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1 1 INTRODUÇÃO A grandeza da biodiversidade Amazônica é bem conhecida, e dentre os microorganismos que contribuem para a nossa megadiversidade estão os fungos. Com o avanço dos estudos na área biotecnológica os organismos fúngicos tornaram-se de grande interesse e vêm contribuindo com produtos e processos de importância industrial. Na maioria das vezes, eles são vistos pela população como prejudiciais, uma imagem que é dada pelas poucas espécies dentro do reino que causam as micoses do homem e animais ou as que são responsáveis por doenças em plantas cultivadas. Muitas pessoas associam os fungos com os bolores ou mofos que invadem paredes úmidas das residências, artigos de couro ou ainda cobrem os alimentos, como frutas e grãos armazenados. Algumas espécies de fungos podem ainda ser associadas à culinária, como é o caso dos cogumelos (AZEVEDO, 2003). Um número significativo de espécies produz substâncias de grande interesse industrial, entre as quais podemos destacar antibióticos como a penicilina ou a cefalosporina, vitaminas como a riboflavina, esteróides, ácido cítrico, etanol, enzimas tipo celulases, proteases, amilases e muitas outras de valor industrial . Os fungos têm grande importância agrícola e ecológica, decompondo restos vegetais, degradando substâncias tóxicas e na simbiose com as plantas. Devido a sua versatilidade, os

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1 INTRODUÇÃO

A grandeza da biodiversidade Amazônica é bem conhecida, e dentre os

microorganismos que contribuem para a nossa megadiversidade estão os fungos.

Com o avanço dos estudos na área biotecnológica os organismos fúngicos

tornaram-se de grande interesse e vêm contribuindo com produtos e processos de

importância industrial. Na maioria das vezes, eles são vistos pela população como

prejudiciais, uma imagem que é dada pelas poucas espécies dentro do reino que

causam as micoses do homem e animais ou as que são responsáveis por doenças

em plantas cultivadas. Muitas pessoas associam os fungos com os bolores ou mofos

que invadem paredes úmidas das residências, artigos de couro ou ainda cobrem os

alimentos, como frutas e grãos armazenados. Algumas espécies de fungos podem

ainda ser associadas à culinária, como é o caso dos cogumelos (AZEVEDO, 2003).

Um número significativo de espécies produz substâncias de grande interesse

industrial, entre as quais podemos destacar antibióticos como a penicilina ou a

cefalosporina, vitaminas como a riboflavina, esteróides, ácido cítrico, etanol, enzimas

tipo celulases, proteases, amilases e muitas outras de valor industrial. Os fungos têm

grande importância agrícola e ecológica, decompondo restos vegetais, degradando

substâncias tóxicas e na simbiose com as plantas. Devido a sua versatilidade, os

2

fungos vêm sendo estudados, principalmente quanto à sua aplicabilidade

biotecnológica (AZEVEDO, 2003: ESPOSITO & AZEVEDO, 2004).

Dentre os vários potenciais biotecnológicos dos fungos ressalta-se o poder de

degradação da matéria orgânica. Os fungos são capazes de degradar a madeira,

sendo os da classe Basidiomycetes os mais eficientes degradadores, possuindo a

mais efetiva capacidade de biodegradação de materiais lignocelulósicos na natureza

(HATAKKA, 1994; HIGUCHI, 1990).

A biodegradação dos materiais lignocelulósicos por fungos é atribuída à ação

de uma série de enzimas e compostos de baixa massa molar extracelulares. A

degradação ocorre necessariamente de forma extracelular, uma vez que os

componentes dos lignocelulósicos devem ser inicialmente despolimerizados até

compostos menores que são susceptíveis ao transporte pela parede celular e ao

metabolismo intracelular dos fungos envolvidos (FERRAZ, 2004).

Castro e Silva et al. (1993) trabalhando com cepas de fungo de podridão

branca proveniente da Amazônia concluíram que o “pool” enzimático do P.

sanguineus o indica como potencial na descoloração de efluente Kraft de indústria

papeleira, uma vez que a presença de lignase ou lacase, juntamente com Mn-

peroxidase na presença de -glucosidase, são importantes para a degradação de

compostos cloroligninos (ESPOSITO et al., 1991; DURÁN, 1992).

As enzimas são os produtos microbianos mais explorados na indústria

biotecnólogica, pois apresentam uma série de vantagens no processamento de

3

alimentos e em muitos outros ramos da indústria manufatureira. Muitos produtos

alimentícios consumidos diariamente, entre os quais o pão e o queijo, são feitos com

a colaboração desse tipo especial de proteína.Também são empregadas na

indústria de produtos de limpeza, no processamento da polpa e do papel, na

preparação têxtil, e em aplicações médicas, onde com freqüência, substituem

compostos ou processos químicos. A vantagem da utilização de enzimas em muitos

processos deve-se à menor produção de subprodutos residuais, o que propicia a

obtenção de produtos de melhor qualidade e com menor probabilidade de poluição

do meio ambiente.

Outras vantagens da aplicação de enzimas estão relacionadas com o custo

de produção relativamente baixo, susceptibilidade de produção em larga escala em

fermentadores industriais, espectro amplo de características físico-químicas de

diferentes enzimas (geralmente relacionadas ao habitat e fisiologia do

microorganismo produtor), susceptibilidade de manipulação genética e por

representarem um recurso natural renovável.

O mercado mundial de enzimas movimenta milhões de dólares anualmente.

Esse mercado é estimado em cerca de U$ 1,5 bilhões de dólares, com um aumento

anual de 12% no volume de enzimas produzidas nos últimos 10 anos (CASTRO E

SILVA, SILVA & CAVALCANTE, 2002). Apesar do seu papel nos ecossistemas e

suas aplicações na biotecnologia, o conhecimento sobre os fungos amazônicos

degradadores de madeira ainda permanece num nível incipiente, sendo que poucos

dados na área sobre enzimas com o potencial industrial são disponíveis. A Região

4

Amazônica, apesar de sua grande biodiversidade microbiana, até o presente

momento não apresenta nenhuma participação nesse mercado.

Estudos da biodiversidade, visando espécies com potencial biotecnológico,

provavelmente poderão contribuir com a produção de enzimas com preço de

mercado compatível e melhoria das condições de vida da população. No entanto,

faz-se necessário maior investimento em pesquisas científicas e tecnológicas, a fim

de que esse potencial seja melhor explorado, pela indústria, alimentícia,

farmacológica, entre outras.

Pela importância dada às enzimas no mercado mundial, destaca-se a

necessidade do desenvolvimento de estudos enzimáticos a partir da biodiversidade

Amazônica. Assim, o presente trabalho visa contribuir com conhecimentos sobre os

aspectos de crescimento e atividade enzimática dos fungos P. sanguineus e

Trametes sp, degradadores de madeira, visando seu potencial enzimático.

5

2. OBJETIVOS

2.1. Geral

Avaliar os aspectos relacionados ao crescimento e atividade ligninolíticas dos

fungos amazônicos deterioradores de madeira, Pycnoporus sanguineus (L.:F.)

Murr e Trametes sp.

2.2. Específicos

Avaliar o crescimento micelial dos fungos em função do pH, temperatura e

meio de cultura;

Verificar a influência do teor de nitrogênio no crescimento micelial dos fungos;

Determinar a atividade ligninolíticas (lacase, fenoxidase, peroxidase e lignina

peroxidase) dos fungos;

Estudar a influência de diferentes fontes de carbono na atividade enzimática

dos fungos.

6

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 Aspectos gerais dos fungos

Os fungos são seres eucariontes, heterotróficos, aclorofilados, aeróbios a

microaerófilos, uni ou pluricelulares, com parede celular composta geralmente de

quitina e/ou celulose, além de outros carboidratos complexos, com glicogênio como

substância de reserva, nutrição por absorção, podendo viver como sapróbios,

parasitas ou simbiontes com outros organismos (LACAZ, 2002; PUTZKE, 2004).

Possuem o corpo formado por um emaranhado de filamentos, denominados hifas, e

o seu conjunto recebe o nome de micélio. As hifas variam no diâmetro, espessura da

parede, localização do pigmento, etc. (PUTZKE, 2004). Constituem um grupo muito

grande e heterogêneo encontrado virtualmente em qualquer nicho ecológico. O

número de espécies fúngicas espalhadas pelo mundo é estimada em cerca de

1milhão e 500 mil sendo, que destas apenas foram descritas cerca de 74 mil

espécies. Excluindo-se os insetos, os fungos constituem os mais numerosos seres

vivos existentes (HAWKSWORTH, 1991; ESPOSITO e AZEVEDO, 2004).

Os fungos são organismos muito diferentes, se comparados a animais e

vegetais, sendo atualmente distribuído em três reinos: Fungos = (Myceteae),

7

Stramenopila e Protista. A variação morfológica é muito grande, existindo espécies

macro e microscópicas o que contribui para existência de muitos sistemas de

classificação que ainda hoje sofrem adições e alterações (PUTZKE, 2004). Com os

avanços nos estudos morfológicos, fisiológicos e de microscopia eletrônica entre

outros, surgiram novas propostas, sempre aceitas por alguns e rejeitadas por outros

(Tabela 1).

Tabela 1. Sistemas comparativos de classificação de fungos.

Fonte: Modificado de PUTZKE (2004)

Em relação ao seu habitat natural, os fungos apresentam-se como

cosmopolitas, ou seja, encontram-se distribuídos em todas as regiões do planeta,

porém de maior incidência em ambientes de clima tropical, quente e úmido. Podem

ser encontrados no solo, águas, sobre animais e vegetais, em alimentos naturais e

Hawkworth et al. (1983)

Hawksworth et al (1995),

Alexopoulos et al (1996)

Reino Fungi Divisão Myxomycota Divisão Eumycota Subdivisões:

Mastigomycotina

Zygomycotina

Ascomycotina

Basidiomycotina

Deuteromycotina

Reino Chromista Filo Hyphochytridiomycota Filo Labyrinthulomycota Filo Oomicota Reino Protozoa Filo Acrasiomycota Filo Dictyosteliomycota Filo Myxomycota Filo Plasmodiophoromycota Reino Fungi Filo Chytridiomycota Filo Zygomycota Filo Ascomycota Filo Basidiomycota

Reino Stramenopila Filo Oomycota Filo Hyphochytridiomycota Filo Labyrinthulomycota Reino Protistas Filo Dictyosteliomycota Filo Acrasiomycota Filo Myxomycota Filo Plasmodiophoromycota Reino Fungi Filo Chytridiomycota Filo Zygomycota Filo Ascomycota Filo Basidiomycota

8

industrializados (TEIXEIRA et al., 2001; BONONI,1999). São encontrados

praticamente em qualquer local do ambiente que nos cerca inclusive no ar onde

estruturas reprodutivas, na forma de esporos, podem desenvolver novas estruturas

vegetativas e reprodutivas quando encontram substrato adequado (PUTZKE, 2004).

3.2 Importância ecológica dos fungos

Apesar da utilização milenar dos fungos nos mais diversos ramos ainda é

comum serem associados a efeitos prejudiciais. A diversidade fúngica é muito ampla

sendo que existem algumas espécies que podem causar doenças aos animais, aos

vegetais e também ao homem, bem como a deteriorização de vários tipos de

materiais causando prejuízos econômicos (Figura 1). No entanto, a maioria das

espécies é benéfica para diversas áreas. (Figura 2).

Figura 1. Principais malefícios causados pelos fungos. Fonte: PUTZKE (2002)

9

Figura 2. Principais benefícios proporcionados pelos fungos. Fonte: PUTZKE (2002).

Os fungos juntamente com as bactérias heterotróficas são os principais

decompositores de materiais lignocelulósicos da biosfera. Vários fungos estão

associados a degradar dejetos e detritos de esgotos até um grau em que possam

ser considerados adubo ou substância equivalente. Ecologicamente podem ser

considerados os lixeiros do mundo, por degradarem todo tipo de restos orgânicos,

independente da origem, transformando-os em elementos assimiláveis pelas plantas

(NEUFELD,1997; PUTZKE, 2002, 2004). Como saprófitas, decompõem resíduos

complexos de plantas e animais, transformando-os em formas químicas mais

simples, que retornam ao solo. Tais substâncias são, então, absorvidas pelas

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gerações vegetais subseqüentes. Desse modo, a atividade fúngica é amplamente

responsável pela fertilidade do solo.

3.3 Importância biotecnológica dos fungos

O interesse do homem pelos fungos vem desde a antiguidade em função da

eterna busca por alimento. Logo se descobriu que eles eram uma nova fonte de

alimentação, porém vários envenenamentos acidentais ocorreram e estes fungos

venenosos receberam o nome de “fermentos venenoso da terra” (MORAIS et al.,

2003). Muitos fungos já eram empregados desde a mais longínqua antiguidade,

quando o homem descobriu a metodologia e técnica de preparo do pão, do queijo e

das bebidas. Na época, ignorando o que provocava a fermentação, pelo menos o

pão e as bebidas alcoólicas surgiram praticamente em todos os cantos do planeta

independentemente. Durante centenas de anos, várias tribos indígenas aprenderam

com a natureza que determinadas espécies de fungos eram comestíveis, e de

excelente valor nutritivo. Europeus e asiáticos ainda hoje mantêm cogumelos em

suas dietas, especialmente porque a ciência tem descoberto qualidades ignoradas

por tanto tempo e que existem na maioria dos demais alimentos tais como: baixam o

nível de colesterol no sangue, têm substâncias anticancerígenas, são fontes de

aminoácidos (essenciais e não essenciais), contêm minerais como o cálcio, potássio,

iodo e fósforo, contêm várias vitaminas, nutrem e não engordam (PUTZKE, 2004).

Atualmente várias espécies de fungos são usadas em diversos tipos de

industria (alimentícia, farmacêutica, etc). Os cogumelos das espécies Agaricus

11

campestris, Morchella hortenois, Clavaria fava, Pleurotis sp. Boletus sp. e as trufas

do gênero Tuber sp., são os mais freqüentemente utilizados como alimentos. As

espécies de Penicillium roqueforti, Penicillium camemberti e Penicillium gordonzola

podem ser utilizados no preparo de queijos. Dentre as leveduras de maior

importância industrial destacam-se as linhagens fermentativas de Saccharomyces,

empregadas na indústria de panificação, e bebidas alcoólicas: Cerveja

(Saccharomyces cerevisiae e Saccharomyces carlsbetgensis), rum, vinho

(Saccharomyces ellipsoideus), saquê e produção industrial do etanol a partir da cana

de açúcar (NEUFELD, 1997).

A produção de moléculas com atividade farmacológica é uma das mais

exploradas em Biotecnologia, por empresas de países industrializados. Os

antibióticos são os produtos microbianos tradicionalmente mais explorados nesta

área, contudo novos compostos têm sido investigados em escala de screenig

farmacológico industrial, como agentes antitumorais e anti-câncer, inibidores

enzimáticos e agentes cardiovasculares. A aplicação de microrganismos na

produção de fármacos teve um desenvolvimento acelerado a partir da descoberta

dos antibióticos, na década de 30. A produção de penicilina de Penicillium notatun

ou o Penicillium chrysogenum, revolucionou toda a terapêutica antimicrobiana,

possibilitando a descoberta de outras drogas desse tipo, algumas com

especificidade para fungos, bactérias, protozoários, etc. (LACAZ, 2002). A tabela 2

mostra exemplos de vários fungos com esse potencial.

12

Tabela 2 - Exemplos de alguns antibióticos e microrganismos a eles relacionados.

Microrganismos Antibioticos

Aspergillus clavatus Clavalina

Aspergillus flavus Acido aspergílico

Aspergillus flavus, A. giganteus e A. parasiticus Flavicina

Aspergillus fumigatus Fumigacina (Acido belvólico)

Cephalosporium salmosynne Cefalosporina N

Chaetomium cochioides Chaetomina

Chaetomium iodinium Iodinina

Chaetomium violaceum Violaceína

Gliocadium sp. Gliotoxina

Micromonospora sp. Micronomosporina

Penicillium citrinum Citrinina

Penicillium cyclopium e Penicillium puberulum Ácido penicílico

Penicillium notatum Penicilina

Penicillium spinulosum Espinulosina

Proactinomyces albus e P. violaceus Proactinilomicina, Actinomicetina

Streptomyces antibioticus Actinomicina

Streptomyces levendulae Estreptomicina

Streptomyces griséus Estreptomicina

Streptomyces aureofaciens Clortetraciclina

Streptomyces venezuelensis Cloranfenicol

Streptomyces rimosus Oxitetraciclina

Streptomyces noursei Fungicidina

Streptomyces bachijoensis Tricomicina ( Cabimicina)

Streptomyces nodosus Anfotericina A e B

Fonte: LACAZ, 2002

13

3.4 Fungos deterioradores de madeira

Os fungos são capazes de atacar e degradar a madeira, em seus

ecossistemas terrestres naturais e especialmente os da classe Basidiomycetes tem

demonstrado maior eficiência no processo de biodegradação de material

lignocelulósicos (HATAKKA, 1994; HIGUCHI 1990, Apud SOARES, 1998). Estes

fungos podem ser saprófitas, parasitas, simbióticos e micorrízicos, sendo usados na

indústria alimentícia, na produção de enzimas, na biopolpação, no

biobranqueamento de efluentes, na formação de ectomicorrizas, etc. (HAMLYN et

al.,1998).

Hoje, acredita-se que existam mais de 200.000 espécies de Basidiomicetos

ligninocelulósicos, a maioria dos quais estariam nas regiões tropicais e subtropicais

do mundo. Os basidiomicetos lignocelulósicos estão classificados em duas grandes

ordens dos basidiomycetes: Agaricales e Aphyllophorales. Estes apresentam

tamanhos, formas, cores, e consistências diversificadas, podem ser microscópicos

ou ter até 20cm de diâmetro, presos ao substrato através de estirpe, sésseis ou na

forma de manchas regulares ou irregulares na superfície da madeira. São versáteis

e, num mesmo tronco, uma espécie pode apresentar mais de uma forma ou cor.

Crescem inicialmente dentro da madeira colonizando-a e suas hifas formam uma

rede, nem sempre visível a olho nu, mais ou menos extenso, preenchendo o lume

das células, passando de uma célula a outra através da parede celular e em alguns

casos destruindo a estrutura da lamela média. Após certo período de tempo, que

pode durar uns poucos dias até muitos anos, variável de espécie para espécie e

com as condições ambientais, emergem os basidiocarpos (corpos de frutificação).

14

São extremamente importantes como decompositores e principais responsáveis pela

ciclagem do carbono nos ecossistemas. Degradam os componentes da madeira:

celulose, hemicelulose e lignina, a partir dos quais obtêm energia para seu

crescimento e reprodução (BONONI, 1997).

Conforme o tipo de degradação que causam os fungos degradadores de

madeira são classificados em: a) Fungos de podridão branca (“white-rot”), os quais

atacam indistintamente os três principais componentes da madeira (celulose,

hemicelulose e lignina); b) Fungos de podridão parda (“brow-rot”), os quais

degradam a porção polissacarídica da madeira, causando poucas modificações na

lignina, sem alteração do anel aromático; c) Fungos de podridão mole (“soft-rot”), os

quais degradam lignina mais lentamente do que os polissacarídeos, produzindo um

amolecimento característico da superfície da madeira (RODRIGUEZ, 1990).

3.5 Estrutura da parede celular da madeira

A madeira é um biopolímero tridimensional, composto principalmente de

celulose, hemicelulose e lignina. Estes polímeros constituem a parede celular da

madeira e são responsáveis pelo comportamento da maioria de suas propriedades

tecnológicas. A parede celular vegetal é, por sua vez, composta de uma parede

celular primária e uma parede celular secundária. A parede celular primária, mais

externa, é uma camada fina, formada durante o desenvolvimento da célula. Sua

espessura é estimada em cerca de 0,1μm, e contém cerca de 9% de celulose

15

incrustada em uma matriz plástica amorfa de hemicelulose, pectina e lignina e cerca

de 70% ou mais de água (PRESTON,1974 apud CASTRO E SILVA, 1996).

A parede secundária, por outro lado, tem suas microfibrilas celulósicas

depositadas de forma espiralada com um ângulo com cerca de 50 – 70º em relação

ao eixo longitudinal da célula. Quando são formadas novas camadas, esta

orientação modifica-se e as microfibrilas começam a ser depositadas

espiraladamente em um ângulo menor que varia de 5 – 30º. Antes do

desenvolvimento final da célula ocorre nova mudança na orientação das

microfibrilas, com as últimas camadas dispostas similarmente às primeiras poucas

camadas, e cerca de 60 – 90º em relação ao eixo longitudinal. Assim, a parede

secundária possui três camadas mais ou menos distintas: camadas S1, S2 e S3

(Figura 3), compostas de diferentes proporções de celulose, lignina e hemicelulose

(CASTRO E SILVA et al., 1992).

Figura 3. Esquema tridimensional de uma parede celular vegetal.

Fonte: Adaptado de Côté (1967).

16

A camada S1 é relativamente fina, com cerca de 0,1 – 0,3 μm de espessura.

Nesta camada o arranjo das microfibrilas forma um ângulo entre 50 – 70º em relação

ao eixo da célula considerada. A camada intermediária S2 forma a porção principal

da célula, com espessura variando de 1 a 5 μm. O ângulo microfibrilar varia entre 10

– 30º em relação ao eixo, diminuindo com o aumento do comprimento da fibra. A

camada S3, mais interna, tem 0,1 μm de espessura e o ângulo das microfibrilas

varia muito, conforme a espécie de madeira considerada, oscilando entre 50 – 90º

(LEPAGE et al., 1986).

3.6 Composição química da parede celular

A composição química dos tecidos que compõem a madeira apresentam uma

variação quando comparados estruturalmente. A zona cambial, por exemplo, tem

uma composição química diferente daquela encontrada na região do cerne e

alburno. Na parede celular os componentes químicos da madeira apresentam-se

distribuídos em proporções diferentes nas diferentes camadas que compõem a

parede celular vegetal. A celulose, por exemplo, está presente em pequena

quantidade na lamela média, aumentando em sua proporção ao peso seco da

parede celular através do centro da camada S2 e decrescendo a partir deste ponto

até a camada S3. A hemicelulose ocorre em grande quantidade, especialmente na

camada S2. A lignina é dominante na lamela média composta. Como essa camada é

muito fina, proporcionalmente, a maior parte de lignina é encontrada na parede

secundária (Figura 3) (PRESTON, 1974 apud CASTRO E SILVA, 1996).

17

3.6.1 Celulose

A celulose é um polímero homogêneo não ramificado, cuja cadeia é

constituída de centenas de unidades monossacarídicas, de apenas um tipo, D.

glicose, ligadas covalentemente por ligações glicosídicas do tipo β . (1→4) (Figura

4). Os dois resíduos terminais de glicose da cadeia polimérica de celulose diferem

entre si pela natureza redutora de uma das extremidades. (SOARES, 1998).

Figura 4. Fragmento de celulose.

Fonte: ÂNGELO (2004).

Na madeira as moléculas de celulose compõem as microfibrilas, as quais por

sua vez são organizadas em um arranjo paralelo, formando fibrilas que se

entrelaçam, originando então as fibras de celulose. (FENGEL e WEGENER, 1989).

Duas regiões morfologicamente diferentes podem ser bem caracterizadas, quando

se analisa a fibra de celulose por difração de raios-x: uma região cristalina,

altamente organizada e uma região amorfa, desordenada. As propriedades físicas

das fibras de celulose, tais como resistência à tração mecânica, alongamento e

capacidade de sovatação, dependem do grau de organização (grau de

cristalinidade) das mesmas (DALMEIDA, 1982).

18

3.6.2 Hemicelulose

Constituem um grupo de substâncias poliméricas compostas de unidades

monossacarídicas diferentes. São polissacarídeos heterogêneos, contendo nas suas

estruturas tanto hexoses, quanto pentoses. Possuem cadeia ramificada e de baixa

massa molecular. A ligação glicosídica mais freqüente nas hemiceluloses é a ligação

do tipo β (1→4), porém ligações do tipo β (1→3) e α (1→4), também podem ser

encontradas (CHUA et al., 1982, 1983).

3.6.3 Lignina

Lignina é uma substância cuja molécula é extremamente complexa,

polimérica, heterogênea, composta basicamente de três tipos diferentes de unidades

monoméricas derivadas de 4- hidroxiarilpropernil álcoois, sendo eles: álcool trans-

para-cumárico (a) (unidade hidroxifenil), álcool trans-coniferílico (b) (unidade

guaiacil) e álcool trans-sinapílico (c) (unidade siringil) (Figura 5) (DALMEIDA, 1982;

FENGEL e WEGENEER, 1989; HIGUCHI, 1990).Tais unidades são distribuídas ao

acaso e ligadas covalentemente por pelo menos dez tipos de ligações químicas

diferentes. Estas incluem ligações tipo éter, alquil-aril, alquil-alquil e aril-aril, sendo

que a mais freqüente é a ligação do tipo β - 0 - 4, representando em torno de 50%

das ligações. São freqüentes também ligações do tipo – C – C –, como as ligações

difenil e diarilpropano, particularmente a ligação β – 1 (Figura 6). Portanto, os

grupamentos funcionais que, definem as características estruturais e químicas da

lignina são os grupos hidroxílicos de álcoois primários e secundários, hidroxílicos de

19

fenóis, eterificados e livres, grupos carboxílicos de diferentes tipos, metoxilas ligadas

a anéis aromáticos e insaturações. O caráter aromático da estrutura da lignina está

em torno de 51% (FENGEL e WEGENEER, 1989; HIGUCHI, 1990).

Figura 5. a) Álcool trans-p-cumárico (grupo p-hidroxifenil), b) Álcool trans-

coniferílico (grupo guaiacil) e c) Álcool trans-sinapílico (grupo siringil)

FREUDENBERG (1965).

A lignina apresenta uma molécula tridimensional estéreo quimicamente,

bastante complexa, amorfa oticamente inativa. Possui diferentes características

estruturais em função do tipo de madeira e diferentes regiões de um mesmo tecido.

Em geral, ligninas encontradas em madeiras de coníferas apresentam um alto teor

de álcool coniferílico (unidades guaiacil); ligninas encontradas em madeiras de

folhosas, apresentam quantidades equivalentes de álcool coniferílico e álcool

sinápilico (unidade siringil). Com base nestas constatações experimentais foram

sugeridos os termos lignina guaiacil e lignina guaiacil-siringil, que se denominam

respectivamente os dois tipos principais de lignina, quanto a sua posição (FENGEL

& WEGENEER, 1989).

20

Figura 6. Estrutura da lignina em folhosa Fonte: NIMZ (1974).

Na madeira, como já citado anteriormente, a lignina pode ser encontrada nas

paredes primária e secundária das células, as quais detêm a maior fração da

quantidade total de lignina (70 - 90%) (Figura 7). Também é encontrada nos espaços

intercelulares, lamela média, que individualmente possui a maior concentração de

lignina, comparativamente às outras partes de um mesmo tecido. Nas paredes

celulares, a lignina aparece ligada a hemicelulose, formando uma espécie de

“cimento” no qual as fibras de celulose estão embebidas (Figura 8) (FENGEL e

WEGENER, 1989; ESAU, 1965). Na lamela média, forma uma espécie de retículo

com cadeias paralelas e intercruzadas, conferindo propriedades adesivas que

21

mantém as várias células do tecido vegetal agregadas (SOARES, 1998). O papel da

lignina nos tecidos vegetais é o de conferir força e resistência mecânica, porém com

elasticidade (SOARES, 1998).

Figura 7. Representação esquemática da parede celular de madeira. Adaptado de

ESAÚ (1965).

22

Figura 8. Sistemas de camadas na parede da célula de madeira: a) corte

ilustrativo; b) microscopia eletrônica de transmissão mostrando lamela média

(ML), a parede celular (S1, S2 e P e T) e o lume (W) das células de madeira.

Reproduzido com modificações de FENGEL e WEGENER (1989).

3.7 Enzimas Ligninolíticas

As pesquisas sobre a biodegradação da lignina têm se revestido de grande

interesse, em vista deste composto químico ser o mais abundante material renovável

próximo da celulose. Os fungos decompositores de madeira, mais especificamente

os de podridão branca, são organismos capazes de degradar a lignina para CO2 e

H2O, de modo que esses fungos usam este substrato como única fonte de carbono e

energia (KIRK & FARRELL, 1987). Portanto, estudos sobre a biodegradação da

lignina têm sido conduzidos principalmente usando-se fungos de podridão branca,

os quais produzem enzimas extracelulares modificadoras de lignina. Para

depolimerizar e mineralizar a lignina, esses fungos possuem um sistema oxidativo

não específico, que inclui várias oxidoredutases extracelular e metabólicos de baixo

peso molecular (SAPPARAT et al., 2002). Enzimas extracelulares envolvidas na

degradação da lignina e xenobióticos por fungos de podridão branca incluem vários

23

tipos de lacases, peroxidases e oxidases produtoras de H2O2 (CAMARERO et al.,

1999; VOLC et al., 1996; THURSTON,1994).

3.7.1 Fenoxidase (Lacase e Peroxidase)

3.7.1.1 Lacase (E.C 1.1.0.3.2)

A composição enzimática do sistema ligninolítico depende da espécie do

fungo, com a lacase sendo o componente comum (HATAKKA, 1994). Lacases são

principalmente glicoproteínas extracelulares ligadas ao cobre bivalente, o qual é

reduzido durante a oxidação de fenóis (Figura 9) e subseqüentemente oxidado

novamente ao estágio bivalente pelo oxigênio (FORSS et al., 1989). Lacase são

enzimas monoméricas, diméricas ou tetraméricas com pesos molecular entre 60 e

80 kDa e com teor de carboidrato entre 15 e 20% (THURSTON,1994).

Vários estudos têm demonstrado a participação da lacase em eventos

ligninolíticos significativos que incluem a oxidação de unidades não- fenólicas da

lignina, a geração de H2O2 requerida tanto para as atividades peroxidases como para

a formação de radical oxídrico (OH), e a produção de Mn3+ a partir de Mn2+ presente

nos lignocelulósicos.

24

Lacase (Cu2+)

Lacase red. (Cu1+)

O2

H2O PhOH

PhO•

Figura 9. Esquema de mecanismo de ação das lacases.

Fonte: FERRAZ (2004)

As lacases catalizam a polimerização oxidativa das unidades fenólicas da

lignina e uma variedade de compostos fenólicos e aminas aromáticas, os quais são

facilmente removidos por filtração. Sob certas condições clivam um grande número

de compostos fenólicos sintéticos e biológicos (ROY-ARCAND & ARCHIBALD,

1991). A reação normalmente envolve um mecanismo de remoção de um radical

mesomérico.

A seqüência de aminoácidos da lacase contém resíduos de uma cisteína e

dez histidinas os quais estão envolvidos na ligação dos átomos de cobre

(THURSTON,1994).

3.7.1.2 Peroxidase

Em um ciclo catalítico normal, a forma férrica da enzima é oxidada por

peróxido de hidrogênio para oxi-ferril, estado conhecido como Composto I. Este é

reduzido através de duplas transferências consecutivas de um elétron para o

Composto II (Figura 10). Fenóis ou aminas aromáticas são os típicos doadores de

elétrons para peroxidases, transformando-se em radicais livres, os quais

subseqüentemente derivam produtos estáveis (ESPÓSITO, 1992). As peroxidases

25

são sensíveis a excessivas concentrações de H2O2, podendo, sob determinadas

condições, transformar a enzima em um composto mais ativo, denominado de

Composto III (Figura 11).

Figura 10. Peroxidase: ciclo catalítico normal. KIRK & FARRELL (1987).

Figura 11. Inter-relação entre estados de redução de uma peroxidase típica (HRP) Fonte: PALMER et al. (1987).

COMPOSTO III

H2O2

H2O2

HOO·

e-

e-

O2

e- O2

-

Fe2+ -OH

Fe2+

Fe2+

(O2)

Fe2+

Fe2+

= O

FORMAÇÃO DO

COMPOSTO III

CICLO NORMAL DA

PEROXIDASE

26

Tanto a peroxidase como a lacase oxidam compostos fenólicos. Os produtos

resultantes da oxidação polimerizam espontaneamente, formando complexos

insolúveis, os quais podem ser removidos por precipitação, filtração ou centrifugação

(DAVIS & BURNS, 1978).

3.7.2 Lignina – Peroxidase ou Ligninase (LiP) ( E.C.1.11.1.14)

A lignina – peroxidase foi descoberta em cultura do fungo Phanerochaete

chrysosporium (GLENN, 1983; TIEN & KIRK,1983), e estaria relacionada a oxidação

de compostos monoméricos e diméricos derivados da lignina e despolimerização

parcial da mesma em presença de peróxido de hidrogênio.

As ligninases são proteínas N-monoméricas e O-glicosiladas com quatro

ligações dissulfêto, dois íons de cálcio e um de ferro protoporfirina IX como grupo

prostético.

As ligninases são uma classe de isoenzimas, de peso molecular variando de

38 a 43 kDa e ponto isoelétrico 3,5 (TIEN & KIRK, 1984; GOLD et al., 1984) que

requerem H2O2 para sua atividade. Na reação com H2O2 LiP forma um radical cátion

porfirina . LiP cataliza oxidações de um elétron de compostos fenólicos e não

fenólicos com potencial de redução de até 1,5 V ( KERSTEN et al., 1990) gerando

radicais fenox e radicais cátion aril. O principal produto de reação da LiP com H2O2 é

a LiP I intermediária (Figura 12). LiP I é reduzida via transferência de um elétron com

27

LiP II como intermediária. Neste ciclo catalítico o aromático reduzido, por exemplo,

álcool veratrílico, é oxidado para via radical cátion aril (HIGUCHI, 1989).

B

A

OCH3

HO

OH

OCH3O

OCH3

OCH3

OO

OCH3

OCH3

CH3

O

+OCH3

O

OCH3

OCH3

O

O

OCH3

HO

CHO

+

OHO

OH

OCH3

+O

OH

H

OCH3

OCH3

HO

OH

OCH3O

OCH3

OCH3

A1

A2 B1

Figura 12. Modelo de degradação da lignina por Li-P de Phanerochaete chrysosporium /H2O2. Fonte: KIRK e CULLEN (1998).

Portanto, as ligninases apresentam uma ampla especificidade para uma série

de compostos aromáticos, sendo capazes de oxidar fenóis a quinonas, sugerindo

um acoplamento oxidativo, permitindo a polimerização (CAMMAROTA, 1991).

3.7.3 Manganês–Peroxidase (Mn–P) (E.C.1.11.1.13)

Assim como para as ligninases as Mn–P também foram identificadas em

culturas de P. chrysosporium por Kuwahara et al. (1984), sendo dependente de

manganês e de H2O2 para sua atividade. São glicoproteínas com peso molecular

entre 43 – 49 kDa e ponto isoelétrico entre 4,2 e 4,9, contendo um mol de ferro

28

porfirinico IX / mol de enzima (GLENN & GOLD, 1985). Essas enzimas identificam-

se em torno de 57% com as LiP (SUNDARAMOORTHY et al., 1994). Em contraste

com as LiP, Mn-P contém um “loop” extra próximo ao sítio ativo e um único sítio é o

sítio de ligação do substrato proposto (MnII).

O principal produto da reação Mn(II) o qual é oxidado pela MnPI e MnPII para

Mn(III). Mn (III) é estabilizado formando complexos com ácidos orgânicos, por

exemplo, lactato ou oxalato e então oxida um substrato aromático gerando radicais

fenox ou radicais cátion aril (Figura 13). Tanto lignina peroxidase com manganês

peroxidase, são importantes na descoloração de efluente Kraft (MICHEL et al.,

1991).

Figura 13. Mn (II) é oxidada a Mn (III) por uma peroxidase dependente de Mn.

As enzimas ligninolíticas apresentam um grande potencial na

biotransformação de ligninas e seus derivados como também nos aspectos

ambientais (biorremediação). Essas enzimas têm um papel importante na

descontaminação de efluentes papeleiros e têxteis. Atualmente são utilizadas em

biossensores para detectar fenóis em ambiente contaminado (DURAN &

ESPOSITO, 2000).

2H+ + O2 + Mn

2+ Mn

3+ + H2O2

29

3.8 Aplicações ambientais dos fungos ligninolíticos.

Um dos grandes problemas que o mundo industrializado vem enfrentando nos

dias atuais é a contaminação de solos, lençóis freáticos e sedimentos por compostos

orgânicos tóxicos. Estes poluentes são uma potencial ameaça à saúde pública e ao

ambiente. Estima-se que o mercado de remediação de solo está em torno de US$

16 milhões/ano (VANDEVIVERE & VERSTRAETE, 2001). Os contaminantes mais

comuns são compostos organoclorados, hidrocarbonetos, policlorobifenóis e metais.

A biorremediação está se tornando muito pesquisada e testada principalmente no

caso de poluição por hidrocarbonetos. Os sistemas mais utilizados na

biorremediação são os microbiológicos, principalmente, bactérias, fungos

filamentosos e leveduras (SILVA & ESPOSITO, 2004).

Fungos ligninolíticos, onde se incluem os conhecidos fungos de podridão

branca, além de utilizar a citocromo P-450 monoxigenase e a epóxido hidrolase,

para degradar hidrocarbonetos aromáticos (BEZALEL et al, 1996), também utilizam

enzimas extracelulares ligninolíticas que conferem uma maior tolerância aos

poluentes em concentrações que normalmente seriam tóxicas para outros

microorganismos. Essas enzimas que estão envolvidas na degradação de ligninas,

incluem lacase, lignina peroxidase e manganês peroxidase; têm a capacidade de

mineralizar estes compostos (Figura 14), sendo esta uma grande vantagem para a

biorremediação (SILVA & ESPOSITO, 2004).

30

Figura 14. Reação das enzimas ligninolíticas na transformação e mineralização de hidrocarbonetos aromáticos. Fonte: CERNIGLIA (1997).

Outro aspecto do uso de fungos ligninolíticos na despoluição ambiental é o

tratamento biológico de efluentes. A industrialização da polpa e papel Kraft produz

uma grande quantidade de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, extremamente

danosos ao ambiente. Neste contexto, a utilização de fungos ligninolíticos como um

método alternativo no tratamento de efluentes líquidos provenientes desse processo

parece ser de extrema relevância, tendo em vista que esses microrganismos

“trabalham praticamente de graça” e com extrema rapidez. Os processo de obtenção

de polpas celulósicas e de fabricação de papel são responsáveis pela maior carga

poluente, que atinge os ecossistemas na forma de efluentes ou resíduos sólidos,

altamente tóxicos e muitas vezes, mutagênicos, persistentes e/ou bioacumulativos

(ERIKSSON, 1990; MEHTA & GUPTA, 1991; ONYSKO, 1993 apud DURAN, 1997).

A utilização de fungos objetiva a descontaminação dos efluentes. A eficiência

desses processos esta diretamente relacionada à capacidade do fungo em degradar

a lignina (MEHTA & GUPTA, 1991; ONYSKO, 1993 apud DURAN & ESPOSITO,

1997).

Os efluentes podem causar toxicidade aguda ou crônica, mutagenicidade,

deficiência de oxigênio, eutroficação nos corpos de água receptores e, por

R

quinona

H2O

Enzimas

ligninolíticas

Clivagem do anel

aromático CO2 + H2O

31

conseqüência, modificações nas comunidades de plantas e animais (KAUSTSKY,

1992; LEONARDSSON, 1993 apud DURAN & ESPOSITO, 1997). A capacidade de

determinados fungos de descolorir efluente Kraft é amplamente documentada

(LANKINEN et al., 1991; CASTRO E SILVA et al., 1993: CAMMAROTA &

SANTANNA, 1992; FITZSIMONS ERIKSSON, 1990 dentre vários outros autores). O

fungo Phanerochaete chrysosporium foi testado no processo Mycor e proporcionou

uma redução marcado do cloro orgânico total (TOCl) em 70% e da cor em 80%

(CHANG et al., 1987). Entretanto, o alto consumo de oxigênio, o tempo de

resistência restrito e a perda de biomassa fúngica tornam este processo inviável

economicamente (CAMMAROTA & SANTANNA, 1992).

Vários estudos mostram a capacidade do fungo Phanerochaete

chrysosporium em degradar vários tipos de compostos aromáticos clorados e outros

organopoluentes (HAMMEL, 1989). O fungo Coleomycete, Stagonospora gigaspora

é capaz de mineralizar e solubilizar compostos derivados de lignina, removendo 90%

da cor de efluente de branqueamento CEH (BERGBAUER et al., 1992). O fungo

Trametes versicolor é capaz de reduzir consideravelmente organoclorados tóxicos

(PAICE et al.,1989; REID et al., 1990; ROY–ARCAND & ARCHIBALD, 1991).Em

outro estudo verificou-se que o fungo Lentinus edodes removeu 73% da cor de

efluentes fenólicos industriais e 30% de fenóis em 120 horas, sem fonte adicional de

carbono. (ESPÓSITO, 1992)

Considerando a grande diversidade de fungos no mundo, é possível antecipar

a existência de um grande número desses organismos com capacidade em degradar

poluentes e, portanto, com potencial para a micorremediação. Deve-se inclusive

32

levar em conta que grande parte dessa diversidade, se encontra em países tropicais

dos quais o Brasil é um dos maiores reservatórios (SILVA; MINTER, 1995). É

fundamental que pesquisas que descrevam e avaliem esse potencial sejam

efetivadas.

33

4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Coleta dos Fungos

Os fungos Pycnoporus sanguineus e Trametes sp com seus respectivos

substratos (porção de madeira usada como fonte de nutriente do fungo) foram

coletados, com auxílio de um facão, na BR 174 Km 41 (Amazonas) e no perímetro

urbano no Município de Manacapuru nos meses de fevereiro - maio de 2004 e

acondicionados em sacos de papel com as devidas informações sobre local, data de

coleta, coletor e tipo de substrato. Em seguida foram levados ao Laboratório de

Microbiologia da UTAM/EST-UEA, onde foram armazenados em câmara de

refrigeração científica em temperatura de 3.5ºC (INDREL RC 1500 D). No dia

seguinte após a coleta, os fungos foram inoculados em meio de cultura para em

seguida serem identificados e utilizados na pesquisa em questão.

34

4.2 Isolamento dos fungos

Utilizando-se um estilete (bisturi), foi retirado de cada carpóforo cerca de 3mm

de uma de suas extremidades. A amostra do fungo foi submetida à assepsia em

álcool a 70%, hipoclorito a 3% e água destilada, por um período de 1–2 minutos em

cada solução. Em seguida cada amostra foi colocada sobre filtro de papel para

retirar o excesso de líquido presente. Posteriormente cada fragmento fúngico já

devidamente desinfetado e seco foi inoculado no centro de cada placa de Petri, com

o meio de cultura ágar-extrato de malte, procedimento este executado em ambiente

estéril (interior da Câmara de Fluxo Laminar). As placas de Petri foram identificadas,

lacradas com fita plástica (Parafilm “M”) e deixadas em temperatura ambiente 28º C

( 2ºC) por um período de sete dias. Decorrido esse período, foi realizada a

repicagem no mesmo tipo de meio para a obtenção de uma cultura pura, sendo que

a cultura de Trametes sp foi identificada com o código FSF11 e o P. Sanguineus

com o código PIC07. As duas culturas foram depositadas em câmara de refrigeração

científica (INDREL RC 1500 D) em temperatura de 3.5ºC.

4.3 Otimização das Condições de Crescimento do Fungo

4.3.1 Temperatura

No estudo do crescimento dos fungos Pycnoporus sanguineus e Trametes sp,

objeto desta pesquisa, foi utilizado o método da placa de Petri em triplicata, no qual

35

o avanço da fronteira micelial foi medido em função do tempo.

Para o estudo sobre a influência da temperatura no crescimento micelial, foi

retirado da periferia da cultura pura cerca de 5mm do micélio de Pycnoporus

sanguineus e Trametes sp os quais foram inoculados em placas de Petri (triplicata)

contendo meio Ágar –malte (2%). Estas culturas foram mantidas em incubadoras

com temperaturas pré-estabelecidas de 25º, 31º e 35º C e em temperatura ambiente

de 28ºC ( 2ºC). O crescimento foi mensurado através da progressão linear da

fronteira micelial, sendo as medidas tomadas em duas direções a cada 24 horas,

durante 12 dias. A mensuração do raio dessa colônia permite avaliar o crescimento

micelial, o qual ocorre pela extensão da ponta da hifa, enquanto que as partes mais

antigas das hifas são incapazes de crescimento. Embora a hifa mais antiga não seja

capaz de crescer, tem um importante papel de suportar o crescimento da ponta à

medida que novo protoplasma é formado através da hifa e transportado para a ponta

pela corrente citoplasmática ativa (MOORE-LANDECKER, 1982).

4.3.2 pH

Cada fungo foi inoculado em placa de Petri (triplicata) contendo o meio ágar-

extrato de malte. O pH do meio foi ajustado para a faixa de 4,0 – 7,0 utilizando-se

para cada caso NaOH 1,0 M ou H2SO4 1,0 M. Para evitar a degradação do ágar

abaixo do pH 5,0 o ajuste foi realizado após a autoclavagem. Procedida à

inoculação, as culturas foram mantidas em incubadora a 31º C, durante 12 dias.

Assim como realizado para a temperatura, o avanço da fronteira micelial foi

mensurado em duas direções a cada 24 horas, no período de 12 dias.

36

4.3.3 – Fonte de Nitrogênio

No estudo da fonte de nitrogênio mais adequada ao crescimento de

Pycnoporus sanguineus e Trametes sp utilizamos nitrato de sódio (NaNO3) e sulfato

de amônia ((NH4)2SO4)), as quais foram adicionadas ao meio ágar-malte nas

concentrações de 30mEq/L, 60mEq/L, 90mEq/L, 120mEq/L e 150mEq/L (fonte de

nitrogênio na forma de NO3- ou NH4

+, MMNO3- e MMNH4

+ respectivamente),

acrescidos de 2% de glicose como fonte de carbono. Após a inoculação de cerca de

5mm do micélio de cultura pura, as placas foram lacradas, identificadas e mantidas

em temperatura ambiente em torno de 28ºC durante 12 dias. O experimento foi

realizado em triplicata para cada concentração e também para a testemunha. O

avanço da fronteira micelial foi mensurado diariamente no período de 12 dias.

4.4 Taxa de Crescimento dos Fungos

A taxa de crescimento foi definida como a razão entre a média da progressão

da fronteira micelial e o número de dias de crescimento do fungo.

4.5 Análise Estatística

Para a análise estatística dos dados utilizou-se o software STATISTICA 6.0,

onde se obteve os parâmetros descritivos (média, desvio padrão, variância) dos

dados, teste de correlação entre as variáveis, e o teste ANOVA e de Tukey para

contrastes das médias.

37

4.6 Determinação das Atividades Enzimáticas

4.6.1 Meio de cultura e inóculo

Os fungos foram cultivados em meio líquido contendo:

20g de extrato de malte;

antibiótico;

1000mL de água destilada.

fonte de carbono: dextrose e serragem de madeira Hura creptans.

O meio de cultura foi previamente esterilizado em autoclave à 120º C por 15

minutos, deixando-se esfriar até uma temperatura adequada para manuseio. Em

seguida, em ambiente asséptico, colocou-se 150mL de meio de cultura em cada um

dos quatro recipientes (erlenmayer). Em dois erlenmayer adicionou-se 3g de

dextrose e nos outros dois 3g de serragem de Hura creptans, como fonte de

carbono. Posteriormente procedeu-se a inoculação dos fungos (PIC07 e FSF11)

utilizando-se cerca de 2 retângulos (1,5cm x 1,0cm) de micélio por frasco de 7 – 10

dias o qual foi retirado da região periférica da placa pois o crescimento é restrito a

extremidade da hifa . O experimento foi repetido sem adição de fonte de carbono o

qual foi usado como testemunha. Cada erlenmayer foi etiquetado (identificação) e

devidamente fechado com tampão fixado com fita crepe.

Os recipientes acrescidos de fonte de carbono e a testemunha foram

mantidos em cultura estacionária em temperatura ambiente (cerca de 26ºC 2)

38

sendo as mesmas cultivadas por um período de cinco dias, a pH inicial em torno de

5,6 - 6,0. O experimento foi repetido sob agitação a 180 rpm em temperatura

ambiente (cerca de 26ºC 2). Decorrido cinco dias de cultivo dos fungos, procedeu-

se à determinação das atividades enzimáticas em dias alternados, até o décimo

oitavo dia após a inoculação dos mesmos.

4.6.2 Fenoxidases (Lacase e Peroxidase)

A atividade enzimática para fenoloxidase e lacase foi determinada em caldo

de cultivo extrato de malte acrescido de 2% de glicose ou serragem da madeira de

Hura crepitans como fonte de carbono.

Para a atividade lacase foi utilizado a metodologia proposta por Ander &

Eriksson (1976). O método baseia-se na oxidação do substrato enzimático de

siringaldazina para sua forma de quinona, que apresenta absorção a 525 nm (ε =

65000 M-1 cm-1). Uma unidade de atividade de lacase ou peroxidase corresponde à

quantidade de enzimas necessárias para oxidar 1μmol de substrato por minuto.

Para a determinação da atividade lacase utilizou-se: 50μL de caldo de cultura

filtrado, 0,95 mL de tampão tartarato de sódio a pH = 4.2, 1 mL de siringaldazine

(solução estoque 5 mg/10 mL de etanol), 1 mL de H2O destilada.

Para atividade fenoxidase utilizou-se a metodologia da oxidação do substrato

enzimático siringaldazine que apresenta absorção a 460nm (ε = 29.400). Uma

unidade de atividade fenoxidase corresponde a quantidade de enzimas necessárias

39

para oxidar 1μmol de substrato por minuto. Para a determinação da atividade

fenoxidase utilizou-se: 0,95 mL de tampão tartarato de sódio a pH 4,2, 1 mL de H2O2

(2,0mM ), 50μL de caldo de cultura filtado, 1 mL de siringaldazine (solução estoque

5mg/10 mL de etanol). A determinação da Peroxidase foi feita pela diferença da

Fenoxidase menos a Lacase.

4.6.3 Lignina Peroxidase ( LiP ) ou Ligninase

A atividade enzimática para lignina peroxidase ou ligninase foi determinada

em caldo de cultivo extrato de malte acrescido de 2% de glicose ou serragem da

madeira de Hura crepitans como fonte de carbono e também em meio sem

acréscimo de fonte de carbono (controle).

Na avaliação da atividade Lignina Peroxidase foi utilizado o método proposto

por Tien-Kirk (1984): este método baseia-se na oxidação de álcool veratrílico a

aldeído veratrílico. Para a determinação da atividade lignina peroxidase utilizou-se:

550 μL de caldo de cultura filtrado, 200 μL de H2O2 2,0 mM e 250 μL de solução de

álcool veratrílico em tampão tartarato de sódio 0,4M (pH3,0). O aparecimento do

aldeído veratrílico foi determinado lendo-se a absorbância a 310 nm (ε = 9.300 M–1

cm-1 ). Uma unidade de Lignina Peroxidase corresponde a quantidade de enzima

que oxida 1μmol de álcool veratrílico por minuto.

40

5 RESULTADOS

5.1 Otimização das condições de crescimento dos fungos

5.1.1 Velocidade de crescimento em função do tempo

O avanço da fronteira micelial apresentou uma melhor resposta linear de

crescimento em função do tempo, entre 24 e 108 horas, e entre temperaturas de

25°C a 31°C em pH 5,2. Assim, a velocidade de crescimento fúngico foi obtida em

função da inclinação da reta no intervalo de tempo mencionado (Figura15).

5.1.2 Taxa de crescimento micelial

O crescimento é restrito à extremidade da hifa, a qual cresce mais ou menos

a uma taxa linear constante e, portanto, aumenta a margem da colônia a uma taxa

linear (MOORE-LANDECKER, 1982). No presente estudo a taxa de crescimento

micelial apresenta-se diferentes para as temperaturas testadas (Figura 16).

41

(A) (B)

(C) (D)

Figura 15. Correlação da Progressão da fronteira micelial de P. sanguineus contra o

tempo. Condições de crescimento em meio ágar malte (A,C e D) e em meio ágar-

malte: 2,0% de dextrose (B), pH 5,6 e diferentes temperaturas (A= 25°C; B=28°C;

C=31°C e D= 35°C). Cada ponto representa a média de triplicata.

95% conf.

Tempo (h)

Pro

gre

ssã

o d

a f

ron

teira

mic

elia

l (c

m)

0

2

4

6

8

10

12

10 30 50 70 90 110 13095% conf.

Tempo (h)

Progressão

da fronteir

a micelial (c

m)

0

2

4

6

8

10

10 30 50 70 90 110 130

95% conf.

Tempo (h)

Progressão

da fronteir

a micelial (c

m)

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

10 30 50 70 90 110 130 95% conf.

Tempo (h)

Progressão

da fronteir

a micelial (c

m)

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

10 30 50 70 90 110 130

42

Figura 16.Taxa de crescimento dos fungos mensuradas no período de uma

semana em diferentes temperaturas.

Em geral, o fungo P. sanguineus apresentou uma taxa de crescimento média

maior do que o fungo Trametes sp (Figura 16). Ambos os fungos apresentaram

maior taxa de crescimento na faixa de temperatura entre 31-35°C e a menor em

25°C. Verifica-se uma relação positiva entre a taxa de crescimento e a temperatura,

onde à medida que a temperatura aumenta ocorre um aumento na taxa de

crescimento, com exceção para o P. sanguineus que mostrou um pequeno

decréscimo na taxa de crescimento inicial na temperatura de 28 °C.

43

5.1.3 Influência do pH no crescimento micelial dos fungos

Os fungos apresentaram um bom crescimento na faixa de pH considerada

(pH 4–7). No caso do Pycnoporus sanguineus o maior crescimento médio, em

termos absolutos, ocorreu no pH 5 e o menor no pH 4 (Tabela 03). O mesmo padrão

ocorreu para Trametes sp sendo que neste caso o valor médio absoluto para o

menor crescimento foi inferior àquele do P. sanguineus.

Tabela 03. Influência do pH no crescimento micelial dos fungos.

FUNGO pH

Cresc. micelial (cm)

Variância Desvio Padrão (Média)

Pycnoporus

sanguineus

4

5.01

5.023

2.24 5 6.90 5.747 2.39 6 6.88 6.104 2.47 7 6.64 6.026 2.45

Trametes sp

4

4.56

3.645

1.90 5 6.53 5.777 2.40 6 6.35 6.225 2.49 7 6.28 6.425 2.53

A Análise de variância para determinar se existe diferença significativa no

crescimento micelial entre os diferentes pHs (pH 4-6) evidenciou que ao nível de

95% de probabilidade existe diferença entre as médias obtidas (Tabela 04). Ou seja,

o crescimento micelial, medido pela progressão linear do avanço da fronteira

micelial, não é o mesmo. Teste de Tukey para comparação entre duas médias

mostrou diferença significativa no valor médio de crescimento para o pH4.

44

Tabela 04. Análise de Variância do efeito do pH no crescimento micelial do

Pycnoporus sanguineus.

Causas de variação

Grau de liberdade (G.L) SQ QM F p

Entre

Tratamentos

Dentro de Tratamentos

TOTAL

2

45

47

37,8295

253,2061

291,0356

18,9147

5,6268

3,3615

0,043589*

* significativo ao nível = 0,05

Por outro lado, quando se faz uma análise de variância em que se agrupam

todos os pHs (4-7), o teste não detectou nenhuma diferença estatística.

Em todos os pHs existe uma relação linear da progressão da fronteira

micelial em função do tempo de crescimento do fungo. De modo geral, existe um

forte coeficiente de correlação em torno de r= 0,98 a r=0,99 para todos os

pHs (Figura 17).

45

(A) (B)

(C) (D)

Figura 17. Avanço linear da progressão da fronteira micelial do P. sanguineus. (A)

pH 4; (B) pH 5; (C) pH 6; (D) pH 7.

A Análise de variância realizada com valores de crescimento micelial de

Trametes sp obtidos na faixa de pH 4-6, para se verificar a existência de diferenças

significativas entre as médias desses dados, mostrou que ao nível de 95% de

probabilidade existe diferença entre elas (Tabela 05).

95% conf.

PIC_PH4

Tempo de c resc imento (horas )

Pro

gre

ssã

o d

a fr

on

teir

a m

ice

lial (

cm)

1,0

2,5

4,0

5,5

7,0

8,5

10 30 50 70 90 110 130

95% conf.

. PIC_PH6

Tempo de crescimento (hora)

Pro

gre

ssã

o d

a fro

nte

ira

mic

elia

l (cm

)

2

3

4

5

6

7

8

9

10

10 30 50 70 90 110 130

95% conf.

PIC_PH5

Tempo de crescimento (horas)

Pro

gre

ssã

o d

a fr

on

teir

a m

ice

lial (

cm)

2

3

4

5

6

7

8

9

10

10 30 50 70 90 110 130

95% c onf.

. PIC_PH7

Tempo de c res c imento (hora)

Pro

gre

ssã

o d

a fr

on

teir

a m

ice

lial (

cm0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

10 30 50 70 90 110 130

46

Tabela 05. Análise de Variância do efeito do pH no crescimento micelial do Trametes sp.

Causas de variação

Grau de liberdade (G.L)

SQ

QM

F

p

Entre

Tratamentos

Dentro de Tratamentos

TOTAL

2

45

47

40,3229

234,7318

275,0547

20,1614

5,2162

3,8651

0,0282*

* significativo ao nível = 0,05 (p <0,05 significativo)

A diferença no valor médio de crescimento micelial entre o pH mínimo (pH 4)

e máximo (pH 7) testado é de aproximadamente 37,73%.

Teste de Tukey para comparação de duas médias mostrou que o crescimento

obtido no pH 4 é significativo em relação aos outros pHs (Tabela 06). Ou seja, o

crescimento do fungo Trametes sp em meio de cultura ágar - malte e pH 4 é menor.

Tabela 06. Teste de Tukey para crescimento micelial do Trametes sp em três pH.

{1} pH4 {2} pH5 {3} pH6

M=4,5062 M=6,5375 M=6,3500

G_1:1 {1} 0.040475971 0.068617939

G_2:2 {2} 0.040475971 0.97080951

G_3:3 {3} 0.068617939 0.97080951

* números em negrito indicam significância a 95% de probabilidade.

Portanto, ambos os fungos apresentaram o menor avanço da fronteira

micelial, no pH 4. Tanto para Pycnoporus sanguineus como Trametes sp a faixa de

pH 5 -7 é satisfatória para crescimento no meio ágar-malte (figuras 18 e 19).

47

Figura 18. Crescimento micelial de P. sanguineus em meio ágar malte.

Figura 19. Crescimento micelial de Trametes sp em meio ágar malte.

pH 6

pH 4 pH 5

pH 7

pH 4 pH 5

pH 6 pH 7

48

5.1.4 Concentração de Nitrogênio

A tabela 07 mostra os valores médios da progressão da fronteira micelial para

Pycnoporus sanguineus e Trametes sp nas diferentes concentrações de nitrato de

sódio (NS) e sulfato de amônia (SA). No geral, verifica-se para P. sanguineus que a

média do crescimento micelial, definido como a progressão linear do micélio, foi

similar para todas as fontes de nitrogênio testadas, notadamente para o nitrato de

sódio.

Tabela 07. Parâmetros descritivos da progressão da fronteira micelial do Pycnoporus

sanguineus e Trametes sp em diferentes concentrações de nitrogênio.

FUNGO

Fonte

Conc. N

Cresc. micelial (cm)

Variância

Desvio

Nitrogênio (mEq./L) (média) Padrão

Pycnoporus sanguineus

Nitrato de Sódio

30

5.37

8.7183

2.9527

60 4.98 8.0713 2.8410

90 4.91 8.0969 2.8455

120 5.38 9.7654 3.1250

150 5.40 7.7620 2.7860

Sulfato de Amônia

30

6.38

6.2108

2.4921

60 6.22 6.6321 2.5753

90 6.13 7.7465 2.7833

120 5.86 7.5927 2.7555

150 5.10 7.3424 2.7097

Trametes sp

Nitrato de Sódio

30

6.28

7.9397

2.8177

60 5.36 7.5935 2.7556

90 4.75 5.7773 2.4036

120 5.16 9.2191 3.0363

150 4.54 8.0677 2.8404

Sulfato de Amônia

30

6.24

7.2399

2.6907

60 5.89 7.9115 2.8127

90 5.32 5.2343 2.2879

120 5.78 8.2993 2.8808

150 4.84 6.2521 2.5004

49

No caso específico do sulfato de amônia, a menor média da progressão da

fronteira micelial do P. sanguineus aconteceu para a concentração de 150 mEq./L. A

diferença da média entre a menor e maior concentração (30 mEq./L e 150 mEq./L)

nesta fonte de nitrogênio foi de 20,6%, sendo que a concentração de 30 mEq./L é

onde ocorreu o maior valor para progressão micelial.

Para o nitrato de sódio, nota-se que, o menor valor médio para progressão da

fronteira micelial em P. sanguineus ocorreu para a concentração de 90 mEq./L, e o

maior para a concentração de 150 mEq./L. Como a diferença entre as médias

encontradas nas concentrações das duas fontes de nitrogênio ultrapassou os 15%,

realizamos o teste de análise de variância para determinar se existe diferença

estatística entre as médias dos valores encontrados (Tabelas 08 e 09). Os dados

mostraram que as duas fontes de nitrogênio nas concentrações testadas não

influenciaram no crescimento micelial de P. sanguineus.

Tabela 08. Análise de Variância do efeito da concentração de sulfato de amônia no crescimento micelial do Pycnoporus sanguineus.

Causas de variação

Grau de liberdade

(G.L)

SQ

QM

F

p

Entre Tratamentos

Dentro de Tratamentos

TOTAL

4

45

49

10,2389

319,72086

329,95976

2,5597

7,1049

0,36027

0,8355*

* não significativo ao nível = 0,005

50

Tabela 09. Análise de Variância do efeito da concentração de nitrato de sódio no crescimento micelial do Pycnoporus sanguineus.

Causas de variação

Grau de liberdade

(G.L)

SQ

QM

F

p

Entre Tratamentos

Dentro de

Tratamentos

TOTAL

4

45

49

2,4755

399,5877

402,0632

0,61882

8,50186

0,07279

0,99004*

* não significativo ao nível = 0,005

Culturas de Pycnoporus sanguineus e Trametes sp em meio ágar-malte

dextrose acrescidas de nitrato de sódio como fonte de nitrogênio podem ser

observadas nas figuras 20 e 21.

Figura 20. P. sanguineus em meio Ágar-malte dextrose acrescido de NaNO3.

Figura 21. Trametes sp em meio Ágar-malte dextrose acrescido de NaNO3.

30 mEq

Controle 30 mEq

150 mEq 90 mEq 60 mEq Controle 30 mEq

51

A progressão da fronteira micelial do Trametes sp em diferentes

concentrações de nitrogênio também mostrou similaridade nos valores absolutos

(Tabela 07). Por outro lado, o maior valor médio de crescimento micelial aconteceu

na concentração de 30 mEq./L do nitrato de sódio.

Diferentemente do que aconteceu com o P. sanguineus nota-se que a

diferença no valor médio da progressão da fronteira micelial de Trametes sp entre a

menor e maior concentração foi de 27,71% para o nitrato de sódio e 22,4% para o

sulfato de amônia.

Com o intuito também de verificar a existência ou não de diferenças

significativas na progressão da fronteira micelial entre as concentrações nas duas

fontes de nitrogênio, ou seja, testar a hipótese de que as médias das populações de

onde essas amostras provieram são iguais, foi aplicado o teste de análise de

variância.

Análise de variância mostrou que as médias entre as concentrações dentro de

cada fonte de nitrogênio, não são significativas (Tabelas 10 e 11). Portanto, para o

fungo Trametes sp as duas fontes de nitrogênio nas concentrações testadas não

exercem nenhuma influência no sentido de aumentar ou diminuir a produção

micelial.

52

Tabela 10. Análise de Variância do efeito da concentração de sulfato de amônia no crescimento do fungo Trametes sp

Causas de variação

Grau de liberdade

(G.L)

SQ

QM

F

p

Entre

Tratamentos

Dentro de

Tratamentos

TOTAL

4

48

52

12,5159

334,21986

346,7357

3,1289

6,9629

0,449378

0,7723*

* não significativo ao nível = 0,05

Tabela 11. Análise de Variância do efeito da concentração de nitrato de sódio no

crescimento do fungo Trametes sp

Causas de variação

Grau de liberdade

(G.L)

SQ

QM

F

p

Entre

Tratamentos

Dentro de

Tratamentos

TOTAL

4

49

53

19,0442

378,0338

397,0780

4,76104

7,71497

0,617118

0,65239*

* não significativo ao nível = 0,05

A tabela 12 mostra a velocidade de crescimento expressa em mm/h em

diferentes fontes e concentrações de nitrogênio. Observa-se que o maior valor

absoluto médio para a velocidade de crescimento ocorreu na concentração de 30

mEq/L para ambos os fungos.

53

Tabela 12. Crescimento dos fungos (mm/h) em diferentes fontes e concentrações de

nitrogênio.

Fungo

Fonte

Concentração

Velocidade de crescimento (mm/h)

Nitrogênio (mEq.) Média Max. Min. Var. DP

PIC

NS

30

3,9

4,6

3,3

0,0000

0,0037

60 3,7 4,1 3,3 0,0000 0,0023 90 3,3 3,5 2,9 0,0000 0,0018

120 3,5 4,0 2,5 0,0000 0,0048 150 3,0 3,7 2,6 0,0001 0,0105

Testemunha 4,5 5,1 3,4 0,0000 0,0136

AS

30

3,8

4,6

3,2

0,0001

0,0139

60 3,6 4,1 3,1 0,0001 0,0130 90 3,5 3,5 2,9 0,0001 0,0123

120 3,3 4,0 2,7 0,0001 0,0117 150 3,3 3,7 2,8 0,0001 0,0102

Testemunha 3,3 4,1 1,3 0,0001 0,0137

FSF

NS

30

3,6

4,6

3,5

0,0001

0,0127

60 2,8 3,3 2,0 0,0000 0,0096 90 2,4 3,0 1,8 0,0000 0,0086

120 2,5 3,4 1,4 0,0001 0,0101 150 2,2 3,1 1,3 0,0001 0,0136

Testemunha 3,8 5,1 3,6 0,0001 0,0137

AS

30

3,6

4,3

3,1

0,0001

0,0128

60 3,3 4,0 2,6 0,0001 0,0118 90 2,9 3,7 2,2 0,0001 0,0102

120 3,3 4,0 2,7 0,0001 0,0117 150 2,5 3,1 2,1 0,0000 0,0086

Testemunha 3,1 4,1 0,0001 0,0113

Com o objetivo de verificar a influência do nitrato de sódio e sulfato de

amônia na velocidade de crescimento dos fungos analisados, foi realizada a análise

de variância entre as médias das velocidades encontradas para as diferentes

concentrações de nitrogênio.

54

A tabela 13 mostra os dados da análise de variância para o fungo Trametes

sp tendo o nitrato de sódio como fonte de nitrogênio. Verifica-se diferença

significativa entre as médias analisadas ao nível de 5% de significância. Dessa

forma seria necessário saber quais concentrações apresentam diferenças

significativas entre si. Neste sentido, aplicou-se o teste de Tukey para verificar

qualquer contraste entre duas médias de tratamentos.

Tabela 13. Análise de variância dos valores da velocidade de crescimento do

Trametes sp em meio ágar-malte tendo como fonte de nitrogênio nitrato de sódio.

Causas de variação

Grau de liberdade

(G.L)

SQ

QM

F

p

Entre

Tratamentos

Dentro de Tratamentos

TOTAL

5

64

69

0,002409

0,007383

0,009792

0,000482

0,000115

4,176

0,00239 *

* significativo ao nível = 0,05

O teste do contraste de duas médias (Tabela 14) mostra que nas

concentrações de 30 mEq/L., 60 mEq/L. e 120 mEq/L. o nitrato de sódio não

contribui para aumentar a velocidade de crescimento do fungo Trametes sp, quando

comparadas com a média de crescimento do controle (testemunha). Por outro lado,

nas concentrações de 90 mEq/L. e 150 mEq/L. o nitrato de sódio atua de uma

maneira inibitória diminuindo velocidade de crescimento quando comparado com o

controle (testemunha).

55

Tabela 14. Teste de Tukey para contraste de duas médias da velocidade de

crescimento do fungo Trametes sp em diferentes concentrações de nitrato de sódio.

30 mEq. 60 mEq. 90 mEq. 120 mEq. 150 mEq. Controle

M=3,6 {1} M=2,8 {2} M=2,4 {3} M=2,5 {4} M= 2,2 {5} M=3,8 {6}

G_1:1 {1} 0.430892 0.120828 0.184193 0.030933(*) 0.998489496

G_2:2 {2} 0.430892 0.979626 0.99575 0.793625 0.214196766

G_3:3 {3} 0.120828 0.979626 0.999952 0.992791 0.044228842(*)

G_4:4 {4} 0.184193 0.99575 0.999952 0.971035 0.073045854

G_5:5 {5} 0.030933(*) 0.793625 0.992791 0.971035 0.009439789(*)

G_6:6 {6} 0.998489 0.214197 0.044229(*) 0.073046 0.00944(*)

* significativo ao nível de 95%.

A análise de variância para o Pycnoporus sanguineus crescendo em meios

com diferentes concentrações de nitrato de sódio mostrou significância dentro dos

tratamentos usados (Tabela 15).

Tabela 15. Análise de variância dos valores da velocidade de crescimento do P.

sanguineus em meio ágar-malte tendo como fonte de nitrogênio nitrato de sódio.

Causas de variação

Grau de

liberdade (G.L)

SQ

QM

F

P

Entre

Tratamentos

Dentro de Tratamentos

TOTAL

5

58

63

0,001398

0,001885

0,003283

0,00028

3,249 x10-5

8,6019

3,828 x10-6 (*)

significativo ao nível = 0,05

O Teste de Tukey para verificar o contraste entre duas médias mostra que na

concentração de 30 mEq/L. a velocidade de crescimento (mm/h) é significantemente

diferente somente em relação a concentração de 150 mEq/L (Tabela 16). No caso

específico do Pycnoporus sanguineus a velocidade de crescimento no meio sem

56

acréscimo de nitrogênio (controle) é maior e estatisticamente diferente das

concentrações de 60, 90, 120 e 150 mEq/L. Portanto, o nitrato de sódio não

influencia no aumento da velocidade de crescimento do P. sanguineus crescendo

em meio ágar-malte.

Tabela 16. Teste de Tukey para contraste de duas médias da velocidade de

crescimento do fungo P. sanguineus em diferentes concentrações de Nitrato de

Sódio

30 mEq. 60 mEq. 90 mEq. 120 mEq. 150 mEq. Controle

M=3,9 {1} M=3,7 {2} M=3,3 M=3,5 M=3,0 M= 4,5

G_1:1 {1}

0.890457

0.125762

0.536707

0.00434(*)

0.300033756

G_2:2 {2} 0.890457 0.654082 0.987087 0.069403 0.024198177(*)

G_3:3 {3} 0.125762 0.654082 0.951296 0.786036 0.000347738(*)

G_4:4 {4} 0.536707 0.987087 0.951296 0.267621 0.003899061(*)

G_5:5 {5} 0.00434(*)

0.069403 0.786036 0.267621 0.000136764(*)

G_6:6 {6} 0.300034 0.024198(*)

0.000348(*)

0.003899(*)

0.000137(*)

* significativo ao nível = 0,05

A Análise de variância para velocidade de crescimento em meio contendo

sulfato de amônia mostrou que para ambos os fungos não existe diferença

significativa entra as médias das concentrações estudadas (Tabelas 17 e 18).

57

Tabela 17. Análise de variância dos valores da velocidade de crescimento do

Trametes sp em meio ágar-malte tendo como fonte de nitrogênio sulfato de amônia.

Causas de variação

Grau de liberdade (G.L)

SQ

QM

F

p

Entre

Tratamentos

Dentro de Tratamentos

TOTAL

5

65

70

0,000543

0,008913

0,009456

0,000109

0,000137

0,791

0,55936(*)

* não significativo ao nível = 0,05

Tabela 18. Análise de variância dos valores da velocidade de crescimento do P.

sanguineus em meio ágar-malte tendo como fonte de nitrogênio sulfato de amônia.

Causas de variação

Grau de liberdade

(G.L)

SQ

QM

F

p

Entre

Tratamentos

Dentro de Tratamentos

TOTAL

5

60

65

0,000654

0,009494

0,009456

0,000131

0,000158

0,826

0,53556(*)

* não significativo ao nível = 0,05

Nas figuras 22 e 23 podem ser observadas culturas de Pycnoporus

sanguineus e Trametes sp em meio ágar-malte dextrose acrescido de sulfato de

amônia como fonte de nitrogênio.

58

Figura 22. Cultura do fungo P. sanguineus em meio Ágar-malte dextrose acrescido

de ((NH4)2SO4)).

Figura 23. Cultura do fungo Trametes sp em meio Ágar-malte dextrose acrescido

de ((NH4)2SO4)).

60 mEq

150 mEq Controle

120 mEq 90 mEq

30 mEq

60 mEq 150 mEq

controle

120 mEq

90 mEq

30 mEq

59

5.2 Atividade enzimática dos fungos

5.2.1 Atividade enzimática do P sanguineus em cultura estacionária

De modo geral, o meio tendo serragem de madeira Hura creptans como fonte

de carbono foi o que apresentou uma maior concentração das enzimas fenoloxidase

e lacase conforme resultado apresentado (Tabela 19).

Tabela 19. Valor médio da atividade enzimática do P. sanguineus em crescimento

estacionário em meio ágar-malte acrescido de fontes de carbono (dextrose e

serragem da madeira de H. crepitans).

Concentração (U/L)

Enzima

Estacionário

Dextrose Serragem de madeira

Lacase 0,377 0,563

Fenoloxidase 1,476 2,175

Peroxidase 1,099 1,612

A máxima atividade de fenoloxidase e peroxidase neste meio ocorreu no

décimo terceiro dia, enquanto que para lacase no décimo sexto dia (Figura 24)

60

Figura 24. Atividade enzimática da cultura estacionária do P. sanguineus em meio

líquido extrato de malte tendo como fonte de carbono, serragem da madeira H.

crepitans.

Por outro lado, a máxima atividade de fenoloxidase e peroxidase no meio com

fonte de carbono dextrose ocorreu no sétimo dia de crescimento, enquanto que para

lacase no décimo terceiro dia (Figura 25). Após essa atividade máxima observou-se

um decréscimo e subseqüentemente aumento dessas atividades enzimáticas até o

décimo terceiro dia, onde a partir de então começa a diminuir até o tempo final de

medição. Para lacase a máxima atividade ocorreu no décimo terceiro dia. Diferente

das enzimas anteriores, a liberação da lacase nessa fonte de carbono mostrou-se

crescente até o período máximo de atividade e um subseqüente decréscimo até o

tempo final de medição.

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

5 7 9 11 13 16 18

DIAS

U/L

Fenoloxidase Lacase Peroxidase

61

Figura 25. Atividade enzimática da cultura estacionária do P. sanguineus em meio

liquido extrato de malte tendo 2% de dextrose como fonte de carbono.

Ressalta-se, entretanto, que no meio com serragem de madeira o valor médio

absoluto da atividade de fenoloxidase e peroxidase foi maior do que no meio com

dextrose. A concentração fenoloxidase no meio com fonte de carbono serragem de

madeira foi aproximadamente 69% maior do que naquele com dextrose (Tabela 20).

Da mesma maneira, a concentração de peroxidase foi aproximadamente 53% e da

lacase 37% maior no meio contendo como fonte de carbono a serragem da madeira

de H. crepitans.

62

Tabela 20. Diferença em porcentagem da máxima atividade enzimática do fungo P.

sanguineus em crescimento estacionário com diferentes fontes de carbono

(dextrose e serragem de madeira H. creptans).

Concentração (U/L)

Enzima

Estacionário

Dextrose Serragem Diferença (%)

Lacase 0,55 0,76 37,30

Fenoloxidase 1,91 3,22 68,83

Peroxidase 1,66 2,55 53,21

5.2.2 Atividade enzimática do Trametes sp em cultura estacionária

O fungo Trametes sp também apresentou maior atividade enzimática no meio

com serragem de madeira. Neste caso, entretanto, a concentração de enzima em

valores absolutos foi menor do que no P. sanguineus (Tabela 19 e 21).

Tabela 21. Valor médio da atividade enzimática do fungo Trametes sp em

crescimento estacionário em meio ágar-malte com diferentes fontes de carbono

(dextrose e serragem da madeira de H. crepitans).

Concentração (U/L)

Enzima

Estacionário

Dextrose Serragem de madeira

Lacase 0,167 0,346

Fenoloxidase 0,752 1,509

Peroxidase 0,584 1,164

63

Para o crescimento em meio com fonte de carbono serragem de madeira a

maior concentração para fenoloxidase e peroxidase ocorreu no décimo oitavo dia de

crescimento (Figura 26) observando-se diferença em relação ao P. sanguineus que

com treze dias este fungo apresentou a sua maior concentração (Figura 24). A

máxima concentração de lacase em Trametes sp ocorreu no décimo sexto dia de

crescimento. Para este fungo a atividade enzimática máxima apresentou percentual

bem superior no meio acrescido de serragem chegando a apresentar duas vezes

mais concentração das enzimas fenoloxidase e peroxidase (Tabela 22). Verificou-se

que a lacase dobrou a concentração no meio acrescido de serragem. Este resultado

mostra que este fungo apresenta uma atividade bem mais agressiva no meio

acrescido de serragem da madeira de H. creptans do que o fungo P. sanguineus.

Figura 26. Atividade enzimática da cultura estacionária do Trametes sp em meio

líquido extrato de malte (fonte de carbono serragem de madeira H. crepitans).

64

Tabela 22. Diferença em porcentagem da máxima atividade enzimática do fungo

Trametes sp no crescimento estacionário com diferente fonte de carbono

(dextrose e serragem de madeira H. creptans).

Concentração (U/L)

Enzima

Estacionário

Dextrose Serragem Diferença (%)

Lacase 0,209 0,462 121

Fenoloxidase 0,905 2,915 222

Peroxidase 0,699 2,569 267

No meio com fonte de carbono dextrose a máxima concentração de

fenoloxidase e peroxidase ocorreu com dezoito dias de atividade. Para essas

enzimas observou-se uma atividade inicial crescente, e subseqüentemente

decréscimo até o décimo primeiro dia, quando a partir de então cresce atingindo o

nível máximo no décimo sexto dia (Figura 27) bem distinto do Pycnoporus

sanguineus onde já com sete dias este fungo apresentou a sua maior concentração.

Por outro lado, a concentração de lacase nesta fonte de carbono logo no inicio (5º

dia) atingiu o seu máximo (0,266U/L), decrescendo com algumas flutuações nos

valores (entre 0,098 a 0,209 U/L) até o período máximo considerado para

mensuração (18 dias) diferente do que aconteceu com o fungo P. sanguineus onde

a máxima concentração ocorreu no décimo terceiro dia de atividade (figura 22). No

processo de liberação da lacase o fungo Trametes sp demonstrou um processo de

liberação mais rápido, diferente do que foi observado para o P. sanguineus.

65

Figura 27. Atividade enzimática da cultura estacionária do Trametes sp em meio

líquido extrato de malte dextrose (2%) como fonte de carbono.

5.2.3 Atividade enzimática de P. sanguineus sob condição de agitação

A atividade das enzimas fenoloxidase e peroxidase para o fungo

crescendo no meio em agitação e tendo a glicose como fonte de carbono atingiu

nível máximo de crescimento no sétimo dia , com decréscimo logo depois e ligeiro

aumento de atividade posteriormente até o fim do experimento (Figura 28). Por outro

lado, no meio com serragem como fonte de carbono, e nas mesmas condições de

crescimento essa atividade enzimática atingiu sua produção máxima no décimo

quarto dia de crescimento (Figura 29).

66

Figura 28. Atividade enzimática do P. sanguineus em meio líquido extrato de malte

sob agitação tendo dextrose como fonte de carbono.

Figura 29. Atividade enzimática do P. sanguineus em meio líquido extrato de malte

sob agitação tendo serragem de madeira de H. creptans como fonte de carbono.

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

8,0

9,0

5 7 9 12 14 16 17

DIAS

U/L

Fenoloxidase Lacase Peroxidase

67

5.2.4 Atividade enzimática do Trametes sp sob condição de agitação

Para a atividade de fenoloxidase e peroxidase em meio tendo glicose como

fonte de carbono, o nível máximo de atividade ocorreu no décimo segundo dia de

crescimento. O padrão de produção dessas enzimas nesta fonte de carbono,

mostrou-se crescente até atingir o seu nível máximo e com posterior decréscimo,

com flutuações, até o final do período de medição (Figura 30). A produção de lacase

atingiu seu nível máximo ao nono dia de atividade do fungo Trametes sp, e posterior

decréscimo até o final do período considerado para crescimento (Figura 30). Por

outro lado, a produção dessa enzima no meio com serragem como fonte de carbono

atingiu seu nível máximo com dezesseis dias de crescimento (Figura 31).

A produção de fenoloxidase e peroxidase em meio com serragem como fonte

de carbono atingiu seu nível máximo, assim como a lacase, no décimo sexto dia de

crescimento do fungo.

68

Figura 30. Atividade enzimática de Trametes sp em meio líquido extrato de malte

sob agitação tendo dextrose como fonte de carbono.

Figura 31. Atividade enzimática de Trametes sp em meio líquido extrato de malte

sob agitação tendo serragem da madeira H. creptans como fonte de carbono.

69

5.2.5 Comparação entre as atividades enzimáticas de P. sanguineus e

Trametes sp sob condição de agitação.

Na condição de crescimento sob agitação acrescido de serragem de madeira

como fonte de carbono o fungo P.sanguineus apresentou maior atividade

enzimática, quando comparado com a produção na condição estacionária. Assim,

em termos absolutos a atividade enzimática sob condição de agitação é maior. Sob

estas condições a maior diferença percentual ocorreu para a enzima lacase cuja

produção no meio com serragem é 70,64 % maior (Tabela 23).

Tabela 23. Produção média de enzimas ligninolíticas por P. sanguineus e Trametes

sp em diferentes fontes de carbono.

Concentração (U/L)

P. sanguineus

Enzima

Agitação

Dextrose

Serragem

Diferença (%)

Lacase 2,500 4,266 70,64

Fenoloxidase 5,805 9,691 66,94

Peroxidase 3,304 5,424 64,16

Trametes sp

Enzima

Agitação

Dextrose

Serragem

Diferença (%)

Lacase 4,108 1,548 165,30

Fenoloxidase 10,378 4,548 128,18

Peroxidase 6,269 2,999 109,0

Nesta condição de crescimento o fungo Trametes sp também apresentou

maior atividade enzimática, em termos absolutos, quando comparado com a

produção na condição estacionária.

70

A atividade enzimática também foi maior no meio com glicose como fonte de

carbono e condição de agitação (Tabela 23). A maior diferença percentual ocorreu

para a enzima lacase cuja produção no meio com glicose é 165% maior.

5.3 Atividade Ligninase dos fungos Pycnoporus sanguineus e Trametes sp

De modo geral ambos os fungos apresentaram alta atividade de ligninase,

sendo que P. sanguineus, apresenta máxima atividade dessa enzima (391,95 U/L)

no décimo primeiro dia de crescimento em meio com serragem da madeira de Hura

crepitans como fonte de carbono e em condição estacionária. Enquanto que nessas

mesmas condições, mas sob agitação a maior atividade ocorreu no final do período

de crescimento (décimo sexto dia) do experimento. Em termos de valor médio de

produção enzimática o P. sanguineus no meio com serragem como fonte de carbono

e em condição estacionária, apresentou maior atividade de ligninase (Figura 32). Por

outro lado, no crescimento sob agitação este fungo apresentou maior atividade desta

enzima no meio acrescido de dextrose como fonte de carbono. Ressalta-se,

entretanto, que apesar da maior atividade em meio contendo serragem de madeira

como fonte de carbono e em condição estacionária, o fungo Pycnoporus sanguineus

parece não ser exigente no quesito fonte de carbono uma vez que a produção dessa

enzima mostrou-se alta mesmo no meio usado como controle, ou seja sem

acréscimo de nenhuma fonte de carbono (Figura 32).

71

Figura 32. Produção de ligninase de Pycnoporus sanguineus em diferentes fontes de carbono

Comportamento similar foi observado para o fungo Trametes sp no que diz

respeito à exigência de uma fonte de carbono para a produção de ligninase. A maior

produção dessa enzima ocorreu no décimo quarto dia de crescimento tanto no meio

acrescido de serragem (399 U/L) como dextrose (370 U/L) como fonte de carbono e

sob agitação. Em termos de valores médios de produção da ligninase o Trametes sp

apresentou melhor atividade em meio sob agitação (Figura 33). Entretanto, assim

como para o P. sanguineus, o fungo Trametes sp parece não ser exigente de fonte

de carbono para produção dessa enzima uma vez que o crescimento em meio de

cultura sem acréscimo de nenhuma fonte de carbono (controle) e na condição

estacionária apresentou valor bem superior daqueles obtidos com crescimento em

diferentes fontes de carbono.

200

220

240

260

280

300

320

340

360

380

Dextrose Serragem Controle

Fonte de Carbono

Lig

nin

as

e U

/L

Agitação Estacionária

72

Figura 33. Produção de ligninase de Trametes sp em diferentes fontes de carbono.

200

220

240

260

280

300

320

340

360

380

Dextrose Serragem Controle

Fonte de Carbono

Lig

nin

ase U

/L

Agitação Estacionária

73

6. DISCUSSÃO

O método de mensuração linear para avaliar o crescimento dos fungos pode

ser considerado viável, simples, econômico, prático além de que permite observar as

mudanças na colônia do fungo no meio cultivo por um certo período de tempo.

6.1 Temperatura

A mensuração do raio da colônia permite avaliar o crescimento micelial, o

qual ocorre pela extensão da ponta da hifa, enquanto que as partes mais antigas

das hifas são incapazes de crescimento. Embora a hifa mais antiga não seja capaz

de crescer, tem um importante papel de suportar o crescimento da ponta à medida

que novo protoplasma é formado através da hifa e transportado para a ponta pela

corrente citoplasmática ativa (MOORE-LANDECKER, 1982). É este transporte ativo

dos componentes sintetizados que faz possível a rápida taxa de crescimento da

ponta da hifa, o qual para Pycnoporus sanguineus em cultura é em torno de 0,7 a

0,8 mm e Trametes sp entre 0,5 a 0,6 mm crescendo em meio Ágar-malte a

temperatura de 31ºC.

74

Ferraz (1991) observou que a velocidade de crescimento apresenta certa

variabilidade numa mesma condição de cultivo daí a necessidade de se conduzir um

experimento em condições padronizadas.

Os fungos amazônicos mostram um padrão de crescimento crescente à

medida que aumenta a temperatura o que confirma a tendência já amplamente

documentada na literatura cientifica da extrema importância desse parâmetro na

determinação da quantidade e taxa de crescimento de um organismo. O aumento da

temperatura em geral aumenta a atividade enzimática (MOORE-LANDECKER,

1982), uma vez que o movimento das moléculas da enzima e do substrato

aumentam, provocando colisões entre enzima e substrato resultando na formação

de mais produto.

6.2 pH

Outro requisito físico que afeta o crescimento do fungo é o pH, pois pode

influenciar a disponibilidade de certos íons metálicos. Estes podem formar

complexos que se tornam insolúveis em certas faixas de pH. No caso dos fungos

Pycnoporus sanguineus e Trametes sp a relação positiva de crescimento micelial

com o aumento do pH, de uma certa forma mostra que o crescimento no pH 4

(baixo) pode estar diretamente relacionado ao resultado direto da grande

disponibilidade de ferro, enquanto no pH alto (5 -7) pode ser devido o aumento da

atividade enzimática com o pH ótimo alto.

75

Na faixa de pH 5 -7 ocorreu o melhor crescimento de ambos os fungos, sendo

que na faixa de 5-6 verificou-se o máximo crescimento. Este resultado mostra que o

pH apresenta influência no crescimento fúngico, portanto torna-se necessário o

controle do pH. Castro e Silva (1996) também observou similar efeito do pH para os

fungos Antrodia albida e Tyromyces sp, os quais preferiram pH pouco ácido com

uma faixa de pH 5-8 e o ótimo em pH 6.

6.3 Nitrogênio

Os resultados do estudo da fonte de nitrogênio mais adequada ao

crescimento de Pycnoporus sanguineus e Trametes sp indicaram que ambos os

fungos utilizam indiscriminadamente NO3- ou NH4

+ como fonte de nitrogênio. A

utilização de NO3- ou NH4

+ como fonte de nitrogênio proporciona a vantagem de se

empregar qualquer dos dois íons (FERRAZ, 1991), enquanto que vários fungos

necessitam de uma forma específica de nitrogênio, uréia ou aminoácidos (MOORE-

LANDECKER, 1982). Ressalta-se, entretanto, que a velocidade de crescimento

máxima dos fungos Pycnoporus sanguineus e Trametes sp ocorreu na concentração

de 30 mEq /L de nitrogênio.

O nitrogênio presente na madeira e seu papel na deterioração da mesma tem

sido estudado há muito tempo sendo comprovado que fungos xilófagos degradam a

madeira a despeito do seu baixo teor de nitrogênio, sugerindo-se que autólise e re-

uso do nitrogênio é um mecanismo pelo qual o fungo pode conservar a pouca fonte

76

de nitrogênio na madeira (ERIKSSON et al., 1980). Estudos têm mostrado que a

degradação é aumentada se o nitrogênio é adicionado, mas uma alta concentração

parece ser inibitória. Keyser et al. (1978) apud Eriksson et al. (1980), por outro lado,

mostraram que a degradação da lignina parece acontecer somente nas condições

de falta de nitrogênio. Os dados obtidos para o nitrogênio, neste estudo indicam ou

sugerem que os fungos Pycnoporus sanguineus e Trametes sp, apresentam bom

crescimento micelial em todas as concentrações de nitrogênio testadas. Ressalta-se,

entretanto, que esse resultado diz respeito ao avanço da fronteira micelial, e não à

degradação da celulose ou da lignina encontrada na madeira. Pelo menos para os

fungos testados, o nitrogênio não é um fator limitante para a produção micelial.

Recomendam-se estudos complementares da mistura de várias fontes de nitrogênio

para se determinar se as mesmas proporcionam um melhor crescimento do que

(NH4)2SO4 ou NaNO3 sozinhos. Eriksson et al. (1980), mostraram que a mistura de

uréia e NH4H2PO4 proporcionou melhor crescimento para fungos testados, uma vez

que com uréia o nível de pH é mantido mais constante e próximo do pH ótimo para

crescimento dos fungos. Esses autores mostram que com NH4H2PO4 sozinho ocorre

uma queda no nível de pH devido à amônia. Entretanto para os fungos Pycnoporus

sanguineus e Trametes sp testados neste estudo, a amônia não é fator limitante

para produção micelial, uma vez que eles mostraram bom crescimento com

(NH4)2SO4 em todas as concentrações testadas.

6.4 Atividade enzimática

Nem todos os fungos causadores de podridão branca apresentam atividade

de lacase e nem lignina-peroxidase. Cruz (2002), não detectou essas duas enzimas

77

no cultivo de Ceriporiopsis subvernispora mesmo utilizando vários substratos com

diferentes potenciais de oxidação. No presente estudo, tanto P. sanguineus como

Trametes sp, fungos causadores de podridão branca apresentaram maior atividade

enzimática em cultura estacionária, e no meio com serragem como fonte de carbono

produzindo, ligninase-LiP, lacase, fenoloxidase e peroxidase. A produção de LiP por

esses fungos classifica-os como potencial para descoloração de efluente Kraft, pois,

lacase aparentemente pode atacar ou despolimelizar porções fenólicas da lignina,

enquanto que LiP parece ser capaz de oxidar estruturas não fenólica da lignina

(PEREZ & JEFFRIES, 1990). Ligninase também catalisa várias, aparentemente

diferentes, reações não estereoseletivas o que indica o envolvimento de radicais

livres, provavelmente radicais cátion (KIRK & FARRELL, 1987).

Portanto, o “pool” enzimático da cultura do P. sanguineus indica-o como

potencial para descoloração de efluente Kraft uma vez que a presença de ligninase

ou lacase juntamente com Mn-peroxidase na presença de -gluconidase são

importantes na degradação de clorolignina (ESPÓSITO et al., 1991; DURAN, 1992;

CASTRO E SILVA et al., 1993).

A maior atividade enzimática dos fungos no meio com serragem indica que o

crescimento de P. sanguineus e Trametes sp, utilizando substratos insolúveis como

celulose, necessita de um contato direto entre micélio e o substrato em questão.

A maior atividade da ligninase (LiP), em meio de cultura com essa única fonte

de carbono, nos leva a sugerir que alguns compostos derivados do substrato

ligninocelulósico funcionam como indutores para produção de peroxidases

78

ligninolíticas dos fungos Pycnoporus sanguineus e Trametes sp. Os níveis de

atividade de MnP e LiP podem estar relacionados às concentrações de compostos

aromáticos solúveis em água que são liberados no meio (KAPICH et al., 2004).

A atividade máxima das enzimas fenoloxidase e peroxidase em meio

contendo glicose já nos primeiros dias de crescimento, mostra que o fungo

Pycnoporus sanguineus usa imediatamente esse componente na produção dessas

enzimas, decrescendo a produção à medida que o meio vai exaurindo desse

elemento. Por outro lado, a produção no meio com serragem como fonte de carbono,

o fungo precisa buscar esse elemento no material lignocelulósico, cuja

acessibilidade não é tão fácil uma vez que o fungo precisa encontrá-lo na parede

celular dos elementos xilemáticos.

A produção de lacase também pode ser estimulada pela adição de Cu (II) em

concentração milimolar ao meio de cultura com glicose (GALHAUP et al., 2002). No

meio com glicose como principal fonte de carbono, a produção de lacase por P.

sanguineus e Trametes sp somente começou quando a glicose foi consumida do

meio de cultura, uma característica também mencionada por Galhaup et al. (2002),

para o fungo Trametes pubescens.

Um possível efeito regulatório envolvendo intermediários do processo de

biodegradação não pode ser descartado, muito embora não tenha sido objeto do

presente estudo. Entretanto sabe-se que metabólitos relacionados em vários termos

estrutural à lignina podem estimular ou inibir a atividade ligninolítica (MESTER et al.,

1995; HOILANEN et al., 1996). Neste contexto, a presença de 3,4-dimetoxibenzil

79

álcool (álcool veratrílico) pode ser significativa. Embora no presente estudo não

tenhamos caracterizado a produção do álcool veratrílico, sabe-se que esta

substância pode ser “sintetizada por vários fungos, a partir de fenilalanina, e seu

aparecimento nas culturas está associado intimamente com a atividade ligninolítica”

(SOARES, 1998). Este metabólico atuaria como mediador da ação de lignase, onde

essa lignina catalisaria a formação do respectivo cátion radical de álcool veratrílico,

que por sua vez poderia atuar como um agente transferidor de elétrons para outras

estruturas distantes ou não acessíveis do sítio ativo da enzima (AKAMATSU et

al.,1990; HARVEY et al., 1986; KIRK & FARELL., 1987; POP et al., 1990).

No caso dos fungos Pycnoporus sanguineus e Trametes sp, no meio com

serragem como fonte de carbono eles foram mais lentos para atingir níveis mais

elevados da atividade enzimática, mantendo esses níveis, principalmente o P.

sanguineus, por um período ligeiramente maior (dias).

No caso específico da lacase, estudos demonstraram que a sua atividade

pode ser mais ampla, atuando na degradação de estruturas fenólicas e não fenólicas

e que sua capacidade de polimerização pode ser reorientada para a

despolimerização através de substâncias que atuariam como mediadores da ação

da lacase (BOURBONNAIS et al., 1995; BOURBONNAIS & PAICE, 1990). É

possível que tais metabólitos mediadores estejam presentes na serragem de

madeira de Hura creptans, devido ao maior nível de lacase observado neste

substrato.

80

Estudos têm mostrado que a produção de lacase está na dependência tanto

da fonte de carbono quanto na fonte de nitrogênio (GALHAUP at al, 2002;

GIANFREDO et al., 1999). No presente trabalho a maior produção da lacase foi

obtida para o Pycnoporus sanguineus, quando utilizada serragem como única fonte

de carbono e nitrogênio. Para o fungo Trametes sp, entretanto, a atividade é maior

em condições limitantes de nitrogênio, resultado este similar ao encontrado por

Eggert et al. (1996) para outros fungos.

Ressalta-se que as enzimas ligninase, manganês-peroxidase e lacase

envolvidas na degradação da lignina são altamente não especifica com respeito à

faixa do seu substrato. Esses dados são importantes quanto ao aspecto

biotecnológico, considerando-se que são capazes de transformar in vitro ou a

mineralizar ampla faixa de poluentes orgânicos recalcitrantes com estrutura similar a

da lignina (POINTING, 2001; REDDY, 1995). Dessa forma, as informações sobre os

fungos de podridão branca Pycnoporus sanguineus e Trametes sp obtidas neste

estudo com relação à atividade enzimática, sugerem que estes fungos apresentam

potencial para a biorremediação de áreas degradadas e aplicação na industria

papeleira para descoloração de efluente Kraft, entre outros.

81

CONCLUSÃO

Tendo em vista os resultados obtidos, conclui-se que:

Os fungos P. sanguineus e Trametes sp testados a diferentes

temperaturas, apresentaram um ótimo térmico na faixa de 30 –35°C,

mas com produção micelial a partir de 25°C;

Quanto à exigência de nitrogênio para crescimento micelial os fungos

P. sanguineus e Trametes sp mostraram-se tolerantes nas

concentrações usadas (30mEq/L, 60mEq/L, 90mEq/L, 120mEq/L e

150mEq/L);

A faixa de pH ótima para ambos os fungos é de 5 a 7;

Tanto para P. sanguineus quanto para Trametes sp a atividade

enzimática foi maior sob agitação;

A atividade enzimática de Pycnoporus sanguineus foi maior, no que

diz respeito às enzimas ligninolíticas, em meio de cultura

82

suplementado com serragem de madeira como fonte de carbono e

para Trametes sp com glicose como fonte de carbono, ambos sob

agitação;

Sugestões:

Mais estudos são necessários notadamente para verificar outros tipos

de substratos para crescimento e misturas destes, principalmente

testando madeiras com maior densidade, a fim de maximizar a

produção de enzimas ligninolíticas.

Considerando-se a maior atividade em crescimento sob agitação

urge-se necessário testar nova faixa de rotação por minuto a fim de

verificar a influência ou não desse parâmetro na atividade enzimática.

Tanto o fungo Pycnoporus sanguineus quanto o Trametes sp

possuem potencial para aplicação industrial notadamente na indústria

papeleira, considerando a produção de enzimas ligninolíticas

apresentadas;

Sugere-se, portanto que os fungos estudados têm potencial biotecnológico,

podendo-se testar a eficiência destes como degradadores de substâncias tóxicas,

sendo, entretanto, necessários estudos posteriores com a finalidade de explorar o

potencial destas fontes alternativas de enzimas.

83

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÄFICAS

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