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  LIÇÃO nº 33 TEMA: O Lado Oculto da Lua Psicológica  INTRODUÇÃO Inquestionavelmente existe um lado obscuro de nós mesmos que não conhecemos ou não aceitamos; devemos levar a luz da Consciência a esse lado tenebroso de nós mesmos. Todo o objectivo dos nossos estudos Gnósticos é fazer com que o conhecimento de si mesmo se torne mais consciente. Quando se têm muitas coisas dentro de si que não se conhecem nem se aceitam, então tais coisas complicam-nos a vida espantosamente e provocam, na verdade, toda a classe de situações que poderiam ser evitadas mediante o conhecimento de si. O pior de tudo isto é que projectamos esse lado desconhecido e inconsciente de nós mesmos noutras pessoas e então vemo-lo nelas. Por exemplo, vemos as pessoas como sendo embusteiras, infiéis, mesquinhas, etc., consoante o que carregamos no nosso interi or.

11 - L33-O Lado Oculto Da Lua Psicologica

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  • LIO n 33

    TEMA: O Lado Oculto da Lua

    Psicolgica

    INTRODUO

    Inquestionavelmente existe um lado obscuro de ns

    mesmos que no conhecemos ou no aceitamos; devemos levar

    a luz da Conscincia a esse lado tenebroso de ns mesmos.

    Todo o objectivo dos nossos estudos Gnsticos fazer

    com que o conhecimento de si mesmo se torne mais consciente.

    Quando se tm muitas coisas dentro de si que no se

    conhecem nem se aceitam, ento tais coisas complicam-nos a

    vida espantosamente e provocam, na verdade, toda a classe de

    situaes que poderiam ser evitadas mediante o conhecimento de

    si.

    O pior de tudo isto que projectamos esse lado

    desconhecido e inconsciente de ns mesmos noutras pessoas e

    ento vemo-lo nelas. Por exemplo, vemos as pessoas como

    sendo embusteiras, infiis, mesquinhas, etc., consoante o que

    carregamos no nosso interior.

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    A Gnose diz sobre isto em particular que vivemos numa

    pequena parte de ns mesmos. Isto significa que a nossa

    Conscincia se estende apenas a uma parte muito reduzida.

    O que tanto se critica nos outros algo que descansa no

    lado obscuro de ns mesmos e que no se conhece nem se quer

    reconhecer.

    Quando estamos em tal condio, o nosso lado obscuro

    muito grande, porm quando a luz da observao de si ilumina

    esse lado obscuro, a Conscincia acrescentada mediante o

    conhecimento de si.

    Esta a Senda do Fio da Navalha, mais amarga que o fel;

    muitos a iniciam, porm muito raros so os que chegam meta.

    Assim como a Lua tem um lado oculto que no se v, um

    lado desconhecido, assim tambm sucede com a Lua Psicolgica

    que carregamos no nosso interior. Obviamente tal Lua Psicolgica

    est formada pelo Ego, o Eu, o mim mesmo, o si mesmo.

    Nessa Lua Psicolgica, carregamos elementos inumanos

    que espantam, que horrorizam e que de modo algum aceitaramos

    ter.

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    O LADO OCULTO DA LUA PSICOLGICA

    H em ns uma parte oculta do nosso prprio Ego, que

    nunca se v simples vista. Assim como a lua tem dois aspectos,

    um lado que se v e o lado oculto, assim tambm h em ns um

    lado oculto que no vemos.

    Assim como h uma lua fsica que nos ilumina, existe

    tambm a lua psicolgica; essa lua, carregamo-la dentro de ns; o

    Ego, o Eu, o mim mesmo, o si mesmo.

    O lado visvel, toda a

    gente com um pouco de

    observao o v, porm h um

    lado invisvel na nossa lua

    psicolgica que simples vista

    no se v. A Essncia,

    desafortunadamente no

    iluminou a parte oculta da nossa

    prpria lua interior. Realmente

    ns vivemos numa pequena zona

    da nossa Conscincia, forjmos

    para ns um retrato de ns

    mesmos, porm um retrato no a

    totalidade.

    Quando conseguimos que

    Ars Magna Lucis. A. Kircher

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    a Conscincia penetre como um raio de luz nesse lado invisvel,

    nesse lado oculto de ns mesmos, o retrato que ns tenhamos

    forjado, desintegra-se, fica reduzido a poeira csmica.

    lamentvel que vivamos apenas numa pequena fraco

    de ns mesmos, o que de ns ignoramos muitssimo. O lado

    oculto que desconhecemos costuma ser muito profundo, porm

    necessitamos conhec-lo e s podemos conhec-lo projectando a

    luz da Conscincia sobre esse lado oculto, e importante esse lado

    oculto porque precisamente onde esto todas as causas dos

    nossos erros, as inumerveis reaces mecnicas, a nossa

    mesquinhez, etc. Enquanto ns no iluminarmos esse lado oculto

    com os raios da Conscincia, obviamente estaremos muito mal

    relacionados, no s com ns mesmos, mas tambm com os

    demais.

    Quando algum ilumina esse lado oculto da sua lua

    psicolgica com os raios da Conscincia, conhece os seus erros,

    ento sabe ver os demais; porm quando no o ilumina com a sua

    Conscincia, comete o erro de projectar esse lado oculto de si

    mesmo sobre as pessoas que o rodeiam e isso gravssimo.

    Projectamos sobre os demais os nossos defeitos

    psicolgicos e se somos mesquinhos, a todos veremos

    mesquinhos; e se estamos cheios de dio, a todos vemos dessa

    forma; se somos invejosos, cremos que os outros so tambm

    invejosos; e se somos violentos, no sabemos compreender a

    violncia alheia, cremos que s ns temos a razo e que os demais

    no a tm; quando sentimos antipatia por algum claro que ali

    est precisamente o defeito que interiormente levamos e que

    estamos a projectar sobre esse algum. Porque nos causa antipatia

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    tal ou qual pessoa? Porque lhe vemos este ou aquele defeito que

    nos incomoda tanto?

    Ainda que parea incrvel, ainda que no o admitamos,

    ainda que o rechacemos, a verdade que esse defeito, temo-lo

    dentro e estamos a project-lo sobre o prximo. Quando o

    compreendemos, ento propomo-nos dissolver esse elemento que

    descobrimos; se vemos que o prximo tem tal ou qual defeito,

    seguro que no lado oculto que no se v, nesse lado de si mesmo,

    est o defeito em questo.

    Assim pois, lamentvel que estejamos to mal

    relacionados com as pessoas; desgraadamente, dado que estamos

    mal relacionados connosco

    mesmos, temos que est-lo

    com os demais; se soubermos

    relacionar-nos connosco

    mesmos, saberemos tambm

    relacionar-nos com os demais,

    isso bvio; medida que

    avanamos nisto, podemos

    dar-nos conta de quo

    equivocados andamos pelo

    caminho da vida; protestamos

    porque outros no so

    cuidadosos e ns sim, somos;

    cremos que os demais andam

    mal porque no so

    cuidadosos, e se somos

    cuidadosos, molestamo-nos

    Cenas e personagens ilustrando o Caos interior

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    com algum que no o .

    Se cada um observar o detalhe dar-se- conta de que esse

    que no cuidadoso, esse defeito que v no outro, o tem de sobra,

    no lado desconhecido de si mesmo; aquele que se cr muito

    cuidadoso, pode suceder que no seja to cuidadoso como cr e

    sim, h desordem dentro de si mesmo que ignora e no aceita, no

    cr nem entende. Vale a pena conhecer esse lado desconhecido de

    si mesmo; quando algum de verdade projecta a luz da

    Conscincia sobre esse lado desconhecido de si mesmo, muda

    totalmente.

    Se descobrimos que somos violentos, por exemplo, ento

    aprendemos a tolerar a violncia dos demais: dizemos a ns

    mesmos: "Eu sou violento, ento porque critico aquele que

    violento, se eu o sou?

    Quando compreendemos que realmente somos injustos

    connosco mesmos, carregamos com a injustia e aprendemos a

    tolerar a injustia dos demais.

    bom aprender a receber com agrado as manifestaes

    desagradveis dos nossos semelhantes, porm no poderamos

    chegar a receber com agrado estas, se no aceitssemos as nossas

    prprias manifestaes desagradveis, se no as conhecssemos.

    Para conhec-las devemos lanar um raio de luz sobre esse lado

    obscuro de si mesmo, obviamente, nesse lado que no vemos esto

    estas manifestaes desagradveis que interiormente carregamos e

    que projectamos sobre os demais. Assim, quando algum conhece

    as suas prprias manifestaes desagradveis, aprende a tolerar as

    manifestaes desagradveis do prximo.

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    Para poder cristalizar o Cristo Csmico no nosso interior,

    necessitamos inevitavelmente de aprender a receber com agrado

    as manifestaes desagradveis dos demais, e assim, pouco a

    pouco, ir cristalizando em si mesmo o Senhor de Perfeio, que s

    cristaliza em ns atravs do Santo Negar.

    H trs foras em ns muito importantes, a primeira o

    Santo Afirmar, a segunda o Santo Negar, e a terceira o Santo

    Conciliar.

    Para cristalizar, por exemplo, o Santo Conciliar, a terceira fora, o Esprito Santo, a fora neutra, necessrio transmutar a Energia Criadora e aquela fora maravilhosa vem a cristalizar nos Corpos Existenciais Superiores do Ser.

    Para que cristalize em si mesmo a segunda fora, a do Senhor de Perfeio, a de nosso Senhor o Cristo, necessita-se inevitavelmente aprender a receber com agrado as manifestaes desagradveis dos nossos semelhantes.

    E para cristalizar em si mesmo a primeira fora, a do Santo Afirmar, necessrio saber obedecer ao Pai, assim nos Cus como na Terra.

    O Sagrado Sol Absoluto do qual dimana toda a vida quer

    cristalizar em cada um de ns essas trs foras primrias da

    Natureza e do Cosmos: Santo Afirmar, Santo Negar e Santo

    Conciliar. Se nos centrarmos apenas na questo do Santo Negar, a

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    fora do Cristo, diramos que necessitamos negar-nos a ns

    mesmos, aprender a receber com agrado as manifestaes

    desagradveis dos nossos semelhantes; porm como, se antes no

    conhecemos as nossas prprias manifestaes desagradveis?

    Por exemplo, se temos ira e sabemos que a temos, se nos

    tornamos conscientes de que somos violentos, provocadores,

    iracundos, furiosos; se estamos conscientes de tudo isto,

    comeamos a perdoar esses mesmos erros nos demais e como

    consequncia relacionamo-

    nos melhor com o prximo.

    Os que temos inveja

    e reconhecemos que a temos,

    que a carregamos no lado

    oculto da nossa lua

    psicolgica, aprendemos a

    perdoar as manifestaes

    desagradveis da inveja, tal

    como existem noutras

    pessoas.

    Se estamos cheios de

    orgulho, se sabemos que o

    temos, sabemos que somos

    orgulhosos, que estamos presunosos e reconhecemos que o

    somos, ento aprendemos a ver os orgulhosos com mais

    compreenso. J no nos atreveremos a criticar, saberemos que

    dentro carregamos esses mesmos defeitos.

    Perfeio Sol Macrocsmico

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    Se uma pessoa se sente honrada, se sente incapaz de

    mentir, e de repente sucede que o ofendem dizendo-lhe que

    mentiroso; se aceitou que no lado oculto da sua lua psicolgica,

    nesse lado que no se v, no lado oculto de si mesmo, existe

    todavia a mentira em forma inconsciente, no se sentir ofendido

    quando se lhe diga que mentiroso, saber ser tolerante com o

    prximo.

    Muitos podero crer-se muito liberais na sua forma de ser,

    muito justos, mas se de sbito h algum que lhes diz que no o

    so, que no so to liberais nem to justos, poderiam ofender-se

    porque eles se sentem assim. Porm se estas pessoas aprenderem a

    projectar previamente a Conscincia sobre o lado oculto de si

    mesmos, sobre esse lado oculto que jamais se v, ento

    reconhecero por si mesmos directamente, que no so to justos

    nem to liberais como pensavam; no fundo de todos eles h

    injustia e intolerncia, etc.. Quando algum tente feri-los nesse

    sentido no se aborrecero, pois sabem que lhes esto a dizer a

    verdade.

    Ento vemos que muito importante observar esse lado

    oculto de si mesmo, esse lado que no se v, o lado onde est a

    crtica, a censura. Sejamos sinceros, observemos o nosso lado

    interno, iluminemos essa parte oculta da nossa prpria psique, a

    parte que no se v, e ento veremos que os defeitos que noutros

    criticamos, temo-los ns bem dentro; ento se assim acontece,

    deixaremos de criticar. A censura, a crtica, devem-se precisamente

    falta de compreenso. Que censuramos de outros? Que

    criticamos de outros? Os nossos prprios defeitos, isso o que

    criticamos.

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    Lumen de Lumine

    (Ireneo Philaletheo)

    Triste saber que ns projectamos os nossos defeitos

    psicolgicos sobre os demais, triste saber que vemos o prximo

    tal e como somos ns, algo que h que entender. Todos temos

    essa tendncia, cremo-nos perfeitos, nunca se nos ocorreu observar

    essa parte da lua, da nossa Lua Psicolgica, essa parte que jamais

    se v.

    Chegou a hora de nos auto-explorarmos seriamente para

    nos conhecermos de verdade, iluminando de verdade essa parte

    oculta de si mesmo, o lado visvel que cada um leva em seu

    interior descobre com horror

    factores psicolgicos que de modo

    algum aceitaria ter, factores que

    rechaaria de imediato, factores que

    cr no ter. Se a um homem

    honrado, por exemplo, o classificam

    de ladro, uma ofensa. Porque se

    ofender um homem honrado se o

    apelidam de ladro? O ofendido

    poderia apelar violncia para se

    justificar. O prprio facto de que um

    homem honrado se ofender quando

    classificado de ladro, demonstra

    que no honrado. Se de verdade

    fosse honrado no se ofenderia. Se

    esse homem iluminasse com a

    prpria luz da sua Conscincia essa

    parte de si mesmo que no se v,

    essa parte oculta da sua lua

    psicolgica, com horror descobriria o que no quis aceitar,

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    descobriria eus do roubo, e diria para si mesmo: que horror!

    Impossvel. Porm assim , em ns esto e nem remotamente

    suspeitamos que rechaamos, de nenhuma maneira o aceitamos,

    horroriza-nos, e no entanto no fundo temo-los.

    O Mestre Samael conta-nos a sua experincia a este

    respeito:

    Eu vi, quando estava no trabalho de dissoluo do Eu, no

    Mundo das Causas, fui surpreendido, nunca pensei que tivesse

    dentro do meu interior eus do roubo e encontrei toda uma legio de

    eus ladres; impossvel, eu nunca roubei sequer cinco centavos a

    algum; como pode ser possvel? Porm ainda que rechaara, a

    estavam, gostasse ou no me gostasse, a estavam No terreno da

    vida prtica algum poderia deixar um tesouro de ouro puro, e eu

    no retiraria nem uma s moeda, ainda que dito est que na arca

    aberta, at o mais puro peca, porm por esse lado estou seguro de

    no falhar, nem deixando-me ouro em p eu retiraria um

    miligrama...

    "No entanto, com quanta dor descobri que, l no fundo,

    existiam eus do roubo; quando observava com o sentido da

    auto-observao psicolgica, via-os fugindo, como o ladro que

    rouba e foge espavorido. Via horrveis caras do roubo, fiquei

    horrorizado de mim mesmo, porm no tenho nenhum

    inconveniente em confess-lo, porque se no o confessasse seria

    sinal de que todavia estariam vivos esses eus l dentro. O

    hipcrita tem a tendncia a ocultar os seus prprios defeitos,

    assim pois no tenho qualquer inconveniente em confess-lo.

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    "Tinha essa classe de eus, ainda que levando uma vida

    honrada, tinha-os, ainda que pagando as dvidas alheias... Que

    tive que fazer? Desintegr-los, reduzi-los a poeira csmica e isso

    causou-me horror... Dentro de si mesmo, no nosso interior, nesse

    lado oculto que no se v, cada um de ns, leva monstruosidades

    inenarrveis, horripilantes, que nem remotamente suspeita."

    Vivemos numa pequena parte de ns mesmos, no vemos

    a totalidade do quadro, s vemos um canto e cada qual forjou

    sobre si mesmo um retrato: o retrato do homem digno, o retrato do

    cavalheiro caritativo, etc.

    De acordo com esse retrato condicionamos a nossa

    existncia e de ali agimos e reagimos incessantemente, ali est

    todas a nossa mesquinhez, as nossas censuras, crticas, porm

    cremo-nos perfeitos nesse lado oculto de ns mesmos; bem vale a

    pena reflectir um pouco nestas coisas, e ter a coragem de v-lo.

    Todo o mundo o suspeita, porm ningum se atreve a ver

    de verdade, cara a cara, esse lado oculto onde esto precisamente

    os factores que produzem discrdia no mundo, esto a censura,

    crtica, violncia, inveja, etc...

    A inveja por exemplo, convertida na mecnica desta

    civilizao, quo inevitvel isso; se algum tem um carro, e de

    sbito v que algum passou com um automvel melhor, diz:

    "Bem, eu tenho vontade de melhorar um pouco, vou ver se consigo

    um carro melhor"; depois ocorre-lhe pensar porque deseja um

    carro melhor e muitas vezes costuma suceder que o carro que est

    a usar lhe serve. Porque deseja outro melhor? Simplesmente por

    inveja, essa inveja que est l, no lado oculto da nossa prpria lua

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    psicolgica, que no se v.

    Obviamente a inveja converteu-se na mola secreta da aco

    e isso realmente lamentvel; medida que formos progredindo

    na auto-explorao psicolgica, iremos tornando-nos cada vez

    mais conscientes de ns mesmos e isso o melhor.

    Chegou a hora de entender que os erros que vemos,

    carregamo-los dentro; chegou a hora de entender que enquanto

    no conhecermos esse lado oculto de ns mesmos, estaremos mal

    relacionados com o prximo; necessrio aprender a relacionar-

    nos melhor connosco mesmos para podermos relacionar-nos

    melhor com os demais. Como poderamos relacionar-nos bem com

    o prximo, quando nem sequer nos relacionamos bem connosco

    mesmos?

    No s devemos pensar na lua fsica, mas tambm na lua

    psicolgica que interiormente carregamos. Os nossos Eus so uma

    monstruosidade terrvel, esto no lado oculto que no vemos; da,

    essas vises que Dante vira na sua Divina Comdia: garras e

    barbatanas horrveis, dentes, cascos, monstruosidades e monstros

    que existem no lado oculto de ns mesmos, nesse lado que no

    vemos.

    No trabalho sobre si mesmo h passos muito difceis;

    sucede que quando trabalhamos sobre ns mesmos mudamos,

    obviamente ao mudar somos mal interpretados pelos nossos

    semelhantes; sucede que os nossos semelhantes no querem

    mudar, eles vivem engarrafados no tempo, so o resultado de

    muitos ontens, e se ns mudamos, eles gritam e protestam e

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    julgam-nos equivocadamente; tudo isto deve sab-lo o estudante

    gnstico.

    No mundo tm-se escrito muitos cdigos de moral porm,

    o que a moral? Serviria acaso para a dissoluo do eu?

    Poder iluminar-nos esse lado oculto de ns mesmos, esse

    lado que no se v? Poder conduzir-nos Santificao? Nada

    disso, a moral filha dos costumes, do lugar e da poca. O que

    num lugar moral, noutro lugar imoral, o que numa poca foi

    moral, noutra poca deixou de s-lo. Assim pois, em que fica a

    moral?

    Na China antiga, matar o pai era justo quando j este

    estava demasiado velho e incapaz para bastar-se a si mesmo. Que

    diramos ns aqui se um homem matasse o seu pai? Parricida.

    Assim pois a moral escrava do lugar, dos costumes e da poca.

    Ento, de que servem os cdigos de moral que no mundo

    se tm escrito? De que servem to brilhantes cdigos? Poderiam

    eles dissolver o Eu ou iluminar a cara oculta da Lua Psicolgica?

    Nada, no servem; no caminho da dissoluo do Eu, simples

    vista pareceramos imorais. Que classe de moral necessitamos

    seguir? Qual, se no servem os cdigos? Ento o qu?

    H um tipo de tica que no conhecemos, a conduta recta

    da Natureza, essa tica que os Tibetanos um dia condensaram nos

    Paramitas. Lstima que os Paramitas no pudessem ser traduzidos

    na linguagem Ocidental; encontraramos ali uma tica real, que

    talvez no entendssemos.

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    Se mudarmos pode suceder que as pessoas se virem contra

    ns; que nos rotulem de imorais, nos censurem, e que as pessoas

    querem que o Iniciado permanea engarrafado no passado, no

    querem de nenhuma maneira que o Iniciado se abra ao novo, que

    mude. Quando o Iniciado muda mal interpretado, julgado

    equivocadamente.

    Assim, o Ego tempo e o Ego alheio no pode tolerar que

    algum saia do tempo, no o perdoa de nenhuma maneira.

    Queremos que at o prprio mestre caminhe de acordo

    com certas normas pr-estabelecidas no tempo; e no veramos

    com agrado que se sasse dessas normas. Diramos: "vejam o que

    est a fazer e um Mestre; impossvel, isso no um Mestre."

    Cada um de ns segue um determinado cdigo de moral,

    alguns seguiro os Dez Mandamentos, que j esto estipulados e

    de a no saem nem a tiro. Outros seguimos normas pr-

    estabelecidas pelos nossos familiares no tempo; alguns seguem

    determinadas regras de conduta que aprenderam em distintas

    escolas pseudo-esoteristas ou pseudo-ocultistas, que ouviram de

    seus preceptores religiosos e quando algum sai, quando algum

    no se comporta de acordo com essas normas que temos

    estabelecidas na nossa mente, esse algum, um indigno, um

    malvado; vejamos quo difcil chegar Auto- realizao intima

    do Ser.

    medida que cada um se v auto-observando

    psicologicamente, vai eliminando essa cara oculta, vai conhecendo

    que no seu interior h factores que ignorava, elementos que nem

    remotamente suspeitava.

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    Quando dissolvemos tais factores originam-se mudanas

    psicolgicas, obviamente isso reflecte-se sobre os nossos

    semelhantes; essas mudanas so mal interpretadas pelo prximo,

    de nenhuma maneira o prximo pode aceitar que algum no se

    comporte de acordo com as normas estabelecidas, de acordo com

    os cdigos j escritos, de acordo com os princpios sustentados.

    Resulta que no trabalho muitas vezes temos que tornar-nos

    "imorais" e isto h que saber entend-lo, p-lo entre aspas e

    sublinh-lo, no entend-lo no sentido negativo, mas sim no

    sentido edificante ou dignificante,

    positivo, construtivo; no sentido de

    que h necessidade de evitar os

    cdigos caducos de certas

    moralidades sem bases slidas.

    Por exemplo, temos uma

    norma: h que ser pontuais! E se

    algum vem no final da aula,

    chamamo-lo ateno, armamos

    um escndalo, dizemos-lhe que

    isso no est correcto, que h que

    chegar sempre cedo, hora que

    comeamos, s 9 da noite, etc.

    Chegamos concluso de

    que a via costuma ser difcil, o

    caminho rigoroso, estreito, por um e outro lado h horrendos

    precipcios, subidas maravilhosas, descidas horrveis. Caminhos,

    pode haver muitos, porm nenhum conduz ao domnio de

    determinada zona do Universo, ou seja, nos convertem de facto,

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    num Cosmocrator; outros caminhos levam-nos a determinados

    parasos, camos, trazem-nos de regresso aos sofrimentos da Terra,

    outros ao Abismo e morte segunda, etc. H Sendas que se

    escapam do caminho central com aparncias maravilhosas de

    santidade porm que conduzem ao Abismo e "Morte Segunda".

    difcil no se perder, o normal que nos percamos muitas vezes

    por nos aferrarmos a determinado cdigo moral estabelecido;

    perdemo-nos, ou camos no Abismo de perdio.

    Ento, o que fazer? Auto-observar-se psicologicamente de

    forma incessante e antes de censurar outros, censurarmo-nos a ns

    mesmos; e em vez de sermos violentos com outros,

    auto-explorarmo-nos para conhecermos a nossa prpria violncia

    que carregamos, ainda que a rechacemos e ainda que pensemos

    que no a temos.

    Se as pessoas vivessem de uma forma mais consciente,

    tudo seria diferente; por desgraa, formamos acerca de ns muitos

    retratos, porque apenas vivemos numa pequena parte de ns

    mesmos; quando projectamos a nossa Conscincia sobre essa parte

    que no se v, os retratos deixam de ser alimentados e tornam-se

    poeira csmica, pois estamos a mudar.

    Que pequenos e disformes retratos temos forjado de ns

    mesmos! Que mesquinhos e que longe esto esses retratos do que

    realmente somos, desgraadamente! Quo mesquinhos somos, e

    no entanto nem remotamente suspeitamos que somos mesquinhos,

    que no lado oculto de ns mesmos carregamos a mesquinhez.

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    s vezes reclamamos um mundo ideal para trabalharmos; se

    fssemos s montanhas, aos vales mais profundos, creramos que

    assim viveramos melhor e mais. De que serve encerrarmo-nos

    numa caverna, quando dentro de ns mesmos carregamos todos

    esses factores que so inveja, luxria, dio, etc.?

    No somos perfeitos, perfeito somente o Pai, o nosso

    Deus ntimo; isso bvio.

    Todos parecemos santos, porm no fundo estamos cheios

    de invejas, disputas, dios, crticas doentias, etc...

    Apesar disso cada qual v o erro dos outros, porm no o

    v em si mesmo. A ningum ocorre que o erro que est a ver no

    outro, o carrega dentro de si mesmo; so poucos os que sabem

    reflectir nestas coisas, so poucos os que sabem entender.

    Num pequeno grupo de pessoas est representada toda a

    humanidade e a podemos encontrar um ginsio precioso,

    necessrio para a auto-descoberta, h que aproveit-lo. Se um

    grupo estivesse formado por pessoas perfeitas, no haveria

    necessidade de que tal grupo existisse; para qu, se todos

    tivssemos chegado perfeio? Para qu formar o grupo?

    Os erros de um pequeno grupo social, somados entre si,

    so os erros de toda a humanidade, nele est exemplificada, ali h

    uma mostra do que a humanidade. Devemos aproveitar pois, as

    nossas circunstncias sociais, em vez de censurarmos os nossos

    semelhantes, censuremo-nos a ns mesmos; o erro que vejamos no

    outro, deve servir-nos de exemplo para a Conscincia, permitir-

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

    19

    nos- saber que carregamos esse erro na parte oculta, que no se

    v.

    Encontrar no nosso caminho uma escola esotrica, uma

    verdadeira escola de regenerao, uma oportunidade inestimvel

    para o nosso progresso e seria um grave erro desaproveit-la,

    buscando uma humanidade ideal. Onde a vamos encontrar? Em

    que parte do Cosmos?

    H uma humanidade divina, sim, porm no a

    humanidade corrente, mas sim o Crculo Consciente da

    Humanidade Solar, ela a nica humanidade ideal. Como vamos

    chamar ideal ao filho do vizinho? Como vamos chamar ideal a

    Pedro, Paulo, Diego e Jos? No entanto todos precisamos de todos,

    os erros do vizinho so precisamente muito teis para ns,

    podemos utiliz-los como elucidao; se descobrimos que fulano

    de tal est cheio de inveja, podemos ser um pouco reflexivos e dar-

    nos conta de que estamos a censurar a vida de fulano de tal.

    O facto de algum censurar a inveja de fulano de tal, indica

    que ele tambm a tem, nas profundezas da sua Conscincia, nessa

    parte que no se v. H pois que saber muito bem quem o que

    censura, quem o censurador, que no outro que o Eu da crtica.

    As piores dificuldades, oferecem-nos as melhores

    oportunidades. Como j se comentou em temas anteriores, no

    passado existiram sbios, rodeados de toda a classe de

    comodidades, sem dificuldades de qualquer espcie que, querendo

    aniquilar o Eu, tiveram de criar para si mesmos situaes difceis.

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

    20

    nas situaes difceis onde temos oportunidades

    formidveis para estudar os nossos impulsos externos e internos,

    os nossos pensamentos, sentimentos e aces; as nossas reaces,

    volies, etc. A convivncia um espelho de corpo inteiro, onde

    podemos ver-nos tal qual somos e no como aparentemente

    somos. Se estamos bem atentos, poderemos descobrir a cada

    instante os nossos defeitos mais escondidos. Eles afloram, saltam

    para fora quando menos o esperamos.

    A maioria das pessoas protesta com as dificuldades que

    lhes oferece a convivncia; no querem dar-se conta que so

    precisamente essas dificuldades que lhes brindam as

    oportunidades necessrias para a dissoluo do Eu.

    O Eu um conjunto de energias psquicas que se

    reproduzem nos baixos fundos animais do homem. Ali comem,

    dormem, reproduzem-se e vivem a expensas dos nossos princpios

    vitais ou diferentes tipos de energia que existem no organismo

    humano (energia cintica, muscular, nervosa...).

    Os diferentes agregados psicolgicos que formam o Ego,

    projectam-se nos distintos nveis da mente e viajam ansiando a

    satisfao dos seus desejos. O Eu, o Ego, no se pode aperfeioar,

    jamais.

    O homem uma cidade de nove portas... Dentro dessa

    cidade vivem muitos cidados que nem sequer se conhecem entre

    si. Cada um destes cidados, cada um destes pequenos eus, tem os

    seus projectos e a sua prpria mente; esses so os mercadores que

    Jesus teve de expulsar do Templo com o ltego da vontade.

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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    Agora compreenderemos o porqu de tantas contradies

    internas no indivduo. Os eus so a causa de todas as contradies

    internas.

    urgente morrer de instante em instante. Com a morte do

    Eu nasce a Alma. Necessitamos a morte do Eu Pluralizado de

    forma total, no s da sua parte visvel seno tambm da parte

    oculta, iluminando-a com os raios da Conscincia. Assim, quando

    a totalidade do Eu tiver morrido poder expressar-se em plenitude

    o Ser.

    Recoperar alento da morte interior.

    Pia Desideria, Herman Hugo. 1624

  • Curso de Gnose por correspondncia I.G.A.

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