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A TRADUO AUTOMTICA
DE COLOCAO LEXICAL EM RESUMO ACADMICO
Janailton Mick Vitor da SILVA1 (UFCG)
Cleydstone Chaves SANTOS2 (UAL/UFCG)
Resumo: Segundo Hutchins (2000), grande parte dos sistemas gratuitos de traduo
automtica disponveis na Web ainda apresenta dificuldades na seleo de artigos,
identificao de pronomes e diferenas de estilo entre lngua fonte e lngua alvo. Contudo,
dependendo do gnero textual traduzido, essas colocaes podem no ser adequadamente
(re)construdas (FERNANDES; SANTOS, 2012). Neste sentido, este artigo investiga at que
ponto a traduo automtica de um resumo acadmico pode (re)construir colocaes lexicais
de carter verbo + substantivo de forma adequada s caractersticas da L2 (MARTNSKA,
2004; ODELL; McCARTHY, 2008) e do gnero textual em questo (MOTTA-ROTH;
HENDGES, 2010). Para tanto, o resumo acadmico foi traduzido automaticamente atravs do
Google Translate, tendo em vista seu crescente uso na TA desse gnero textual
(FERNANDES; SANTOS, op. cit.). Os resultados apontam para uma tendncia de
reconstruo eficaz da categoria verbo+substantivo quando elementos culturais da lngua
fonte no esto diretamente relacionados com os dados lingusticos investigados.
Palavras-chave: Traduo Automtica (TA). Colocao lexical. Resumo acadmico.
Abstract: According to Hutchins (2000), most of the free machine translation systems
available on the web still faces difficulties in the selection of articles, pronouns and
identification of differences in style between the source language and target language.
However, depending on the genre translated, these settings cannot be properly (re)constructed
(FERNANDES; SANTOS, 2012). Therefore, this paper investigates the extent to which a
machine translated abstract can (re)construct lexical collocations, such as verb + noun
adequately to L2 characteristics (MARTNSKA, 2004; ODELL; McCARTHY, 2008) as
well as to the genre mentioned (MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010). Therefore, an abstract
was automatically translated by Google Translate, in view of its increasing use in this genre
translation (FERNANDES; SANTOS, op. cit.). The results point to a trend of an effective
reconstruction of the colligation verb + noun when cultural elements of the source language
are not directly related to the investigated linguistic data.
Keywords: Machine Translation (MT). Lexical collocation. Abstract.
1. Introduo
A modernidade acabou trazendo consigo diversas maravilhas nos campos da
tecnologia, uma delas o advento do software. Neste mbito, o domnio virtual parece estar
alcanando uma nova era em que inmeras ferramentas tecnolgicas passam a ser usadas nas
sociedades digitais (PYM, 2011) para atender a vrios fins. A traduo em seu vis
automtico (SANTOS, 2011) representa um deles. A chamada traduo automtica
(doravante TA) configura-se como a concretizao da pesquisa entre cincia da computao e
lingustica, uma realidade pioneira desde os idos de 1940 (HUTCHINS, 1995).
1 Aluno do curso de Licenciatura em Letras/Lngua Inglesa na UFCG. E-mail: [email protected].
2 Professor da UAL-UFCG, Mestre pela UFPB e Doutorando em Estudos da Traduo da PGET-UFSC. E-mail:
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Tal maravilha pode proporcionar aos usurios da Internet em diversas partes do
mundo a oportunidade de traduzir diversos documentos de uma lngua fonte (doravante L1)
para uma lngua alvo (doravante L2) a fim de atender suas necessidades, seja de assimilao
de material estrangeiro, ou divulgao de um texto ou ainda comunicao (KOHEN, 2010).
Dentre alguns sistemas gratuitos de TA disponveis na Internet, o Google Translate
parece ser bem representativo em nmeros de usurios que lanam mo dos seus benefcios.
Quando os usurios querem traduzir seus textos atravs desse sistema de TA, os resultados
disponibilizados tambm apresentam colocaes de natureza diversa: lexical, gramatical,
textual, entre outros.
Contudo, dependendo do gnero textual traduzido, essas colocaes podem no ser
adequadamente (re)construdas (SANTOS, 2011; FERNANDES; SANTOS 2012). Neste
sentido, este artigo investiga at que ponto a TA de um resumo acadmico pode reconstruir
colocaes lexicais de carter verbo + substantivo de forma adequada s caractersticas da
L2 e do gnero textual em questo.
2. A traduo em seu vis automtico
Inicialmente a TA era definida apenas como uma ferramenta baseada em computador
disponvel na Internet, traduzindo palavras e sentenas de um texto fonte para um texto alvo
(HUTCHINS, 2000). Atualmente, com o advento dos sistemas de TA de natureza estatstica,
como o Google Translate, o processo de traduo ocorre atravs da busca a parmetros de
equivalncia em textos divulgados na rede mundial de computadores, gerando tradues cada
vez mais aceitveis dentro do escopo desses sistemas, porm ainda com necessidade de
ajustes humanos como atividade de ps-edio.
Nos Estudos de Traduo (ETs), sabe-se que a traduo em suas diversas vertentes
representa grandes desafios tanto para humanos quanto para mquinas. Embora tenha havido
um notvel avano nos estudos de TA, muitos sistemas ainda apresentam algumas limitaes
no seu escopo.
De acordo com Hutchins (op. cit., p. 1), uma das razes pelas quais isto acontece se d
porque [...] as ambiguidades inerentes s palavras bem como das estruturas fora de contexto
[...] dificultam os sistemas de rastreamento de parmetros equivalentes presentes em vrios
tipos de TA. Quanto s ambiguidades e diferenas mais recorrentes neste vis de traduo
entre L1 e L2, o autor lista as seguintes: homonmia e polissemia, diferenas lexicais
bilinguais e diferenas de estrutura.
Alm disso, para esse autor h como os desenvolvedores desses sistemas de traduo
sanarem tais ambiguidades, de modo que muitas limitaes, dentro do escopo da TA, podem
ser extrapoladas (RUSSEL; NORVIG, 2004). Neste sentido, concorda-se com Hutchins ao
argumentar que:
A maioria destas diferenas pode ser lidada com sucesso em contexto atravs
da especificao de categorias gramaticais (substantivo, verbo, adjetivo,
etc.), colocaes lexicais, compostos fixos, caractersticas semnticas
(humano, animado, etc.) e casos de relacionamento (agente, instrumento,
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etc.) juntamente com a anlise e identificao de estruturas sintticas e
relaes semnticas. (HUTCHINS, op. cit., p. 1, traduo nossa)3.
Consequentemente, Hutchins (op.cit., p. 1) pontua outros [...] fenmenos lingusticos
que resistem facilmente ao tratamento baseado em regra encontrados em alguns sistemas de
TA [...], tais como: a seleo de artigos, a identificao de pronomes e seus antecedentes
e diferenas de estilo.
2.1 Sobre as colocaes lexicais
Colocaes so tidas como combinaes de palavras que sempre aparecem juntas. Elas
so importantes no sentido de usar as palavras mais precisamente, pois soam mais naturais na
fala e na escrita, e podem, tambm, enriquecer e embelezar os discursos falado e escrito
(ODELL; McCARTHY, 2008).
De acordo com ODell e McCarthy (op. cit.), as colocaes so divididas em trs
diferentes tipos: fortes, fixas e fracas. As primeiras so aquelas mais comumente associadas
entre si e raramente combinam com outras palavras. As fixas, todavia, so menos suscetveis a
mudanas, de modo que no podem ser modificadas. Por fim, as fracas so aquelas que
combinam com uma grande maioria de palavras.
Ainda segundo os autores supracitados, as colocaes so tambm dividas entre as
seguintes categorias gramaticais: verbo + substantivo; substantivo + verbo; substantivo
+ substantivo; adjetivo + substantivo; advrbio + adjetivo; verbo + advrbio ou frase
preposicional (ODELL; McCARTHY, op. cit.). , portanto, levando em conta essa
categorizao chamada de coligao que embarca este estudo, uma vez que para se observar
at que ponto o Google Translate as (re)constri, ser necessrio investigar a microestrutura
do gnero textual traduzido automaticamente.
2.2. A microestrutura do Resumo Acadmico
Segundo Motta-Roth e Hendges (2010), a microestrutura do resumo acadmico pode
ser geralmente caracterizada a partir de algumas marcas lingusticas: a) a recorrncia a verbos,
geralmente, no pretrito composto ou presente do indicativo e/ou ainda terceira pessoa da voz
passiva; b) as sentenas do pargrafo so, em sua maioria, declarativas com estruturas
simples; c) comumente no h abreviaes, jarges ou smbolos; d) h uma tendncia de uso
de uma linguagem econmica devido s limitaes de nmero de palavras, em virtude de
normas vigentes da ABNT para revistas acadmicas, escrita de artigos, dissertaes e teses;
bem como apresentao de conferncias, palestras e seminrios.
Ainda inserido nesta perspectiva microestrutural do resumo acadmico, Hirohata et. al.
(2008) lista alguns traos lingusticos caractersticos desse gnero textual, chamando ateno
3 Most of these differences can be handled successfully in context by the specification of grammatical
categories (noun, verb, adjective, etc.), lexical collocations, fixed compounds, semantic features (human,
animate, etc.) and case relationships (agent, instrument, etc.) together with the analysis and identification of
syntactic structures and semantic relations.
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para uma possvel constncia desses traos de acordo com sua macroestrutura, como mostra o
quadro a seguir:
Quadro 2 Traos lingusticos microestruturais segundo Hirohata et. al. (op. cit.)
Categorias macroestruturais Traos lingusticos microestruturais
Objetivo Verbos no infinitivo ou impessoal
Mtodo Este estudo, este trabalho, esta pesquisa etc
Resultado Os resultados apontam, indicam, evidenciam etc.
Concluso Conclui-se que, o estudo revela que .... etc.
Nesta perspectiva, acredita-se que, em virtude de se dar mais credibilidade a pesquisa
como concluda e pronta para ser relatada, no resumo acadmico, comum o uso de formas
verbais no passado (GRAETZ, 1985; SWALES, 1990; FEAK; SWALES, 2009). Outro dado
tambm relevante so as formas verbais na voz passiva, uma vez que parecem atribuir ao
relato dos resultados um maior grau de seriedade, em virtude da mudana do agente.
3. Mtodo
3.1 O corpus
Tendo em vista as categorias de colocao discutidas, o corpus deste estudo consiste
em exemplos da coligao: verbo+substantivo em virtude de sua alta incidncia nos
resultados disponibilizados pelo Google Translate na TA do resumo acadmico:
Quadro 3 Corpus
Verbo Substantivo
To provide Advice and suggestions
To propose + the teaching
3.2 Os instrumentos de pesquisa
O sistema de TA utilizado foi o Google Translate. A escolha desse sistema se deu em
virtude de ser uma ferramenta encontrada em um dos maiores sites de busca disponveis em
rede, a saber, o Google, dado que parece colocar esse sistema de TA num ranking dentre os
mais utilizados.
3.3 Procedimentos
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De forma a desenvolver este estudo, foram distribudas quatro etapas: i) coleta do
resumo acadmico escrito (resultante de um trabalho final da disciplina Ingls III do curso de
Letras/Lngua Inglesa da UFCG); ii) acesso ao Google Translate para insero e traduo do
texto completo em Portugus; iii) a partir da traduo obtida na lngua alvo, foram
identificados os exemplos de colocao na categoria verbo + substantivo: to provide +
advice and suggestions e proposes + the teaching; e iv) discusso dos resultados.
3.4 Resultados
As figuras abaixo mostram, respectivamente, o texto original completo (input) a ser
traduzido de L1 para L2, a traduo obtida (output), e as colocaes em estudo ressaltadas em
cor amarela.
Considerando o output fornecido pela TA, possvel notar que h muitos exemplos
que se enquadram na colocao da categoria verbo + substantivo, tais como: discuss + the
configuration, teach + ways, to provide + advice and suggestions, exhibit + marking,
have + marking, e proposes + the teaching. Por esta razo, decidiu-se analisar apenas as
combinaes provide + advice and suggestions e proposes + the teaching.
Figura 1 Input em L1 mostrando as colocaes em amarelo.
GOOGLE Translate. Disponvel em: . Acesso em: 17 out. 2012, 16:18.
Figura 2 Output em L2 ilustrando as colocaes em amarelo.
GOOGLE Translate. Disponvel em: . Acesso em: 17 out. 2012, 16:18.
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Os sentidos pretendidos no resumo acadmico em Portugus para as colocaes de
fornecer conselhos e sugestes e propor o ensino transmitem, respectivamente, a ideia de
fornecer, oferecer, dar conselhos e sugestes, e sugerir o ensino de conselhos e sugestes.
4. Discusso dos resultados
4.1. Colocao to provide + advice and suggestions
Nesta seo investiga-se a traduo fornecida pelo Google Tradutor para a frase verbal
de fornecer conselhos e sugestes de L1 como to provide advice and suggestions para L2.
Ao verificar outros segmentos dados pela TA para cada termo desta combinao, tambm: a)
observa-se como os termos equivalentes para to provide combinam com advice and
suggestions e como outros termos sugeridos para advice and suggestions so combinados
com to provide; e, b) checa-se se todas estas combinaes fazem o mesmo sentido
intencionado pelo resumo acadmico em Portugus.
Figura 3 Outros segmentos para o verbo to provide.
GOOGLE Translate. Disponvel em: . Acesso em: 18 out. 2012, 13:10.
Concernente estrutura de fornecer em L1, a TA considerou a preposio de
durante o processo de traduo e o traduziu como of em L2, para a traduo final de to
provide. Alm disso, o Google Translate ofereceu outros cinco equivalentes termos para o
verbo em Portugus, tais como: 1) to provide; 2) of providing; 3) provide; 4) of
delivering; 5) to deliver. Acredita-se que tais termos que contm as partculas of e to
para a preposio de foram traduzidos de tal maneira devido a diferenas lexicais
bilngues4 e diferenas de estrutura
5 existentes entre Portugus e Ingls (HUTCHINS,
2000, p. 1), bem como a tentativa de aproximar as estruturas gramaticais do texto
automaticamente traduzido s caractersticas microestruturais do gnero textual em questo
(MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010).
4 bilingual lexical differences (HUTCHINS, op. cit. p. 1)
5 differences of structure (Ibid.)
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O primeiro termo fornecido instantaneamente. Percebe-se que ocorre a combinao
com os substantivos advice and suggestions, (re)construindo o sentido talvez proposto em
L1. A equivalncia seguinte apresenta o verbo na forma ing aps a partcula of.
Considerando o contexto em que tal construo se encontrava, o verbo combinaria com os
substantivos de modo a alcanar o sentido em L1 atravs da combinao of providing advice
and suggestions.
Em seguida, o prximo segmento mostra o termo provide sem ser precedido por
nenhuma partcula. Apesar de ser gramaticalmente aceitvel, ele parece no fazer sentido na
situao em L1 devido ausncia da preposio precedendo o verbo.
O quarto termo equivalente fornecido pela TA refere-se ao verbo to deliver sendo
acompanhado pela partcula to, e o quinto segue como of delivering na forma ing.
Devido a esta ocorrncia, e tambm ao aparente sentido deste verbo, ambas as tradues
parecem no combinar com advice and suggestions no sentido proposto pelo resumo em L1,
especialmente por apresentar diferentes significados, tais como entregar, comunicar, fazer, dar
a luz, cumprir e dar (OXFORD, 2009).
Levando em considerao os termos equivalentes fornecidos pela TA em questo,
testados com os substantivos advice and suggestions, foi notrio que as nicas combinaes
mais eficazes na (re)construo do efeito possivelmente proposto no resumo acadmico em L1
foram to provide advice and suggestions and of providing advice and suggestions.
Portanto, tais combinaes so consideradas exemplos de colocaes fortes, j que o nmero
de combinaes foi pequeno, mas no em pequena escala para serem consideradas colocaes
fixas. Alm disso, importante complementar a ideia de que uma colocao forte [...]
aquela em que as palavras so diretamente associadas umas com as outras (ODELL;
McCARTHY, 2008, p. 8, traduo nossa)6, por isso so mais aceitveis em alguns gneros
textuais do que outros.
Figura 4 Outros segmentos para os substantivos advice and suggestions.
GOOGLE Translate. Disponvel em: . Acesso em: 18 out. 2012, 13:10.
Considerando a segunda parte da colocao em anlise, a TA do Google Translate
ofereceu cinco segmentos equivalentes para os substantivos conselhos e sugestes de L1
para L2: a) advice and suggestions; b) advice and tips; c) advices and suggestions; d)
tips and suggestions; e, e) hints and tips. O primeiro termo apenas repete aquele que o
sistema de TA j havia fornecido. Alm disso, este parece combinar de forma mais aceitvel, 6 [] is one in which the words are very closely associated with each other.
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formando to provide advice and suggestions e resultando num sentido possivelmente
prximo daquele proposto no resumo acadmico em L1.
Na segunda equivalncia, a TA ofereceu advice and tips. De acordo com o
dicionrio Oxford (2009), tip pode significar ponta, gorjeta, depsito de lixo e dica.
Contudo, considera-se, aqui, o termo suggestions mais apropriado nesta situao. Desse
modo, a combinao to provide advice and tips parece no soar como aquela proposta no
resumo em L1. De uma perspectiva microestrutural (HIROHATA et. al., 2008), por outro
lado, esta combinao seria aceitvel e adequada noutro contexto.
Outro segmento equivalente dado em seguida foi advices and suggestions, um
pouco similar ao primeiro termo fornecido pelo Google Translate, mas diferente em vista de o
primeiro substantivo est sendo usado na forma plural agora. Contudo, a forma advices parece
no ser aceita pela lngua inglesa, tendo em vista sua caracterstica de substantivo incontvel
(DeCAPUA, 2008). Deste modo, a combinao to provide advices and suggestions seria
gramaticalmente aceita se o primeiro substantivo estivesse no singular, dentro dos padres
microestruturais do gnero textual resumo acadmico e da L2.
No quarto segmento, fornecido pelo sistema de TA em questo, o termo conselhos
foi fornecido como tips, e o substantivo suggestions relacionando-se com sugestes foi
mantido desde o primeiro termo dado pela TA. Muito embora gramatical e estruturalmente
correta, a combinao to provide tips and suggestions no parece (re)construir a ideia
proposta no texto em L1. Se usado noutro contexto, talvez fosse adequada.
Finalmente, a ltima equivalncia dada foi hints and tips. Quando combinadas com
o verbo to provide, as palavras no transmitem o sentido proposto pelo resumo em
Portugus atravs da combinao to provide hints and tips. Contudo, a colocao parece
estruturalmente adequada, e poderia ser usada eficientemente noutra situao.
Considerando os segmentos disponibilizados pela TA do Google Translate para L2 a
partir dos substantivos conselhos e sugestes em L1, percebe-se que, como output da TA,
apenas a estrutura to provide advice and suggestions parece combinar mais adequadamente,
de modo a (re)construir o sentido possivelmente proposto do resumo acadmico em L1. Como
neste caso o nmero de combinaes foi pequeno, configura-se esta como colocao fixa
(ODELL; McCARTHY, 2008).
4.2. Colocao proposes + the teaching
Neste tpico investiga-se a traduo fornecida pela TA para a construo prope o
ensino de L1 para proposes the teaching em L2. Ao verificar os outros segmentos dados
pela TA para cada palavra desta combinao, so discutidos os aspectos tradutrios da TA
para os demais termos equivalentes de proposes que possivelmente combinam com the
teaching. Tambm, leva-se em conta como equivalncias adicionais para the teaching so
combinadas com proposes. Enfim, tais combinaes so checadas quanto ao grau de
(re)construo do sentido proposto no resumo acadmico em L1.
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Figura 5 Outros segmentos para o verbo proposes.
GOOGLE Translate. Disponvel em: . Acesso em: 18 out. 2012, 13:15.
Considerando a ilustrao acima, o Google Translate pode traduzir o verbo prope
de L1 como proposes em L2. Este verbo parece combinar gramaticalmente com o termo the
teaching, j que est flexionado na terceira pessoa do singular relacionando-se com o termo
the unit (DeCAPUA, 2008). Alm disso, a combinao entre estas partculas parece
coerente com aquela proposta no texto em L1. Ainda assim, como pode ser observado na
figura anterior, o Google Translate forneceu outros cinco termos para o verbo proposes, tais
como: 1) proposes; 2) offers; 3) proposed; 4) propose; 5) proposes to. fato de
que esses segmentos tenham sido fornecidos desta maneira devido a diferenas lexicais
bilngues existentes entre L1 e L2, conforme acredita Hutchins (2000).
Para o primeiro termo equivalente, a TA apenas mostrou o que j tinha fornecido
anteriormente durante o primeiro momento de traduo. O segundo verbo, offers, tambm
est gramaticamente apropriado7 j que se relaciona com the unit. Portanto, ele parece
(re)construir o sentido proposto em L1 atravs da colocao offers the teaching. Alm disso,
tal combinao parece aceitvel entre palavras que funcionam juntas de modo a produzir
informao significativa, como reflete Martnska (2004, p. 2, traduo nossa) [...] que o
significado de uma palavra determinado pelas palavras co-ocorrentes.8.
O prximo segmento equivalente, proposed, contudo, possivelmente no produz o
efeito proposto em L1. Isso porque ele est no tempo verbal do passado simples. Em outras
palavras, o termo a ser traduzido, em L1, era prope, no presente. Contudo, isso parece
corroborar o pensamento de Hirohata et. al. (2008) sobre a microestrutura do resumo
acadmico ao acreditar que formas verbais no passado so uma marca desse gnero textual
me lngua inglesa.
O quarto termo sugerido na interface de segmentos disponibilizados pelo Google
Translate foi propose. De acordo com a microestrutura do resumo acadmico (HIROHATA
et. al., op. cit.), o termo parece no est adequado em virtude do gnero textual em que se
encontra.
Entretanto, levando em conta que tal verbo est relacionado ao substantivo unit, sua
traduo deveria ter vindo flexionada: proposes. Noutras palavras, se tivesse sido traduzido
usando a flexo s no fim, ento tal traduo seria aceita para fins gramaticais e combinaes
de palavras, j que o tempo verbal presente simples consiste do verbo principal em sua forma
7 Cf. DeCAPUA, 2008.
8 [] that the meaning of a word is determined by the co-occurring words.
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simples, exceto na terceira pessoa do singular quando a flexo s adicionada ao verbo
principal.9 (DeCAPUA, 2008, p. 168, traduo nossa).
Neste patamar, verifica-se que a TA mostrou o segmento proposes to. Considerando
o texto fonte, este termo apresentado pelo sistema em questo parece no combinar com the
teaching, uma vez que no produz um sentido semelhante aquele presente no input.
Levando em conta os segmentos sugeridos testados com the teaching, possvel
perceber que as nicas combinaes a (re)construrem o efeito possivelmente proposto no
texto fonte em L1, foram as equivalncias proposes the teaching e offers the teaching.
Dessa forma, tais combinaes so consideradas colocaes fortes tendo em vista o nmero
limitado de combinaes (ODELL; McCARTHY, 2008, p. 08).
Figura 6 Outros segmentos para a frase nominal the teaching.
GOOGLE Translate. Disponvel em: . Acesso em: 18 out. 2012, 13:15.
Por conseguinte, para o segmento o ensino em L1, a TA forneceu o equivalente the
teaching. Esse fragmento pode combinar-se significativamente com o verbo flexionado
proposes que o precede, e, portanto, a combinao proposes the teaching (re)constri o
sentido construdo em L1 no texto fonte em questo.
Alm dessa traduo, outros termos equivalentes foram gerados para essa frase
nominal: 1) the teaching; 2) teaching; 3) education; 4) instruction; e, 5) learning.
Considerando o fenmeno da traduo em vrios termos diferentes, argumenta-se que isto
tenha ocorrido como resultados de possveis diferenas entre a microestrutura dos textos fonte
e alvo, bem como de incompatibilidade lexicais bilngues entre as lnguas envolvidas
(HUTCHINS, 2000, p. 1).
No primeiro fragmento sugerido pelo sistema, the teaching, a TA repetiu o termo
que j havia dado durante o momento inicial da traduo. O segundo segmento parece
semelhante ao anterior, mas ocorre mudana tendo em vista a ausncia do artigo definido.
Como o termo the foi suprimido, parece que o termo teaching funciona como verbo na
colocao proposes teaching, e no como substantivo no resumo em L1. Alm disso, cr-se
que teaching apresente um comportamento de natureza verbal por estar seguido de outro:
proposes.
9 the simple present tense consists of the main verb in its simple form, except in third person singular when the
s inflection is added to the main verb.
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Todavia, o verbo to propose representa uma inteno ou uma sugesto. Quando
usado para expressar o primeiro, o verbo que o sucede vem no infinitivo, como em: I do not
propose to reveal details at this stage.10
. Por outro lado, quando usado para transmitir o
sentido de uma sugesto, o termo to propose exige um verbo no gerndio aps ele: He
proposed dealing directly with the suppliers.11
Embora o sentido proposto no resumo em L1 represente uma sugesto, similar ao
sentido induzido por proposes teaching, o segundo segmento teaching funciona como um
verbo, e no como um substantivo como no texto fonte em: o ensino. Em virtude disso, a
combinao proposes teaching parece no (re)construir o sentido de L1 embora esteja
estruturalmente correta.
Aps recomendar o segmento acima, a TA forneceu outros trs termos que, quando
combinados com proposes, seriam proposes education, proposes instruction e
proposes learning, respectivamente. Considerando o contexto em que o termo o ensino
estava sendo usando no input, o output no (re)construiu o efeito obtido em L1. Portanto, as
combinaes no foram adequadas.
Alm disso, como as lnguas tm suas prprias regras para produzirem suas
colocaes, acredita-se que as trs combinaes acima no soaram significativamente, pois o
sistema de TA, naquele momento da traduo, parecia estar inapto para lidar com regras
distintas trabalhando ao mesmo tempo, algo que de certa forma reflete que em cada lngua,
colocaes obedecem as regras caractersticas daquela lngua [...]12
(DZIERZANOWSKA,
1988 apud MARTYSKA, 2004, p. 4, traduo nossa).
Enfim, a partir dos demais termos equivalentes testados com o verbo proposes e as
circunstncias do processo de TA: o sistema, a conexo, o gnero textual, as lnguas
envolvidas, percebe-se que a combinao mais adequada para (re)construir o efeito construdo
no input em L1, neste momento, foi apenas proposes the teaching. Por esta razo, tal
combinao pode ser definida como colocao fixa porque seu nmero de combinaes foi
estritamente limitado. Alm disso, este tipo de colocao to forte que no pode ser
mudada de nenhum modo. (ODELL; McCARTHY, 2008, p. 8, traduo nossa).13
5. Consideraes finais
As tradues geradas pelo sistema de TA, Google Translate, permitem considerar o
fato de que h uma diviso entre as colocaes combinadas com sucesso na (re)construo de
forma e contedo de um determinando texto fonte, de modo que outras combinaes so
possveis atravs do processo de ps-edio (MARTINS, 2013) disponibilizado pelo sistema.
Neste sentido, para entender esse processo necessrio levar em conta as
circunstncias do processo da TA escolhida: o sistema, a conexo, o gnero textual, as lnguas
envolvidas. Neste caso, em particular na TA do resumo acadmico aqui investigado,
observou-se que tal fenmeno tenha acontecido principalmente devido s limitaes ainda
apresentadas na arquitetura do Google Translate quanto a questes de ordem microestrutural
10
CAMBRIDGE DICTIONARIES ONLINE. Propose (INTEND). Disponvel em:
. Acesso em: 09 nov. 2012. 11
CAMBRIDGE DICTIONARIES ONLINE. Propose (SUGGEST). Disponvel em:
. Acesso em: 09 nov. 2012. 12
[] in every language collocations comply with the rules characteristic of that language []. 13
so strong that they cannot be changed in any way.
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desse gnero textual (HIROHATA et. al., 2008; MOTTA-ROTH &HENDGES, 2010), mas
que podem ser futuramente sanadas.
De certa maneira, esta concepo pode ser fundada pelo que Hutchins (2000, p. 1,
traduo nossa) defende como problemas lingusticos que surgem de ambiguidades de
palavras e sentenas estruturais fora de contexto nos nveis de homonmia e polissemia,
diferenas lexicais bilngues e diferenas de estrutura. 14
Enfim, tambm importante ressaltar o fato de que, muito embora algumas
combinaes no tenham (re)construdo a forma e contedo propostas em L1, elas podem
fazer sentidos noutras circunstncias.
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P g i n a | 1191
ALFABETIZAO: QUAL A REALIDADE DO ALUNO SURDO NO PROCESSO
DE APRENDIZAGEM DO PORTUGUS ESCRITO?
Michele Alexsandra Nascimento da Silva SOUZA 15
(EE Professor Fernando Mota - EE Vidal de Negreiros)
Shirley Danielly Cunha BEZERRA16
(EMEIF Vereador Jos Francisco Ferreira)
Resmumo: A histria da educao dos surdos marcada por conflitos e controvrsias. At os
dias atuais so notveis as dificuldades encontradas no cotidiano escolar frente ao
desconhecimento acerca da aprendizagem e alfabetizao dos surdos, somando-se s
dificuldades destes em ter uma efetiva aprendizagem. Esta pesquisa apresenta um estudo de
cunho bibliogrfico sobre o processo de alfabetizao dos alunos com surdez no oralizados,
tendo como objetivo averiguar a problemtica que circunda as prticas de produo escrita,
compreender as peculiaridades envolvidas nesse processo observando as estratgias de escrita
desenvolvidas pelos alunos investigados. Para tanto, analisamos cinco alunos a partir de dirio
de campo, produes escritas e gravaes de execuo. Utilizou-se, um referencial terico
baseado nos estudos desenvolvidos por Soares (2012), Ferreiro e Teberosky (2008), Quadros
e Karnopp (2004), Lodi e Lacerda (2009), Grossi (1990), entre outros. Os dados revelaram
que a maioria dos alunos enfrentam dificuldades de escrita at mesmo de palavras simples,
pois vivenciam um contexto de comunicao visual e gestual, por ausncia de percepo
sonora sua leitura baseia-se em decodificao e memorizao de palavras, apresentam
dificuldade na estrutura gramatical do portugus, pois sua lngua apresenta uma estrutura
diferente sem conectivos e com uma organizao das palavras (sinais) de forma diferente do
portugus.
Palavras-chave: Leitura, Escrita, Alfabetizao dos surdos.
1. Introduo
A aprendizagem da lngua escrita tem sido objeto de pesquisa de vrias cincias e cada
uma aborda um aspecto dessa aprendizagem, dentre eles: desenvolvimento da conscincia
fonolgica, leitura, compreenso da leitura, etc.
Na realidade escolar, tais aspectos so apreciados desde as sries iniciais. Assim,
compreender as peculiaridades envolvidas no processo de alfabetizao e a problemtica que
circunda as prticas de produo escrita, observando as estratgias desenvolvidas pelo
estudante surdo no oralizado, permite-nos ampliar os conhecimentos e concepes e
desmistificar algumas ideias acerca da surdez e educao de surdos.
, nesse sentido, que o presente trabalho justifica-se pela preocupao com o
direcionamento dado alfabetizao do estudante surdo, visto que o portugus escrito sua
15
Licenciatura Plena em Pedagogia, UFPE. Professora. Tradutora/Intrprete de Lngua Brasileira de Sinais e
Lngua Portuguesa, ETEASD, Recife, PE. Especialista em Educao Inclusiva e Coordenao Pedaggica,
FASE, Recife, PE. 16
Licenciatura Plena em Pedagogia, UVA, Recife, PE. Professora. Tradutora/Intrprete de Lngua Brasileira de
Sinais e Lngua Portuguesa, ETEASD, Recife, PE. Especialista em Educao Inclusiva e Coordenao
Pedaggica, FASE, Recife, PE.
P g i n a | 1192
segunda lngua. Recai, ainda, sob a realidade encontrada no cotidiano escolar frente ao
desconhecimento acerca da aprendizagem dos mesmos.
Desse modo, procuraremos refletir sobre o seguinte questionamento: Tendo o
estudante surdo a Libras como lngua materna e sendo esta lngua visual e gestual, e no oral
e auditiva (como a dos ouvintes), como trabalhar estes diferentes aspectos do portugus
escrito, uma vez que compreender a escrita, compreender que ela uma representao dos
sons da fala? Frente a essas questes de fundamental importncia entender quais as
estratgias utilizadas pelo estudante surdo e que metodologias a escola deve utilizar para
alcanar as especificidades deste aluno. Centrando nosso estudo na observao e descrio
das prticas de ensino do portugus escrito e das produes escritas dos alunos, constatado a
partir da interpretao dos dados coletados.
Teremos, ento, como objetivos norteadores da pesquisa de maneira geral:
Investigar a problemtica que circunda as prticas de produo escrita, observando as estratgias desenvolvidas pelo estudante surdo no oralizado.
E de modo especfico:
Ampliar os conhecimentos e concepes e desmistificar algumas ideias acerca da surdez e educao de surdos;
Compreender as peculiaridades envolvidas no processo de alfabetizao e as hipteses de escrita do portugus dos alunos investigados;
2. Procedimentos metodolgicos
O estudo realizado caracteriza-se como uma pesquisa de natureza qualitativa, uma vez
que privilegia a interpretao dos dados, em lugar de sua mensurao. Concordamos, assim
com Godoy (1995, p. 58) ao afirmar que essa forma de pesquisa no procura enumerar e/ou
medir os eventos estudados, nem emprega instrumental estatstico na anlise dos dados,
envolve a obteno de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo
contato direto do pesquisador com a situao estudada, procurando compreender os
fenmenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situao em
estudo. Dessa forma, a pesquisa aqui delineada est relacionada ao paradigma
interpretativista, que segundo Bortoni-Ricardo (2008) prima pelo envolvimento do
pesquisador com a cultura do objeto pesquisado, bem como valoriza o conhecimento tcito
dos participantes da pesquisa.
Para realizao deste trabalho, tivemos como corpus de anlise as escritas produzidas
por trs alunos surdos no oralizados, estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental de
uma escola pblica estadual localizada no municpio de Recife. Tal escola foi escolhida sob o
critrio de ser uma escola inclusiva. Alm disso, apesar de a temtica do trabalho estar voltada
para alfabetizao a preferncia pelos anos finais do Ensino Fundamental, deu-se devido
dificuldade dos alunos surdos em alcanar este nvel tendo uma efetiva alfabetizao e
aprendizagem dos contedos.
O desenvolvimento terico metodolgico proporcionou a observao, gravao e
anotao de situaes de aula em que a escrita do portugus foi enfatizada. Percebendo a
metodologia utilizada pelo professor e as estratgias do tradutor/intrprete de Libras como
mediador da comunicao nesse processo.
P g i n a | 1193
Para tanto, analisamos trs alunos a partir de dirio de campo, produes escritas e
gravaes de execuo.
3. Fundamentos tericos
3.1. Panorama histrico da educao dos surdos
A histria da educao dos surdos marcada por conflitos e controvrsias.
Observa-se, porm, que embora as discusses realizadas nos ltimos cinco
sculos faam referncia educao, as questes prprias das esferas
educacionais nunca foram enfatizadas. Ou seja, os mtodos de ensino e as
prticas realizadas foram submetidos ao fator lingustico e abordados com o
objetivo de descrever e sustentar a defesa pelo desenvolvimento da lngua
oral ou de sinais (LODI, 2005, p. 409).
Os acontecimentos histricos revelam que os surdos travaram grandes batalhas pela
afirmao da sua identidade, cultura e lngua.
Durante sculos, as pessoas que apresentavam algum tipo de deficincia eram postos
margem da sociedade, na maioria das vezes eram vistas como incapazes e inferiores e sua
deficincia, em muitos casos, era entendida como castigo divino. Assim, eram privados de
educao, marginalizados e, muitas vezes, condenados morte.
Filsofos da poca na antiguidade como Aristteles, ensinavam que as pessoas que
nasciam surdas, no possuam linguagem e, por isso, no tinham a capacidade de raciocinar.
Segundo registros histricos, a educao de surdos teve incio no sculo XVI. Os
filhos surdos de nobres precisavam possuir algum conhecimento para dar perpetuidade aos
bens familiares. Neste contexto, surge o monge espanhol beneditino Pedro Ponce de Leon
(1520-1584). Seu trabalho foi um marco importante na histria da educao de surdos, pois
conseguiu fundamentar que eram falsos os pressupostos filosficos e mdicos e as crenas
religiosas da poca sobre a incapacidade do sujeito surdo tanto no desenvolvimento da
linguagem, como para qualquer aprendizagem. Ponce de Leon criou alguns mtodos,
desenvolveu um alfabeto manual que ajudava os surdos a soletrar as palavras (alguns
acreditam que este alfabeto manual foi baseado nos gestos utilizados por monges, que se
comunicavam desta forma por terem feito voto do silncio).
No sculo XVII, surge o abade LEpe tendo como principais contributos: criao do
Instituto Nacional de Surdos-Mudos, em Paris (primeira escola de surdos do mundo);
reconhecimento do surdo como ser humano, por reconhecer a sua lngua; adoo do mtodo
de educao coletiva; reconhecimento de que antes de ensinar o surdo a falar devia ensinar-
lhe a lngua gestual.
No Brasil, a educao de surdos iniciou durante o segundo imprio com a chegada do
educador francs Hernest Huet, trazido por D. Pedro II. E em 1857 foi fundado o Instituto
Nacional de Surdos-Mudos, hoje conhecido como Instituto Nacional de Educao dos Surdos
(INES), que a princpio utilizava a lngua de sinais e posteriormente em 1911 passa a seguir o
P g i n a | 1194
modelo educacional proposto pela tendncia mundial que era o oralismo puro17
. Esta deciso
no impediu que os surdos se comunicassem em sua lngua, permanecendo as conversaes
em lngua de sinais s escondidas.
Com a visita da educadora de surdos da Universidade de Gallaudet, Ivete Vasconcelos,
na dcada de 70, surgiu no Brasil a filosofia da Comunicao Total18
e, na dcada seguinte,
com as pesquisas da professora linguista Lucinda Ferreira Brito sobre a Lngua Brasileira de
Sinais e da professora Eullia Fernandes sobre a educao dos surdos, o Bilinguismo19
passou
a ser difundido. Questes concernentes igualdade de direitos e qualidade social foram
levantadas desde a dcada de 90 e incio do sculo XXI. Assim, a educao no Brasil, a partir
de 1996 busca atravs de seu currculo o processo de incluso.
3.2. O sujeito surdo e a lngua brasileira de sinais
A surdez caracteriza-se por uma privao sensorial; suas consequncias, no entanto,
no se limitam s dificuldades auditivas, refletindo em aspectos lingusticos, emocionais,
educacionais, sociais e culturais.
Diferentes autores versam sobre a conceituao da surdez. Para Pacheco (2008, p.4)
Surdez o nome dado a impossibilidade e dificuldade de ouvir, podendo ter como causa
vrios fatores que podem ocorrer antes, durante ou aps o nascimento.
Conforme o art. 2 do Decreto n 5.626, de 22 de dezembro de 2005:
Art. 2o Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por
ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de
experincias visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da
Lngua Brasileira de Sinais - Libras (BRASIL, 2005).
O importante no apenas conhecer o grau da surdez, mas a idade ou estgios em que
ela ocorre. Se a surdez de nascena ou ocorre antes da aquisio da linguagem e da fala, ou
seja no perodo pr-lingustico, denominamos de surdez pr-lingual. J os que perderam a
audio aps o desenvolvimento da fala e da linguagem oral, considerada ps-lingual. Para
pr-lingual a dificuldade em relao aquisio da linguagem, poder desencadear
consequncias em outras reas, como na escolarizao e consequentemente na alfabetizao.
Os surdos, podem ser oralizados, ou seja, utilizar de qualquer lngua oral para se
comunicar, na modalidade oral, orofacial, tambm denominada de leitura labial, o que facilita
no processo de alfabetizao e escolarizao como um todo. Por isso esta pesquisa enfatiza os
17
Segundo Goldfeld (1997, p. 30) "o oralismo ou filosofia oralista, usa a integrao da criana surda
comunidade de ouvintes, dando-lhe condies de desenvolver a lngua oral. O oralismo percebe a surdez como
uma deficincia que deve ser minimizada atravs da estimulao auditiva". 18
A Comunicao Total dava nfase utilizao simultnea de todos os recursos lingusticos, ou seja, a
comunicao feita por meio da oralizao, de prtese auditiva, de gestos naturais, de lngua de sinais, expresso
facial, de alfabeto manual, de leitura labial, de escrita, enfim de tudo aquilo que serviria de meio para ajudar a
desenvolver o vocabulrio, a linguagem e o conceito de ideias entre o indivduo com deficincia auditiva do
outro. (HONORA, 2008. p. 53). 19
Como as duas abordagens (Oralismo e Comunicao Total) no foram bem aceitas pela comunidade surda,
ento comea a utilizao do Bilinguismo, abordagem essa que preconiza a aquisio de duas lnguas, sendo
uma a lngua de sinais (L1) e a outra a lngua materna dos surdos (L2).
P g i n a | 1195
surdos no oralizados e pr-lingual para que seja possvel fazer algumas reflexes sobre as
verdadeiras dificuldades e possibilidades do estudante surdo.
Nesse sentido, alm do conhecimento dos aspectos orgnicos imprescindvel o
conhecimento terico a cerca da linguagem para conhecer melhor a criana surda, seus
processos cognitivos, sociais e emocionais.
De acordo com Ferreira Brito (1993, p. 17) indiscutvel a importncia do
aprendizado da lngua de sinais pelo surdo, pois esta apresenta a funo de estimulador do
desenvolvimento cognitivo e social, alm de ser uma via para o desenvolvimento em todas as
esferas do conhecimento.
A lngua de sinais considerada por linguistas como a lngua materna do surdo, onde
o mesmo aprende e desenvolve naturalmente, atravs do convvio com seus falantes, no
havendo a necessidade de uma aprendizagem sistemtica como requer o portugus. Mas
importante que o surdo seja inserido em ambiente que lhe permita o contato natural com a
Libras, para que atravs dela possa desenvolver todas as suas potencialidades. Skliar
acrescenta:
Se no se organiza adequadamente o acesso dessas crianas lngua de
sinais, seu contato ser tardio e seu uso restringido a prticas comunicativas
parciais, com as consequncias negativas que isto implica para o
desenvolvimento cognitivo, e, sobretudo, para o acesso informao e ao
mundo de trabalho (SKLIAR 1997, p. 131).
importante enfatizarmos a idia de que a Libras Lngua Brasileira de Sinais de
fato uma lngua e no uma linguagem como muitos pensam. Esta passou a ser reconhecida
como lngua pelo governo brasileiro a partir da Lei 10. 436, de 24 de abril de 2002.
A Libras possui uma estrutura gramatical prpria e todos os nveis lingusticos
fonolgico20
, morfolgico, sinttico, semntico e pragmtico capaz de expressar diferentes
conceitos apresentados por uma lngua oral, servindo a todas as necessidades de seus falantes
tanto para comunicao, como para ferramenta do pensamento.
Diversos autores e Goldfeld (2002, p.81) afirmam que a forma de comunicao
realizada pelas lnguas de sinais possuem o mesmo valor das lnguas orais, [...] em relao
qualidade comunicativa e constituio do pensamento, as mos podem executar com
perfeio o mesmo papel que o sistema fonador, por meio das lnguas de sinais. As mos e
todo sistema corporal funcionam perfeitamente como canais de comunicao, conseguindo
assim transmitir a mensagem desejada pelo emissor.
As lnguas de sinais, conforme um considervel nmero de pesquisas, contm os mesmos princpios subjacentes de construo que as lnguas orais,
no sentido de que tm um lxico, isto , u conjunto de smbolos
20
A fonologia busca interpretar os sons da fala (da fontica), tendo como base os sistemas de sons das lnguas e
os modelos tericos disponveis. [...] A primeira tarefa da fonologia para lnguas de sinais determinar quais so
as unidades mnimas que formam os sinais. A segunda tarefa estabelecer quais so os padres possveis de
combinao entre essas unidades e as variaes possveis no ambiente fonolgico. [...] O argumento de
utilizao desses termos o de que as lnguas de sinais so lnguas naturais que compartilham princpios
lingusticos subjacentes com as lnguas orais (QUADROS e KARNOPP, 2004, p. 18, 47, 48).
P g i n a | 1196
convencionais, e uma gramtica, isto , um sistema de regras que regem o
uso desses smbolos (QUADROS E KARNOPP, 2004, p.48).
Os ouvintes se comunicam atravs da lngua oral, e utilizam o canal oral auditivo para
se comunicar, onde os sons articulados so percebidos pelos ouvidos. J os surdos fazem uso
da comunicao de uma maneira diferente, sobre isso Brito (1997, p.8) nos diz que, As
lnguas de sinais distinguem-se das lnguas orais porque utilizam-se de um meio ou canal
visual-espacial e no oral auditivo.
As pessoas com deficincia auditiva apresentam a preferncia em ter contato com
outras pessoas surdas, vejamos o que diz Fulstich ( 2004, p.41) A preferncia dos surdos em
se relacionar com seus semelhantes fotalece sua identidade e lhe traz segurana.
no contato com seus pares que eles se identificam com outros surdos.
principalmente entre esses surdos que buscam uma identidade surda, se reunem em
instituies, ou grupos, onde dividem suas dificuldades, problemas, alegrias, festas formando
as comunidades surdas.
3.3. Alfabetizao do sujeito surdo
Na realidade escolar, os aspectos relacionados aprendizagem da lngua escrita so
apreciados desde as sries iniciais e um tema muito discutido por alguns tericos como:
Magda Soares, Emlia Ferreiro e Ana Teberosky.
A partir dos anos 80, emergem estudos surgem os estudos de Emlia Ferreiro e Ana
Teberosky sobre a psicognese da Lngua Escrita. Os estudos realizados por Emlia Ferreiro e
Ana Teberosky nos trouxeram importantes descobertas sobre o processo de construo da
escrita pela criana, levando-nos a repensar e redimensionar o nosso olhar sobre o processo de
alfabetizao. Percebemos como se d a aquisio da leitura e da escrita por parte das
crianas, levando em considerao o que elas j conhecem e seu contato anterior com a lngua
materna. A partir destas investigaes, entendemos a alfabetizao como uma construo
contnua desenvolvida simultaneamente dentro e fora da sala de aula, em processo interativo.
Na educao de surdos j foram aplicados vrios mtodos e ainda hoje persistem os
problemas de alfabetizao. Pois preciso que se ensine o portugus com metodologia de
uma segunda lngua. As dificuldades em se alfabetizar os surdos partem da ideia de se tentar
ensinar utilizando prticas educativas voltadas para a populao ouvinte, no considerando as
particularidades dos alunos surdos. O art. 14 do Decreto n 5.626, de 22 de dezembro de
2005, enfatiza que deve-se
ofertar, obrigatoriamente, desde a educao infantil, o ensino da
Libras e tambm da Lngua Portuguesa, como segunda lngua para alunos surdos (BRASIL,
2005). Segundo LACERDA e LODI (2009, p. 11):
As propostas educacionais direcionadas ao sujeito surdo embora (no se
pode negar) tenham como objetivo proporcionar o desenvolvimento pleno de
suas capacidades, acabam determinando uma srie de limitaes, levando-os
ao final da escolarizao fundamental (no alcanada por muitos) a no
serem capazes de ler e de escrever satisfatoriamente ou a terem um domnio
adequado dos contedos acadmicos. Isso porque, pelo fato de no ouvirem,
as pessoas surdas acabam tendo dificuldades de acesso linguagem oral e
escrita do grupo (ouvinte) ao qual pertencem, e portanto, as prticas
P g i n a | 1197
educativas voltadas a esta populao devem considerar esta particularidade,
o que nem sempre acontece.
preciso entender que a lngua escrita est relacionada com a lngua oral auditiva e
no com a lngua visual espacial. Enquanto a criana ouvinte pode fazer uso intuitivo das
propriedades fonolgicas naturais de sua fala interna em auxlio leitura e escrita, a criana
surda no.
Alfabetizao o processo pelo qual se adquire o domnio de um cdigo e das
habilidades de utiliz-lo para ler e escrever, ou seja: o domnio da tecnologia do conjunto de
tcnicas para exercer a arte e cincia da escrita (Ribeiro, 2003, p. 91). Com base na autora,
alfabetizao corresponde ao processo pelo qual se adquire a escrita alfabtica e as
habilidades de utiliz-la para ler e escrever. J letramento est relacionado ao exerccio
efetivo e competente da escrita. So comportamentos e prticas sociais que ultrapassam o
domnio do sistema alfabtico e ortogrfico.
Deste modo, Soares faz uma observao importante ao afirmar que:
Ter-se apropriado da escrita diferente de ter aprendido a ler e a escrever:
aprender a ler e a escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar
em lngua escrita e a de decodificar a lngua escrita; apropriar-se da escrita
tornar a escrita prpria, ou seja, assumi-la como sua propriedade
(1998, p. 39).
4. Anlise de dados
Nas observaes dos trs alunos surdos envolvidos na pesquisa possvel identificar
que apresentam dificuldade quanto escrita do portugus, at mesmo de palavras simples.
Ex 01: Fragmento da atividade solicitada pela professora de portugus para se formar
frases com palavras se sofreram alterao no novo Acordo ortogrfico.
AS1:
1. ANDROIDE: Nova celular Bom mensagem
2. BOIA: boia Seguro Proteger vida Bom.
3. ESTREIA: estreia Pessoa Entrar nova Supermercado Bompreo.
4. PLATEIA: Teatro Plateia admirar Bonita dana.
5. GELEIA: Bom Bolacha coco geleia.
AS2:
1. ANDROIDE:
2. BOIA:
3. ESTREIA:
4. PLATEIA: plateia dana admirar.
5. GELEIA: po geleia leite.
P g i n a | 1198
AS3:
1. ANDROIDE: celula androide.
2. BOIA: menina praia boia.
3. ESTREIA:
4. PLATEIA:
5. GELEIA: po delicia.
Nesta atividade, os alunos pesquisados s conseguiram escrever as frases com o
auxlio da intrprete que precisou representar a datilologia das palavras que desconheciam.
Alm disso, eles apresentaram dificuldade at mesmo para formar a frase em Libras porque
no entendiam a estrutura de uma frase e comeavam a contar uma histria e contextualizar
uma situao utilizando as palavras dadas pela professora. Isso ocorre porque a comunidade
surda tem como caracterstica a produo de histrias espontneas, de contos e de piadas
relatadas por em encontros informais.
As palavras em destaque foram escritas pelos alunos sem a interveno da intrprete.
Possivelmente tais palavras j foram por eles memorizadas e utilizadas em outras situaes.
Portanto, como no fazem correspondncia do som com a grafia por ausncia de percepo
sonora, sua leitura baseia-se em memorizao. Alm disso, por no conhecerem as palavras
que a professora props para a atividade foi necessrio que a intrprete conceituasse e
exemplificasse para que os alunos compreendessem, mesmo assim, os alunos AS2 e AS3 no
conseguiram formular frases para algumas palavras. Tambm demonstraram dificuldade na
estrutura gramatical do portugus, sua escrita no apresentam conectivos, e sua estrutura para
quem no usurio da Libras, parece incoerente, pois sua lngua apresenta uma estrutura
diferente.
EX 02: atividade de compreenso textual com base no poema A porta Vinicius de Moraes
AS1:
1. Ler e responder as seguintes perguntas:
a) Para voc, explique porque o poeta retrata a pessoa (a personagem) sou feita de madeira?
R- homem autor pessoa casa entra parece vida.
b) Como voc interpreta o texto com a imagem de Magali, que ligao h entre os dois?
R- sim mostra desenho porta.
AS3:
1. Ler e responder as seguintes perguntas:
c) Para voc, explique porque o poeta retrata a pessoa (a personagem) sou feita de madeira?
R- porta vida achar ter.
P g i n a | 1199
d) Como voc interpreta o texto com a imagem de Magali, que ligao h entre os dois?
R- porta desenho.
Nesta atividade Os alunos AS1 e AS3, compreenderam o texto atravs da traduo da
intrprete, pois sozinhos no conseguiram entender o que estava escrito. Em seguida foi
preciso interpretar as perguntas e ainda dar exemplos e estimular a subjetividade para que os
surdos conseguissem responder. Percebemos que, se ser alfabetizado, de forma geral,
escrever, ler e entender o que leu, os alunos pesquisados ainda no conseguem fazer isso sem
a mediao da intrprete, exceto em situaes em que as palavras e seu significado lhes so
conhecidas. Tambm foi recorrente os alunos procurarem/identificarem no texto palavras que
conheciam, mas no geral no tinham a compreenso da mensagem do texto.
Na resposta da questo A da AS1 interessante como a estrutura da Libras diverge da
estrutura do portugus tanto pela ausncia de conectivos, quanto pela organizao das
palavras e sinais.
EX 03: Atividade de interpretao da msica Eu digo Jah Olodum
AS1: Etipia Pas pobre, comer nada,
tem no gua, cama tem no, dormir
cho criana morrer Porque fome,
sofrer Profundo, triste, chorar,
tambm preocupado.
Aqui Brasil Parecer Etipia Porque
Aqui negro tambm sofrer, sempre
trabalhar Empregado, Bab sempre
Pobre pessoa Branco sempre
superior. Novela igual mostra Pessoa
negro Pobre, ladro, mau.
AS2: negro empregado sofrer casa
pobre banheiro no ter. Negro rico no
ter. Empresa sempre branco.
Negro Brasil ladro porque negro
sofrer. Negro sempre trabalho
empregado negro e branco precisa
igual.
P g i n a | 1200
Neste exemplo os alunos conseguem passar o que abordado no texto da msica
Eu digo Jah Olodum. As questes do negro que o tema central da msica so bem
esclarecidas pelos alunos, entretanto, a intrprete precisou representar a datilologia da
maioria das palavras para que os alunos foco desta pesquisa conseguissem produzir o
texto. Tambm foi necessria a interveno da intrprete para que o texto, mesmo que
na estrutura da Libras, tivesse mais coerncia.
5. Consideraes finais
Com base no que foi exposto e na anlise dos dados, os resultados demonstram
que a criana ouvinte faz uso intuitivo das propriedades fonolgicas naturais de sua fala
interna porque a escrita do portugus est relacionada com a lngua oral auditiva e no
com a lngua visual espacial. Tal processo torna-se complexo no que diz respeito ao
surdo porque o portugus falado no sua lngua materna.
Com base nisso, na alfabetizao do sujeito surdo, de fundamental importncia
que o professor inicie este processo com atividades concretas sempre relacionando
palavra-sinal-objeto, pois os usurios da Libras fazem uso de um canal visual-espacial.
E a criana s inicia o aprendizado de uma lngua escrita aps dominar a lngua de
sinais ou a fala.
A escola, alm de se preocupar com a aquisio do sistema de escrita, deve
proporcionar atividades em que as prticas escritas possam fazer sentido tambm para o
aluno surdo. O professor deve propiciar atos de leitura e escrita por meio de atividades
significativas e contextualizadas.
Faz-se necessrio tambm repensar a avaliao, pois uma reflexo e definio
dos critrios de avaliao so fundamentais em uma educao consciente. Sem deixar
de considerar que o portugus uma segunda lngua. E o formato de prova tanto de
portugus quanto das demais disciplinas, tambm devem ser repensados, pois se
utilizam da leitura, escrita e compreenso textual. Alm disso, a correo onde o
professor atribui uma nota e devolve o material ao aluno, torna-se sem sentido. Os
alunos se beneficiaro mais se forem ajudados no momento que necessitam de tal ajuda,
ou seja, durante o processo de escrita, no recaindo toda responsabilidade para o
intrprete.
Deve-se disponibilizar a produo de material didtico que alcance as
especificidades dos estudantes surdos. importante, ainda, que estes participem de
atividades de expresso de opinio, de dramatizaes, de compreenso, de deduo
lgica, de produo escrita, etc. a tecnologia tambm pode ser uma aliada no uso
significativo do portugus por surdos como: mensagem de celular, facebook,
WhatsApp, etc. Percebermos como de extrema importncia e urgncia que medidas
sejam tomadas no sentido de promover uma verdadeira incluso escolar e alfabetizao
do aluno surdo, o que implica repensar os mtodos e rever as teorias e prticas de
ensino. No se pode esquecer das especificidades de cada sujeito.
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P g i n a | 1201
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P g i n a | 1202
ANGLICISMOS NO MUNDO DA MODA
NASCIMENTO, Juliana Ramos (PET-Letras/UFCG)
EULLIO, Marcela de Melo Cordeiro (PET-Letras/UFCG)
SANTOS, Cleydstone Chaves dos (DINTER NF UFSC/UFPB/UFCG )
Resumo: Tendo em vista a forte presena dos emprstimos lingusticos da lngua
inglesa na lngua portuguesa, atualmente, temos como objetivo analisar o uso de alguns
estrangeirismos no mundo da moda, observando se esses se tratam de anglicismos,
palavras oriundas do ingls reconhecidas pela maior parte dos falantes da lngua de
chegada, ou jarges, as palavras (em ingls ou no) restritas ao conhecimento de uma
rea especfica. Para tanto, baseamo-nos nas contribuies tericas Santos (2013),
Faraco (2001) e Carvalho (2009) sobre os estrangeirismos, bem como, Crystal (2005),
quem atribui ao ingls o status de uma lngua global. Para investigao do corpus,
utilizamos a ferramenta online O corpus do portugus, cuja busca por palavras ocorre
dentro de um contexto especfico, neste caso, no mundo da moda. Assim, pde nos
possibilitar, dentre os exemplos do nosso corpus, a identificao de trs palavras como
anglicismos e trs como jarges.
Palavras-chave: Lngua portuguesa; Lngua inglesa; Anglicismos; Jarges.
Abstract: Considering the strong presence of borrowings of the English language in the
Brazilian Portuguese language, currently, we aim at analyzing the use of some foreign
words in the fashion world, checking if these are anglicisms - english words recognized
for the majority of the speakers of a target language - or jargons, the words restricted to
the knowledge of a specific area. For that, it was used as theoretical framework Santos
(2013), Faraco (2001) and Carvalho (2009) about foreign words, as well as, Crystal
(2005), for the English status of global language. In order to look into the corpus, it was
used the online tool O corpus do portugus, whose search mechanisms allows to
identify words inside a specific context, in this case, in the fashion world. Thus, it
permitted the identification, among the instances in the corpus, three words as
anglicisms and three as jargons.
Keywords: Portuguese language; English language; Anglicisms; Jargons.
1. Introduo
O estrangeirismo o emprego de elementos de outras lnguas, na lngua de uma
comunidade, como, por exemplo, o portugus brasileiro, que tem forte influncia dos
emprstimos lingusticos derivados do ingls. Essas palavras derivadas do ingls podem
ser classificadas na nossa lngua de duas formas: jarges e anglicismos. Jarges quando
elas, por exemplo, so utilizadas em nossa lngua, mas em uma rea especfica, isto ,
so termos conhecidos apenas por um grupo. Enquanto anglicismos, elas so aquelas
palavras oriundas do ingls, mas que j foram incorporadas ao portugus pela maioria
dos falantes, sem que tais vocbulos fiquem restritos a um grupo social.
Com essa viso, essa pesquisa observa o uso de alguns emprstimos lingusticos,
no mundo da moda, para sabermos se os termos tratam-se de anglicismos ou jarges,
sob a tica de Santos (2013), Faraco (2001) e Carvalho (2009), os quais tem estudos
acerca de anglicismos, assim como, Crystal (2005) que considera o ingls uma lngua
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global. Assim, temos como objetivo analisar se alguns estrangeirismos utilizados no
mundo da moda podem ser classificados como anglicismos ou jarges.
2. Fundamentao terica
2.1. O ingls como lngua global
Conforme Eullio e Nascimento (2012), uma lngua passa a ser global quando
alm de ser falada como lngua materna passa a ser usada tambm como lngua
estrangeira em outros pases. Desse modo, lembramo-nos do ingls, que hoje ensinado
na maioria dos pases como primeira lngua estrangeira, principalmente, no tocante a
escola.
Alm da escola bsica, que oferece, normalmente, o ensino da lngua inglesa,
encontramos, por exemplo, no Brasil, diversas escolas de lnguas estrangeiras, onde a
demanda pela procura do ingls sempre maior. Nesses casos, percebemos que h uma
maior conscientizao dos pais que compreendem a necessidade do filho saber falar
ingls, e o matriculam na escola. Por isso, quando forados, os alunos tendem a ter mal
vontade para com a aprendizagem da lngua, e comeam a faltar aula para evit-la.
Entretanto, quando crescem, eles comeam a pensar em prestar o vestibular, concurso
seletivo, cujas lnguas estrangeiras exigidas so ingls ou espanhol. Logo, os alunos
arrependem-se por no terem estudado a lngua inglesa quando os pais queriam, e
voltam a estuda-la por si s, reconhecendo a importncia da mesma.
Contudo o ingls no tem estado no Brasil s como lngua estrangeira, pois se
percebermos existem diversos termos em nossa linguagem que querendo ou no so de
origem inglesa. Quando vamos ao shopping deparamo-nos com um local onde tem
vrias lojas, praa de alimentao, cinema, dentre outras coisas que denominado pela
palavra inglesa shopping que significa compras. Alm disso, se passamos na rua e
observarmos uma loja em promoo, veremos que na vitrine da mesma, ter,
possivelmente, o termo off para indica que os produtos esto mais baratos. Se formos
praa de alimentao do shopping alimentarmo-nos, encontraremos o Subway, Mc
Donalds, dentre outros restaurantes que no s possuem o nome ingls como tambm
tm origem americana. Isto , no s adquirimos diversas palavras inglesas para nosso
cotidiano, como tambm vemos uma certa influncia da cultura americana em nosso
pas, visto que os fast foods so comidas consideradas rpidas que economizam
tempo. Para que economizar tempo?
Para os Estados Unidos da Amrica, pode ser uma perda de tempo voc fazer um
almoo, por isso voc faz um lunch, termo esse que mesmo significando almoo para
eles, no deixa de ser para ns brasileiros lunch, j que o almoo deles fast foods.
Porm, esse costume de se alimentar com essa comida rpida j tambm do brasileiro,
que no s adquiriu os termos americanos, como tambm, foi influenciado por sua
cultura capitalista, a qual visa mais o dinheiro do que, propriamente, a sade. Sade essa
que necessita de um feijo, arroz, bife, dentre outros alimentos que possuem os
nutrientes, dos quais necessitamos.
Por fim, vale salientar que quando falamos dos termos de lngua inglesa
adquiridos pelo portugus brasileiro, estamos falando nada mais nada menos do que de
anglicismos, conceito esse que ser visto no prximo tpico.
P g i n a | 1204
2.2. Anglicismos e jarges
Segundo Faraco (2001), os estrangeirismos dizem respeito ao emprego de
termos de outra lngua na lngua de uma comunidade, como vimos no tpico anterior os
termos da lngua inglesa inseridos na lngua portuguesa falada no Brasil. Nesse caso, ou
seja, quando falamos de termos advindos da lngua inglesa, referimo-nos aos
anglicismos, cujo termo usado para nomear os estrangeirismos originados da lngua
em questo.
Conforme Carvalho (2009 apud EULLIO e NASCIMENTO, 2012), os
anglicismos podem entrar na lngua de chegada por diferentes canais, dentre os quais
podemos destacar algumas: o contato entre populaes que passam a conviver em um
mesmo territrio, o predomnio cultural de um pas ou de uma regio durante certa
poca, ou o poder econmico de uma nao, cujo poder instrumento tanto para o
desenvolvimento cientfico e tecnolgico como para a divulgao de sua lngua.
Observando as possibilidades acima, percebemos que a nossa realidade
assemelha-se ao ltimo caso, tendo em vista o fato de que nossos anglicismos advm
tambm dos Estados Unidos da Amrica, nao cujo capitalismo predomina e controla a
maioria das outras naes. Logo, compreensvel que essa influncia no se resuma
apenas a fatores econmicos, mas tambm lingusticos.
Contudo, existe outro termo utilizado para classificar os estrangeirismos
adquiridos por uma determinada lngua, como, por exemplo, a portuguesa. O termo em
questo : jargo. Tal palavra remete-se a estrangeirismos adquiridos por um grupo
social restrito. Em outras palavras, um grupo social, como, por exemplo, um grupo de
estilistas, possuem termos estrangeiros para nomear determinadas aes, objetos, ou
mesmo modos, que no so reconhecidos pelos demais grupos sociais que no
participam desse meio social. Assim sendo, vemos que o jargo pode excluir aquelas
pessoas que no compreendem determinado termo, como veremos na anlise presente
trabalho.
3. Metodologia
3.1. O corpus da pesquisa
O corpus da pesquisa formado por um conjunto de quatro termos comumente
utilizados no mundo da moda. A escolha de se investigar apenas 04 termos se deu em
virtude da quantidade de resultados que a ferramenta, corpus brasileiro, lista em suas
interfaces para cada termo pesquisado. O corpus, apresentado nesse trabalho,
composto pelas palavras look, jeans, cast, e blitz.
3.2. Instrumentos de pesquisa
P g i n a | 1205
A utilizao das ferramentas disponveis no corpus brasileiro, presente no site
possibiliaram denominar os termos como
jarges ou anglicismos atravs dos mecanismos de filtro para identificao das seguintrs
caractersticas dos termos pesquisados:
a)As ocorrncias de uso; b) Os contexto de uso;
c) Os contextos mais relevantes; d) Os sentidos alcanados pelos termos.
4. Discusso dos dados
Temos, ento, a anlise da descrio feita pelo Corpus do Portugus para os
termos look, jeans, Cast e Blitz. No caso de look, no portugus, a palavra utilizada,
normalmente, com o sentido de visual. Ao observarmos o termo look no corpus online,
verificamos 28 ocorrncias listadas pela ferramenta, as quais sero observadas,
detalhadamente, na figura posterior, para vermos se o sentido de visual, sendo o mais
utilizado no portugus brasileiro, aparece dentre os contextos identificados no quadro
01nos anexos.
Observando a figura nos anexos, identificamos trs usos para o termo look.
Inicialmente, ele entendido como visual, aparncia, imagem, etc, confirmando o
significado da palavra no contexto brasileiro como vemos nos exemplos presentes na
tabela a seguir:
Em 1947, o New Look criado por
Christian Dior (1905-1957),
estrelado por Madonna, o look da
primeira-dama argentina chega a
Salvador
todos a achariam sublime, pois ela tinha
o look dos anos 90 (visual/ estilo dos
anos 90),
Trana Nada de aquele look cool de
sempre
deve ter acreditado quando viu a ltima
coleo Dolce & Gabbana, inspirada em
o look mafioso (visual/ estilo mafioso),
bem recebido em o reduto de Itamar
Franco com o look motoqueiro de o dia
(estilo motoqueiro),
Tabela 01 Usos do termo look.
Nesses exemplos, pudemos observar a forte presena de look como visual,
embora, esse, apesar de ter sido o contexto mais frequente, no ter sido o nico
apresentado. No entanto, no segundo contexto, temos look como nome prprio nas
seguintes exemplos da tabela 02:
Dia 26 de junho vai ao ar a etapa gacha
do Elite Model Look 97 (nome de um
evento)
estive com Linda Evangelista escolhendo
as representantes de aquele pas para o
The Look of the Year (nome do evento)
a inspirao de Willie Mitchell, em o
encarte de o novo Don' t Look Back,
Look Back in Anger (1956) (nome de
pea), etc.
http://www.corpusdoportugues.org/x.asp
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Look Filmes (nome de editora),
Tabela 02 Outros usos do termo look.
Nesses casos, vimos a palavra aqui analisada como um componente do nome
prprio, embora sua nuance de visual ou aparncia permanea na maioria dos
contextos, como em The look of the year, no qual tal termo significa visual, o visual
do ano. Enfim, o termo em anlise ocorre em contextos gramaticais, nos quais so
explicados seus sentidos quando utilizado com outro verbo, como por exemplo em all
my brothers look like me, em que o verbo look junto com like possui o sentido de
parecer. Tambm mostra a formao de look com uma preposio, formando um verbo
frasal, visto na sentena In order to look at the world soberly, neste caso look at
quer dizer olhar para algo.
Contudo, ao compararmos o termo look com visual, equivalente no portugus
brasileiro, percebemos que a ferramenta online reconhece dois contextos, apresentados
no quadro 02 nos anexos. Ao observarmos a figura 2, temos o look na formao de
nome prprio e o look representando o termo visual. Porm, interessante lembrar algo
que j foi destacado: quando na formao do nome prprio, o termo em questo pode
tambm apresentar ou remeter-nos uma nuance do sentido de visual, como na sentena
o New Look criado por, em que look visual, j que nesse caso o que foi criado foi
uma nova imagem ou um novo visual. Em decorrncia disso, podemos considerar o
termo look, um anglicismo, uma vez que, na maior parte dos contextos observados at o
momento, tal palavra apresenta-nos o sentido reconhecido pelos brasileiros: O look (o
visual).
No que diz respeito ao termo jeans, no portugus brasileiro essa forma lexical j
frequentemente utilizada, referindo-se a um tipo de roupa ou tecido, sendo esses seus
usos mais recorrentes no dia-a-dia, dado que pode ser comprovado no quadro 03 nos
anexos.
Ao vermos o quadro 03 nos anexos, percebemos, inicialmente, que a ferramenta
elenca 15 ocorrncias, para as quais iremos observar, detalhadamente, ainda na figura, o
sentido da palavra destacada, um tipo de roupa, no portugus brasileiro aparece dentre
os contextos apresentados.
Ao analisarmos tais resultados, percebemos trs contextos em que o termo jeans
marca sua presena: inicialmente, tal termo aparece nomeando um fenmeno natural,
nos exemplos seguintes, como mostra a tabela 03:
a massa da nuvem deve ser maior do que uma massa crtica
denominada massa de Jeans, que indicada em funo da
densidade e da temperatura,
Substantivao
do termo o que faz com que estes atinjam a condio de Jeans.
para a condio de Jeans ser satisfeita e a contrao da estrela ter
incio, a nuvem de poeira deve
Tabela 03 Usos do termo jeans.
P g i n a | 1207
Posteriormente, o termo apresenta-se como um tipo de roupa, o jeans dirio do
contexto brasileiro, como notvel nas sentenas: cala de plstico (cueca de plstico
impermevel para beb), Jeans e cala de golfe, Originrio de Frana (derivando da
designao de Nmes) usado em jeans, bluses e jardineiras, a roupa desportiva e
os jeans, Os jeans tornaram-se uma das mais abrangentes modas de sempre,
Os jeans tornaram-se um dos cones da cultura popular contempornea, por vezes
com a roupa de todos os dias, por cima de jeans justos ou collants opacos, incluam
vrios modelos de jeans (sendo o mais famoso o justo), galochas de vrias cores,
camisetas, a linha Le Joseph , especializada em peas de ganga (jeans e bluses)
e Foi nessa dcada que os seus jeans assinados se tornaram um smbolo de estatuto.
No ltimo contexto, temos o termo analisado, representando nome prprio, visto
nas sentenas: esta equao seria corrigida em 1905 por James Jeans e possuindo
diversas linhas, como por exemplo, Tenente Mar e Tenente Jeans. Com essa
percepo dos contextos apresentados pelo corpus online, tentamos, em seguida,
observar se a ferramenta online reconhece o termo roupa, do Portugus Brasileiro,
como termo equivalente de Jeans, do Ingls. Assim, podemos ver na figura seguinte o
resultado apresentado pela ferramenta.
Observando a figura anterior, podemos observar uma breve comparao feita
pela ferramenta do corpus do portugus. Para ser feita a comparao com jeans,
utilizamos a palavra roupa, que o equivalente do termo em anlise no portugus
brasileiro. Lendo os contextos, mostrados na figura, notamos que jeans foi utilizado
apenas como roupa, assemelhando-se ao sentido reconhecido pelos brasileiros, como
vemos no exemplo cala de plstico (cueca de plstico impermevel para beb) Jeans
e cala de golfe, em que identificamos, claramente, que o jeans est entre os outros
tipos de roupa citados, so eles: cala de plstico e cala de golfe. Em decorrncia do
reconhecimento do termo apresentado pela ferramenta online, como uma palavra
incorporada lngua portuguesa, consideramos que jeans, um anglicismo.
Concernente ao termo cast, ele conhecido como elenco, em especial no
universo do cinema, no entanto, na rea da moda o temo usado para designar os
modelos escolhidos para desfilar. Em alguns contextos o uso ser diferente de Casting,
que designa a seleo de tops para os desfiles, mas tambm pode ser usado como
Figura 01: Comparao de jeans com roupa.
P g i n a | 1208
sinnimo ou uma abreviao desse ltimo. Com relao presena desse termo no
corpus, temos a descrio feita pela ferramenta na imagem abaixo. Vejamos:
Observando a figura 02, percebemos que a ferramenta elenca oito ocorrncias
para o termo Cast. Dentre essas ocorrncias, h trs usos diferentes apresentados para o
termo em questo. Majoritariamente, est presente o uso do termo como nome prprio,
nos seguintes casos: 149 Porto 103 Aveiro 91 Braga 36 Leiria 34 Setbal 33 Coimbra
13 Viseu 10 Cast, Cast Away/O Nufrago (2000), Cast Away/O Nufrago (2000)
e Out Cast of Islands, referente s ocorrncias 2, 5, 6, e 7, respectivamente. Por outro
lado, o uso como nome comum, o corpus lista duas ocorrncias, dente essas uma faz
referencia a castidade, um acto torpe contra a cast dade depois de protestar que nunca
tal cometera, o que no se aproxima do sentido mais usual de cast.
Com relao ltima das ocorrncias, percebemos que alm do termo cast ser
utilizado no sentido de elenco, ele faz meno ao uso no mundo cinematogrfico, como
em o "cast no fica atrs. ao todo participam nesta pelcula quinze actores e de o
enorme cast de o filme de Altman- ocorrncias 3 e 4, respectivamente-, e ao universo
dos leiles de animais, como em Esse cast foi composto por descendentes de animais
como Moleque Tabatinga, Santana Nababo, Abaiba Gim (ocorrncia 1).
Nessa ltima ocorrncia, podemos fazer uma ligao com o universo da moda,
se considerar os animais que formam o cast dos leiles ou das exposies como os
modelos do evento, essa comparao pode soar estranha, porm nesses eventos eles, os
animais, acabam fazendo uma espcie de desfile para os compradores que se fazem
presentes. Nas figuras a seguir h uma comparao da palavra pesquisada com o seu
equivalente do portugus brasileiro do mundo da moda, elenco, isto considerando
elenco como os modelos do escolhidos para o desfile. Porm, ao fazer essa comparao
a ferramenta separa as devidas ocorrncias:
Figura 02: Lista de contextos apresentados para o termo cast.
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Comparando ambas as figuras, percebemos que a ferramenta online reconhece a
palavra elenco como equivalente de cast, no entanto restringe-se ao universo do cinema
e no ao da moda. J que traduzimos Cast of Thousands(ocorrncia 5) como Elenco
de milhares. Assim, aps termos termos pesquisado o termo cast podemos considera-lo
como um jargo do mundo da moda, j que no encontramos nenhuma referencia a esse
sentido no corpus.
Enfim, quanto ao termo blitz, de acordo com o dicinrio Aurlio, refere-se a uma
batida policial de improviso, o que compreende ao sentido que nos brasileiros temos
mais conhecimento. Tambm faz parte do conhecimento de mundo dos brasileiros o
nome de uma banda de rock nacional dos anos 1980, cujo nome Blitz. J em relao
rea da moda, blitz so aes ou paradas rpidas de distribuio de folhetos
publicitrio,brindes ou promoes, ela acontece da seguinte forma: vrios modelos vo
para um determinado local (casa noturna,praia,shopping,etc.) fazem distribuio do
material e seguem para outro local, determinado pelo cliente, at o encerramento do
trabalho; que geralmente dura 6 horas.
Percebemos, ento, que essa blitz no assemelha-se ao primeiro sentido
exposto acima, pois no primeiro caso trata-se de uma ao rpida e sem aviso, j que o
objetivo da rea policial desmascarar as inrregularidades, j na rea da moda se
considerarmos a importancia da divulgao para esse meracdo, quanto mais divulgado
for dessas paradas, melhor ser para a empresa. Considerando esses sentidos
ivestigaremos as ocorrncias de uso apreserntadas pela ferramenta online, como se pode
verificar nas figuras abaixo:
Figura 03: Termo cast da ocorrncia 5 em comparao com o termo elenco.
Figura 04: Termo elenco, ocorrncia 2, como equivalente de cast.
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Na figura acima percebemos que a ferramenta dispe de quatro ocorrncias de
uso do termo blitz, na seco acadmica. Dentre as quatro ocorrncias de uso reveladas
percebemos, inicialmente o uso do termo apenas como nome prprio, dos quais temos a
primeira ocorrncia a banda Blitz que faz meno a banda de rock nacional; as
ocorrncias seguintes, A abreviatura Blitz aplicada ao bombardeamento macio de
Londres pela fora area alem, Estima-se que durante o Blitz tero morrido 40 000
civis e ficado feridos 46 000 e e os bombardeamentos nocturnos do Blitz, fazem
referencia ao perodo da segunda guerra mundial denominado como blitz, na qual o
alemes lanaram sobre Londres um ataque areo, caracterizada pela rpidez a
campanha militar foi denominada como Blitzkrieg, do qual Blitz abreviatura.
Nas ocorrncias de sentido apresentadas acima, temos expressa o uso do termo
blitz como nom