-
trumentos de laboratório, que
fossem capazes de realizar
uma façanha dessas.
Extraído do corpo de um
animal recém-morto, o cora-
ção continua a pulsar, as ve-
zes durante horas se for colo-
cado em condições favoráveis.
Que significa esse fenôme-
no macabro? Simplesmente
que o coração dispõe de ga-
nhos de comando automático,
que se encarrega de armar as
contrações do tecido miocár-
dico. Evidentemente, é possí-
vel agir sobre esse sistema
nervoso local, que se acha
colocado estreitamente sob o
domínio da circulação coro-
nária (nas artérias externas
do coração) para comandar
artificialmente as pulsações.
Todo músculo vivo se contrai
quando é submetido a uma
excitação elétrica. Esse é o
fato básico, conhecido há 2
séculos, e sobre o qual se ba-
searam dois médicos do Hos-
pital Maimonides do Broo-
klyn, para ―construir‖ real-
mente um segundo coração
na aorta de um cão.
Bobinas
Para isso, retiram o dia-
fragma, isto é, a larga mem-
brana transversal respiratória
de um primeiro cão, com o
auxilio desse musculo, fabri-
cam uma espécie de luva, que
é colocada em redor da aorta
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 38
de um segundo cão. Dois ele-
trodos inoxidáveis e inipolari-
zaveis são implantados nesse
saco e ligados a uma pequena
bobina que permanece inclu-
sa – esse é o ponto caracterís-
tico do método – no interior
dos tecidos fechados e cicatri-
zados.
Sabe-se que a aorta é um
grande vaso contrátil, a prin-
cipal artéria de nosso corpo,
que recebe o oxigênio ao sair
do coração e contribui a
mandá-lo, por suas contra-
ções próprias, para as artérias
mais afastadas.
Suponhamos agora que se
lance uma brusca corrente
elétrica, não para a bobina
interior, já agora inacessível,
mas para uma segunda bobi-
na disposta paralelamente ao
exterior, sob a pele do animal.
O conjunto forma, apesar da
distancia relativa das duas
bobinas, um verdadeiro
―transformador‖: por outras
palavras, o estabelecimento
ou a interrupção da corrente
―primaria‖ realizada na bobi-
na exterior se traduzirá es-
pontaneamente na geração de
uma corrente ―secundaria‖ na
bobina interior.
O resto pode-se adivinhar:
essa corrente, ao chegar às
extremidades dos eletrodos,
vai provocar a contração do
saco artificial diafragmático,
exercendo uma pressão breve
e ritmada sobre a aorta, para
ajudá-la no seu trabalho de
refluxo... Uma pura maravi-
lha de eletrônica e de fisiolo-
gia.
Coração artificial “total”
Será tudo? Ainda não.
Ritmar as pulsações evi-
dentemente não é difícil; bas-
ta um regulador de laborató-
rio, ou mesmo um tubo de
descarga semelhante aos que
usam em alguns sinais lumi-
nosos. Mas é necessário, im-
perativamente, que esse ritmo
coincida com o ritmo cardíaco
natural do animal. Aqui ocor-
re um maravilhoso fenômeno
natural, inverso dos prece-
dentes: a geração de fracos
potenciais elétricos para um
coração normal, fenômeno
que serve de base, hoje, para
a tomada dos cardiogramas.
Em cada pulsação de nosso
coração (natural), a metade
de nossa pessoa se eletriza
positivamente, e a outra ne-
gativamente, passando a li-
nha de separação em obliquo
por nossa pessoa. Sem duvida
esse efeito elétrico é mínimo,
mas hoje se sabe ampliá-lo
consideravelmente, com o
auxilio de tubos eletrônicos
tendo em vista obter grava-
ções reveladoras do funcio-
namento de nosso musculo
cardíaco.
Concebe-se que essas fra-
cas eletrizações produzidas
pela pulsação autentica do
coração possam, graças a um
pequeno aparelhamento exte-
rior, comandar eletronica-
mente a bobina n.⁰ 1; está
reagirá, por sua vez, sobre o
coração n.⁰ 2, a fim de provo-
car a preciosa contração auxi-
liar no momento preciso em
que o organismo dela tiver
necessidade. O funcionamen-
to do ―coração supranumerá-
rio‖ será assegurado, assim,
nas melhores condições fisio-
lógicas possíveis... enquanto,
evidentemente, não houver
desarranjo no aparelho.
Poderemos ir ainda mais
longe? É difícil dizê-lo neste
momento. O que os cirurgiões
nova-yorkinos fizeram foi
suprimir a perigosa passagem
de condutores através da pele
e da carne: sob nenhum pre-
texto se deve perfurar a deli-
cada ―barreira asséptica‖ ao
longo da qual tumores e gló-
bulos brancos montam guar-
da contra os micróbios, em
redor de nosso corpo.
Os progressos dos plásti-
cos, aliás, possibilitaram múl-
tiplas aplicações cirúrgicas
com inclusão de corpos estra-
nhos, bem toleradas pelos
tecidos. Sem duvida a cons-
trução de um coração artifici-
al completo de plástico, hoje,
ainda é inadmissível: parece
porem, que estamos cami-
nhando para uma espécie de
―cooperação‖ cada vez mais
estreita entre a natureza e o
―artificial‖ no domínio do
coração.
39 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
_____________________________________________________
Novos estudos sobre o câncer
Prof. Walter C. ALVAREZ – Da Clinica Mayo
______________________________________________________
Informações divulgadas
pelo instituto Sloan-Kettering
de Nova York, revelam-nos
fatos interessantes sobre o
câncer. Como era esperado,
os ratos, ao envelhecer, per-
dem sua resistência ao câncer
transplantado. Por outro la-
do, a incidência de tumores
malignos espontâneos nos
ratos idosos também aumenta
de maneira acentuada.
O mesmo fenômeno é ob-
servado no homem, no qual o
câncer de certo tipo jamais
aparece antes dos 40 anos de
idade. Como digo frequente-
mente, as pessoas idosas de-
vem ser examinadas anual-
mente, a fim de que o medico
verifique com segurança se
não há algum tumor cancero-
so se desenvolvendo em al-
guma parte do seu corpo.
Atualmente os pesquisado-
res dispõem de numerosas
drogas denominadas carcino-
genias – isto é, substancias
químicas que, se forem fric-
cionadas repetidamente sobre
a pele ou injetar no corpo de
um animal, poderão produzir
câncer. Recentemente, desco-
briu-se que os carcinogénios
podem modificar os cromos-
somos das células. Os cro-
mossomos anormais podem
produzir células anormais, e
estas podem provocar um
câncer.
Por outro lado, confirmou-
se a antiga teoria de que os
vírus, embora, por si sós, não
produzam câncer, poderão
acelerar o aparecimento de
tumores malignos em animais
que tenham tomado um car-
cinogénio. As pesquisas reali-
zadas com vírus e carcinogé-
nios poderão explicar nume-
rosos enigmas relacionados
com o desenvolvimento do
câncer. Além disso, enche-nos
de esperança a descoberta de
substancias que são capazes
de retardar ou deter o desen-
volvimento de células can-
cerosas em culturas de teci-
dos.
____________________
Matéria-prima para in-
dústria farmacêutica
__________________
O Sr. Carlos Veiga Soares,
vice-presidente da Associa-
ção Brasileira da Indústria
Farmacêutica. Informou on-
tem que será realizada no
Rio, entre 23 e 25 de agosto
próximo, a I Reunião Setorial
da Indústria Química Farma-
cêutica da Associação Latino-
americana de Livre Comércio
— ALALC — paralelamente à
II Conferência Interamerica-
na da espécie. Salientou que
dos conclaves deverão parti-
cipar cerca de 600 represen-
tantes de Indústrias do ramo,
nacionais, dos países inte-
grantes da ALALC, e de al-
guns outros interessados na
instalação de fábricas de ma-
térias primas na América
Latina. Explicou que o Brasil,
apesar de possuir posição de
liderança na Indústria farma-
cêutica do continente, muito
lucrará com a realização da
Conferência e da Reunião
Setorial e, ainda mais, com a
instalação das fábricas de
matéria-prima, pois está im-
portando, anualmente, cerca
de 30 milhões de dólares da-
queles produtos.
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 40
41 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 42
______________________________________________________
O futuro da escrita: o advento das
máquinas de escrever elétricas ______________________________________________________
Atingindo a todas as ex-
pectativas, a fabricante italia-
na de máquinas de escrever
Olivetti,fundada em 1908, na
cidadade de Ivrea, na
província de Turim, região do
Piemonte, conquistou a admi-
ração do público brasileiro, e
lança esse ano seu mais novo
modelo que promete ser o
novo xodó de jornalistas; es-
tudantes; ou simplesmente
daqueles que apreciam a
arte de elaborar diversos tex-
tos por meio da datilografia.
Com design arrojado a Oli-
vetti LETTERA 32 vem ofere-
cer, assim como toda Olivetti,
uma boa mecânica para o
instrumento fazendo com que
falhas ou dificuldade no ma-
nuseio sejam as menores pos-
síveis. Contudo, sua maior
particularidade que virá de
certo agradar é o capricho no
fator portabilidade e estética
com um novo modelo de esto-
jo para seu transporte e um
acabamento bem mais elabo-
rado que modelos anteriores.
Porém, não se pode negar que
de fato a tão esperada novi-
dade italiana, para esse ano
de 1963, trata-se apenas de
uma versão parecidíssima de
sua antecessora Olivetti LET-
TERA 22, lançada em
1949pelo mesmo Designer
Marcello Nizzoli. O sucesso
do modelo de 1949 foi inegá-
vel, seu nível de popularidade
e aceitação atingiu a todas as
expectativas de vendas plane-
jadas pela empresa, contudo,
esse ano, oferecendo, de certa
forma, mais do mesmo a Oli-
vetti terá que contar com a
paixão do consumidor por
esse modelo e linha de má-
quinas de escrever para man-
ter seu ápice, já que não apre-
senta grandes inovações.
Entretanto, será que não
se pode acreditar que a falta
de mudanças no modelo não
significa que a empresa tem
trabalhado e se dedicado a
atingir uma nova tecnologia?
Os mais otimistas dizem que
sim!
Acontece meu caro leitor,
que no dia 7 de maio de 1957,
a indústria apresentou na
Feira de Equipamentos de
Escritório, em Hannover, a
primeira máquina de escrever
elétrica. E depois disso, todos
os fabricantes tem se
empenhado para alcançar
essa inovação que promete
facilitar enormemente o
trabalho dos datilógrafos. E
nós do Vida Moderna
apresentamos um pouco do
que se espera dessa inovação
em primeira mão a você!
Quem por prazer ou por
necessidade passa horas e
horas datilografando em mo-
delos mecânicos de máquinas
de escrever, certamente sente
o quanto é exaustivo fazê-lo e
quão grande é o desgaste físi-
co empenhado. Em duas ho-
ras, certamente um iniciante
em datilografia sentirá certo
desconforto e incômodo nos
braços e aos mais acostuma-
dos com o manuseio também
sobram queixas pelo uso pro-
longado. Até mesmo os mo-
delos mais recentes de má-
quinas exigem esforço para
43 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
bater nas teclas,mudar de
minúsculas para maiúsculas e
recuar o carro. A boa notícia é
que no modelo elétricotodas
essas funções passarão a ser
executadas por um simples
toque de tecla! Datilografar se
tornará mais suave, com
toques expressivamente mais
leves escrever por horas será
menos cansativo. Estudos
realizados comprovam que a
força empregada no uso de
uma máquina de escrever
elétrica corresponde a apenas
1,4% do esforço feito numa
máquina mecânica. Com a
levesa para digitar, a
velocidade também é um
fator favorável à nova
máquina, prometendo dobrar
em até 50% a produção dos
datilógrafos, lhes
economizando tempo e
energia. Além disso, o novo
equipamento é bem mais
silencioso, proporcionando
menos incômodo e mais
privacidade também, afinal,
ninguém precisa saber
quando se está escrevendo
algo.
Toda essa facilidade e
avanço tecnológico, porém,
ainda demorará a estar
presente em modelos de
máquinas de escrever de valor
mais acessível para boa parte
da população. E ter em casa a
novidade parece ainda algo
distante, mas entendamos
que um longo caminho foi
percorrido desde a primeira
máquina de escrever
mecânica até esta que vos
apresento. Cada avanço foi
crucial para que se atingisse o
sucesso e a popularidade da
máquina de escrever, e com o
empenho das empresas para
perpetuar tal popularidade de
acordo com a tecnologia, logo
a paixão de datilograr será
alimentada por esses novos
modelos elétricos.
E pra você, que
acompanha o Vida Moderna
e tem grande interesse por
tecnologia e seu avanço,
apresentaremos na próxima
edição a história completa da
máquina de escrever desde
sua criação,com altos e
baixos, até chegar a
popularização atual. Não
perca! E esteja por dentro da
Vida Moderna.
______________________________________________________________
Brasil no trono da beleza mundial ______________________________________________________________
O título mais cobiçado do
mundo foi conquistado pela
linda gaúcha, Ieda Maria Var-
gas, eleita Miss Universo em
Miami Beach, Flórida, Esta-
dos Unidos. Leda é a primeira
brasileira a se tornar Miss
Universo, derrotando 49 mis-
ses de outros países. Miss
Dinamarca, Miss Filipinas,
Miss Alemanha, Miss Irlanda
estavam entre as favoritas,
porém, Ieda com seus lindos
olhos negros e um belo sorri-
so cativou um dos jurados, o
ator britânico Peter Sellers,
que acabou lhe dando nota
máxima em suas três
sentações, garantindo assim,
a vitória. Recebeu a coroa e a
faixa das mãos da Miss Uni-
verso 1962, a argentina Nor-
ma Nolan. Após a coroação, a
rainha da beleza declara:
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 44
―Só posso dizer que me
sinto muito feliz...‖
Após o concurso, no baile
de coroação, Ieda fez sua
primeira dança em público,
com o ator Dana Andrews.
Segundo ela foi uma honra ter
como acompanhante um ator
tão venerado. Contudo, a co-
municação entre ambos foi
complicada, já que Leda não
fala o idioma do ator ameri-
cano e ele não compreende o
português. Vale lembrar, que
no baile foram tocados os
ritmos mambo, samba e rum-
ba.
Ieda Maria Vargas nasceu
na capital gaúcha e conquis-
tou vários títulos. Aos 17 anos
e com 1,70 m de altura, 90 cm
de busto, 60 cm de cintura e
90 cm de quadril, conquistou
o título de Rainha das Pisci-
nas do Rio Grande do Sul.
Depois, vieram os títulos de
Miss Porto Alegre, Miss Rio
Grande do Sul e Miss Brasil.
E agora, com apenas 18 anos,
foi eleita Miss Universo. Leda
desfilou por Brasília, Rio de
Janeiro e pela sua cidade na-
tal, Porto alegre, onde foi re-
cepcionada por milhares de
pessoas, que assistiram, emo-
cionados, sua vitória. Sellers
ficou tão encantado com a
beleza incontestável de Ieda,
que convidou a gaúcha para
estrelar seu próximo filme, A
Pantera Cor de Rosa mo en-
tanto, a nossa linda Miss re-
cusou, pois deseja, após seu
mandato, voltar ao Brasil,
casar e ter filhos. De fato, é
um orgulho para todos os
brasileiros ter Ieda Maria
Vargas como a rainha da be-
leza mundial, a primeira bra-
sileira a conquistar, com sua
simpatia e beleza indiscutível,
o Miss Universo.
Norma Nolan, Miss Universo 1962, Ieda Vargas e o host Gene
Rayburn.
Ieda sendo coroada pela Miss Universo 1962, a argentina Nor-
ma Nolan.
45 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 46
47 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
Dicas de nome para dar
para seu cachorro __________________________________
Sem ideias para dar um nome em seu bichinho de estimação? Não se preocupe A
Reveja separou uns nomes de cães famoso de Ficção para de dar uma ajuda.
Lassie
Símbolo de lealdade, cora-
gem e graça , Lassie é o nome
da cadela mais famosa da
ficção. Criada pelo autor An-
glo-Saxão Eric Knight , em
1938, no romance Lassie co-
me-home (A força do cora-
ção), conta a história de uma
cadela da raça Rough Collie,
que vivia com seu dono Joe
Carraclough, na cidade ingle-
sa de Greenall Bridge,devido
problemas financeiros foi
vendida pelo pai do menino.
Então Lassie vive uma aven-
tura, fugindo de caçadores e
outros perigos para voltar à
sua verdadeira e antiga casa.
Teve sua primeira adaptação
para o cinema em 1943. Até
hoje foram feitas sete filmes
da cadela alem de série de TV
―Lassie‖ que foi ao ar pela
CBS, e que encerrou a nona
temporada. E nesse mês es-
tréia nos Estados Unidos
mais uma versão com o titulo
de ―Lassie's Great Adventu-
re‖. Que é uma adaptação da
novela para cinema. O episo-
dio ―A jornada‖ , que é divido
em 5 partes, tornou se esse
novo filme produzido pela
Twentieth Century Fox.
Pluto
Cão da raça bloodhound
criado pela Disney em 1930.
Quando foi criado seu era
para se chamar Rover, mas
foi substituído para por Pluto,
inspirado na recém-
descoberta de Plutão na dé-
cada de 30 possivelmente.
Pluto é o cachorro atrapalha-
do e amigo do Mickey Mouse.
Bidu
Um recente personagem
brasileiro , Bidu é um cachor-
ro da raça Schnauzer, criado
por Mauricio de Souza. Teve o
lançamento sua revista em
quadrinhos em 1960 pela
editora Continental.
__________________________ Guias
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 48
49 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
Cleópatra:
um filme grandioso __________________________________
Atrasos nas filmagens, do-
ença da atriz principal, subs-
tituição de elenco, casos amo-
rosos entre protagonistas e,
claro, uma produção grandio-
sa e espetacular que quase
levou a 20th Century Fox à
falência. Este filme está sendo
considerada a produção mais
cara e conturbada do Cinema.
Contando a saga da famosa
rainha egípcia, podemos a-
companhar no filme, Cleópa-
tra (Elizabeth Taylor) desde o
momento em que conhece
Júlio César em seu palácio em
Alexandria, onde pede ajuda
ao ditador romano pra voltar
ao poder. César a ajuda e os
dois iniciam um relaciona-
mento que resultaria em um
filho, Cesário. Cleópatra exige
que seu filho seja nomeado
herdeiro, mas antes que César
possa tomar sua decisão, é
morto no senado romano. Em
seguida, Cleópatra pede ajuda
a Marco Antônio, com quem
igualmente começa uma rela-
ção. A paixão de Antônio por
Cleópatra desperta a fúria de
Roma e de Otávio, um dos
herdeiros de César, que decla-
ra guerra ao ex-general e a-
mante da rainha.
Mesmo que boa parte do
público que assiste Cleópatra
conheça a história da rainha e
sua relação com Roma, saber
como o filme termina não é
empecilho algum para que se
possa apreciar essa grande
obra em toda sua magnitude.
Cleópatra é um espetáculo
inigualável, esplendoroso e
deslumbrante. É uma trama
épica e grandiosa que mistura
intriga, poder, paixão e aven-
tura com habilidade e coerên-
cia. E, acima de tudo, é um
marco do Cinema, uma obra
obrigatória para os cinéfilos e
imprescindível para se conhe-
cer a Sétima Arte.
Dirigido por Joseph L.
Mankiewicz, Cleópatra foi o
filme que quase levou um dos
maiores estúdios de Hollywo-
od a fechar suas portas, ta-
manha foi a sua produção.
Mas ninguém pode dizer que
os 44 milhões de dólares gas-
tos no filme foram mal apro-
veitados. Os cenários são
magníficos, cada locação é
inegavelmente espetacular,
dando a exata noção do luxo
em que a rainha vivia. Além
disso, é embasbacante perce-
ber que os cenários, que pou-
cas vezes se repetem, são to-
dos igualmente fantásticos e
completamente diferentes
uns dos outros. Conta a His-
tória que, para atingir seus
objetivos, Cleópatra procura-
va impressionar seus visitan-
tes e adversários com espetá-
culos grandiosos, mostrando
toda a riqueza de sua nação,
mesmo quando passando por
dificuldades, algo que pode
ser visto no próprio filme, na
belíssima cena da chegada da
rainha a Roma. Mankiewicz
parece utilizar o mesmo arti-
fício.
Além disso, o roteiro, es-
crito pelo próprio diretor em
colaboração com Ben Hecht e
RanaldMacDougall, consegue
ser bastante fiel aos eventos,
trazendo às telas com grande
precisão tudo aquilo que ima-
ginamos (ou ao menos se con-
ta) ter acontecido naquele
período. Ao mesmo tempo, a
construção dos personagens é
muito bem feita, graças, prin-
cipalmente, aos belíssimos e
inteligentes diálogos criados
pelos roteiristas (―Se ela não
fosse uma mulher, seria con-
Artes & Entretenimento __________________________
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 50
siderada uma intelectual‖, diz
certo personagem a respeito
da rainha) e as ótimas inter-
pretações de todo o elenco.
Elizabeth Taylor parece ter
nascido para interpretar Cle-
ópatra. A estrela jamais en-
carnou tão bem um persona-
gem, transformando a rainha
em uma mulher linda, inteli-
gente e astuciosa, capaz de
fazer o que for preciso para
ter seus objetivos alcançados.
Enquanto isso, Rex Harrison
e Richard Burton (com quem
Liz iniciou um relacionamen-
to tumultuado durante as
filmagens), interpretando
Júlio César e Marco Antônio,
respectivamente, estão i-
gualmente ótimos nos papéis,
transmitindo com eficiência a
dualidade entre ser um gene-
ral temido e um amante sub-
misso aos desejos da rainha.
A curiosidade fica por conta
de ver um jovem Martin Lan-
dau no papel de Rufio e Hu-
me Cronyn como Apolodorus,
conselheiro da rainha.
De qualquer maneira, é di-
fícil um filme com mais de
quatro horas de duração não
se tornar cansativo em alguns
momentos. Claro que a histó-
ria da rainha não pode ser
contada em uma produção de
menos de duas horas, mas o
filme não consegue manter o
mesmo ritmo durante toda a
produção, principalmente
enquanto nos aproximamos
de seu final. Além disso, devi-
do ao grande número de per-
sonagens, certos detalhes
acabam sendo tratados ape-
nas superficialmente, cau-
sando certa estranheza em
algumas partes do filme. Por
exemplo, a relação entre Cle-
ópatra e seu filho poderia ser
mais explorada, pois traria
uma maior dramaticidade à
resolução da tra-
ma.Visualmente estarrecedor
e com uma narrativa exem-
plar, Cleópatra merece, indu-
bitavelmente, um lugar de
destaque na galeria dos gran-
des clássicos do cinema mun-
dial.
__________________________________
Um pouco da vida de
Elizabeth Taylor ______________________________
Filha dos americanos
Francis Leen Taylor e Sara
Viola Rosemond Warmbrodt,
mudaram-se para os Estados
Unidos em 1939. Começou a
carreira cinematográfica ain-
da criança, quando foi desco-
berta aos dez anos. Contrata-
da pela Universal Pictures.
Filmou There'sOne Born E-
very Minute, mas não teve o
contrato renovado. Revelou
talento participando de filmes
infanto-juvenis, como na es-
tréia em 1943 num pequeno
papel da série Lassie. A partir
de então, apaixonou-se pela
profissão e permanecer no
estúdio tornou-se o maior
sonho.
Evoluindo como atriz ta-
lentosa e respeitada pela crí-
tica, nos anos 50 filmaria
dramas, como Um lugar ao
Sol, com o ator Montgomery
Clift; Assim Caminha a Hu-
manidade, com Rock Hudson,
ambos atores homossexuais e
dos quais se tornou grande
amiga. Nessa década faria
ainda A Última Vez Que Vi
Paris, ao lado de Van Johnson
e Donna Reed.
Liz, como está mais conhe-
cida, está sendo reverenciada
como uma das mulheres mais
bonitas de todos os tempos; a
marca registrada são os tra-
ços delicados de seu rosto e
seus olhos de cor azul-violeta,
51 | 30 DE AGOSTO, 1963 | (re)veja
uma cor rara, emoldura por
sobrancelhas desenhadas e
espessas, de cor negra. É uma
celebridade cercada por in-
tenso glamour, cercada do
carinho de fãs e muito luxo.
Seu talento e beleza impres-
sionam qualquer pessoa, do
mundo da mídia ou de fora
dele.
Elizabeth é uma compulsi-
va colecionadora de jóias, é
muito vaidosa, adorava o bri-
lho de brincos, colares, anéis
e pulseiras, além de amar
maquiagens, sapatos de grife,
bolsas da moda e vestidos
caros, mas mesmo sem tudo
isso, em trajes simples e sem
pintura, ainda assim é consi-
derada de uma beleza muito
rara. Os críticos da moda con-
sideravam sua simetria de
rosto e corpo ideais, os dois se
encaixavam perfeitamente, e
chamavam atenção de qual-
quer pessoa por onde ande,
seus olhos, então, ainda mais.
Foi vencedora do Óscar da
Academia para Melhor Atriz
em 1960 pelo papel da call-
girl de Disque Butterfield8
(pt: O Número do Amor).
Com o reconhecimento do
prêmio máximo do cinema
mundial, consagrou-se como
a mais bem paga atriz do
mundo.
Seu primeiro casamento
foi com Conrad Nicholson
Hilton em 1950, mas durou
apenas 1 ano. Dessa relação
concebeu Catherine Taylor.
Michael Wilding, foi seu se-
gundo marido, com quem foi
casada de 1952 a 1957, teve
dois filhos: Michael Howard
Taylor Wilding, nascido
em1953 e Christopher
ward Taylor Wilding, nascido
em 1955.
Com Michael Todd, seu
terceiro marido, ficou casada
por 1 ano e teve uma filha em
1957, chamada Eliza Frances
Todd, mas conhecida como
Liza. Elizabeth Taylor ficou
viúva em 1958, tendo de criar
a filha sozinha, o que a fez
sofrer pela perda de seu com-
panheiro. Em 1959 se casou
com o melhor amigo de seu
marido, Eddie Fisher, com
quem está vivendo atualmen-
te. Porém, sabemos que sua
relação anda em risco, devido
seu envolvimento com Ri-
chard Burton com quem con-
tracenou no filme recém-
lançado, Cleópatra.
________________________________
Jimi Hendrix:
o garoto promete ______________________________
Um jovem guitarrista re-
cém saído do exército vem
provocando arrepios até
mesmo em músicos
americanos experi-
entes. O estilo ino-
vador de combinar
fuzz, feedback e
formas controladas
de distorções vem
criando uma nova
tendência musical
na cena americana.
Com apenas 21 anos
Jimi Hendrix, este é
o nome da fera,
promete uma mete-
órica carreira pelo
seu estilo peculiar
de tocar. Canhoto e de dedos
compridos, autodidata e con-
fesso incapaz de ler música,
porém com um talento fora
do comum para reproduzir o
que ouve. Seu pai James Al
diz que quando criança
Jimi sentava-se no
canto da cama e dedi-
lhava uma vassoura
como se estivesse to-
cando uma guitarra, foi
quando tomou conhe-
cimento do talento do
filho. Al resolveu então
presentear o garoto
com um velho ukulele
de uma única corda, o
que fez com que o me-
nino melhorasse a sua
performance. No verão
de 1958, Jimi comprou
(re)veja | 30 DE AGOSTO, 1963 | 52
um violão de segunda mão
por cinco dólares e entrou
para a sua primeira banda, Os
Velvetones. Depois de uma
temporada de três meses com
o grupo Jimi saiu para perse-
guir seus próprios interesses.
Al, portanto, compra a pri-
meira guitarra para o filho,
uma Supro Ozark 1560S, na
qual, Jimi usou para tocar em
seu novo grupo, O Balanço
dos Reis. Em 1961, Jimi alis-
tou-se no Exército, e enquan-
to a sua divisão estava esta-
cionada em Fort Campbell
formou Os Casuals Rei com o
baixista Bily Cox. No ano pas-
sado conseguiu dispensa de-
vido uma lesão por salto de
pára-quedas e vem traba-
lhando até então como guitar-
rista free-lance e sendo cogi-
tado para a banda de Little
Richard. Quando questionado
sobre esta possibilidade, Jimi
afirma que seria uma ótima
oportunidade e que gostaria
de fazer com a sua guitarra o
que Richard faz com sua voz.
Jimi já utilizou alguns mode-
los de guitarras em suas per-
formances, incluindo uma
Guibson Flying V, mas adotou
mesmo a Fender Stratocaster
ou Strat como ele prefere.
Alguns músicos renomados
dizem que o braço da Strat
adotada por Jimi, de fácil
ação, foi também perfeito
para o estilo envolvente de
Mr. Hendrix. A mão grande o
permite que faça as partes
rítmicas e solos ao mesmo
tempo, sem contar que o gui-
tarrista consegue apertar to-
das as cordas na mesma casa
com o polegar, mudando as-
sim toda a afinação do ins-
trumento de uma forma dife-
rente e rejeitada pelos profes-
sores de instrumentos de cor-
da. Vamos aguardar para os
próximos meses o estilo que
este jovem guitarrista negro
americano vem criando.
Léo Fender inova mais uma vez
O fabricante de guitarras Léo Fender inova
com a recém lançada Stratocaster modelo
1963. Há uma gama de características muito
distintas que fazem a série de guitarras única.
Em primeiro lugar, o magnífico som deste ins-
trumento vem através de um trio de captado-
res Fender construído exclusivamente para
esta linha de guitarras, possui inversão de po-
laridade para minimizar os ruídos, todos dis-
põem de ímãs de Alnico, bobinas enroladas
com fios esmaltados e saídas de 6.0kOhm. Os
captadores trabalham juntos para criar um
tom suave e sofisticado. Esses caps de saída
mais baixas têm uma resposta mais plana resultando em um tom equilibrado, com brilho fantástico, de-
talhes e clareza. Em segundo lugar o corpo da Fender 1963 foi redesenhado e refeito para a série Ameri-
cana. Por último e não menos importante podemos destacar o novo Tremolo Sincronizador de design
original, com selas de aço dobradas para preservar os timbres. Um moderno seletor de 5-way oferece
fácil acesso a toda a gama de tons clássicos, enquanto os tuners deslizam sem oscilações, proporcionando
suavidade e clareza de tonalidades a sua nova guitarra.
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Mística Feminina _______________________________
O livro ―Mística Feminina‖
de Betty Friedan, publicado
em 1963, descreve a revolta
das mulheres americanas, a
mulher se vê no papel de do-
méstica e ―escrava‖, aquela
que fica o dia todo dentro de
casa cuidando das roupas do
marido, dos filhos e cozi-
nhando.
A sociedade cobra muito
seu papel em ―servir‖, en-
quanto o marido trabalha
noite a fora ou por tempo
integral, ficando assim, ela
com seus afazeres domésticos
de cada dia. E no final de seu
expediente teme a si mesma
se perguntando com bastante
angustia, ―É só isso?‖.
Friedan conversou com cen-
tenas de mulheres america-
nas nos anos 1950, e pergun-
tou-lhes se são felizes com a
vida em que leva. A autora
chegou à conclusão que não,
não são felizes, sempre falta
alguma coisa em suas vidas,
que só aquela vida em que
vivem não basta.
Que mulher nunca se irri-
tou uma vez se quer com as
restrições sexuais? 'Você não
pode brincar de carrinho!' ou
'O rosa ficaria melhor em
você', ou mesmo o pensamen-
to de que as mulheres são
incapazes de pensar racio-
nalmente, que o seu papel é
sentir.
Mística Feminina foi escri-
to como um grito de liberta-
ção, tornando-se um best-
seller. A autora expressa sua
insatisfação frente a uma cor-
rente de pensamento que re-
duz a mulher somente a seu
papel biológico e matrimoni-
al, tirando delas a chance de
ter todo o seu potencial ex-
plorado, tirando toda a sua
liberdade.
No geral, esse livro retrata
como é a mulher ao longo do
século XX.
Betty Friedan
Betty Naomi Goldstein,
mais conhecida como Betty
Friedan, nasceu dia 4 de feve-
reiro em Peoria, Illinois( EU-
A). É co-fundadora da Orga-
nização Nacional das Mulhe-
res. Friedan luta pe-
los direitos das mulheres, é
considerada umas das femi-
nistas mais influentes do sé-
culo XX.
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A pizza nossa de cada dia _________________________________________________
Em nossa coluna de hoje
trataremos da Pizza nossa de
cada dia, afinal o que seria de
muitos de nós sem ela.
Aqui no Brasil, esta iguaria
chegou por meio dos imigran-
tes italianos, e, hoje, pode ser
encontrada facilmente na
maioria das cidades brasilei-
ras. Até os anos 1950, era
muito mais comum ser en-
contrada em meio
à colônia italiana, tornando-
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se, logo em seguida, parte da
cultura brasileira.
Foi no Brás, bair-
ro paulistano dos imigrantes
italianos, que as primeiras
pizzas' começaram a ser co-
mercializadas no Brasil. Se-
gundo consta no li-
vro Retalhos da Velha São
Paulo, escrito por Geraldo
Sesso Jr., o napolitano Car-
mino Corvino, o dom Carme-
nielo, dono da já extinta Can-
tina Santa Genoveva, instala-
da na esquina da Avenida
Rangel Pestana com a Rua
Monsenhor Anacleto, inaugu-
rada em 1910, passou a ofere-
cer as primeiras pizzas da
cidade.
Aos poucos, a pizza foi se
disseminando pela cidade de
São Paulo, sendo abertas no-
vas cantinas. As pizzas foram
ganhando coberturas cada vez
mais diversificadas e até
mesmo criativas. No princí-
pio, seguindo a tradição itali-
ana, as
de muçarela e anchova eram
as mais presentes, mas, à me-
dida que hortaliças e embuti-
dos tornavam-se mais acessí-
veis no país, a criatividade
dos brasileiros fez surgir as
mais diversas pizzas.
Com o aumento do núme-
ro de cantinas e pizzarias Ita-
lianas na Grande São Paulo,
torna-se ainda mais presente
na mesa dos paulistas a ―Pizza
nossa de cada dia‖.
Pizza de calabresa com
mussarela:
Tipo de prato:
Prato principal.
Preparo: Médio (de 30 a 45
minutos).
Rendimento: 6 porções.
Dificuldade: Fácil.
Categoria: Pizza.
Ingredientes:
.1 disco de massa básica pré-
assado
.2 linguiças tipo calabresa
defumada cortada em rodelas
.4 tomates em rodelas
.150 g de mussarela
.3 colheres (sopa) de molho
de tomate
.Fatias de cebola, azeitona e
orégano a gosto.
Modo de preparo:
Afervente a linguiça em
água e reserve. Espalhe sobre
a massa pré-assada o molho
de tomate. Em uma metade
da massa ponha metade da
mussarela, a lingüiça, a cebo-
la e a azeitona. Faça a outra
metade apenas com o restan-
te da mussarela e ponha as
fatias de tomate. Polvilhe com
orégano e leve ao forno até o
queijo derreter.
Dica: Regue a pizza com a-
zeite antes de levá-la ao forno
com o recheio.
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