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   Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na A mérica Latina  “Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro”  ISSN 2177-9503  10 a 13/09/2013 GT 10. Teoria política marxista  127 GT 10. Teoria política marxista O capital como sujeito na teoria marxiana ou como o capital se torna sujeito Hélio Ázara de Oliveira  Resumo: A presente comunicação trata de dois elementos essenciais do conceito marxiano de “capital como tal” ou “capital em geral”: 1) O primeiro desses elementos diz respeito ao modo pelo qual o capital chega a ser sujeito de seu processo de constituição e autovalorização. Veremos que para que o capital seja elevado a sujeito ele deve, como  valor, “diferenciar-se de si mesmo” e “suspender esta diferenciação”, tornando -se um processo (G. p. 206) 1 . É seu caráter processual aliado à condição de ser ele mesmo o que  põe  as determinações que o constituem como tal que faz do capital um sujeito. 2) O segundo elemento a ser destacado é a uso por parte de Marx da lógica hegeliana da relação para estrutur ar o seu conceito d e capital como tal. Procurarem os demonstrar em que consiste a relação determinada  que o capital deve estabelecer com o seu  outro, o trabalho ou a força de trabalho, único modo pelo qual pode o capital se valorizar. Neste intuito analisaremos a segunda seção de O capital , sempre confrontando-a com a linguagem mais especulativa utilizada por Marx nos Grundrisse  e que nos remete às fontes filosóficas nas quais Marx banha o núcleo de sua teoria do capital. Partimos, portanto, da definição de capital como valor que produz mais-valor, ou que se autovaloriza. Palavras-chave: Capital; relação; dialética marxista I. O sujeito-capital A seção II de O capital      A transformação do Dinheiro em Capital     composta de um único capítulo, inicia-se já pela fórmula geral do capital (D-M-D) que traz consigo os  pressupostos históricos da produção e circulação desenvolvida s de mercadorias 2 . Marx  Doutor em Filosofia pela Unicamp e professor de Filosofia da UFCG. [email protected] 1  As referências ao texto dos Grundrisse se abreviam com a letra G, seguida da paginação da  Marx e Engels Werke, Band 13, Dietz Verlag Berlin , 1969. As citações de O Capital serão feitas pelas abreviações: K , seguido da numeração romana para o Livro, e da paginação em arábicos da  Marx e Engels Werk XXIII, Berlin: Dietz Verlag, 1962. A edição brasileira da Abril Cultural será abreviada por C  , seguido do Livro em numeração romana e da paginação em arábicos. 2 “Cada novo capital pisa em primeira instância o palco, isto é, o mercado, mercado de mer cadorias, mercado de trabalho ou mercado de dinheiro, sempre ainda como dinheiro, dinheiro que deve transforma-se em capital por meio de determinados processos” ( K , I, p.161; C, I, p. 125).

01. Conceito de Capital

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    GT 10. Teoria poltica marxista 127

    GT 10. Teoria poltica marxista

    O capital como sujeito na teoria marxiana ou como o capital se torna sujeito

    Hlio zara de Oliveira

    Resumo: A presente comunicao trata de dois elementos essenciais do conceito marxiano de capital como tal ou capital em geral: 1) O primeiro desses elementos diz respeito ao modo pelo qual o capital chega a ser sujeito de seu processo de constituio e autovalorizao. Veremos que para que o capital seja elevado a sujeito ele deve, como valor, diferenciar-se de si mesmo e suspender esta diferenciao, tornando-se um processo (G. p. 206)1. seu carter processual aliado condio de ser ele mesmo o que pe as determinaes que o constituem como tal que faz do capital um sujeito. 2) O segundo elemento a ser destacado a uso por parte de Marx da lgica hegeliana da relao para estruturar o seu conceito de capital como tal. Procuraremos demonstrar em que consiste a relao determinada que o capital deve estabelecer com o seu outro, o trabalho ou a fora de trabalho, nico modo pelo qual pode o capital se valorizar. Neste intuito analisaremos a segunda seo de O capital, sempre confrontando-a com a linguagem mais especulativa utilizada por Marx nos Grundrisse e que nos remete s fontes filosficas nas quais Marx banha o ncleo de sua teoria do capital. Partimos, portanto, da definio de capital como valor que produz mais-valor, ou que se autovaloriza. Palavras-chave: Capital; relao; dialtica marxista

    I. O sujeito-capital

    A seo II de O capital A transformao do Dinheiro em Capital composta de um

    nico captulo, inicia-se j pela frmula geral do capital (D-M-D) que traz consigo os

    pressupostos histricos da produo e circulao desenvolvidas de mercadorias2. Marx

    Doutor em Filosofia pela Unicamp e professor de Filosofia da UFCG. [email protected] 1 As referncias ao texto dos Grundrisse se abreviam com a letra G, seguida da paginao da Marx e Engels Werke, Band 13, Dietz Verlag Berlin, 1969. As citaes de O Capital sero feitas pelas abreviaes: K, seguido da numerao romana para o Livro, e da paginao em arbicos da Marx e Engels Werk XXIII, Berlin: Dietz

    Verlag, 1962. A edio brasileira da Abril Cultural ser abreviada por C, seguido do Livro em numerao

    romana e da paginao em arbicos.

    2Cada novo capital pisa em primeira instncia o palco, isto , o mercado, mercado de mercadorias, mercado de trabalho ou mercado de dinheiro, sempre ainda como dinheiro, dinheiro que deve transforma-se em capital por

    meio de determinados processos (K, I, p.161; C, I, p. 125).

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    distingue com extremo cuidado o circuito prprio do capital (D-M-D) daquele circuito da

    circulao simples (M-D-M), mostrando sempre a diferena especfica da circulao

    capitalista. A primeira e mais evidente diferena seria aquela formal e que diz respeito ao

    movimento que percorre o dinheiro em cada ciclo. O vender para comprar (M-D venda, D-

    M compra) e o comprar para vender (D-M, M-D) tm em comum as fases opostas percorridas

    por ambos, mas se diferenciam pelos extremos de que partem e a que chegam. Se a

    mercadoria, como valor de uso, ponto de partida e de chegada da circulao M-D-M, o

    dinheiro, por seu lado, o ponto de partida e de chegada da circulao do dinheiro como

    capital. Na circulao simples o valor de uso, a satisfao de necessidades o objetivo final

    (Endzweck) de toda a circulao; o circuito do capital, ao contrrio, parte do valor de troca na

    forma3 do dinheiro e a este retorna, ou seja, seu motivo indutor e sua finalidade

    determinante no esto no valor de uso ou na determinao qualitativa da satisfao de

    necessidades, antes deve ser buscado em uma alterao quantitativa, tornando insosso e sem

    contedo o processo que no implique em acrscimo de valor ao final4. Por isso sua frmula

    caracterstica D-M-D. Assim o processo que constitui o capital como sujeito, que o faz

    senhor dos movimentos que o constituem e o fazem crescer, e, nesta medida, o faz pr, a

    partir de si mesmo, as condies de sua prpria autonomia, este processo tem seu motivo

    indutor e finalidade no movimento sem fim do aumento quantitativo ou da valorizao. Assim

    conclui Marx: a circulao do dinheiro como capital [...] uma finalidade em si mesma, pois

    a valorizao do valor s existe dentro desse movimento sempre renovado. Por isso o

    movimento do capital desmedido (Malos) (K, I, p. 167; C, I, p. 129).

    Retornemos noo inicial do capital como valor que se valoriza. Agora sabemos que

    este processo tende ao automatismo, uma vez que a finalidade determinante do valor a sua

    valorizao, e, mais ainda, caso o dinheiro se subtraia deste processo, este passa

    imediatamente a tesouro ou gasto como dinheiro, mas deixa, por esta subtrao do processo,

    de ser capital. Capital , portanto, valor que a si mesmo se valoriza. Ainda no nos ocupou o

    modo determinado desta valorizao, isto , ainda no descobrimos o segredo do mais-valor,

    esse a mais que o capital desmesuradamente busca como finalidade sua. Vejamos ainda por

    um momento a valorizao como movimento interno ao capital, ainda sem se referir ao seu

    outro, a fora de trabalho, substncia do valor.

    Tomando o capital ainda apenas sob a determinao inicial de ser valor que se

    valoriza, Marx estiliza a relao privada consigo mesmo do valor que produz mais-valor

    utilizando-se metaforicamente da controvrsia que dividiu a cristandade em incios do sculo

    3 (K, I, p.164; C, I, p.127). 4 Esse incremento, ou o excedente sobre o valor original, chamo de mais-valor (Surplus value). O valor originalmente adiantado no s se mantm na circulao, mas altera nela a sua grandeza de valor, acrescenta

    mais-valor ou se valoriza. Esse movimento transforma-o em capital (K, I, p.165; C, I, p. 128).

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    terceiro depois de cristo. L e ento, o que preocupava aos telogos era como conciliar duas

    personas coexistindo no interior da mesma substncia divina, sem que isso rompesse a

    unidade e imutabilidade do conceito judaico-cristo de deus. Para isso foi preciso estabelecer

    a relao do pai com o filho como de eterna gerao de um pelo outro. Na irnica referncia

    de Marx frmula do conclio de Nicia, o valor que se torna capital como deus pai, uma

    substncia original, valor original que sem romper com sua unidade substancial se distingue

    de si mesmo, como o filho se distingue do pai e forma uma outra persona, e se torna mais-

    valor, o qual, tal como deus filho, produto de uma alterao de forma dentro da substncia

    que o compe, um novo valor, um a mais consubstancial com o valor original5. O valor

    deve assumir as formas dinheiro e mercadoria para se tornar capital. Ele deve passar por estas

    formas como por fases de seu automovimento e no final se alterar quantitativamente. S

    assim, aumentando seu valor inicial, chega a ser capital. Por isso Marx subverte a frmula

    cristolgica. Pois na frmula conciliar a gerao do filho apenas o que est em questo, e o

    pai no gerado pelo filho, como na hertica proposio de Marx. O Capital subverte a

    metfora para ser fiel ao conceito, diferente de deus pai, congelado em sua unidade e

    imutabilidade, o valor original apenas chega a ser capital por meio do mais-valor, que seu

    filho, consubstancial com ele, mas este que o faz capital. O pai gerado pelo filho, ou ainda

    melhor, o valor apenas chega a ser capital por meio do movimento incessante e sempre

    renovado da criao de mais-valor. Na hertica cristologia de Marx, o pai apenas chega a ser

    si mesmo por meio do filho, ou por meio do movimento incessante de posio do filho. O

    valor fora deste movimento reiterado de produo de mais-valor qualquer outra coisa,

    menos capital. Capital valor em processo.

    Neste processo, as formas que o valor assume, dinheiro e mercadoria, funcionam

    apenas como modos diferentes de existncia do prprio valor (K, I, p. 168; C, I, p.130). Se

    na circulao mercantil simples as metamorfoses do valor tinham como finalidade ltima a

    satisfao de necessidades ou o valor de uso, agora o valor como processo inicia a partir de si

    mesmo e pe ele mesmo as condies de sua prpria metamorfose, ou nas palavras de Marx:

    ele passa continuamente de uma forma para outra, sem perder-se neste movimento, e assim

    se transforma num sujeito automtico (K, I, p.169; C, I, p.130). Ser sujeito aqui significa

    antes de tudo por a partir de si mesmo o movimento de sua mudana de grandeza, sua

    passagem de mercadoria e desta retornar a dinheiro acrescido de mais-valor, ser sujeito ser

    senhor de seu processo de constituio e perpetuao, , por assim dizer, pr-se de p a partir

    de si mesmo, se auto-constituir como autnomo. A valorizao do valor como processo

    compe uma finalidade em si mesma, e constitui a autonomia deste sujeito, e completa Marx:

    5 Deus pai seria o D inicial (do circuito D-M-D) e o filho seria o D. Ambos tem a mesma OUSIA e no uso de Marx da metfora, a gerao de um imediatamente gerao do outro.

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    De fato, porm, o valor se torna aqui o sujeito de um processo em que ele, por meio de uma mudana constante das formas de dinheiro e mercadoria, modifica a sua prpria grandeza, enquanto mais-valor se

    repele de si mesmo enquanto valor original, se autovaloriza. Pois o movimento, pelo qual ele adiciona

    mais-valor, seu prprio movimento, sua valorizao, portanto autovalorizao (K, I, p. 169; C, I, p.

    130).

    Partimos da definio inicial do capital como valor que se valoriza e chegamos ao

    capital como sujeito de seu processo de constituio e multiplicao. Mas o capital no

    apenas sujeito automtico, ele igualmente sujeito usurpador (bergreifende Subjekt) do

    processo de sua produo e valorizao. O qualificativo usurpador j nos remete a outra

    determinao do capital, a saber, a sua determinao como relao, isto , entender o capital

    como usurpador implica diretamente estudar sua relao determinada de produo e

    valorizao. Ao passar a estudar o capital como relao necessitamos determinar de sada qual

    o outro relato, ou, mais precisamente, qual o outro do capital.

    II - A relao-capital

    Valor que por meio de sua ao, a saber, de sua autovalorizao, se torna uma

    substncia em processo e semovente capital. Na frmula geral do capital (D-M-D) o valor

    que sujeito segue seu passar de uma forma a outra, assume a forma de dinheiro, de um lado,

    e de mercadoria, de outro. Mas agora o contedo deste movimento dado pela

    autovalorizao do valor. O dinheiro que reflui ao final deve ser uma grandeza superior ao

    que inicia o processo, ou o valor inicial deve ter se autovalorizado. O esforo de Marx no

    decorrer da breve Seo II de O Capital vai no sentido de afastar a hiptese de o comrcio ou

    a circulao de mercadorias serem entendidos como fonte de valor e afastar a noo de que o

    a mais que resulta da autovalorizao seja entendido como quebra da lei de equivalncia

    entre as mercadorias. O mais-valor, em sua pureza, no pode advir de uma venda acima do

    preo ou de qualquer no-equivalncia restrita ao comrcio6.

    Marx se esfora por enfatizar o aspecto real e necessrio da troca de equivalentes, no

    atribuindo circulao a produo do valor que transforma o dinheiro em capital. No a

    circulao como metamorfose de mercadorias, ou o engodo mtuo a fonte do mais-valor.

    Contudo o mais-valor no pode advir de outra fonte, pois tudo o que conhecemos nesta esfera

    de que parte O Capital so possuidores e trocadores de mercadorias. Ainda no nos foi

    apresentada nenhuma outra esfera alm daquela da circulao, fora dela o que h o valor de

    uso, ligao de produtores com suas prprias mercadorias. Fora da circulao o valor das

    mercadorias no pode se realizar e menos ainda gerar um a mais, um mais-valor7. preciso

    6 A formao de mais-valor e da a transformao de dinheiro em capital no pode ser, portanto, explicada por venderem os vendedores as mercadorias acima do seu valor, nem por os compradores as comprarem abaixo de

    seu valor (K, I, p. 175; C, I, p.135). 7 Capital, no pode, portanto, originar-se da circulao e, tampouco, pode no originar-se da circulao. Deve, ao mesmo tempo, originar-se e no se originar dela (K, I, p.170; C, I, p.138).

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    manter-se na esfera da circulao, desenvolver o princpio de equivalncia, pois o dinheiro

    para se tornar capital deve assumir a forma de mercadoria para se retransformar em dinheiro

    acrescido de mais-valor. preciso que o valor passe pelas fases opostas compra e venda, para

    que o valor se valorize. Isto deve ocorrer na esfera da circulao, mas nestas mudanas de

    forma algo deve ocorrer por trs de suas costas e que nela mesma (circulao) invisvel

    (K, I, p.179; C, I, p.137).

    Retomemos o fio da meada da valorizao do valor. Para se tornar capital o dinheiro,

    forma autnoma do valor8, ou forma por meio da qual sua identidade consigo mesmo

    constatada, o dinheiro deve para se tornar capital encontrar no mercado capitalista uma

    mercadoria especial, ou como diz Marx: seu possuidor (de dinheiro) deve ter a sorte de

    descobrir dentro da esfera da circulao, no mercado, uma mercadoria cujo prprio valor de

    uso tivesse a caracterstica peculiar de ser fonte do valor (K, I, p.181; C, I, p.139). preciso

    que no primeiro ato de seu processo interno de valorizao D-M que o proprietrio do

    dinheiro compre o direito ao uso desta mercadoria especial que a fora de trabalho9.

    , portanto, por meio da compra desta mercadoria especfica, que para ser ofertada no

    mercado encobre atrs de si uma Histria Mundial (Weltgechichte), que o capital estabelece

    a si mesmo como relao, ou por meio desta incorporao que ele fixa o seu outro e se torna

    sujeito usurpador. Essa incorporao Marx a chama, utilizando-se da linguagem da Lgica do

    Conceito hegeliana, subsuno, primeiro formal e depois real do trabalho sob o capital. A

    estes dois modos da subsuno correspondem a sees III e IV de O capital, que no

    analisaremos aqui. Por ora apenas destacamos o carter relacional do prprio capital. Capital

    relao e como diz Marx:

    A Natureza no produz de um lado possuidores de dinheiro e de mercadorias e, de outro, meros

    possuidores das prprias foras de trabalho. Essa relao no faz parte da histria natural nem

    tampouco social, comum a todos os perodos histricos. Ela mesma evidentemente o

    resultado de um desenvolvimento histrico anterior, o produto de muitas revolues

    econmicas, da decadncia de toda uma srie de formaes mais antigas da produo social

    (K, I, p.183; C, I, p. 140).

    O capital apenas chega a ser si mesmo por meio de sua relao com o trabalho

    assalariado. Mas esta relao uma especificidade do mundo moderno e encerra uma relao

    de poder e dominao sob a face pacfica da coao apenas econmica ao trabalho. Antes

    de analisar a subordinao do trabalho ao capital preciso que recorramos aos Grundrisse a

    8 um fato histrico que o dinheiro a primeira forma na qual o valor de troca adota a caracterstica de capital. G, p. 171. 9 Por fora de trabalho ou capacidade de trabalho entendemos o conjunto das faculdades fsicas e espirituais que existem na corporalidade, na personalidade viva de um homem e que ele pe em movimento toda vez que

    produz valores de uso de qualquer espcie (K, I, p.181; C, I, p. 139).

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    fim de elucidarmos o ponto de vista de Marx sobre esta relao que determina a subjetividade

    do capital.

    Vimos que o valor, como capital, chega a ser sujeito porque na circulao do dinheiro

    como capital este que pe a partir de si as condies de sua prpria constituio e de sua

    ampliao. Na seo correspondente nos Grundrisse a este tema, a primeira determinao do

    capital que aparece a sua autoconservao ou a de ser valor de troca que se conserva e se

    perpetua na circulao e mediante ela (G, p. 173). Diferente da circulao simples que uma

    mera metamorfose de mercadorias que se esvai ao seu termo no consumo, o capital em sua

    circulao, que seu automovimento de produo de si, no perde sua substncia, antes se

    transforma sempre em outras substncias, se realiza em uma totalidade das mesmas (G, p.

    172). A substncia do capital no se perde ao mudar da forma do dinheiro para aquela da

    mercadoria, antes em cada forma o que se esconde a prpria substncia de valor, ser

    trabalho objetivado. O primeiro movimento da circulao D-M no gasta o capital, antes o faz

    passar a forma de mercadoria, matria prima, fora de trabalho, meios de produo, etc., mas

    o capital no perde tampouco sua determinao formal seno que a mantm em cada uma

    das diferentes substncias seu identidade consigo mesmo. Permanece sempre como dinheiro e

    como mercadoria (Idem). O capital no se confunde com suas formas, mas passa por elas

    como modos unilaterais de sua existncia, se torna mercadoria, se torna dinheiro, mas sem se

    esquecer neste movimento que ele no este ou aquele momento, antes o todo dessa relao

    determinada por ele entre dinheiro e mercadoria. Em cada momento ele representa os dois

    momentos que na circulao desaparecem um no outro (Ibidem).

    Conforme avanamos na reconstituio das categorias que compe o conceito

    marxiano de capital dever ficar patente que o capital relao. Capital no nem apenas

    dinheiro, nem apenas mercadoria, antes sua relao determinada, e nesta relao a cada vez

    que se apresenta uma de suas formas, dinheiro ou mercadoria, ele mesmo a relao ideal

    sua outra forma ou faz sempre dinheiro se referir a mercadoria e mercadoria a dinheiro10. Pois

    s como ciclo11 ininterrupto de trocas que se renovam esto dadas as condies da relao-

    capital.

    Mas o valor que se tornou autnomo no pode apenas se conservar em seu

    automovimento, ele precisa, como uma condio para ser capital, ser acrescido de um mais-

    valor ou se valorizar. E sua valorizao, seu acrscimo de valor apenas pode provir do

    10 O valor de troca como sujeito se pe ora como mercadoria, ora como dinheiro, e que justamente o movimento consiste em se pr nesta dupla determinao, e que conserva-se em cada uma das formas como sua contrria, na

    mercadoria como dinheiro, no dinheiro como mercadoria (G, p.177). 11 Melhor dizendo: uma linha em espiral, uma curva que se amplia, no um crculo. (G, p. 177).

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    resultado obtido na primeira compra D-M, e mais especificamente do valor de uso da

    mercadoria comprada no mercado. preciso analisar este ponto de partida12. Por meio dele o

    valor inicial no apenas se conserva em sua identidade consigo, antes se reproduz a si mesmo

    como um processo.

    Dissemos que capital relao. Vejamos a partir dos Grundrisse as determinaes

    simples contidas na relao entre capital e trabalho. Veremos como esta relao se determina

    como oposio, ou usando uma linguagem da Cincia da Lgica hegeliana que est na base

    destas determinaes reflexivas, trata-se de uma relao na qual o diferente no tem frente a

    si o Outro em geral, mas seu Outro, isto , cada um tem sua prpria determinao s na sua

    relao ao outro; s refletido sobre si enquanto refletido no Outro, e o Outro, do mesmo

    modo, cada um assim seu Outro do Outro 13. como oposio que fixa os plos ou os

    relatos como positivo e negativo especficos um do outro que o capital deve ser entendido,

    neste sentido que se define como relao-capital, que determina seu outro como

    especificamente diverso, como trabalho assalariado. Este o sentido desta passagem dos

    Grundrisse:

    A primeira pressuposio consiste em que de um lado esteja o capital e de outro o trabalho, ambos como figuras autnomas e contrapostas, ambos, pois, tambm como reciprocamente alheios. O

    trabalho que se contrape ao capital o trabalho alheio, e o capital que se contrape ao trabalho

    capital alheio. Os extremos aqui confrontados so especificamente diversos (Verschieden) (G, p. 177).

    O capital se ope como valor de troca ao trabalho como valor de uso, mas o valor de

    uso aqui no est materializado ainda em uma coisa, ou como diz Marx: no existe

    realmente, seno apenas como possibilidade, como capacidade desse trabalhador (G, p. 178).

    , como sabemos, sua fora de trabalho e no seu trabalho o que vendido ao capital. Na

    relao-capital estes plos esto em relao recproca, de um lado capital, como valor de

    troca, de outro, o trabalho como valor de uso. Como mostram as teses de Theunissen e

    Grespan todo esse movimento argumentativo de Marx est amplamente ancorado na

    linguagem da Cincia da Lgica, mais especificamente no captulo segundo do Livro II, A

    Lgica da Essncia, intitulado As Essencialidades ou Determinaes da Reflexo. Nos

    apropriamos aqui das teses referidas14. E de fato, Marx contrasta a relao entre capital e

    trabalho com a circulao simples neste momento de sua exposio para determinar o trabalho

    12 O valor de troca apenas se pe a si mesmo como valor de troca enquanto se valoriza, vale dizer, aumenta seu valor. O dinheiro (enquanto sado da circulao e tornado a si mesmo) perdeu como capital sua rigidez e se

    transformou de coisa palpvel em um processo (G, 174, grifos do autor). 13 Enciclopdia das Cincias Filosficas, I, A Cincia da Lgica, 119, grifos do autor. 14 Trata-se do texto seminal de Theunissen: Krise der Macht Thesen zur Theorie des dialektishcen Widerspruchs -, publicado no Hegel Jahrbuch em 1974. Embora no sejam exatamente coincidentes os pontos de

    vista de Theunissen e de Grespan, podemos dizer que parte destas teses se acham incorporadas, em estado

    prtico, na tese de Grespan publicada como livro sobre o Ttulo O Negativo do Capital e criticamente avaliadas no j clebre artigo A dialtica do avesso de 2002.

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    com o diferente do capital. Se na circulao simples a alternncia de formas faz deste

    movimento evanescente e que tem na satisfao de necessidades seu termo, ela tambm

    impede que sejam fixados os plos valor de uso e valor de troca, pois em ambos os plos o

    que se tem no fim e ao cabo meras mercadorias, por isso, a diferena s existe como

    distino superficial, como diferenciao puramente formal (G, p. 179). A questo ento

    passa a ser definida como necessidade de estabelecer qual o diferente do valor tornado

    autnomo.

    O valor de troca, como lado da relao, deve se contrapor no ao valor de uso em

    geral, mas a um valor de uso determinado por ele mesmo, isto , no um outro qualquer

    mas seu outro. Ele capital por ter o poder15 de determinar o seu outro. Se o capital valor

    que se valoriza, a utilidade que este determina deve se relacionar com esta sua capacidade de

    se reproduzir, assim a nica utilidade que um objeto em geral pode ter para o capital,

    conservar ou aumentar este (G, p. 181). Conhecemos de antemo a soluo do enigma: o

    nico diferente do trabalho objetivado o no objetivado, que ainda est se objetivando,

    trabalho como subjetividade (G, p. 183)16. Ou ainda mais claramente: o nico valor de uso,

    pois, que pode constituir uma oposio ao capital o trabalho produtivo17 (Idem).

    O capital apenas se ope a seu outro como um outro determinado, posto pelo capital

    com o objetivo de se autoconstituir ou se autovalorizar, uma vez que o capital apenas chega a

    ser o que por uma caracterstica essencial: o capital no conhece limites. Antes ele mesmo

    como quantidade limitada est sempre em contradio com sua qualidade de superar limites,

    ou mais precisamente, em tornar seus limites em barreiras e assim os superar. Conforme a

    sua natureza, pois, tende a superar sua prpria barreira (G, p. 181). Este o trao

    caracterstico da subjetividade do capital. Em nossa tese de doutorado procuramos mostrar

    que Marx se utiliza da caracterizao hegeliana da infinitude da vontade, entendida como

    princpio determinante da subjetividade moderna, para estilizar a subjetividade prpria do

    capital18. Assim Marx faz com que esta possibilidade absoluta de poder abstrair de toda

    15 O capital tem o poder de subordinar a si o seu outro, subordinao formal e real, e que faz de seu outro um

    elemento interno, um momento da totalidade em que se constitui o capital. 16 Completa Marx: Ou tambm, o trabalho objetivado, vale dizer, como trabalho existente no espao, se pode contrapor enquanto trabalho passado ao existente no tempo. Porquanto deve existir como algo temporal, como

    algo vivo, s pode existir como sujeito vivo, no que existe como faculdade, como possibilidade, por isso como

    trabalhador (G, p. 183, grifos do autor). 17 Trabalho produtivo unicamente aquele que produz capital (G, p. 212, nota). 18 O conceito marxiano de capital como tal um estudo a partir do Livro I de O capital. IFCH Unicamp, 2012.

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    determinao na qual eu me encontro ou que pus em mim, a fuga de todo contedo como de

    uma barreira19 seja entendida como um movimento prprio do sujeito-capital.

    Nas sees III e IV do Livro primeiro de O capital Marx faz um uso heurstico das

    noes de Limite e Barreira para estruturar o ncleo de seu prprio conceito de capital, pois

    este tem em sua constante alterao quantitativa uma condio vital, uma vez que apenas seu

    impulso constante a superar seus limites o torna um processo sem fim. Por isso, para o valor

    que se conserva como valor em si, seu aumento coincide com sua conservao, j que tende

    continuamente a superar sua barreira quantitativa, a qual contradiz sua determinao formal,

    sua universalidade intrnseca. O enriquecimento se converte assim em finalidade em si (G, p.

    181).

    O capital apenas pode se constituir como sujeito de seu processo de autoconstituio

    caso ele, ainda na instncia do mercado, consiga ter o poder de fixar o seu outro como um

    outro determinado, especificamente oposto a ele. E este outro ele encontra no trabalho. O

    valor de uso oposto ao capital enquanto valor de troca posto, o trabalho. O capital se troca,

    ou, neste carter determinado, s est em relao com o no-capital, com a negao do

    capital, com respeito a qual apenas capital; o verdadeiro no-capital o trabalho (G, p.

    185). Vemos aqui expressa em linguagem filosfica as determinaes da oposio histrica e

    radical entre capital e trabalho, que desenvolvidas em suas determinaes econmicas e extra-

    econmicas, esto na base da Lei geral da acumulao capitalista. Para atuar como capital o

    dinheiro, o valor de troca posto, deve comprar o trabalho, mas esta relao no fortuita,

    como se ao invs do trabalho se lhe pudesse substituir por uma mercadoria qualquer. O

    capital, antes, apenas chega a ser capital por esta sua relao determinada com o no-capital.

    Nesta medida, apenas pode se fixar como um plo de riqueza pelo seu poder de fixar o outro

    plo simetricamente oposto como negao do capital, e por isso, como plo de misria. Tudo

    se passa como se em sua relao determinada, o capital por este seu poder de fixar, ou de dar

    a si o seu outro, se fixa como o positivo frente riqueza, e o trabalho como o negativo desta20.

    Mas vejamos, ainda seguindo o traado dos Grundrisse, alguns determinantes

    essenciais da relao capital-trabalho que sero fundamentais para a correta compreenso da

    relao moderna de produo que subordina a si todos os demais elementos da sociedade.

    Aqui tambm se expressa o carter bifronte da relao-capital, expressando a um s tempo

    19 Linhas Fundamentais da Filosofia do Direito, 5. Aqui vemos o prprio Hegel fazendo o operador lgico da

    dialtica da finitude operar na determinao da subjetividade moderna como tendo na infinitude da vontade seu princpio motor. 20 H, como sabemos, um suposto originrio oculto nesta relao, aqui pensada apenas em termos lgicos. A

    Acumulao Originria um suposto fundamental no tempo, mas que, no entanto, recorrentemente reposta

    pela aplicao da Lei Geral da acumulao capitalista, que repe de novo as condies de acumulao, isto , os

    plos em oposio, riqueza de um lado, pobreza de outro.

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    seu aspecto civilizatrio, de um lado, e de outro se revelando como poder usurpador do

    trabalho.

    Do ponto de vista do trabalho, o intercambio entre capital e trabalho um movimento

    de circulao simples, o possuidor da fora de trabalho a vende por um valor em dinheiro com

    o objetivo de novamente transformar este dinheiro em mercadorias que satisfaam

    necessidades. H determinantes histricos e morais na fixao do valor ou preo desta

    mercadoria especfica, a fora de trabalho, que no sero analisados aqui, contudo por este

    meio vemos o trabalhador assalariado aparecer como includo na riqueza universal. Pois,

    como diz os Grundrisse:

    Como o trabalhador troca seu valor de uso pela forma universal da riqueza, se converte em co-

    participante do desfrute da riqueza universal, at o limite de seu equivalente [...]. O trabalhador,

    sem dvida, no est ligado a objetos particulares, nem a um modo particular de satisfao. No est

    excludo qualitativamente da esfera dos desfrutes, s quantitativamente. Isto o diferencia do

    escravo, do servo da gleba, etc. (G, p. 194).

    O consumo do trabalhador aparece como forma de sua participao no processo

    civilizatrio do capital. por meio do fio invisvel do consumo que a populao que

    trabalha incorporada como membro igual da sociedade capitalista, mesmo que sua

    participao seja quantitativamente limitada, esta lhe concede tambm como consumidores

    uma importncia completamente diferente, enquanto agentes da produo, que tinham, por

    exemplo, na Antiguidade, a Idade Mdia ou na sia (Idem). O problema do capitalismo

    talvez seja o carter enfeitiado e no-transparente de suas relaes, mas no est em questo

    para Marx sua superioridade frente a todos os demais modos de organizar a produo e a vida.

    Mas a sociedade do capital no apenas mais desenvolvida por permitir o consumo de

    vveres ou meios de subsistncia, Marx considera no consumo inclusive desfrutes

    espirituais, a agitao em favor de seus prprios interesses, o assinar peridicos, assistir

    conferncias, educar os filhos, formar seus gostos, etc. A nica participao sua na

    civilizao, participao que o distingue do escravo (G, p. 198). Marx certamente pensa

    nestas possibilidades de participao na civilizao como tendo lugar na fase de expanso do

    ciclo de vida do capital, que coincide justamente com sua dimenso civilizatria, mas em todo

    caso, do ponto de vista da populao atada ao trabalho, a superioridade do capitalismo

    formal e realmente perceptvel, embora no seja livre de contradies21. Devido a isso diz

    Marx: precisamente por este aspecto da relao entre o capital e o trabalho constituir um

    21 Certamente este processo civilizatrio possvel na fase expansiva do ciclo, onde o nvel mdio de vida sobe,

    mas negado reiteradamente na fase regressiva ou autodestrutiva do valor, na qual a populao retorna sua

    determinao de mquinas de trabalho (G, p. 197), e nesta fase do ciclo, a bestializao de uma vida inteiramente para a reproduo da sociedade fica nitidamente perceptvel, pois como diz Marx, aqueles desfrutes

    espirituais da populao trabalhadora apenas so possveis durante pocas de bons negcios (G, p.198).

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    elemento fundamental de civilizao, sobre ele se baseia a justificao histrica, porm

    tambm o poder atual do capital (G, p.198).

    O consumo liberta da necessidade constringente, mas igualmente representante do

    poder do capital, o qual tendo atado seu outro no plo oposto, impede-o de ter outro modo de

    vida seno aquele do trabalho assalariado. A liberdade de consumir, mesmo esta est em

    suspenso ao se analisar a Lei geral que preside o sistema. A aparente22 igualdade na esfera do

    consumo esconde os fios invisveis que atam a populao ao trabalho como as correntes de

    Hefstos agrilhoam Prometeu ao rochedo, na bela metfora utilizada por Marx na formulao

    de sua Lei geral da acumulao capitalista.

    Marx, nos Grundrisse, faz toda uma anlise do consumo do trabalhador e o mostra

    como mera satisfao de necessidades. O trabalhador recebe o dinheiro, mas o que se esconde

    por trs desta forma do valor so meios de subsistncia, valores de uso. Marx critica

    veementemente o palavrrio de certa Economia Poltica, que prega que o trabalhador deve ser

    diligente e econmico, como se tais atitudes o pudessem tirar de sua situao de despossesso.

    Toda a argumentao segue a direo de fixar os plos antitticos nos quais um plo

    positivo da riqueza, enquanto o outro tem a forma urea da riqueza apenas como modo de

    esconder a mera subsistncia e repetio do processo que o cria como um plo de pobreza.

    Salrio e mesmo sua economia no cria capital, antes o capital s chega a ser si mesmo se

    negar a possibilidade da riqueza do lado do trabalho. sobretudo isso o que se precisa

    mostrar aqui.

    Tudo a que pode levar a economia e a parcimnia do trabalhador para a

    constituio de um fundo para os tempos de crise e isto ao custo deste subtrair-se satisfao

    de suas necessidades, se subtrair de sua participao no processo civilizatrio do capital. Da

    ser to importante nos Grundrisse a determinao de que, do ponto de vista do trabalho, a

    relao entre capital e trabalho seja uma relao de circulao simples. Isto , uma relao na

    qual o operrio apenas retira dela o que nela lanou, ou seja, um equivalente. Assim, na

    relao entre capital e trabalho, o segundo tem como objetivo e como resultado da relao o

    desfrute de seu consumo, satisfao de necessidades. Pois, caso seu objetivo no fosse o

    valor de uso, os meios de subsistncia, a satisfao de necessidades diretas, o retirar da

    circulao o equivalente que se introduziu nela, para elimin-lo mediante o consumo, o

    trabalho se apresentaria ante ao capital no como trabalho, no como no-capital, seno como

    capital (G, p.199). Na opositiva relao-capital, cada relato o contrrio direto de seu outro,

    22Essa aparncia (Schein) existe porm como iluso (Illusion) por parte do trabalhador, e em certa medida pela outra parte, e por isso modifica essencialmente a relao com relao aos trabalhadores em outros modos de

    produo social (G, p. 195).

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    o capital o no-trabalho, o trabalho o no-capital23. Porm o capital para se constituir em

    totalidade desta relao deve pr e subordinar a si seu outro, de um lado, e de outro deve

    impedir que o trabalho faa o mesmo, isto , se constitua de seu lado como totalidade posta.

    Certamente o trabalho como no-capital, como oposto ao no-trabalho inclui o capital

    como momento constitutivo, pois seu ser-si-mesmo se define em oposio a seu outro.

    Ele poderia, por isso, constituir-se como um todo que poderia abarcar seu negativo. Mas para

    Marx, no se tratando de uma mera dialtica de conceitos, antes como movimento sistemtico

    do capital que inclui a especificidade histrica deste modo de produo, esta possibilidade

    negada ao trabalho justamente pelo carter usurpador, vampiresco do capital. Devido a este

    seu carter usurpador, apenas o capital subordina o trabalho como seu momento e forma

    apenas de seu lado uma totalidade. A contradio em O Capital , como explicitam as teses

    de Theunissen e Grespan, a contradio em si e no a contradio posta, uma vez que

    condio para que haja este segundo modo da contradio24 duas totalidades em oposio e

    ambas deveriam incluir o seu outro como momento e o excluir como uma totalidade25. Na

    dialtica de Marx apenas o trabalho includo como momento do capital, como capital

    varivel, e assim o capital como todo se rebaixa a momento ideal da totalidade que ele

    mesmo compe e se ope a seu outro, assumindo a forma de capital constante. O capital,

    portanto, como formula Grespan, enquanto momento, corporificado nos meios de produo,

    [...] exclui de si o outro momento, o trabalho vivo, por outro lado, enquanto totalidade, ele

    inclui em si seu outro como capital varivel. a mesma estrutura lgica da oposio

    contraditria de Hegel, vista pelo ngulo de um dos termos, o capital.26 evidente que o

    mesmo no pode ocorrer do lado do trabalho, dada a separao original entre propriedade e

    trabalho e dado o poder usurpador real do capital. Devido a isso o trabalho no pode rebaixar

    o capital a seu momento, e no compe de seu lado uma totalidade. Capital e trabalho assim

    determinados formam uma oposio contraditria27.

    23 Na relao que o constitui como tal o capital [no pode] defronta-se ao capital, se o capital no se defronta com o trabalho, j que o capital s capital como no-trabalho, nesta relao antittica. Em tal caso o conceito

    mesmo e a relao do capital ficariam destrudos (G, p. 199). Seu ser-si-mesmo depende da determinao de seu outro como um outro da riqueza, como no-riqueza, no-propriedade, por isso no possvel na relao

    capital constituir-se um plo oposto de acumulao de riqueza, antes apenas o capital existe por pr

    determinadamente seu outro.

    24 C.f. W. L., II, p. 65, Trad. p. 379.

    25 C.F, Theunissen, especialmente a tese 8 da parte I do artigo; Dialtica do avesso, p. 35ss.

    26 A Dialtica do Avesso, p. 39. 27 Para o leitor interessado em saber os detalhes do por que [...] a estrutura lgica da contradio materialista no pode passar de uma a outra formar, isto , de em-si a para-si, remetemos o leitor ao artigo de Grespan e as Teses referidas acima. Nossa dvida para com essas Teses desses autores na estruturao do trabalho clara e

    manifesta.

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    O capital, portanto, para se constituir como sujeito de seu processo de formao e

    expanso, pressupe que o trabalho esteja contraposto a ele como no-capital, na linguagem

    dos Grundrisse. H um duplo aspecto nesta relao, uma vez que o capital deve tanto afirmar

    o trabalho como parte sua, pois sem seu outro ele no chega a ser o que , valor que a si

    mesmo valoriza, mas, de outro lado, o capital deve negar o trabalho como totalidade a ele

    oposta, subordinando-o a si, formal e realmente.

    Mas este trabalho que forma o outro do capital no qualquer trabalho, nem o trabalho

    em geral, antes o trabalho assalariado e que tem em seu portador, o trabalhador livre ou

    assalariado, uma existncia temporalmente determinada. O trabalhador, e, de modo mais

    profundo, a populao condio e resultado do sistema. Ele e apenas ele forma o plo

    oposto ao capital, um plo de pobreza, como diz Marx, pois sua carncia de valor

    (Wertlosigkeit) e sua desvalorizao constituem a premissa do capital e a condio do trabalho

    livre em geral (G, p. 199). Assim o trabalhador duplamente livre uma condio dada pela

    acumulao original, mas igualmente seu resultado, pois o que o sistema reiteradamente cria

    a si mesmo, isto , a separao original reposta pelo prprio processo e se torna seu

    resultado. A relao que pressupe para seu incio um extremo de riqueza e outro de no-

    riqueza, tem como resultado mais direto a reposio da condio original, o no-trabalho de

    um lado como plo de riqueza, o no-capital como plo oposto de pobreza. So estes os

    termos da contradio viva. Cada elemento posto ao mesmo tempo suposto, tal o caso

    com todo sistema orgnico (Idem), assim o sistema tem a figura do vivo, mas, como a sua

    relao com a sua substncia contraditria, Marx o estiliza como morto-vivo, na famosa

    metfora vamprica28.

    Vejamos ainda mais de perto algumas determinaes particulares do trabalho

    assalariado ou do trabalho que aparece como um dos extremos de uma relao de produo

    historicamente determinada, a capitalista. J sabemos que no devir do dinheiro a capital o

    nico valor de uso que se ope diretamente ao capital o trabalho. Ele no apenas um algo

    que se encontra em relao com o dinheiro que funciona como capital, ele o outro

    determinado do capital, ou como diz o texto dos Grundrisse: o trabalho no se contrape ao

    capital como um valor de uso, seno como o valor de uso por antonomsia (G, p. 202, grifos

    do original).

    28 O capital sujeito, mas um sujeito cego e automtico, uma vez que a totalidade que o capital constitui

    apenas uma totalidade formal, em oposio totalidade substancial que apenas o trabalho poderia compor, pois,

    apenas o trabalho abstrato fonte viva do valor. Ele sujeito usurpador por subordinar a si o verdadeiro sujeito,

    o trabalho assalariado. Por isso a subjetividade do capital contraditria ou vamprica e impede que a verdadeira

    substncia seja sujeito. De seu lado, a subjetividade do trabalho refere-se, neste contexto, apenas como oposio

    objetividade do trabalho passado, morto e que suga para reviver e permanecer no ser a sua vitalidade. Sua

    subjetividade corresponde sua despossesso.

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    O intercambio que se estabelece a partir da relao que ope capital e trabalho um

    intercmbio especial, nele se ocultando diversos mistrios, como, por exemplo, os motivos

    que conduziram o trabalhador a vender sua utilidade como mercadoria, o porqu de o

    capitalista j estar de posse de dinheiro e meios de produo desde o incio do processo, etc.

    Mas h algo que salta vista neste intercambio, uma vez que h um duplo movimento que

    parte de um e de outro extremo e que os fazem percorrer fases opostas. Do lado do trabalho,

    que nos interessa diretamente agora, h um movimento no qual o trabalhador que troca sua

    mercadoria passa pela forma M-D D-M, e nele o trabalhador s recebe um valor de uso,

    meios de subsistncia, e que so consumidos, isto , desparece o resultado de sua troca na

    manuteno de sua prpria vida e de sua race29. Este movimento, embora intermediado pelo

    dinheiro, no cria valor, nem permite que deste reste algo ao final. Ao contrrio do ciclo do

    capital (D-M M-D) no qual temos ao final o dinheiro e certamente mais dinheiro do que a

    princpio se lanou na circulao. Como se sabe esse a mais, esse mais-valor obtido pelo

    gasto ou utilizao da mercadoria fora de trabalho, a nica fonte viva de valor na teoria de

    Marx.

    Esse duplo movimento no natural, como sabemos, e nem mero acaso, como

    sabemos. fruto da assimetria original instituda pela acumulao originria e reposta

    constantemente pela prpria relao moderna de produo da vida e da sociedade. O

    trabalhador, ou o plo do trabalho, no retira riqueza deste processo, pois est privado dos

    meios de produo, matria prima, etc. Estes elementos j no momento de sua estria no

    palco do mercado de trabalho, se encontram em propriedade do no-trabalho. Essa

    expropriao originria explica a despossesso que constitui o trabalho negativamente

    concebido, nas palavras de Marx. Vejamos com se concebe o trabalho nesta relao de

    oposio. Trata-se aqui do trabalho como misria absoluta: a misria no como carncia,

    seno como excluso plena da riqueza objetiva (G. p. 203).

    O trabalho como o outro do capital, como no-capital, se ope aos momentos internos

    do prprio capital. Aqui se trata do trabalho vivo ou no presente, que embora oposto entra

    em relao com o trabalho no passado ou morto e o vivifica ou lhe acrescenta a substncia de

    sua prpria vitalidade perdida. Este trabalho abstrato, no este ou aquele trabalho

    determinado, mas o trabalho como valor de uso por antonomsia, ir vivificar cada elemento

    com o qual entra em relao, matria prima, instrumento de trabalho, produto em bruto, etc.

    Acrescentar a todos mais-valor ou mais-trabalho e assim os valorizar. Mas o trabalho ele

    mesmo, nesta relao, um no-valor, misria absoluta. Mas nesta sua relao

    29 claro que o trabalhador no pode enriquecer mediante este intercmbio, posto que, assim como Esa vendeu sua primogenitura por um prato de lentilhas, ele cede sua fora criadora pela capacidade de trabalho

    como magnitude existente. Melhor antes tem que empobrecer-se, como veremos mais adiante, j que a fora

    criadora de seu trabalho se estabelece frente a ele como poder alheio (als fremde Macht) (G. p. 214 grifos do autor).

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    determinada com o capital, o trabalho tambm, positivamente apreendido, fonte viva da

    riqueza, ainda que esta riqueza lhe seja alheia e contraposta. Ento completa Marx:

    O trabalho no como objeto, seno como atividade; no como autovalor, seno como a fonte viva do valor. A riqueza universal, com respeito ao capital, no qual existe objetivamente, como realidade, como

    possibilidade universal do mesmo, possibilidade que se preserva na ao enquanto tal. No em

    absoluto uma contradio afirmar, pois, que o trabalho por um lado a misria absoluta como objeto, e

    por outro que a possibilidade universal da riqueza como sujeito e como atividade; o melhor que ambos

    os lados da tese absolutamente contraditria se condicionam reciprocamente e derivam da natureza do

    trabalho, j que este, como oposio, como existncia contraditria do capital, est pressuposto pelo

    capital, e, por outra parte, pressupe por sua vez ao capital (G, p.203 grifos do autor).

    Trabalho concebido inicialmente como atividade livre de determinao e livre da

    propriedade de seu ato o trabalho no objetivado. ao que pe valor, mas no um valor

    para si, mas apenas para seu outro. Da que no seja contraditria a afirmao da misria

    absoluta do trabalho como objeto e de outro lado, a afirmao de que este seja a um s

    tempo a possibilidade universal da riqueza. Na primeira afirmao o trabalho assalariado,

    fruto de uma longa marcha histrica, aparece como negatividade auto-referente, como ao

    pura e no objetivada e que apenas existe na subjetividade do trabalhador, que este vende ao

    seu outro, como Esa vende sua primogenitura. Na segunda o trabalho assalariado aparece

    como possibilidade da riqueza, uma possibilidade que, no capitalismo, apenas se torna efetiva

    sob a dominao ou sob o poder do capital de comandar o trabalho. O importante a salientar

    a determinao recproca entre os dois relatos da oposio. No se trata mais do trabalho

    genrico, como tal, antes s se trata aqui do trabalho especificamente apreendido como o

    outro do capital, como trabalho assalariado, existente unicamente na modernidade. o

    trabalho como oposio existente ao capital, que o pressupe tanto quanto por este

    pressuposto, formando assim ambos os extremos de uma relao de produo especfica e

    determinada.

    A anlise detalhada e especfica da produo do mais-valor apenas tem lugar a partir

    da Seo III de O Capital, onde descobrimos o segredo do mais-valor e os modos de sua

    extrao por parte do capital. Contudo, h ainda aspectos da relao entre capital e trabalho

    que nos interessam destacar. A este ponto o trabalho j foi demonstrado o outro do capital, e

    mais especificamente, seu valor de uso por antonomsia, pois ele o nico valor de uso que

    possui a faculdade que interessa de modo vital ao capital, a saber, apenas o trabalho cria valor,

    valoriza. Assim entendido, o trabalho o ser ideal dos valores, a possibilidade dos

    valores, e como atividade, o que pe os valores frente ao capital, o trabalho a mera forma

    abstrata, a mera possibilidade da atividade que pe valores, a qual s existe como capacidade,

    como faculdade, na constituio corporal do trabalhador (G, p. 205). Marx certamente

    nesta formulao muito menos econmico com o jargo hegeliano do que em O Capital,

    mas o resultado o mesmo: o trabalho a substncia do valor, faculdade de pr valores.

    Mas a sua potencialidade apenas se atualiza, no mundo moderno e capitalista, pela mediao

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    GT 10. Teoria poltica marxista 142

    do trabalho morto, do capital em sua figura de meios de produo, matria prima, etc. O

    trabalho morto se apropria do vivo com o intuito de se perpetuar e aumentar sua valorizao.

    Assim, mediante o intercambio com o operrio, o capital se apropriou do trabalho mesmo;

    este se converteu em um de seus elementos e opera agora como utilidade frutfera sobre a

    objetividade do capital, meramente existente e morta (Idem grifo nosso). , portanto, o

    trabalho o fermento que faz crescer o capital, a ao do trabalho vivo que elabora e

    vivifica a objetividade morta do trabalho j realizado no passado, dando-lhe, como produto a

    ser realizado na venda futura, um novo valor.

    Portanto apenas depois de o trabalho passar de potncia a ato de produo que

    o capital chega a ser substncia semovente, um processo. H dois passos aqui, o primeiro, j

    concludo no mercado, a apropriao (Aneignung) e incorporao (Einverlabung) do trabalho

    no capital. O segundo, que se passa depois e fora da esfera ruidosa do mercado, quando o

    trabalho deixa de ser possibilidade e passa a ser-objetivo dos valores, ou valoriza o valor

    existente, o faz crescer. E por incorporar em si o trabalho e o fazer operar sob seu poder e

    comando que o capital chega a ser o todo de sua relao com o trabalho, como processo de

    produo, no qual o capital, como totalidade plena, como trabalho vivo, se relaciona consigo

    mesmo no s como trabalho objetivado, seno, por ser objetivado, como mero objeto de

    trabalho (G, p. 208). A compra da mercadoria fora de trabalho o meio para originar este

    processo, mas o processo mesmo o rebaixamento do outro do capital a um seu momento

    ideal, subordinado ao capital como capital varivel, que se ope ao prprio capital em sua

    figura interna de capital constante. O capital est, por assim dizer, junto a si mesmo em

    cada uma destas suas partes, mas ele mesmo o todo do processo de sua autoconstituio.

    Mas ele apenas chega a ser o que , substncia em processo, por sua relao de subordinao

    do trabalho. O que nos interessa no momento enfatizar que por meio desta incorporao do

    trabalho vivo como seu elemento, o processo de produo do capital passa ser entendido

    como relao substancial de um dos elementos do capital, o trabalho vivo ou capital

    varivel, com seu outro elemento, o trabalho morto30. O capital , portanto, como relao

    social existente para si, um todo, um processo que corresponde ao processo simples de

    produo.

    Referncias

    MARX, Karl. O Capital. Vols I, II e III, traduo de Regis Barbosa e Flvio R. Kothe, So

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    30 Sua prpria existncia objetiva se divide em objeto e trabalho; a relao entre ambos constitui o processo de produo ou mais exatamente, o processo de trabalho (G. p. 211-2).

  • Anais do V Simpsio Internacional Lutas Sociais na Amrica Latina Revolues nas Amricas: passado, presente e futuro

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