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TURISMO RELIGIOSO:
Uma alternativa econômica para municípios do Seridó - RN
.
Maria do Socorro Gondim Teixeira1
Manoel Cícero Romão Júnior2
Estuda a Economia do Turismo Religioso praticado por municípios da região do Seridó - RN, e
ressalta a importância desse setor para o desenvolvimento econômico dos municípios da região. Sua
história, aspectos sócios culturais, físicos geográficos, serviços urbanos básicos e econômicos
também são assuntos abordados. É feito um diagnóstico atual do Turismo Religioso nos municípios
de Acari, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Currais Novos e Florânia. Mostra o potencial turístico,
evidenciando a oferta turística destes municípios. O Programa Nacional de Municipalização do
Turismo – PNMT, no qual os municípios estão inseridos, aponta para interiorização do turismo
como meio sustentável. A realização deste trabalho se justifica em voltar para esse segmento,
apresentando a sua importância de grande potencial na região seridoense e, a contribuir para o
desenvolvimento de outras atividades dos mais variados setores, promovendo uma maior
integridade econômica, social e política dos municípios. A presente proposta da pesquisa define
procedimentos metodológicos que viabilizarão a construção do objeto, com pesquisas
bibliográficas, junto a uma pesquisa de campo exploratória. Assim, a partir dos dados analisados, a
Região do Seridó apresenta condições estruturais e culturais significativas para implementar a
prática dessa atividade, desde que planejadas e reestruturadas de forma racional.
Palavras – Chave: Turismo, Desenvolvimento Econômico, Religiosidade.
Studying the economics of Religious Tourism practiced by the region's Serido - RN, and
emphasizes the importance of this sector for the economic development of the region. Its history,
socio cultural, physical geography, urban basic services and economic issues are also addressed. We
made a diagnosis of current Religious Tourism in the municipalities of Acari, Caico, Carnauba of
Dantas, Currais Novos and Florania. Shows the potential for tourism, highlighting the tourism these
municipalities. The National Program of Tourism Municipalization - PNMT, in which cities are
added, pointing to internalization of tourism as a sustainable way. The completion of this work is
justified in return for this segment, showing the importance of great potential in the region Serido,
and contribute to the development of other activities of several sectors, promoting greater economic
integrity, and social policy of the municipalities. This proposal defines the research methodological
procedures that enable the construction of the object, with bibliographic searches, together an
exploratory field research. Thus, from the data analyzed, the region of Serido presents significant
cultural and structural conditions to implement the practice of this activity, since it restructured in a
planned and rational.
Key-Words: Tourism, Economic Development, Religiosity.
Área Temática: Cultura, lazer, turismo e desenvolvimento regional
1 Economista. Doutora em Ciências da Comunicação pela USP. Profª do Departamento de Economia da UFRN.
2 Mestrando em Economia pela UFRN.
2 1 INTRODUÇÃO
O turismo é cada vez mais entendido como uma atividade econômica exercendo influência
em diversos setores: religioso, político, cultural, ecológico e rural. Essa atividade, em comparação
com outras, necessita de menores investimentos, já que existe a possibilidade de aproveitar os
recursos existentes nas próprias localidades como forma de investimento turístico.
Um dos setores que tem conseguido um grande destaque no âmbito da atividade turística é o
segmento religioso. O destaque principal nesse setor são as peregrinações, caracterizado pelo
deslocamento temporário de pessoas para outras regiões ou países visando à satisfação de outras
necessidades não decorrentes de atividades remuneradas. Por se tratar de um fenômeno espontâneo,
as peregrinações também são movidas por aspectos profanos.
Atualmente, as peregrinações mais conhecidas em nível mundial e que têm muita
importância no setor turístico religioso são as que costumam ocorrer para: Jerusalém (Israel),
Fátima (Portugal), Vaticano (Itália), Lourdes e Assis (Portugal). Estes lugares foram santificados
pela recordação histórica ou por manifestações de caráter miraculoso. No Brasil, os principais
eventos religiosos são: o Círio de Nazaré (Pará), Padre Cícero (Ceará), Iemanjá (Bahia), Festa do
Bonfim (Rio de Janeiro), Nossa Senhora de Aparecida (São Paulo).
O Rio Grande do Norte ainda não detém uma repercussão muito forte em nível nacional, no
que tange ao turismo religioso. As festas religiosas desse Estado ficam restritas ao fluxo
intermunicipal, como as chamadas festas das padroeiras. Esses eventos são bastante observados no
interior do Estado do Rio Grande do Norte, em especial, na região do Seridó, onde, a religiosidade
sempre foi um fator de extrema importância na vida das famílias seridoenses. Para reforçar ainda
mais essa percepção, basta que se perceba o quanto se ritualiza Sant’Ana (Padroeira do Seridó e de
alguns municípios da região).
Esse trabalho tem por objetivo analisar o Turismo Religioso como alternativa econômica
para os municípios do Seridó; bem como principalmente identificar os atrativos turísticos já
existentes nos municípios de Acari, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Currais Novos e Florânia. De fato,
observam-se as possíveis potencialidades, traçando um perfil de cada atrativo, identificando a
capacidade de explorá-los, relacionando a oferta de equipamentos turísticos e suas qualidades
através de um planejamento turístico sustentável, assim como os problemas que dificultam a
organização desses atrativos como produtos turísticos. Como justificativa principal, o fato do
turismo religioso, oriundo das peregrinações e festejos religiosos que acontecem de maneira
espontânea na região, é visto como um ramo econômico com um grande potencial empregatício.
Em relação à metodologia aplicada neste trabalho, inicialmente foi feito uma pesquisa
bibliográfica, tomando como base os principais conceitos e estudos sobre esse fenômeno; foram
realizadas pesquisas documentais: fontes historiográficas, cartas, relatórios de eventos, projetos
diversos, boletins informativos, jornais, revistas que se respondam ao Turismo Religioso no Seridó.
Além disso, adota-se uma pesquisa de campo, objetivando coletar informações através da aplicação
de questionários, junto a pessoas ligadas ou não ao setor.
O trabalho está dividido em duas partes: a primeira trata da evolução do Turismo Religioso
ao longo dos tempos, bem como a atuação desse setor em algumas cidades brasileiras e, sua
importância enquanto potencial econômico a ser explorado. Como em qualquer atividade
econômica é de interesse um estudo sobre o comportamento da oferta e demanda turística e seus
impactos sobre o mercado turístico; e por fim, apresenta o desenvolvimento do Turismo Religioso
nos municípios em estudo da região do Seridó. Analisa-se o potencial turístico religioso que cada
município comporta e, sua influência no processo econômico local. Para isso, traz-se o resultado da
aplicação de questionário junto a pessoas vinculadas ou não a esse segmento, contribuindo assim
para a veracidade das informações obtidas.
3 2 CONCEITOS E EVOLUÇÃO DO TURISMO RELIGIOSO
A atividade turística envolve o movimento constante de pessoas, que se deslocam de um
local de origem a um destino qualquer. O deslocamento e a permanência de pessoas longe de seu
local de moradia provocam profundas alterações econômicas, políticas, culturais, sociais e
ambientais que podem apresentar aspectos positivos e negativos.
Ao longo dos tempos, o segmento da religiosidade tem causado uma forte influência na
cadeia turística. A noção do turismo religioso se desenvolve a partir da compreensão das
motivações turísticas. A única diferença desse segmento turístico em relação aos demais é a
motivação religiosa como razão principal desses deslocamentos.
Assim, essa sessão apresenta a evolução desse segmento, bem como a predominância desse
setor como principal atividade a ser desenvolvida em algumas cidades sendo que, sua atuação vem a
se tornar um instrumento de grande impulso para o crescimento econômico, na medida em que
oferece lucratividade.
2.1 Evolução Histórica do Turismo Religioso.
O fenômeno das peregrinações é próprio de cada cultura. Cada país ou região tem uma
conformação histórica, política, cultural, religiosa e econômica que vai determinar a forma, a
intensidade e o sentido do andar, nas suas rotas de fé. Essa diversidade de motivações, no entanto,
acabam remetendo a uma mesma essência: as peregrinações constituem um fenômeno ligado à
natureza do ser humano.
Nos séculos III e IV da Era Cristã, os fiéis começaram a cultivar o hábito de viagens de
caráter religioso. Também foi o início da longa série de visitas a igrejas e santuários. Observações
essas que levaram à prática do Turismo Religioso. (www.pr.gov.br).
O surgimento de vários santuários começou a distinguir-se em locais afastados das cidades,
em meio à natureza inóspita. Na austeridade desses locais desabitados e isolados, o aparecimento
desses templos propiciou o desenvolvimento das comunidades locais. O fato importante a destacar é
que ocorreram deslocamentos contínuos de pessoas em toda a história da humanidade cuja origem
motivacional principal era de cunho religioso.
De acordo com Abumanssur (2003) citado por Vilhena (2003), os fluxos migratórios são
alavancados por fatores diversos que podem ocorrer isoladamente ou em combinações múltiplas
... . Guerras, comércio, poder e controle dos governantes sobre as populações exigiam estradas,
rotas comerciais que por terra e mar mapearam de novo tanto o mundo conhecido como aquele a ser
descoberto. A pilhagem, o comércio, o interesse intelectual e prático levaram por longos caminhos
tecnologias, objetos de arte, armamentos, obras literárias, filosóficas, cientificas, religiosas e
econômicas. Sucederam assim, desconstruções, reconstruções, adaptações e inovações
impulsionando os desenvolvimentos regionais.
Ao longo dos tempos, as peregrinações refloresceram de modo diferente ainda que
apresentando os mesmos elementos de suporte como os dogmas da religião católica e os valores
bíblicos. Os romeiros passaram a compartilhar não apenas a fé como também a intenção de
desfrutar de momentos de lazer em conjunto, onde era rompido o cotidiano de trabalho. Observava
assim a descoberta de outras atividades desenvolvidas em função do Turismo Religioso.
Atualmente, as peregrinações e as festas religiosas continuam a ser, em geral, um fenômeno
de forte coesão humana expressa na religião e no lazer. Estes assumem novos papéis e sentidos que
contradizem suas antigas tradições. A sua prática efetiva realiza-se de diversas maneiras: as
peregrinações aos locais sagrados, às festas religiosas que são celebradas periodicamente, os
espetáculos, as representações teatrais de cunho religioso e os congressos, encontros e seminários,
ligados à evangelização.
Em função dessa atuação, os locais de peregrinações e romarias, propiciaram também o
surgimento de outras atividades de caráter não-religioso e, que contribui não só de complemento,
mais também para desenvolver a economia local. Entre eles, podemos citar o aparecimento de
4 pousadas, hospedarias, hotéis, motéis, povoados, portos, cidades, restaurantes, comércio de
artesanato, mercado informal, transporte, bares, além da geração de empregos nos setores de
comércio, saúde, segurança pública e turismo.
Fatores como hospedagem, comércio, alimentação e lazer, são diretamente afetadas pelo
afluxo turístico, implicando na reconfiguração de uso do espaço, planejamento de infra-estrutura
receptiva e organização econômica.
Quadro I
Classificação do motivo da visita (ou viagem) por divisões, para turismo receptor, emissor
interno.
1. Lazer, recreação e férias.
2. Visitas a parentes e amigos
3. Negócios e motivos profissionais
4. Tratamento de saúde
5. Religião/ peregrinações
6. Outros motivos
Fonte: Dias e Silveira (2003, p.14).
A motivação religiosa está classificada pela OMT entre os principais motivos das viagens
turísticas, fato este destacado por Dias e Silveira (2003) e citado por Andrade (2000). Ressalvados o
turismo de férias e de negócios, o tipo de turismo que mais cresce é o religioso porque, além dos
aspectos místicos e dogmáticos, as religiões assumem o papel dos agentes culturais importantes em
todas as suas manifestações de proteção de valores antigos, de intervenção na sociedade atual e
prevenção no que diz respeito ao futuro dos indivíduos e sociedades.
As viagens em busca de espaços próprios para as manifestações de fé envolvem pessoas de
várias culturas e diferentes nacionalidades, em todo o mundo. De posse dessa realidade, a indústria
do turismo intensificou o investimento nos centros de peregrinação através das ações diretas sobre a
realidade local e do uso da mídia e do marketing para incentivar o fluxo de visitantes. A partir daí,
algumas regiões começaram a investir em planejamento e obras para ampliar sua capacidade de
recepção e proporcionar alternativas de lazer aos turistas fazendo com que os visitantes
permaneçam mais tempo nos locais de visitação.
O Turismo Religioso se destacando na economia, pois, os peregrinos são consumidores de
bens e serviços, num movimento de fluxo praticamente ininterrupto. Assim, as peregrinações se
tornam uma dupla fonte geradora de renda, enquanto fornecedora de consumidores em potencial e
como atrativo turístico em si. Embora o caráter comercial não elimine o elemento religioso, uma
vez que a participação na peregrinação decorre de uma atitude de fé, as atividades paralelas às
manifestações religiosas ganham nova dimensão, como forma de atrair mais visitantes. Potenciais
fontes de diversão e prazer tornam-se um atrativo a mais no circuito da fé, para entreter o visitante,
prolongar sua estadia e estimular o consumo.
Os principais locais escolhidos para essas peregrinações são conhecidos e famosos no
mundo inteiro: Roma (Itália), Lourdes (França), Fátima (Portugal), Medjugore (Iugoslávia),
Jerusalém (Israel), Santiago de Compostela (Espanha). No Brasil os locais de peregrinação mais
conhecidos são: Aparecida (São Paulo), Belém (Pará), Juazeiro do Norte (Ceará).
2.2 O Turismo Religioso no Brasil.
Desde meados do século XIX, a Igreja Católica começou a buscar a integração dos centros
de peregrinação como parte de uma estrutura institucional impondo sobre eles maior controle e
tendência a uniformização dos cultos. No Brasil, a maioria de centros de peregrinações surgiu no
início da conquista portuguesa, especialmente nos séculos XVII e XVIII, mas podemos encontrar
outros mais recentes. Dessa forma, as nossas peregrinações se dirigem para santuários ou locais
próprios de adoração ou devoção.
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O desenvolvimento de práticas religiosas é um importante fator na determinação de locais
com potencial turístico. Nesse sentido, o Brasil, onde a fé católica é predominante, possui um
número bastante significativo de locais religiosos que atraem viajantes de todo tipo: peregrinos,
romeiros, pessoas atraídas pela cultura do espaço religioso etc. Na maioria das localidades, onde
existem santuários ou ocorrem manifestações religiosas, a infra-estrutura para receberem visitantes
ainda é precária, muitas vezes devido a pouca compreensão do potencial econômico.
Dessa forma, os indivíduos se deslocam com um objetivo religioso ou apenas de conhecer
certa religião ou movimento religioso, é denominado: Turismo Religioso. Essa modalidade de
turismo é sem dúvida muito importante para o turismo, além das outras práticas turísticas que
existem no território brasileiro como: Turismo Rural, Turismo Cultural, Turismo Ecológico,
Turismo de Negócios, formam um produto turístico.
Andrade (1998, p. 77) afirma que esse tipo de turismo é um conjunto de atividades com
utilização parcial ou total de equipamentos e a realização de visitas a receptivos que expressam
sentimentos místicos ou suscitam a fé, a esperança e a caridade aos crentes ou pessoas vinculadas às
religiões. Desse modo, o turismo religioso é uma atividade complexa que compreende tanto a
produção como o consumo, tanto as atividades secundárias e terciárias que agem articuladamente,
como uma prática voltada para o lazer. Assim, os restaurantes, lanchonetes, barracas, camelôs,
parque de diversões, hotéis, pousadas, lojas de artesanato, transporte; enfim, tudo isso coloca o
turismo religioso em uma postura de relacionar-se atrelada ao consumo e ao lazer.
No Brasil, alguns problemas dificultam um maior fluxo turístico, entre eles:
Qualificação profissional;
Valorização de todos os seus tipos de atrativos;
Consciência Política;
Envolvimento dos setores públicos, privados e da comunidade;
Planejamento;
Infra-estrutura turística;
Analisando melhor o fenômeno do turismo religioso no Brasil, percebe-se a necessidade da
elaboração e implantação de planos para o desenvolvimento dos destinos religiosos. Ressalta-se a
importância dos programas prioritários para a ordenação da atividade turística, gerando benefícios
para devotos e turistas e garantindo o desenvolvimento sustentável, tanto no aspecto econômico
como no ambiental e sociocultural, assim como a qualidade de vida da comunidade local.
(ANSARAH, 2000, p.131). O Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) incorporou
definitivamente os principais santuários católicos brasileiros como um produto turístico semi-
acabado. A publicação dos Roteiros da Fé Católica no Brasil enumera 64 centros de atrativos
religiosos, entre templos, espetáculos e festividades diretamente ligadas ao catolicismo popular e
regional.
Entre as principais, pode-se destacar: no Norte, ocorre o Círio de Nazaré, que reúne dois
milhões de pessoas em Belém (Pará), sem mencionar Padre Cícero no Juazeiro do Norte (Ceará),
Senhor do Bonfim em Salvador (Bahia), entre outras. De acordo com Ansarah (2000), citado por
Novaes (2000), Aparecida (São Paulo) é considerada a capital ritual do Brasil, com turismo
religioso de massa, recebendo anualmente milhões de peregrinos. A cidade apresenta uma
programação de eventos que estimula os visitantes a permanecerem na cidade. Todo sistema é
acionado: hotéis, restaurantes, comércio, empresas de transportes, equipamentos de lazer. O
santuário contrata mais de 600 funcionários (médicos, enfermeiros, faxineiros, pedreiros,
seguranças, etc.) para garantir o bem estar dos romeiros.
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MAPA I: ROTEIRO DICAS DA FÉ CATÓLICA NO BRASIL
Fonte: Massud (2004, p.7).
Portanto, em cidades como Aparecida, podem ser constituídos espaços no qual o turismo
liga-se à tradição da peregrinação. Essa imbricação, motivada pela intensa circulação de símbolos
religiosos associada ao consumo, ao marketing e ao lazer, não isenta o turismo de uma relação tensa
com a sociabilidade anterior (religião). Em Aparecida, configura-se um cenário que aponta para
uma crescente diversidade, possibilitando o surgimento de um mercado de bens e serviços.
FIGURA I: BASÍLICA DE NOSSA SENHORA APARECIDA
Fonte: www.patricknunes1.hpg.ig.com.br
Os investimentos realizados em marketing e propaganda são fundamentais, com o intuito de
divulgar a produção local. A EMBRATUR define o Marketing turístico como sendo ”um conjunto
de técnicas estatísticas, econômicas, sociológicas e psicológicas, utilizada para estudar e conquistar
o mercado, mediante lançamento planejado dos produtos”.
Grande parte do que é produzido em Aparecida, sejam atividades comerciais e produtivas
ligados ao setor, são responsáveis por 90% do PIB da cidade e emprega cerca de 80%, tudo em
função do Turismo Religioso. O comércio de artefatos religiosos é bastante intenso, sendo parte
Mapa desenvolvido
pela EMBRATUR,
apresentando as principais
movimentações religiosas no
país.
7 dessa produção exportada, principalmente para países europeus e asiáticos que contam com uma
diversidade muito grande de escolha. Assim, o setor do turismo religioso no país, é um dos que
mais tem contribuído para melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, repercutindo na criação e
manutenção de empregos ligados a outros setores.
2.3 O setor do Turismo Religioso no Processo de Desenvolvimento do Nordeste.
A indústria turística iria se adequar às necessidades econômicas da região no sentido de que
geraria um novo campo de trabalho para o homem da terra e iria aproveitar os aspectos naturais de
cada região como atração turística. De acordo com Coriolano (1999, p.111), as necessidades e os
desejos humanos devem ser as origens das atividades econômicas. O lazer e o turismo são na sua
essência, respostas a estas necessidades [...].
Conforme Coriolano (2003), e citado por Ribeiro e Ferreira (2003, p.302), [...] os planos de
desenvolvimento do turismo estão em andamento, com destaque para região Nordeste do Brasil.
Tudo isso para tentar atrair turistas de outros países, gerando divisas. Descobrir novas políticas
sociais, econômicas e ambientais, que levem em conta as comunidades, o aumento das riquezas da
terra para todos e a conservação das reservas [...] priorizar as alternativas de desenvolvimento
econômico que evitem impactos ambientais, econômicos, sociais e culturais [...]. Encontrar
mecanismos para que as comunidades receptoras de turismo conscientes da importância desta
atividade, da importância de seus valores culturais e conhecedoras das especificidades dos recursos
naturais e culturais locais, passem a encontrar no turismo oportunidade de geração de renda para o
próprio local, produzindo assim o desenvolvimento local.
Assim, desenvolver a atividade turística no Nordeste parece ser uma meta tangível e
bastante coerente com as potencialidades atrativas de nosso país, uma delas é o Turismo Religioso.
Com isso, o processo contínuo de Planejamento Sustentável da atividade turística vem sendo
desenvolvido, obtendo êxitos e alcançando espaços no mercado.
No Nordeste brasileiro, as peregrinações, bem como os santuários, as festividades religiosas
e romarias também estão presentes, aspectos esses que refletem no Turismo Religioso. Ressalta-se a
importância dos programas prioritários para a ordenação da atividade turística, gerando benefícios
para devotos e turistas e garantindo o desenvolvimento local, tanto no aspecto econômico, como
ambiental e sociocultural, melhorando a qualidade de vida da comunidade local.
De acordo com Coriolano (2003), citado por Ribeiro e Ferreira (2003, p. 305), “trata-se sim
de reforçar o potencial local e usá-lo como atrativo para quem quer vivenciar e não apenas
contemplar os lugares”.
Juazeiro do Norte, no estado do Ceará, é um exemplo claro dentre esses lugares, situado no
Nordeste. Este oásis religioso, situado no Vale do Cariri, se transformou na maior cidade do interior
cearense. Aqui a religiosidade parece se revelar com o sofrimento proveniente da pobreza.
A análise dos centros de romaria no Ceará e do consumo do turismo religioso leva a
identificar os comportamentos típicos dos turistas religiosos e dos romeiros como forma de melhor
explicar o Turismo Religioso. No turismo, os lugares visitados são comparados a verdadeiros
santuários. A motivação para o peregrino recai na esperança de aumentar a santidade pessoal, obter
benção e curas especiais. Para o turista religioso, a motivação recai no desejo de escapar,
temporariamente das pressões da sociedade em que vive passear e curtir a vida. (ABREU E
CORIOLANO, 1998, p. 83).
As cidades como Juazeiro do Norte e Canindé, são exemplos de consumo turístico-religioso.
O espaço social é preparado diferencialmente para atender o turista e o peregrino. A peregrinação
possui roteiro devocional e a espacialidade do comércio de bens simbólicos atende a demanda a
cada tempo. Já os turistas chegam à área de comércio de bens sagrados e espaços profanos.
Notadamente a sustentação de Juazeiro do Norte e Canindé como centros de romarias
confirmam a religiosidade do povo cearense. Considerando que o sistema econômico do turismo é a
forma de organização da estrutura turística, compostos por seus agentes econômicos, englobando o
tipo de propriedade, a gestão de recursos, o processo de circulação de mercadorias e de renda, o
8 consumo e os níveis de desenvolvimento das tecnologias empregadas e da divisão do trabalho,
enfatizando o valor turístico.
O turismo religioso produz uma cadeia produtiva, além de usufruir todas as atividades
econômicas dos lugares visitados, envolve o conjunto de fornecedores e projetos finais que
arrecadam com o consumo dos turistas e com as atividades tipicamente voltadas para o turista,
como a venda de passagens, as estadas em hotéis, pousadas, dentre outros serviços. O consumo
envolve uma realidade mais ampla da comunidade receptora. Nessas cidades santuários, há
presença constante do comércio anexada à atividade religiosa, onde se vendem os artigos de
interesse dos peregrinos, restaurantes, farmácias e artigos religiosos, além dos estacionamentos e
alojamentos.
A cada ano tem crescido o fluxo de turistas peregrinos de melhor poder aquisitivo. Os
turistas aliam o interesse religioso à vontade adicional de conhecer outros atrativos de ordem
cultural ou de lazer e, sobretudo, de consumo.
Coriolano (1999, p. 111), exemplifica o consumo turístico e diz que, o comércio nestas
ocasiões tem maiores oportunidades de vendas devido ao maior fluxo de pessoas. A romaria é uma
oportunidade que os romeiros dispõem para comprar tudo àquilo que necessitam e só encontram
nessas cidades [...]. Desenvolver-se nessas cidades um intenso comércio interno e externo com a
venda de produtos diversificados que vão dos produtos importados aos produtos regionais, do luxo
a imitação que sustentam sua economia num tempo sagrado [...]. Forma-se um pacto anônimo,
comércio, religião, pois um depende do outro, sendo este um dos principais mecanismos de
acumulação do capital local [...]. Assim, os pactos anônimos de consumo nos centros de romarias se
consolidam na venda de chapéus, santos, terços, medalhas e souvenires.
Além das cidades-santuários localizados no Ceará, outras merecem destaque na região
Nordeste. Entre elas: Nova Jerusalém em Pernambuco, onde é realizado um dos maiores
espetáculos teatrais ao ar livre do mundo, a Paixão de Cristo que atrai cerca de 80.000 pessoas
durante nove dias, bem como a Lavagem do Bonfim, a Festa de Bom Jesus dos Navegantes e a
Festa de Iemanjá, todas realizadas no estado da Bahia, caracterizado por apresentar um sincretismo
religioso forte. Na região Nordeste, o turismo religioso pode contribuir para o desenvolvimento bem
como o redimensionamento da economia local, desde que seja implementado e repensado de modo
a evitar impactos econômicos que venham a prejudicar a região.
2.4 O setor do Turismo Religioso no Processo de Desenvolvimento do Rio Grande do Norte.
O Rio Grande do Norte, além de suas maravilhosas praias, também oferece um roteiro
cultural muito interessante, especialmente no interior, uma vez que é um estado rico em história e
monumentos tombados pelo patrimônio histórico. Essa economia está concentrada não só na parte
litorânea do estado, mas está atuando nos municípios vizinhos e interioranos, explorando outros
setores, de modo a evitar impactos que prejudiquem a economia local. A busca por alternativas
pode ser explicada pela falta de infra-estrutura (hotéis, estradas, transportes). As comunidades
buscam nos recursos próprios explorar alternativas que gerem condições para o desenvolvimento,
assim como um meio econômico que venha a beneficiar a todos.
Segundo Coriolano (2003, p.118) o ideal “é priorizar as alternativas de desenvolvimento
econômico que evitem impactos ambientais, econômicos, sociais e culturais adversos”. Um desses
recursos pode ser encontrado na religião, associando a relação entre turismo e religiosidade.
O turismo é o consumo de um espaço, constituindo uma territorialidade específica, talvez
uma etiqueta guardada no “embrulho”, pode variar entre cultural, religiosa, virtual, entre outras. Por
isso o turismo colocaria em circulação/ venda produtos desde artesanatos tradicionais aos de última
geração, mesclando-os, desconstruindo dicotomias e introduzindo novas posturas (lazer, ludicidade)
dentro de fenômenos como a religião. Dessa forma o religioso dilui-se no mercado, no lazer. (DIAS
E SILVEIRA, 2003, p.89).
De acordo com Massud (2004, p.7), o estado não tem vocação turística religiosa de
referência nacional. As nossas festas religiosas ficam restritas ao fluxo intermunicipal, com as festas
9 das padroeiras, em especial Sant’Ana, em alguns municípios do estado. Esses eventos são bastante
observados no interior do estado, na região do Seridó, onde a religiosidade sempre foi um fator de
extrema importância na vida das famílias seridoenses. Esta é, pois, mais uma evidência do
regionalismo seridoense. Massud (2004, p.7) cita ainda que “as festas das padroeiras seguram o
setor que tem outros nichos para crescer e gerar renda no Estado”.
De acordo com Dias e Silveira (2003, p.36), estudos sobre os impactos econômicos do
turismo religioso, apesar de ainda insuficientes ou pouco disponibilizados, permitem inferir que
essa modalidade turística contribui para o redimensionamento da economia local por meio de
adaptações de equipamentos de hospedagens, serviços de comércio e gastronomia, lazer etc., que
tomam uma ampla configuração no espaço territorial.
O Rio Grande do Norte vem mudando sua colocação no cenário nacional e aos poucos se
insere na rota do turismo religioso do país. O principal motivo se deu após a beatificação dos
mártires de Cunhaú e Uruaçu, que aconteceu no dia 05 de março de 2000. Nesse dia, as cidades
passaram a ser visitadas por peregrinos e romeiros. Assim de acordo com Massud (2004) citado por
Santana (2004, p.7) entende-se que “o turismo religioso é positivo, porque toda curiosidade é boa.
As pessoas não vão só para vê um local bonito. Eles buscam conhecimento”. Conhecimento esse,
que é obtido através das viagens por variados motivos em busca do desconhecido realizado por
esses peregrinos.
2.5 O Turismo Religioso no Seridó.
Quando se fala em Seridó, vêm à tona algumas imagens que delineiam a noção de um lugar
particular. Neste sentido, existe a percepção que há uma recorrência ao Seridó, ou dos enunciados
que formam, em vários discursos que circulam no imaginário estadual e regional. (LEITE, 2000,
p.176). Tal evidência termina por imprimir uma visibilidade regional específica associada a
determinados padrões identitários.
Leite (2000) afirma que é possível, a partir de determinadas recorrências discursivas
culturalmente configuradas no Seridó, detectar alguns traços distintivos de sua feição regionalista.
Pode-se analiticamente isolar características de maior realce. Assim, os componentes dessa rede de
significações estão ancorados, basicamente em quatro instâncias: a religiosa, a política, a
socioeconômica e a educacional. Esses quatro mananciais são responsáveis pela formação da
identidade regional seridoense [...].
O território do Seridó é fortemente marcado pela religião Católica, embora outros credos
tenham vindo a se juntar posteriormente. Assim, conforme Leite (2000, p.158) “a interpretação
religiosa colaborou para a construção da identidade da região, na perspectiva da fé, mediante uma
explicação mítica do aparecimento da povoação [...]”. O autor aponta para o fato de que essa
instância religiosa contribui para a constituição do território seridoense, ou aquele que mais se
aproxima da atual delimitação para fins de planejamento, ou seja, nesse sentido a religião Católica
investiu no Seridó.
Perceber a realidade física, social, cultural e econômica da região Seridó, com identidade
própria e que retrata a riqueza de sua herança e tradições culturais, torna possível a construção de
uma imagem turística muito forte, com características únicas e que podem se constituir em um
atrativo produto turístico.
10
MAPA II: REGIÃO DO SERIDÓ
Fonte: www.cidadespotiguares.hpg.ig.com.br
De acordo com Leite (2000, p.159), são muitas e diversificadas as práticas culturais
seridoenses. Os bens culturais para o consumo turístico compreendem:
Acervo a monumentos históricos e o registro de legados que expressam o valor da
sociedade;
Os museus e as galerias de arte, que reúnem as várias modalidades de expressão
artística, um verdadeiro arquivo de etapas de desenvolvimento de culturas;
As manifestações populares de caráter religioso e profano: o folclore, que retrata,
numa reconstituição cênica de ambiência histórica, as etnias formadoras de populações; e
A cultura popular, que mais efetivamente evidencia o presente de cada área,
tornando-se por vezes, geradora de fluxos turísticos específicos e caracterizadora de regiões.
As práticas culturais mencionadas constituem elementos de forte coesão social, visto que
estão ligadas aos traços identitários seridoenses e expressam a forte solidariedade social existente na
região.
Segundo estudos da Organização Mundial do Turismo - OMT (2004), [...] o turismo
diferenciado, que não se caracteriza por fluxos massivos de pessoas, vem crescendo em proporções
bem maiores do que aquele, o turismo de sol e praia. Compreendem a várias modalidades, dentre as
quais se podem citar as seguintes, que se aplicam muito bem à região do Seridó: ecoturismo ou
turismo de natureza, de aventura, cultural, religioso ou místico, gastronômico, de eventos ou de
negócios e rural. (Plano de Turismo Sustentável – SEBRAE/ RN, 2004, p.7).
No Seridó, a natureza, inóspita em alguns períodos do ano, mas extremamente pródiga em
outros, criava condições para que algumas dessas culturas encontrassem excelentes condições para
o seu desenvolvimento. Por ser uma região que sofre bastante com as adversidades climáticas, as
comunidades buscam através da criatividade e disposição, alternativas de atividades geradoras de
ocupação e renda, minimizando os efeitos da seca e constituindo-se, também, em importantes
fatores para o processo de desenvolvimento.
Conforme o Plano de Turismo Sustentável – SEBRAE/ RN (2004, p. 22), [...] a Região do
Seridó tem potencialidades capazes de levá-la a novo período de prosperidade, elevando o padrão
de vida da população através da geração de emprego e renda, garantindo o desenvolvimento
sustentável dessa região tão peculiar. O turismo está apto a promover o ressurgimento da economia,
resgatando, paralelamente, valores humanos tão gratos à população.
A crise que assola a Região do Seridó é muito grave e exige que sejam encontradas novas
alternativas de proporcionar à população condições dignas de vida sem causar impacto ambiental.
Assim, o turismo desponta uma atividade perfeitamente adequada ao desenvolvimento humano e
A Região do Seridó é
constituída por ecossistemas
naturais bastantes frágeis,
ameaçados no tempo pelas intervenções
humanas locais.
11 preservação ambiental. O turismo pode fomentar o desenvolvimento de produtos e serviços que
utilizem de forma sustentável os recursos naturais. Tudo isto pelo incentivo ao desenvolvimento das
atividades econômicas existentes, revitalizadas pela nova roupagem recebida quando associadas ao
turismo.
O Plano de Turismo Sustentável - SEBRAE/ RN (2004, p. 24) destaca que, a integração da
população local ao processo de desenvolvimento turístico é indispensável, uma vez que para ela
devem ser revertidos os benefícios desse desenvolvimento. Os investimentos públicos e privados
serão estimulados e terão um rumo definido, com base na ampliação de mercados atuais e na
abertura de nichos que aproveitem as oportunidades surgidas a partir dos novos produtos e serviços
de qualidade. Entre os ramos do setor turístico, o setor religioso é o que mais tem se destacado na
região. A presença das romarias, festas das padroeiras, espetáculos teatrais, congressos e
movimentos religiosos, atraem um fluxo de visitante muito grande.
Esse potencial existente do turismo religioso no Seridó tem estimulado o desenvolvimento
de atividades alternativas que contribuem para a geração de empregos e renda para a comunidade
local. As demandas criadas por fluxos turísticos seletivos podem provocar o desenvolvimento de
produtos e serviços culturais, criando oportunidades de novos negócios.
Pode-se citar o artesanato, além dos bordados, produtos alimentares como licores, doces,
queijos e carne-de-sol, produtos de cerâmica, de palha, redes de dormir, são facilmente
comercializados por um componente de trabalho de marketing que define a marca Seridó. Além do
desenvolvimento da hotelaria, outra atividade em crescimento e com perspectivas de expansão,
restaurantes, pousadas, ou seja, toda infra-estrutura necessária para que o visitante ou turista se sinta
estimulado em voltar no ano seguinte, constituindo-se em oportunidade de conhecimento e
aprendizagem. Mas, é necessário que se tenham serviços de qualidade, pois sem qualificação, o
destino turístico não se mantém por muito tempo.
O Plano de Turismo Sustentável – SEBRAE/ RN (2004, p.25) mostra que “o atendimento ao
cliente é um outro ponto fraco, face à carência de recursos humanos com qualidade adequada”. No
Seridó, a peregrinação em festas religiosas é interdependente das mais diversas atividades e
serviços, lazer, alimentação, alojamento, comércio, etc. Com sua Rota de Fé e Romarias, volta-se
principalmente para as festas das padroeiras e a visita do melhor dos museus de artes sacras de
imagens e oratórios do Rio Grande do Norte.
O turismo religioso é motivado em maior ou menor grau, pelo aspecto religioso, embora o
atrativo turístico religioso possa dotar diferentes formas, sempre atende as necessidades daqueles
que buscam o contato divino. O turismo religioso sempre está muito relacionado com outras formas
de turismo, e especialmente com o cultural [...]. (DIAS E SILVEIRA, 2003, p.18).
As cidades seridoenses tiveram início com a construção de igrejas imponentes, erguidas nos
mais altos sítios. Eram e ainda hoje são locais de atratividade e centros de romarias. Entre essas
cidades podemos destacar: Acari, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Currais Novos e Florânia. A região,
historicamente construída, não foi somente repartida em Ocidental e Oriental, como teve
modificações em seu arcabouço territorial, sendo excluídos alguns municípios que deles faziam
parte, entre eles Florânia (MORAIS, 2004, p.300).
12
MAPA III: MUNICÍPIOS DO SERIDÓ
Fonte: www.cidadespotiguares.hpg.ig.com.br
Sob este novo perfil, a economia seridoense se desenvolveu entrelaçada à dimensão cultural
e impregnada de conteúdos simbólicos. Foi esse conteúdo simbólico/ subjetivo que a sociedade
converteu em base da estrutura regional. O Seridó transformou o seu patrimônio cultural, objetos,
símbolos, crenças e manifestações em âncora no processo de desenvolvimento de seus municípios.
3 TURISMO RELIGIOSO: A RELIGIÃO COMO LAZER NO SERIDÓ-RN
Essa relação entre religião e lazer é inventada e reinventada no cotidiano das práticas
devocionais da população, em especial de baixa renda. Essa promiscuidade entre religião, consumo
e lazer, que nos possibilita o questionamento da religião com base em diferentes disciplinas. Dessa
forma, as questões em torno do chamado “turismo religioso” envolvem tanto as práticas religiosas
quanto as turísticas e pode iluminar a compreensão do fenômeno religioso como expressão da
cultura e da sociabilidade de diferentes segmentos sociais.
Todo esse campo em transformação é composto não só por motivações religiosas, mas
políticas, econômicas e culturais, tornando impossível separá-las. O turismo religioso tem sido uma
reconstrução monumental do simples e, ao mesmo tempo, complexo ato de visitar ou oferecer à
visitação a um dado espaço delimitado ou não para esse fim.
O Seridó constitui uma região peculiar no Estado do Rio Grande do Norte, com uma
identidade regional pronunciada no segmento religioso. A interpretação religiosa colaborou para a
construção da identidade dos municípios da região. As cidades seridoenses tiveram início com a
construção de igrejas imponentes, erguidas nos mais altos sítios e, que ainda hoje são locais de
atratividade e visitação.
Conforme Ribeiro e Ferreira (2003, p. 305), “trata-se de reforçar o potencial local e usá-lo
como atrativo para quem quer vivenciar, e não apenas contemplar os lugares”. Muitos municípios
seridoenses tiveram como atividades econômicas a agricultura, pecuária, indústria que passaram por
crises nas décadas de 80 e 90, porém, o segmento do Turismo Religioso tem aberto as portas para um
novo setor que vem ganhando destaque no cenário da produção e consumo. Essa atividade vem
constituir uma alternativa positiva para os municípios que buscam saída para complementar sua
economia e fazer com que haja um desenvolvimento maior nas cidades.
De todos os municípios citados, a
presença do Turismo
Religioso é bastante forte no município
de Caicó, aonde a cada
ano um número maior
de visitantes vem a cidade
para os Festejos de
Sant’Ana.
13
Os impactos econômicos do turismo religioso, apesar de ainda insuficientes ou pouco
disponibilizados, permitem inferir que essa modalidade turística contribui para o
redimensionamento da economia local por meio da adaptação de equipamentos de hospedagens,
serviços de comércio e gastronomia, lazer, etc., que torna uma ampla configuração no espaço
territorial. Porém as transformações socioeconômicas vão influenciando o cenário religioso e
criando condições para o surgimento do turismo.
Na região do Seridó, o sentimento de religiosidade se expressa nos festejos e ritos que
acontecem no decorrer do ano. As principais manifestações conhecidas naquela região são as festas
das padroeiras e romarias, que atraem uma numerosa população flutuante, constituindo uma espécie
de turismo religioso. Responsável pela dinamização das economias locais, os atos de fé, juntam-se à
outras atividades econômicas como: bares, clubes, feiras de artesanato e comidas típicas, turismo
etc.
O quadro abaixo apresenta o Roteiro do Turismo Religioso na região do Seridó mostrando
os principais municípios bem como as festividades que atraem um grande fluxo de turistas e
peregrinos naqueles municípios.
Quadro II
Roteiro do Turismo Religioso no Seridó
Municípios Atrativos Visitados
Acari
A cidade respira religiosidade, na igrejinha de Nossa Senhora do Rosário (1730),
na matriz de Nossa Senhora da Guia (1863), na gruta de Nossa Senhora de
Lourdes, na riqueza dos oratórios e das imagens do Museu do Sertanejo.
Caicó
O conjunto de igrejas, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora de Santana, Nossa
Senhora do Rosário dos Pretos, entre outras, suas festas e em especial a de Santana
provocam enorme fluxo de devotos e visitantes.
Carnaúba
dos Dantas
A igrejinha no sopé do Monte do Galo, as escadarias das estações da via sacra, a
capelinha à Nossa Senhora das Vitórias, são pontos de peregrinação, atraindo
devotos de áreas próximas e remotas, sobretudo na Semana Santa, quando é
encenada a Paixão de Cristo, com cidadãos carnaubenses transmutados em atores.
Currais
Novos
O Museu das Artes Sacras, a beleza da Matriz de Nossa Senhora de Santana,
expressam a religiosidade e inspiram a devoção.
Florânia
O município apresenta um conjunto de igrejas, a Matriz de São Sebastião, igreja do
Santíssimo Sacramento, a Capela de José Leão e a Capela de Nossa Senhora das
Graças, conhecido pelo Monte das Graças sendo um local de peregrinações que
atraem turistas e romeiros durante o ano inteiro, principalmente no mês de
Novembro, mês em que se comemoram os festejos da padroeira daquele santuário.
Fonte: Plano de Turismo Sustentável - SEBRAE/ RN (2004, p. 36).
Nota: A forma de exibição do quadro foi alterada.
Esses cinco municípios foram citados pelo PNMT – Programa Nacional de Municipalização
do Turismo, como locais de potenciais turísticos, principalmente no que se refere ao segmento
religioso.
Como em outras atividades, o turismo religioso tem seus prós e contras. A massificação,
congestionamentos, poluição, super lotação de igrejas e templos são alguns dos efeitos negativos
desse tipo de turismo, uma vez que as cidades, em sua maioria, não possuem uma super estrutura
para receber visitantes, são localidades simples, de comunidades humildes que com o tempo, vão
tomando dimensões maiores com a exploração turística. Por outro lado, este segmento é uma
possibilidade de diversificação de renda e movimentação da economia local nos municípios
receptores. www.etur.com.br.
Dias e Silveira (2003, p. 34) atesta a importância do planejamento da atividade turística, [...]
o turismo religioso poderá ser responsável pelo fluxo principal de visitantes a muitas localidades,
que poderão multiplicar seus efeitos positivos através de um planejamento turístico e permita
14 aumentar a diversidade de atrativos locais e regionais fazendo com que o visitante permaneça mais
tempo no local [...]. No entanto sua permanência deve ser trabalhada com o desenvolvimento de
uma infra-estrutura de serviços e equipamentos tornando que sua estada seja agradável.
Nesse sentido, deverão ser tomadas providências quanto aos equipamentos e serviços
turísticos como: meios de hospedagem, restaurantes e bares, áreas de lazer entretenimento nos
roteiros de fé. Não esquecendo, a preservação dos recursos culturais, históricos, religiosos e
naturais, assegurando a imagem turística, implicará na priorização do desenvolvimento sustentável,
dentro de critérios de compatibilidade socioeconômica e cultural.
De acordo com Silva (2003, p. 48), a simples existência de atrativos nos municípios ou o
reconhecimento de seu potencial não é suficiente para que o turismo se desenvolva por si mesmo. É
necessário que os municípios realizem um processo de planejamento e gestão, para que o exercício
da atividade resulte em benefícios concretos para toda a comunidade local.
Como qualquer outra atividade, o turismo religioso requer investimentos, incentivos, apoio
do poder público, da iniciativa privada e da comunidade. Para tanto, é de extrema necessidade a
realização dessas alternativas para que os municípios possam crescer turisticamente de forma
ordenada, como também incrementar o crescimento local. Na região do Seridó, em particular nos
municípios citados pelo PNMT, o turismo religioso vem mudando para melhor a situação
econômica desses núcleos urbanos, a qualidade de vida de seus habitantes e as condições
ambientais de sua região, existindo o desenvolvimento da comunidade local no desenvolvimento da
atividade turística. Os agentes (a comunidade, poder público e privado) são de grande importância,
por isso é necessário que haja um engajamento por parte dos mesmos com relação ao
desenvolvimento turístico nos municípios.
Na região seridoense marcada pela religiosidade, os atrativos turísticos religiosos são
inúmeros, como: santuários de peregrinação, espaços religiosos de grande significado histórico-
culturais encontros e celebrações de caráter religioso, festas e comemorações em dias específicos,
espetáculos artísticos de cunho religioso e roteiros de fé.
No município de Acari, a cidade respira religiosidade; na Igrejinha de Nossa Senhora do
Rosário (1730), a Matriz de Nossa Senhora da Guia (1737) e a gruta de Nossa Senhora de Lourdes,
assim como o museu sertanejo e a riqueza dos oratórios, são locais de grande visitação ao longo do
ano e que reúne turistas e peregrinos de todas as partes. O destaque se dá pela Festa da Padroeira,
Nossa Senhora da Guia, em que toda a cidade se mobiliza para receber os turistas e peregrinos que
visitam o município no mês de agosto. A igreja Matriz de Nossa Senhora da Guia é uma das mais
antigas da região construída em 1737.
A cidade recebe esse nome, devido a uma espécie de peixe chamado Acari, na língua
indígena. Os festejos de Nossa Senhora da Guia acontecem no período de 5 a 15 de agosto, período
esse celebrado com a sangria das águas do açude de Gargalheiras, motivo de orgulho para o povo
acariense.
O turista que visita Acari sai com uma ótima impressão, além do título de cidade mais limpa
do Brasil, o município apresenta uma riqueza cultural dividida entre culinária e o artesanato. Na
cidade, o número de artesãos cresce a cada ano, assim como o artesanato tem sido uma alternativa
econômica e impulsionada pelo turismo religioso, encontrado pelos moradores inativos e
desempregados. O mercado do artesanato em Acari é muito diversificado como a produção de
esculturas de imagens feitas de Imburana, árvores que se reproduz fácil, muito encontrada na região
serrada do estado, carrinhos feitos de madeira, esculturas de pedra, bonecos feitos de palha de
milho, anjos de bucha vegetal, até artes feitas de sucata e imagens esculpidas em barro, etc. O
incentivo ao artesanato tem sido de grande importância, pois, a maior procura por essas peças se dá
no mês de agosto, Festa da Padroeira de Acari.
Em entrevista ao guia de turismo e graduando de História, Túlio Gabriel Dantas Cortês
destaca a importância do turismo religioso para o município de Acari, “o turismo religioso em Acari
se configura como a maior expressão turística. A festa de Nossa Senhora da Guia (05 a 15 de
agosto) movimenta o comércio, beneficiando a economia local. O trabalho de divulgação tem sido
cada vez maior, bem como o número de turistas que vem crescendo ano após ano. Porém, não existe
15 um controle de quantos turistas e peregrinos freqüentam a cidade no mês de agosto, mas o
município desponta de infra-estrutura para que o turista sinta-se bem acomodado tendo o suporte de
que precisam. Além disso, são oferecidos cursos básicos pelo SEBRAE e SENAC de formação de
guias incentivando jovens e preparando-os para o mercado de trabalho. Assim, com certeza o
segmento do turismo religioso no município de Acari, bem como na região seridoense, constitui
uma alternativa economicamente falando, porém, a principal dificuldade encontrada são os
investimentos nesse setor”.
De acordo com Porpino (2004, p. 83), “o bom de Acari é que cada um tem uma área para
trabalhar, ninguém concorre.” Fora o comprometimento e participação da comunidade nas ações
para o desenvolvimento, a estruturação e a organização do turismo religioso, se integra a outras
atividades no município. Além disso, o turista e peregrino que visita a cidade durante os festejos da
padroeira, contam com instalações e serviços voltados para atender a demanda como: alojamentos,
pousadas, hotéis, restaurantes, bares, barracas, quiosques, trailers, lojas de artesanato, lojas de roupa
e comércio religioso. Observa-se também, a contratação temporária de pessoas para atender essa
demanda crescente, tudo para que o turista sinta-se satisfeito com os serviços oferecidos.
Um dos principais eventos religiosos que acontecem na região seridoense e conhecido em
todo estado, é a Festa da Padroeira Nossa Senhora de Sant’Ana, que acontece no mês de Julho nos
municípios de Caicó e Currais Novos, principais centros comerciais da região.
Segundo Leite (2000, p. 158), até hoje o sentimento de religiosidade do povo do Seridó se
expressa nos ritos e festejos de homenagem a Sant’Ana, que ocorrem ao longo de todo o mês de
Julho, em festas de padroeira com pronunciado lado profano, principalmente nas cidades de Caicó e
Currais Novos, quando essas cidades atraem uma numerosa população flutuante, constituindo uma
espécie de “turismo religioso”. Apesar dos festejos serem realizados no mesmo mês tanto em Caicó,
quanto em Currais Novos, a data de comemoração do evento se difere, sendo assim importante para
a economia de ambos os municípios. A interpretação religiosa colaborou para a construção da
identidade da região, na perspectiva da fé mediante uma explicação mítica do aparecimento da
povoação desses núcleos urbanos.
Conta à narrativa que uma vaqueiro acossado por um touro bravio possuído por Tupã, rogou
a Sant’Ana (considerada protetora dos pastores) proteção do ataque do animal. Tendo sido atendido,
o vaqueiro mandou construir uma capela dedicada à santa. Nas mediações dessa capela deu-se
início à povoação de Caicó. (LEITE, 2000, p. 158).
Caicó conta com um conjunto de igrejas, entre elas: a igreja de Nossa Senhora de Fátima,
Nossa Senhora do Rosário dos pretos, Nossa Senhora de Sant’Ana, entre outras, suas festas, em
especial a da Padroeira Sant’Ana é um dos principais eventos do município e da região, atraindo um
enorme fluxo de visitantes.
A crise no setor agrícola e industrial nas décadas de 80 e 90 na região seridoense, fez com
que o setor de comércio e serviços ganhasse destaque sendo alavancado pela atividade turística, em
particular o segmento religioso. O setor informal é o que mais tem crescido, principalmente durante
as celebrações dos festejos, devido às inúmeras atividades de cunho não religioso que são
desenvolvidas. Sem falar do comércio ambulante, os camelôs e barraqueiros que em sua maioria são
de outras cidades e encontram ali uma fonte de emprego temporário. Muitos deles acompanham um
roteiro de festas em outras cidades.
Morais (2004, p. 367), a festa de Sant’Ana de Caicó [...] tem se tornado um evento
grandioso, sua estrutura está sendo ampliada ano a ano na perspectiva de melhor atender aos
participantes. Embora a tônica da festa sejam celebrações religiosas, também são marcantes os
eventos profanos.
Em Caicó, os festejos de Sant’Ana é marcado por uma série de eventos que faz com que o
turista desfrute de bons momentos e leve sempre lembranças e recordações para as cidades de
origem. São realizados leilões, forrós, festas, além da Feira de Artes Manuais do Seridó –
FAMUSE, feira essa em que é exposta a riqueza do artesanato caicoense rico em bordados, redes,
pinturas, peças de cerâmica, confecções e produtos de culinária e, a famosa Feirinha de Sant’Ana
em que, o número de pessoas que transita pela cidade se multiplica lotando hotéis, pousadas,
16 residências e outros estabelecimentos. Sem esquecer que o turista que visita Caicó no período de
julho, conta com uma infra-estrutura, necessária a sua estadia, como serviços de transportes,
restaurantes, hotelaria, cultura e diversão, clubes, etc.
Outro festejo de grande importância para a economia de Caicó é o de Nossa Senhora do
Rosário dos Pretos, conhecida como a Festa do Rosário que ocorre no mês de outubro, marcada pela
tradição e cultura negra.
Segundo entrevista de Porpino (2003, p.36) ao Presidente da Irmandade dos Negros do
Rosário, Revil Alves, “a idéia é utilizar a tradição dos Negros do Rosário para incrementar o
turismo religioso da região”.
Em Currais Novos, os festejos de Sant’Ana acontecem de forma bastante semelhante a
Caicó. A cidade teve início com a construção de uma capela em 1834 em um lugar que indica a
organização de um lugarejo, por isso o nome “Currais Novos”. Durante os festejos ocorridos no
mês de julho, a cidade recebe um grande número de visitantes que desfrutam dos mais variados
serviços de apoio a essa demanda.
Segundo Leite (2000, p.158), aos atos de fé se junta inúmeras atividades responsáveis pela
dinamização da atividade econômica, tais como: bares, clubes, feiras de artesanato e comidas
típicas, turismo, coletivas de artistas plásticos, lançamentos de livros entre outros.
Assim, observa-se que tanto para o município de Caicó, quanto o de Currais Novos a
economia local é bastante influenciada pelo segmento do turismo religioso. Não só os santuários
são vistos como atuação do turismo religioso na região do Seridó; as romarias apresentam um forte
impacto para a economia de alguns municípios, entre eles: Carnaúba dos Dantas e Florânia.
A cidade de Carnaúba dos Dantas recebeu esse nome devido a Fazenda de Carnaúba, cujo
nome está associado à grande quantidade de carnaubeiras existentes na localidade. Durante a
semana santa, o município de Carnaúba dos Dantas atrai um grande contingente de turistas e
romeiros. Nesse período, a população local encena o martírio de Jesus, espetáculo teatral de cunho
religioso. A cidade conta também com a igrejinha no sopé do Monte do Galo, as escadarias das
estações da via sacra e a capelinha de Nossa Senhora das Vitórias considerado pontos de
peregrinação.
O Monte do Galo recebeu esse nome devido a vaqueiros que campeando e cuidando do gado
nas proximidades de um serrote da região, o Serrote Grande, escutaram o cantar de um galo; alguns
achavam que nada mais era que uma voz vinda do alto do serrote. Para homenagear a tradição dos
antepassados resolveram erguer um galo. Mas devido às precárias condições econômicas dos
habitantes, resolveu como solução mais viável erguer um Cruzeiro, que representa a fé católica dos
habitantes da região que exaltaria a fundação de carnaúba. A construção do Galo se deu mais
recente. (www.carnaubadosdantas.rn.gov.br).
Os próprios moradores fizeram à doação de uma imagem de Nossa Senhora das Vitórias que
passou a ser protetora do santuário e que representa um dos principais cartões postal do município e
que atrai milhares de pessoas anualmente. O santuário do Monte do Galo, de modo geral, é
patrimônio cultural do município de Carnaúba dos Dantas, bem como susceptível por ser um
recurso turístico. O uso do turismo religioso, numa definição ampliada e, embora a motivação
principal de muitos que procuram seja do tipo não-religioso, mas existem os que buscam os dogmas
da fé. A atividade passa ser vista com outros olhos, desenvolvendo a atenção para o turismo
implementando novas atividades geradoras de emprego e renda para o município. A vivência
religiosa do município de Carnaúba dos Dantas passa a ser vista como um produto turístico, uma
mercadoria capaz de gerar lucros a população local.
O principal guia do Monte do Galo, Damião Carlos Dantas, comenta sobre o
comportamento desse setor no município, “quando bem executado, o turismo religioso emprega
cinqüenta e dois setores da economia, apesar de ser uma atividade sazonal tem como ponto positivo
a geração de renda para a comunidade. Entre esses setores destacam-se: bares, lanchonetes,
pousadas, camelôs, loja e o comércio em geral têm seu lucro duplicado. O número de visitantes vem
prestigiar os templos, festas religiosas assim como o eventos profanos relacionados à religiosidade,
estima-se cerca de 15 a 20 mil pessoas a cada ano. Infelizmente pouco se tem feito para dar suporte
17 aos visitantes, no município existem pousadas, mas a qualidade deixa a desejar. Na maioria dos
casos, esses peregrinos e turistas procuram casas de moradores locais, outros dormem até nas
calçadas. O trabalho de divulgação ainda é muito pouco, mas, por outro lado no ano de 2001, na
gestão anterior foram realizados cursos de guias. Em virtude da timidez dos jovens que procuravam,
este número reduziu para quatro guias municipais. A gerência do turismo no município pretende
esse ano, ampliar esse número para atender a demanda de grupos que chegam para as visitas. Os
locais visitados são de fácil acesso e localização, não existindo a preocupação do município quanto
a sinalização. Enfim, o turismo religioso é uma atividade que vem crescendo a cada ano. Os
empresários locais deveriam dar ênfase a construção de pousadas que possam atender essa demanda
cada vez maior de turistas. Um dos principais empecilhos encontrados em Carnaúba dos Dantas é a
construção de pontos comerciais do sopé em cima do Monte e a falta de um ponto de apoio ao
romeiro e o turista como um todo”.
Dessa forma, é de suma importância, que haja mudanças positivas no comportamento e
pensamento da população local com referência ao turismo religioso e sua grande importância para o
desenvolvimento sustentável do município.
No município de Florânia, apesar de pouco conhecida, é uma cidade de muita história.
Recebeu o nome de Flores, por causa das muitas flores chamadas de Rainha do Prado que havia
naquela região. Mas, em função de outro município já possuir o nome de Flores, a cidade passou a
receber o nome de Florânia. A cidade já possuiu outros nomes como Roça Urubu em virtude da
enorme quantidade de aves dessa espécie que existia por lá.
Localizado a cerca de 2 km de Florânia, o monte apresenta-se aos romeiros através de uma
subida ornada com paradas que representam as 15 estações de Cristo. Para os que vão ao local
cumprir penitência, as estações mostram um exemplo maior que serve de incentivo a prosseguir em
romaria. A construção desse santuário se deu porque a igreja preocupada em não criar outro mito
como o de Zé Leão, não aceitou a condição de Santa Menina e, elegeu de acordo com a proposta de
Frades que visitaram o monte Nossa Senhora Menina, para receber as honras do santuário. Mas em
função das enormes graças que aconteciam no monte, resolveu-se consagrar a Nossa Senhora das
Graças.
A festa acontece durante o mês de novembro quando a cidade se prepara para receber um
grande contingente de pessoas. Um dos grandes incentivadores dessa celebração no mês das
romarias e responsável por promover o turismo religioso no município foi o sacerdote já falecido
Padre José Dantas Cortez, sendo ele responsável pelo maior desenvolvimento do santuário que
antes contava apenas com um cruzeiro e a capela. A cada ano, o número de visitantes que chegavam
à cidade era maior, de forma que, as condições de acesso ao monte foram melhoradas, pois antes os
romeiros faziam suas peregrinações por uma estrada de barro no meio do mato. Atualmente, após a
longa subida, os visitantes se deparam com um santuário formado por uma capela, uma praça de
oração, uma casa de votos e um centro de estudos, bem como em um braço do Monte fizeram o
Monte Calvário, que é ornamentado por esculturas de pedra e também local de celebrações no meio
das serras.
De acordo com Medeiros (2004) citado por Chagas e Robson (2004, p.7), [...] atualmente o
monte encontra-se muito bem estruturado para romarias e peregrinações com um centro de
treinamento e reflexões, as estações, estrada calçada, um horto, a gruta de Nossa Senhora de
Lourdes, local para missas campais, eletrificação e água encanada. O monte de Nossa Senhora das
Graças não é apenas uma das ilustres páginas da história religiosa de Florânia, como também é
referencial e enaltecido com ponto turístico da cidade e do estado.
Devido ao grande contingente de turistas que freqüentam a cidade nos períodos de festa, é
notório um melhoramento na prestação dos serviços oferecidos para atender a essa demanda. O
município conta hoje com serviços de bares, churrascarias, pousadas, motel, serviços de táxi e
moto-táxi, inúmeros comércios, etc. O que se percebe, é que esses setores são impactados
profundamente com a prática desse segmento turístico no município.
18
De acordo com Filho (2002, p.16), “Florânia possui uma população marcadamente religiosa
e mística”. Isso se deve as inúmeras histórias, mitos e lendas que existem naquele município. Entre
eles: a Cruz do Caboclo e a Capela de Zé Leão.
A cidade conta com duas igrejas, a Capela do Santíssimo Sacramento e a Matriz de São
Sebastião, localizada no centro da cidade e muito visitada pelo estilo arquitetônico que impressiona
turistas e romeiros. A matriz foi edificada a partir de uma promessa feita para o santo defensor
contra a peste, na época da epidemia de cólera ocorrida em 1856; na promessa, ele se comprometia
a levantar uma capela em honra ao santo caso a peste fosse contornada. A igreja foi erguida em 25
de dezembro de 1904 e elevada a qualidade de matriz. Foi a redor da matriz que se deu início as
primeiras ruas e comércios da cidade.
Conforme Medeiros (2004, p.9), “a aglomeração urbana de Florânia teve início após a
inauguração da capela de São Sebastião construído pelo Pe. Ibiabina, em torno do qual foi se
formando o primitivo povoado”.
Em sua forma atual, a igreja conta com, além da torre, dois corredores laterais, a nave
central, dez altares e ao altar mor de São Sebastião, padroeiro da cidade. Mas, a igreja traz as
marcas de algumas modificações que, infelizmente desfiguraram um pouco de sua história na área
em que fica o altar do padroeiro, que teve seu piso modificado e as muretas retiradas, bem como a
primeira imagem se São Sebastião ter sido roubada.
A cidade também é bastante visitada no mês de janeiro, em que ocorrem os festejos do
padroeiro. Nesse período como em novembro, a cidade recebe camelôs, parques de diversões,
barraca, etc. que geralmente são pessoas de outras cidades e que acompanham esse roteiro de festas,
muitos vivem disso. Esses pequenos empreendedores não auferem lucros para o município. Mas a
cidade conta ainda com comércio e indústria restritos, lojinhas e mercadinho; padarias, movelaria,
olaria e queijaria e uma pequena feira, setores que lucram bastante nesses períodos.
Não existe nenhum incentivo para atração de atividades econômicas. Existe um potencial
turístico muito bom sendo desperdiçado e que geraria muita renda para o município através de
trabalhos de incentivo. Realmente o turismo religioso pode se tornar uma fonte de renda para a
cidade, mas a fé por si só não é necessário para que isso ocorra. Depende da iniciativa do poder
público em seguir trabalhos de divulgação e estruturação do município para esse fim.
Assim o crescimento econômico está diretamente relacionado com o avanço que o setor do
turismo religioso tem apresentado, uma vez que existe uma demanda crescente dessa atividade, pela
necessidade que o homem tem que realizar suas necessidades pessoais, como produção, consumo e
lazer. Nesse contexto, várias atividades que não eram consideradas relevantes do ponto de vista
sócio-econômico, dentre elas a relacionada a prestação do setor de comércio e serviços,
transformaram-se em atividades lucrativas.
É nesse processo de constantes transformações que o turismo religioso na região do Seridó
surge como uma alternativa econômica capaz de proporcionar lucros para os municípios,
redimensionado suas economias. Mas, vale ressaltar que o desenvolvimento dessa atividade exige a
incorporação de uma cultura de cooperação, com a integração de vários níveis de organização, pois
apenas a publicidade não bastará, sendo necessário a integração de todos os segmentos envolvidos
com o segmento religioso. Sem esta interação o objetivo não terá êxito e o potencial local não
poderá concorrer no mercado.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após análise dos dados apresentados nesse trabalho, ficou evidenciado que os municípios
da região do Seridó possuem recursos que o habilitam a explorar de forma racional a atividade
turístico-religiosa, estruturando produtos e serviços que atenderão demandas regionais, que por sua
vez irão dinamizar a base econômica local, segundo os princípios da sustentabilidade, ou seja,
respeitando-se as manifestações sócio-culturais da população, a preservação dos monumentos e a
continuidade das transformações dessa atividade.
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Após esta constatação, é necessário que se tomem medidas sobre a implantação do
processo de planejamento do turismo religioso para os municípios seridoenses. Esse planejamento
possibilitaria a tomada de decisões e medidas necessárias para facilitar o desenvolvimento do
turismo religioso na região.
Observou-se que, para o turismo religioso ser inserido no processo de desenvolvimento
econômico dos municípios da região, é preciso tirar proveito das vantagens que essa atividade
oferece, pois os municípios de Acari, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Currais Novos e Florânia dispõe
de um imenso potencial turístico, onde a segmentação de mercado pode ajudar no seu
desenvolvimento. Assim, o turismo religioso pode ser visto como um consumo de espaço.
Por apresentar um caráter multi-setorial, o turismo religioso pode ser considerado como
dinamizador no processo de desenvolvimento econômico. Sua atuação de modo formal e ordenado
surge como uma alternativa para promover o desenvolvimento turístico local pela exploração de
muitos recursos, não explorados turisticamente até o momento.
Por fim, conclui-se que os benefícios oriundos desse setor podem mudar o perfil econômico,
político e social dos municípios explorados. Por isso se faz necessária à avaliação da dimensão
econômica do segmento, tendo em vista a participação no desenvolvimento econômico, uma vez
que o setor influencia direta e indiretamente outros setores da economia, principalmente o comércio
e serviços, garantindo a geração de emprego e renda e melhoria do nível de vida da comunidade
local.
Portanto, espera-se que este trabalho sirva de conscientização para a sociedade seridoense
acreditar na magnitude do potencial turístico existente nos municípios, dispertando-os para os
benefícios que o desenvolvimento desse setor poderá trazer. No entanto, é necessário perceber que
trata de um fenômeno que ocorre espontaneamente, de modo que, os municípios atentem para
necessidade de um trabalho de planejamento e reestruturação capaz de transformar os locais
visitados em grandes pontos turísticos, com infra-estrutura necessária que dê suporte aos visitantes,
fortalecendo assim a atividade na região.
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