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19 a 21/11/2011 213 XIX 2ª Edição * Juízes dependem de aval do TJMG para receberem créditos - p.01 * A REFORMA DE CARDOZO- p.16

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19 a 21/11/2011213XIX

2ª Edição

* Juízes dependem de aval do TJMG para receberem créditos - p.01

* A REFORMA DE CARDOZO- p.16

LARISSA ARANTES Os juízes mineiros estão apenas esperando o pronunciamen-

to formal do presidente do Tribunal de Justiça de Minas, Cláudio Costa, para receberem os créditos atrasados a que têm direito. A afirmação é do presidente da Associação dos Magistrados Minei-ros (Amagis), Bruno Terra, e foi feita durante visita ao governador Antonio Anastasia (PSDB), na Cidade Administrativa.

A demanda específica dos juízes soma R$ 35 milhões, va-lor concedido pelo governo por meio de projeto de lei aprovado na Assembleia Legislativa e sancionado por Anastasia no último

dia 8. “O valor total liberado é de R$ 304 milhões, incluindo os valores destinados aos juízes e outros servidores do Judiciário”, explicou Terra.

Os créditos reivindicados pelos juízes são consequentes de duas mudanças. Uma é a correção monetária com referência na Unidade Real de Valor (URV), adotada durante o Plano Real, e a outra é a aglutinação de diversos subsídios em parcela única por resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O acréscimo no total de benefícios não vinha sendo pago em sua totalidade.

O TMEPO - P. 6 - 19.11.2011 Atraso

Juízes dependem de aval do TJMG para receberem créditos

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Telefonia

Reclamação no Procon será encaminhada para a Anatel

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METRO - P. 6 - 21.11.2011

EsTAdO dE MInAs - P. 21 - 21.11.2011

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HELENICE LAGUAR-DIA

A coordenação do Parti-do dos Trabalhadores (PT) e o Sindicato dos Trabalhado-res na Indústria Energética de Minas (Sindieletro-MG) devem entrar na semana que vem com uma ação de revogação na Justiça para derrubar o novo acordo de acionistas entre Cemig e Andrade Gutierrez, assina-do neste ano. A informação é do deputado estadual Ro-gério Correia (PT), depois de audiência pública sobre o assunto ontem, na Assem-bleia.

O deputado Rogério Correia disse que o novo acordo assinado neste ano estabelece os mesmos parâ-

metros que a Justiça já tinha revogado. “Dá à Andrade Gutierrez poder de veto, ga-rante os dividendos de 50% para distribuir a sócios mi-noritários e garante uma di-retoria de desenvolvimento de negócios para a Andrade Gutierrez”, afirmou Correia.

O coordenador geral do Sindieletro-MG, Jairo Nogueira Filho, disse que o questionamento na Justiça é para saber se esse novo acor-do foi o mesmo feito onde o sócio majoritário perde po-der de decisão para o sócio minoritário.

A Cemig informou que o acordo de acionistas foi entre o governo do Estado e a Andrade Gutierrez. “Com a venda das ações da Cemig

do BNDES para a Andra-de Gutierrez, foi feito um outro acordo de acionistas que é completamente dife-rente porque não dá nenhum poder de veto para o sócio minoritário que é a Andrade Gutierrez”, informou a con-cessionária. De acordo com a assessoria da Cemig, a única coisa que o novo acor-do produz é a diretoria de novos negócios que fica para a Andrade Gutierrez. “Mas, o Estado tem poder de veto, se o Estado não gostar do nome da Andrade ele pode vetar. Hoje, essa diretoria é ocupada por um empregado de carreira da Cemig que foi indicado pela Andrade Gu-tierrez”, disse a Cemig.

O TEMPO - P. 10 - 19.11.2011Acordo

Contrato entre Cemig e Andrade Gutierrez será questionado na Justiça

Acionista da empresa energética vai criar diretoria de novos negócios

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Seis promotores de Justiça e cerca de 500 policiais civis participaram, em julho deste ano, de uma megao-peração em 10 municípios do Rio Grande do Sul, cum-prindo 43 mandados de busca e apreensão. Foi uma ação concertada e dura contra agentes públicos acusa-dos de fraudar licitações em pelo menos oito municí-pios: Alvorada, Cachoeirinha, Canela, Osório, Parobé, São Sebastião do Caí, Tramandaí e Viamão.

A investigação começou a ser desenhada a partir da denúncia de uma testemunha que procurou o peque-no e quase desconhecido Ministério Público de Contas. O procurador-geral da instituição, Geraldo da Camino, ouviu o informante e começou a se articular com o Tri-bunal de Contas do Estado, com o Ministério Público estadual e com a Polícia Civil. Nascia a Operação Car-tola, nome do famoso sambista que compôs ‘Alvora-da’. A alusão visa mostrar que o município da Grande Porto Alegre era o centro da fraude.

A acusação era que uma empresa de publicidade era favorecida em licitações. Ela terceirizava os servi-ços licitados, subcontratando empresas fornecedoras, para superfaturar os contratos. Empresários e servido-res públicos foram acusados de participar da fraude, in-clusive com o pagamento de propina.O episódio serviu para mostrar à sociedade gaúcha o Ministério Público de Contas, que tutela os direitos da sociedade junto ao Tribunal de Contas do Estado. Primo pobre entre os MPs — já que não tem sede, móveis, servidores e con-ta com uma quadro reduzidíssimo de procuradores —, a instituição está alojada no prédio-sede do TCE, em Porto Alegre.

“A maior parte dos administradores municipais erra mais por desconhecimento do que por má-fé”, de acordo com Geraldo da Camino, procurador-geral do Ministério Público de Contas do Rio Grande do Sul. Segundo ele, quem erra por desconhecimento sempre terá o apoio do Ministério Público e também do Tri-bunal de Contas. “Quanto aos que agem de má-fé, não haverá qualquer tipo de transigência”, acrescenta.

Em entrevista à Consultor Jurídico, Camino diz que a Lei de Improbidade Administrativa é boa e tem instrumentos suficientes para punir quem lesa a admi-nistração pública. Mas defende a aplicação de multas mais pesadas pelo Tribunal de Contas da União nos ca-sos de crimes licitatórios. A punição no valor de R$ 1,5 mil não tem efeito pedagógico, afirma.Além do que, o procurador observa que a cobrança da multa costuma ser difícil porque existem muitos recursos possíveis. “Ao povo, não basta apenas a punição penal; o erário

tem de ser reposto”, ensina e propõe o uso de medidas cautelares no curso da investigação, como arresto e se-questro de bens para garantir a execução.

Nesta entrevista, Geraldo da Camino explica, de forma didática, como nasceu e de que forma funciona a instituição que dirige. Este porto-alegrense, de 48 anos, ingressou no MPC como adjunto de procurador, em 14 de setembro de 2000, por concurso público. Antes, mi-litou na advocacia entre 1996 e 1997. No período de 1997 a 2000, também por concurso público, foi pro-curador federal do INSS, tendo exercido a função de procurador regional em Rio Grande. Em abril de 2008, tornou-se procurador-geral.

Leia a entrevista:ConJur — Quando e como surgiu Ministério Públi-

co de Contas?Geraldo da Camino — O Ministério Público de

Contas é uma instituição mais que secular, pois nasce com o Tribunal de Contas, em 1890, em decorrência de um projeto de Ruy Barbosa. Quando instalado, em 1893, já havia previsão que um de seus membros seria o representante do Ministério Público. No Rio Grande do Sul, o Tribunal de Contas foi instituído em 1935, pelo general Flores da Cunha. A norma que o instituiu já dispunha que haveria um procurador fazendo as ve-zes de Ministério Público perante o Tribunal de Contas do Estado. A partir da Constituição de 1988, este Mi-nistério Público junto aos Tribunais de Contas, Minis-tério Público de Contas, ganhou assento constitucional com o artigo 130. Desde então, estamos num processo de consolidação. Hoje, podemos dizer que em todas as unidades da Federação há um Ministério Público de Contas. O MPC funciona à parte do Ministério Público. É uma carreira específica, com um concurso específico. Não há vinculação nem subordinação perante o Tribu-nal de Contas do Estado.

ConJur — A instituição existe de forma autônoma, como outras do sistema judicial?

Geraldo da Camino — Estamos numa jornada no rumo da autonomia. Já há uma proposta de emenda à Constituição para conferir autonomia financeira e orça-mentária aos Ministérios Públicos de Contas. No RS, também há um movimento neste sentido. Em breve, encaminharemos projeto à Assembleia Legislativa al-cançar esta autonomia.

ConJur — Quais são as suas atribuições específi-cas?

Geraldo da Camino — Fiscal da lei perante o Tri-bunal de Contas. O MPC pode opinar em todos os

cOnsuLTOR JuRídIcO - sP - cOnAMP - 21.11.2011

“Prefeitos erram por ignorância, mais do que por má-fé”

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processos da competência do Tribunal, cuja função é exercer o controle externo da administração pública. No RS, o TCE tem jurisdição sobre todos os órgãos da administração estadual direta e indireta e sobre todos os municípios. Não há sessão do tribunal sem a presen-ça do MPC. E, em todos os processos, damos o nosso parecer. Mas o MPC não tem função apenas reativa, de opinar nos processos quando provocado. O MPC exerce, hoje, uma função proativa, que vem ocorrendo desde a gestão do meu antecessor, conselheiro Cezar Miola, hoje presidindo o TCE. Esta função é exercida com a integração dos outros órgãos de controle. Nós temos Atos de Cooperação firmados com o Ministério Público do estado, com o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, com o Ministério Público Federal, com o Ministério Público do Trabalho e com a Polícia Federal. Nos últimos anos, desenvolvemos uma parceria com a Polícia Civil. Então, por meio des-ta integração, movimentamos a jurisdição de contas, principalmente através de representações dirigidas ao tribunal.

ConJur — Na posse recente do conselheiro Cezar Miola, na presidência do TCE, foi dado grande relevo ao combate à corrupção. O que o MPC está fazendo para se engajar neste esforço?

Geraldo da Camino — A tônica do combate à cor-rupção deve ser a integração dos órgãos de controle. O crime é organizado. Então, nós devemos atuar mini-mamente organizados, para somarmos esforços e siner-gia. O intercâmbio de informações e a atuação conjunta nos darão a efetividade da ação do controle. Em outros episódios, pudemos comprovar a eficiência desta inte-gração. Em 2006, o MPC, junto com a Polícia Civil, a Delegacia Fazendária e o Ministério Público estadual (Promotoria do Patrimônio), investigou uma suposta fraude na licitação do serviço de coleta de lixo em Por-to Alegre, caso envolvendo R$ 400 milhões. Em 2007, participamos da Operação Rodin [lê-se Rodan, uma homenagem a Auguste Rodin, célebre escultor francês que concebeu e esculpiu a famosa estátua ‘‘O Pensa-dor’’], desencadeada pela Polícia Federal, Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual, Ministé-rio Público de Contas e Receita Federal. Neste caso, o primeiro órgão a investigar as relações do Detran com a fundações foi o MPC. Em 2010, também participamos da Operação Mercari, que apurou fraudes nas ações de marketing do Banrisul. Aliás, foi a partir de uma tes-temunha ouvida por nós, que as investigações tiveram início.

ConJur — Quantos procuradores atuam na institui-ção?

Geraldo da Camino — O MPC é constituído por quatro membros. Eu tenho três colegas procuradores-adjuntos, que são Daniela Toniazzo, Fernanda Ismael e ngelo Borghetti.

ConJur — Os quadros e a estrutura permitem para fazer um bom trabalho?

Geraldo da Camino — Hoje,só temos quatro pro-curadores e alguns servidores do Tribunal de Contas, colocados a nossa disposição. Por isso, conforme co-mentei, nós estamos buscando a necessária autonomia. Até para não dependermos das boas relações entre o procurador-geral e o presidente do tribunal, no atendi-mento das nossas atividades. Nem sempre esta situação (boa vontade) se configura, e pode levar à inviabilidade das atribuições do Ministério Público de Contas.

ConJur — Falta um projeto para criar a institui-ção?

Geraldo Da Camino — Há um projeto em confec-ção, e vamos encaminhá-lo proximamente à Assembleia Legislativa. Em futuro próximo, espero que tenhamos também um quadro próprio de serviços auxiliares, além de uma majoração no quadro de procuradores, para fa-zer frente à crescente demanda. Afinal, quanto mais a instituição participa de ações, com o aumento da visi-bilidade, mais demandas atrai.

ConJur — O MPC está na mesma situação da De-fensoria, então?

Geraldo da Camino — Não, a Defensoria já con-seguiu colocar na Constituição a sua autonomia. Na verdade, avançou em relação ao Ministério Público de Contas. Através da Associação Nacional do Ministério Público de Contas e do Conselho Nacional dos Procu-radores-Gerais de Contas, o qual presido, nós estamos tomando uma série de medidas para modificar esta rea-lidade e afirmar a instituição no rumo da autonomia.

ConJur — O MP estadual está trabalhando muito na linha de conciliação, para ajustar condutas e evitar a judicialização, que é onerosa para todas as partes. O MPC trabalha com esta lógica?

Geraldo da Camino — Sim, e já há algum tempo. Nas ações em parceria com o MP estadual, buscamos sempre a tutela extrajudicial. E não só pelo custo de mover a máquina judicial quanto a jurisdição de contas, mas pela efetividade que se obtém no momento em que o órgão fiscalizado se dispõe a corrigir uma conduta administrativa. Temos aí o exemplo da força-tarefa do Daer (denúncias de corrupção e desvios no Departa-mento Autônomo de Estradas de Rodagem, órgão do Governo do Estado). Pela primeira vez na história, o Estado (representando o Daer) firmará um Termo de Ajustamento de Conduta com os Ministérios Públicos.

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Então, com a conduta administrativa ajustada, talvez tenhamos a oportunidade de corrigir erros históricos que, tantas vezes em juízo, não obtivemos êxito. Então, a via da Recomendação, do Termo de Ajustamento de Conduta, dever ser esgotada.

ConJur –—Afora os casos de corrupção, o senhor não acha que a grande parte dos erros e das violações à lei se deve à falta de preparo dos gestores, desconheci-mento mesmo?

Geraldo da Camino — Sem dúvidas, a maior par-te dos problemas se deve à falta de preparo. Em con-versa com o presidente da Federação dos Municípios do Estado [Famurs], Mariovane Weiss, comentávamos justamente isso: a maioria dos administradores munici-pais erra mais por desconhecimento do que por má-fé. Aqueles que erram por desconhecimento terão sempre o apoio do Ministério Público e do Tribunal de Contas para sua capacitação. Quanto aos que agem de má-fé, não haverá qualquer tipo de transigência.

ConJur — O nível de corrupção no RS é alto, em comparação com outras unidades da Federação? Qual a sua percepção?

Geraldo da Camino — Bem, a Operação Rodin acabou com o mito de que o gaúcho estava virtualmen-te imune à corrupção. A corrupção é um fenômeno hu-mano e vai existir sempre. Não é algo privativo de de-terminada categoria — agentes públicos ou políticos. A corrupção pode estar presente no motorista de táxi que pega o caminho mais longo, o cidadão que não devolve o troco a mais e assim por diante. Agora, o sentimento que tenho é que a estrutura político-administrativa do Estado do Rio Grande do Sul e dos seus municípios ainda é mais avançada em relação ao restante do país. Talvez os órgãos de controle venham dando uma res-posta mais efetiva, os casos tenham aparecido mais. Quero crer que o Rio Grande do Sul ainda está numa situação melhor em relação a outros estados.

ConJur — A lei é rigorosa e pune, de fato, os agen-tes públicos infratores? Tem que ser mais dura?

Geraldo da Camino — Os instrumentos legais são suficientes. A Lei de Improbidade Administrativa é um instrumento valioso para o Ministério Público estadual, tem penas severas. Também os crimes contra a admi-nistração pública estão razoavelmente bem apenados. Talvez os crimes licitatórios devessem ter penas mais duras do que têm. No âmbito do Tribunal de Contas, há um projeto para corrigir isso. Por outro lado, as multas aplicadas pelo Tribunal são de valor irrisório. Multas de R$ 1.500 praticamente não têm efeito didático ou punitivo algum. Uma medida, tomada pelo presidente

Cezar Miola, será encaminhar aos seus pares uma pro-posta de majoração destes valores. E há também algu-mas medidas associadas que reputo importantes para a efetividade do controle, como a garantia da devolução ao erário. Ao povo, não basta apenas a punição penal; o erário tem de ser reposto. Mas esbarramos na dificulda-de de execução, uma vez que a própria processualística brasileira comporta muitos recursos e dificulta o retor-no dos valores subtraídos dos cofres públicos. Portanto, acho que as medidas cautelares são muito importantes no curso da investigação. Isto foi adotado agora na Operação Cartola, bem como na Operação Mercari e na Operação Rodin. Já deve haver o levantamento de bens dos possíveis indiciados, a fim de se obter medi-das de arresto e sequestro, para garantir a futura execu-ção, para ressarcimento do erário.

ConJur — Apesar da lei dura e dos controles, a verdade é que poucos agentes públicos são punidos, considerando o volume de casos de corrupção. Há uma sensação de impunidade.

Geraldo da Camino — Eu diria que esta percep-ção, por um lado, tem razão de ser. De fato, às vezes, não se obtém a condenação que se buscava no início da investigação. Por outro lado, ela (sensação de im-punidade) decorre, noutras vezes, da falta de conheci-mento do processo em si — no caso concreto. Quando se noticia uma prisão, ao deflagrar uma operação, esta-mos na fase do inquérito policial. Depois do inquérito, haverá ou não o indiciamento, resultará ou não numa denúncia do Ministério Público. Posteriormente, se ob-terá ou não, uma condenação. Isso leva bastante tempo. Então, o fato de não se ter notícias de casos recentes — Operação Rodin, por exemplo, que faz quatro anos — não quer dizer que não tenha ocorrido nada. Ora, os processos estão tramitando. É o que referi antes: a pro-cessualística brasileira, por comportar esta dilação, que acaba produzindo uma sensação de impunidade — que não é necessariamente real. Ou seja, a Justiça acaba re-tardando-se muito por causa do cipoal de recursos. O caso do jornalista Pimenta Neves, que assassinou a ex-namorada, em São Paulo, demonstra bem isso. Pessoas que têm recursos, condições de contratar advogados competentes, podem, não digo indefinidamente, mas por muitos anos, arrastar o processo. Então, acredito que poderemos combater a impunidade apostando nes-tas ações integradas de controle.

Jomar Martins é correspondente da revista Consul-tor Jurídico no Rio Grande do Sul.

Revista Consultor Jurídico, 19 de novembro de 20

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Por Líliam RañaExecutivo, Judiciário, acadêmicos e operadores do

Direito se reúnem em Brasília, entre os dias 22 e 24 de novembro, para discutir a saúde no país. Esta será a primeira edição do Seminário Nacional sobre Direito e Saúde, que pretende encontrar um consenso de inter-pretações jurídicas no setor de direito à saúde.

“Queremos um consenso para o Direito Sanitário, abordando as principais questões administrativas e de gestão de saúde. A judicialização da saúde, por exem-plo, é assunto que permeia vários debates, como pres-crição de medicamentos ou assistência médica”, expli-ca o consultor jurídico do Ministério da Saúde, Jean Uema.

O evento foi pelo idealizado pelo Ministério da Saúde em parceria com a Advocacia-Geral da União, a Fundação Oswaldo Cruz, o Conselho Nacional do Ministério Público, o Conselho Nacional de Justiça, a Universidade de São Paulo e outros órgãos.

Um painel específico sobre políticas públicas vai debater a repartição de competências do Sistema Úni-co de Saúde (SUS), como está estabelecida hoje e sua funcionalidade.

Os conferencistas desse dia são o juiz Ingo Wolf-gang Sarlet, professor da pós-graduação em Direito da Universidade Católica do Rio Grande do Sul e da Esco-la Superior da Magistratura; Maria Paula Dallari Bucci, professora da Escola de Direito da FGV em São Paulo; Luiz Moreira Gomes Júnior, conselheiro do Ministério Público; e Luís Roberto Barroso, constitucionalista e professor da Faculdade de Direito da Universidade Es-tadual do Rio.

A Lei 12.401/2011, que discute a incorporação de medicamentos ou tecnologia em saúde no SUS, está no foco de outro painel. “Toda a comunidade precisa se apropriar desse processo porque existe uma política social para dar segurança e certeza à utilização de me-dicamentos”, diz Uema. Ele conta que quando um juiz se depara com um pedido de utilização de medicamen-to pelo paciente, por meio do SUS, muitas vezes não há sequer registro na Anvisa desse remédio. “Isto pode indicar, por exemplo, que faltam evidências científicas para uso desses remédios.”

A discussão sobre a utilização desses medicamen-tos permite, segundo Uema, que os médicos tenham

uma garantia mínima de eficácia. “Também ocorre que um medicamento é aprovado por agência estrangeira responsável, e ainda não está aprovado no país. A par-tir de uma comissão criada por lei, pretendemos que estudos realizados em seis meses ratifiquem a validade desse remédio para seu uso mais seguro.”

Ainda será destaque do seminário a apresentação das chamadas Boas Práticas, com a entrega de prêmios aos vencedores do 1º Concurso Nacional de Práticas Exitosas na Área de Saúde. Trata-se de iniciativas jurí-dicas que representem melhoria aos usuários do SUS. Uema exemplifica uma ação que já se mostrou sucesso no Rio Grande do Norte, a implementação de convê-nios com órgãos de promovem uma conciliação na área de saúde. “Antes de ajuizada a ação, ou até mesmo de-pois dela, as partes reúnem tentam uma solução para o problema. O resultado é tão positivo que o ministério já buscam meios de ampliar a iniciativa para os demais estados”.

Líliam Raña é repórter da revista Consultor Jurí-dico.

Revista Consultor Jurídico, 20 de novembro de 2011

cOnsuLTOR JuRídIcO - sP - cOnAMP - 21.11.2011

Executivo e Judiciário discutem judicialização da saúde

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IsTO é - P. 53 E 54 - 23.11.2011

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cOnT... IsTO é - P. 53 E 54 - 23.11.2011

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CódigoO novo Código de Processo Civil

pode pôr fim às prisões por não paga-mento de pensão alimentícia. O relator do CPC na Câmara, deputado Sérgio Carneiro (PT-BA), vai incluir emenda no texto em que muda a forma de puni-ção. Em lugar de detenção imediata, o cidadão terá seu nome incluído no Ser-viço de Proteção ao Crédito e no Sera-sa. Para limpar o nome, será obrigado a quitar a dívida na Justiça. OuTROs MOTIvOs

O devedor só será preso em caso de abuso contra autoridade, por reinci-dência ou por decisão do juiz sob ava-liação especial. Phd EM fAMíLIA

Sergio Carneiro é especialista em Direito de Família. Ele priorizará o tema no seu relatório, que tramita nas comissões.sEM PROMOTOR

Outro item do relatório do novo Código de Processo Civil trata do fim da obrigatoriedade de promotor em au-diências de conflitos de casais.

hOJE EM dIA - P. 2 - 21.11.2011 - cLáudIO huMbERTO

Claudia Jordão e Débora RubinAntes, o pai era o provedor e a

mãe era a dona de casa. Portanto, fa-zia sentidoque a guarda, no momento da separação, ficasse com... a mulher. Hoje em dia,o casal divide as contas e os afazeres domésticos. Nada mais justo quepartilhem também os cuida-dos com a criança, mesmo sob duas casas. Há cinco anos, o cotidiano dos irmãos Gabriela, 14 anos, Carolina, 12, e Gustavo, 10, é dividido em duas casas. Eles mantêm quartos, computa-dores, roupas e objetos pessoais num apartamento na Vila Mariana, bairro paulistano onde moram com a mãe, a juíza Fernanda Pernambuco, e no Morumbi, onde está o pai, o empre-sário Roberto Moron. Dormem cada dia na residência de um e alternam os fins de semana entre eles. Um moto-rista particular, contratado pelos pais, é responsável pelo transporte da prole. À primeira vista inusitada e confusa, a rotina – muito bem organizada, por sinal – desse trio tem se tornado cada vez mais comum entre filhos de casais separados que optaram por acabar com o casamento, mas não com a família. Para isso, adotaram a guarda compar-tilhada ou conjunta, regulamentada no Brasil em 2008, que prevê os mesmos direitos e deveres para pais e mães so-bre os filhos. A criança pode até morar com um deles, mas o outro divide o seu tempo e a sua atenção. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apesar de a guar-da materna ainda ser maioria (87,6% em 2009), os divórcios com guarda compartilhada aumentaram de 2,7% em 2004 para 4,7% em 2009. Mas um levantamento realizado pela Associa-ção de Pais e Mães Separados (Apase) pode refletir melhor a realidade. En-quanto o IBGE se baseia em registros de cartórios e varas de família, e nem todos os casais se casam ou se divor-ciam, no papel, a Apase constatou que 15% das guardas já são conjuntas no Brasil.

Essas novas combinações fami-liares, como a de Fernanda e Moron,

são frutos das transformações que vêm ocorrendo nas sociedades ociden-tais desde a lendária queima de sutiãs em praça pública. Afinal, se antes da emancipação feminina as mulheres eram responsáveis por criar os filhos e os homens por assinar o cheque, em caso de divórcio, o natural era que am-bos os genitores continuassem com as mesmas responsabilidades. Hoje, no entanto, a lógica é outra. Na maioria das vezes, pai e mãe dividem as contas e os cuidados com a cria, o que torna a guarda materna de filhos de pais se-parados fora da nova ordem. “Se pai e mãe pagam as contas e cuidam dos fi-lhos quando estão juntos, por que isso tem de mudar quando o casamento acaba?”, questiona a juíza Fernanda.

Apesar de a guarda compartilhada estar prevista em lei e já ser adotada antes dela há cerca de dez anos, mui-tos juízes ainda optam pela unilateral, na grande maioria entregue à mãe. “A guarda materna ainda está enraizada em nossa sociedade”, diz o psicanalis-ta, advogado e presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IB-DFAM), Rodrigo da Cunha Pereira. Segundo ele, ainda há muito precon-ceito contra a mulher que abre mão da guarda total ou parcial do filho e contra a capacidade de um homem de cuidar bem de uma criança. E isso reflete nas decisões dos magistrados. “A mulher precisa de ajuda e o homem quer aju-dar”, diz.

Separado há quatro anos, o execu-tivo Marcos Quesado, 48 anos, sentiu na pele o preconceito citado por Perei-ra. Foram três anos de disputa judicial para conseguir compartilhar com a ex-mulher a guarda de seus dois filhos, Luisa, 13, e Antonio, 10. No primeiro ano, a guarda provisória das crianças ficou com a mãe, que se mudou de Brasília, onde a família vivia, para o Rio de Janeiro – afastando as crianças de Quesado. “Os juízes e o Ministério Público faziam eu me sentir um cha-to no lugar de um pai zeloso”, diz ele, que não mantinha uma relação amis-tosa com a ex-companheira na época.

Até que estudos psicossociais reali-zados no Rio e em Brasília recomen-daram o retorno das crianças à cidade natal e a permanência com o pai. Com a reversão da guarda unilateral para a compartilhada, caiu outro retrato do machismo reinante no Judiciário. “Quando a minha ex tinha a guarda total das crianças, eu pagava 30% do meu salário de pensão alimentícia”, diz Quesado. “Hoje, que dividimos a guarda e as crianças moram comigo, ela, que ganha mais do que eu, paga apenas 10% de seus rendimentos.” Apesar da “injustiça” que acredita viver, desde janeiro, quando os filhos voltaram para debaixo de suas asas, Quesado se diz o homem mais feliz do mundo. “Eles aumentaram de peso e de estatura, melhoraram as notas, re-fizeram os laços sociais e encontraram novos amigos”, comemora o pai. Lui-sa e Antonio veem a mãe cerca de uma vez por mês, quando ela viaja do Rio ao Distrito Federal.

É muito comum disputas por guar-da serem confundidas com brigas por pensão alimentícia. Ao mesmo tempo em que as duas questões – quem vai ser o guardião da criança e quem vai pagar as contas – correm paralelamen-te na Justiça, há um momento em que uma influencia a outra. Em geral, os pais que compartilham a guarda da criança, especialmente quando há al-ternância de residência, arcam com os gastos dela com moradia, alimentação e transporte no período em que ela está sob os seus cuidados. O restante dos gastos (educação, saúde, lazer e vestu-ário) é repartido a partir dos rendimen-tos de cada um. A juíza Fernanda ex-plica que a guarda compartilhada não deve ser pensada com o objetivo de pagar menos pensão. “O ato de divi-dir a guarda não implica apenas quem vai assinar o maior cheque”, diz ela. “Além disso, engana-se quem pensa que terá uma grande vantagem finan-ceira.”

A cultura não é o único impedi-mento para a implantação da guarda conjunta no Brasil. Alguns juízes ain-

IsTO é - P. 68 A 74 - 23.11.2011 Unidos na separaçãoAumenta o número de ex-casais que optam pela guarda compartilhada no Brasil. Com ela, pai e mãe dividem a

responsabilidade pela criação e o tempo de permanência com os filhos, que crescem mais felizes e saudáveis

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da são cautelosos ao impor esse tipo de regime para filhos de ex-casais que vivem em pé de guerra. Mas isso está mudando. O Superior Tribunal de Jus-tiça, por decisão em agosto deste ano, considerou que a guarda compartilha-da pode ser decretada em juízo, mesmo sem consenso entre os pais. O procedi-mento foi adotado ao ser analisado o caso de um pai, em Minas Gerais, que pedia a guarda exclusiva do filho, sob a alegação de que a mãe queria levá-lo para morar em outra cidade. No texto do processo, a relatora, ministra Nancy Andrighi, afirmou ser “questionável a afirmação de que a litigiosidade en-tre os pais impede a fixação da guar-da compartilhada, pois se ignora toda a estruturação teórica, prática e legal que aponta para a adoção da guarda compartilhada como regra.” Também ponderou que “a guarda compartilha-da é o ideal a ser buscado no exercício do poder familiar entre pais separa-dos, mesmo que demande deles rees-truturações, concessões e adequações diversas para que seus filhos possam usufruir, durante sua formação, o ideal psicológico de duplo referencial”. Se por um lado, especialistas defendem que a lei foi criada com o propósito de pai e mãe deixarem as desavenças de lado em nome de um bem maior – no caso, o bem-estar do próprio filho –, por outro, é mais difícil torná-la pos-sível quando o diálogo entre o casal ainda está centrado em picuinhas que já deveriam estar sepultadas. Estudio-sos defendem que o complicado é dar o primeiro passo. “No início, ambos estão machucados com a separação e depois de tantas brigas é delicado che-gar a um acordo”, diz o mediador de conflitos e presidente da Apase, Anal-dino Rodrigues Paulino. “Mas, se am-bos quiserem estar ao lado dos filhos e se esforçarem para colocar o interesse da criança em primeiro lugar, tudo se acerta com o tempo.”

Esse foi o roteiro cumprido pela publicitária Paula Araújo, 44 anos, e pelo empresário Luiz Antônio Rodri-gues Speda, 49, pais dos trigêmeos Maria Eduarda, Ana Luiza e João Pe-dro, de 8 anos. Em dezembro de 2007,

quando resolveram colocar um ponto final no casamento, optaram pela guar-da compartilhada a pedido de Speda. “É a melhor fórmula para os pais”, diz. “Aquela história de guarda materna, na qual o pai vê o filho a cada 15 dias, deixa tudo muito frio.” Acontece que, no início, ainda com os nervos exal-tados, as hostilidades reinavam. “Se ele não ligasse para avisar que estava passando para pegar as crianças, eu não deixava elas saírem”, conta Paula. Mas, com o tempo, os ânimos se acal-maram e o relacionamento melhorou. Hoje, o ex-casal é parceiro na criação dos filhos. “Agora o Luiz tem a cha-ve da minha casa e pega as crianças na hora que quiser”, diz Paula. O trio mora com a mãe e dorme uma vez por semana na casa do pai. A publicitária, que está namorando há um ano, diz que não se incomodou nem mesmo quando o ex teve uma namorada que convivia com os seus filhos. “Tratan-do-os bem, sem problemas.”

Experiente na prática e na teoria, a juíza Fernanda Pernambuco, que se casou novamente, com o administra-dor Daniel Cifu, 36 anos, e teve Frede-rico, 2, admite que é preciso “engolir muito sapo” – nas palavras dela – para educar os filhos com um ex-parceiro. Quando se separaram, ela e o ex-ma-rido definiram juntos onde cada um ia morar e em que escola as crianças iam estudar. Além disso, mantiveram uma empregada comum durante seis meses. O objetivo era reorganizar da melhor maneira a rotina das crianças. “Fize-mos questão de que o cotidiano deles fosse parecido nas duas casas para não ter aquilo de ‘isso pode na casa da mi-nha mãe e não pode na do meu pai’, que pira qualquer cabecinha”, diz Fernan-da. “Os dois cederam um pouco para que alguns pontos fossem comuns.” Como Moron é rígido com horários, na casa da Fernanda também tem hora para dormir. Por outro lado, Fernanda faz questão de que as crianças façam as suas refeições à mesa com a família reunida. Então na residência de Moron isso também é regra.

A pouca idade dos filhos também não é justificativa para a não adoção

da guarda compartilhada. Afinal, di-zem os especialistas, nada pode ser mais nocivo para o desenvolvimento de uma criança do que o distanciamen-to do pai ou da mãe. Não importa se ela tem 1, 6 ou 11 anos. Pensando no bem-estar do pequeno Noah, 3 anos, seus pais, os atores Danielle Winits e Cássio Reis optaram pela guarda compartilhada quando se separaram, em março de 2010. “Expliquei para o Noah que agora ele tem duas casas e isso pode ser muito legal”, disse Reis à época. Com isso, o tempo de pai e filho manteve-se igual. “Minha dedi-cação é a mesma, independentemen-te de qualquer coisa”, afirmou. Uma alegação para a não adoção da guarda compartilhada é de que a criança pode ficar confusa com casas, quartos e até jeito de educar diferentes. Ainda mais quando é muito pequena. “Isso pode ser muito bom para a formação da criança”, rebate a psicoterapeuta Lidia Aratangy. Segundo ela, é provável que haja diferença de normas na casa de um e de outro, mas isso não faz mal algum. “Ao contrário, é bom a criança saber que pai não é mãe e só pode lhe fazer bem aprender a se adaptar a di-ferentes regras em diferentes ambien-tes.”

O país pioneiro a aplicar a guar-da conjunta foi a Inglaterra, nos anos 1960. Na França, a compartilhada sur-giu em 1976, sendo consagrada na lei em 1987 (Lei Malhuret). Na Alema-nha, a Corte Constitucional conside-rou em 1982 que a guarda exclusiva era inconstitucional e que o Estado não deveria intervir quando os pais são capazes e estão dispostos a assu-mir a conjunta. No Canadá, a lei fa-vorece esse modelo desde 1985 (The Divorce Act, seção 16). Nos Estados Unidos, já são 33 os Estados que dão preferência ou que permitem a opção da guarda conjunta. Enquanto legisla-dores de países desenvolvidos a ado-tam como primeira opção, ela vem sendo estudada por psicólogos e psi-canalistas desde a década de 1960. “A criança precisa da convivência com o pai e a mãe porque isso dá a ela, entre outras vantagens, o direito à oscilação

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afetiva”, diz a psicanalista e doutora em direito pela Universidade de São Paulo Giselle Groeninga. “Esse di-reito implica a liberdade de se apro-ximar mais de um ou outro genitor, de viver seus afetos que são tanto positivos quanto negativos, de acor-do com sua fase de desenvolvimento psíquico.” Por sua característica, em que nenhum dos pais tem mais poder sobre o filho e ambos tomam todas as decisões relacionadas às suas vidas, sejam elas de caráter financeiro, edu-cacional ou emocional, a guarda com-partilhada impede a chamada tirania do guardião. “Isso evita que o deten-tor da guarda use a criança para atin-gir o ex-parceiro, dificultando visitas e omitindo questões relevantes sobre a sua vida”, diz Giselle. Segundo es-tudiosos, esse modelo também é um antídoto à alienação parental, quando o pai ou a mãe mente, calunia e trama com o objetivo de afastar o filho do ex-parceiro. “Quando um dos genito-res está longe e não pode se defender, é mais fácil o outro manipular”, diz Paulino, da Apase.

Antes de compartilhar a guarda de sua filha Amanda, hoje com 13 anos, Paulino foi vítima da tirania da sua ex-mulher e sua filha, da aliena-ção parental praticada por ela.

Quando o casal se separou, Amanda tinha 2 anos e ficou sob os cuidados maternos. “A mãe usava a filha como moeda de troca e me proi-bia de vê-la, apesar de a Justiça me garantir esse direito”, conta. “Quan-do o oficial de justiça chegava na casa dela com o mandado de busca e apreensão, ela rasgava o documento e fechava a porta. Eu ficava do lado de fora, aos prantos, e a Amanda do lado de dentro, perplexa.” Seis anos e 22 processos judiciais depois, Paulino e a ex-mulher levantaram a bandeira branca e passaram a dividir a guarda da menina – apesar de ainda não te-rem uma relação absolutamente amis-tosa.

O caso é simbólico porque des-monta outro suposto impedimento para esse modelo. Há juízes que acre-ditam que a guarda compartilhada só

funciona para pais e mães que moram perto. “Tem magistrado abrindo mão da guarda conjunta porque o pai mora na zona sul e a mãe na zona norte da mesma cidade”, diz Pereira, do Insti-tuto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM). “Se bem planejada, a dis-tância não é impedimento de convívio entre pai e filho.” Paulino mora em São Paulo e a mãe de Amanda vive com ela em Goiânia – uma distância de 936 km.

A guarda compartilhada de Aman-da foi o primeiro caso envolvendo pai e mãe morando em Estados diferentes da confederação. Profissional liberal, o pai mantém uma casa na capital de Goiás e passa uma semana por mês na companhia da filha. “Quando estou em Goiânia, faço questão de partici-par de tudo o que envolve o seu dia a dia e, quando estou em São Paulo, falo com ela todos os dias pelo skype”, diz. Paulino garante que, desde que seu contato com a filha se tornou uma constante, Amanda é mais feliz. “Ela era fanhosa, medrosa, instável e tinha dificuldades de relacionamento”, afir-ma. “Hoje é uma garota linda, de 1,72 m de altura, puxou à mãe.”

Nem mesmo o estranhamento da sociedade em relação à rotina de fi-lhos compartilhados que se dividem entre a casa dos pais costuma ser um problema para quem vive assim. Hoje com 20 anos, Michelle Christof Go-rin é estudante de psicologia e filha de pais separados que dividem a sua tutela e a de seu irmão mais novo há 14 anos. “Muitas pessoas me pergun-tam como consigo levar essa vida, e eu digo que estou acostumada”, es-creveu ela no prefácio do livro “A Guarda Compartilhada e a Paternida-de”, escrita pelo pai dela, o advoga-do Ilan Gorin, 45 anos. Ela e o irmão passam 15 dias do mês com o pai e 15 dias com a mãe. “Quando vejo filhos que não veem o pai ou o veem muito pouco, fico pensando em como minha vida poderia ser diferente. Me orgulho demais de viver esta vida aparente-mente maluca.” Oficialmente, a guar-da de Michelle e do irmão é materna. Mas, na prática, é compartilhada. Isso

é muito comum, pois no início o casal não se entende e opta pela unilateral. Depois, tudo se acerta e nem sempre acontece a troca oficial.

Na opinião de Gorin, a grande vantagem do modelo conjunto está na convivência entre pais e filhos, na qual é possível transmitir valores, cultura, experiências.

“Muito dessa minha vontade de participar da vida dos meus filhos se deve ao amor, à formação, a tudo o que o meu pai e a minha mãe pas-saram para mim ao longo da nossa convivência”, diz ele. Gorin se casou novamente e teve um terceiro filho, Natan, 10 anos.

Especialistas têm defendido a guarda compartilhada, apesar das di-ferenças de ideias ou do afastamento físico entre ex-casais.

A saída encontrada está no meio-termo – ou no cuidado ao impor a al-ternância de residência. No Tribunal, Fernanda Pernambuco costuma de-terminar a guarda conjunta sem alter-nância de residência a ex-casais que não praticam um bom diálogo.

“Para que a criança tenha dois la-res, é preciso que o ex-casal se tolere a ponto de conversar e acertar datas, horários e rotinas”, defende ela. Psi-cólogo, mediador, perito e assistente técnico das varas de família há mais de uma década, Evandro Luiz Silva também defende a guarda comparti-lhada sem alternância de lar quando o casal vive longe. “Nesses casos, a vantagem continua sendo a divisão de poderes”, diz ele. Evandro, 45 anos, e a ex-mulher, a bancária Patrícia Zilli, 43, dividem há 11 anos a guarda dos filhos adolescentes, Matheus, 18, e Gustavo, 15. Para o compartilhamen-to de direitos e deveres sobre os filhos dar certo, é preciso que pai e mãe co-loquem em primeiro plano o bem-es-tar deles, como frisa Patrícia. “Nossos filhos têm a certeza do nosso compro-metimento com a felicidade deles.

” Afinal, esse é o grande objetivo dos pais que se dispõem a praticar a guarda compartilhada: manter a famí-lia feliz, mesmo com outra configu-ração.

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A REFORMA DE CARDOZO

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Brasília. A presidente Dilma Rousseff san-cionou ontem as leis de acesso à informação e de criação da Comissão da Verdade, que foram alvo de discussões envolvendo a área militar e que sofreram críticas de importantes lideran-ças no Congresso. Dilma fez questão de dar um ar institucional à cerimônia e fez um discurso classificado como sóbrio e equilibrado.

A petista, que é ex-guerrilheira e foi presa e torturada, em momento algum usou a sua his-tória de vida para saudar a criação da Comis-são da Verdade. Ela preferiu falar que “este 18 de novembro (ontem) é uma data histórica”, e que, a partir de agora, este dia irá “comemorar a transparência e celebrar a verdade”. E emen-dou: “hoje o Brasil inteiro se encontra, enfim, consigo mesmo, sem revanchismo, mas sem a cumplicidade do silêncio”.

A discussão que dominou o debate entre militares e familiares de vítimas do regime mi-litar, nos últimos anos, foi retomada momentos antes de a cerimônia começar no Planalto. O cerimonial previu que além dos três ministros, da Justiça, José Eduardo Cardozo, da Defesa, Celso Amorim, e dos Direitos Humanos, Ma-ria do Rosário, falariam também na solenidade familiares dos presos políticos. A decisão ge-rou uma reação de Amorim, que, ao contrário de Rosário, entendia que a fala de familiares de vítimas poderia ser considerado afronta aos militares.

Diante do impasse, a presidente Dilma

Rousseff arbitrou: as falas ficariam por conta do Ministro da Justiça e do presidente da Co-missão de Mortos e Desaparecidos Políticos.

Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica eram alguns dos raros militares presentes à cerimônia e, apesar de terem sido saudados pela presidente Dilma Rousseff, em seu discurso, não acompanharam os inúmeros aplausos à fala da presidente e do ministro.

Limitaram-se a bater palmas no final do discurso de Dilma e Cardozo e no ato da as-sinatura da lei. O ministro da Defesa, Celso Amorim, ao final do encontro, amenizou o cli-ma dizendo que “todos estavam representando a verdade, sem revanchismo”.

A Comissão da Verdade pretende “exami-nar e esclarecer” as “graves” violações de di-reitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988. O texto prevê que o colegiado será composto “de forma pluralista” por sete membros indicados pela presidente Dilma Rousseff, que não tem prazo para a nomear ou a instalar.

O ministro da Justiça afirmou que a presi-dente vai escolher os “melhores nomes” para compor a comissão. “(A comissão) não poderá ter pessoas que não garantam a imparcialidade da execução dos trabalhos”, disse.

A presidente Dilma fez questão de convi-dar para cerimônia de sanção das leis as ex-companheiras de cela e familiares de desapa-recidos políticos.

O TEMPO - P. 4 - 19.11.2011

São Paulo. Pes-quisadores brasileiros devem testar em se-res humanos um tra-tamento inédito com células-tronco. Por-tadores de distrofia muscular de Duchen-ne vão receber, pela primeira vez no País, células-tronco retira-das de outra pessoa.

Até hoje, o Brasil só tratava pacientes com suas próprias cé-

lulas-tronco.Segundo a pes-

quisadora da Univer-sidade de São Pau-lo Mayana Zatz, os primeiros testes com pessoas devem ocor-rer no final de 2012. Os voluntários para a pesquisa serão jo-vens com a doença que atinge crianças do sexo masculino e causa a degeneração dos músculos.

O TEMPO - On LInE - 20.11.2011

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Em 2012

Brasil testará tratamento inédito com células-tronco

ditadura

Comissão da Verdade vira lei Solenidade é marcada por clima tenso entre oficiais e parentes de vítimas