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VERIFICAO DAS CONDIES DE EVACUAO DA IGREJA DA SANTSSIMA
TRINDADE, EM FTIMA
TIAGO NUNO AMNDIO DE ALMEIDA CAMPOS
Relatrio de Projecto submetido para satisfao parcial dos requisitos do grau de
MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL ESPECIALIZAO EM CONSTRUES CIVIS
Orientador: Professor Doutor Joo Lopes Porto
JULHO DE 2008
MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2007/2008 DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Tel. +351-22-508 1901
Fax +351-22-508 1446
miec@fe.up.pt
Editado por
FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Rua Dr. Roberto Frias
4200-465 PORTO
Portugal
Tel. +351-22-508 1400
Fax +351-22-508 1440
feup@fe.up.pt
http://www.fe.up.pt
Reprodues parciais deste documento sero autorizadas na condio que seja mencionado o Autor e feita referncia a Mestrado Integrado em Engenharia Civil - 2007/2008 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2008.
As opinies e informaes includas neste documento representam unicamente o ponto de vista do respectivo Autor, no podendo o Editor aceitar qualquer responsabilidade legal ou outra em relao a erros ou omisses que possam existir.
Este documento foi produzido a partir de verso electrnica fornecida pelo respectivo Autor.
mailto:miec@fe.up.ptmailto:feup@fe.up.pthttp://www.fe.up.pt/
A meus Pais, Irmos e Patrcia
O Futuro do homem est oculto no seu saber
Francis Bacon
Verificao das condies de evacuao da Igreja da Santssima Trindade, em Ftima
I
AGRADECIMENTOS
Expresso o meu agradecimento a todos os que directa ou indirectamente tiveram interferncia na realizao deste trabalho.
Destaco especialmente o papel do meu orientador, professor Joo Lopes Porto, pela sua disponibilidade, aconselhamento e acompanhamento durante a realizao de todo o trabalho.
Um muito obrigado a toda a minha famlia nomeadamente pais, irmos e avs por todo o apoio demonstrado. O agradecimento especial vai para a Patrcia por ter sido o grande suporte nesta minha caminhada. No posso deixar de referir a importncia de todos os meus amigos destacando o Joo, o Jaime e o Pedro. Com a companhia deles tudo ficou mais fcil.
Verificao das condies de evacuao da Igreja da Santssima Trindade, em Ftima
III
RESUMO
Em caso de incndio, a coabitao de centenas e at milhares de pessoas num mesmo edifcio e a utilizao de novos materiais na construo de edifcios so uma grande preocupao nos dias de hoje. Assim, h que criar condies para que a evacuao das pessoas seja feita de forma rpida e segura.
Este trabalho pretende analisar em que estado se encontra a problemtica da evacuao, observando a regulamentao portuguesa actual assim como o projecto do novo RG/SCIE. Os trabalhos desenvolvidos fora do pas tambm so alvo de anlise.
O estudo da evacuao a questo central deste trabalho, onde se analisam os factores a ter em conta numa evacuao e as estratgias a seguir. D-se especial ateno evacuao de edifcios recebendo pblico, e os factores que procuram conduzir a uma evacuao eficaz, tais como as sadas bem dimensionadas, adequada sinalizao e boa iluminao.
Neste trabalho a Igreja da Santssima Trindade, em Ftima, constitui o objecto de estudo. Nesta perspectiva so aplicados o critrio das unidades de passagem, critrio presente no RG/SCIE, para o dimensionamento das sadas de evacuao, e ainda o mtodo de Nelson Maclennam, para previso dos tempos de evacuao. Faz-se uma comparao dos resultados obtidos pelo critrio das unidades de passagem com os obtidos pelo mtodo de Nelson Maclennam.
Pela sua importncia no mbito da evacuao, abordada a questo da sinalizao e da iluminao. No contexto da sinalizao, prope-se uma possvel distribuio da sinaltica de emergncia no projecto da Igreja da Santssima Trindade.
PALAVRAS-CHAVE: incndio, evacuao, sinalizao, dimensionamento, tempo de evacuao.
Verificao das condies de evacuao da Igreja da Santssima Trindade, em Ftima
V
ABSTRACT
In case of fire, the cohabitation of hundreds and even thousands of people in the same building as well as the use of new materials in the construction of buildings are a major concern today. We must therefore create conditions so the evacuation of people can be made quickly and safely.
This paper aims to examine the evacuation problem regarding the actual Portuguese regulamentation as well as the new RG/SCIE project. The studies developed outside Portugal are also analysed.
The evacuation analysis is the main force of this work where are analysed the major factors in case of evacuation as well as strategies to follow. Buildings evacuation in which people are into and the factors that enable an effective evacuation as well as exits well dimensioned, signalized, and illuminated have special importance.
In this work the Church of the Holy Trinity, in Fatima, is the subject of study. In this perspective it is made the application of the criterion of units of pass, present on RG/SCIE, for scaling the output of evacuation, and also the method of Nelson Maclennam, to predict the time of evacuation. The obtained results using the criterion of units of pass were compared with the ones obtained by Nelson Maclennam method.
Due to its importance in the context of the evacuation, it is analyzed the signalling and lighting issues. In the context of signalling, it is proposed a possible distribution of emergency signs in the project of the Church of the Holy Trinity.
KEYWORDS: fire, evacuation, signalling, scaling, time of evacuation.
vii
NDICE GERAL
AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................... i
RESUMO ................................................................................................................................... iii
ABSTRACT ............................................................................................................................................... v
1. INTRODUO .................................................................................................................... 1 1.1.OBJECTIVOS DO TRABALHO ........................................................................................................... 1
1.2.ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................................................ 1
1.3.ENQUADRAMENTO HISTRICO ....................................................................................................... 2
1.4.O FOGO ............................................................................................................................................ 7
1.5.PROTECO PASSIVA E PROTECO ACTIVA ............................................................................ 14
2. A EVACUAO DE PESSOAS EM EDIFICIOS .............................. 17 2.1.A PROBLEMTICA DA EVACUAO .............................................................................................. 17
2.2. DEFINIES .................................................................................................................................... 19
2.2.1. GRANDEZAS QUE DEFINEM A OCUPAO DE RECINTOS E O MOVIMENTO DE PESSOAS .......................... 19
2.2.2. DEFINIES DE CONSTRUO ......................................................................................................... 20
2.3. VIAS DE EVACUAO ........................................................................................................................ 22
2.4. TEMPOS DE EVACUAO .............................................................................................................. 23
2.5. DEFINIES DE COMPORTAMENTO .............................................................................................. 24
2.6. INFLUNCIA DO FUMO NO MOVIMENTO DAS PESSOAS ................................................................. 25
2.7. INFLUNCIA DE INCAPACITADOS E IDOSOS .................................................................................. 25
2.8. A EVOLUO DA REGULAMENTAO DE SCIE EM PORTUGAL ................................................. 26
2.9. ANLISE DOS ANTECEDENTES E CLASSIFICAO DOS MODELOS .............................................. 30
2.10. ANLISE DOS DOCUMENTOS BSICOS ....................................................................................... 31
2.10.1. ESTUDO DE CASOS ....................................................................................................................... 31
2.10.2. ANLISE DESCRITIVA DO PROBLEMA ............................................................................................... 33
3. SINALIZAO E ILUMINAO ..................................................................... 35 3.1. INTRODUO .................................................................................................................................. 35
viii
3.2. SINALIZAO DE EMERGNCIA .................................................................................................... 38
3.3. SINALIZAO DE INCNDIO .......................................................................................................... 40
3.4. A ESCOLHA DOS SINAIS ............................................................................................................... 42
3.5. VRIAS ALTERNATIVAS DE FIXAO............................................................................................ 43
3.6. MEDIDAS E DISTNCIAS DE OBSERVAO .................................................................................. 45
3.7. ALTURAS DE INSTALAO ........................................................................................................... 46
3.8. SINALIZAO FOTOLUMINESCENTE AO NVEL DO SOLO ............................................................. 49
3.9. SIMBOLOGIA TCNICA PARA ESTUDOS E PROJECTOS ................................................................ 49
3.10. SINALIZAO NA IGREJA DA SANTSSIMA TRINDADE, EM FTIMA .......................................... 50
3.11. ILUMINAO DE EMERGNCIA ................................................................................................... 51
3.11.1. ILUMINAO DE AMBIENTE ............................................................................................................ 52
3.11.2. ILUMINAO DE EVACUAO ......................................................................................................... 53
3.11.3. BLOCOS AUTNOMOS DE EMERGNCIA .......................................................................................... 54
3.11.4. ILUMINAO DA IGREJA DA SANTSSIMA TRINDADE, EM FTIMA ....................................................... 54
4. MTODOS ........................................................................................................................... 57 4.1. APRESENTAO DOS MTODOS .................................................................................................. 57
4.2. CRITRIO DAS UNIDADES DE PASSAGEM .................................................................................... 58
4.3. MTODO DE NELSON E MACLEANNAM ........................................................................................ 60
4.3.1. HIPTESES DO MTODO ................................................................................................................. 60
4.3.2.CONSIDERAES DO MTODO ......................................................................................................... 60
4.3.3.CLCULO DA LARGURA EFECTIVA DOS CAMINHOS DE EVACUAO ...................................................... 61
4.3.4.DENSIDADE .................................................................................................................................... 62
4.3.5.VELOCIDADE DO MOVIMENTO DE EVACUAO ................................................................................... 62
4.3.6.FLUXO ESPECFICO ......................................................................................................................... 64
4.3.7.FLUXO TOTAL .................................................................................................................................. 65
4.3.8.FACTORES DE CONVERSO DA ALTURA ENTRE PISOS EM DISTNCIAS AO LONGO DA ESCADA ............... 66
4.3.9. CLCULO DO TEMPO DE EVACUAO (T). ........................................................................................ 66
4.3.10. CLCULO DO FLUXO ESPECFICO DEPOIS DE UMA SECO DE TRANSIO. ...................................... 67
5. DESCRIO DO EDIFCIO ................................................................................. 69
6. APLICAO DOS MTODOS ......................................................................... 73
ix
6.1. APLICAO DO CRITRIO DAS UNIDADES DE PASSAGEM .......................................................... 73
6.1.1. IGREJA. .......................................................................................................................................... 73
6.1.2. CAPELA PARA PORTUGUESES. ......................................................................................................... 79
6.1.3. CAPELA PARA ESTRANGEIROS (NOROESTE). .................................................................................... 81
6.1.4. CAPELA PARA ESTRANGEIROS (SUDESTE). ....................................................................................... 82
6.1.5. CONFESSIONRIOS PARA PORTUGUESES (NOROESTE). .................................................................... 83
6.1.6. SALA DE ESPERA PARA CONFESSIONRIOS DE PORTUGUESES (NOROESTE). ..................................... 84
6.1.7. CONFESSIONRIOS PARA PORTUGUESES (SUDESTE). ....................................................................... 85
6.1.8. SALA DE ESPERA PARA CONFESSIONRIOS DE PORTUGUESES (SUDESTE). ........................................ 86
6.1.9. CONFESSIONRIOS PARA ESTRANGEIROS (NOROESTE). .................................................................... 87
6.1.10. CONFESSIONRIOS PARA ESTRANGEIROS (SUDESTE). .................................................................... 88
6.1.11. ESPAO DE ACESSO PARA AS CAPELAS DOS ESTRANGEIROS ........................................................... 89
6.1.12. CORREDOR .................................................................................................................................. 90
6.1.13. RESUMO ....................................................................................................................................... 90
6.2. APLICAO DO MTODO DE NELSON E MACLEANNAM .............................................................. 92
6.2.1. IGREJA. .......................................................................................................................................... 92
6.2.1.1. Assembleia - Hiptese 1 ........................................................................................................... 92
6.2.1.2. Assembleia - Hiptese 2 ........................................................................................................... 95
6.2.1.3. Presbitrio Hiptese 1 / Hiptese 2 ........................................................................................ 96
6.2.1.4. Anfiteatro lateral Hiptese 1 / Hiptese 2............................................................................... 97
6.2.2. CAPELA PARA PORTUGUESES. ......................................................................................................... 98
6.2.3. CAPELA PARA ESTRANGEIROS (NOROESTE). .................................................................................... 99
6.2.4. CAPELA PARA ESTRANGEIROS (SUDESTE). ..................................................................................... 100
6.2.5. CONFESSIONRIOS PARA PORTUGUESES (NOROESTE). .................................................................. 101
6.2.6. SALA DE ESPERA PARA CONFESSIONRIOS DE PORTUGUESES (NOROESTE). ................................... 101
6.2.7. CONFESSIONRIOS PARA PORTUGUESES (SUDESTE). ..................................................................... 102
6.2.8. SALA DE ESPERA PARA CONFESSIONRIOS DE PORTUGUESES (SUDESTE). ...................................... 103
6.2.9. CONFESSIONRIOS PARA ESTRANGEIROS (NOROESTE). .................................................................. 104
6.2.10. CONFESSIONRIOS PARA ESTRANGEIROS (SUDESTE). .................................................................. 105
6.2.11. ESPAO DE ACESSO PARA AS CAPELAS DOS ESTRANGEIROS ......................................................... 105
6.2.12. CORREDOR. ............................................................................................................................... 106
6.2.13. RESUMO ..................................................................................................................................... 108
6.3. COMPARAO ENTRE OS RESULTADOS DO CRITRIO DAS UNIDADES DE PASSAGEM E DO MTODO DE NELSON E MACLEANNAM .............................................................................................. 109
x
7. CONCLUSES .............................................................................................................. 115
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................................... 117
xi
NDICE DE FIGURAS
1. INTRODUO Fig.1.1 Robert Hubert (1733-1808), O incndio de Roma, Museu Andr Malraux, Le Havre, Frana [2] ........... 2
Fig.1.2 - Grande Incndio de Londres (1666) [3] ........................................................................................... 2
Fig.1.3 - Taxas de mortalidade resultantes de incndios no mundo Mortes devidas a incndios por Milho de habitantes, 1986-1995 [5] ............................................................................................................................. 4
Fig.1.4 Igreja da Santssima Trindade (Inaugurao) [7] ............................................................................. 6
Fig.1.5 Incndio do Chiado ...................................................................................................................... 7
Fig.1.6 Tringulo de fogo ......................................................................................................................... 7
Fig.1.7 Tetraedro de fogo ......................................................................................................................... 8
Fig.1.8 Reaco ao fogo dos materiais .................................................................................................... 12
Fig.1.9 Esquema do funcionamento de extintor de presso no permanente .............................................. 15
2. A EVACUAO DE PESSOAS EM EDIFCIOS Fig.2.1 - Descrio do problema da evacuao de edifcios [14] ................................................................... 18
Fig.2.2 Ocupao de recintos [14]........................................................................................................... 20
Fig.2.3 Grandezas de circulao das pessoas [14] ................................................................................... 20
Fig.2.4 Tempos parciais e total de evacuao [16] ................................................................................... 24
3. SINALIZAO Fig.3.1 Primeiros Socorros [24]............................................................................................................... 38
Fig.3.2 Maca [24] .................................................................................................................................. 39
Fig.3.3 Telefone para salvamento e primeiros socorros [24] ...................................................................... 39
Fig.3.4 Duche de segurana [24] ............................................................................................................ 39
Fig.3.5 Lavagem dos olhos [24] .............................................................................................................. 39
Fig.3.6 - Indicao da direco a seguir [24] ............................................................................................... 40
Fig.3.7 Indicao da direco de uma sada de emergncia [24] ............................................................... 40
Fig.3.8 Agulheta de incndio [24] ............................................................................................................ 40
Fig.3.9 Escada [24] ............................................................................................................................... 41
Fig.3.10 Telefone dos servios de emergncia [24] .................................................................................. 41
Fig.3.11 Extintor [24] ............................................................................................................................. 41
Fig.3.12 Indicao da direco a seguir [24] ............................................................................................ 41
xii
Fig.3.13 Correcta sinalizao das vias de evacuao, sadas e sadas de emergncia [25] ............ 42
Fig.3.14 Correcta sinalizao dos equipamentos de luta contra incndio [25] .................................. 42
Fig.3.15 Altura de colocao da sinalizao dos equipamentos de luta contra incndio [25] ........... 43
Fig.3.16 Sinalizao de advertncia de perigo [25] ........................................................................... 43
Fig.3.17 Sinalizao de obrigao para equipamentos de proteco individual [25] ........................ 43
Fig.3.18 Visualizao da sinalizao [25] .......................................................................................... 45
Fig.3.19 Visualizao da sinalizao (Sinal de localizao de extintor e Sinal de agente extintor) [25]46
Fig.3.20 Colocao dos sinais prximo de fontes luminosas [25] ..................................................... 46
Fig.3.21 Altura da sinalizao de emergncia [25] ............................................................................ 47
Fig.3.22 Altura da sinalizao de equipamentos de combate a incndio [25] ................................... 47
Fig.3.23 Altura da sinalizao dos restantes equipamentos de alarme e combate a incndio [25] .. 48
Fig.3.24 Altura da sinalizao de perigo e instrues em caso de emergncia [25] ......................... 48
Fig.3.25 Altura da sinalizao em instalaes industriais [25] ........................................................... 48
Fig.3.26 Simbologia tcnica para estudos e projectos de vias de evacuao [26] ............................ 49
Fig.3.27 - Simbologia tcnica para estudos e projectos de sinalizao de emergncia [26] ................ 50
Fig.3.28 Simbologia tcnica para estudos e projectos de iluminao tcnica [26] ............................ 50
Fig.3.29 Simbologia de evacuao utilizada no projecto da Igreja da Santssima Trindade ............. 51
Fig.3.30 Sinalizao de segurana da Igreja da Santssima Trindade .............................................. 51
Fig.3.31 Distncia mxima de visualizao ....................................................................................... 54
Fig.3.32 Iluminao da Igreja ............................................................................................................. 55
Fig.3.33 Iluminao dos corredores de evacuao ............................................................................ 55
Fig.3.34 Iluminao da capela para portugueses. ............................................................................. 56
4. MTODOS Fig.4.1 Unidades de Passagem ......................................................................................................... 58
Fig.4.2 - Representao grfica da largura efectiva de um caminho de evacuao ............................ 61
Fig.4.3 Representao grfica da velocidade de circulao em funo da densidade e condies geomtricas ........................................................................................................................................... 63
Fig.4.4 - Representao grfica da relao entre a densidade de ocupao e o fluxo especfico de evacuao ............................................................................................................................................. 64
5. DESCRIO DO EDIFCIO Fig.5.1 Enquadramento da Igreja ....................................................................................................... 69
xiii
Fig.5.2 Interior da Igreja. ..................................................................................................................... 70
Fig.5.3 Corredor principal ....................................................................................................................... 70
Fig.5.4 Presbitrio. ................................................................................................................................ 71
Fig.5.5 Anfiteatro lateral. ........................................................................................................................ 71
Fig.5.6 Maqueta da Igreja da Santssima Trindade. .................................................................................. 72
6. APLICAO DOS MTODOS Fig.6.1 Marcao das sadas .............................................................................................................. 74
Fig.6.2 Sada de evacuao principal (Sada 1) ................................................................................. 74
Fig.6.3 - Sada de evacuao (Sada 2) ................................................................................................ 75
Fig.6.4 Sada de evacuao (Sada 3) ................................................................................................ 75
Fig.6.5 - Sadas de evacuao laterais .................................................................................................. 75
Fig.6.6 Sada de evacuao do auditrio (Sada 10) .......................................................................... 76
Fig.6.7 Sada de evacuao do presbitrio (Sada 12) ....................................................................... 76
Fig.6.8 Marcao das sadas, reas de influncia de cada sada e quantidade respectiva de pessoas (Hiptese 2) ............................................................................................................................. 78
Fig.6.9 - Planta da capela para portugueses e respectivas sadas ....................................................... 80
Fig.6.10 Planta da capela para estrangeiros (noroeste) e respectivas sadas ................................... 81
Fig.6.11 - Planta da capela para estrangeiros (sudeste) e representao das sadas ......................... 82
Fig.6.12 Planta dos confessionrios portugueses (noroeste) e marcao das sadas de evacuao83
Fig.6.13 Planta da sala de espera para confessionrios portugueses (noroeste) e marcao da sada de evacuao ............................................................................................................................... 84
Fig.6.14 Planta dos confessionrios portugueses (sudeste) e marcao das sadas de evacuao 85
Fig.6.15 Planta da sala de espera para confessionrios portugueses (noroeste) e marcao da sada de evacuao ............................................................................................................................... 86
Fig.6.16 Planta do espao de confessionrios para estrangeiros (noroeste) e marcao das sadas87
Fig.6.17 Planta do espao de confessionrios para estrangeiros (sudeste) e marcao da sada de evacuao .............................................................................................................................................. 88
Fig.6.18 Planta da rea de acesso para as capelas dos estrangeiros e marcao das sadas de evacuao .............................................................................................................................................. 89
Fig.6.19 Planta do corredor e marcao das sadas .......................................................................... 90
xiv
xv
NDICE DE QUADROS
1. INTRODUO Quadro 1.1 Incndios gravosos ............................................................................................................ 3
Quadro 1.2 - Comparao do incndio com outros acidentes [6] ............................................................ 5
Quadro 1.3 - Comparao de diferentes tipos de incndio [6] ................................................................ 5
Quadro 1.4 - Efeitos fisiolgicos de gases txicos em ppm [10] ............................................................. 9
Quadro 1.5 - Limite Mnimo e Mximo de Inflamabilidade de alguns gases e vapores combustveis [9]10
Quadro 1.6 Temperaturas caractersticas de alguns lquidos [9] ....................................................... 11
Quadro 1.7 - Classes de resistncia ao fogo [9] .................................................................................... 13
Quadro 1.8 - Intervalos de tempo para cada escalo [9] ....................................................................... 13
2. A EVACUAO DE PESSOAS EM EDIFCIOS Quadro 2.1 Classificao das alturas dos edifcios [15] ..................................................................... 22
3. SINALIZAO E ILUMINAO Quadro 3.1 Formas e cores dos pictogramas de sinalizao [16] ...................................................... 37
Quadro 3.2 Alternativas de fixao [25] .............................................................................................. 44
Quadro 3.3 Valores mximos de intensidade luminosa ............................................................................ 52
4. MTODOS Quadro 4.1 - Nmero mnimo de sadas de locais cobertos em funo do efectivo [15] ...................... 59
Quadro 4.2 - Nmero mnimo de unidades de passagem em espaos cobertos [15] ........................... 59
Quadro 4.3 Distncias mximas a percorrer nos locais de permanncia [15] ................................... 60
Quadro 4.4 - Valor da camada limite para diferentes situaes [9] ....................................................... 62
Quadro 4.5 Valores da constante K para diferentes tipos de circulaes ....................................... 63 Quadro 4.6 - Fluxo especfico mximo permitido [9] .............................................................................. 65
Quadro 4.7 Factores de converso [9] ................................................................................................ 66
6. APLICAO DOS MTODOS Quadro 6.1 - Dados da Igreja ................................................................................................................. 77
xvi
Quadro 6.2 Aplicao do critrio das unidades de passagem a cada rea de influncia considerada na Hiptese 2 ......................................................................................................................................... 78
Quadro 6.3 Dados para a capela dos portugueses ............................................................................ 80
Quadro 6.4 Dados para a capela dos estrangeiros (noroeste) .......................................................... 81
Quadro 6.5 - Dados para a capela dos estrangeiros (sudeste) ............................................................ 82
Quadro 6.6 Dados para os confessionrios para portugueses (noroeste). ....................................... 83
Quadro 6.7 Dados para a sala de espera dos confessionrios para portugueses (noroeste)........... 84
Quadro 6.8 - Dados para os confessionrios para portugueses (sudeste) ........................................... 85
Quadro 6.9 Dados para a sala de espera dos confessionrios para portugueses (sudeste). ........... 86
Quadro 6.10 Dados para os confessionrios para estrangeiros (noroeste). ..................................... 87
Quadro 6.11 - Dados para os confessionrios para estrangeiros (sudoeste)....................................... 88
Quadro 6.12 - Dados da rea de acesso para as capelas dos estrangeiros ........................................ 89
Quadro 6.13 - Dados para o corredor ................................................................................................... 91
Quadro 6.14 Quadro resumo .............................................................................................................. 91
Quadro 6.15 Tempos de evacuao (Hiptese 2) ............................................................................. 96
Quadro 6.16 - Tempos de evacuao ................................................................................................. 108
Quadro 6.17 - Comparao entre os Resultados do Critrio das Unidades de Passagem e do Mtodo de Nelson e Macleannam para o caso da capela para portugueses (A=663m2) ............................... 110
xvii
SMBOLOS E ABREVIATURAS
L Distncia de observao do sinal [m]
A rea de um smbolo e respectiva cor de segurana envolvente [m2]
V Velocidade de evacuao [m/s]
K Constante dependente do tipo de caminho de evacuao
d Densidade das pessoas por unidade de rea [pessoas/m2]
Fe Fluxo Especifico [pessoas/ms]
Ft Fluxo Total [pessoas/s]
T Tempo de Evacuao [s]
RG/SCIE Regulamento Geral de Segurana Contra Incndios em Edifcios
Ppm Partes por milho
PC Pra - Chamas
CF Corta - Fogo
EF Estanquidade ao Fogo
SADI Sistema Automtico de Deteco de Incndio
RF Resistncia ao fogo
ANPC Autoridade Nacional de Proteco Civil
UP Unidades de Passagem
LNEC Laboratrio Nacional de Engenharia Civil
SWGS Safety Way Guidance System
UT Utilizaes Tipo
NFPA National Fire Protection Association
Lux - Unidade que mede a quantidade de energia luminosa que atinge uma determinada superfcie
Cd Candela (Sexagsima parte da intensidade luminosa de 1 cm2 do corpo negro)
Verificao das condies de evacuao da Igreja da Santssima Trindade, em Ftima
1
1 INTRODUO
1.1. OBJECTIVOS DO TRABALHO
Este trabalho surge no mbito da Segurana contra Incndios. Ao longo dos anos, a populao mundial tem-se deparado com inmeros incndios urbanos, cujos resultados foram devastadores. Assim, neste contexto, o estudo sobre a evacuao dos ocupantes em segurana de vital importncia.
Na realizao deste trabalho pretende-se ento perceber em que estado se encontra a evacuao de edifcios, perceber o que se tem feito em Portugal e no mundo, observar a importncia da sinalizao e iluminao numa evacuao, verificar, tendo como objecto de estudo a Igreja da Santssima Trindade, em Ftima, a aplicabilidade do critrio das unidades de passagem, para dimensionamento das sadas de evacuao, e do mtodo de Nelson Maclennam, para previso do tempo de evacuao e perceber se o dimensionamento que est estipulado no regulamento suficiente para uma evacuao dita eficaz, tendo em conta a imprevisibilidade da mesma.
1.2. ESTRUTURA DO TRABALHO
Este documento encontra-se dividido em sete captulos. Segue-se, portanto, uma breve descrio de todos os captulos.
O primeiro captulo diz respeito introduo onde se definem as motivaes que estiveram na base do trabalho, demonstra-se a importncia da segurana contra incndios atravs de estatsticas mundiais e nacionais, desenvolve-se uma descrio sobre o fenmeno do fogo e formulam-se estratgias de segurana atravs da segurana activa e passiva.
No segundo captulo desenvolve-se o tema da evacuao mostrando os factores envolvidos e as estratgias a seguir. Apresenta-se o ponto da situao desta problemtica, mostrando os esforos desenvolvidos para a sua resoluo. A Regulamentao existente em Portugal tambm um dos aspectos focados.
No terceiro captulo abordam-se os temas da sinalizao e da iluminao enquanto factores preponderantes na eficcia de uma evacuao. Estes conceitos so aplicados ao caso de estudo que a Igreja da Santssima Trindade em Ftima. No caso da sinalizao de evacuao, feita uma aplicao ao projecto da Igreja, localizando os sinais em locais estratgicos tendo em conta regras apresentadas ao longo do captulo.
No quarto captulo apresenta-se o critrio das unidades de passagem e o mtodo de Nelson e Maclennam.
Verificao das condies de evacuao da Igreja da Santssima Trindade, em Ftima
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No quinto captulo feita uma descrio da Igreja da Santssima Trindade, fazendo um enquadramento geral assim como uma apresentao das vrias partes constituintes do edifcio.
O sexto captulo diz respeito aplicao do critrio das unidades de passagem Igreja da Santssima Trindade e s capelas e confessionrios existentes no subsolo, para dimensionamento das sadas (nmero de sadas e respectivas larguras). Aplica-se tambm o mtodo de Nelson e Maclennam para previso do tempo de evacuao.
No stimo captulo retiram-se as concluses gerais acerca dos aspectos abordados ao longo do trabalho e apresentam-se propostas de melhoria.
1.3. ENQUADRAMENTO HISTRICO
Um Incndio uma ocorrncia de fogo no controlado, que pode ser extremamente perigosa para os seres vivos e as estruturas. A exposio a um incndio pode produzir a morte, geralmente pela inalao dos gases ou pelas queimaduras.
O Homem ao longo da Histria deparou-se com inmeros incndios com efeito devastador sobre a populao entre os quais, os mais clebres, Incndio de Roma (64 D.C.) [1,2] e Incndio de Londres (1666) [3].
Fig.1.1- Robert Hubert (1733-1808), O incndio de Roma, Museu Andr Malraux, Le Havre, Frana [2].
Fig.1.2- Grande Incndio de Londres (1666) [3].
Ao longo da Histria vrios foram os incndios que provocaram elevados prejuzos e mortes. Apresenta-se um quadro com alguns dos grandes incndios urbanos mais gravosos:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fogohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mortehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Queimadurahttp://pt.wikipedia.org/wiki/64
Verificao das condies de evacuao da Igreja da Santssima Trindade, em Ftima
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Quadro 1.1 Incndios gravosos.
Ano Descrio Mortos
64 D.C. Grande incndio de Roma (reinado de Nero) -
1212 Reino Unido, Londres: Incndio na rea da London Bridge cerca de 3000
1571 Rssia, Moscovo cerca de 200000
1666 Reino Unido, Londres: fogo destruiu grande parte da cidade incluindo
igreja de St. Pauls -
1788 Estados Unidos da Amrica, Nova Orlees: Mais de 200 habitaes
destrudas -
1812 Rssia, Moscovo: originado por Napoleo -
1835 Estados Unidos da Amrica, Nova Iorque: 530 habitaes destrudas -
1871 Estados Unidos da Amrica, Chicago: 17450 habitaes destrudas 250
1871 Estados Unidos da Amrica, Wisconsin 1200
1872 Estados Unidos da Amrica, Boston: 800 edifcios destrudos -
1938 Frana, Marselha 73
1948 Cinema de Rueil, Frana 87
1958 Grandes armazns Vida, em Bogot, Colmbia 101
1960 Cinema Amouda, Sria 152
1961 Circo, no Brasil 323
1967 Grandes armazns Innovation, em Bruxelas, Blgica 300
1970 Dancing Le Cinq-Sept, Saint-Laurent-du-Pont, Frana 142
1971 Club Cinq St. Laurent du port, France 143
1971 Hotel Tal Yon Kek, em Seul, Coreia 165
1972 Grandes Armazens Sennicki, em Osaka, Japo 118
1973 Grande armazm de Kunamoto, Japo 101
1974 Torre Joelma, em So Paulo, Brasil 179
1974 Hotel Brown, em Seul, Coreia 88
1976 Acampamento de peregrinos Meca, Arbia Saudita 180
1977 Beverly Hills Super Club, Southgate, E.U.A 161
Verificao das condies de evacuao da Igreja da Santssima Trindade, em Ftima
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Quadro 1.1 Incndios gravosos (continuao).
Ano Descrio Mortos
1978 Camping de Los Alfaques, Espanha 156
1978 Cinema Rex, em Abadan, Iro 430
1990 Alcal 20 Disco, Madrid, Espanha 81
1996 Happy Land Social Club, Bronx, NY 87
1996 Ozone Disco Club, Quezon City, Philippines 160
2000 Disco / dance hall, Luoyang, China 309
2003 The Station Night Club,West Warwick, RI 100
2004 Cromagnom Republic Club, Buenos Aires, Argentina 180
Atravs do Quadro 1.1 pode-se constatar o elevado nmero de vtimas mortais resultante de incndios, facto que alerta para a problemtica da segurana contra incndios.
Na fig. 1.3 apresenta-se uma comparao de dados estatsticos no que diz respeito a mortes resultantes de incndios, por cada milho de habitante. Importa realar que estes dados por terem sido fornecidos por cada pas, podem ter sido recolhidos de forma diferente. S esto presentes neste estudo, os pases que tm dados estatsticos de pelo menos sete anos no perodo de 1986-1995 [4].
Fig.1.3- Taxas de mortalidade resultantes de incndios no mundo Mortes devidas a incndios por Milho de habitantes, 1986-1995 [5].
Verificao das condies de evacuao da Igreja da Santssima Trindade, em Ftima
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Atravs do Quadro 1.2 pode-se comparar os dados estatsticos relativos a incndios com dados de acidentes rodovirios e acidentes de trabalho, em Portugal. Esta estatstica foi fornecida pela Autoridade Nacional de Proteco Civil. Verifica-se que apesar de o nmero de incndios ser normalmente mais elevado do que o nmero de acidentes rodovirios e principalmente acidentes de trabalho, estes so os que causam menor nmero de feridos e vtimas mortais. Na realidade, o facto anteriormente descrito poder dever-se contabilizao dos incndios florestais no item Incndio.
Quadro 1.2 Comparao do incndio com outros acidentes [6].
Efeito Ano Acidente
Rodovirio Trabalho Incndio
Quantidade
2002 54478 21900 55678
2003 52161 21520 49011
2004 (*) (*) (*)
2005 54107 21566 64560
Feridos
2002 61469 20344 1174
2003 58781 19639 1151
2004 (*) (*) (*)
2005 50474 19774 1885
Mortos
2002 851 166 31
2003 859 124 49
2004 (*) (*) (*)
2005 786 157 60
(*) Dados no disponveis
de reter atravs do Quadro 1.3 que a parcela mais importante dos incndios no nosso pas diz respeito a incndios rurais. Quando se comparam os feridos e as vtimas mortais resultantes dos incndios rurais com os resultantes de incndios urbanos/industriais, verifica-se que o risco de feridos e mortes destes ltimos muito mais elevado.
Quadro 1.3 Comparao de diferentes tipos de incndio [6].
Efeito Ano
Acidente
Rural Urbano + Industrial
Outros
Quantidade
2002 38246 9167 8265
2003 29690 9243 10078
2004 (*) (*) (*)
Verificao das condies de evacuao da Igreja da Santssima Trindade, em Ftima
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Quadro 1.3 Comparao de diferentes tipos de incndio [6] (continuao).
Efeito Ano
Acidente
Rural Urbano + Industrial
Outros
2005 43469 10040 11051
Feridos
2002 473 618 83
2003 417 645 89
2004 (*) (*) (*)
2005 1095 698 92
Mortos
2002 7 23 1
2003 14 34 1
2004 (*) (*) (*)
2005 16 43 1
(*) Dados no disponveis
Ao longo dos tempos e com o grande desenvolvimento da tecnologia na construo, os materiais utilizados foram-se modificando, proporcionando assim uma maior possibilidade de execuo de edifcios mais complexos e de maiores dimenses.
A Segurana contra Incndios depara-se com uma nova realidade: a coabitao de centenas e at milhares de pessoas num mesmo edifcio. A isto, junta-se o facto de serem utilizados novos materiais no revestimento de diversos elementos da construo, na decorao e no mobilirio que aumentam a carga de incndio dos edifcios.
Fig.1.4- Igreja da Santssima Trindade (Inaugurao) [7].
O progresso tecnolgico veio trazer um acrscimo de perigo para os ocupantes, visto que a combusto de alguns desses novos materiais faz com que haja uma grande libertao de gases altamente txicos e elevadas quantidades de fumos.
Verificao das condies de evacuao da Igreja da Santssima Trindade, em Ftima
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assim de vital importncia implementar medidas de segurana contra incndio eficazes e fazer uma manuteno dos sistemas existentes nos edifcios.
Em Portugal, existem alguns casos de grandes incndios em edifcios, sendo o mais conhecido, o incndio do Chiado (25 de Agosto de 1988) que destruiu vrios edifcios e provocou elevados prejuzos materiais, duas mortes e vrios feridos. Este incndio deixou entre 200 a 300 pessoas desalojadas, atirou para o desemprego cerca de dois mil trabalhadores e deixou para sempre marcas no corao da urbe, que permanece com edifcios por recuperar [8].
Fig.1.5- Incndio do Chiado.
Com isto, h que lidar com estes dois aspectos: acima de tudo a importncia das vidas humanas, mas tambm os aspectos econmicos.
1.4. O FOGO
Quando na atmosfera se colocam sob determinadas condies uma fonte de calor e uma substncia combustvel ocorre uma reaco exotrmica denominada combusto. Para que a combusto tenha lugar necessria a combinao simultnea de trs elementos bsicos: Combustvel, Comburente (oxignio) e Energia de activao (calor). Os 3 elementos bsicos do fogo so normalmente representados por um tringulo, conhecido por Tringulo do Fogo [9].
Fig.1.6- Tringulo de fogo
Verificao das condies de evacuao da Igreja da Santssima Trindade, em Ftima
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Depois de um fogo se iniciar necessrio um quarto factor para que ele se desenvolva, a chamada energia de activao ou reaco em cadeia que transforma o tringulo de fogo num tetraedro de fogo [9].
Fig.1.7- Tetraedro de fogo
A extino de uma combusto pode ser feita:
Por supresso do combustvel - retirando a matria combustvel prxima ou isolando o objecto em chama;
Por abafamento - impedindo o contacto do oxignio com a matria em chama; Por arrefecimento - fazendo baixar a temperatura do combustvel; Por inibio - intervindo na Reaco em Cadeia.
Os diferentes agentes extintores no so indicados para as mesmas classes de fogos nem actuam todos da mesma forma.
O elemento calor o nico elemento do Tringulo do Fogo que pode transmitir-se, provocando a propagao do incndio. Essa transmisso ocorre de 3 formas [9]:
Conduo: o principal modo de transmisso de calor nos slidos e nos fluidos em repouso, caracterizando-se por uma transferncia de energia atravs de um meio material (propagao da energia cintica das partculas), processando-se a propagao do calor por contacto ou por aquecimento, das partes quentes para as partes frias, sem que haja um transporte de matria, sendo o processo regido pela lei de Fourier. Esta transferncia de calor mais notria quanto melhor condutor for o material (ex. metais);
Conveco: este processo muito importante na propagao de incndios (transporta a energia libertada pelo movimento dos gases quentes), ocorre quando partes de um sistema esto em movimento e transportam com elas o calor que receberam, seja por contacto com partes fixas mais quentes, seja ainda no seu prprio seio, devido a uma dissipao interna (reaco qumica);
Radiao: todos os corpos emitem e absorvem radiaes electromagnticas de diversos comprimentos de onda, com uma intensidade que depende da temperatura a que se encontram e do estado da sua superfcie. Neste processo de transmisso de calor superfcie de um corpo transformado segundo as leis da termodinmica em radiao electromagntica, que se propaga no vazio. Esta radiao, anloga da luz visvel mas de comprimento de onda superior, no domnio dos infravermelhos, quando atinge a superfcie de um outro meio em parte reflectida, em parte transmitida e, finalmente, em parte absorvida, degradando-se em calor. O resultado equivale a uma transferncia de calor de um corpo para outro, mas que se propaga atravs de uma radiao
http://www.univ-ab.pt/formacao/sehit/curso/incendios/glossario2.html#trianhttp://www.univ-ab.pt/formacao/sehit/curso/incendios/glossario2.html#tetra
Verificao das condies de evacuao da Igreja da Santssima Trindade, em Ftima
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electromagntica. A radiao tem um papel muito significativo na propagao do incndio, com a troca de energia entre as superfcies envolvidas e a emisso e absoro por gases e fuligem, podendo em determinadas situaes ser o principal responsvel por essa propagao, como acontece na propagao de calor devido a chamas com dimenso caracterstica superior a 0,20m.
O Fogo pode propagar-se, para alm das 3 formas atrs expostas, atravs de uma quarta que corresponde a partculas inflamadas que se desprendem do corpo em combusto e so projectadas distncia, atingindo outros corpos. Este processo conhecido por Projeco.
O desenvolvimento de um incndio um fenmeno bastante aleatrio dependendo essencialmente dos seguintes factores:
Tipo de combustvel; Disposio do combustvel; Renovao de ar.
Os fumos so um factor muito importante a ter em conta. Expandem-se muito rapidamente, principalmente das zonas baixas para andares superiores, dificultando a visibilidade e irritando o sistema respiratrio das pessoas. O fogo, para alm de calor e de fumos, produz variados gases txicos, podendo provocar a morte antes das chamas se aproximarem.
Os principais gases libertados durante uma combusto so:
O monxido de carbono mais leve que o ar e txico (impede o oxignio de atingir o crebro) e combustvel;
O dixido de carbono mais pesado que o ar e asfixiante (provoca acelerao na respirao facilitando a absoro de outros gases txicos), apesar de ser um bom agente extintor;
O cido sulfdrico afecta o sistema nervoso, provocando tonturas e dores no aparelho respiratrio;
O dixido de azoto muito txico e provoca paralisao da garganta.
Conforme a composio qumica do material combustvel, h outros gases txicos susceptveis de aparecer. Entre esses gases txicos destacam-se pela sua toxidade e probabilidade de surgirem os seguintes: cido fluordrico; cido ciandrico; cido clordrico; amonaco; anidrido sulfuroso; cloro; vapores nitrosos. O quadro que se segue apresenta os efeitos fisiolgicos e as respectivas concentraes expressas em ppm (partes por milho).
Nota: 1% = 10.000 ppm
Quadro 1.4 - Efeitos fisiolgicos de gases txicos em ppm [10].
Gs Perigoso dentro de meia a uma hora
Mortal em meia hora Imediatamente mortal
cido ciandrico (HCN)
100 150 180 / 270
cido clordrico (HCL) 1 000 / 2 000 2 000 1 300 / 2 000
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Quadro 1.4 - Efeitos fisiolgicos de gases txicos em ppm [10] (continuao).
Gs Perigoso dentro de meia a uma hora
Mortal em meia hora Imediatamente mortal
cido fluordrico (HF) 50 / 250 250 ---
cido sulfdrico (H2S) 300 600 1 000
cido sulfuroso (SO2) 150 400 500 / 600
Amonaco (NH3) 500 2 200 2 500 / 5 00
Cloro (CL2) 40 / 60 150 1 000
Dixido de carbono (CO2) (a)
3 500 / 4 000 --- 6 000 / 7 000
Monxido de carbono (CO)
1 500 / 2 000 4 000 10 000
Vapores nitrosos (NO / NO2)
100 / 150 --- 200 / 700
(a) Gs asfixiante
Os gases e vapores combustveis mais conhecidos so: o butano, o propano, o acetileno, o hidrognio, o monxido de carbono e vapores de gasolina.
Em qualquer combusto e nomeadamente na de um gs combustvel, necessrio satisfazer o Tringulo do Fogo (combustvel + ar + fonte de ignio), mas ainda necessrio que o gs combustvel faa com o oxignio do ar uma mistura em determinada percentagem. Resumindo, uma mistura de ar e um combustvel gasoso s se torna inflamvel quanto est dentro de um determinado intervalo. Ao valor mnimo do intervalo d-se o nome de Limite Mnimo de Inflamabilidade; o valor mximo o Limite Mximo de Inflamabilidade, sendo que o intervalo se designa como Zona Inflamvel. Apresentam-se no Quadro 1.5 alguns valores mnimos e mximos de inflamabilidade para alguns combustveis [4].
Quadro 1.5 - Limite Mnimo e Mximo de Inflamabilidade de alguns gases e vapores combustveis [9]
Combustvel Limite Mnimo Inflamabilidade Limite Mximo Inflamabilidade
Acetileno 2,5 % 80%
Benzeno 1,4% 7,1%
Butano 1,9% 8,5%
Etano 3,0% 12,5%
Etileno 3,1% 32%
Hidrognio 4% 75,0%
Metano 5,3% 15%
Propano 2,2% 9,5%
Propileno 2,4% 10,3
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Assim surgem as seguintes definies:
Limite Mnimo de Inflamabilidade: a quantidade mnima de gs combustvel (ou vapor) que misturado com o ar forma uma mistura inflamvel;
Limite Mximo de Inflamabilidade: a quantidade mxima de gs combustvel (ou vapor) que misturado com o ar forma uma mistura inflamvel;
Zona inflamvel: o intervalo compreendido entre o Limite Mnimo e Mximo de Inflamabilidade.
De um modo geral pode-se afirmar que para que a combusto de um lquido se d necessrio que vaporize e arda j no estado gasoso. As propriedades da combusto de gases aplicam-se tambm aos vapores dos combustveis lquidos. A quantidade de vapores combustveis libertados por um determinado lquido determinada pela sua temperatura: quanto maior for a temperatura do lquido mais vapores so libertados.
Tal como nos gases, a percentagem da mistura vapores e ar (oxignio) tem que estar dentro da Zona Inflamvel. Para os lquidos combustveis existem trs temperaturas que determinam o seu comportamento relativamente sua combusto, que so as seguintes: Temperatura de Inflamao, Temperatura de Combusto e Temperatura de Ignio [9].
Temperatura de Inflamao (Flash Point): a temperatura mnima a que uma substncia liberta vapores combustveis em quantidade suficiente para formar com o ar e na presena de uma fonte de ignio uma mistura inflamvel, que se extingue logo que esta seja retirada, por insuficincia de vapores.
Temperatura de Combusto (Fire Point): a temperatura mnima a que uma substncia liberta vapores combustveis em quantidade e rapidez suficiente para formar com o ar e na presena de uma fonte de ignio uma mistura inflamvel, continuando a sua combusto mesmo depois de retirada a fonte de ignio.
Temperatura de Ignio (Ignition Point): a temperatura mnima a que uma substncia liberta vapores combustveis que em mistura com o ar e sem a presena de uma fonte de ignio, se inflamam.
Quadro 1.6 Temperaturas caractersticas de alguns lquidos [9].
Combustvel Temperatura de
Inflamao Temperatura de
Combusto Temperatura de
Ignio
Gasolina - 40 C - 20 C 277 C
Madeira 204 C ---- 232 C
Gasleo 90 C 104 C 330 C
lcool 13 C ---- 370 C
Butano - 60 C ---- 430 C
Benzeno - 12 C ---- 538 C
ter - 45 C ---- 170 C
Os materiais combustveis, quando ardem, no do origem a fogos com as mesmas caractersticas.
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O estudo dos vrios combustveis, levou normalizao dos combustveis e dos fogos, tendo sido criadas 4 classes (Classes de fogos segundo a norma NP EN 2: 1993) [11]:
Classe A - Fogos que resultam da combusto de materiais slidos, em geral de natureza orgnica, a qual se d normalmente com formao de brasas. Ex. Madeira, tecidos, borracha;
Classe B - Fogos que resultam da combusto de materiais lquidos ou de slidos liquidificveis, que ardem sem formao de brasas. Ex. Lquidos: gasolina, lcool, leos, acetona; slidos liquidificveis: ceras, parafina, resinas;
Classe C - Fogos que resultam da combusto de gases. Ex. Butano, propano, acetileno, gs natural, hidrognio;
Classe D Fogos que resultam da combusto de metais. Ex. Sdio, potssio, magnsio, ltio.
Os fogos podem tambm ser classificados quanto radiao luminosa:
Sem chama (simbolizada pelo tringulo de fogo); Com chama (simbolizada pelo tetraedro de fogo).
O comportamento face ao fogo dos materiais de construo, considerado em termos do seu contributo para a origem e desenvolvimento de um incndio, caracteriza-se por um indicador, denominado reaco ao fogo, atravs de ensaios normalizados.
Segundo a especificao LNEC, E 365 1990, entende-se por reaco ao fogo dos materiais de construo a importncia desses materiais para a origem e desenvolvimento do incndio no edifcio. A qualificao dos materiais, do ponto de vista da sua reaco ao fogo, compreende 5 classes [11,12]:
M0 - Materiais no combustveis M1 - Materiais no inflamveis M2 - Materiais dificilmente inflamveis M3 - Materiais moderadamente inflamveis M4 - Materiais facilmente inflamveis
de notar que nesta classificao no entram os materiais muito inflamveis.
Fig.1.8- Reaco ao fogo dos materiais.
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O comportamento dos elementos de construo (vigas, lajes e pilares, paredes) face ao fogo, considerado em termos da manuteno das funes que devem desempenhar em caso de incndio, caracteriza-se por um indicador denominado resistncia ao fogo. A resistncia ao fogo dos elementos de construo deve ser enquadrada numa classificao que compreende trs classes de resistncia, cada uma delas associada a dez escales de tempo. A resistncia ao fogo no mais do que o intervalo de tempo, expresso em minutos, durante o qual os provetes dos elementos em causa sujeitos a ensaios realizados nas condies indicadas na Especificao LNEC (E 364 1990 Segurana contra Incndio. Resistncia ao Fogo de Elementos da Construo. Mtodos de Ensaio e Critrios de Classificao [13]), desempenham funes semelhantes, do ponto de vista da segurana contra incndio, s quais so exigidas a esses elementos na construo.
Quadro 1.7- Classes de resistncia ao fogo [9].
Funes do Elemento Exigncias
Capacidade de Carga Estanquidade Isolamento Trmico
Suporte EF
Compartimentao PC
CF
Suporte + Compartimentao
PC
CF
Quadro 1.8 Intervalos de tempo para cada escalo [9].
Escales de Tempos (em minutos) Intervalo de Tempo
0
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1.5. SEGURANA PASSIVA E SEGURANA ACTIVA
A segurana contra incndios em edifcios passa fundamentalmente pela segurana das pessoas numa situao de incndio. Sendo assim, essencial haver uma articulao entre a arquitectura e a engenharia para a elaborao de um projecto de segurana contra incndio.
As solues arquitectnicas que o edifcio contempla no mbito da segurana contra incndios representam a segurana passiva. Todas estas questes tm que ser previamente estudadas aquando da elaborao do projecto de arquitectura. Assim, a arquitectura preocupa-se com os aspectos abaixo mencionados [9]:
Acesso ao edifcio por parte dos bombeiros; Rede de guas de modo a ser utilizada pelos bombeiros; Compartimentao corta-fogo; Concepo de espaos interiores para que os residentes tenham hiptese de fuga segura; Dimensionamento dos caminhos de evacuao de acordo com o porte do edifcio e o tipo
de ocupao; Escolha de sistema de ventilao para os caminhos de evacuao; Localizao das vias de evacuao horizontais e verticais (sadas, corredores, escadas e a
ligao entre os elementos).
Por sua vez, a engenharia tem funes nas seguintes reas [9]:
Concepo, clculo e proteco das estruturas ao fogo; Dimensionamento da rede de combate a incndio; Iluminao de emergncia; Sistema automtico de deteco de incndio; Dimensionamento do sistema de ventilao e controle de fumos; Introduo de registos corta-fogo.
Chama-se segurana activa aos equipamentos, automticos ou no, instalados no edifcio de modo a proteger e limitar um possvel incndio. Em geral, nos edifcios esto instalados vrios dispositivos, extintores portteis e bocas-de-incndio, para que os funcionrios assegurem a 1 interveno, ou seja, o ataque inicial a um incndio.
Extintores portteis: Extintor um equipamento que contm um agente extintor (gua, espuma, p, dixido de carbono CO2) que pode ser projectado e dirigido sobre um fogo, por aco de uma presso interna, e pode extingui-lo quer qumica quer fisicamente. O extintor tem no seu interior, normalmente, dois agentes: um agente extintor e outro que funciona como propulsor. No caso do CO2 este agente tem as duas funes. Existem dois tipos de extintores: - Extintores de presso permanente ou permanentemente pressurizados em que o agente extintor e o gs propulsor esto misturados no recipiente. Quando o extintor activado o agente extintor expelido por um tubo de pesca e passa por uma mangueira, caso a tenha. A descarga pode sempre ser controlada atravs de uma vlvula que existe na extremidade da mangueira ou na cabea do extintor; - Extintores de presso no permanente: de colocao em presso no momento de utilizao (com o cartucho do gs no interior ou no exterior do extintor);
Verificao das condies de evacuao da Igreja da Santssima Trindade, em Ftima
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Fig.1.9 - Esquema do funcionamento de extintor de presso no permanente
Bocas-de-incndio: existem as bocas-de-incndio (e marcos de gua) instaladas no exterior dos edifcios que servem exclusivamente para o abastecimento das viaturas de bombeiros, as bocas-de-incndio instaladas no interior dos edifcios que podem ser de dois tipos, as que so para ser usadas preferencialmente pelos funcionrios (1 interveno) e as que so instaladas nas colunas secas, para facilitar a interveno dos bombeiros, em caso de sinistro. As que asseguram a 1 interveno devero ser do tipo carretel, pois este tipo de maior facilidade de manobra e encontram-se sempre em carga, ou seja, esto sempre prontas a funcionar, o que no sucede com as instaladas nas colunas secas, j que estas para funcionarem tm que em primeiro lugar ser ligadas a uma viatura dos bombeiros;
Sistema Automtico de Deteco de Incndio (SADI): alguns edifcios esto protegidos por este sistema que, em caso de incndio, automaticamente activado, atravs de fumos, chama ou calor, fazendo disparar um alarme. Muitas das vezes estes sistemas esto ligados directamente ao corpo de bombeiros local. Este sistema permite uma vigilncia durante as 24 horas do dia, sem ser necessria a presena humana;
Sistemas automticos de extino de incndio: estes sistemas podem utilizar gua, denominando-se como Sprinklers, podendo utilizar tambm p ou dixido de carbono;
Sistema de iluminao e sinalizao de emergncia: para facilitar a evacuao dos edifcios a sinaltica colocada em blocos autnomos de iluminao para que em caso de corte da energia elctrica permanea por bastante tempo acesa. Este sistema de iluminao de emergncia permite, para alm de orientar a sada das pessoas, iluminar os caminhos de evacuao, reduzindo assim o pnico das pessoas. vulgar, para alm dos blocos autnomos, existir sinalizao de emergncia, sinalizao dos meios de deteco e dos meios de 1 interveno (extintores e bocas de incndio armadas).
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2 A EVACUAO DE PESSOAS EM
EDIFCIOS
2.1 A PROBLEMTICA DA EVACUAO
Antes de mais interessa compreender a evacuao no seu sentido mais lato. Trata-se ento de um movimento da totalidade ou parte dos ocupantes de um edifcio, aquando da existncia de um incndio, para um lugar considerado seguro ao fogo. Existem dois tipos de evacuao: evacuao total (a evacuao processa-se relativamente a todos os ocupantes do edifcio) e evacuao parcial (movimento de pessoas mais limitado, que pode ter diversas razes).
O conhecimento do movimento de pessoas e o seu comportamento numa situao de emergncia de importncia fundamental para o dimensionamento de caminhos de evacuao que permitem dotar os edifcios de adequadas condies de segurana.
Segundo Lea Coelho [9], a segurana contra incndios em edifcios uma rea do conhecimento multidisciplinar englobando domnios muito diversificados que vo desde o comportamento dos materiais a elevadas temperaturas at ao comportamento das pessoas numa situao de emergncia, mas que se complementam no objectivo comum de tornar os edifcios seguros.
Para Lea Coelho [9], de entre as situaes de emergncia a mais complexa a devida ao incndio, pois o aumento da temperatura no interior dos espaos e a presena de chamas, fumos e gases txicos, dificultam ainda mais o movimento das pessoas e contribuem para a ocorrncia de uma maior instabilidade emocional que pode dar origem a comportamentos que alteram o tempo necessrio para evacuar um edifcio.
Em edifcios ou recintos que recebem um nmero elevado de pessoas, o problema da evacuao ganha contornos especiais. Nessas condies e em que o problema da evacuao no tenha sido correctamente abordado, qualquer incidente pode ter consequncias devastadoras. A questo central no problema da evacuao passa por garantir que a totalidade dos ocupantes de um espao ou de um edifcio possa em qualquer instante evacuar para um local seguro, em tempos razoveis e com a segurana necessria. A problemtica dos edifcios que recebem pblico, para alm da coabitao de centenas de pessoas, passa tambm pela ausncia de conhecimento relativamente planta do edifcio, tornando assim a evacuao mais complicada. Assim, para uma evacuao segura vital:
Sinalizao adequada; Boa iluminao; Sadas bem dimensionadas.
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O problema da evacuao tratado nas normas atravs do efectivo e das caractersticas do edifcio, onde se estabelecem larguras mnimas de passagem e distncias mximas nas vias de evacuao.
Fig.2.1 - Descrio do problema da evacuao de edifcios [14].
O problema da evacuao especialmente relevante quando se estudam edifcios de grande altura, centros comerciais, culturais e recreativos, escolas, edifcios de geometria ou distribuio complexa, etc. As caractersticas comuns a todos eles so:
Tamanho das edificaes; Existncia de um elevado nmero de pessoas no interior dos mesmos; Dificuldade em conhecer as solues do problema.
Os estudos sobre a evacuao de edifcios podem realizar-se em duas fases diferentes:
Na fase de projecto para contrastar e analisar diferentes hipteses de projecto; Em edifcios construdos com os elementos mobilirios instalados e onde se desenrolam
as actividades previstas. Neste caso os estudos servem para conhecer o possvel desenvolvimento de uma evacuao de emergncia e ter a capacidade para seleccionar as estratgias de evacuao mais apropriadas.
Na realizao dos projectos dos edifcios, seguindo as normas em vigor, pensa-se que se atinge uma margem aceitvel de segurana. Os tempos de evacuao no so conhecidos pelos usurios nem pelos responsveis pela segurana.
O principal objectivo dos regulamentos e normas de segurana contra incndios, garantir a segurana dos ocupantes de um edifcio. Para esta segurana so adoptadas medidas na concepo do edifcio que incidem sobre os seguintes aspectos:
Elementos estruturais do edifcio; Materiais utilizados; Compartimentao do edifcio; Caminhos de evacuao; Ventilao dos caminhos de evacuao; Instalaes; Outros.
Para tornar seguros os caminhos de evacuao, os regulamentos definem tambm as suas caractersticas quanto a:
Dimenses; Distncias mximas a percorrer at caixa de escadas;
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Nmero suficiente de escadas; Distncia mxima entre escadas; Ventilao dos caminhos de evacuao; Iluminao de emergncia dos caminhos de evacuao; Outras.
A determinao do tempo necessrio para que se processe a evacuao e a sua considerao ao nvel do projecto das vias de evacuao no assegura, por si s, as condies exigidas para a evacuao. assim necessrio utilizar um parmetro de referncia que permita estabelecer a comparao com o tempo de evacuao determinado. nesta fase que entra a anlise de risco de incndio.
Para se realizar a anlise do risco de incndio necessrio dispor de um modelo global constitudo por diversos modelos parciais, referindo-se com carcter de exemplo os seguintes [9]:
Modelo de desenvolvimento do incndio no edifcio; Modelo de desenfumagem; Modelo sobre toxicidade de gases; Modelo de evacuao de pessoas; Outros.
Atravs do modelo capaz de realizar as anlises anteriormente referidas, torna-se ento possvel verificar se, face aos caminhos de evacuao projectados, o tempo que demora a proceder evacuao compatvel com o desenvolvimento do fogo no edifcio, com a concentrao de gases existente, com a visibilidade, etc. [9].
Com base nos resultados obtidos a partir das simulaes anteriormente referidas pode-se ento introduzir as correces necessrias ao projecto.
2.2 DEFINIES
As caractersticas do problema da evacuao levam a resolv-lo no mbito de modelos matemticos encontrando-se aspectos do mesmo em outras disciplinas, fundamentalmente construo e segurana contra incndios. Segue-se assim a apresentao de alguns dos conceitos gerais.
2.2.1 GRANDEZAS QUE DEFINEM A OCUPAO DOS RECINTOS E O MOVIMENTO DAS PESSOAS
O modo como as pessoas ocupam um espao, depende das dimenses das mesmas e da separao que se estabelece entre elas ( diferente um recinto ocupado por crianas de um que seja ocupado por pessoas adultas). Para alm disto, as pessoas exercem ao seu redor uma zona de influncia, movendo-se para obter espao. Na Fig.2.2 pode observar-se este conceito da ocupao de recintos sendo que os parmetros normalmente utilizados para a sua quantificao so a densidade e a taxa de ocupao [14].
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Fig.2.2 - Ocupao de recintos [14].
Densidade de ocupao (pessoas/m2): traduz o nmero de pessoas por unidade de rea e influenciada pelo desejo psicolgico de espao e de separao entre elas [9];
Taxa de ocupao: mostra a relao entre a ocupao existente num recinto e a sua possvel ocupao mxima; trata-se de um nmero adimensional que corresponde percentagem de ocupao [14].
Fig.2.3- Grandezas de circulao das pessoas [14].
As grandezas de circulao, que podem observar-se na Fig.2.3, definem a capacidade de circulao dos indivduos. Definem-se trs grandezas [4]:
Velocidade de circulao (m/s): espao percorrido por unidade de tempo; Fluxo especfico (pessoas/sm): representa o nmero de pessoas que passam numa
determinada seco por unidade de tempo e por unidade de largura; Fluxo total (pessoas/s): traduz o nmero de pessoas que passam numa determinada seco
por unidade de tempo.
2.2.2 DEFINIES DE CONSTRUO
Como no ponto anterior, existe um conjunto de termos do lxico prprio do sector da construo utilizados habitualmente no problema da evacuao de edifcios, alguns deles com uma referncia precisa na prpria legislao que definem aspectos gerais, evacuao e comportamento ao fogo, entre
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outros. De seguida apresentam-se alguns dos conceitos mais relevantes, estando alguns deles presentes no Projecto do novo Regulamento Geral de Segurana Contra Incndios em Edifcios.
Via de evacuao - comunicao horizontal ou vertical de um edifcio que, nos termos do projecto do Regulamento Geral de Segurana Contra Incndios em Edifcios (este Regulamento ainda no est em vigor apesar de ter sido divulgado), apresenta condies de segurana para a evacuao dos seus ocupantes [15];
Caminho de evacuao percurso entre qualquer ponto, susceptvel de ocupao, num recinto ou edifcio at uma zona de segurana exterior, compreendendo, em geral, um percurso inicial no local de permanncia e outro nas vias de evacuao [15];
Vias de evacuao interiores enclausuradas, isto , delimitadas por elementos resistentes ao fogo e com adequado controlo de fumo [9].
Vias de evacuao ao ar livre, que esto compartimentadas relativamente ao edifcio por elementos resistentes ao fogo e que devem possuir, pelo menos numa das suas paredes, uma ou vrias aberturas permanentes em contacto directo com o exterior cuja rea total no seja inferior a metade da rea dessa parede [9].
Meio de evacuao disposio construtiva, que pode incluir um ou mais caminhos de evacuao protegidos, possibilitando que os ocupantes atinjam, pelos seus prprios meios e a partir de qualquer ponto de um edifcio, uma zona de segurana [9].
Sada - qualquer vo disposto ao longo dos caminhos de evacuao de um edifcio que os ocupantes devam transpor para se dirigirem do local onde se encontram at uma zona de segurana [9].
Sada de emergncia: uma sada para um caminho de evacuao protegido ou para uma zona de segurana, que no est normalmente disponvel para outra utilizao pelo pblico [9];
Simulacros de evacuao - so um exerccio no qual os ocupantes de um edifcio se movimentam da posio que ocupam no interior do mesmo at uma posio segura reproduzindo a forma como realizariam numa situao de emergncia, podendo estar ou no avisados e desconhecendo se se trata de uma situao real ou de um simulacro [14];
Ensaios de evacuao so aqueles exerccios nos quais um grupo de pessoas se movimenta desde o interior de um edifcio ou recinto at outra dependncia ou espao exterior, observando-se as suas atitudes e medindo-se certas magnitudes como o tempo de evacuao, os fluxos e as retenes, entre outras. Estas medies podem realizar-se directamente ou procedendo-se gravao do ensaio para posterior anlise [14];
Altura de um edifcio - diferena de cota entre o piso mais desfavorvel susceptvel de ocupao e o plano de referncia. Quando o ltimo piso coberto for exclusivamente destinado a instalaes e equipamentos que apenas impliquem a presena de pessoas para fins de manuteno e reparao, tal piso no entra no cmputo da altura do edifcio. O mesmo sucede se o piso for destinado a arrecadaes cuja utilizao implique apenas visitas episdicas de pessoas. Se os dois ltimos pisos forem ocupados por habitaes duplex, poder considerar-se o seu piso inferior como o mais desfavorvel, desde que o percurso mximo de evacuao nessas habitaes seja inferior a 10 metros. Aos edifcios constitudos por corpos de alturas diferentes so aplicveis as disposies correspondentes ao corpo de maior altura, exceptuando-se os casos em que os corpos de menor altura forem independentes dos restantes. Os edifcios classificam-se consoante a sua altura conforme o quadro seguinte [15]:
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Quadro 2.1 Classificao das alturas dos edifcios [15].
Classificao Pequena Mdia Grande Muito Grande
Altura (H) H 9 m 9 m < H 28 m 28 m < H 50 m H > 50 m
Estabilidade ao fogo - a propriedade de um elemento de construo, com funes de
suporte de cargas, capaz de resistir ao colapso durante um perodo de tempo determinado, quando sujeito aco de incndio [15], para um fogo padro/normalizado;
Resistncia ao fogo (RF) - a propriedade de um elemento de construo, ou de outros componentes de um edifcio, de conservar, durante um perodo de tempo determinada, a estabilidade e/ou a estanquidade e/ou o isolamento trmico e/ou a resistncia mecnica e/ou qualquer outra funo especfica, quando sujeito ao processo de aquecimento resultante de um incndio [15], para um fogo padro/normalizado;
Estanquidade ao fogo - a propriedade de um elemento de construo com funo de compartimentao de no deixar passar, durante um perodo de tempo determinado, qualquer chama ou gases quentes [15], para um fogo padro/normalizado.
2.3 VIAS DE EVACUAO
Quanto s vias de evacuao, estas tm por objectivo a proteco da vida dos ocupantes de um dado edifcio ou estabelecimento e devem ser um meio de encaminhamento fcil, rpido e seguro, para uma zona de segurana, isto , para locais no exterior que no venham a estar sujeitos aos efeitos do incndio [9].
Devem ser concebidas, dimensionadas, construdas e mantidas durante a explorao do edifcio, possuindo as caractersticas e meios de proteco, de modo a garantir o cumprimento desse objectivo. Basicamente, so constitudas pelas circulaes horizontais (corredores, trios, etc.) e verticais (escadas, rampas, etc.), incluindo portas, sadas, etc. [9].
Quanto caracterizao das vias de evacuao, o dimensionamento e as caractersticas das vias de evacuao de um edifcio incidem sobre vrios aspectos, entre os quais se destacam [9]:
O seu nmero e largura; A sua localizao e distribuio; O tipo de portas de que dispem; Outras caractersticas construtivas, nomeadamente, o seu tipo e os materiais e elementos
de construo que as compe; Os equipamentos e sistemas de segurana com que so dotadas.
Os edifcios e recintos devem obedecer a critrios de segurana que passam pela organizao dos espaos interiores de forma a permitir que, em caso de incndio, os ocupantes possam alcanar um local seguro no exterior pelos seus prprios meios, de modo fcil, rpido e seguro. Para isto, os locais de permanncia, os edifcios e os recintos devem dispor de sadas, em nmero e largura suficientes, convenientemente sinalizadas; as vias de evacuao devem ter largura adequada e, quando necessrio, ser protegidas contra o fogo, o fumo e os gases de combusto; as distncias a percorrer devem ser limitadas. Em situaes particulares, a evacuao pode processar-se para espaos de edifcios temporariamente seguros, designados por zonas de refgio.
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Os tipos de caminhos (ou vias) podem ser classificados quanto funo e quanto proteco contra chamas e fumos. Quanto funo, subdividem-se em vias de utilizao corrente e em vias de socorro, as ltimas podem ser principais ou secundrias. Quanto proteco contra chamas e fumos as vias podem ser protegidas (enclausuradas ou ao ar livre) ou no protegidas.
Os caminhos de sada devem conduzir ou por caminhos de evacuao ou directamente ao exterior e nunca a culs-de-sac; as portas devem abrir para o exterior; a largura deve ser sensivelmente uniforme (para cada corrente de pessoas), evitando estreitamentos; os caminhos devem ser protegidos contra o fogo e contra fumos, sobretudo as escadas, e devem ser sinalizados de forma bastante vsivel em todos os locais que o justifiquem.
O dimensionamento dos caminhos de evacuao e das sadas deve ser feito de forma a obter, sempre que possvel, uma densidade de fluxo constante de pessoas em qualquer seco das vias de evacuao no seu movimento em direco s sadas, tendo em conta as distncias a percorrer e as velocidades das pessoas de acordo com a sua condio fsica, de modo a conseguir tempos de evacuao convenientes. O dimensionamento pode ser feito de forma expedita, utilizando o conceito das unidades de passagem (UP) ou com recurso a mtodos ou modelos de clculo, desde que os mesmos estejam aprovados pela ANPC.
2.4. TEMPOS DE EVACUAO
Um factor preponderante numa evacuao o tempo de evacuao. Este deve ser o menor possvel, para que a evacuao dos ocupantes seja feita em segurana e sem danos fsicos para os ocupantes. Numa situao normal, os tempos de percurso so de fcil clculo. Contudo, numa situao de emergncia surgem outras variveis que tornam a sua determinao extremamente complexa. Um dos factores que torna o problema complexo o comportamento dos indivduos (aspecto abordado no subcaptulo seguinte). Uma situao de emergncia pode ter vrias origens. Pensa-se, contudo, que uma situao de incndio a situao mais complexa, visto que h muitas variveis envolvidas, tais como o aumento da temperatura interior, a presena de chamas, fumos e gases txicos. Estes factores para alm de poderem originar danos fsicos influenciam as pessoas, contribuindo para a sua instabilidade emocional, o que conduz a um aumento do tempo de evacuao [4,14].
Neste momento, na fase de projecto, o tempo de evacuao no contribui para o dimensionamento dos caminhos de evacuao, apesar de que a evacuao em tempos aceitveis de vital importncia para a obteno de condies de segurana ao fogo. Existem vrios mtodos para clculo do tempo de evacuao, tais como o Mtodo de BRE, o Mtodo de Pauls e o Mtodo de Nelson e Macleannam, este ltimo explorado ao longo do trabalho [14].
Numa evacuao por incndio ou emergncia de um local ou edifcio o tempo total de evacuao subdivide-se em quatro tempos: deteco, alarme, atraso e evacuao. Assim, o tempo total de evacuao o tempo que decorre entre a deteco at que seja finalizado o processo de evacuao. Para a optimizao do tempo total de evacuao deve-se minimizar todos e cada um dos tempos, o que depende do nmero de sadas do edifcio ou recinto a evacuar e do trajecto que seja preciso efectuar [14].
Tempo de deteco: a diminuio do tempo de deteco pode conseguir-se com um reforo do pessoal de vigilncia e/ou com a instalao de detectores do tipo inico que detectam fogos na fase em que ainda s produzem fumos invisveis dando mais tempo para actuao;
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Tempo de alarme: o tempo de alarme o prprio tempo da emisso do sinal de alarme, sons codificados (sirene de alarme), sistemas de megafonia ou sistemas pticos. Este sistema depende das caractersticas tcnicas e da capacidade de comunicao colectiva das citadas mensagens;
Tempo de atraso: o intervalo de tempo que decorre desde que o colectivo de pessoas percebe e assimila a mensagem de alarme at que inicia o movimento pelos itinerrios correspondentes de sada, influi nele de uma forma importante, a eficcia de comunicao das mensagens e a boa organizao do pessoal de ajuda para a evacuao. A diminuio do tempo de atraso consegue-se com treino do pessoal, com a sinalizao dos acessos e com o aumento da fiabilidade dos alarmes;
Tempo de evacuao: o intervalo de tempo entre o incio de movimento dos ocupantes at que ocupem um local seguro ao fogo. A diminuio do tempo de evacuao, depende do treino do pessoal, da existncia de sinalizao correcta, da iluminao de segurana e da existncia de acessos e vias de evacuao em nmero e com dimenses (larguras) adequadas populao do edifcio a evacuar.
Fig.2.4 Tempos parciais e total de evacuao [16]
Como se observa na Fig.2.4, a evacuao das pessoas s se inicia aps os tempos de deteco, alarme e atraso.
2.5. DEFINIES DE COMPORTAMENTO
O comportamento das pessoas tem uma grande influncia sobre a evacuao. Perante uma situao de emergncia o comportamento das pessoas enquadra-se num dos seguintes tipos [9]:
Comportamento adaptado; Comportamento desadaptado.
De um modo geral as pessoas tm um comportamento adaptado, podendo, todavia, verificar-se situaes concretas em que isso no acontece, surgindo os denominados comportamentos desadaptados [9]. No que respeita ao comportamento das pessoas definem-se os conceitos de pnico e pnico negativo. O pnico uma forma extrema de comportamento desadaptado situao de emergncia, pouco comum, constituindo uma conduta completamente irracional e autodestrutiva. Este comportamento dos indivduos caracteriza-se pela tomada de decises irracionais que incrementam perigo para as prprias e para os outros. O pnico negativo consiste numa atitude completamente insensvel ao sinistro, levada de tal forma que, devido passividade total, pode levar autodestruio [14].
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Apesar de o pnico ser pouco comum numa situao de emergncia, a probabilidade da sua ocorrncia aumenta se no forem consideradas determinadas medidas de segurana contra incndio, das quais se destacam as seguintes [9]:
Concepo correcta dos caminhos de evacuao (visibilidade das sadas, larguras suficientes, adequada relao entre largura e altura dos degraus das escadas, existncia de corrimo nas escadas, etc.);
Ausncia de passagens estreitas ou estrangulamentos nos caminhos de evacuao; Existncia de sinalizao de segurana; Existncia de iluminao de emergncia; Deteco atempada do incndio e adequados sistemas de alarme; Existncia de lugares de refgio e sistema de intercomunicao com os ocupantes
(edifcios muito altos); Sistemas adequados de controlo de fumos.
Existem comportamentos desadaptados que ocorrem com maior frequncia, como por exemplo, a prtica de uma ou vria aces que contribuem para dificultar a evacuao do edifcio e o prprio combate ao incndio [9].
2.6. INFLUNCIA DO FUMO NO MOVIMENTO DAS PESSOAS
Com uma combusto surgem fumos, quer se d com ou sem chama (mais grave esta ltima). Com o aparecimento de fumos e a inerente diminuio de visibilidade, o movimento e o comportamento das pessoas numa situao de emergncia so afectados. Como principais consequncias surgem [9]:
Diminuio da velocidade de deslocao; Aumento da instabilidade emocional; Interrupo do movimento; Pnico.
Os factores importantes para a tomada da deciso, por parte de um ocupante, de iniciar ou no o movimento em relao sada, atravessando um espao enfumado, so [9]:
Capacidade de conseguir identificar a sada; Possibilidade de estimar a distncia a percorrer; Percepo da severidade do fumo, traduzida por exemplo, pela sua densidade ptica.
2.7. INFLUNCIA DE INCAPACITADOS E IDOSOS
As pessoas incapacitadas tm uma variedade de limitaes que aumentam o risco na sua evacuao, como por exemplo [4]:
Problemas sensoriais, tais como: surdez e cegueira; Problemas na mobilidade que implicam o uso de cadeira de rodas; Problemas mentais.
A existncia de incapacitados e de idosos em determinados tipos de ocupaes, pode ter implicaes significativas na forma como se vai desenvolver a evacuao, tornando-se necessrio estabelecer uma distino entre, por um lado, casas de sade, hospitais, lares de idosos e, por outro, os restantes edifcios.
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Relativamente aos hospitais, estabelecimentos similares e lares de idosos, a regulamentao deve ter em considerao o facto de a mobilidade das pessoas estar fortemente condicionada. Em alguns destes tipos de estabelecimentos, em que a percentagem de incapacitados pode ser extremamente elevada, a questo da evacuao colocada de uma forma diferente da habitual. O que se torna necessrio fazer relativamente a certos sectores, tais como estabelecimentos de sade e lares de terceira idade, limitar as distncias a percorrer pelos ocupantes at s sadas para o exterior e dotar os caminhos de evacuao de dimenses mais generosas. Quanto aos outros edifcios a existncia de incapacitados e de pessoas idosas no normalmente um aspecto preocupante [9].
No que diz respeito aos edifcios de habitao verifica-se que a actual percentagem de acamados e pessoas idosas que neles residem no ainda significativa, salvo situaes pontuais, no existindo portanto uma situao de acamados permanentes com a proporo que se encontra nos estabelecimentos hospitalares [9].
Em funo da esperana mdia de vida estar a aumentar, aumentando o nmero de incapacitados, permanentes ou temporrios, de esperar que esta situao venha a conhecer alteraes, reflectindo-se no projecto dos edifcios de habitao [9].
2.8. EVOLUO DA REGULAMENTAO DE SCIE EM PORTUGAL
A Regulamentao nesta rea surgiu no final da dcada de 80, princpio da dcada de 90, fixando um conjunto de nveis mnimos relativos s capacidades de desempenho do edifcio e das suas componentes e tendo como principais critrios de segurana genricos:
Os elementos estruturais dos edifcios devem ter uma resistncia mnima aco do fogo; Deve ser limitada a possibilidade de propagao do fogo, dos fumo
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