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1 FARMÁCIA HOSPITALAR: HISTÓRICO, OBJETIVOS E FUNÇÕES
A atuação do farmacêutico nas instituições hospitalares é importante para
garantir uma assistência farmacêutica adequada dentro de critérios técnico-
científicos. Além disso, o farmacêutico hospitalar está habilitado, por meio de
mecanismos gerenciais, a contribuir na redução de custos por intermédio de uma
administração eficaz e racional. A modernização das atividades hospitalares
acarretou a necessidade da participação cada vez mais efetiva deste profissional na
equipe de saúde.
1.1 HISTÓRICO E CONCEITOS DA FARMÁCIA HOSPITALAR
No início do século XX, o farmacêutico atuava e exercia influência sobre
todas as etapas do ciclo do medicamento. Para a sociedade, era um profissional de
referência nos aspectos do medicamento sempre consultado por todas as classes
de cidadãos. Responsável pela guarda e dispensação de medicamentos, nesta fase
inicial, o farmacêutico hospitalar, também, manipulava praticamente todo arsenal
terapêutico disponível na época. Com a expansão da indústria farmacêutica, a
prática de formulação pela classe médica foi abandonada, somando-se a
diversificação do campo de ação do profissional farmacêutico, levaram-no a se
distanciar da área de medicamentos, descaracterizando a farmácia. Entre 1920 e
1950, as farmácias hospitalares converteram-se num canal de distribuição de
medicamentos produzidos pela indústria devido à intensificação da
descaracterização das funções do farmacêutico.
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A partir de 1950 os serviços de farmácia, representados na época pelas
Santas Casas de Misericórdia e Hospital das Clínicas de São Paulo, passaram a
desenvolver-se e modernizar-se. Um nome inesquecível na luta pela reestruturação
da farmácia hospitalar no país é o do professor José Sylvio Cimino, que dirigia o
serviço de farmácia do Hospital das Clínicas de São Paulo e que publicou em 1973 o
livro Iniciação a Farmácia Hospitalar, primeira obra científica da área.
Em 1975 a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) introduziu no
currículo do curso de farmácia a disciplina Farmácia Hospitalar, tornando-se mais
tarde uma realidade em diversas universidades. Além disso, em 1980 foi implantado
o curso de pós-graduação em Farmácia Hospitalar na Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ).
A partir de 1982, o Ministério da Educação (MEC), passou a incentivar
programas de desenvolvimento para a farmácia hospitalar, colaborando para a
formação de um número elevado de profissionais. Em 1985, o Ministério da Saúde
preocupado com os problemas de infecção hospitalar, passou a incentivar a
reestruturação das farmácias hospitalares, promovendo cursos de especialização.
Já em 1995 foi criada a Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar
(SBRAFH), contribuindo intensamente para a dinamização da profissão e para o
desenvolvimento da produção técnico-científica nas áreas de assistência
farmacêutica hospitalar.
Nesse momento, vivemos uma fase clínico-assistencial da farmácia
hospitalar, como expressa o conceito da SBRAFH: “unidade clínica, administrativa e
econômica, dirigida por profissional farmacêutico, ligada, hierarquicamente, à
direção do hospital e integrada funcionalmente com as demais unidades de
assistência ao paciente”. A atuação da farmácia hospitalar se preocupa com os
resultados da assistência prestada ao paciente e não apenas com a provisão de
produtos e serviços. Como unidade clínica, o foco de sua atenção deve estar no
paciente, nas suas necessidades e no medicamento, como instrumento.
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1.2 OBJETIVOS DA FARMÁCIA HOSPITALAR
Em uma farmácia hospitalar, os objetivos devem ser definidos visando a
alcançar eficiência e eficácia na assistência ao paciente e integração às demais
atividades desenvolvidas no ambiente hospitalar.
São objetivos básicos da farmácia hospitalar:
Desenvolver, em conjunto com a Comissão de Farmácia e Terapêutica
ou similar, a seleção de medicamentos necessários ao perfil assistencial do hospital;
Contribuir para a qualidade da assistência prestada ao paciente,
promovendo o uso seguro e racional de medicamentos e correlatos. Considerado o
principal objetivo da farmácia hospitalar pela SBRAFH;
Estabelecer um sistema eficaz, eficiente e seguro de distribuição de
medicamentos;
Implantar um sistema apropriado de gestão de estoques;
Fornecer subsídios para avaliação de custos com a assistência
farmacêutica e para elaboração de orçamentos;
Propiciar suporte para as unidades de produção de propedêutica e
terapêutica.
Com o intuito de atingir seus objetivos, a farmácia hospitalar deve contar
com um sistema eficiente de informações, dispor de sistema de controle e manipular
corretamente os fatores de custos. É essencial, também, o planejamento e
gerenciamento adequado do serviço.
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FIGURA 1- Quadro resumo dos objetivos da Farmácia Hospitalar
1.3 FUNÇÕES DA FARMÁCIA HOSPITALAR
A Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) e o Ministério da Saúde do
Brasil definem como funções fundamentais da farmácia hospitalar:
Seleção de medicamentos, germicidas e correlatos necessários ao
hospital, realizada pela comissão de farmácia e terapêutica (CFT) ou
correspondente e associada a outras comissões quando necessário;
Aquisição, conservação e controle dos medicamentos selecionados
estabelecendo níveis adequados para a aquisição por meio de um gerenciamento
apropriado dos estoques. O armazenamento de medicamentos deve seguir as
normas técnicas para preservar a qualidade dos medicamentos;
Manipulação, produção de medicamentos e germicidas, seja pela
indisponibilidade de produtos no mercado, para atender prescrições especiais ou por
motivos de viabilidade econômica;
SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS
FARMÁCIAHOSPITALAR
DISTRIBUIÇÃO DE MEDICAMENTOS
USO SEGURO E RACIONAL DE
MEDICAMENTOS
SUPORTE AS UNIDADES DE PRODUÇÃO
AVALIAÇÃO DE CUSTOS E
ORÇAMENTOS
GESTÃO DE ESTOQUES
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Implantação de um sistema de informação sobre medicamentos para
obtenção de dados objetivos que possibilitem à equipe de saúde otimizar a
prescrição médica e a administração de medicamentos. O sistema deve ser útil na
orientação ao paciente no momento da alta ou nos tratamentos ambulatoriais.
Estas funções são prioritárias em uma farmácia hospitalar e, portanto,
suporte fundamental para o desenvolvimento de vários programas assistenciais na
instituição.
Podemos estabelecer, de forma didática, uma proposta de desenvolvimento
escalonado da farmácia hospitalar em quatro fases. Na fase um dedica-se à
estruturação do serviço; na fase dois inicia-se a especialização dos serviços; na fase
três aprimora-se a especialização e na fase quatro implementam-se as ações
clinicoassistenciais (Figura 2).
FIGURA 2 - Proposta de desenvolvimento escalonado da Farmácia
Hospitalar
FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia
Hospitalar, 2006.
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2 ÁREA FÍSICA TOTAL DA FARMÁCIA E LOCALIZAÇÃO IDEAL
Existem na literatura algumas publicações que relacionam a área física da
farmácia com o número de leitos hospitalares: 1,5m²/leito (professor Sylvio Cimino),
1,2m²/leito (OPAS) e 1,0m²/leito (Sociedade Espanhola de Farmácia Hospitalar).
Ao prever o dimensionamento de uma farmácia hospitalar, o ideal, é
considerar, além do número de leitos, outros fatores de suma importância que
influenciarão no desenvolvimento das atividades a serem executadas. Destacam-se
entre esses fatores:
Tipo de hospital (especializado, geral, policlínico, de ensino,
filantrópico);
Nível de especialização da assistência médica prestada no hospital;
Fonte mantenedora e tipo de atendimento (particulares, convênio com
o SUS e outros);
Programação das necessidades da farmácia em função das atividades
propostas;
Região geográfica onde se localiza o hospital, considerando as
dificuldades de aquisição e transporte de medicamentos.
Devido às suas peculiaridades e independentemente da diretoria a que
esteja vinculada, a farmácia deve desenvolver um relacionamento integrado com as
divisões clínicas e administrativas.
A localização da farmácia deve ser tecnicamente correta, devendo os
seguintes aspectos serem observados:
Facilidade de circulação e reabastecimento;
Equidistância das unidades usuárias e consumidoras, permitindo um
fácil acesso;
Certo grau de isolamento devido aos ruídos (quando houver produção
industrial ou semi-industrial), assim como odores e poluição;
Critérios técnicos e administrativos empregados.
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3 PLANEJAMENTO, CONTROLE E FUNÇÃO DO FARMACÊUTICO
Instrumento de gestão indispensável em uma farmácia hospitalar é o
planejamento, processo de estabelecer objetivos e linhas de ação adequadas para
alcançá-los. O controle, por sua vez, encarrega-se de assegurar o êxito dos planos
elaborados.
O planejamento na farmácia hospitalar, como em todas as organizações, se
inter-relaciona com as demais funções administrativas. O sucesso do planejamento
depende da eficiência de outras funções e essas existem em consonância com o
planejamento. Portanto, a organização, a direção e o controle não têm razão de ser
se não existir um planejamento para assegurar a organização e que defina a direção
a caminhar e o que controlar.
Um serviço de farmácia deverá ser administrado por um profissional
farmacêutico com qualificação e experiência em farmácia hospitalar.
O serviço de farmácia deve dispor de um número adequado de
farmacêuticos e profissionais de apoio (nível médio) qualificados e competentes. A
SBRAFH preconiza que a unidade de farmácia hospitalar deve contar com, no
mínimo, um farmacêutico para cada 50 leitos. O número de auxiliares de farmácia
dependerá da disponibilidade de recursos e do grau de informatização da unidade.
Na ausência destes recursos, deve existir, no mínimo, um auxiliar para cada dez
leitos.
O perfil do farmacêutico hospitalar deve abranger as habilidades, destrezas,
comportamentos e atitudes consideradas fundamentais para o farmacêutico
moderno segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), que inclui na descrição
das características do farmacêutico moderno:
Capacidade Técnica de Prestação de Serviço
O farmacêutico é um prestador de serviços clínicos, analíticos e tecnológicos
aos indivíduos, comunidades e instituições. A prática assistencial deve ser contínua,
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de alta qualidade e integrada aos sistemas de saúde. Portanto, exige-se boa
formação técnica.
Poder de Decisão
A base de trabalho do farmacêutico deve ser a utilização adequada, eficaz,
com análise de custo e efetividade dos recursos (materiais e humanos) empregados.
Para atingir esta meta é necessária habilidade de avaliar, sintetizar e decidir pela
estratégia de ação mais eficaz.
Capacidade de Comunicação
Habilidade de comunicação verbal, não verbal, escrita e escuta são
essenciais para a prática assistencial, pois o farmacêutico interage com pacientes,
com as equipes de saúde e administrativa.
Liderança
O farmacêutico deve assumir, muitas vezes, uma posição de liderança para
desenvolver suas atividades. Liderança envolve solidariedade e empatia, assim
como a habilidade para decidir, comunicar e gerenciar de forma efetiva.
Habilidade Gerencial
O farmacêutico deve gerenciar de forma eficaz os recursos (humanos e
físicos) e a informação. Como gerente de nível intermediário deve possuir boa
integração e relação com os níveis hierárquicos da instituição.
Aperfeiçoamento Profissional
O avanço tecnológico e a produção técnico-científica do mundo moderno
exigem a atualização constante dos profissionais. A disponibilidade para aprender
novas metodologias e reciclar conhecimentos é essencial.
Capacidade de Ensinar
O farmacêutico, na vida profissional, necessita transmitir o conhecimento e
elaborar procedimentos, visando melhorar as habilidades da equipe de trabalho.
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Os níveis de autoridade e áreas de responsabilidade devem ser claros; a
supervisão e o controle do pessoal devem ser desenvolvidos adequadamente. As
atribuições de cada categoria profissional devem estar bem estabelecidas e deverão
ser revisadas quando necessário. É importante o serviço dispor de manual contendo
essas atribuições para conhecimento e consulta de todos os funcionários.
Uma gestão de recursos humanos adequada, coordenada pelo chefe do
serviço com auxílio dos supervisores, irá garantir aos funcionários uma satisfação no
trabalho e cumprimento dos planos de atividade, colaborando, assim, para que a
farmácia da instituição atinja seus objetivos.
Gerenciamento de Recursos Materiais
A gestão dos recursos materiais deve ser executada pela seção
administrativa do serviço de farmácia e supervisionada pelo farmacêutico.
Na dinâmica hospitalar contemporânea o impacto dos preços dos
medicamentos nos gastos assistenciais é muito grande, impondo uma gestão de
estoques de controle rígida, capaz de obter, coordenar e analisar fatos, para tomar
decisões corretas a tempo e a hora, visando a redução dos custos sem prejuízo da
assistência ao paciente.
A administração de estoques de medicamentos compreende gerir estoques
essenciais e padronizados, exigindo, para sua especialidade, a atuação de
profissionais qualificados e conhecimento profundo em:
Bases farmacológicas dos medicamentos em estoque;
Similaridade;
Condições ideais e exigências de conservação;
Controle do prazo de validade dos medicamentos estocados, de modo
que com habilidade profissional conduza ao escoamento mais rápido os estoques
mais antigos e cujos prazos de validade estão mais próximos.
Dessa forma, torna-se imprescindível a implantação de um sistema bem
estruturado em todas as fases do processo de controle de estoque, para que a
continuidade do processo de assistência farmacêutica seja assegurada e não haja
ruptura do estoque, garantindo o atendimento da demanda das prescrições.
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Análise de Prescrição e Distribuição Eficiente
A farmácia deve ser responsável pela aquisição, distribuição e controle de
todos os medicamentos utilizados no hospital.
Deve ser prioridade a implantação de sistemas apropriados de distribuição
de medicamentos.
O farmacêutico deve analisar as prescrições de medicamentos antes de
serem dispensadas, exceto em situações de emergência. As dúvidas devem ser
resolvidas com o prescritor e as decisões tomadas serem registradas para que o
resultado seja a distribuição correta do medicamento.
Fornecimento de Informações sobre Medicamentos
O farmacêutico é responsável pelo fornecimento de informações adequadas
sobre medicamentos para a equipe de saúde. Para tal, os farmacêuticos devem se
manter atualizados por meio de literatura, visitas técnicas, participação em grupos
de estudos e em grandes eventos científicos. A equipe deve elaborar e divulgar
boletins informativos sobre o uso de medicamentos.
Otimização de Terapia Medicamentosa
Visando a melhorar e garantir a qualidade da farmacoterapia o farmacêutico
tem participação importante na elaboração de uma política de uso racional dos
medicamentos. Este trabalho deve ser executado com o apoio da diretoria clínica e a
colaboração da comissão de farmácia e terapêutica.
O uso racional de medicamentos consiste em obter o efeito terapêutico
adequado à situação clínica do paciente utilizando o menor número de fármacos,
durante o período mais curto e com o menor custo possível.
A otimização da terapia medicamentosa é função precípua da unidade de
farmácia hospitalar. Contribui para diminuir a permanência do paciente no hospital e
para a melhoria de sua qualidade de vida.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Portaria 3.616/MS/GM, de 30 de outubro de 1998. Aprova a Política Nacional de Medicamentos.
______. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Institui normas para licitações e contratos de administração pública.
______. Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002. Institui a modalidade de licitação denominada pregão, para a aquisição de bens e serviços comuns.
GOODMAN & GILMAN. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. Rio de Janeiro: Mcgraw-Hill Interamericana, 2007.
GOMES, M. J. V. M.; REIS, A. M. M. Ciências Farmacêuticas: uma abordagem em farmácia hospitalar. São Paulo: Atheneu, 2006.
NETO, J. F. M. Farmácia Hospitalar e suas interfaces com a saúde. São Paulo: RX, 2005.
FIM DO CURSO