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  • UNIDADE DE ENSINO: Polticas de Sade

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    Objetivos:

    Apresentar a histria da construo da Sade Pblica no Brasil.

    Adquirir conhecimento sobre importantes fases da nossa histria que contriburam

    para a atual situao da sade brasileira.

    Identificar os personagens que contriburam para a sade no Brasil.

    Verificar a influncia de aspectos sociais, econmicos e polticos no campo da sade

    pblica.

    Por que estudar Polticas de Sade?

    Para compreendermos que o funcionamento atual do sistema de sade brasileiro representa um

    avano histrico sem precedentes e que isso s ocorreu em virtude da capacidade de mobilizao da

    sociedade organizada. Sim, isso mesmo, o Sistema nico de Sade uma conquista do povo

    brasileiro, cuja construo no est finalizada. preciso continuar avanando, mas depende muito

    do comprometimento de todos os atores sociais para avanar ainda mais. E a que voc entra,

    enquanto cidado e profissional de sade para fazer parte dessa histria.

    Para maior dinamismo na leitura e compreenso do material, algumas perguntas sero realizadas ao

    longo do texto, possibilitando um momento de pausa e reflexo. Ento vamos comear?

    Quando a mdia veicula reportagens sobre o atendimento da populao nos hospitais qual a

    avaliao que voc faz da sade pblica no Brasil?

    Com certeza, a avaliao no boa, e com razo, pois o que se v :

    filas frequentes nos servios de sade;

    falta de leitos hospitalares para atender a demanda da populao,

    recursos escassos (financeiros, materiais e humanos),

    m aplicao dos recursos pblicos,

    denncias de abusos cometidos pelos setores privados e pblicos de sade, e

    Evoluo das Polticas de Sade no Brasil- 1 Parte

    Introduo

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    elevao da incidncia de doenas infecto-parasitrias que j deveriam estar controladas

    ou extintas.

    Mas, apesar dos problemas, voc compreender, ao final do estudo dessa unidade, que avanamos

    e muito no enfrentamento das questes de sade pblica do nosso pas.

    Ento, vamos caminhar pela histria do Brasil?

    pocas do Brasil colnia (1500 a 1808) e do Brasil Imprio (1808 a 1889)

    Voc, com certeza, se recorda como o Brasil foi colonizado. O interesse maior de Portugal era a

    explorao das nossas riquezas naturais. Assim permaneceu, desde 1500 at a vinda da famlia

    imperial com a corte para o nosso pas. Os habitantes eram os nativos (ndios), alguns degredados e

    aventureiros. E a sade? O cuidado existente baseava-se exclusivamente no conhecimento

    emprico existente, ou seja, em chs, pajelanas, curandeirismos e, tambm na ao dos boticrios

    que, pela ausncia de mdicos, prescreviam e manipulavam as frmulas medicinais.

    Pesquise qual profissional, da atualidade, teve origem a partir do boticrio.

    Mas, em 1808, com a vinda da famlia real para o Brasil, com certeza, a situao deveria comear a

    mudar!

    Foi necessrio organizar uma estrutura sanitria mnima na cidade do Rio de Janeiro, sede do poder

    da poca. Foi preciso dar incio formao de profissionais de sade (mdicos), para um

    atendimento mais constante e organizado das questes sanitrias. Dessa forma, surgiram as duas

    primeiras escolas de medicina do pas: o Colgio Mdico-Cirrgico no Real Hospital Militar da Cidade

    de Salvador (1815) e a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro(1813).

    As transaes econmicas eram realizadas por via martima (navios), portanto a prioridade era o

    controle sanitrio dos navios, portos e reas de circulao das mercadorias. Foram criadas as juntas

    sanitrias municipais com essa atribuio, mas a medida foi pouco eficaz. As doenas continuaram

    afligindo toda a populao.

    Dom Joo VI, tentava com tais medidas, modificar a situao catica da sade e melhorar a imagem

    que os europeus tinham do Brasil, considerado terra de barbaridades e da escravido.

    Foram as medidas sanitrias mais importantes at a criao da Repblica, lembrando que a sua

    proclamao se deu em 1889.

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    Os mdicos do perodo imperial no conseguiam resolver a situao das doenas infecciosas

    (malria, varola, febre amarela, febre tifide, dentre outras) disseminadas na populao, inclusive

    entre os ndios da Amaznia. Alguns concluram que as doenas eram causadas por miasmas, ou

    seja, pelo ar corrompido que vinha do mar e pairava sobre o Rio de Janeiro. Ento, o que fazer

    diante dessa teoria? Como precauo, os mais ricos deveriam deixar a cidade em direo regio

    serrana (Petrpolis) e os demais, que no tinham condies, deveriam evitar o consumo de bebidas

    e frutas geladas, pois segundo o saber da poca, facilitavam o aparecimento de infeces. E ainda,

    tiros de canho deveriam ser disparados periodicamente, para colocar o ar em movimento e, assim,

    afastar os perigosos miasmas estacionados sobre a cidade.

    De 1897 at 1930, as aes de sade pblica ficaram subordinadas ao Ministrio da Justia e

    Negcios Interiores, mais especificamente Diretoria Geral de Sade Pblica. Nesse perodo, a

    assistncia sade restringia-se s aes de saneamento e combate s endemias.

    Um fato histrico a ser destacado nessa poca, foi o surgimento e desenvolvimento do chamado

    sanitarismo-campanhista ou Modelo Campanhista que permaneceu at a dcada de 1940 e teve

    grande importncia como veremos adiante. Eram realizadas campanhas peridicas para o combate

    de endemias como a clera, a varola, a peste bulbnica e outras doenas que acometiam a

    populao.

    No se esquea dele: Modelo Campanhista.

    Faa uma associao da infra-estrutura da poca com as principais doenas que acometiam a

    populao e conseguir compreender a situao sanitria da poca.

    A preocupao dos governantes no era exatamente melhorar a sade da populao, mas, sim,

    possibilitar a operacionalizao do modelo econmico agrrio-exportador, atravs da garantia das

    condies de sade dos trabalhadores envolvidos na produo e na exportao.

    Perceba que desde o incio, o interesse governamental era principalmente a garantia da manuteno

    da economia, e no a sade do povo.

    O que efetivamente mudou na sade pblica com a Proclamao da Repblica?

    Repblica Velha (1889 a 1930)

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    No incio do sculo XX, houve um grande crescimento econmico nas primeiras dcadas, mas, em

    contrapartida, foi um perodo de crise scio-econmica e sanitria, porque as epidemias ameaavam

    a poltica agro-exportadora brasileira, principalmente a sada do caf:

    os navios estrangeiros se recusavam a atracar nos portos brasileiros, o que tambm reduzia a

    imigrao de mo-de-obra (SCLIAR, 1987).

    Imagine a situao: Em 1895, ao atracar no Rio de Janeiro, o navio italiano Lombardia perdeu

    234 de seus 337 tripulantes, mortos por Febre Amarela, ou seja, sobreviveram 103 pessoas.

    Assim, o Rio de Janeiro era o ponto de chegada no Brasil e tambm o ponto de sada das

    exportaes. E tambm o matadouro de estrangeiros que aqui chegavam. Por isso, o presidente da

    repblica, Rodrigues Alves (1902 a 1906) nomeou o mdico sanitarista Oswaldo Cruz como Diretor

    do Departamento Federal de Sade Pblica, com a tarefa de buscar solues para a situao catica

    existente.

    O que fez Oswaldo Cruz?

    Elegeu a febre-amarela como o primeiro alvo de suas aes e contratou 1.500 guardas-sanitrios,

    que passaram a exercer atividades de desinfeco no combate ao mosquito, vetor da febre-amarela.

    Na prtica ocorria a invaso de casas, a queima de roupas e colches; sem que houvesse qualquer

    ao educativa A falta de esclarecimentos e as arbitrariedades cometidas pelos guardas-sanitrios

    causaram revolta na populao. Essa atitude policialesca, pautada na fora e na autoridade deixou a

    populao indignada.

    A situao que j era tensa agravou-se com outra medida de Oswaldo Cruz, a Lei Federal n 1261,

    de 31 de outubro de 1904, que instituiu a vacinao anti-varola obrigatria para todo o territrio

    nacional. Como resultado, ocorreu um levante popular que historicamente ficou conhecido como a

    Revolta da Vacina.

    Lembra do Modelo Campanhista?

    Foi justamente o Modelo Campanhista a forma de

    interveno que Oswaldo Cruz adotou. A sua

    concepo baseava-se na viso militar em que os fins

    justificam os meios, e no qual o uso da fora e da

    autoridade eram considerados os instrumentos

    preferenciais de ao, sem qualquer ao educativa

    anterior. Portanto, foram cometidos arbitrariedades e

    Sabia que a FIOCRUZ (Fundao e Instituto Oswaldo Cruz) foi fundada nessa poca e se tornou o principal centro de pesquisas mdico-epidemiolgicas do pas na atualidade? O nome original era Instituto Soroterpico de Manguinhos.

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    abusos, mas importantes vitrias foram conquistadas no controle das doenas epidmicas.

    Erradicou-se a febre amarela do Rio de Janeiro, fortalecendo o modelo adotado. Como

    conseqncia, ele tornou-se a proposta de interveno hegemnica na rea da sade coletiva sade

    durante dcadas.

    Mas, a importncia de Oswaldo Cruz para a sade pblica no se resumiu a esse fato, deve-se

    ainda:

    organizao da diretoria geral de sade pblica.

    Ao estabelecimento de elementos para aes de sade como o registro demogrfico, criando

    a possibilidade de se conhecer a composio e os fatos vitais de importncia da populao; a

    introduo do laboratrio como auxiliar do diagnstico etiolgico; a fabricao organizada de

    produtos profilticos para uso em massa, dentre outras aes.

    Em 1920, Carlos Chagas, sucede Oswaldo Cruz, e foi responsvel por importantes atribuies como:

    Reestruturao do Departamento Nacional de Sade,

    Introduo da propaganda e da educao sanitria como rotinas de ao ( antes no havia

    essa preocupao),

    Criao de rgos especializados para combater doenas como a tuberculose, a lepra e as

    doenas venreas.

    Trabalhou em prol da assistncia hospitalar,

    Expanso das atividades de saneamento para outros estados,

    Criao da Escola de Enfermagem Anna Nery.

    Leia sobre o assunto em http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v55n1/14861.pdf

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    Agora, vamos conhecer o personagem Jeca-Tatu, criado por Monteiro Lobato?

    Monteiro Lobato, Problema vital. So Paulo, Brasiliense, 1951, p.329-330

    (Texto publicado originalmente em 1918) apud Bertolli Filho, 2006.

    O Jeca-Tatu tornou-se o smbolo do brasileiro adoecido, cujas doenas o impediam de participar do

    crescimento e desenvolvimento econmico do pas.

    Jeca-Tatu era um pobre caboclo que morava no mato, numa casinha de sap. Vivia

    na maior pobreza, em companhia da mulher, muito magra e feia, e de vrios

    filhinhos plidos e tristes. (...)

    Jeca-Tatu era to fraco que quando ia cortar lenha vinha com um feixinho que

    parecia brincadeira. E, vinha arcado, como se estivesse carregando um enorme

    peso.

    - Por que no traz de uma vez um feixe grande?, perguntaram-lhe um dia.

    Jeca-Tatu coou a barbicha-rala e respondeu:

    - No paga a pena.

    Tudo para ele no pagava a pena. No pagava a pena consertar a casa, nem fazer

    uma horta, nem plantar rvores de fruta, nem remendar a roupa.

    S pagava a pena beber pinga.

    - Por que voc bebe, Jeca?, diziam-lhe.

    - Bebo para esquecer.

    - Esquecer o que?

    - Esquecer as desgraas da vida. E os passantes murmuravam:

    - Alm de vadio, bbado...

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    Acesse e leia o material complementar sobre a Revolta da Vacina em

    http://www.diariodorio.com/histrias-do-rio-a-revolta-da-vacina,

    Faa um resumo contendo as principais informaes do que voc estudou. Esse resumo

    deve permitir o entendimento da evoluo da sade pblica de 1500 ao incio do sc. XX.

    Elabore um esquema contendo todos os pontos importantes que desencadearam a Revolta

    da Vacina.

    Localize a principal falha do Modelo Campanhista.

    Demonstre como essa falha que voc localizou modificaria a reao das pessoas vacinao

    obrigatria.

    Atores/agentes sociais: so as pessoas, grupos ou entidades que participam das disputas

    de interesse nas diversas arenas polticas, econmicas e ideolgicas. As arenas so os

    espaos abstratos onde ocorrem tais disputas.

    Epidemia: essa palavra define a situao em que h o aparecimento e crescimento rpido de

    uma determinada doena, atingindo grande nmero de pessoas ao mesmo tempo. A

    epidemia caracterizada pelo aumento de nmero de casos em quantidade superior ao que

    era esperado.

    Processo hegemnio: no texto, est indicando o domnio do mtodo adotado.

    Incidncia: indica o nmero de casos novos de uma doena, ocorridos em uma determinada

    populao, em um determinado perodo (geralmente 01 ano). importante diferenciar de

    prevalncia, pois so expresses com significados prprios.

    Atividades Complementares

    Glossrio

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    Prevalncia: o nmero de casos existentes. a soma dos casos novos mais os casos

    antigos. o estoqueem um determinado perodo.

    Sade pblica: segundo Rouquayrol (1994), essa expresso se refere da cincia e a arte

    de evitar doenas, prolongar a vida e desenvolver a sade fsica e mental e a eficincia,

    atravs de esforos organizados da comunidade para o saneamento do meio ambiente, o

    controle de infeces na comunidade, a organizao de servios mdicos e para-mdicos

    para o diagnstico precoce e o tratamento preventivo de doenas, e o aperfeioamento da

    mquina social que ir assegurar a cada indivduo, dentro da comunidade, um padro de vida

    adequado manuteno da sade.

    Varola: essa doena foi erradicada, graas vacina descoberta (preveno). Apresenta

    sinais e sintomas como febre, cefalia, mal-estar, leses de pele que soltam pus (pstulas).

    No h tratamento.

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    Bertolli Filho, C. Histria da Sade Pblica no Brasil. Editora tica, 4 edio, So Paulo,

    2006.

    Vargas J D.. Histria das Polticas Pblicas de Sade no Brasil: reviso da literatura. Rio de

    Janeiro, 2008. Disponvel em

    Polignano, M V. Histria das polticas de sade no Brasil: uma pequena reviso. Disponvel

    em:

    Paulus Jnior, A.; Cordoni Jnior, L.. Polticas pblicas de sade no Brasil. Revista Espao

    para a Sade, Londrina, v.8, n.1, p.13-19, dez.2006.

    Rouquayrol MZ, organizador. Epidemiologia e sade. 4a Ed. Rio de Janeiro: Medsi; 1994.

    Scliar, M. Do mgico ao social: trajetria da sade pblica. Editora Senac 2 edio, So

    Paulo, 2005.

    Referncias