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Análise Estratégica da Indústria
Este capítulo apresenta a primeira parte do referencial teórico trabalhado
nesta dissertação. Apresenta-se o conceito de estratégia, buscando identificar as
correntes que trabalham o assunto, bem como a pertinência de tratar a questão da
análise ambiental, não importa em qual vertente, no entendimento da indústria e
de sua composição de forças. Por se tratar de um trabalho que busca analisar o
ambiente em que está inserido o setor de telefonia local, o trabalho dá ênfase a
Escola de Posicionamento, mais precisamente ao trabalho de Porter (1980), o
Modelo das Cinco Forças.
2.1.
Estratégia
Segundo Barney (2001, p.6, tradução livre do autor), estratégia é “a teoria a
respeito de como uma empresa deve competir de forma a obter sucesso”.
Muitos outros autores escreveram e dedicam seus tempos de pesquisa para
estratégia e, por isso, há inúmeras definições do que é estratégia. Para Von
Neuman e Morgentern (1944, p. 79 apud BARNEY, 2001, p.6, tradução livre do
autor), “estratégia é um plano completo que específica quais escolhas a empresa
deverá fazer em cada situação.”
Mintzberg e McHugh (1985, p.161, apud Barney, 2001, p. 6, tradução
livre do autor) definem estratégia como “o padrão de linha de ações, ou de
decisões, de uma empresa”.
Ainda sobre estratégia podemos destacar a definição de Macedo-Soares
(2000, p. 460, tradução livre do autor):
“Estratégia é um produto que dá coerência e direção às ações e decisões de uma
organização especialmente para alavancar e alocar os recursos/competências
necessários para melhorar e sustentar sua performance de acordo com sua visão e
objetivos, tendo em vista as condições do ambiente interno e externo”.
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Embora haja inúmeras definições, a busca de todos estes autores é a
mesma e em torno dela é de onde se desenvolve toda a teoria sobre estratégia. A
questão central sobre o estudo a respeito de estratégia é buscar identificar quais
fatores são determinantes do desempenho das empresas em atingir seus objetivos,
permitindo, assim, compreender por que certas empresas possuem desempenho
melhor do que outras e mesmo por que certas indústrias6 possuem desempenho
superior a outras. As análises a respeito de estratégia englobam a avaliação das
empresas, compreendendo o ambiente no qual a empresa está inserida, os recursos
e capacidades que as empresas possuem, bem como as estratégias adotadas pelas
empresas e a influência de cada um destes fatores ou da combinação deles sobre o
desempenho da empresa.
O termo estratégia vem do grego strategos que significa “a arte do
general” (EVERED, 1983 apud CARNEIRO, 1997) que sugeriria as decisões de
generais a respeito do uso do combate, das ameaças e da proposta de guerra. Em
1960, o termo foi aplicado para a discussão a respeito da guerra entre empresas
por maiores fatias de mercado. Mintzberg (1987) identificou o que chamou de
cinco P’s da estratégia que consideravam diferentes abordagens dadas ao conceito
de estratégia na literatura: plano de ação (plan), ação (play), padrão (pattern),
posicionamento (position) e perspectiva (perspective). Para o autor, a definição de
estratégia envolveria uma parte referente à intencionalidade, algo envolvendo a
ação e o plano, e uma parte envolvendo o seu aspecto emergente, isto é, não
intencional, a qual englobaria as noções de posicionamento e padrão. Nesta
discussão, o autor introduziu também o termo sobre estratégias almejadas e
realizadas, concluindo que erros na transformação das intenções em ações fariam
com que as estratégias almejadas não se realizassem. Barney (2001) pondera que a
estratégia emergente pode ser fruto do fracasso gerencial, durante o processo de
análise estratégica, em antecipar corretamente os processos econômicos
relacionados à implementação da estratégia.
6 O conceito de indústria utilizado neste trabalho segue definição de Porter (1979, p. 215):
“grupo de competidores produzindo substitutos similares o suficiente para fazer com que o
comportamento de uma empresa afete cada uma das demais, direta ou indiretamente”.
27
2.1.1.
As Perspectivas na Abordagem Estratégica
Os estudos originais sobre estratégia surgiram dentro da perspectiva da
Design School que tratava estratégia como o alcance do encaixe perfeito entre
forças e fraquezas internas, e ameaças e oportunidades externas, análise
denominada SWOT (strengths, weaknesses, opportunities and threats). Para
Barney (2001) a análise SWOT funciona apenas como uma ferramenta
organizacional, colocando as questões corretas acerca de fatores internos e
externos, devendo, no entanto, ser complementada com modelos e teorias que
possam responder a questões colocadas pelo modelo acerca das forças, fraquezas,
oportunidades e ameaças.
A avaliação das teorias e modelos teóricos a respeito de estratégia que
sucederam o trabalho da Design School, levam a uma definição clara de duas
correntes de pensamento. De um lado, encontram-se os autores que defendem que
o conceito se relaciona mais intensamente à estratégia adotada por uma empresa
com os fatores externos de mercado, sendo ainda estes fatores determinantes do
sucesso da empresa em construir uma vantagem competitiva sustentável. Esta
linha se desenvolveu na década de 1980 através da Positioning School, que tem
como um dos seus principais expoentes Michael Porter. Outros autores
consideram que o determinante para a performance da empresa são suas
competências e habilidades.
Para Porter (1980), o desempenho da empresa é função da estratégia
adotada, que, por sua vez, está relacionada à estrutura da indústria na qual ela está
inserida (Figura 1). Este princípio enfatiza a relevância da indústria para o
desempenho da empresa sendo conhecido como paradigma SCP – Estrutura
(Structure), Conduta (conduct) e Performance (performance). Segundo Barney
(2001), o SCP refere-se à relação entre o ambiente em que a empresa está
inserida, seu comportamento e sua perfomance. Para Barney (2001), o SCP
significa:
� S de strcture refere-se à estrutura da indústria, medida através de
fatores tais como número de competidores, homogeneidade de
produtos e o custo de entrada e saída da indústria;
28
� C de conduct refere-se especificamente às ações das empresas na
indústria, incluindo ações de precificação, diferenciação de produtos,
táticas de conluio e exploração de poder de mercado;
� P de performance possui dois significados, performance da
empresa e performance da economia como um todo.
Porter (1985) argumenta, mais tarde, que a empresa, através de suas
estratégias implementadas, pode interferir na definição da estrutura da indústria e,
por conseguinte, influenciar a natureza da competição a seu favor, visando
otimizar o seu desempenho.
Figura 1- Modelo Estrutura Ambiente-Desempenho
Fonte: Porter (1985)
Apesar de a maioria dos autores reconhecer a importância do ambiente
para os resultados de performance da empresa, muitos autores entendem que é na
análise e avaliação dos recursos e capacidades que cada empresa possui que estão
os elementos que devem nortear a busca e definição de uma estratégia.
Schmalensee (1985) elaborou estudo que comprova a importância da
indústria na determinação de performance. Já Rumelt (1991) através do estudo
“How much does industry matter?” amplia os estudos sobre a indústria de
manufaturados trabalhada por Schmalensee e conclui que a indústria possuía
pouca significância na explicação da performance das empresas. Rumelt (1991)
detectou que há influências da indústria, mas que são os fatores referentes às
competências e capacidades da indústria que são os principais responsáveis pela
determinação de performance.
Porter e McGahan (1997), através do estudo “How much does industry
matter, really?” questionam os resultados de Rumlet e reafirmam a importância da
indústria :
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“Os resultados suportam a principal conclusão de Schmalensee (1985) de que os
efeitos da indústria contribuem importantemente para a variação de performance
do negócio e colocam em questionamento os achados de Rumelt (1991) de que os
efeitos da indústria possuem baixa influência”.(PORTER e MCGAHAN, 1997,
p.15, tradução livre do autor)
Para Porter e McGahan a importância da indústria pode ser explicada
devido a quatro fatores resultados da pesquisa realizada.
“Our analyses provide strong support that industry really matters in three
important ways. First, industry directly accounts for 19 percent of aggregate
variation in business specific profits, and 36 percent of explained variation.
Second, industry influences the effect of the corporate parent on business-specific
profitability. Third, the absolute and relative influence of industry, corporate-
parent, and business specific effects differs substantially across broad economic
sectors in ways which suggest characteristic differences in their industrial
structure context. To these three findings we add a fourth from a related stud. We
find that industry effects are more persistent over time than business-specific or
corporate-parent effects, which is consistent with the view that industry structure
changes relatively slowly. These results do not support the assertion that rapid
change in the economy as diminished the influence of industry. . . . it would be
misguided to disconnect the influence of organization from the industry and
competitive contexts in which firms operate”. (PORTER e MCGAHAN, 1997,
p.15)
Hill e Deeds (1996) argumentam que ações isoladas de uma empresa não
podem interferir na natureza da competição na indústria, sendo ainda esta última
independente da estrutura da indústria. Ainda segundo esta argumentação, os
autores afirmam que a estrutura da indústria não deve ser vista como determinante
do desempenho da empresa, mas sim como conseqüência endógena das diferenças
de desempenho das empresas ao longo do tempo.
Em comum entre Hill e Deeds e Porter está o fato de que estes autores
entendem que a combinação da natureza da competição de uma indústria e
estratégia de uma empresa influenciam no desempenho da empresa. Hill e Deeds
(1996), diferentemente de Porter (1980), afirmam que a demanda independe da
estrutura da indústria e que a diferença de rentabilidade entre diferentes indústrias
está relacionada à diferença na demanda pelos respectivos produtos.
Contrária à posição da Positioning School e na linha das pesquisas
desenvolvidas por Rumelt (1991), situa-se o paradigma Resource-Based, RB, com
suas raízes no Learning School e no Cultural School, com Mintzberg, Prahalad e
Hamel como seus principais autores. De um modo geral, enquanto a Positioning
School, ao avaliar as forças competitivas e as variáveis ambientais, destaca
principalmente os aspectos extrínsecos à organização, abrindo mão de uma análise
interna da empresa voltada para suas competências e conhecimentos, o Resouce
30
Based foca suas análises em aspectos intrínsecos à organização, ou seja, a visão de
estratégia como emergente na organização e como resultante de um processo
social embasado culturalmente engendrou a teoria do RB e seu principal construto
teórico, que é o conceito de competências organizacionais.
Segundo Vollman (1996 apud Barney 2001), as competências podem ser
classificadas em quatro categorias: competências terceirizáveis, competências
rotineiras, competências essenciais e competências distintivas. As organizações,
em geral, apresentam, de uma forma ou de outra, os três primeiros tipos de
competência. Contudo, é a competência distintiva que gera o diferencial
estratégico competitivo e a possibilidade de liderança em um determinado
mercado.
Para Prahalad e Hamel (1989), as competências organizacionais são as
raízes da vantagem competitiva. Quando estas estão bem desenvolvidas, elas são
difíceis de serem imitadas e têm o valor que agregam amplamente percebido pelo
consumidor, garantindo, então, uma vantagem competitiva inquestionável e
proporcionando o acesso potencial da empresa a uma grande variedade de
mercados. Assim a verdadeira responsabilidade da alta gerência é arquitetar
estratégias que resultem na construção de competências.
De acordo com Barney (2001, p.173) é a distinção que garante a
sustentabilidade da organização. Para o autor, existem quatro questões que
definem uma competência como sendo uma fonte de vantagem competitiva
segura. Para o autor, esta análise é denominada VRIO framework que consiste em
quatro características que, em conjunto, devem estar presentes para que uma
competência seja fonte de vantagem competitiva. O autor trabalha cada uma
destas características através de perguntas:
� a questão de valor (valuable) - Os recursos e capacidades da empresa
permitem a ela responder às ameaças e oportunidades?
� a questão da raridade (rare) - O recurso e ou a capacidade é controlada
apenas por um pequeno número de empresas?
� a questão da imitabilidade (costly to imitate) - Empresas sem o recurso ou
capacidade enfrentam desvantagens em custo ao tentar obter estes recursos
e capacidades?
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� a questão da organização (exploited by organization) - Está a empresa
organizada para explorar por completo o potencial competitivo de seus
recursos e capacidades?
Indiferentemente de qual escola se esteja fazendo referência, em ambos os
casos, isto é, nos trabalhos desenvolvidos no campo, o ambiente sempre apareceu
como um fator a ser considerado, tendo o seu peso variando de estudo para
estudo.
Desta forma e em linha com o objetivo deste estudo, isto é, identificar
segundo os atores que aparecem no mercado local de telefonia do Rio de Janeiro
as razões pelas quais a competição no mercado local não teve sucesso, se
identificou como importante fazer uma análise da indústria e, para isso, se
utilizará o modelo de estratégias competitivas de Porter (1980). O modelo será
utilizado para analisar o ambiente competitivo, com ênfase na estrutura da
indústria e na influência do Governo.
2.1.2.
Análise da Arena Competitiva
Na análise da indústria, uma das primeiras tarefas é definir o ambiente
competitivo de uma empresa.
Para Porter (1979, p.215) indústria refere-se ao “grupo de competidores
produzindo substitutos similares o suficiente para fazer com que o comportamento
de uma empresa afete cada uma das demais, direta ou indiretamente”.
Conforme evidenciado por Austin (1990), em Environmental Analysis
Framework (Figura 2), o ambiente competitivo dispõe de quatro níveis –
internacional, nacional, industrial e empresarial – e é influenciado por forças
externas de caráter político, demográfico, econômico e cultural.
Porter afirma que esta definição gera controvérsias, em função do grau de
proximidade que a substitutibilidade deve ter, em termos de produto e limites
geográficos do mercado, e, por isso, estudos envolvendo ambientes competitivos
possuem sempre um caráter subjetivo.
32
Figura 2 – Quadro de Análise Ambiental de Austin (1990)
Fonte: Austin (1990)
Segundo Porter (1980), a estratégia competitiva de uma empresa é
formulada considerando-se o meio ambiente no qual a empresa atua, cujo conceito
é amplo, pois contempla, além da estrutura da própria indústria, questões sociais,
econômicas e políticas que afetam as empresas de diversas indústrias. As
empresas que compõem uma indústria estão submetidas aos mesmos fatores, mas,
tendo em vista o tratamento que cada empresa dá a eles, conseguem se diferenciar
atingindo, desta forma, performances diferenciadas.
Para Porter, é da interação entre a empresa e as forças que compõem uma
indústria que as empresas poderão gerar vantagens competitivas e, desta forma,
obter maiores retornos. Ao falhar em lidar com estas forças, elas perderão em
performance para as demais. As oportunidades e limitações que a empresa se
defrontará serão definidas pelas características da estrutura da indústria na qual a
empresa atua.
As oportunidades dentro da indústria podem gerar vantagens competitivas
para uma empresa que, por sua vez, pode transformar estas vantagens
competitivas em retorno sobre o investimento superior à média da indústria,
atingindo, assim, lucros extraordinários. No entanto, algumas características da
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estrutura da indústria, como o nível de barreiras de entrada, irão influenciar, ao
determinar em por quanto tempo a empresa será capaz de operar com
rentabilidade superior à média da indústria.
Ao mesmo tempo em que as empresas devem aproveitar as oportunidades,
devem também saber trabalhar com as ameaças, de modo a poder construir
vantagens competitivas e, desta forma, obter retornos acima da média. As
ameaças são forças que aumentam o nível de competitividade dentro da indústria
e trazem o nível de retorno sobre o capital investido da empresa para um patamar
normal. As ameaças podem ter efeito sobre custos, sobre o desempenho
operacional, sobre a receita e etc, mas, de um modo geral, afetam a performance
da empresa.
Na visão de Porter, a natureza da competição pode ser avaliada em função
de forças competitivas. O modelo, que funciona em linha com o paradigma SCP,
trabalha com a idéia de relacionar o desempenho de uma empresa com a estrutura
da indústria e as ações que a empresa desenvolve dentro desta indústria.
2.1.2.1.
Modelo das Cinco Forças de Porter
De modo a mapear estas oportunidades e ameaças que a indústria como
um todo possui, Porter (1980) criou o Modelo das Cinco Forças de análise da
indústria. Em, seu modelo, Porter enumera cinco forças competitivas que podem
comprometer a habilidade da empresa em manter ou criar retornos acima da
média da indústria (Figura 3). As cinco forças de Porter são: novos entrantes,
substitutos, fornecedores, clientes e o grau de rivalidade da indústria. Cada uma
destas cinco forças pode agir como ameaça a uma empresa que, se não combatida,
gera uma ameaça ao nível de performance.
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Figura 3 -Modelo de Cinco Forças de Porter
Fonte: Porter (1980)
A intensidade dessas forças determina a habilidade das firmas em termos
de ganhar, em média, retornos sobre o investimento acima do custo de capital. A
intensidade de cada uma das cinco forças é função da estrutura da indústria, ou
das características econômicas e técnicas de uma indústria. Ou seja, algumas
indústrias geram uma intensa competição de preço e margens mais baixas; em
outros casos, a estrutura gera uma baixa competição por preço e, em média,
retornos altos. A estratégia entraria para fazer com que uma empresa conseguisse
superar o retorno sobre investimento médio da indústria na qual está inserida.
2.1.2.1.1.
Novos Entrantes
Para Porter, novos entrantes são empresas que, recentemente, iniciaram
suas operações na indústria ou que ameaçam começar as operações na indústria
em breve. Novos entrantes são motivados a entrar em uma indústria devido aos
lucros acima da média que as empresas que já operam nesta indústria podem estar
35
ganhando. Em mercados em que não haja barreiras de entrada, novos entrantes
continuarão entrando sempre que empresas já estabelecidas estejam ganhando
lucros acima da média, situação que tende a lucros normais com a entrada destas
novas empresas. Isso se dá, pois a entrada de novos entrantes em uma indústria
implica aumento da capacidade de produção e disputa mais intensa por clientes, o
que, por sua vez, pode acarretar preços declinantes, maiores custos de aquisição
de clientes, desenvolvimento de novas tecnologias, entre outras conseqüências que
irão afetar a rentabilidade da indústria. Mesmo o caso de uma reestruturação
acionária em determinada empresa da indústria pode ser considerado, também,
como a entrada de uma nova empresa, dado que o novo controlador pode injetar
recursos na empresa visando a aumentar a sua capacidade produtiva.
Os três aspectos principais que protegem as empresas de determinada
indústria contra novos entrantes são: as barreiras de entrada, a expectativa de
retaliação por parte dos concorrentes já atuantes no mercado e o preço de entrada
dissuasivo.
O grau de ameaça que novos entrantes representam à performance das
empresas estabelecidas está relacionado aos custos associados à entrada na
indústria, custos esses que estão diretamente ligados as chamadas barreiras de
entrada.
Barreiras de entrada são atributos da estrutura de uma indústria que
aumentam o custo de entrada de uma empresa nela. Barney (2001) lista cinco
tipos de barreiras, sendo as três primeiras classificadas como naturais, isto é, não
são decorrentes de ação planejada:
a) Economias de escala:
O conceito de economia de escala refere-se à relação entre o volume de
produção e os custos da empresa. Entende-se que, ao aumentar a produção, os
custos fixos por unidade diminuem. A teoria aborda, contudo, que há um ponto de
inversão, isto é, ponto em que o aumento da produção acarretaria aumento dos
custos fixos também, o que passaria a reduzir o efeito da economia de escala.
Segundo Porter (1980), uma indústria operando em economia de escala
impõe à empresa entrante a difícil escolha entre incorrer em investimento inicial
relativamente elevado, visando adequar sua capacidade operacional, ou incorrer
em investimento mais modesto, porém não atingido, assim, a economia de escala
necessária. Na primeira opção, o investimento realizado irá proporcionar escala
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operacional suficiente para que a empresa obtenha custo unitário do produto
compatível com o praticado na indústria. No entanto, a empresa entrante estará
sujeita a retaliação por empresas já estabelecidas, comprometendo o montante
elevado de capital investido inicialmente na adequação da capacidade de
operação. Por outro lado, na segunda opção, a empresa entrante estará limitando a
capacidade operacional a volumes inferiores à economia de escala e, desta forma,
não atingirá o nível de custos compatível com os preços competitivos a serem
praticados.
A existência de economias de escala em uma indústria pode implicar uma
troca em relação à diferenciação de produtos, outra barreira de entrada que será
vista adiante.
Outro fator que pode contribuir negativamente para as empresas é o
desenvolvimento tecnológico e o respectivo ônus gerado em função da
necessidade de adequar capacidade operacional à nova tecnologia.
Hill e Deeds (1996) sugerem que a economia de escala por si só não
significa uma barreira de entrada elevada, à medida que inovações nas rotinas
organizacionais podem ser propostas por novos entrantes, os quais, desta forma,
compensariam a desvantagem de custo gerada a partir da dimensão da escala.
b) Diferenciação de produtos:
Empresas já atuantes possuem identificação de marca e fidelidade dos
clientes que potenciais entrantes não possuem. Identificações com a marca e
fidelidade agem como barreiras de entrada, pois fazem com que novos entrantes
além de absorver os custos normais da operação, tenham que absorver também os
custos associados com a necessidade de superar as vantagens diferenciais já
oferecidas pelas empresas atuantes.
Segundo Porter (1980), uma empresa entrante terá que percorrer este
processo desde o início, necessitando, inicialmente, de valores relativamente
elevados, visando a estabelecer uma nova marca neste mercado. Uma
característica das novas entrantes é que estas despesas de lançamento e suporte a
marca são relativamente elevados, fazendo com que a empresa incorra em
prejuízos ou mesmo ganhos relativos menores, durante a fase inicial de sua
operação.
37
Hill e Deeds (1996) argumentam que a diferenciação de produto constitui-se
numa barreira de entrada somente nos casos de ausência de inovações por parte
dos novos entrantes.
c) Necessidade de capital:
Para que uma empresa inicie suas operações será necessário um dispêndio
inicial elevado para atividades como capacitação operacional, desenvolvimento de
produtos, lançamento de marcas, entre outras. Porter (1980) comenta que algumas
destas atividades estão relacionadas à despesas com maior risco, pois são despesas
irrecuperáveis.
d) Custos de mudança:
Quando há mudança de fornecedor, geralmente o comprador incorre em
custos relacionados a esta mudança. Para Porter (1980), dependendo dos custos
associados a esta mudança, o comprador poderá repensar e rever a decisão de
mudança de fornecedor. Estes custos de mudança podem estar relacionados à
instalação de equipamentos, treinamento, disponibilidade de assistência técnica,
contratação de pessoal, etc.
Esta barreira é menos intensa em mercados de produtos de consumo de
massa tais como bebidas, cigarros, etc. Já em outras indústrias, em que os serviços
e produtos envolvem em custos elevados por parte do comprador para a operação,
esta mudança é mais complicada.
A intensidade desta barreira estará desta forma, diretamente ligada ao risco
e ao custo da mudança.
e) Aceso aos canais de distribuição:
A entrada de nova empresa implica também a disputa por canais de
distribuição para atender aos clientes.
Segundo Porter (1980), as empresas estabelecidas já utilizam os principais
canais de distribuição, imputando às empresas entrantes a necessidade de
desenvolver novos canais ou compartilhar os mesmos canais utilizados pelas
empresas já estabelecidas. O grau de relevância desta barreira dependerá do nível
de dificuldade em usufruir dos mesmos canais de distribuição ou em desenvolver
novos, tão eficientes quanto aqueles já constituídos.
f) Vantagens de custo independente de escala:
38
As empresas estabelecidas podem ter vantagens de custo independente de
economias de escala, as quais dificilmente serão igualados pelas empresas
entrantes.
Barney (2001) lista cinco tipos de custos independentes de escala:
propriedade tecnológica, know-how, acesso favorável a matérias primas, posição
geográfica favorável, vantagens de custo oriundas da curva de aprendizado.
Conforme argumentado por Porter (1980), a curva de aprendizado ou
experiência é a barreira de entrada mais relevante dentre as vantagens de custo
citadas acima, isto porque no caso em que esta barreira é intensa somente o
tempo, um recurso inadministrável, é capaz de minimizar os efeitos desta barreira.
g) Regulametação governamental:
Governos, devido às suas razões próprias, podem decidir sobre a entrada
de novos entrantes em uma indústria, mesmo em casos onde as empresas já
instaladas estão gerando lucros acima da média.
Segundo Porter (1980), o Governo dispõe de instrumentos tais como a
concessão de licenças, limitação de acesso a matérias primas, controle de preços,
determinação de padrões mínimos de qualidade para operar, que podem impactar
nos planos de negócio de novos entrantes. Assim, para uma nova empresa entrar
em determinada indústria seria necessário a anuência do Governo através do
cumprimento dos requisitos necessários, como é caso da indústria de
telecomunicações no Brasil.
h) Desencorajamento planejado:
Barney (2001) adiciona mais este item à lista de Porter. Para Barney,
desencorajamento planejado corresponde à ação desenvolvida por empresas já
instaladas, a qual possui como único objetivo deter a entrada de novos entrantes,
mesmo que para isso tenham que reduzir sua performance econômica. Quando
inúmeras empresas de igual tamanho operam na mesma indústria, nenhuma firma
é capaz de criar ameaças concretas à entrada de novos entrantes. Porter (1980)
trabalhou este item como a expectativa de retaliação por parte dos concorrentes já
atuantes no mercado.
Hill e Deeds (1996) consideram que o principal problema do conceito de
barreiras de entrada está relacionado com o fato das barreiras serem estáticas em
sua formulação. A conceituação de barreiras de entrada em sua formulação ignora
39
o poder de inovação sobre os recursos e rotinas organizacionais, o que permite a
superação das desvantagens da renovação pelas entrantes.
Outro mecanismo defensivo observado por Porter e que, junto com as
barreiras de entrada e a retaliação das empresas, se constitui como um dos
principais elementos que compõem a discussão acerca de novos entrantes, é o
preço de entrada dissuasivo. Neste caso, a entrada no mercado pelas novas
entrantes seria inviabilizada por conta da política de preço praticada pela empresa
já estabelecida. As empresas estabelecidas estimam qual seria o preço limite
mínimo que desencorajaria a entrada de novos participantes, pois, com estes
preços, os novos entrantes não seriam capazes de auferir lucro e assim retornar o
investimento realizado. Barney também trabalha esta questão sob a denominação
do desencorajamento planejado, conforme mostrado acima.
Carves e Porter (1977) sugerem que a teoria de barreira de entrada seria,
na verdade, uma teoria de barreira de mobilidade, à medida que uma empresa ou
grupo de empresas impede o movimento de migração intra-indústria de outras
empresas.
2.1.2.1.2.
Grau de Rivalidade entre os Competidores
Outra das cinco forças de Porter que pode ameaçar a indústria é o grau de
rivalidade existente na indústria. Entende-se por grau de rivalidade a intensidade
de competição entre as empresas que estão diretamente competindo, intensidade
essa que pode ameaçar a perfomance das empresas operando. A rivalidade ocorre
em função da crença e expectativa de um determinado participante em melhorar
sua posição relativa dentro da indústria. Esta crença desencadeia ações táticas
(alteração de preços, publicidade agressiva, lançamento de novos produtos, etc.)
por parte das empresas, que afetarão os demais participantes. Segundo Porter
(1980), um alto grau de rivalidade é observado em uma indústria que apresenta as
seguintes características:
a) Grande número de empresas operando
Em indústrias com um grande número de participantes é possível que os
participantes acreditem que seus movimentos táticos não serão percebidos por
outros participantes, incentivando-os, então, a promover ações táticas, de maneira
40
freqüente, que aumentam o nível de rivalidade da indústria. Da mesma forma,
quando a indústria apresenta concorrentes, mesmo que poucos, equilibrados em
relação a sua força relativa, os participantes, ao iniciar em ações táticas, serão
imediatamente retaliados. Já numa indústria concentrada ou dominada por uma ou
poucas empresas, a percepção sobre a força relativa de cada participante é muito
clara, delegando naturalmente aos mais fortes a liderança na coordenação da
indústria.
b) Crescimento lento/estagnado da indústria
Indústrias com crescimento lento ou estagnado geram aumento do grau de
rivalidade entre as empresas, pois a única maneira que cada participante tem de
crescer é através da conquista de market share de concorrentes.
c) Falta de diferenciação de produtos ou custos de mudança
Em indústrias com estas características, isto é, onde o comprador consegue
ter uma mobilidade muito grande para trocar de provedor, a competição
geralmente caminha para preços que aumentam o grau de rivalidade. Segundo
Porter (1980), essas ações são formas de concorrência instáveis.
d) Capacidade produtiva ampliada em incrementos grandes de elevado custo
Algumas indústrias operando em economia de escala têm por característica
realizar investimentos para expansão de capacidade operacional em grandes
saltos. Como conseqüência disto, a empresa pode criar um desequilíbrio entre
capacidade operacional e demanda que implicará em custos unitários maiores. De
forma a minimizar este efeito, a empresa precisa adotar medidas visando a
incentivar a demanda, tal como redução de preços, de modo a não enfrentar uma
situação de excesso de capacidade operacional.
e) Custos fixos altos
Uma indústria onde as empresas possuem custos fixos altos fará com que
cada participante busque operar no máximo de capacidade disponível, de modo a
reduzir os custos unitários. Essa necessidade de aumentar a produção terá que
estar associada à venda do produto no mercado, o que provocará ações das
empresas em busca de market share, implicando o aumento da rivalidade através
do uso de artifícios tais como redução de preços.
f) Concorrentes divergentes
Segundo Porter (1980), a falta de compreensão das ações dos concorrentes
pode causar uma retaliação por parte de uma empresa, visando a defender sua
41
posição relativa. São exemplos desta situação: empresas cuja orientação da matriz
é a de que sejam vacas leiteiras (matriz BCG7), diferente de outra empresa cuja
matriz considera este segmento como um negócio básico para a organização;
empresas que utilizam o mercado para escoar excedente de produção;
g) Grandes interesses estratégicos
Quando empresas estão dispostas a sacrificar a rentabilidade em
determinadas indústrias ou mercados, visando atingir a exposição global em
outras indústrias e mercados, o nível de instabilidade da rivalidade irá aumentar.
h) Barreiras de saída elevadas
Mesmo que a perfomance de uma empresa não esteja de acordo com o
retorno esperado do acionista, ou mesmo se este retorno estiver abaixo do custo de
capital da empresa, em determinadas situações é mais vantajoso continuar
operando na indústria do que tentar sair, já que, nestes casos, existem elevados
custos de saída. Os fatores geradores de custo de saída podem ser de cunho
emocional, estratégico ou econômico. Caso uma empresa possua ativos
especializados que dificultem a alienação destes ativos, ou mesmo porque o valor
de transferência seja baixo ou o custo de desativação alto, seus controladores
podem optar por continuar na indústria, aguardando um momento mais oportuno
para a saída ou esperando que haja uma melhora em relação ao retorno sobre o
capital investido. Há casos também de empresas que têm elevados custos fixos de
saída, tais como capacidade operacional para equipamentos sobressalentes,
rescisões trabalhistas, etc. Outra situação é de casos em que a saída da indústria
pode incorrer em danos à imagem da empresa que podem acarretar prejuízo
potencial em outras indústrias ou linhas de negócio nos quais o grupo também
participa, por conta de desgastes com Governo, sindicatos, clientes, etc. O fator
emocional também pode ser um fator que eleva o grau de rivalidade em uma
indústria, ao dificultar a saída de uma de empresa. Nestes casos, o que geralmente
ocorre é que a administração, apesar do retorno abaixo do esperado, reluta em
admitir sua incapacidade por conta do seu orgulho, do impacto às suas carreiras,
por constrangimento diante da comunidade e dos empregados, etc.
7 Matriz BCG – matriz de crescimento e participação da Boston Consulting Group para
análise de portfólio através da classificação das diversas fases de ciclo de vida do produto,
conforme Ghemawat (2000).
42
Em todos estes casos, o que há são barreiras de saída elevadas que
contribuem para reduzir a rentabilidade de toda a indústria, à medida que os
participantes com baixos retornos sobre o capital irão adotar medidas
desesperadas, entre elas a redução drástica de preço para reverter a situação de
retorno.
Segundo Porter (1980), as condições de rivalidade da indústria não são
estáticas e, desta forma, podem se alterar ao longo do tempo. Alguns fatores, tais
como o atingimento da maturidade de uma indústria, inovações tecnológicas e a
introdução de novo participante de personalidade distinta podem alterar o grau de
rivalidade observado em determinada indústria.
A relação entre barreiras de entrada e de saída é um fator importante de
análise da atratividade de uma indústria, conforme colocado por Porter (1980).
Apesar de barreiras de entrada e de saída serem conceitualmente distintas,
frequentemente estão relacionadas na definição de rentabilidade de uma indústria.
Na Figura 4 pode-se observar que a melhor situação para uma empresa é
quando há barreiras entrada altas e barreiras de saída baixas, de forma que, neste
ambiente, a empresa possa, de forma estável, maximizar sua rentabilidade. Já no
extremo oposto, a situação de maior vulnerabilidade e exposição é aquela em que
a empresa está numa indústria com barreiras de entrada baixas e barreiras de saída
altas. Neste caso, a empresa deve trabalhar no sentido de migrar para outro
quadrante, sob pena de piorar cada vez mais a sua performance.
Figura 4- Barreiras de Entrada e Saída
Fonte: Porter (1980)
43
Barney (2001) pondera que indústrias com um elevado grau de rivalidade
terão características específicas que podem indicar se determinada indústria é de
elevada rivalidade ou não. Entre tais características, podem ser citadas:
� cortes de preços freqüentes;
� introdução freqüente de novos produtos;
� intensos gastos com campanhas de marketing;
� ações e reações competitivas rápidas;
� grande número de empresas operando (de mesmo tamanho e da mesma
influência na indústria como um todo);
� crescimento lento/estagnado da indústria;
� falta de diferenciação de produtos – competição baseada no preço;
� capacidade produtiva ampliada em incrementos grandes de elevado custo.
2.1.2.1.3.
Ameaça de Substitutos
Produtos substitutos ou serviços substitutos são aqueles que atendem às
mesmas necessidades dos consumidores de determinada indústria, mas de
diferentes maneiras. Substitutos acabam determinando um teto para o preço e para
os lucros que se podem ganhar em determinada indústria. No extremo, substitutos
podem substituir os produtos e serviços de uma indústria, já que acabam por ter
uma performance e desempenho superiores aos produtos em vigor.
Desta forma, acabam por ameaçar a indústria, seja através dos limites
impostos aos ganhos seja através da possibilidade de tomarem o espaço ocupado
por outros produtos e empresas.
As indústrias competem entre si, mas também enfrentam competição de
outras indústrias através de produtos substitutos. Segundo Porter (1980), os
clientes estarão constantemente analisando a relação preço-desempenho dos
produtos na sua decisão de compra.
Além do monitoramento da relação preço-desempenho, as empresas
devem estar atentas à indústria com lucros elevados, pois estas podem produzir
substitutos, à medida que um desenvolvimento tecnológico reduz custos ou
aumenta o desempenho dos produtos, o que configura uma ameaça.
44
2.1.2.1.4.
Poder de Barganha dos Fornecedores
Fornecedores podem ameaçar a performance das empresas através do
aumento de preços ou reduzindo a qualidade os produtos ou do fornecimento.
Para Barney (2001), são indicadores de ameaça de fornecedores:
a) Fornecedores de determinada indústria são em pequeno número
Os fornecedores exercerão maior influência em preços, condições e
qualidade dos produtos.
b) Fornecedores vendem produtos únicos ou altamente diferenciados
Os compradores ficam mais presos aos fornecedores já que o custo da
mudança aumenta. Neste caso, há dificuldade de encontrar fornecedores
substitutos, aumentando o poder de barganha dos fornecedores atuais.
c) Fornecedores não são ameaçados por substitutos
Quando não há ameaça de produtos substitutos, os fornecedores não são
impactados pela possibilidade de redução na rentabilidade.
d) Fornecedores constituem uma ameaça em relação à integração vertical
Caso a rentabilidade da indústria do comprador seja alta, o fornecedor
pode se sentir atraído a entrar nesta indústria. Esta atração pode se desdobrar em
pressões por preços mais altos e transferência de rentabilidade do comprador para
o fornecedor.
e) As empresas da indústria não são clientes importantes dos fornecedores que a
abastecem
Quando esta situação ocorre, o fornecedor poderá oferecer produtos com
preços mais altos, qualidade e nível de serviço inferior, sem comprometer
significativamente a sua rentabilidade, isto é, o mercado em questão não é
determinante para a performance destes fornecedores.
Para Porter (1980), o poder de negociação dos fornecedores pode trazer
conseqüências para os compradores através do aumento de preços dos produtos,
da redução e qualidade ou do nível de serviços associados ao produto. Os
fornecedores, através destas três ações procuram transferir a rentabilidade da
indústria do comprador para a sua própria.
45
Porter (1980) concluiu que as condições que determinam o poder de
barganha dos fornecedores estão além do controle das empresas. Porém, tais
condições, assim como as outras forças, estão sujeitas à alterações.
2.1.2.1.5.
Poder de Barganha dos Clientes
Quanto maior o poder que os clientes possuem maior será a ameaça à
lucratividade das empresas. De acordo com Porter (1980), os compradores
exercem seu poder através da manipulação de fornecedores concorrentes,
colocando estes em situação de confronto entre si, de forma a obter benefícios
como reduções de preços dos produtos, aumento da qualidade ou desempenho dos
produtos e expansão do nível de serviço associado ao produto.
O poder de barganha dos compradores aumenta ou diminui de acordo com
as características da indústria em que se encontram. Os seguintes fatores afetam o
grau de poder dos compradores em uma indústria:
a) Numero pequeno de compradores, compradores concentrados, ou com
representatividade em relação às vendas do vendedor:
Se um único ou poucos compradores são responsáveis por um volume
relativamente grande das vendas do fornecedor, estes grupos terão um poder de
barganha relevante junto ao fornecedor, especialmente quando o fornecedor
trabalha em situação de custos fixos altos.
b) Importância do produto na estrutura de custo do comprador:
Neste caso o comprador estará disposto a barganhar com maior
intensidade e de forma criteriosa, ao contrário do que caso este produto fosse um
insumo de pouca representatividade na sua estrutura de custo ou consumo.
c) Nível de diferenciação nos produtos comprados:
No caso de ausência de diferenciação nos produtos adquiridos, os
compradores podem, então, criar situações de confronto entre os ofertantes
visando obter melhores preços e condições.
d) Nível dos custos de mudança:
Quando os custos de mudança são baixos, os compradores podem afetar
fornecedores, sem incorrer em custos relevantes por esta mudança, permitindo que
barganhem melhores condições.
46
e) Rentabilidade dos compradores:
Caso o comprador apresente baixa rentabilidade, este será cauteloso de
forma a conseguir preços mais baixos, visando a melhorar sua rentabilidade. No
outro extremo, quando os compradores são altamente rentáveis, serão então
menos sensíveis a preços, caso este produto não represente item relevante na
estrutura de custo.
f) Ameaça de integração vertical para trás:
Se os compradores são capazes de integrar para trás suas operações, então
os fornecedores estarão sujeitos ao negociar concessões, para evitar a perda do
cliente e surgimento de novo concorrente. A retaliação poderia se dar através de
ameaça de integração para frente por parte dos fornecedores.
g) Domínio sobre as informações:
O comprador estará em situação privilegiada para negociar junto ao
fornecedor, quando dispuser de domínio total acerca das informações sobre preços
de mercado, nível de demanda, custo dos fornecedores, entre outras vantagens.
Segundo Porter (1980), as fontes de poder associadas aos compradores
citadas acima podem ser exercidas tanto por consumidores quanto por indústrias
ou empresas, varejistas ou atacadistas. Estas relações de poder mudam com o
tempo, de acordo com decisões estratégicas de uma empresa ou com alterações
estruturais da indústria.
2.1.2.1.6.
Atuação do Governo na Indústria
O papel do Governo na análise da indústria é extremamente relevante, já
que o Governo possui autonomia de influenciar todas as cinco forças. Além disso,
o Governo pode, inclusive, exercer o papel de fornecedor ou comprador, o que
muitas vezes o faz, sendo que em algumas indústrias ainda assume o papel de
fornecedor ou comprador principal.
Nas outras forças que exercem poder sobre a indústria, o Governo assume
papel relevante devido às suas funções de agente regulador que poderá criar
subsídios, concessões, limitações técnicas, entre outras, interferindo no mercado.
47
A atuação do Governo nem sempre é orientada por objetivos econômicos,
mas, em muitos casos, é a orientação política o principal direcionador das suas
decisões.
Para Porter (1980), o Governo deve ser analisado através do seu efeito
sobre as cinco forças competitivas e não como uma força isolada. Austin (1990),
contudo, reconhece que o Governo possui poder determinante sobre a dinâmica e
estrutura da indústria e, por isso, deve ser considerado como uma sexta força
competitiva no modelo de Porter, já que o poder regulador e o controle de
recursos por parte do Governo acabam por modulando as cinco forças
competitivas apontadas por aquele autor.
Seguindo a linha de Porter (1980), pode-se analisar a influência do
Governo sobre as cinco forças competitivas:
a) Barreiras de entrada:
Conforme abordado por Austin (1990), o Governo interfere na estrutura
competitiva de uma indústria ao interferir sobre as barreiras de entrada para
potenciais competidores.
Neste caso, o Governo através de ações como reservas de mercado,
limitação às importações, necessidade de autorização para produção, concessões,
necessidade de autorização para comercialização de produtos, entre outras ações,
estaria definindo quem são os potenciais competidores em um mercado.
b) Rivalidade da indústria:
Quanto maior for a interferência do Governo em uma indústria, seja como
regulador ou participante direto, maior será o estímulo à disputa entre as empresas
desta indústria, pela preferência no relacionamento com a estrutura
governamental.
O estímulo a esta disputa decorre do papel do Governo de ser o
responsável por conceder acesso a vários recursos críticos, tais como crédito,
licenças de importação e moeda estrangeira. Segundo Austin (1990), tais
interferências e os benefícios oriundos destas ações podem ser transformar em
vantagens competitivas mais intensas do que vantagens competitivas provenientes
de ações gerenciais.
Austin (1990) cita alguns exemplos de interferência dom Governo no nível
de rivalidade da indústria:
48
� caso a concessão de licenças para expansão de capacidade produtiva seja
prerrogativa do Governo, empresas tendem a solicitar licenças para
capacidade superior à necessária, visando antecipar novas solicitações futuras;
esta prática irá gerar sobrecapacidade produtiva, que pode então se
transformar em sobreprodução e guerra de preços;
� o Governo pode criar vantagem competitiva para algumas empresas,
geralmente pequenas empresas, ou empresas estatais, ao discriminar a
concessão de crédito subsidiado;
� o Governo pode reduzir o nível de competitividade através de medidas como
controle de preços em mercados que competem por preço;
� a restrição à saída de capital estrangeiro, que é uma barreira à saída, pelo
Governo, é uma forma de remoção ou redução de algumas áreas de rivalidade;
� políticas setoriais que influenciam os níveis de demanda em algumas
indústrias, interferindo no nível de rivalidade de acordo com o caráter
expansionista ou de retração da política setorial em questão.
c) Ameaça de substitutos:
As ações do Governo, devido a posições estratégicas ou políticas de
desenvolvimento, podem atingir drasticamente o nível de preços de uma
determinada indústria, o que pode, por conseguinte, gerar substitutibilidade, uma
vez que a ameaça de substitutos aumenta à medida que o preço e a função destes
se aproximam do produto dominante.
d) Poder de Fornecedores e Compradores:
Segundo Austin (1990), o Governo pode influenciar o poder de
fornecedores e compradores:
� agindo diretamente como comprador ou fornecedor;
� implantando controle de importações;
� limitando a compra de insumos ao mercado interno, fortalecendo os
fornecedores estabelecidos no local;
� regulamentando preços de insumos;
� deliberando sobre políticas salariais;
� controlando a integração vertical da cadeia produtiva.
Além do Governo, vários outros fatores podem acabar interferindo na
estrutura da indústria. Assim como Austin (1990) definiu a importância de fatores
políticos, econômicos, demográficos e culturais, Day e Reibstein (1997)
49
apresentaram, além do Governo, como fatores importantes, os vetores de
mudanças tecnológicas e o crescimento e a volatilidade da demanda de mercado,
conforme indicado na Figura 5.
Figura 5 - Forças Influenciando a Atratividade da Arena
Fonte: Day e Reibstein (1997)
Segundo Day e Reibstein (1997), estas três macro forças teriam poder
suficiente de alterar a estrutura da indústria. Como já discutido, as cinco forças e a
influência do Governo, ambos também retratados no modelo trabalhado por Day e
Reibstein, vamos apenas destacar os papel das duas macro forças restantes que
não foram diretamente tratadas até o momento.
1) Mudança tecnológica:
Segundo Day e Reibstein (1997), nenhuma força competitiva é imune às
mudanças tecnológicas. Substitutos podem ser criações oriundas de mudanças
tecnológicas, informações tecnológicas podem ser uma porta de entrada para
novos entrantes, rivalidades podem crescer se tecnologias gerarem maior
Intervenção regulatória
Crescimento e Volatilidade de Demanda de Mercado
Mudanças tecnológicas
50
eficiência na cadeia produtiva, assim como o equilíbrio entre compradores pode
ser alterado, dependendo de onde a tecnologia agir.
2) Crescimento e Volatilidade de Demanda de Mercado:
Ainda segundo os autores Day e Reibstein (1997), o crescimento de
mercado pode afetar aumentar a atratividade de um mercado e, por isso, mudar as
relações entre as forças que o compõem. Um crescimento acelerado gerará
aumento na demanda que, por conseguinte, pode superar a oferta e, desta forma,
reduzir a pressão sobre preços. Ao mesmo tempo, rivais podem estar construindo
capacidade para suportar esta demanda e, desta forma, não responderem a perdas
de mercado. Enfim, mudanças na taxa de crescimento do mercado alteram as
forças. Já em condições de baixo crescimento, a rivalidade pode aumentar muito e
gerar ações agressivas por parte dos competidores.
A utilidade do conceito de indústria nos estudos de estratégia parece ser
unanimidade. Mesmo os estudos que apontam que não é o ambiente que
determina a posição competitiva das empresas, sugerem, em suas avaliações, que
o ambiente possui ao menos uma parcela de importância na determinação dos
fatores geradores de performance.
Contudo, a análise da indústria, segundo o modelo de cinco forças, possui
algumas fraquezas. Para Day e Reibstein (1997), o modelo de forças competitivas
oferece um robusto e sistemático modelo para analisar as oportunidades e ameaças
e, desta forma, explicar porque algumas indústrias possuem melhores perspectivas
de lucro do que outras. Day e Reibstein (1997), porém, apontam que a análise
baseada neste modelo apresenta falhas que devem ser observadas. Primeiramente,
conforme já mencionado anteriormente, há problemas relacionados à definição do
espaço que compõe a indústria. Desta forma, quando as fronteiras entre as
indústrias não são claras ou quando indústrias estão convergindo, devido a
mudanças tecnológicas, substitutos, competidores e mesmo novos entrantes
podem não ficar claros na análise. Outro ponto mencionado por estes autores
refere-se à falta de consideração acerca dos complementos de venda e suporte
provocados pela evolução de softwares e do espaço da internet. Estas novas
dimensões não estariam claras para os pesquisadores, ao mesmo tempo em que
são de grande potencial. O terceiro ponto mencionado como fraqueza, na análise
através do modelo de cinco forças, é que o modelo apresenta a relação de forças
entre competidores, clientes e fornecedores como uma interação de resultado zero,
51
isto é, não compreende as ações orientadas a parcerias e colaboradores que
poderiam alterar a relação entre as empresas e, desta forma, gerar um novo
resultado diferente do soma zero. Por último, os autores apontam que o modelo
está orientado para diferenças em relação à média de lucratividade das indústrias,
enquanto que, dentro de uma mesma indústria, podem se encontrar diferenças até
dez vezes maiores do que entre indústrias.
2.1.3.
Desempenho
Para Barney (2001), sempre que uma firma começa suas operações em
uma indústria em particular, suas discussões sobre como competir são baseadas no
seu entendimento dos processos econômicos críticos da indústria e do mercado e,
no seu entendimento, de como competir com sucesso, tendo em vista estes fatores.
O autor apresenta a questão à luz da teoria, pois, para ele, não há como saber com
certeza se a estratégia definida, quando implementada, resultará em sucesso.
Na análise da indústria, segundo o modelo de Porter (1980) apresentado, o
que se busca é identificar os fatores que poderiam ser as causas das performances
observadas nas empresas que operam nestas indústrias.
Para Barney (2001), a determinação se há sucesso ou não é oriunda do
processo de avaliação do impacto que a teoria estratégica da firma, de como
competir, possui em relação a sua posição competitiva na indústria ou mercado.
Para tal existem três classificações:
� competir com muito sucesso – vantagem competitiva – lucros acima da média;
� competir com sucesso – paridade competitiva – lucros normais – na média;
� competir sem sucesso – desvantagem competitiva – lucros abaixo da média.
A maneira mais simples de pensar estratégia para uma firma é assumir que
a firma começa a operar com uma bem desenvolvida teoria, que o mercado
proverá um teste para esta teoria e que a administração fará ajustes em relação a
esta teoria, para melhorar sua habilidade de gerar vantagens competitivas.
Para medir sucesso, é necessário, então, entender performance. Uma
performance acima do normal pode ser entendida como resultado de uma
estratégia de sucesso geradora de vantagens competitivas. Segundo Barney (2001,
p.26, tradução livre do autor), performance pode ser entendida da seguinte forma:
52
“a definição organizacional de performance é baseada na noção de que uma
organização é uma associação de ativos produtivos, incluindo indivíduos, que
voluntariamente se juntam para obter vantagens econômicas. Donos dos ativos
deixarão estes ativos disponíveis somente se eles estiverem satisfeitos com os
resultados que eles estão recebendo (ajustados de acordo com o risco) que devem
ser pelo menos tão grandes quanto os ganhos que eles esperariam estar recebendo
de qualquer outra razoável alternativa”.
Esta maneira de definir performance possui inúmeras vantagens: é
consistente com a visão microeconômica, é consistente com a maioria das
definições de performance em teoria organizacional e comportamento
organizacional e é de utilidade na análise do impacto da performance do meio
onde a empresa se encontra e de suas forças e fraquezas.
A comparação direta com os ganhos esperados pelos acionistas é, sem
dúvida, uma medição de performance, mas está aquém de ser um definição
passível de englobar toda a dimensão da performance. De acordo com Barney
(2001), nenhuma abordagem que busque definir ou delimitar o escopo de
desempenho está livre de imperfeições.
Para Barney (2001), existem quatro tipos de maneiras de avaliar
performance: sobrevivência, abordagem dos stakeholders, medidores contábeis e
medidores contábeis ajustados.
O primeiro caso caracteriza performance, ao definir que se uma empresa
possui lucros, isto é, ganhos econômicos normais à indústria, ela possui uma
performance aceitável, tendo em vista que, caso contrário, estaria falindo.
O segundo termo equivale a identificar, dentre os stakeholders, o que, para
eles, significa performance. Tendo em vista a não convergência de objetivos,
neste caso, ou se sobrepõem uns interesses aos outros ou não há conclusão.
Os dois últimos itens equivalem a identificar performance através de
indicadores econômicos oriundos dos registros contábeis da empresa. O mais
famoso, o ROI, return over investment, é um importante fator, pois identifica
como o investimento realizado está sendo remunerado.
Segundo Porter (1985), as indústrias podem ser classificadas em:
perfeitamente competitivas, monopolisticamnte competitivas, monopolistas e
oligopolistas.
O primeiro caso é observado quando, em um mesmo mercado, existem um
grande número de empresas operando com produtos similares e sem diferenciação
entre eles, em estruturas similares de custo e atributos. Nestes casos, tanto a saída
53
como a entrada na indústria das novas empresas são facilitadas e possuem baixos
custos. Empresas nestas indústrias podem apenas agir através de preços, como
reação a alteração no nível de demanda e oferta. Aqui se esperam lucros normais.
O segundo caso refere-se a empresas monopolisticamente competitivas.
Neste caso, indústrias conseguem identificar nichos onde apenas elas conseguem
operar com um diferencial. Estes casos são, em sua maioria, ameaçados por ações
competitivas de outras indústrias. Estas indústrias são caracterizadas por um
grande número de empresas operando com baixos custos de entrada e saída no
mercado, mas os produtos não são homogêneos em relação aos custos e atributos.
Por isso, empresas nestas indústrias podem ter uma grande variedade de opções de
conduta, incluindo liderança por custos e diferenciação de produtos, que podem
promover lucros acima da média.
Oligopólios são caracterizados por um pequeno número de empresas
competindo com produtos que podem ser tanto homogêneos quanto heterogêneos,
em mercados marcados por altos custos de entrada e saída. Empresas nestas
indústrias também possuem uma grande variedade de possíveis condutas
operacionais, incluindo conluio tácito, que possibilitam a estas empresas lucros
acima da média.
Indústrias monopolistas são aquelas em que apenas uma única empresa
opera. Os custos de entrada na indústria são extremamente elevados. Por serem as
únicas no mercado em que operam, estas empresas possuem uma grande
variedade de opções de conduta, incluindo a possibilidade de ajustar preços para
obter lucros econômicos significativos. Devido a esta dominância, empresas que
operam em indústrias assim possuem grande possibilidade de obter lucros acima
da média.
2.2.
Síntese do Referencial Teórico sobre Estratégia
Com base na revisão de literatura sobre estratégia, identificaram-se alguns
dos principais conceitos que poderiam contribuir para a análise da
competitividade e do modelo regulatório do setor de telefonia fixa no Rio de
Janeiro. Além de embasar a análise, estes conceitos contribuíram para a
construção dos roteiros de entrevistas com os principais atores e com
54
consumidores neste setor, conforme se verá no Capítulo 4, que trata da
metodologia de estudo.
O Quadro 1 resume os principais conceitos extraídos desta parte da revisão
da literatura.
Quadro 1 - Síntese do Referencial Teórico sobre Estratégia
Conceito Objetivo
Indústria (PORTER, 1979)
Identificar características da indústria que indiquem o
seu nível atual de competição e as condições de
prestação do serviço (qualidade)
Modelo das 5 Forças (PORTER, 1980)Identificar as forças estratégicas que afetam a
competitividade da indústria
Grau de rivalidade
Identificar os concorrentes da dominante no mercado e
verificar o grau de ameaça destes concorrentes a posição
atual da dominante
Ameaça de SubstitutosIdentificar a existência de substitutos e o grau de ameaça a
indústriua
Poder de barganha dos fornecedores
Identificar a existência de fornecedores com papel
relevante na indústria e consequentemente seu grau de
ameaça a indústria
Poder de barganha dos clientes
Identificar a força que os clientes possuem atualmente na
indústria, checando o quanto a qualidade do serviço é fator
determinante para a situação de market share
Ameaça de Novos EntrantesIdentificar empresas/linhas de negócio que possam vir a
entrar na indústria, checando o grau de ameaça a indústria
Barreiras de EntradaIdentificar quais são as barreiras de entrada na indústria
que dificultam a entrada de novos players
Atuação do GovernoChecar o quanto e como o Governo interfere nas forças
estratégicas da indústria