PERIGOS E RISCOS GEOLÓGICOS EM CAMPOS DO JORDÃO (SP) : DIAGNÓSTICO EM 2014 - Painel

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Introdução O município paulista de Campos do Jordão (Figura 1)

apresenta um histórico significativo de acidentes de

natureza geodinâmica, com destaque para três grandes

eventos, ocorridos em 1972, 1991 e 2000.

No período de 1999 a 2013, dados da Defesa Civil

Estadual indicaram 38 ocorrências com acionamento deste

órgão, em sua maioria associadas a eventos de

deslizamentos, muitas das quais recorrentes em

determinados locais (IG 2014)1. Pesquisa realizada em

jornais da região permitiu a identificação de 97 registros

relacionados a diferentes tipos de eventos ocorridos nos

últimos 14 anos:

- 51 sobre deslizamentos;

- 32 relativos a enchentes/inundações/alagamentos;

- 13 envolvendo venda-vais e temporais; e

- 1 registro sobre sub-sidência/afundamento.

Com o objetivo de fornecer subsídios técnicos

essenciais para a gestão de riscos no Município, foi

elaborado um abrangente estudo envolvendo todo o seu

território e contemplando a avaliação de quatro tipos de

perigos e riscos geológicos: escorregamentos, inundação,

erosão e solapamento de margens (IG 2014). Alguns

resultados deste estudo são aqui sinteticamente

apresentados, enfocando a avaliação de áreas de risco em

escala de detalhe e sua aplicabilidade na gestão de riscos.

Materiais e Métodos

Agradecimentos

O mapeamento de risco, por meio da análise das características do meio físico e do uso e

ocupação territoriais, visa a delimitação de setores conforme a criticidade de cada situação de risco

identificada, configurando-se no suporte mínimo para as soluções de gerenciamento, prevenção,

monitoramento, mitigação e redução dos riscos. Este trabalho adota como base conceitual e

metodológica para avaliação de risco e desastres a apresentada em UN-ISDR (2004, 2009) e

Tominaga et al (2009), onde: Risco = Perigo x Vulnerabilidade x Dano Potencial. Ou seja, no

processo de mapeamento e análise de risco estão envolvidas as etapas de avaliação dos perigos

potenciais e das condições de vulnerabilidade que podem potencializar a ocorrência de danos às

pessoas, bens e propriedades, meios de subsistência e ao meio ambiente dos quais a sociedade

depende.

Os autores agradecem aos colegas do Instituto Geológico, à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil

(CEDEC) e à Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil de Campos do Jordão.

ÁREAS ALVO PARA ESTUDOS DE DETALHE

MAPEAMENTO de Risco na escala LOCAL

OBTENÇÃO DE ATRIBUTOS RELACIONADOS AO PERIGO, À VULNERABILIDADE, AO DANO POTENCIAL

MODELAGEM, SETORIZAÇÃO E ANÁLISE DE RISCO

MAPAS DE ÁREAS DE RISCO DE ESCORREGAMENTO, INUNDAÇÃO, EROSÃO E SOLAPAMENTO DE

MARGENS

MAPEAMENTO de Risco na escala REGIONAL

DEFINIÇÃO DE UNIDADES TERRITORIAIS BÁSICAS (UTB)

DEFINIÇÃO/OBTENÇÃO DE ATRIBUTOS E SELEÇÃO DE FATORES DE ANÁLISE DOS PROCESSOS

MODELAGEM E CÁLCULO DAS VARIÁVEIS DE RISCO

MAPAS DE PERIGOS MAPA DE VULNERABILIDADE MAPA DE DANO POTENCIAL

MAPAS DE RISCO DE ESCORREGAMENTO, INUNDAÇÃO, EROSÃO, COLAPSO E SUBSIDÊNCIA DE SOLOS

CARTOGRAFIA DE RISCO

INVENTÁRIO DE INFORMAÇÕES E DADOS SOBRE EVENTOS E ACIDENTES

- Levantamento em banco de dados da Defesa Civil Municipal e Estadual e notícias veiculadas na mídia impressa e eletrônica; - Pesquisa bibliográfica; - Interpretação de imagens de sensoriamento remoto

Figura 2. Estrutura metodológica para análise de riscos adotada pelo

Instituto Geológico.

O estudo envolveu as

seguintes etapas metodológicas,

detalhadas em IG (2014) (Figura 2):

1

1. Instituto Geológico - SMA. 2014e. Mapeamento de riscos associados a escorregamentos, inundações, erosão e solapamento de

margens de drenagens - Município de Campos do Jordão, SP. Relatório Técnico / Eduardo de Andrade (Coordenação). – São Paulo :

IG/SMA, 2014. 3 vol. ISBN 978-85-87235-21-3. Disponível em http://www.sidec.sp.gov.br/producao/map_risco/

Figura 1. Localização do Município de

Campos do Jordão – SP. Possui área de 290

km2 e está situado na Unidade de

Gerenciamento de Recursos Hídricos da Serra

da Mantiqueira (UGRHI-1), a uma altitude de

1.628 metros. População de 48.497

habitantes (SEADE 2013) e densidade

populacional é de 167,2 hab/km2, sendo que

99,38% da população de Campos do Jordão

situam-se em zona considerada urbana .

Figura 3. Distribuição dos 175 setores de risco identificados e caracterizados

no Mapeamento de Áreas de Risco em Campos do Jordão (SP). No detalhe

de uma das áreas de risco (à esquerda), exemplo de setorização de risco de

escorregamento e de perigo (área hachurada) e risco de inundação .

Eduardo de Andrade* - eduardo@igeologico.sp.gov.br; Maria José Brollo* - mjbrollo@igeologico.sp.gov.br

* INSTITUTO GEOLÓGICO – SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. www.igeologico.sp.gov.br

PERIGOS E RISCOS GEOLÓGICOS EM CAMPOS DO

JORDÃO (SP) : DIAGNÓSTICO EM 2014

Resultados e Discussão Após terem sido definidas 40 áreas alvo para estudos de detalhe (levantamentos de campo,

classificação e setorização em escala 1:3000), os trabalhos resultaram no Mapa de Áreas de Risco

de Campos do Jordão, com a delimitação de 175 setores de risco (17% em risco muito alto, 26% em

risco alto, 38% em risco médio e 19% em risco baixo), compreendendo 3.985 moradias em risco

(com estimativa de 15.940 moradores) que perfazem aproximadamente 5% da mancha urbana do

município. Ou seja, cerca de 33% da população do município encontra-se em áreas de risco,

sendo que 2,6% situam-se em setores de risco de escorregamento com grau muito alto. Estes

resultados estão sintetizados no Quadro 1, Gráficos 1 e 2 e representados no Mapa de Áreas de

Risco e no Mapa de Perigo de Inundação (Figura 3). Alguns exemplos da localização e das

características das ocupações e podem ser observadas nas Fotos 1, 2 e 3.

Quadro 1. Síntese do resultado do Mapeamento de Áreas de Risco em Campos do Jordão. Agrupamento dos setores de

risco conforme tipo de processo e a classificação de risco, apresentando a identificação dos elementos em risco.

SETORES E ELEMENTOS EM RISCO X PROCESSO ANALISADO

R1 - risco baixo R2 - risco médio R3 - risco alto R4 - risco muito alto TOTAL

PR

OC

ES

SO

AS

SO

CIA

DO

AO

RIS

CO

ESCORREGAMENTOS 15 setores

(465 moradias)

50 setores

(981 moradias)

33 setores

(801 moradias; 1 grande

equipamento (escola pública); 32

estab. comerciais)

24 setores

(1288 moradias)

122 Setores (70%)

(3535 moradias; 1 grande

equipamento (escola pública); 32

estab. comerciais)

INUNDAÇÃO

18 setores

(92 moradias; 21 estab.

comerciais; 2 grandes

equipamentos; 2758m de vias

pavimentadas; 90m de vias sem

pavimentação)

17 setores

(158 moradias; 3 chalés de uma

pousada; 28 estab. comerciais; 3

grandes equipamentos (galpão;

clube; vila do artesanato);

2330m de vias pavimentadas;

170m de vias sem

pavimentação)

12 setores

(106 moradias; 1 chalé de uma

pousada; 1 hotel; 11 estab

comerciais; 685m de vias

pavimentadas; 115m de vias sem

pavimentação)

4 setores

(33 moradias; 115m de vias sem

pavimentação)

51 setores (29%)

(389 moradias; 4 chalés de uma

pousada; 1 hotel; 60 estab.

comerciais; 5 grandes equipamentos;

5773m de vias pavimentadas;490m de

vias sem pavimentação)

EROSÃO - - - 1 setor

(10 moradias)

1 setor (0,5%)

(10 moradias)

SOLAPAMENTO DE MARGEM 1 setor

(51 moradias) - - -

1 setor (0,5%)

(51 moradias)

TOTAL

34 setores (19%)

(608 moradias; 21 estab.

comerciais; 2 grandes

equipamentos; 2758m de vias

pavimentadas; 90m de vias sem

pavimentação)

67 setores (38%)

(1139 moradias; 3 chalés de

uma pousada; 28 estab.

comerciais; 3 grandes

equipamentos (galpão; clube;

vila do artesanato); 2330m de

vias pavimentadas; 170m de

vias sem pavimentação)

45 setores (26%)

(907 moradias; 1 chalé de uma

pousada; 1 hotel; 43 estab.

comerciais; 1 grande equipamento

(escola pública); 685m de vias

pavimentadas; 115m de vias sem

pavimentação)

29 setores (17%)

(1331 moradias; 115m de vias sem

pavimentação)

175 setores

(3985 moradias; 4 chalés de uma

pousada; 1 hotel; 92 estab.

comerciais; 6 grandes equipamentos;

5773m de vias pavimentadas;490m de

vias sem pavimentação)

Conclusões O desenvolvimento urbano desordenado tem como uma de suas consequências o aumento dos

níveis de risco de desastres naturais, principalmente quanto à ocorrência de escorregamentos e

inundações. O instrumento para o planejamento urbano mais utilizado é o Plano Diretor ou Plano de

Ordenamento Territorial, que indica o que pode ser realizado em cada área do município, orientando

as prioridades de investimentos e os instrumentos urbanísticos que devem ser implementados, tendo

como base a carta geotécnica e o mapeamento de áreas de risco.

Assim, o mapeamento de áreas de risco em escala local, munido de propostas estruturais, não

estruturais e preventivas de cunho geral, constitui instrumento fundamental para o gerenciamento

das situações de risco por parte do Poder Público. Os resultados deste estudo permitem ao Governo

Municipal, principal agente na promoção do adequado uso e ocupação do território, dar continuidade

ao gerenciamento de riscos que já vem sendo empreendido, por meio de aprimoramento e

atualização constante, com o propósito de mitigar o risco e evitar a ocupação de áreas inadequadas.

Foto 3. Vista geral do morro do Britador e da Vila

Ferraz, situada no vale formado pelo Rio Capivari,

ambos locais sujeitos a movimentos gravitacionais de

massa e a enchentes/inundações, respectivamente.

a) Inventário de dados e informações sobre

eventos e acidentes em áreas de risco;

b) Definição de unidades de análise (áreas-

alvo);

c) Pré-setorização e obtenção dos atributos

de análise;

d) Modelagem, setorização e análise de

risco;

e) Indicação de recomendações técnicas

gerais;

f) Produção de cartografia de risco em

escala local, alimentação e utilização do

SGI-RISCOS-IG (Sistema Gerenciador de

Informações de Risco do Instituto

Geológico).

15 (8,6%)

50 (28,6%)

33 (18,9%)

24 (13,7%)

18 (10,3%)

17 (9,7%)

1 (0,6%) 4 (2,3%)

51 (29,1%)

12 (6,9%)

1 (0,6%)

122 (69,7%)

TIPO DE PROCESSO (Totalização)

1 (0,6%) 1 (0,6%) 389 (9,8%) 3535 (88,7%)

TIPO DE PROCESSO (Totalização)

10 (0,3%) 51 (1,2%)

981 (24,6%)

801 (20,1%)

92 (2,3%) 158 (4,0%) 106(2,7%) 33 (0,8%)

1288 (32,3%)

465 (11,7%) 10 (0,3%) 51 (1,2%)

Gráfico 1. Distribuição dos 175 setores de risco

mapeados no Município de Campos do Jordão segundo

tipo de processo e grau de risco.

Gráfico 2. Distribuição das 3985 moradias presentes nos

setores de risco mapeados no Município de Campos do

Jordão segundo tipo de processo e grau de risco.

Foto 2. Ocupação em

setor de risco muito alto

(R4) de deslizamentos.

Foto 1. Ocupação localizada na Área 40 –

Abernéssia, junto aos taludes de margem do

Rio Capivari, em trecho sujeito a enchentes e

inundações.

ÁREA 18 – VILA ALBERTINA