View
221
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
1/75
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEAR
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIO SOCIAL
CHAYANEE DE SOUZA LEANDRO
SERVIO SOCIAL E ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: RELATO DEEXPERINCIA DE ESTGIO
FORTALEZA2014
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
2/75
CHAYANEE DE SOUZA LEANDRO
SERVIO SOCIAL E ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: RELATO DEEXPERINCIA DE ESTGIO
Monografia submetida aprovao do Cursode Servio Social do Centro de Ensino Superiordo Cear Faculdade Cearense - FaC, como
requisito parcial para obteno do grau deGraduao.
Orientadora: Ms. Lara Denise Oliveira Silva.
FORTALEZA2014
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
3/75
Bibliotecrio Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
L437s Leandro, Chayanee de Souza
Servio Social e acolhimento institucional: relato deexperincia de estgio /Chayanee de Souza Leandro. Fortaleza -
2014
74f. Il.
Orientador: Prof. Ms. Lara Denise Oliveira Silva.
Trabalho de Concluso de curso (graduao) Faculdade
Cearense, Curso de Servio Social, 2014.
1. Institucionalizao. 2. Acolhimento institucional. 3.AdolescnciaServio Social. I. Silva, Lara Denise Oliveira. II.
Ttulo
CDU 364
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
4/75
CHAYANEE DE SOUZA LEANDRO
SERVIO SOCIAL E ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: RELATO DEEXPERINCIA DE ESTGIO
Monografia apresentada como pr-requisitopara obteno do ttulo de Bacharel em ServioSocial, outorgado pela Faculdade Cearense FaC, tendo sido aprovada pela bancaexaminadora composta pelos professores.Data de aprovao: ____/ ____/____
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________Professora Ms. Lara Denise Oliveira Silva
(orientadora)
____________________________________________________________Professora Ms. Francis Emmanuelle Alves Vasconcelos
(1 examinadora)
____________________________________________________________Professora Esp. Talitta Cavalcante Albuquerque Vasconcelos
(2 examinador)
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
5/75
Dedico este trabalho a minha famlia eamigos, os quais ao longo dessacaminhada me apoiaram e me ajudaram
como puderam.
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
6/75
AGRADECIMENTOS
Confesso que em alguns momentos pensei que no iria conseguir, pois no
decorrer dessa caminhada de monografar me deparei com alguns problemaspessoais. Portanto quero agradecer a Deus e a Nossa Senhora de Ftima por nuncame deixarem perder a esperana.
Aos meus pais, em especial minha me Francisca Vanda, no qual sempre meapoiou e ajudou como pode ao longo desses quatros anos.
Aos meus familiares sempre na torcida por essa conquista, em especialminha tia-madrinha Zita no qual custeou meus estudos, alm do incentivo e apoioque deu durante essa jornada, deixo ento registrada minha gratido.
Como j mencionado, em alguns momentos passei por algumas dificuldades,portanto agradeo a todos os amigos que deram fora, ajudaram, apoiaram dealguma forma para eu no desistir. Em especial, Kelma Souza, Luciana Furtado. Ascompanheiras de turma, no qual se tornaram amigas especiais, Juliane Menezesque um anjo na minha vida, Catarina Braga, Juliana Cndido.
Aos participantes dessa pesquisa e a Instituio de Acolhimento Nova Vidaque permitiu a elaborao deste estudo. Obrigada a todos.
A todos os professores que fizeram parte da minha vida durante esses quatroanos. A minha orientadora Lara Silva, pela pacincia e dedicao.
As professoras Emmanuele Alves e Talitta Albuquerque que aceitaramcompor minha banca de defesa.
Portanto agradeo a todos que contriburam de alguma maneira, cada umcom seu para a realizao dessa conquista.
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
7/75
RESUMO
Sendo assegurados pelo Estatuto da Criana e Adolescente (ECA), medidas deproteo so tomadas quando qualquer criana ou adolescente tenham seus direitosbsicos violados. Atitude provisria e excepcional, utilizada como forma dereintegrao familiar, o acolhimento institucional visa garantir os direitos dascrianas e adolescentes. Durante o processo da medida, o Servio Socialdesempenha o papel de acompanhar as crianas e adolescentes a fim de zelar egarantir os direitos dos mesmos. Com a durao de cinco meses este estudo tevecomo foco analisar e compreender, de acordo com a viso das adolescentes que seencontram na Unidade de Acolhimento Nova Vida, o que elas entendem pelo papeldo assistente social e como ocorre a relao entre elas e este profissional.Assimbusco apresentar o que as meninas entendem do trabalho do servio social,
identificar qual a relao existente e avaliar qual imagem as acolhidas tem desseprofissional.A natureza da pesquisa qualitativa, para a construo do presentetrabalho, utilizou-se como procedimentos metodolgicos a aplicao de questionriocom a assistente social que trabalha na unidade, observao direta, pesquisa decampo, entrevistas com as adolescentes, anlise de dados documentais, alm depesquisas bibliogrficas. O trabalho composto por trs captulos o primeiro:Adolescentes em uma realidade de institucionalizao, o segundo: Unidade deAcolhimento Nova Vida e o terceiro: Resultados da pesquisa. A pesquisa revelouque existe uma relao boa entre as meninas acolhidas e a assistente social daunidade, justificado pelo fato de as meninas viverem em situao de acolhimento epela proximidade que tem diariamente com a profissional. Por essa razo, as
adolescentes demonstraram ter, minimamente, ideia do papel desempenhado pelaassistente social.
Palavras-chave: Institucionalizao. Acolhimento institucional. Adolescncia.ServioSocial.
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
8/75
ABSTRACT
Being provided by the Child and Adolescent (ECA), protective measures are takenwhen any child or teen to have their basic rights violated. Provisional and exceptionalattitude, used as a form of family reintegration, institutional care aims to ensure therights of children and adolescents. During the measurement process, the SocialService plays the role of monitor children and adolescents in order to ensure andguarantee the rights of same. This study focused on analyzing and understanding,according to the view of teenagers who are on the Unit Home New Life, which theyunderstand the role of the social worker and as the relationship between them andthis occurs professional. So I try to present the girls understand the work of socialservices, which identify the relationship and evaluate what the image has welcomedthis professional. To conduct the survey , we used as instruments to a questionnairewith the social worker who works in the unit , field observations , interviews with the
teenagers , analysis of documents , and literature searches . The work consists ofthree chapters the first: Teens in a reality of institutionalization, the second Unit ofHospitality New Life and the third: Search Results. The research revealed that thereis a good relationship between the social worker and the girls welcomed the unit,justified by the fact that girls living in the host state and the proximity that has dailyand professional. Therefore, adolescents have demonstrated minimally idea of therole played by the social worker.
.
Keywords:Institutionalization, Institutional care, Adolescence, Social Service.
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
9/75
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CAPS Centro de Ateno Psicossocial
CF Constituio Federal
CFESS Conselho Federal de Servio Social
CRAS Centro de Referncia de Assistncia Social
CREAS Centro de Referncia Especializado de Assistncia Social
CRESS Conselho Regional de Servio Social
ECA Estatuto da Criana e do AdolescenteFUNABEM Fundao Nacional do Bem - Estar do Menor
IAPS Instituto de Apoio e Proteo Social
LOAS Lei Orgnica de Assistncia
PNBM Poltica Nacional do Bem - Estar Social
SAM Servio de Assistncia ao Menor
STDS Secretria de Trabalho e Desenvolvimento Social
ONG Organizao No Governamental
PNCFC Plano Nacional de Convivncia Familiar e Comunitria
UECE Universidade Estadual do Cear
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
10/75
SUMRIO
INTRODUO................................................................................................10
1. ADOLESCENTES EM UMA REALIDADEDE INSTITUCIONALIZAO..........................................................................191.1 Contexto histrico da institucionalizao de crianas eadolescentes no Brasil.....................................................................................191.2 O que define adolescncia.........................................................................281.3 Adolescentes em situao de acolhimento institucional e o servio socialnesse contexto.................................................................................................32
2. UNIDADE DE ACOLHIMENTO NOVA VIDA................................................41
2.1 A unidade e seus marcos legais.................................................................412.2 Localizao e espao fsico........................................................................472.3 Perfil das usurias.......................................................................................512.4 O papel do servio social dentro da unidade..............................................53
3. PERCEPES E RELAES ENTRE AS ADOLESCENTESE A ASSISTENTE SOCIAL...............................................................................563.1 Relao entre as adolescentes e a assistente social..................................563.2 Percepes das adolescentes a respeito da profissional do
servio social.....................................................................................................583.3 Cotidiano e fortalecimento de vnculos........................................................63
CONSIDERAES FINAIS...............................................................................67
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................................70
APNDICE.........................................................................................................74
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
11/75
10
INTRODUO
A institucionalizao de crianas e adolescentes abandonadas est presente
no Brasil h muito tempo. Sendo possvel, segundo Siqueira (2006), constatar que a
institucionalizao dos mesmos uma prtica que est arraigada na cultura
brasileira no que tange ao cuidado a este segmento da populao. A prtica do
acolhimento institucional de crianas e adolescentes uma medida aplicada como
forma de proteo desses sujeitos que tiveram seus direitos ameaados ou violados
de algum modo.
O Estatuto da Criana e Adolescente ECA veio para romper com asamarras histricas onde os mesmos no tinham seus direitos garantidos, colocando
a proteo integral como direito a ser assegurado. Discutir a questo do adolescente
em situao de acolhimento institucional de fundamental importncia, pois a
integrao das polticas pblicas e articulao com o poder judicirio contribuem
para obter melhores resultados frente a essa demanda.
O artigo n. 98 do ECA estabelece que as medidas de proteo devem seraplicadas com o intuito principal de proteger a criana e o adolescente de qualquer
violao ou ameaa em quaisquer dos direitos, seja por ao ou omisso do Estado,
falta, omisso ou abuso dos pais ou responsveis, seja por razo da prpria
conduta. As medidas de proteo referem-se :
I. encaminhamento aos pais ou responsvel, mediante termo de
responsabilidade;II. orientao, apoio e acompanhamento temporrios;
III. matrcula e frequncia obrigatrias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental;
IV. incluso em programa comunitrio ou oficial de auxlio famlia, criana
e ao adolescente;
V. requisio de tratamento mdico, psicolgico ou psiquitrico, em regime
hospitalar ou ambulatorial;
VI. incluso em programa oficial ou comunitrio de auxlio, orientao e
tratamento a alcolatras e toxicmanos;
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
12/75
11
VII. abrigo em entidade;
VIII. colocao em famlia substituta.
No que se refere medida sete, foco deste estudo, o pargrafo nico diz:
Pargrafo nicoO abrigo medida provisria e excepcional, utilizvel como
forma de transio para a colocao em famlia substituta, no implicando em
privao de liberdade. Ou seja, o acolhimento institucional uma medida de
proteo s crianas e adolescentes que tiveram seus direitos violados e necessitam
se afastar temporariamente do mbito familiar, sendo um recurso que precisa ser
aplicado quando outras formas de proteo so esgotadas.
Todas as entidades que oferecem acolhimento institucional independente da
modalidade de atendimento, devem atender aos pressupostos do ECA. Tais
servios devem estar localizados em reas residenciais, sem distanciar-se
excessivamente do ponto de vista geogrfico da realidade de origem das crianas e
adolescentes acolhidos; promover a preservao do vnculo e do contato da criana
e adolescente com a sua famlia de origem, salvo determinao judicial em contrrio;
manter permanente comunicao com a Justia da Infncia e da Juventude,informando autoridade judiciria sobre a situao das crianas e adolescentes
atendidos e de sua famlia; trabalhar pela organizao de um ambiente favorvel ao
desenvolvimento da criana e do adolescente. (BRASIL, 2009)
Assim, devem ser oferecidos servios de assistncia integral criana e ao
adolescente. Para isso o Estado fica responsvel por prover rgos de apoio como
as instituies de acolhimento para as quais so encaminhadas crianas eadolescentes que esto expostos a vrios tipos de abuso, negligncia, explorao,
vulnerabilidade e outras formas de violncia.
O Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA), como a Lei Orgnica de
Assistncia Social (LOAS), foram resultado de um processo de movimentos sociais,
onde o Servio Social, por meio de seus profissionais e entidades representativas,
como o Conselho Federal de Servio Social (CFESS) e o Conselho Regional de
Servio Social (CRESS), atuou junto aos setores da sociedade civil e do Poder
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
13/75
12
Pblico, na luta pela implementao da poltica de proteo a infncia e
adolescncia (CFESS, 2010).
As entidades de acolhimento sejam do mbito governamental ou no so
responsveis por zelar pela integridade fsica e emocional de crianas e
adolescentes que necessita temporariamente se afastar do convvio familiar. neste
contexto que atua o assistente social, profissional esse que tem um carter
interventivo frente ao acolher e acompanhar constantemente as crianas e
adolescentes acolhidos e suas famlias.
Os (as) assistentes sociais brasileiros vm lutando em diferentes frentes e dediversas formas para defender e reafirmar direitos no campo das polticas sociais.
Inseridos em um projeto societrio mais amplo, buscam condies econmicas,
sociais e polticas para construir as vias de equidade, num processo que no se
esgota na garantia da cidadania. O projeto tico poltico do servio social bem
claro quanto aos seus compromissos. Ele:
tem em seu ncleo o reconhecimento da liberdade como valor tico central -a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolher entrealternativas concretas; da um compromisso com a autonomia, aemancipao e a plena expanso dos indivduos sociais.Consequentemente, o projeto profissional vincula-se a um projeto societrioque prope a construo de uma nova ordem social, sem dominao e/ouexplorao de classe, etnia e gnero. (NETTO, 1999, p.104-5)
O Servio Social vem se legitimando como uma prtica necessria no
contexto das polticas de proteo a infncia e adolescncia. O assistente social nas
entidades de acolhimento tem um compromisso em assegurar os direitosfundamentais das crianas e adolescentes e suas famlias. Ou seja, o servio social
deve instrumentalizar uma prtica institucional que compreenda a criana e o
adolescente como sujeitos de direitos.
O objeto aqui a questo social. ela em suas mltiplas expresses, queprovoca a necessidade da ao profissional, junto com a criana eadolescente [...] Essas expresses da questo social so a matria primaou o objeto do trabalho profissional do Servio Social. (IAMAMOTO, 2009,p.62)
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
14/75
13
Portanto, o assistente social deve atuar para favorecer a autonomia, o
fortalecimento dos vnculos familiares, promover uma articulao entre as polticas
de acesso existente ao adolescente em nossa legislao para com o usurio.
Segundo Faleiros (2007), os (as) assistentes sociais possuem o compromisso
com a qualidade dos servios prestados, posicionamento em favor da universalidade
do acesso aos bens e servios, relativos aos programas e polticas sociais pblicas,
em defesa da gesto democrtica e na luta pela garantia e ampliao dos direitos
sociais relativos criana e ao adolescente.
O cotidiano em uma unidade de acolhimento permeado por histrias,acontecimentos, sentimentos, desejos, solicitaes que fazem com que todos os
sujeitos que ali vivem lidem com sensaes que podem ser agradveis ou no.
Dessa forma quase impossvel no ser criado umarelao entre os que
esto acolhidos e os assistentes sociais. Com base nisso, estabeleci como pergunta
principal a ser respondida por este estudo como realmente a relao da assistente
social com as adolescentes que vivem em situao de acolhimento?
Entretanto, busco a resposta atravs das percepes das adolescentes. O
estudo apresentado teve como objetivo buscar compreender, de acordo com as
adolescentes abrigadas na Unidade de Acolhimento Nova Vida, como elas
enxergam a assistente social e a relao existente entre as partes, j que este
profissional exerce um trabalho dirio com essas meninas, ou seja, existe um
vnculo que construdo cotidianamente.
Alm do interesse que sempre tive com o assunto, a escolha de trabalhar com
o tema adolescente em situao de acolhimento institucional foi motivado por conta
da minha experincia de estgio curricular do curso de Servio Social da Faculdade
Cearense (FAC).
Meu estgio aconteceu na Unidade de Acolhimento Nova Vida, instituio
essa que acolhe adolescentes do sexo feminino na faixa de 12 a 18 anos, tendo
inicio em maro de 2012 e fim em agosto de 2013. Considerando que o estgio
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
15/75
14
supervisionado compreende uma atividade educativa de aproximao com a
realidade profissional e apreenso dos conhecimentos tericos-metodolgicos, as
vivncias do estgio me possibilitaram uma reflexo sobre a realidade da instituio
no qual estava inserida, acompanhar a realizao dos trabalhos exercidos pela
assistente social, onde enquadra-se construo de relatrios, visitas domiciliares,
atendimentos individuais, fortalecimento dos vnculos familiares para que as
adolescentes possam voltar para o seio familiar e quando no possvel, a colocao
em uma famlia substituta etc.
No momento das aes exercidas pelo profissional, no qual estava presente
sempre me atentava ao comportamento das meninas com relao a assistentesocial, portanto o despertar para o interesse da pesquisa.
Ao final do perodo do estgio, inicieiminhas atividades como pesquisadora na
Unidade, passando ento a visit-la uma vez por semana em dias aleatrios, por
exemplo, em uma semana a visita ocorria em uma segunda-feira na prxima j seria
uma tera. Dessa forma poderia conhecer como eram todos os dias da semana na
unidade. Gil (1999, p.45), conceitua pesquisa como:
procedimento racional e sistemtico que tem como objetivo proporcionarrespostas aos problemas que so propostos. (...) A pesquisa desenvolvidamediante o concurso dos conhecimentos disponveis e a utilizaocuidadosa de mtodos, tcnicas e outros procedimento cientficos (...) aolongo de um processo que envolve inmeras fases, desde a adequadaformulao do problema at a satisfatria apresentao dos resultados.(GIL, 1999, p.45).
Para desenvolver a investigao, optei por uma metodologia de naturezaqualitativa, na busca de melhor detalhar as informaes coletadas. Assim, me detive
no universo de significados, dos motivos, das aspiraes, das crenas, dos valores
e das atitudes (MINAYO, 2011, p.21).
Para o conhecimento e anlise dos resultados, utilizei de vrias tcnicas.
Iniciei realizando uma pesquisa bibliogrfica, utilizada para destrinchar a histria da
institucionalizao das crianas e adolescentes no Brasil e para levantar todo o
aporte terico-metodolgico. Dessa forma, trabalhei com livros, teses e artigos
publicados. Boa parte da bibliografia,mencionados no decorrer deste trabalho,
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
16/75
15
compostas por textos produzidos por escritores que aprofundam a histria da
proteo infncia e adolescncia e as demais categorias, tais como: Servio
Social, Institucionalizao, Acolhimento Institucional e adolescente.
A tcnica de anlise documental foi utilizada para verificar nos pronturios das
adolescentes, especificamente, as guias com a ordem de acolhimento e os relatrios
que acompanham as mesmas. Esses documentos foram de extrema importncia
para confrontar algumas informaes relatadas pelas adolescentes durante a
entrevista.
Oliveira (2007) faz uma importante distino entre essas modalidades depesquisa. Para essa autora, a pesquisa bibliogrfica uma modalidade de estudo e
anlise de documentos de domnio cientfico tais como livros, peridicos,
enciclopdias, ensaios crticos, dicionrios e artigos cientficos. Como caracterstica
diferenciadora ela pontua que um tipo de estudo direto em fontes cientficas, sem
precisar recorrer diretamente aos fatos/fenmenos da realidade emprica (p. 69).
Argumenta a autora que a principal finalidade da pesquisa bibliogrfica
proporcionar aos pesquisadores e pesquisadoras o contato direto com obras, artigosou documentos que tratem do tema em estudo: o mais importante para quem faz
opo pela pesquisa bibliogrfica ter a certeza de que as fontes a serem
pesquisadas j so reconhecidamente do domnio cientfico (p. 69). Ela se
posiciona sobre a pesquisa documental:
a documental caracteriza-se pela busca de informaes em documentosque no receberam nenhum tratamento cientfico, como relatrios,
reportagens de jornais, revistas, cartas, filmes, gravaes, fotografias, entreoutras matrias de divulgao (OLIVEIRA, 2007, p. 69).
Por saber a importncia do olhar durante uma pesquisa, outra tcnica
trabalhada foi a de observao de campo. Chizzotti (1991, p.90) aponta a seguir as
caractersticas e cuidados necessrios para a realizao da tcnica de observao
direta:
A observao direta ou participante obtida por meio do contato direto dopesquisador com o fenmeno observado, para recolher as aes dos atoresem seu contexto natural. O observador participa em interao constante emtodas as situaes, espontneas e formais, acompanhando as aes
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
17/75
16
cotidianas e habituais, as circunstncias e sentido dessas aes, einterrogando sobre as razes e significados dos seus atos. Essaobservao exige, porm cuidados e um registro adequado para garantir afiabilidade e pertinncia dos dados e para eliminar impresses meramenteemotivas, deformaes subjetivas e interpretaes fluidas, sem dados
comprobatrios.(CHIZZOTTI, 1991, p.90).
Para coleta dos dados, as tcnicas utilizadas foram questionrios e
entrevistas semi-estruturadas. O questionrio segundo Gil, (1999, p.28) pode ser
definido:
como a tcnica de investigao composta por um nmero mais ou menoselevado de questes apresentadas por escrito pessoas, tendo por objetivoo conhecimento de opinies, crenas, sentimentos, interesses, expectativas,
situaes vivenciadas etc. (GIL, 1999, p.28).
Essa tcnica foi utilizada para entrevistar a assistente social da unidade a fim
de confrontar as informaes expostas pela profissional com a das adolescentes,
sujeito central do estudo. No ocorreu critrio de escolha nesse caso, j que na
unidade s existe uma assistente social. Optei por entregar a folha com as
perguntas para a assistente social, pois pelas atribuies que a profissional tem na
unidade ela preferiu responder pela forma de questionrio, tanto que ela levou as
perguntas para casa e posteriormente me mandou por e-mail.
Tambm utilizei a tcnica de entrevista semi-estruturada pois a mesma
fornece dados objetivos e subjetivos referentes a comportamentos, crenas, idias,
opinies, dentre outros os quais possibilitam mais liberdade para captar contedos
do pensamento que sero posteriormente interpretados. Essa tcnica foi utilizada
para entrevistar as adolescentes, o critrio de escolha das meninas foram seis
meninas de 12 a 18 anos que estivessem acolhidas na unidade h seis meses ou
mais, pois com esse tempo imagina-se que as adolescentes j tenham algo a mais
para falar. Entretanto, as mais novas da unidade no queriam participar ou
brincavam e no respondiam as perguntas que eram realizadas, ressalto esse
momento como uma dificuldade encontrada. Diante disso, resolvo ento mudar a
idade das entrevistadas, passando a serem meninas de 14 a 18 anos.
Ribeiro, (2008, p.141) trata a entrevista como:
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
18/75
17
A tcnica mais pertinente quando o pesquisador quer obter informaes a
respeito do seu objeto, que permitam conhecer sobre atitudes, sentimentos
e valores subjacentes ao comportamento, o que significa que se pode ir
alm das descries das aes, incorporando novas fontes para a
interpretao dos resultados pelos prprios entrevistadores.
Para Gil (1999), a entrevista seguramente a mais flexvel de todas as
tcnicas de coleta de dados de que dispem as cincias sociais. A entrevista
realizada na pesquisa em questo aconteceu em dois dias, pois decidi dividir as seis
adolescentes para as mesmas no se apressarem em responder, ou seja, que elas
no se preocupassem com o tempo e tambm foi a maneira encontrada para desviar
dos imprevistos encontrados na unidade, pois em algumas vezes acontecia demarcar e no dia ocorrer de ter passeio ou as adolescentes terem que sair. Portanto,
em conversa com a coordenadora ficaram trs meninas para cada dia. As
entrevistas foram individuais, chamava uma a uma, explicava o motivo daquelas
perguntas, dizia que ia ser gravado, caso concordassem ento iniciava.
As adolescentes que participaram da entrevista, se mostraram inicialmente
preocupadas em relatar as suas situaes de vida. Para preservar suas identidadesno apresentarei seus nomes, usarei nomes fictcios. Assim ficou: Flor, Bela, Estrela,
Lys, Mel, Sol.
Como as entrevistas foram gravadas, aps a transcrio das falas das
adolescentes, realizei leituras do material, buscando destacar os pontos ligados ao
objetivo central de anlise desta pesquisa.
No primeiro captulo, fao uma contextualizao sobre adolescentes em uma
realidade de institucionalizao a partir de trs itens: no primeiro destaco o contexto
histrico, procuro destrinchar a histria da institucionalizao de crianas e
adolescentes no Brasil at o modelo atual, dessa forma possvel entender como
surgiu, a interferncia da religio, as leis que foram criadas, ou seja, a inteno
desse percurso histrico verificar as mudanas ocorridas no tema. Nesse tpico,
os estudos importantes como os de Rizzini e Rizzini (2004), Marcilio (1997), dentre
outros so citados. No segundo item apresento a definio de adolescncia com a
qual trabalhei, uma vez quesujeitos da pesquisa so adolescentes. Procurei dialogar
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
19/75
18
com os autores que discutem essa categoria, tais como: Tiba (1986), Becker (1994),
Georges (2008) etc. No ltimo item falo sobre adolescentes em situao de
acolhimento propriamente dito e o papel do servio social nessa realidade, onde cito
Goffman (2007), Rizzini e Rizzini (2004), ECA (1990), Martinelli (1999) dentre outros.
Apresento o segundo captulo atravs de quatro tpicos. Inicio falando sobre
a unidade e seus marcos legais, descrevendo no segundo tpico sobre a localizao
e espao fsico, o surgimento, e seu quadro de funcionrios. No terceiro tpico falo
sobre o perfil das meninas eno ltimo o sobre o trabalho do servio social na
unidade, expondo como atua a assistente social na instituio. Ou seja, nesse
captulo o objetivo que o leitor conhea as caractersticas da unidade pesquisada.
No terceiro captulo trato dos resultados da pesquisa, inicio demonstrando o
perfil das adolescentes entrevistadas. No segundo tpico, mostro a viso das
adolescentes entrevistadas sobre o papel do servio social, ou seja, o que elas
acham que o assistente social faz, continuo apresentando as informaes obtidas
pelo questionrio que foi aplicado a profissional da unidade e no ultimo tpico
exponho o resultado da entrevista realizada com as adolescentes onde o objetivo dapesquisa relatado.
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
20/75
19
1. ADOLESCENTES EM UMA REALIDADE DE INSTITUCIONALIZAO
Por no ser um assunto recente e ter sofrido vrias mudanas como mostrarei
a seguir, a problemtica da institucionalizao na infncia e na adolescncia
representa uma dimenso importante de estudo na atualidade, por estar presente na
realidade de muitas famlias que encontram-se em condies socioeconmicas
desfavorecidas o que dificulta que cumpram seus pais de guardis da infncia e da
adolescncia.
1.1 CONTEXTO HISTRICO DA INSTITUCIONALIZAO DE CRIANAS E
ADOLESCENTES NO BRASIL
O Brasil possui uma longa tradio de internao de crianas e jovens em
instituies. Desde o perodo colonial, foram sendo criados no pas colgios
internos, seminrios, asilos, escolas de aprendizes de artificies, educandrios,
reformatrios, dentre outras modalidades institucionais surgidas ao sabor das
tendncias educacionais de cada poca (RIZZINI e RIZZINI, 2004, p.22).
Essa tradio teve inicio em 1549, com a Congregao Religiosa Companhia
de Jesus, no qual investiu todo o seu trabalho apostlico em territrio brasileiro na
converso dos nativos. O otimismo do comeo das atividades se transformou em
desafio, j que os padres foram percebendo a dificuldade na evangelizao dos
nativos adultos. Diante disso a prioridade passou a ser o ensino das crianas.
Consolidava-se a convico de que os meninos ndios no somente se convertiam
mais facilmente, como tambm seriam o grande meio para a converso dos adultos.Outras ordens como a dos Frades Menores, se ocuparam da converso no sculo
XVI, e tambm do ensino dos portugueses (CHAMBOULEYRON, 2004, p.56).
Entretanto, os jesutas ocuparam um papel central nesse processo.
Azzi (1992, p.11) retrata que Os jesutas criaram colgios nas principais vilas
e cidades dos primeiros tempos da colonizao: Salvador, Porto Seguro, Vitria, So
Vicente, So Paulo, Rio de Janeiro, Olinda, e, no sculo XVII, Recife, So Lus do
Maranho e Belm do Gro-Par, constituindo-se assim os principais agentes
educacionais no Brasil, at serem expulsos pelo Marqus de Pombal, em 1759.
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
21/75
20
Em 1550 e 1553, para auxiliar nesse processo de converso, foram criadas
as Casas dos Muchachos, custeadas pela Coroa portuguesa, onde abrigavam os
curumins ou meninos da terra e se constituam em um posto avanado de
transmisso e inculcao dos valores do invasor aos invadidos no processo de
colonizao portuguesa (Janice Theodora da SILVA 1984 apud SPOSATI, 1988,
p.62).
De acordo com Arruda (2006), posteriormente estas casas foram tambm
ocupadas por rfos e enjeitados de Portugal:
Os castigos eram frequentes nas Casas, principalmente queles que fugiamdelas. Entretanto, os padres no tinham o costume de aplicar pessoalmenteos castigos delegando a algum de fora da Companhia essa tarefa, (p.20).
Isso ocorreu devido aos problemas com os meninos que chegavam
puberdade, como a prpria dificuldade na evangelizao dos adultos, levaram os
padres a utilizar o temor e a sujeio para converter, estruturando, assim, um
sistema rgido de disciplina, vigilncia e castigos corporais, salienta a autora.
Na poca da escravido, em tempos de grandes desembarques dos negros
que vinham da frica, as crianas representavam apenas dois entre dez adultos
(homens e mulheres) no havia um mercado propriamente dito de crianas cativas:
As transaes se faziam com frequncia nas etapas finais da infncia (Arruda,
2006, p.22). Ou seja, o principal objetivo de investimento senhorial eram as mes e
no seus filhos. Segundo Ges e Florentino (2004, p.177), As crianas que as
fazendas compravam no eram o principal objeto de investimento senhorial, mas
sim as suas mes, que com eles se agregavam aos cafezais, plantaes de cana de
acar e demais.
Considerando as condies precrias vivenciadas nessa poca, essas
crianas que escapavam da morte, muito cedo perdiam seus pais, seja por morte,
mudana de local de trabalho ou pela sua doao. Entretanto, existia uma rede de
relaes escravas, em especifico as de tipo parental. Os pais quase sempre
providenciavam um padrinho ou madrinha logo ao nascimento da criana, para a
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
22/75
21
mesma no correr o risco de abandono. De acordo com Rizzini e Rizzini (2004,
p.28),
no se descobriu at hoje a existncia de qualquer instituio que tenhaatendido exclusivamente a filhos de escravas ou ingnuos. Estes estavamsubmetidos ao domnio dos senhores. Os proprietrios eram responsveispor alimentar, vestir, preparar para o trabalho e disciplinar os escravos etambm os ingnuos, se assim o preferissem, pois a Lei do Ventre Livre(1871) permitia aos senhores manterem seus ingnuos at os 21, com ocompromisso de educa-los.
No sculo XVIII, surgem as primeiras instituies exclusivas para proteo
criana desvalida no Brasil. Foram elas as Rodas dos Expostos e os Recolhimentos
para Menores Pobres. Relatado por Arruda (2006), a roda dos expostos tinha por
finalidade dar proteo aos bebs abandonados. Criado na Europa medieval
procurava manter o anonimato dos expositores, desta forma defendiam a honra das
famlias cujas filhas engravidaram antes do casamento.
Realizado pela Santa Casa de Misericrdia, a roda tinha uma forma cilndrica,
dividida ao meio por uma divisria, e era fixada no muro ou na janela de uma
instituio. Esses cilindros rotatrios de madeira originaram-se nos monteiros econventos medievais, no qual eram utilizados como meios para receber objetos,
alimentos e mensagens para os residentes, ainda ressalta a autora.
De acordo com Arruda (2006), no Brasil, a Roda do Expostos foi uma das
instituies de maior durao: na Colnia, perpassou e multiplicou-se no perodo
imperial, conseguiu manter-se durante a Repblica e s foi extinta definitivamente na
recente dcada de 1950!.
A roda evitou que centenas de crianas fossem abandonadas nas ruas,
porm sua existncia trazia consigo uma forma de incentivo ao abandono devido
facilidade em deixar a criana para que esta fosse cuidada pela instituio. Este
modelo de atendimento perdurou no Brasil at o perodo da Repblica quando
houve a organizao da assistncia infncia no pas e tambm com a interferncia
da ao normativa do Estado. (RIZZINI, 1993).
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
23/75
22
Entretanto, como era impossvel dar conta de todas as crianas
abandonadas, pois o trabalho era uma tarefa pesada, demorada e difcil, muitas
destas crianas acabavam por perambular pelas ruas, prostituindo-se ou vivendo de
esmolas e pequenos furtos. Pois as Santas Casas de Misericrdia que eram
responsveis no tinham mais condies de cuid-las.
Em 1700, um rico comerciante deixou toda sua herana para a Santa Casa de
Misericrdia da Bahia, para a fundao do primeiro Recolhimento destinado ao
amparo das meninas pobres. Sobre recolhimentos de menores, relata Arruda (2006),
estes seriam complementares a roda, tendo como objetivo principal proteger a honra
das meninas, oferecer instruo, treinamento pessoal e fornecer um dote para o seufuturo casamento.
Marcilio (1998, p.164) aponta que o termo recolhimento, era usado para
identificar instituies femininas de recluso, erguido com fins devocionais,
caritativos ou educacionais. O segundo Recolhimento para meninas foi criado em
1739 no Rio de Janeiro. Porm era possvel verificar divisores raciais dentro dos
recolhimentos. Desta forma para rfs brancas era oferecida a formao religiosa,moral e prtica de boas empregadas domsticas e donas-de-casa, para as meninas
de cor era oferecida a formao de empregadas domsticas e semelhantes (Irma
RIZZINI 1993 apud RIZZINI e RIZZINI, 2004, p.27).
Em 1825 foi criado o Seminrio da Gloria, recolhimento para meninas em So
Paulo. Em tais abrigos, exercia-se um intenso controle sobre a sexualidade. Birolli
(2000, p. 170) afirma que:
Havia uma seleo para saber para onde as meninas deveriam serencaminhadas: quando virgens poderiam ir, para os mais diversosrecolhimentos, caso contrrio, eram enviadas ao Asilo Bom Pastor que foicriado 1985, e era a nica instituio que se propunha ao trabalho derecuperar as meninas perdidas. Neste asilo havia uma seo especialonde as meninas que eram ali recolhidas vinham mandadas pelos tutores eat pelos prprios pais, quer seja para castiga-las, quer seja por vergonhadiante da perda da virgindade das filhas.
Com relao aos meninos, se tornava mais problemtico, devido ao fato deno haver uma preocupao com honra e virtude. Informa Marcilio (1998, p.178)
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
24/75
23
Como eles no eram alvo das mesmas preocupaes com a honra e virtude, como
no caso das meninas, raras foram as instituies criadas para proteg-los, antes
meados do sculo XIX. Ainda menciona o autor, a primeira instituio para cuidar
dos meninos abandonados foi a Casa Pia e o Seminrio de So Joaquim, na cidade
de Salvador. A segunda foi criada em So Paulo em 1824, seminrio de Santana.
Posteriormente surgiram as Companhias de Aprendizes Marinheiros e as
Companhias de Aprendizes do Arsenal da Guerra, onde os meninos podiam
permanecer por nove anos ou at atingir a maioridade. Aps aprenderem o oficio,
eram encaminhados aos navios de guerra, conforme Nascimento (1999, p.75) as
Companhias de Aprendizes Marinheiros, por exemplo, forneceram, entre 1840 e1888, 8.589 meninos aptos para o servio nos navios de guerra, contra 6.271
homens recrutados fora e 460 voluntrios.
Nos ltimos anos do Imprio, foram criadas vrias instituies para atender os
imigrantes, considerando o grande fluxo migratrio naquele perodo. Como exemplo,
aparece o Orfanato Cristvo Colombo, em 1895, que estava voltado ao amparo e
educao de filhos de imigrantes italianos.
Ainda segundo Arruda (2006), devido necessidade de desenvolver novos
hbitos produtivos em substituio mo-de-obra escrava liberta, surgiram novas
formas assistenciais em So Paulo.
Galvo (2005) ressalta que a infncia desponta como parte da questo social
no final do sculo XIX, a partir da adoo do modelo republicano, marcado pelaindustrializao e pelo crescimento de duas grandes cidades, Rio de Janeiro e So
Paulo, pela abolio da escravatura, pela criao da fora de trabalho livre urbana e
forte onda de imigrao do estrangeiro (p.10). Completa Sposati (1988, p.103),
entre o sculo XIX e o inicio do sculo XX varias instituies foram criadas. Tendo
como consequncia um novo olhar sobre a assistncia infncia no Brasil.
Se a grande questo do Imprio brasileiro repousou na ilustrao do povo,
sob a perspectiva da formao da fora do trabalho, da colonizao do pase da conteno das massas desvalidas, no perodo republicano a tnicacentrou-se na identificao e no estudo das categorias necessitadas de
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
25/75
24
proteo e reforma, visando ao melhor aparelhamento institucional capaz desalvar a infncia brasileira no sculo XX. (RIZZINI, 2004, p.28).
Desta forma, afirma Arruda (2006), tanto o processo de industrializao, bemcomo o crescimento demogrfico, a concentrao urbana das populaes e o
aumento dos ndices de pobreza colocaram em evidncia a criana e o adolescente
abandonado e/ou infrator. Isto levou a uma exigncia de respostas do Estado
questo que vinha se configurando, pois as instituies filantrpicas j existentes
que atendiam adolescentes, no queriam acolher jovens incriminados
judicialmente.
Salienta a autora, diante de tantas presses, o Estado cria vrias instituies
de regime prisional para o atendimento destes menores no Brasil. Em 1902 surge o
Instituto Disciplinar de So Paulo, posteriormente chamado de Reformatrio Modelo,
esse instituto se deu em regime prisional com o objetivo de recuperar o jovem
infrator.
O movimento para elaborao de leis que protegessem e assistissem a
infncia culmina no Rio de Janeiro, com a criao do primeiro Juzo de Menores do
pas, na poca como foi chamado e na aprovao do Cdigo de Menores, em 1927,
idealizado por Mello Mattos, que foi o primeiro juiz de menores do Brasil.
O referido Cdigo baseava-se no direito do juiz em tutelar o menor emsituao irregular, configurando-se como objeto de medidas [...] o controlesocial dos menores em situao irregular quase sempre era estabelecidoatravs do internato provisrio, medida aplicada pelo juiz justificada pelaincapacidade dos pais em mant-los financeiramente o que no tivesse
tempo e condies de faz-lo [...] (AZEVEDO, 2004, p.98).
Segundo Galvo (2005), decorrente a criao do primeiro Cdigo de
Menores, crianas e adolescentes passam a ser foco de polticas pblicas, deixando
de ser objetos de caridade. O Cdigo trazia o iderio higienista, propondo-se a
difundir as noes elementares de higiene infantil entre as famlias pobres,
destacando-se a necessidade de vacinao e de proteo s crianas, aos doentes
e aos moralmente abandonados (Vieira, 2003 apud Galvo, 2005, p.09).
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
26/75
25
Rizzini e Rizzini (2004) retratam o teor preconceituoso acerca do modo como
eram rotulados os menores:
A produo discursiva de todo o perodo da forte presena do Estado no
internamento de menores fascinante, pelo grau de certeza cientfica com
que as famlias populares e seus filhos eram rotulados de incapazes,
insensveis, e uma infinidade de rtulos. (RIZZINI e RIZZINI, 2004, p.31)
Assim, a preocupao com a infncia pobre era de que a mesma futuramente
constitui-se uma classe perigosa.
Ressalta Arruda (2006), em 1941, no Rio de Janeiro, implantado pelo
governo de Getlio Vargas o Servio de Assistncia ao Menor (SAM). Neste
perodo, era preciso intervir junto ao menor em nome da defesa nacional. Segundo a
autora, o SAM criou fama de fabricar criminosos. A passagem pelo SAM tornava o
jovem temido e rotulado. Eram feitas vrias denncias em relao a esse servio.
Em So Paulo, a partir da dcada de 40, a situao dos menores institucionalizados
tornou-se foco de discusses, principalmente devido violncia nos internatos.
Atravs destas discusses, o Juizado de Menores de So Paulo instituiu,
atravs da Lei de Colocao Familiar, o Servio de Colocao Familiar, em 1949.
Tinha por objetivo evitar a internao dos jovens, garantindo-lhes o direito a um
ambiente familiar e com recursos materiais possibilitadores de atendimento s suas
necessidades naturais de crescimento e desenvolvimento (Arruda, 2006, p.30).
Essa lei permitia ento, alm da ao de colocao em lar substituto, o atendimento
do menor em seu prprio meio familiar.
A famlialevanta a autora, passa a ser defendida como valor universal e nica
soluo para atingir o bem-estar do menor. Portanto, recai sobre a famlia a
responsabilidade pelo abandono e delinquncia. Assim, punia-se com a perda do
poder familiar os pais que no tivessem possibilidade de prover as necessidades
bsicas das crianas e adolescentes.
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
27/75
26
Em 1964, ocorre com o golpe Militar, desponta um governo marcado pela
restrio de direitos. instituda, neste regime, a Poltica Nacional do Bem Estar
do Menor (PNBM) e, como agente executora desta poltica, surge a Fundao
Nacional do BemEstar do Menor (FUNABEM). Desta forma, a questo do menor
inserida nos aspectos psicossociais da poltica de segurana, uma vez que
problemas sociais tais como o abandono e corrupo de menores poderiam
desencadear uma desestabilizao da ordem vigente (GALVO, 2005).
Entretanto, segundo Arruda (2006), apesar da tnica de no internao, a
censura e o silncio auxiliavam poderosamente os oficiais a manterem a poltica de
internao nas piores condies que fossem, longe dos olhos e ouvidos dapopulao (p.31).
Rizzini e Rizzini (2004) informam que:
De 1967 a 1972, havia-se recolhido das ruas, na cidade do Rio de Janeiro,cerca de 53 mil crianas. Em so Paulo, eram 33 mil internos, valorizandoassim, a ao institucional pela demonstrao da gravidade do problemados menores.(RIZZINI E RIZZINI 2004, p.37)
Na cidade de So Paulo, era comum enviar crianas para internatos no
interior. Assim, afastava-se a criana da famlia, realizando uma limpeza nas ruas
da cidade. As crianas eram internadas onde houvesse vagas, independente do
local da moradia da famlia.
De acordo com Azevedo (2004), Em 1979 foi instaurado o Novo Cdigo de
Menores. Nele o Estado isento da responsabilidade de manter a subsistncia de
crianas e adolescentes, sendo esta repassada aos pais. Dessa maneira, a lei no
levava em considerao as condies de vida precrias de grande parte das famlias
brasileiras. Os pais que no cumprissem seu dever eram punidos, podendo at
perder os filhos. Dessa forma:
[...]O menor passou a ser definido como em situao irregular quandoprivado, ainda que temporariamente, de condies essenciais a sua
subsistncia, sade e instruo. Essa nova lgica continuava atribuindo aospais ou responsveis o encargo pelas privaes da menoridade (SANTOS,2004, p.122).
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
28/75
27
Somando todas essas aes em favor da criana e do adolescente, a partir
da dcada de 1980, a historia da institucionalizao de crianas e adolescentes
toma outros caminhos. Outras questes tambm comeavam a mobilizar mudanas:o fortalecimento da cultura democrtica; a presso dos movimentos sociais; vrios
estudos que demonstravam os prejuzos da institucionalizao para o
desenvolvimento das crianas e adolescentes (RIZZINI e RIZZINI, 2004, P.64). Em
1987 ocorre a instalao do SOS Criana, que agiu como uma central de triagem e
encaminhamento de crianas e adolescentes para um abrigamento.
J em 1990, levanta Arruda (2006), includo o artigo 227 na Constituio
Federal:
Art.227 dever da famlia, da sociedade e do Estado assegurar crianae ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria,alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia, discriminao,explorao, crueldade e opresso. (Brasil Constituio da RepblicaFederativa do Brasil; 2001: 135,136).
A Constituio Cidad reafirmou os direitos j garantidos pela Declarao
Universal dos Direitos do Homem e pela Declarao dos Direitos da Criana, ambas
elaboradas pela ONU e tambm ressaltou a importncia do direito de crianas e
adolescentes convivncia familiar e comunitria.
Ainda no mesmo ano, institudo o Estatuto da Criana e do Adolescente
(ECA). Trata-se de um marco para os direitos da populao infanto-juvenil brasileira.
Desta forma, instala-se o paradigma de direitos e proteo integral criana e ao
adolescente. Portanto, determinada uma nova forma de gesto participativa entre
Estado e Sociedade. A partir do ECA, afirma Galvo (2005), passa-se a exigir um
novo padro de atuao do Poder Pblico. Houve uma descentralizao, uma
ampliao das responsabilidades do poder local, assim como um desenvolvimento
da poltica social. Criando assim, os Conselhos Municipais, Estaduais e Nacionais
da Criana e Adolescente. Em relao sociedade civil, foi conferido o direito de
participao na definio de diretrizes e acompanhamento do programa atravs doConselho de Direitos e Conselho Tutelar.
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
29/75
28
O Estatuto refora a proposta da desinstitucionalizao, que j vinha
ganhando fora atravs dos movimentos sociais da poca buscando romper com as
antigas prticas de institucionalizao. Portanto o ECA traz em seu contedo um
captulo exclusivamente voltado para o direito convivncia familiar e comunitria e
ressalta em seu artigo 19 que toda criana ou adolescente tem direito a ser criado
no seio de sua famlia. (Brasil, 1990) O Estatuto prioriza o direito convivncia
familiar e comunitria, entendendo que a famlia a estrutura vital para o
desenvolvimento das pessoas e a base social do Estado. A partir deste
entendimento prev que o acolhimento institucional e/ou a internao devem ser
utilizados em ltima instncia, quando todas as alternativas possveis forem
esgotadas.
Concomitante a criao do ECA, ocorre tambm a aprovao da Lei Orgnica
da Assistncia Social em 07 de dezembro de 1993, com a finalidade de reforar a
necessidade de se continuar avanando na estruturao de servios de qualidade
na rea da infncia e da adolescncia em situao de abandono, encontrando-se
em vigor at os dias atuais.
Assim, conclui-se que as mudanas constitucionais que dizem respeito a
proteo de criana e adolescentes, permitiu que as mesmas fossem reconhecidas
como pessoas em peculiar estgio de desenvolvimento necessitando assim de
proteo integral e especial da famlia, da sociedade e do Estado, sendo este ltimo
responsvel pela criao e execuo de polticas pblicas especficas para a
garantia dos direitos fundamentais deste grupo.
1.2 O QUE DEFINE ADOLESCNCIA
Sendo os sujeitos da pesquisa adolescentes em situao de acolhimento
institucional, se torna necessrio entender como se define essa fase, conceituar
adolescncia se torna um desafio visto que um termo repleto de anlises. O
perodo da adolescncia a fase de vida do ser humano em que o sistema biolgico
de transio sai da infncia e entra na vida adulta. De acordo com a psicanalista
argentina Aberastury (1981, p.89). [...] a criana, queira ou no, v -se obrigada a
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
30/75
29
entrar no mundo adulto, essa expresso resume notoriamente este momento
singular, pelo qual todo sujeito vivencia.
Uma palavra com dupla origem etimolgica caracteriza muito bem as
peculiaridades desta etapa da vida. Ela vem do latim ad (a, para) e olecer (crescer),
significando a condio de processo de crescimento. Em resumo, o individuo apto
para crescer. A adolescncia tambm deriva do adolescer, origem da palavra
adoecer, temos assim, nesta dupla origem etimolgica, um elemento para pensar
esta etapa da vida: aptido para crescer no apenas no sentido fsico mais tambm
psquico e para adoecer em termos de sofrimento emocional, com a s
transformaes biolgicas e mentais que operam nesta faixa da vida (OUTEIRAL,1994 P.06).
De acordo com Tiba (1986), a palavra adolescncia vem do latim adolescer
e seu significado crescer, tornar-se maior, desenvolver-se e por fim atingir a
maioridade. Sendo que, a adolescncia um processo em que o ser humano passa
por um desenvolvimento, uma fase importantssima na vida de qualquer individuo,
fase ativa que ocorre s mudanas biolgicas e psicolgicas para formao daidentidade, estando tambm relacionadas aos fatores socioeconmicos, histrico e
cultural existente no meio familiar, na sociedade etc., ou seja, no meio em que vive.
Para Becker (1994), adolescncia esta numa fase conflituosa de mudana
de identidade e da personalidade sendo o adolescente encarado pelos adultos como
um ser em desenvolvimento e conflito. Fase ocorrida depois da infncia, a
adolescncia vista como uma pedra no caminho para a entrada na vida social,havendo uma separao escolar devido pressa em chegar a vida adulta como
explica o autor:
Com ascenso da burguesia como classe dominante, houve mudanas naestrutura escolar, surgindo formao primria e secundria. Assim, aidade, classe escolar e adolescncia passou a ser melhor distinguida(Becker, 1994, p.58).
Assim, sendo a adolescncia um perodo em que o sujeito se v a frente h
muitos desafios, descobertas, frustaes e conquistas. um momento de
transformaes biopsicossociais que fazem parte do referido perodo. Cada vez
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
31/75
30
mais os adolescentes procuram sua autonomia e independncia, principalmente a
financeira, em relao aos pais ou aos adultos em geral. Procuram se diferenciar
dos moldes j existentes e buscam novas formas de construir sua identidade.
Segundo o ECA no seu art. 2, adolescente aquela pessoa que tem entre 12
anos completos e 18 anos incompletos de idade, mas em casos expressos em lei,
aplica-se excepcionalmente este Estatuto as pessoas entre dezoito e vinte e um
anos de idade. Reconhecendo que o adolescente para o pleno e harmonioso
desenvolvimento de sua personalidade, em virtude da sua ausncia de maturidade,
necessita de proteo e cuidados especiais, inclusive a devida proteo legal, tanto
antes quanto aps o nascimento. (ECA, 1990).
Para Georges (2008), a adolescncia um processo de crescimento e
transformao que leva o jovem a chegar at a maioridade, tornando-se adulto, ou
seja, a adolescncia sucede na passagem da fase da criana para a adulta, sendo o
momento em que a pessoa sofre modificaes e transformaes no comportamento,
portanto podemos afirmar que adolescente aquele individuo em transformao.
durante a adolescncia que se observa, com mais nitidez, a relao entre
as necessidades biolgicas e as necessidades culturais, que Vygotsky (1996),
descreve por interesses. Assim, com o amadurecimento e apario de novas
atraes e necessidades internas: o que antes no despertava interesse pode se
converter em objeto fundamental.
Portanto, para Vygotsky (1996), possvel dizer sobre as etapas daadolescncia como um processo na formao da personalidade, onde h um
movimento dinmico, com diferentes fases e etapas distintas de desenvolvimento de
novos interesses. Estas etapas coincidem com o ritmo de amadurecimento biolgico.
Para o autor russo, so precisamente descritas trs fases da adolescncia: o
crescimento (processo de desenvolvimento do organismo); a crise (processos
crticos e novos de mudanas violentas); e amadurecimento (processos que vo
configurar os elementos internos do adulto). Estas fases determinaro
fundamentalmente o estado de amadurecimento sexual, caracterizado atravs de
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
32/75
31
um novo sistema de atraes orgnicas, onde aparecem novas necessidades e
impulsos, que constituiro a base de todo o sistema de interesse do adolescente.
A adolescncia caracterizada por uma gama de sentimentos diversos,
indescritveis e inexplicveis. Os desejos e as aes dos jovens so imprevisveis, o
que bom hoje, pode no ser amanh.
Uma das tarefas essenciais da adolescncia a estruturao da identidade.Embora comece a ser construda desde o inicio da vida do indivduo, naadolescncia que ela se define se encaminha para um perfil tornando estaexperincia um dos elementos principais do processo adolescente(OUTEIRAL, 1994, p.71).
Para Groppo (2000, p. 12), a importncia do aprofundamento dessa categoria
social se d para o entendimento de diversas caractersticas das sociedades
modernas, o funcionamento delas e suas transformaes. Para a maior parte dos
estudiosos do desenvolvimento humano, ser adolescente viver um perodo de
mudanas fsicas, cognitivas e sociais que, juntas, ajudam a traar o perfil da
populao.
A adolescncia , portanto, o perodo situado entre a infncia e a vidaadulta e vai se configurar basicamente numa srie de mudanas em todosos nveis dos ser, adicionada da experimentao de das essas novidadesfsicas, hormonais, intelectuais, culturais, emocionais, familiares, sociais,morais, etc. (PIGOZZI, 2002, p. 26).
Ressalta Teixeira (2003), que a adolescncia adquiriu diferentes
configuraes na histria das civilizaes. At o sec. XVIII, o indivduo passava da
infncia para a fase adulta, onde ele convivia e aprendia com os adultos sobre a vida
e como deveria se comportar socialmente. Somente no sculo XIX, que aadolescncia passou a ser definida com caractersticas especficas, que
diferenciavam-na da infncia e da idade adulta. Dessa forma a adolescncia e a
juventude, provavelmente, diferem-se pelo fato da primeira estar mais prxima
infncia e a segunda vida adulta, maturidade.
Na etapa da adolescncia, o jovem depara com grandes mudanas, adquire
novas habilidades e enfrenta diversos desafios (Steinberg, 1999). A realidade da
institucionalizao pode ser uma destas grandes mudanas.
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
33/75
32
1.3 ADOLESCENTES EM SITUAO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E
O SERVIO SOCIAL NESSE CONEXTO
Goffman (2007, p.11), em suas pesquisas sobre modelos institucionais,
priorizou as chamadas instituies totais. Caracterizando instituio total como um
local de residncia e trabalho onde um determinado nmero de indivduos com
situao semelhante, separados da sociedade mais ampla por considervel perodo
de tempo levam uma vida fechada e administrada. Destacando que todas as
instituies tm tendncias ao fechamento:
Quando resenhamos as diferentes instituies de nossa sociedadeocidental, verificamos que algumas so muito mais fechadas do que outras.Seu fechamento ou seu carter total simbolizado pela barreira emrelao com o mundo externo e por proibies sada que muitas vezesesto includas no esquema fsico [...]. A tais estabelecimentos dou o nomede instituies totais [...]. (GOFFMAN, 2007, p.16).
Nesse contexto o autor as elenca em cinco tipos de instituies totais:
1. Para cuidar de pessoas incapazes e inofensivas (rfos, indigentes).
2. Para cuidar de pessoas incapazes de cuidar de si e que ameaam a sociedade,
embora no
intencionalmente (doentes mentais, leprosos, tuberculosos).
3. Proteger a comunidade de perigos intencionais (cadeias, penitenciarias).
4. Realizar de modo mais adequado uma tarefa de trabalho (quartis, internatos,
colnias)
5. Refugiar-se do mundo, locais de instruo religiosos (conventos, mosteiros).
Segundo Rizzini e Rizzini (2004), a institucionalizao faz parte de uma longa
realidade histrica do pas. Por isso o fato continua eminente e provocando debates
com objetivo de alternativas urgentes para essa situao. As autoras tambm
ressaltam que na atualidade o tema apresenta maior conscientizao da
necessidade de focar a ateno para as causas dos problemas que tm levado a
abrigagem, termo como era utilizado antigamente a questo do acolhimento de
crianas e adolescentes e a eminncia de buscar formas de apoiar e possibilitar a
permanncia dos mesmos junto s suas famlias e comunidades.
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
34/75
33
Segundo Ferreira (1995), abrigo no contexto de institucionalizao definido
como: 1- lugar que abriga; refgio; moradia; abrigada; abrigadouro. 2- cobertura,
teto. 3. casa de assistncia social onde se recolhem pobres, velhos, rfos ou
desamparados.4- local que oferece proteo contra os rigores do sol, da chuva, do
mar ou do vento. 5- tnel, caverna ou construo subterrnea usada como refgio e
para proteo durante ataques areos. 6- agasalho, em geral, impermevel, usado
em ocasio de mau tempo. 7- asilo, amparo, socorro, proteo.
O termo abrigo nasceu com a discusso do ECA, na dcada de 80. De
acordo com a histria, eram instituies que tinham como objetivo separar do
espao pblico aquilo que provocava desordem social e ia contra a dignidadehumana, neste caso o abandono e maus-tratos de crianas. Durante sculos, essa
opinio influenciou a formulao de polticas de proteo aos pobres, rfos e
abandonados. Colaborou para conservar a ideia de que o acolhimento de crianas
em instituies a medida social mais ajustada em situaes de risco.
O acolhimento institucional um atendimento voltado s crianas e
adolescentes que, de alguma maneira, tiveram seus direitos ameaados ou violados,por isso necessitaram ser afastados do convvio familiar de modo temporrio. Essa
medida est prevista no Estatuto da Criana e do Adolescente, sendo que o termo
abrigamento, que antes definia a situao, foi substitudo (com a Lei 12.010/09
Lei da adoo) pela terminologia acolhimentoinstitucional.
O desenvolvimento dos abrigos surge primeiramente com objetivos
higienistas e correcionais. Aps a promulgao da Constituio Brasileira de 1988 edo Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA), os abrigos passam a figurar como
uma medida de proteo provisria. Artigo (92 e 100) do estatuto: a
excepcionalidade e a brevidade do programa de Acolhimento Institucional, obrigando
que se assegure a preservao dos vnculos familiares e a integrao em famlia
substituta quando esgotados todos os recursos de manuteno na famlia de
origem
O ECA estabelece que o abrigo deve ser uma medida protetiva, excepcional
e provisria, que visa, em um primeiro momento, retirar a criana ou o adolescente
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
35/75
34
da situao de risco em que se encontra (ABAID 2008, p.50).Desta forma, tem por
funo atender as necessidades diversas do individuo em desenvolvimento.
Entretanto, tal medida dever ser temporria at que a famlia biolgica esteja
preparada para receber a criana ou o adolescente novamente ou acontea a
insero destas em outro lar autorizado judicialmente.
A medida aplicada a qualquer criana e adolescente, violados ou
ameaados em seus direitos bsicos, pela ao ou omisso do Estado, omisso ou
abuso dos responsveis, ou tambm em razo de sua prpria conduta, quando
considerada inadequada (FERNANDES, SANTOS, e GOTIJO, 2007).
De acordo com Cavalcante, Magalhes e Pontes (2007), a separao
involuntria dos pais, bem como a exposio explorao, violncia e abuso, tanto
dentro do prprio lar como externamente, servem como justificativas para a longa
permanncia de crianas e adolescentes em instituies abertas ou fechadas, como
abrigos, orfanatos, internatos, hospitais e unidades psiquitricas.
Azevedo e Guerra (2000) descrevem que nos abrigos pode ser encontradoum perfil de crianas e jovens que incluir: as mal amadas, que sofrem as mais
variadas formas de abusos afetivos; as mrtires, que acabam sucumbindo s vrias
formas de violncia; as abandonadas, que foram atingidas pela negligncia e
desamparo; as comercializadas, que foram transformadas em mercadorias na rede
de prostituio e crime organizado; as trabalhadoras, que se tornaram
mantenedoras da prpria famlia; e as marginais, que encontraram no furto uma
forma de subsistncia.
No interior de um quadro de extrema pobreza vivida pela famlia, muitascrianas acabam indo para um abrigo, so abandonadas ou entregues emadoo. So crianas que tm a violncia social como cenrio de circulaomesmo antes do seu nascimento, perodo em que as mes no tiveramacesso a servios apropriados para o atendimento pr e perinatal [...](FVERO, 2007, p. 16).
As medidas de proteo como o abrigamento so consideradas necessrias
quando, de acordo com Siqueira e DellAglio (2006), a famlia no desempenha o
seu papel de apoio e proteo, tornando-se um fator de risco tanto para o
desenvolvimento como bem-estar de crianas e adolescentes.
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
36/75
35
As autoras Rizzini, Rizzini, Naif e Baptista (2006), referem como principais
causas do afastamento de crianas e adolescentes de suas famlias, situaes
classificadas como violaes de direitos da criana e do adolescente (ECA, 1990),
caso da violncia intra-familiar, como abuso fsico, negligncia, abuso sexual, entre
outros. As autoras salientam ainda que quando h possibilidades de superao
desses problemas, a situao de pobreza, que se mantm, acaba sendo outro
obstculo, por essa condio poder refletir em ameaas aos direitos da criana e
adolescentes.
Segundo Azevedo e Guerra (2000), as crianas institucionalizas so aquelas
que na maioria foram vtimas de uma violncia marcada pela dominao de classese desigualdade social, que requerem a proteo do Estado. Uma violncia dita como
estrutural, caracterstica do sistema econmico e poltico que atinge principalmente
as camadas menos favorecidas. De acordo com as autoras, estas crianas e
adolescentes so consideradas de alto-risco, pois foram violados seus direitos
humanos mais elementares, como a vida, alimentao, sade, educao,
segurana, lazer, moradia etc.
De acordo com Cavalcante, Magalhes e Pontes (2007), a separao
involuntria dos pais, bem como a exposio explorao, violncia e abuso, tanto
dentro do prprio lar como externamente, servem como justificativas para a longa
permanncia de crianas e adolescentes em instituies abertas ou fechadas, como
abrigos, orfanatos, internatos, hospitais e unidades psiquitricas.
Como j mencionado, no ECA o acolhimento definido como uma medida deproteo. Desse modo, as unidades de acolhimento so como uma moradia
alternativa, onde os acolhidos ali permanecem at o retorno para sua famlia ou a
colocao em famlia substituta, no qual um novo lar, um novo ambiente no qual o
adolescente em questo ser encaminhado.Historicamente, crianas e adolescentes
recebiam o mesmo tipo de atendimento, independente da situao em que se
encontrassem. A legislao j no permite mais essa prtica, visto que, dividiu as
formas de proteo em modalidades diversas. Ocorre assim a distino entre
medida protetiva e medida socioeducativa.
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
37/75
36
As medidas socioeducativas no so aplicveis s crianas, mas apenas aos
adolescentes, ou seja, aqueles entre doze e dezoito anos de idade. Para aqueles
que possuem idade inferior, apenas as medidas de proteo lhe so encaminhadas,
qualquer que seja sua ao.
[...] a criana tambm pratica ato infracional, mas a ela no so aplicveismedidas socioeducativas, apenas medidas de proteo [...] ao adolescente,podem ser aplicadas medidas scio-educativas ou medidas de proteo(BARROS, 2010, p. 143).
A aplicao dessas medidas so modos de responsabilizar o adolescente
infrator, sendo que as caractersticas da infrao so consideradas, assim como a
situao do delito e a capacidade do adolescente em cumprir a medida.
Ao contrario das medidas socioeducativas, as de proteo abrangem crianas
e adolescentes. Seu foco a proteo dos sujeitos que tiveram ameaados ou
violados seus direitos (por ao ou omisso do estado; por falta, omisso ou abuso
dos pais ou responsvel; ou em razo de sua condutaartigo 98 do ECA) previstos
na legislao protetiva, tais como vida, sade, educao, lazer, entre outros, e,
desse modo, precisam afastar-se da convivncia com a famlia. As medidassocioeducativas tambm so para proteo, entretanto so aplicadas devido ao
comportamento do adolescente, mas em termos legais no so vistas como
punio.
Para a realizao do acolhimento, o mesmo realizado atravs de Guia de
Acolhimento onde esta solicitao feita por deciso da Justia da Infncia e da
Juventude ou Conselho Tutelar, Defensoria Pblica e CREAS. De acordo com o 3
pargrafo do artigo 101, no Guia de Acolhimento deve conter identificao dos pais
ou responsveis; o endereo com ponto de referncia; os nomes de parentes ou
terceiros interessados em ter a guarda do abrigado e, por fim, os motivos para a
retirada ou no reintegrao ao convvio familiar.
Cada criana e adolescente, possui suas peculiaridades, por isso o trabalho
dos abrigos e juizados volta-se para conhecer cada caso em suas particularidades,
agindo assim nas causas do acolhimento. Devido a essas questes o Estatuto prev
a necessidade de existir um plano individual de atendimento.
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
38/75
37
Assim que a criana ou adolescente chegar ao servio de acolhimento, aequipe tcnica do servio, que, onde houver, poder contar com acontribuio da equipe responsvel pela superviso dos servios deacolhimento (ligada ao rgo gestor da Assistncia Social) para elaborar umPlano de Atendimento Individual e Familiar, no qual constem objetivos,
estratgias e aes a serem desenvolvidos tendo em vista a superao dosmotivos que levaram ao afastamento do convvio e o atendimento dasnecessidades especficas de cada situao [...]. Tal Plano dever partir dassituaes identificadas no estudo diagnstico inicial que embasou oafastamento do convvio familiar (BRASIL, 2009, p. 33).
Ao falar de acolhimento institucional fica invivel no fazer referncia ao
Plano Nacional de Promoo, Proteo e Defesa do Direito de Crianas e
Adolescentes Convivncia Familiar e Comunitria PNCFC (2006). Este plano
visa romper com a cultura da institucionalizao de crianas e adolescentes efortalecer a concepo de proteo integral e preservao dos vnculos familiares e
comunitrios preconizados pelo Estatuto da Criana e do Adolescente. O documento
ressalta que:
A importncia da convivncia familiar e comunitria para a criana e oadolescente est reconhecida na Constituio Federal e no ECA, bem comoem outras legislaes e normativas nacionais e internacionais. Subjacente aeste reconhecimento est a ideia de que a convivncia familiar e
comunitria fundamental para o desenvolvimento da criana e doadolescente, os quais no podem ser concebidos de modo dissociado desua famlia, do contexto scio-cultural e de todo o seu contexto de vida(BRASIL, 2006, p. 29).
Para Simes (2006) a famlia constitui a instncia bsica, na qual o
sentimento de pertencimento e identidade social desenvolvido e mantido e,
tambm transmitidos os valores e condutas pessoais. Gradualmente Sarti (2004)
nos afirma que ao se pensar e trabalhar com a famlia imprescindvel que se
compreenda que no estudamos os indivduos em si, mas enfocamos todas as
relaes que envolvem o contexto familiar.
Desta forma, no possvel falar da atuao dos abrigos sem destacar que a
famlia pea fundamental no trabalho de proteo integral a crianas e
adolescentes. Quando h necessidade de afastamento do lar, os esforos voltam-se
para que a reintegrao se d no menor tempo possvel e, especialmente, para que
as referncias familiares no sejam perdidas. Para isso, buscar o fortalecimento e a
manuteno dos vnculos afetivos entre os educandos e suas famlias essencial
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
39/75
38
nesse contexto. Somente quando no possvel, ocorre a reinsero em famlia
substituta.
Outro fator importante discutir o trabalho da rede social no enfrentamento da
questo do Acolhimento Institucional de Adolescentes. A rede de que se fala
aquela que articula diferentes polticas sociais bsicas em especial a sade,
assistncia social e a educao, e ainda do envolvimento de polticas como
habitao, lazer, trabalho, esporte e cultura; programas executores de proteo e de
auxlio, orientao e promoo da famlia e aos recursos da comunidade que
contribuem pra oferecer um rpido e eficaz atendimento s crianas e adolescentes.
Para Rizzini (2004) os trabalhos em rede so:
[...] linhas de aes ou trabalhos conjuntos para melhor atender snecessidades da vida social, cultural, material e afetiva. As redes soformaes dinmicas e flexveis, com continuada renovao dosparticipantes, o que requer certos cuidados para a sua continuidade. Asredes devem estar atentas ao movimento dos grupos e das organizaessociais (RIZZINI, 2004,p. 112).
Destacamos assim nesse contexto, a interveno do(a) assistente social, pois
esse profissional tem um importante papel no processo de constituio de uma rede
social articulada e na gesto da mesma para que seja capaz de fazer o
enfrentamento das situaes de vulnerabilidade e riscos sociais a que essas famlias
esto submetidas e neste sentido atuar para o fortalecimento social dos membros.
a interveno que d forma, caracteriza e determina o modo do fazerprofissional, desvelando a especificidade do Servio Social no campo dascincias sociais aplicadas. [...] desenvolve-se por um conjunto de aes
com o usurio, com a equipe, nas diversas instncias institucionais e locais,espaos em que se manifestam as relaes objetivas e subjetivas. Nestesentido atravs da interveno que se operam os significados, os rumos,as mediaes, a intencionalidade da ao profissional, revelando, assim, osvalores morais, ticos e polticos. (RODRIGUES, 1999, p. 15).
O trabalho profissional do Servio Social sempre foi uma das dimenses
exaustivamente discutidas pela profisso, seja em espaos de formao acadmica
ou de organizao da categoria. Essa discusso est ligada ao fato de que a
profisso historicamente tem sido chamada a interveno na realidade. De acordo
com Iamamoto e Carvalho (2011), o Servio Social nasceu no bojo da sociedade
capitalista, na dcada de 1930, expressando o controle do Estado interventor com
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
40/75
39
as reinvindicaes da classe trabalhadora por melhores condies de trabalho e de
vida. Nesse sentido, o Servio Social volta suas aes para o enfrentamento das
expresses latentes da questo social que afetam a sociedade at os dias atuais.
As aes profissionais do Servio Social no podem ser reduzidas a
intervenes pontuais na realidade, mesmo que essas sejam necessrias, a
construo terica da realidade no pode estar desvinculada do trabalho
profissional. O espao de trabalho para o assistente social atualmente contempla a
execuo de medidas socioeducativas, seja no mbito municipal, como a liberdade
assistida e a prestao de servios comunidade, seja no estadual, como a
semiliberdade e internao.
O profissional de Servio Social deve sempre ter claro que o compromisso
fundamental com a populao atendida, Martinelli destaca:
No obstante estejamos trabalhando em profisses que so eminentementesociais, nem sempre percebemos exatamente quem esse outro com oqual trabalhamos. Nem sempre temos claro que sujeito esse. Em quantosmomentos esse outro visto de forma vulgarizada, banalizada, como se o
centro de referncia da prtica fosse o profissional que a realiza e no osujeito que a constri conosco. [...] H ento uma inverso total de valores.As instituies existem para responder as demandas da populao.(MARTINELLI, 1999, P.13)
O CFESS prope algumas normativas acerca das atribuies do assistente
social na perspectiva da poltica de atendimento dos direitos da criana e
adolescente (CFESS, 2010).
- Lutar pela ampliao dos espaos de participao poltica do Servio Social
com a finalidade de qualificar as discusses e o controle da efetivao dos direitos
da criana e do adolescente;
- Garantir subsdios categoria profissional e sociedade por meio de
pareceres, notas e manifestaes referentes a temas e assuntos, inclusive matrias
legislativas, que impliquem diretamente na garantia de direitos e/ou violao de
direitos de crianas e adolescentes (reduo maioridade penal, ato infracional e
reduo do tempo de internao, trabalho infantil, abuso e explorao sexual,metodologia de inquirio, entre outros);
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
41/75
40
- Promover debates que fomentem reflexes crticas e posicionamento das/os
assistentes sociais em nome da garantia da prioridade absoluta e da proteo
integral de crianas e adolescentes;
- articula-se com entidades e movimentos sociais e populares em defesa de
uma poltica integral, contrariando o carter das intervenes e medidas focalistas,
seletivas e desconectadas das demais polticas pblicas e sociais;
Portanto o profissional de Servio Social nas unidades de acolhimento precisa
comprometer-se com a efetividade do atendimento realmente socioeducativo,
situando seu trabalho na perspectiva da garantia de direitos. Logo aps a entrada do
adolescente em unidades de acolhimento, faz-se necessrio, elaborar os objetivosda interveno junto ao mesmo, j que preciso considerar a particularidade de
cada um. Trata-se do Plano Individual de Atendimento (PIA). A partir desse
momento, podemos observar o trabalho do assistente social em trs dimenses que
possuem interlocuo entre si: atendimento ao adolescente, famlia, por
participao na unidade de acolhimento.
Ao adolescente, pois a perspectiva deve ser a ateno integral do mesmo,busca-se nesses espaos de acolhimento orientar em relao a seus projetos de
vida, necessidade de profissionalizao, escolarizao. Procura-se ainda nestes
atendimentos trabalhar questes familiares, questes relacionadas ao dia a dia na
unidade, sempre respeitando a disposio do mesmo para o dilogo. famlia por
ser considerada alvo da interveno, j que tambm so participantes no processo
socioeducativo, visto que o meio familiar , em geral, para onde o adolescente volta
aps o acolhimento.
Percebe-se que o acolhimento institucional o recurso recorrido em ltima
instncia no caso de crianas e adolescentes em situao de risco e vulnerabilidade
social, usado quando as outras opes foram esgotadas ou mostram-se ineficientes.
A convivncia familiar priorizada assim como um atendimento individualizado em
cada caso. A partir ento da peculiaridade de cada famlia, o profissional de
desenvolver junto ao adolescente, estratgias para o fortalecimento dos vnculos.
Participao na unidade de acolhimento, pelo fato do conhecimento da rotina da
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
42/75
41
unidade, da realidade institucional so fundamentais para que se alcance o que est
sendo proposto.
2. UNIDADE DE ACOLHIMENTO NOVA VIDA
Segundo o ECA, acolhimento institucional uma medida de proteo, ou
seja, tem como foco a proteo dos sujeitos que tiveram ameaados ou violados
seus direitos por ao ou omisso do estado; por falta, omisso ou abuso dos pais
ou responsvel; ou em razo de sua conduta artigo 98 do ECA previstos na
legislao protetiva, tais como vida, sade, educao, lazer, entre outros, e, desse
modo, precisam afastar-se da convivncia com a famlia. (ECA, 1990).
2.1 A UNIDADE E SEUS MARCOS LEGAIS
O Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA), Lei Complementar n 8069,
de 13 de Julho de 1990, juntamente com a Constituio Brasileira de 1988 so
enfticos ao exigirem prioridade absoluta por parte da famlia, da sociedade e do
Estado s necessidades das crianas e adolescentes. Pela Constituio Brasileira,
meninos e meninas deixaram de ser propriedades de seus pais, passando a
condies de sujeitos de direitos ou portadores de direitos especiais que precisam
ser protegidos por causa de sua condio de pessoa humana em desenvolvimento
fsico, moral e psicolgico.
Mello e Silva (2004) reforam a responsabilidade do poder pblico no
atendimento aos direitos da criana e do adolescente:
Isso demonstra que as entidades no governamentais so atores relevantesna implementao das polticas de proteo especial infncia e adolescncia. A predominncia desse tipo de entidade na prestao deservios de abrigo refora ainda mais a responsabilidade do poder pblico federal, estadual e municipal no cumprimento de seu papel de coordenarum sistema, com vistas efetiva implementao de uma politica deproteo especial conforme prevista no ECA [...]. (MELLO E SILVA, 2004,P.75).
Nesse sentido, as polticas servem para concretizar aquilo que assegurado
em lei, compreendendo que no mbito de acolhimento institucional de crianas e
adolescentes, o Estado e os demais rgos responsveis poderJudiciario, Ministerio
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
43/75
42
Pblico, Conselho Municipal dos Direitos da Criana e adolescente e Conselho
Tutelar devem exigir tal cumprimento e o direcionamento da politica de atendimento
no mbito da garantia de direitos s crianas e aos adolescentes, como preconiza a
lei. Outro fator importante a mencionar da contribuio do setor privado que
justificada no sentido de tambm agente responsvel pelo desenvolvimento dessa
questo.
A Unidade de Acolhimento Nova Vida, espao deste estudo, atua no
acolhimento de adolescentes do sexo feminino que so encaminhadas pelas
comarcas do Estado do Cear. De acordo com a coordenadora da casa, existia o
Moacir Bezerra, um abrigo misto que na poca trabalhava com meninos e meninas.O mesmo fechou e em consequncia ocorreu a redistribuio de seus internos que
foram encaminhados para outros locais de acolhimento. O Instituto de Assistncia e
Proteo Social (IAPS) ficou responsvel pelas meninas que faziam parte do abrigo
Moacir Bezerra, surgindo, dessa forma, a Unidade de Acolhimento Nova Vida,
inaugurada no dia 17 de Junho de 2006.
A Unidade gerenciada e mantida pelo IAPS uma ONG que tem gestocompartilhada com a Secretaria do Trabalho e desenvolvimento Social (STDS) do
Governo do Estado, o local tambm conta com colaboradores so eles: Ao
Cearense, empresa destinada a comercializar ferro para construo e derivados,
realiza doaes em dinheiro para a casa, Projeto Vira Vida, um programa criado pelo
SESI para dar oportunidade para adolescentes iniciarem sua carreira profissional,
Universidade de Fortaleza (UNIFOR) com palestras e aes fornecidas pelos alunos
do curso de medicina, enfermagem, dentre outros, Igreja do Aviamento, localizadaprximo da casa que disponibiliza de um espao de lazer com piscina, cedido todas
as quintas a instituio para o entretenimento das adolescentes.
A Unidade de Acolhimento Nova Vida, trabalha com o acolhimento de
adolescentes do sexo feminino, com faixa etria de 12 a 18 anos, em situao de
negligncia familiar, maus tratos, abandono dentre outros motivoscomo preceitua o
Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA). So meninas encaminhadas pelas
Comarcas do Estado do Cear, a maioria das adolescentes acolhidas de
comarcas com at mais de 400 km de distncia da capital.
7/26/2019 Serv Social e Acolhimento Instituc Relato de Experiencia de Estagio
44/75
43
A Unidade tem como objetivo geral prestar atendimento excepcional e
transitrio para adolescentes do sexo feminino que se encontram em situao de
risco pessoal e social com famlias temporariamente impossibilitadas de cumprir sua
funo de proteo. Como objetivos especficos, a unidade trabalha no sentido de
levantar o mximo de informaes dos familiares das adolescentes, manter aes
destinadas ao no rompimento familiar e promover intervenes consistentes para
que as relaes da famlia para com as adolescentes, quando possvel, sejam
melhoradas. A cidadania e a autonomia das adolescentes tambm so trabalhadas
pela instituio que procura preencher o tempo delas com atividades pedaggicas,
cursos profissionalizantes e oficinas.
Estando a criana e o adolescente em instituies de acolhimento, os artigos
92 e 94 do ECA determinam:
Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de abrigo devero adotar
os seguintes princpios:
Ipreservao dos vnculos familiares;
II- integrao em famlia substituta, quando esgotados os recursos de
manuteno na famlia de origem;III- atendimento personalizado e em pequenos grupos;
IV- desenvolvimento de atividades em regime de co-educao;
V- no desmembramento do grupo de irmos;
VI- evitar, sempre que possvel, a transferncia para outras entidades de
crianas e adolescentes abrigados;
VII- participao na vida da comunidade local;
VIII- preparao gradativa para o desligamento;IX- participao de pessoas da comunidade no processo educativo.
Pargrafo nico. O dirigente de entidade de abrigo equiparado ao guardio,
para todos os efeitos de direito.
O artigo 94, tambm de fundamental importncia no que diz respeito ao
trabalho em abrigo, em especifico:
IV- preservar a identidade
Recommended