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2014 7ano 3bim Redacao
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Língua Portuguesa – Redação – 3º bimestre
Artigo de opinião
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Colégio Integral – série 7º ano – 2014
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Artigo de opinião
Leia o texto abaixo:
A poluição no mundo
Os grandes países industriais são os mais poluídos do mundo. Em Tóquio vende-se
oxigênio nas ruas centrais. É comum os japoneses comprarem uma dose e enfiarem o nariz
na “garrafinha”, recuperando-se do veneno que são obrigados a respirar. Os guardas de
trânsito, intoxicados pelos gases dos automóveis, têm postos de abastecimento especiais
nas esquinas.
Apesar da propaganda que apresenta o centro da Europa como um oásis verde entre
enormes fábricas, quem lê jornal sabe o que acontece com o Reno: um rio totalmente morto
e mortífero, carregando resíduos químicos por milhares de quilômetros, contaminando os
depósitos de água potável de vários países.
Metade da população holandesa bebe a água do Rio Reno, que é o maior esgoto do
mundo e o receptor de inseticidas das fábricas alemães. Seus peixes são proibidos para o
consumo, porque os detritos industriais com que se “alimentam” tornam sua carne fétida.
E os Estados Unidos, pátria do capitalismo moderno, louvado pelo rigor de suas leis,
são – e isto seus próprios técnicos afirmam – o país mais poluído do planeta. Além disso,
são os maiores exportadores de poluição: 40% da contaminação da Terra é provocada por
suas indústrias, segundo informação de Philip Bart, ecologista e redator da Internation
Review.
Fonte: Júlio José Chiavenato. O massacre da natureza.
Exercícios
1. Nesse texto Júlio José Chiavenato defende um ponto de vista (uma opinião) sobre a
poluição no mundo. Qual é o ponto de vista que ele defende?
2. Sempre que defendemos um ponto de vista, desejamos convencer nosso interlocutor
(leitor ou ouvinte) de que temos razão. Para isso, precisamos nos justificar com argumentos,
isto é, explicar as razões, os motivos de pensarmos desse modo. O autor do texto lido, por
exemplo, justificou seu ponto de vista com alguns argumentos. Identifique o argumento
usado no 1º parágrafo.
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3. No 2º parágrafo, o autor, apresenta um contra-argumento para depois apresentar o
argumento que dá suporte ao seu ponto de vista. Para introduzir esse contra-argumento, ele
utiliza o conectivo “apesar de”. Indique qual é esse contra-argumento e depois indique qual é
o argumento que fundamenta o seu ponto de vista.
4. O 3º parágrafo é o desenvolvimento do argumento utilizado no 2º parágrafo. Por que o
autor continuou a argumentação do parágrafo anterior?
5. O último parágrafo apresenta um novo argumento. Indique esse argumento.
6. A linguagem do texto de opinião costuma ser clara, direta, precisa, pois o objetivo do autor
é transmitir com clareza um ponto de vista. Além disso, ela geralmente é empregada na
variedade padrão, mas pode variar, dependendo do modo como é veiculada (oralmente, em
jornais ou revistas) e do perfil do interlocutor.
a) A linguagem empregada no texto está de acordo com a variedade padrão ou com uma
variedade não padrão?
b) Considerando-se que o texto foi publicado numa revista que é lida geralmente por adultos
com grau de escolaridade médio ou alto, essa linguagem é adequada ao público a que se
destina?
Entendendo o gênero – parte I
Características próprias do artigo de opinião:
Costuma circular em veículos tipicamente jornalísticos e de grande penetração
popular: jornais impressos, revistas, sites de notícias etc.
Geralmente é escrito por especialistas num determinado assunto, pessoas
publicamente reconhecidas por suas posições, autoridade etc.
Aborda assuntos e/ou acontecimentos polêmicos atuais, recentemente noticiados e
de interesse público.
Dirige-se a um leitor que o jornal considera como potencialmente envolvido no debate,
na qualidade de cidadão.
Tem como finalidade defender uma opinião ou tese, a qual é apresentada com base
em argumentos coerentes.
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O texto de opinião integra, geralmente, três partes:
a introdução – indicação da ideia que se vai defender;
o desenvolvimento – apresentação das razões/exemplos que justificam a opinião;
a conclusão – síntese das razões apresentadas ou insistência num dos exemplos
referidos.
Para produzir um texto de opinião:
Indique o assunto a ser abordado e a opinião a ser defendida;
Justifique a sua opinião através de exemplos;
Termine o texto insistindo no seu ponto de vista e na justificação que considere mais
forte;
Utilize a linguagem apelativa e expressiva;
Atribua um título ao texto.
O que é argumentar?
Argumentar é uma ação verbal na qual se utiliza a palavra oral ou escrita para defender
uma tese, ou seja, uma opinião, uma posição, um ponto de vista particular a respeito de
determinado fato.
Quem argumenta, como a própria palavra sugere, se vale de argumentos, que nada
mais são que razões, verdades, fatos, virtudes e valores (éticos, estéticos, emocionais) tão
amplamente reconhecidos que, justamente por isso, servem de alicerce para a tese
defendida.
Assim como num jogo, quem argumenta faz suas “jogadas” para se sair vencedor:
entre outras coisas, afirma, nega, contesta, explica, promete, profetiza, critica, dá exemplos,
ironiza. Todas essas jogadas estão a serviço da criação de um clima favorável à adesão do
público às posições defendidas. A cada “lance”, o argumentador se esforça para comprovar
que está indo pelo caminho certo; caso contrário, perderá credibilidade e será vencido.
Um auditório é o conjunto dos que assistem a um debate, acompanham ou se
interessam potencialmente pelo assunto em questão. Nos grandes debates, ele é o
representante da opinião pública. Por isso mesmo, a função do auditório é frequentemente
decisiva para o debate. Quando alguém escreve uma carta a um jornal, por exemplo,
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argumentando contra uma posição defendida em determinada matéria, está querendo
convencer, antes de tudo, o conjunto dos leitores, ou seja, o auditório.
Todo jogador desenvolve estratégias, isto é, um plano e um estilo próprios de ação
verbal para, por meio deles, vencer o adversário. No jogo argumentativo, entretanto, é
preciso convencer, ou seja, vencer com a ajuda de todos, que precisam aderir à tese, graças
à eficiência das estratégias e à força dos argumentos. Daí o valor social da argumentação,
na medida em que se trata de uma vitória coletiva.
Informação versus opinião
Leia a charge abaixo:
Sobre a charge acima, reflita:
Por que o chargista colocou de um lado uma prateleira com os troféus da copa do
mundo e do outro lado uma prateleira vazia com o nome “prêmio Nobel de medicina”?
Qual a relação entre a informação no topo da charge – o Brasil gastará R$ 33 bilhões
com a copa – e a galeria de troféus logo abaixo?
Que relação existe entre a copa do mundo e as eleições que ocorrerão em outubro de
2014?
É possível dizer que uma das estratégias argumentativas usada pelo chargista é a
ironia?
A charge pode ser considera uma opinião do autor? Por quê?
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Notícia
“Matéria-prima” dos jornais, a notícia relata fatos que estão ocorrendo na cidade, no
país, no mundo. O objetivo da notícia é informar o leitor com exatidão. Mesmo tendo a
pretensão de ser “neutra” e confiável, ela traz em si concepções, princípios e a ideologia dos
órgãos de imprensa que a divulgam. As notícias são impressas no jornal de acordo com o
grau de relevância (das mais importantes para as menos importantes).
Para chamar a atenção dos leitores, o texto se inicia com uma manchete bem objetiva,
com verbo sempre no presente. Em seguida, vem o lead, ou primeiro parágrafo, que contém
as informações básicas sobre o fato noticiado. O lead começa pela indicação do fato e pela
descrição das circunstâncias mais importantes em que o fato ocorreu, isto é, o que ocorreu,
como, quando, onde e por quê. O uso mais comum dessa palavra é em inglês, lead, mas, na
língua portuguesa, lide também está correto.
Leia a notícia abaixo:
Oficial! A Copa do Mundo é nossa
Comitê Executivo da Fifa anuncia o Brasil como sede do Mundial de 2014
GLOBOESPORTE.COM
Zurique, Suíça
A Copa do Mundo é nossa! Depois de mais de cinco décadas de espera, o Comitê
Executivo da Fifa confirmou nesta terça-feira, na sede da organização, em Zurique, na
Suíça, o Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014.
Após confirmar a Alemanha como sede do Mundial Feminino de 2011, o presidente da
Fifa, Joseph Blatter, fez o tão aguardado anúncio abrindo o envelope com o resultado da
votação por volta de 12h36m (de Brasília). Todos os 20 membros do Comitê Executivo da
Fifa votaram a favor da candidatura do Brasil.
— O país que produziu os melhores jogadores do planeta, que tem cinco títulos
mundiais, terá o direito, mas também a responsabilidade, de sediar a Copa em 2014 – disse
Joseph Blatter, que salientou em seu discurso que o fato de a Colômbia ter desistido da
candidatura à Copa de 2014 não facilitou a escolha do Brasil como sede da competição.
O dirigente suíço também fez questão de elogiar a irreverente apresentação da
comitiva brasileira, que aconteceu cerca de três horas antes do anúncio oficial. A delegação
brasileira foi composta, entre outras personalidades, pelo presidente da República, Luiz
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Inácio Lula da Silva, o craque Romário e até o escritor Paulo Coelho, que arrancou risos do
Comitê Executivo da Fifa ao fazer uma comparação da paixão do brasileiro pelo futebol com
o sexo.
Após receber a taça da Copa do Mundo das mãos de Blatter, Lula assegurou ao
presidente da FIFA que o Brasil estará, de hoje até 2014, se preparando para realizar uma
das maiores Copas do Mundo da história:
— O mundo terá a oportunidade de ver o que o povo brasileiro é capaz de fazer. O
futebol para nós, brasileiros, não é apenas um esporte, mas uma verdadeira paixão.
Com a confirmação da Fifa, o país do futebol voltará a receber um Mundial, fato que
não acontecia desde 1950. Agora, o Brasil tem até o dia 31 de outubro de 2008 para
anunciar quais são as cidades que receberão os jogos.
Ao todo, são 18 capitais de todo o país concorrendo para receber os jogos. A Fifa
recomenda ao Brasil que escolha apenas dez sedes. No entanto, devem ser indicadas 12
localidades, como nas Copas de 2006, na Alemanha, e de 2002, no Japão e na Coréia do
Sul.
Os concorrentes são: Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Campo Grande
(MS), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Fortaleza (CE), Goiânia (GO), Maceió
(AL), Manaus (AM), Natal (RN), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio Branco (AC), Rio de
Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP).
Nestas cidades, 14 estádios serão reformados para receber o Mundial. Em outras
quatro, as arenas ainda serão construídas, todas no Nordeste. Em Maceió, será a Arena
Zagallo. Em Natal, o Estádio Estrela dos Reis Magos. E mais a Arena Recife-Olinda, em
Pernambuco, e a Arena Bahia, em Salvador.
Anúncio não garante Copa no Brasil
Apesar de toda a festa pelo anúncio do Brasil como sede da Copa de 2014, vale
ressaltar que o evento não está completamente garantido. Não existe um decreto ou lei que
obrigue a Fifa a garantir a realização do torneio no país. A organização pode nomear outro
país como sede se o Brasil não cumprir várias obrigações que estão no caderno de
encargos.
Caso isso aconteça, pode acontecer com o Brasil o mesmo que aconteceu com a
Colômbia. Em 1986, o país perdeu a candidatura para o México justificando que não tinha
dinheiro para terminar as obras necessárias à criação da infra-estrutura exigida pela Fifa.
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Entre os itens analisados pela Fifa, estarão, por exemplo: uso da verba disponível para
o evento, venda de ingressos, estádios, estrutura para treinamentos, facilidades para a
mídia, possibilidade de realização de congressos e eventos, segurança, telecomunicações,
transportes, capacidade de acomodação.
http://globoesporte.globo.com/ESP/Noticia/Futebol/Campeonatos/0,,MUL163196-9790,00-
OFICIAL+A+COPA+DO+MUNDO+E+NOSSA.html
Sobre a notícia acima, reflita:
Em que veículo o texto foi publicado? É bastante conhecido do público?
Qual é o assunto principal abordado pelo texto? É atual ou ultrapassado, em relação à
data de publicação?
Quem é o destinatário visado? Ou seja: para que tipo de leitor a notícia se dirige? Que
importância essas informações podem ter para esse leitor?
Com que finalidade esse assunto é abordado?
O que você achou dessa notícia?
Por que esse fato virou notícia?
Qual é sua opinião sobre a copa ser realizada no Brasil?
O autor da notícia dá sua própria opinião sobre o fato ou apenas o noticia e registra
sua repercussão?
Artigo de opinião
Leia o artigo abaixo:
Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil
Vinícius Gaspar Garcia
Alguns jornalistas, de forma até bem intencionada, fazem a seguinte pergunta: é
preferível gastar 5 bilhões de reais na Copa do Mundo ou na construção de escolas?
Evidentemente, se uma alternativa anulasse a outra, a escolha seria pela segunda opção.
Ocorre que este é um questionamento simplista, uma visão limitada das coisas, que não
vislumbra os efeitos dinâmicos, em termos sociais e econômicos, que a realização de uma
Copa do Mundo pode trazer.
Poderia se comparar, por exemplo, o gasto de 5 bilhões previsto para a construção dos
estádios com o montante que se paga anualmente com juros e encargos da dívida pública:
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algo em torno de 180 bilhões de reais! Ou a proporção que estes 5 bilhões representam no
PIB do Brasil, que foi de 3,6 trilhões de reais em 2010. Colocando o investimento para
construção das arenas nessa perspectiva mais ampla, porque não utilizar esses recursos
numa dezena de estádios, que serão ocupados todo o fim de semana por milhares de
pessoas?
Bom, aí temos um problema. Sou favorável à realização da Copa, mas é um equívoco
construir estádios nas cidades onde não há demanda, onde o futebol é praticamente
amador. Em Manaus, Cuiabá, Brasília e, em menor medida, Natal, vamos ter os chamados
“elefantes brancos”. Nesses casos faz sentido falar em desperdício, pois não se inventa
artificialmente um clube ou uma torcida a partir da simples existência do estádio.
Agora, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador,
Recife e Fortaleza, o futebol já atrai multidões semanalmente, com clubes de tradição e
torcidas apaixonadas. Porque não investir 0,15% do PIB em estádios modernos e
confortáveis? Os mesmos jornalistas que fazem a pergunta simplória do início do texto
reclamam, há anos, da má qualidade dos nossos estádios. A realização da Copa do Mundo
é uma ótima oportunidade para fazer este investimento, melhorando também a infraestrutura
urbana e o sistema de transporte das principais cidades do país.
É claro que todo esse processo tem que ser monitorado pelos órgãos de fiscalização –
como o Tribunal de Contas da União, o Ministério Público e o Congresso – além da
sociedade civil organizada e da própria mídia. Os ganhos com os estádios novos e as
melhorias de infraestrutura serão somados aos milhares de empregos diretos e indiretos que
a Copa vai gerar, trazendo, também ao país, turistas e empresas interessadas em investir.
Entretanto, é óbvio que nem tudo são flores. Além dos “elefantes brancos”, outra
questão que preocupa é o pessoal que toma conta do nosso futebol na CBF. É preciso ficar
em cima, como fez o jornal “Lance” no início do ano, revelando irregulares num contrato
sobre os lucros da Copa, provocando sua alteração. Felizmente, temos gente séria na
imprensa, nos órgãos de fiscalização e nas instâncias de participação e controle social.
Por tudo isso, e mesmo com as ressalvas colocadas, acho que será uma boa a Copa
no Brasil em 2014. Vou deixar para falar das Olimpíadas numa outra ocasião. Só adianto um
ponto de vista que, creio eu, vai no sentido contrário do senso comum: dois eventos assim
tão próximos me parece um exagero, acaba um tirando o foco do outro.
Deveríamos estar concentrados exclusivamente na organização da Copa do Mundo,
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que tem mais a ver com nossa cultura esportiva centrada no futebol. Poderíamos continuar
investindo no esporte olímpico, melhorar nosso desempenho e daqui há 12, 16 anos, quem
sabe, se candidatar a fazer os jogos olímpicos.
Bom, mas como torcedor é óbvio que vou curtir muito ter tudo isso no Brasil nos
próximos anos, sempre atento para que as coisas aconteçam corretamente!
Disponível em: http://vggarcia30.blogspot.com.br/2011/05/copa-do-mundo-e-olimpiadas-no-brasil.html (acesso
em 07/07/12).
Vai ter Copa: argumentos para enfrentar quem torce contra o Brasil
Como a desinformação alimenta o festival de besteiras ditas contra a Copa do Mundo de
Futebol no Brasil.
Antonio Lassance
Profetas do pânico: os grupos que patrocinam a campanha anticopa
Existe uma campanha orquestrada contra a Copa do Mundo no Brasil. A torcida para
que as coisas deem errado é pequena, mas é barulhenta e até agora tem sido muito bem
sucedida em queimar o filme do evento.
Tiveram, para isso, uma mãozinha de alguns governos, como o do estado do Paraná e
da prefeitura de Curitiba, que deram o pior de todos os exemplos ao abandonarem seus
compromissos com as obras da Arena da Baixada, praticamente comprometida como sede.
A arrogância e o elitismo dos cartolas da Fifa também ajudaram. Aliás, a velha palavra
“cartola” permanece a mais perfeita designação da arrogância e do elitismo de muitos
dirigentes de futebol do mundo inteiro.
Mas a campanha anticopa não seria nada sem o bombardeio de informação podre
patrocinado pelos profetas do pânico.
O objetivo desses falsos profetas não é prever nada, mas incendiar a opinião pública
contra tudo e contra todos, inclusive contra o bom senso.
Afinal, nada melhor do que o pânico para se assassinar o bom senso.
Como conseguiram azedar o clima da Copa do Mundo no Brasil
O grande problema é quando os profetas do pânico levam consigo muita gente que não
é nem virulenta, nem violenta, mas que acaba entrando no clima de replicar desinformações,
disseminar raiva e ódio e incutir, em si mesmas, a descrença sobre a capacidade do Brasil
dar conta do recado.
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Isso azedou o clima. Pela primeira vez em todas as copas, a principal preocupação do
brasileiro não é se a nossa seleção irá ganhar ou perder a competição.
A campanha anticopa foi tão forte e, reconheçamos, tão eficiente que provocou algo
estranho. Um clima esquisito se alastrou e, justo quando a Copa é no Brasil, até agora não
apareceu aquela sensação que, por aqui, sempre foi equivalente à do Carnaval.
Se depender desses Panicopas (os profetas do pânico na Copa), essa será a mais
triste de todas as copas.
“Hello!”: já fizemos uma copa antes
Até hoje, os países que recebem uma Copa tornam-se, por um ano, os maiores
entusiastas do evento. Foi assim, inclusive, no Brasil, em 1950. Sediamos o mundial com
muito menos condições do que temos agora.
Aquela Copa nos deixou três grandes legados. O primeiro foi o Maracanã, o maior
estádio do mundo – que só ficou pronto faltando poucos dias para o início dos jogos.
O segundo, graças à derrota para o Uruguai (“El Maracanazo”), foi o eterno medo que
muitos brasileiros têm de que as coisas saiam errado no final e de o Brasil dar vexame
diante do mundo – o que Nélson Rodrigues apelidou de “complexo de vira-latas”, a ideia de
que o brasileiro nasceu para perder, para errar, para sofrer.
O terceiro legado, inestimável, foi a associação cada vez mais profunda entre o futebol
e a imagem do país. O futebol continua sendo o principal cartão de visitas do Brasil –
imbatível nesse aspecto.
O cartunista Henfil, quando foi à China, em 1977, foi recebido com sorrisos no rosto e
com a única palavra que os chineses sabiam do Português: “Pelé” (está no livro “Henfil na
China”, de 1978).
O valor dessa imagem para o Brasil, se for calculada em campanhas publicitárias para
se gerar o mesmo efeito, vale uma centena de Maracanãs.
Desinformação #1: o dinheiro da Copa vai ser gasto em estádios e em jogos de
futebol, e isso não é importante
O pior sobre a Copa é a desinformação. É da desinformação que se alimenta o festival
de besteiras que são ditas contra a Copa.
Não conheço uma única pessoa que fale dos gastos da Copa e saiba dizer quanto isso
custará para o Brasil. Ou, pelo menos, quanto custarão só os estádios. Ou que tenha visto
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uma planilha de gastos da copa.
A “Copa” vai consumir quase 26 bilhões de reais.
A construção de estádios (8 bi) é cerca de 30% desse valor.
Cerca de 70% dos gastos da Copa não são em estádios, mas em infraestrutura,
serviços e formação de mão de obra.
Os gastos com mobilidade urbana praticamente empatam com o dos estádios.
Os gastos em aeroportos (6,7 bi), somados ao que será investido pela iniciativa privada
(2,8 bi até 2014) é maior que o gasto com estádios.
O ministério que teve o maior crescimento do volume de recursos, de 2012 para 2013,
não foi o dos Esportes (que cuida da Copa), mas sim a Secretaria da Aviação Civil (que
cuida de aeroportos).
Quase 2 bi serão gastos em segurança pública, formação de mão de obra e outros
serviços.
Ou seja, o maior gasto da Copa não é em estádios. Quem acha o contrário está
desinformado e, provavelmente, desinformando outras pessoas.
Desinformação #2: se deu mais atenção à Copa do que a questões mais importantes
Os atrasos nas obras pelo menos serviram para mostrar que a organização do evento
não está isenta de problemas que afetam também outras áreas. De todo modo, não dá para
se dizer que a organização da Copa teve mais colher de chá que outras áreas.
Certamente, os recursos a serem gastos em estádios seriam úteis a outras áreas. Mas
se os problemas do Brasil pudessem ser resolvidos com 8 bi, já teriam sido.
Em 2013, os recursos destinados à educação e à saúde cresceram. Em 2014, vão
crescer de novo.
Portanto, o Brasil não irá gastar menos com saúde e educação por causa da Copa. Ao
contrário, vai gastar mais. Não por causa da Copa, mas independentemente dela.
No que se refere à segurança pública, também haverá mais recursos para a área. Aqui,
uma das razões é, sim, a Copa.
Dados como esses estão disponíveis na proposta orçamentária enviada pelo Executivo
e aprovada pelo Congresso.
Se alguém quiser ajudar de verdade a melhorar a saúde e a educação do país, ao
invés de protestar contra a Copa, o alvo certo é lutar pela aprovação do Plano Nacional de
Educação, pelo cumprimento do piso salarial nacional dos professores, pela fixação de
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percentuais mais elevados e progressivos de financiamento público para a saúde e pela
regulação mais firme sobre os planos de saúde.
Se quiserem lutar contra a corrupção, sugiro protestos em frente às instâncias do
Poder Judiciário, que andam deixando prescrever crimes sem o devido julgamento, e
rolezinhos diante das sedes do Ministério Público em alguns estados, que andam com as
gavetas cheias de processos, sem dar a eles qualquer andamento.
Marchar em frente aos estádios, quebrar orelhões públicos e pichar veículos em
concessionárias não tem nada a ver com lutar pela saúde e pela educação.
Os estádios, que foram malhados como Judas e tratados como ícones do desperdício,
geraram, até a Copa das Confederações, 24,5 mil empregos diretos. Alto lá quando alguém
falar que isso não é importante.
Será que o raciocínio contra os estádios vale também para a Praça da Apoteose e para
todos os monumentos de Niemeyer? Vale para a estátua do Cristo Redentor? Vale para as
igrejas de Ouro Preto e Mariana?
Havia coisas mais importantes a serem feitas no Brasil, antes desses monumentos
extraordinários. Mas o que não foi feito de importante deixou de ser feito porque construíram
o bondinho do Pão-de-Açúcar?
Até mesmo para o futebol, o jogo e o estádio são, para dizer a verdade, um detalhe
menos importante. No fundo, estádios e jogos são apenas formas para se juntar as pessoas.
Isso sim é muito importante. Mais do que alguns imaginam.
Desinformação #3: O Brasil não está preparado para sediar o mundial e vai passar
vexame
Se o Brasil deu conta da Copa do Mundo em 1950, por que não daria conta agora?
Se realizou a Copa das Confederações no ano passado, por que não daria conta da
Copa do Mundo?
Se recebeu muito mais gente na Jornada Mundial da Juventude, em uma só cidade,
porque teria dificuldades para receber um evento com menos turistas, e espalhados em mais
de uma cidade?
O Brasil não vai dar vexame, quando o assunto for segurança, nem diante da
Alemanha, que se viu rendida quando dos atentados terroristas em Munique, nos Jogos
Olímpicos de Verão de 1972; nem diante dos Estados Unidos, que sofreram atentados na
Maratona Internacional de Boston, no ano passado.
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O Brasil não vai dar vexame diante da Itália, quando o assunto for a maneira como
tratamos estrangeiros, sejam eles europeus, americanos ou africanos.
O Brasil não vai dar vexame diante da Inglaterra e da França, quando o assunto for
racismo no futebol. Ninguém vai jogar bananas para nenhum jogador, a não ser que haja um
Panicopa no meio da torcida.
O Brasil não vai dar vexame diante da Rússia, quando o assunto for respeito à
diversidade e combate à homofobia.
O Brasil não vai dar vexame diante de ninguém quando o assunto for manifestações
populares, desde que os governadores de cada estado convençam seus comandantes da
PM a usarem a inteligência antes do spray de pimenta e a evitar a farra das balas de
borracha.
Podem ocorrer problemas? Podem. Certamente ocorrerão. Eles ocorrem todos os dias.
Por que na Copa seria diferente? A grande questão não é se haverá problemas. É de que
forma nós, brasileiros, iremos lidar com tais problemas.
Desinformação #4: os turistas estrangeiros estão com medo de vir ao Brasil
De tanto medo do Brasil, o turismo para o Brasil cresceu 5,6% em 2013, acima da
média mundial. Foi um recorde histórico (a última maior marca havia sido em 2005).
Recebemos mais de 6 milhões de estrangeiros. Em 2014, só a Copa deve trazer meio
milhão de pessoas.
De quebra, o Brasil ainda foi colocado em primeiro lugar entre os melhores países para
se visitar em 2014, conforme o prestigiado guia turístico Lonely Planet (“Best in Travel 2014”,
citado nas referências ao final).
Adivinhe qual uma das principais razões para a sugestão? Pois é, a Copa.
Desinformação #5: a Copa é uma forma de enganar o povo e desviá-lo de seus reais
problemas
O Brasil tem problemas que não foram causados e nem serão resolvidos pela Copa.
O Brasil tem futebol sem precisar, para isso, fazer uma copa do mundo. E a maioria
assiste aos jogos da seleção sem ir a estádios.
Quem quiser torcer contra o Brasil que torça. Há quem não goste de futebol, é um
direito a ser respeitado. Mas daí querer dar ares de “visão crítica” é piada.
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Desinformação #6: muitas coisas não ficarão prontas antes da Copa, o que é um grave
problema
É verdade, muitas coisas não ficarão prontas antes da Copa, mas isso não é um grave
problema. Tem até um nome: chama-se “legado”.
Mas, além do legado em infraestrutura para o país, a Copa provocou um outro,
imaterial, mas que pode fazer uma boa diferença.
Trata-se da medida provisória enviada por Dilma e aprovada pelo Congresso (entrará
em vigor em abril deste ano), que limita o tempo de mandato de dirigentes esportivos.
A lei ainda obrigará as entidades (não apenas de futebol) a fazer o que nunca fizeram:
prestar contas, em meios eletrônicos, sobre dados econômicos e financeiros, contratos,
patrocínios, direitos de imagem e outros aspectos de gestão. Os atletas também terão direito
a voto e participação na direção. Seria bom se o aclamado Barcelona, de Neymar, fizesse o
mesmo.
Estresse de 2013 virou o jogo contra a Copa
Foi o estresse de 2013 que virou o jogo contra a Copa. Principalmente quando aos
protestos se misturaram os críticos mascarados e os descarados.
Os mascarados acompanharam os protestos de perto e neles pegaram carona,
quebrando e botando fogo. Os descarados ficaram bem de longe, noticiando o que não viam
e nem ouviam; dando cartaz ao que não tinha cartaz; fingindo dublar a “voz das ruas”,
enquanto as ruas hostilizavam as emissoras, os jornalões, as revistinhas e até as coitadas
das bancas.
O fato é que um sentimento estranho tomou conta dos brasileiros. Diferentemente de
outras copas, o que mais as pessoas querem hoje saber não é a data dos jogos, nem os
grupos, nem a escalação dos times de cada seleção. A maioria quer saber se o país irá
funcionar bem e se terá paz durante a competição. Estranho.
É quase um termômetro, ou um teste do grau de envenenamento a que uma pessoa
está acometida. Pergunte a alguém sobre a Copa e ouça se ela fala dos jogos ou de algo
que tenha a ver com medo. Assim se descobre se ela está empolgada ou se sentou em uma
flecha envenenada deixada por um profeta do apocalipse.
Todo mundo em pânico: esse filme de comédia a gente já viu. Funciona assim: os
profetas do pânico rogam uma praga e marcam a data para a tragédia acontecer. E esperam
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para ver o que acontece. Se algo “previsto” não acontece, não tem problema. A intenção era
só disseminar o pânico e o baixo astral mesmo.
O que diziam os profetas do pânico sobre o Brasil em 2013? Entre outras coisas:
Que estávamos à beira de um sério apagão elétrico.
Que o Brasil não conseguiria cumprir sua meta de inflação e nem de superávit primário.
Que o preço dos alimentos estava fora de controle.
Que não se conseguiria aprontar todos os estádios para a Copa das Confederações.
O apagão não veio e as termelétricas foram desligadas antes do previsto. A inflação
ficou dentro da meta. A inflação de alimentos retrocedeu. Todos os estádios previstos para a
Copa das Confederações foram entregues.
Essas foram as profecias de 2013. Todas furadas.
Cada ano tem suas previsões malditas mais badaladas. Em 2007 e 2008, a mesma
turma do pânico dizia que o Brasil estava tendo uma grande epidemia de febre amarela.
Acabou morrendo mais gente de overdose de vacina do que de febre amarela, graças aos
profetas do pânico.
Em 2009 e 2010, os agourentos diziam que o Brasil não estava preparado para
enfrentar a gripe aviária e nem a gripe “suína”, o H1N1. Segundo esses especialistas em
catástrofes, os brasileiros não tinham competência nem estrutura para lidar com um
problema daquele tamanho. Soa parecido com o discurso anticopa, não?
O cataclismo do H1N1 seria gravíssimo. Os videntes falavam aos quatro cantos que
não se poderia pegar ônibus, metrô ou trem, tal o contágio. Não se poderia ir à escola, ao
trabalho, ao supermercado. Resultado? Não houve epidemia de coisa alguma.
Mas os profetas do pânico não se dão por vencidos. Eles são insistentes (e chatos
também). Quando uma de suas profecias furadas não acontece, eles simplesmente adiam a
data do juízo final, ou trocam de praga.
Agora, atenção a todos, o próximo fim do mundo é a Copa. “Imagina na Copa” é o
slogan. E há muita gente boa que não só reproduz tal slogan como perde seu tempo e sua
paciência acreditando nisso, pela enésima vez.
Para enfrentar o pessoal que é ruim da cabeça ou doente do pé
O pânico é a bomba criada pelos covardes e pulhas para abater os incautos, os
ingênuos e os desinformados.
Só existe um antídoto para se enfrentar os profetas do pânico. É combater a
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desinformação com dados, argumentos e, sobretudo, bom senso, a principal vítima da
campanha contra a Copa.
Informação é para ser usada. É para se fazer o enfrentamento do debate. Na escola,
no trabalho, na família, na mesa de bar.
É preciso que cada um seja mais veemente, mais incisivo e mais altivo que os profetas
do pânico. Eles gostam de falar grosso? Vamos ver como se comportam se forem jogados
contra a parede, desmascarados por uma informação que desmonta sua desinformação.
As pessoas precisam tomar consciência de que deixar uma informação errada e uma
opinião maldosa se disseminar é como jogar lixo na rua.
Deixar envenenar o ambiente não é um bom caminho para melhorar o país.
A essa altura do campeonato, faltando poucos meses para a abertura do evento, já não
se trata mais de Fifa. É do Brasil que estamos falando.
É claro que as informações deste texto só fazem sentido para quem as palavras
“Brasil” e “brasileiros” significam alguma coisa.
Há quem por aqui nasceu, mas não nutre qualquer sentimento nacional, qualquer
brasilidade; sequer acreditam que isso existe. Paciência. São os que pensam diferente que
têm que mostrar que isso existe sim.
Ter orgulho do país e torcer para que as coisas deem certo não deve ser confundido
com compactuar com as mazelas que persistem e precisam ser superadas. É simplesmente
tentar colocar cada coisa em seu lugar.
Uma das maneiras de se colocar as coisas no lugar é desmascarar oportunistas que
querem usar da pregação anticopa para atingir objetivos que nunca foram o de melhorar o
país.
O pior dessa campanha fúnebre não é a tentativa de se desmoralizar governos, mas a
tentativa de desmoralizar o Brasil.
É preciso enfrentar, confrontar e vencer esse debate. É preciso mostrar que esse
pessoal que é profeta do pânico é ruim da cabeça ou doente do pé.
(*) Antonio Lassance é doutor em Ciência Política e torcedor da Seleção Brasileira de Futebol desde sempre.
http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Vai-ter-Copa-argumentos-para-enfrentar-quem-torce-contra-o-Brasil/30090
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Argumentos para continuar protestando contra a Copa do Mundo no Brasil
Após a primeira grande manifestação do ano contra a Copa do Mundo no Brasil, ganhou
corpo na internet uma campanha orquestrada para desqualificar os que criticam a realização
do megaevento
por Comitê Popular da Copa de São Paulo — publicado 04/02/2014 05:56, última modificação 04/02/2014 15:21
André Peniche/CartaCapital
Desde 25 de janeiro, após a primeira
grande manifestação do ano contra a Copa do
Mundo no Brasil, ganhou corpo na internet
uma campanha orquestrada para desqualificar
os que criticam a realização do megaevento.
Um vocabulário sinistro povoou textos em
blogs, sites de notícias e postagens nas redes
sociais que se prestaram ao nefasto serviço.
Termos como “bandidos”, “fascistas” e até
“terroristas” foram usados para classificar manifestantes, em uma flagrante demonstração de
má fé e irresponsabilidade. Até a presidenta da República surgiu com uma declaração de
que protestar contra a Copa é “ter uma visão pequena do Brasil”.
Houve ainda quem apelasse para o nacionalismo, acusando os que são contra a Copa
de serem contra o país. Impossível não lembrar, nesse raciocínio, do governo Médici e o
chavão ufanista “Brasil: Ame-o ou Deixe-o”, empregado a quatro cantos durante um dos
períodos mais repressivos da Ditadura.
No entanto, a estratégia de desqualificar manifestantes e manifestações tem pernas
curtas. Tudo porque, infelizmente, os legados negativos da Copa são gritantes demais para
serem apagados, e se apresentam como quase que uma inesgotável fonte para mais
protestos.
Aos que não os veem (ou não querem ver), porém, gostaríamos de abrir os olhos.
A Copa das Remoções
A Ancop (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa) estimou que 250 mil
pessoas foram ou serão removidas de suas casas no Brasil, em razão de obras justificadas
pela realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Há dificuldade em encontrar o número
Protesto contra a Copa do Mundo no centro de São Paulo
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exato de pessoas afetadas pelas remoções, pois o poder público das cidades-sede
frequentemente se nega ou diz não ter informações sobre os despejos.
O dossiê “Megaeventos e Violações de Direitos Humanos no Brasil”, produzido pela
Ancop, aponta que:
“As estratégias utilizadas uniformemente em todo o território nacional se iniciam quase
sempre pela produção sistemática da desinformação, que se alimenta de notícias truncadas
ou falsas, a que se somam propaganda enganosa e boatos. Em seguida, começam a
aparecer as ameaças. Caso se manifeste alguma resistência, mesmo que desorganizada,
advém o recrudescimento da pressão política e psicológica. Ato final: a retirada dos serviços
públicos e a remoção violenta”.
As Nações Unidas, em sua revisão periódica universal de 2012, também questionaram
a violação de direitos humanos na preparação da Copa de 2014, sobretudo no que diz
respeito aos despejos forçados.
Portanto, em nome da Copa do Mundo, graves violações de direitos humanos foram e
estão sendo cometidas. Comunidades inteiras foram e estão sendo riscadas do mapa,
desorganizando a vida de milhares de pessoas, destruindo laços comunitários de décadas e
criando traumas psicológicos permanentes. Tudo no decorrer de processos marcados pela
verticalidade, truculência e falta de transparência do poder público.
A Copa dos Elefantes Brancos
De acordo com a ONG “Contas Abertas”, pelo menos quatro dos 12 estádios
construídos e/ou reformados para a Copa vão se transformar em elefantes brancos – isto é,
obras caras, vultosas, mas subutilizáveis.
Os estádios de Brasília, Cuiabá, Manaus e Natal não deverão sair por menos que 2,8
bilhões de reais no total. Parte da verba será financiada via BNDES, que tem na sua
composição verbas oriundas do Tesouro Nacional e do Fundo de Amparo ao Trabalhador –
públicas, portanto. Outra parte será composta diretamente por dinheiro público, através de
aporte dos governos estaduais. Em todas essas cidades, os estádios serão grandes (e
caros) demais para locais com histórico de partidas de futebol com públicos pequenos.
Por exemplo, o estádio Mané Garrincha, em Brasília, tem capacidade máxima para 71
mil pessoas. A contradição salta aos olhos quando olhamos para o público do primeiro jogo
da final do campeonato brasiliense do ano passado: parcos 1.956 pagantes. O mesmo
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cenário se repete nas outras três cidades mencionadas.
Chegamos ao ponto de em Manaus, o Grupo de Monitoramento e Fiscalização do
Sistema Carcerário, ligado ao Tribunal de Justiça do Amazonas, aventar a hipótese de
transformar o recém-construído estádio em um ‘presídio’ temporário.
Desta forma, não é difícil concluir que, passada a Copa, todos os quatro estádios
deverão ficar vazios – fato que se configura em um bilionário descaso com o dinheiro
público.
A Copa da Exploração Sexual
Em um país onde reina a pobreza e a cultura do machismo, a realização da Copa do
Mundo, com a consequente chegada de milhares de turistas, só fará aquecer ainda mais as
redes de aliciamento que se beneficiam do mercado da exploração sexual.
Um estudo da fundação francesa Scelles comprova que as grandes competições
internacionais permitem que as redes criminosas “aumentem a oferta” de pessoas que são
prostituídas. Na África do Sul, por exemplo, o número estimado aumentou de 100 para 140
mil, durante o megaevento de 2010.
O Brasil possui um dos maiores níveis de exploração sexual infanto-juvenil do mundo.
De acordo com o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, uma
rede de organizações não governamentais, estima-se que existam 500 mil crianças e
adolescentes na indústria do sexo no Brasil (dados de 2012). Este índice tende a crescer
ainda mais com a Copa de 2014. Em março de 2012, foi denunciado o site “Garota Copa
Pantanal 2014” que publicava vídeos e fotos de garotas menores de 18 anos em posições
sensuais e com camisetas promocionais alusivas ao torneio de futebol.
Mas tais impactos começaram antes mesmo dos primeiros turistas chegarem para os
jogos. Há denúncias do aumento de exploração sexual, incluindo crianças e adolescentes,
nos arredores dos estádios e das grandes obras urbanas da Copa, divulgadas recentemente
no jornal britânico “Mirror”, que revelou que garotas de 11 a 14 anos estão se prostituindo na
região do Itaquerão, Zona Leste de São Paulo.
Apesar da exploração sexual ter sido elencada entre as preocupações das autoridades
brasileiras com a realização do megaevento, pouco foi efetivado em termos de políticas
públicas preventivas ou de combate ao tráfico de mulheres até o momento.
No estado da Bahia, o terceiro em número de denúncias de violência sexual, apenas
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em dezembro de 2013 se divulgou uma campanha com o título “Fim da Prostituição e do
Tráfico Infantil”. Além disso, as poucas campanhas realizadas até agora são relacionadas ao
público infantil, campanhas estas que são mais aceitas pela sociedade e provocam adesão
no combate.
Todavia, campanhas relacionadas a públicos estigmatizados, como mulheres e
travestis, não recebem a devida ênfase, omitindo-se assim o fato de que se tratam de
vítimas das condições sociais que as levaram à prostituição. Isso nos remete ao histórico de
violação de direitos que perpassa até mesmo os planejamentos das políticas públicas.
Ativistas e organizações que combatem a exploração de pessoas indicam que o
assunto não é prioridade para os governos, que continuam reprimindo as trabalhadoras e
trabalhadores do ramo ao invés de desenvolver políticas públicas de prevenção à
exploração sexual, dando-lhes outras condições e alternativas de sobrevivência. Políticas
deveriam ter sido intensificadas logo que o país foi eleito sede da Copa do Mundo, o que
não ocorreu.
É valido ressaltar que campanhas de combate à exploração sexual, até então, pouco
tem se relacionado ao nome da Fifa. Será que esse é mais um requisito para trazer o torneio
ao Brasil? Assim como é exigido a outras corporações, a Fifa também deveria cumprir leis
de responsabilidade social, como, por exemplo, campanhas e ações na área do combate à
exploração sexual, dados os inúmeros alertas e fatos que comprovam que o Mundial
intensifica esse sombrio mercado.
A Copa do Fim da Soberania
Para poder receber a Copa do Mundo, o governo brasileiro resolveu abrir mão da
soberania do país, que em tese estaria garantida no artigo 1º da Constituição Federal. Fez
isso ao oferecer, ao longo do tempo, uma série de garantias à Fifa nas quais se compromete
em acatar todas as demandas impostas pela entidade.
Dessa forma, em 2012, foi sancionada a Lei Geral da Copa, que flexibiliza a legislação
nacional e cria zonas de exceção nas cidades-sede.
A lei dá à Fifa a prerrogativa de estabelecer em torno dos eventos esportivos e da Fan
Fest uma área com um raio de até 2 quilômetros onde somente patrocinadores oficiais
poderão comercializar produtos. Estabelecimentos comerciais regulares não seriam
impedidos de abrir as portas, mas trabalhadores ambulantes – que em São Paulo totalizam
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cerca de 138 mil pessoas – fatalmente serão reprimidos e impedidos de trabalhar.
A Fifa conseguiu ainda fazer com que o Estado brasileiro criasse novas tipificações
penais. A Lei Geral da Copa prevê pena de três meses a um ano para os que usarem de
forma indevida (isto é, com fins comerciais) símbolos relacionados ao evento, nacionais e
culturais. Isto significa que palavras como “Mundial”, “Copa”, “Brasil”, “Canarinho”, entre
tantos outros, ficam nas mãos da Fifa e de suas empresas parceiras para exploração
comercial exclusiva.
Esses novos crimes ainda serão julgados por tribunais de exceção a serem instalados
no entorno dos estádios. Nestes locais, o julgamento será conduzido de forma rápida e com
penas mais duras, prejudicando o direito à ampla defesa – um dos direitos penais mais
básicos de qualquer democracia.
Por fim, é preciso ainda lembrar que a Lei Geral da Copa concede à Fifa e a suas
empresas parceiras isenção total de todos os impostos brasileiros, seja na esfera municipal,
estadual ou federal. Estimativas do próprio governo brasileiro apontam uma economia à
entidade de 1 bilhão de reais em razão da desoneração fiscal].
Não à toa, a Copa do Mundo no Brasil deve ser a mais lucrativa da história da Fifa.
Segundo a própria entidade, que em tese não tem fins lucrativos, o megaevento deve render
10 bilhões de reais aos seus cofres.
A Copa da Elitização
Para poder receber a Copa do Mundo, governos e clubes foram obrigados a construir e
reformar estádios obedecendo a um “padrão Fifa de qualidade”. Isto significou que estádios
deixam de ser “estádios” e passam a ser chamados de “arenas”, onde tudo é de última
geração: do telão que mostra os lances do jogo ao estofado das cadeiras.
A princípio tratam-se de novidades positivas, mas que só resistem ao nível da
aparência. Na prática, há um trágico efeito colateral em curso: os custos das novas arenas
são embutidos no preço dos ingressos, que ficam mais caros, gerando uma pérfida
elitização do futebol.
A consultoria BDO divulgou um estudo que abrangeu as nove primeiras rodadas do
Brasileirão de 2013. Em um primeiro momento, foi analisado o preço dos ingressos para
partidas realizadas nas novas arenas reformadas para a Copa das Confederações. Em
seguida, verificou-se o preço dos ingressos para partidas realizadas nos estádios antigos. O
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resultado apontou que os ingressos nas novas arenas foram em média 119% mais caros
que os nos estádios antigos.
Com as arenas, espaços tradicionais da torcida brasileira, como as gerais e as
arquibancadas, são extintos ou reduzidos. Em seu lugar se instalam lojas e
estabelecimentos comerciais. Surge assim o “torcedor-consumidor”, caracterizado pelo
pouco envolvimento na política e dia-a-dia de seu time, e que vai ao estádio assistir a uma
partida assim como vai ao cinema de um shopping center.
Nesse processo que veste o manto do capital imobiliário e especulativo, parcelas mais
pobres da sociedade são excluídas e impossibilitadas de acompanhar in loco jogos do
esporte mais popular do país.
A Copa da Repressão
Mais preocupante que a campanha orquestrada para desqualificar os que criticam a
Copa é o movimento orquestrado pelo Estado brasileiro para expandir o aparato repressivo
visando sufocar protestos durante o megaevento – e muito provavelmente, depois. Este
movimento tem atuado em duas frentes: uma legislativa e outra ostensiva (policial e militar).
O projeto de lei 728/2011, de autoria do senador Marcelo Crivella (PRB), pretende
tipificar o crime de terrorismo no Brasil. Atualmente em trâmite no Senado, caso seja
aprovado, este projeto criará um subterfúgio jurídico para que tribunais possam enquadrar
movimentos sociais e manifestantes que supostamente promovam a ação direta como
recurso durante manifestações.
Já na frente ostensiva, o cenário é ainda mais chocante. O governo federal já gastou
quase 50 milhões de reais em armamento menos letal, que inclui granadas de todos os
tipos, armas de choque elétrico e balas de borracha. Uma tropa de choque especial com 10
mil homens também foi criada para atuar nacionalmente nas cidades-sede da Copa.
Em São Paulo, a Polícia Militar avisou que vai adquirir caminhões que lançam jato
d’água para conter manifestantes. Trata-se dos mesmos caminhões que foram largamente
usados para reprimir manifestações populares na Turquia e no Chile.
Um batalhão especial, formado por 413 policiais militares, também foi criado pelo
governo paulista com a função de fazer o “controle de distúrbios civis e antiterrorismo”.
Mas assombroso mesmo é o manual publicado pelo Ministério da Defesa em dezembro
último, intitulado “Garantia da Lei e da Ordem”, que atualiza orientações para a atuação das
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Forças Armadas no país.
No texto, “movimentos ou organizações” são classificados como “forças oponentes”,
assim como qualquer pessoa ou organização que esteja obstruindo vias de acesso,
“provocando ou instigando ações radicais e violentas”.
Na lista de principais ameaças estão “bloqueios de vias públicas de circulação”,
“depredação do patrimônio público e privado”, “paralisação de atividades produtivas” e
“invasão de propriedades e instalações rurais ou urbanas, públicas ou privadas”.
As Forças Armadas devem estar nas ruas durante a realização Copa do Mundo, assim
como estiveram durante a Copa das Confederações.
Que “Copa das Copas” é essa que precisa do exército nas ruas para acontecer?
A Copa dos Protestos
Diante de tantas arbitrariedades, violações de direitos humanos, processos de exclusão
social, apropriação do patrimônio público, entre outras várias mazelas, protestar contra a
realização da Copa da Fifa no Brasil não só é legítimo – é também um dever. Portanto, não
se deixe intimidar por discursos embevecidos por um patriotismo cego e anacrônico ou ainda
por artigos escritos por gente cujo verdadeiro compromisso é com determinada agremiação
política ou com o próprio bolso.
Enquanto políticos e articulistas desqualificam, a atuação do aparato militar contra
manifestações recrudesce, fato que ficou claro no protesto do último dia 25 de janeiro,
quando o manifestante Fabrício Proteus foi baleado quase que mortalmente por policiais
militares. O episódio – bastante rotineiro nas periferias do Brasil, diga-se – se configura
como um eloquente alerta para futuras manifestações.
Mas nem a violência policial nem o discurso da desqualificação devem nos impedir de
desfrutarmos do direito constitucional de protestar, sobretudo contra uma Copa imersa em
podridão como a que se avizinha.
Então, que em 2014 façamos das ruas e avenidas das cidades a verdadeira
arquibancada do país!
*O Comitê Popular da Copa de São Paulo, criado em 2011, é um grupo de articulação contra os impactos e as
violações de direitos humanos da Copa do Mundo de 2014 em SP. Este texto foi publicado originalmente no
site do Comitê, onde mais informações podem ser encontradas: comitepopularsp.wordpress.com/
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Questões polêmicas
Uma questão polêmica gera confronto entre diferentes pontos de vista sobre um
mesmo tema. Capaz de motivar a escrita de um artigo de opinião, ela envolve,
necessariamente, um assunto de interesse público, ou seja, uma demanda em que ao
menos uma determinada comunidade esteja envolvida, e diferentes soluções ou respostas,
cada uma das quais reunindo posições favoráveis e contrárias. Assim, trata-se de
estabelecer – e sempre por meio do debate – qual delas deverá ser assumida pela
comunidade afetada.
Exemplos de questões polêmicas:
A pena de morte ajuda a diminuir a criminalidade?
A sociedade tem o direito de tirar a vida de um criminoso?
Há formas certas e erradas de falar o português?
Produção textual – Atividade 1
Após ler os textos acima atentamente e acompanhar a copa do mundo, você deverá
elaborar um artigo de opinião sobre o seguinte tema:
Você acredita que a realização da copa no Brasil trouxe mais benefícios ou malefícios?
Escreva seu texto deixando claro, desde o início, sua posição sobre o tema. Em
seguida, apresente e desenvolva os argumentos, que selecionou, um de cada vez. Procure
organizá-los numa sequência e empregar recursos linguísticos que demonstrem essa
ordem, como primeiramente, em primeiro lugar, outro aspecto, etc.
Abaixo temos uma sequência de perguntas que servem para auxiliá-los na elaboração
do artigo:
Que aspecto da polêmica será discutido?
Qual opinião ou tese será defendida a esse respeito?
Que argumentos principais serão utilizados para isso?
De quais fatos ou dados deve-se partir?
O que será escrito na “Introdução”, de forma que possa indicar ao leitor qual é o
contexto da discussão?
Como serão desenvolvidos os argumentos de forma que fiquem bem claros?
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Como se pretende concluir?
Que título será mais adequado para já situar o leitor acerca da tese defendida e
despertar o interesse dele?
Quando concluir o texto, antes de passa-lo a limpo, avalie-o seguindo as orientações
abaixo.
Avalie seu texto de opinião
Observe se seu texto defende claramente sua opinião sobre o tema e se apresenta
argumentos fortes, capazes de explicar suas ideias e convencer os leitores. Verifique
também se a linguagem está clara, direta e precisa.
Entendendo o gênero – parte II
Estratégia argumentativa e questão polêmica
Podemos definir estratégia argumentativa como o conjunto de procedimentos e
recursos verbais utilizados pelo argumentador para convencer tanto seus adversários
quanto o auditório envolvido. Como em qualquer outra área de atividade humana, uma
boa estratégia é fundamental para garantir resultado favorável. No caso da argumentação,
isso envolve desde a escolha das palavras mais apropriadas à linguagem e ao “tom
certo” até os tipos de argumento construídos e a organização geral da argumentação.
Um passo fundamental para definir uma boa estratégia argumentativa é a definição de
“por onde” se vai entrar no debate, já que toda questão polêmica envolve aspectos muito
diversos. Discutir se há formas certas e erradas de falar o português, por exemplo, envolve
fatores diversos. O que dizem os pesquisadores (linguistas, gramáticos, filólogos etc.) a esse
respeito? O que pensam os diferentes “profissionais da linguagem” (escritores, jornalistas,
professores, editores etc.)? Que aspectos culturais e sociais estão associados a essa
questão? Cada um desses fatores permite ao argumentador uma entrada diferente no
debate, assim como um estilo particular de argumentação.
Ao decidir “por onde entrar”, o argumentador também define as estratégias. Na área do
direito, por exemplo, recorrer à autoridade de um jurista pode ser de grande valia; já em
ciências experimentais, o recurso ao conhecimento de um especialista será de pouca ou
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nenhuma importância se o argumentador não dispuser de dados e experimentos confiáveis
para demonstrar sua tese. Outro exemplo: carregar no apelo emocional (ou moral) pode ser
uma estratégia decisiva num debate eleitoral, mas dificilmente será apropriado numa
discussão sobre saúde pública. E assim por diante.
Leitura do artigo
Olhe o texto transcrito abaixo e antes da leitura atenta, pense nas respostas às seguintes
perguntas:
Qual o assunto mais provável do artigo?
O que você já conhece sobre o assunto, no Brasil e no mundo?
Lembra-se de ter lido algo a esse respeito, recentemente?
Qual a relevância desse assunto?
Leia o olho – pequeno trecho destacado da matéria, disposto logo abaixo do título – e
responda: que tipo de posição a respeito do assunto tratado o autor provavelmente
defenderá?
Quem é o autor? Como vem apresentado, no rodapé?
Por que a redação do jornal o apresenta dessa forma?
Qual a função do aviso inserido logo após o texto, os “artigos assinados não traduzem
a opinião do jornal”?
O que você sabe a respeito do veículo jornalístico que publicou o artigo? Isso
favorece ou atrapalha suas impressões sobre o texto?
Corrupção cultural ou organizada?
Precisamos evitar que a necessária indignação com as microcorrupções “culturais” nos leve
a ignorar a grande corrupção.
Renato Janine Ribeiro*, Folha de S. Paulo, 28/6/2009
Ficamos muito atentos, nos últimos anos, a um tipo de corrupção que é muito frequente
em nossa sociedade: o pequeno ato, que muitos praticam, de pedir um favor, corromper um
guarda ou, mesmo, violar a lei e o bem comum para obter uma vantagem pessoal. Foi e é
importante prestar atenção a essa responsabilidade que temos, quase todos, pela corrupção
política – por sinal, praticada por gente eleita por nós.
Esclareço que, por corrupção, não entendo sua definição legal, mas ética. Corrupção é
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o que existe de mais antirrepublicano, isto é, mais contrário ao bem comum e à coisa
pública. Por isso, pertence à mesma família que trafegar pelo acostamento, furar a fila,
passar na frente dos outros. Às vezes é proibida por lei, outras, não.
Mas, aqui, o que conta é seu lado ético, não legal. Deputados brasileiros e britânicos
fizeram despesas legais, mas não éticas. É desse universo que trato. O problema é que a
corrupção “cultural”, pequena, disseminada – que mencionei acima – não é a única que
existe. Aliás, sua existência nos poderes públicos tem sido devassada por inúmeras
iniciativas da sociedade, do Ministério Público, da Controladoria Geral da União (órgão do
Executivo) e do Tribunal de Contas da União (que serve ao Legislativo).
Chamei-a de “corrupção cultural” pois expressa uma cultura forte em nosso país, que é
a busca do privilégio pessoal somada a uma relação com o outro permeada pelo favor. É,
sim, antirrepublicana. Dissolve ou impede a criação de laços importantes. Mas não faz
sistema, não faz estrutura.
Porque há outra corrupção que, essa, sim, organiza-se sob a forma de complô para
pilhar os cofres públicos – e mal deixa rastros. A corrupção “cultural” é visível para qualquer
um. Suas pegadas são evidentes. Bastou colocar as contas do governo na Internet para
saltarem aos olhos vários gastos indevidos, os quais a mídia apontou no ano passado.
Mas nem a tapioca de R$ 8 de um ministro nem o apartamento de um reitor – gastos
não republicanos – montam um complô. Não fazem parte de um sistema que vise a desviar
vultosas somas dos cofres públicos. Quem desvia essas grandes somas não aparece, a não
ser depois de investigações demoradas, que requerem talentos bem aprimorados – da
polícia, de auditores de crimes financeiros ou mesmo de jornalistas muito especializados.
O problema é que, ao darmos tanta atenção ao que é fácil de enxergar (a corrupção
“cultural”), acabamos esquecendo a enorme dimensão da corrupção estrutural, estruturada
ou, como eu a chamaria, organizada.
Ora, podemos ter certeza de uma coisa: um grande corrupto não usa cartão corporativo
nem gasta dinheiro da Câmara com a faxineira. Para que vai se expor com migalhas? Ele
ataca somas enormes. E só pode ser pego com dificuldade.
Se lembrarmos que Al Capone acabou na cadeia por ter fraudado o Imposto de Renda,
crime bem menor do que as chacinas que promoveu, é de imaginar que um megacorrupto
tome cuidado com suas contas, com os detalhes que possam levá-lo à cadeia – e trate de
esconder bem os caminhos que levam a seus negócios.
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Penso que devemos combater os dois tipos de corrupção. A corrupção enquanto
cultura nos desmoraliza como povo. Ela nos torna “blasé”. Faz-nos perder o empenho em
cultivar valores éticos. Porque a república é o regime por excelência da ética na política:
aquele que educa as pessoas para que prefiram o bem geral à vantagem individual. Daí a
importância dos exemplos, altamente pedagógicos.
Valorizar o laço social exige o fim da corrupção cultural, e isso só se consegue pela
educação. Temos de fazer que as novas gerações sintam pela corrupção a mesma ojeriza
que uma formação ética nos faz sentir pelo crime em geral.
Mas falar só na corrupção cultural acaba nos indignando com o pequeno criminoso e
poupando o macrocorrupto. Mesmo uma sociedade como a norte-americana, em que
corromper o fiscal da prefeitura é bem mais raro, teve há pouco um governo cujo vice-
presidente favoreceu, antieticamente, uma empresa de suas relações na ocupação do
Iraque.
A corrupção secreta e organizada não é privilégio de país pobre, “atrasado”. Porém, se
pensarmos que corrupção mata – porque desvia dinheiro de hospitais, de escolas, da
segurança –, então a mais homicida é a corrupção estruturada. Precisamos evitar que a
necessária indignação com as microcorrupções “culturais” nos leve a ignorar a grande
corrupção. É mais difícil de descobrir. Mas é ela que mata mais gente.
* Renato Janine Ribeiro, 59, é professor titular de ética e filosofia política do Departamento de Filosofia da USP. É autor, entre outras
obras de República (Publifolha, Coleção Folha Explica). (Crédito completo do articulista)
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos
problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo, [[email protected]]. (Mensagem-
padrão do jornal, em caso de textos assinados)
Exercícios
1. Qual é a questão polêmica a que o artigo se refere?
2. Quais foram os fatos que motivaram o articulista a escrever o artigo?
3. Há alguma referência no texto a posições e/ou a debatedores anteriores?
4. É possível identificar, no texto, quem são os adversários do articulista? Por quê?
5. Que tese o artigo defende?
6. Com base no que você leu, é possível saber que tipo de leitor compõe o auditório visado?
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7. O articulista declara, no artigo, que entende a corrupção em termos éticos, e não legais. O
que isso significa? Que importância essa perspectiva tem para a tese defendida?
8. Quais são os argumentos principais? Como vêm desenvolvidos?
Produção textual – Atividade 2
Leia a notícia abaixo:
A Copa dos memes
Pouca coisa tem saído de acordo com o previsto nesta Copa do Mundo. A Costa Rica fez uma
grande campanha, enquanto as campeãs mundiais Inglaterra e Itália foram eliminadas na
primeira fase. Os protestos não tumultuaram, e as críticas ao Mundial antes de seu início deram
lugar a elogios do público e da imprensa. E quem imaginaria ver Neymar fora da seleção
brasileira por uma lesão?
Rafael Barifouse, da BBC Brasil em São Paulo
Atualizado em 7 de julho, 2014 - 06:31 (Brasília) 09:31 GMT
Nesta série de surpresas, uma das poucas certezas é que, depois de um lance polêmico
ou um jogo emocionante, #VaiTerMeme.
Principalmente quando a sede da competição, o Brasil, é o quinto maior mercado de
internet do mundo, com metade dos 200 milhões de habitantes conectados à internet e um dos
cinco maiores países para as principais redes sociais.
Antes de cada apito final, uma série de piadas já circula na rede e é amplamente
compartilhada em sites como Twitter e Facebook e por meio de programas de trocas de
mensagens, como Whatsapp.
Os memes normalmente se resumem a uma imagem acompanhada de um texto curto e
bem-humorado sobre um acontecimento.
Num torneio visto pela televisão por bilhões de pessoas conectadas pelo smartphone ou
pelo computador, não demora muito para que um lance incomum vire piada pronta na internet.
“As redes têm no humor grande parte do seu sucesso e, nisso, os memes são um prato
cheio, ainda mais numa Copa com tantos acontecimentos inusitados”, diz Fabio Goveia, do
Laboratório de estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito
Santo, que vem acompanhando as imagens mais compartilhadas na internet deste Mundial.
A pedido da BBC Brasil, o Labic fez um levantamento dos memes que marcaram a Copa
do Mundo até agora. Como não poderia deixar de ser, a maiores estrelas da competição – os
jogadores – também são os protagonistas da maioria das piadas extra campo.
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Um dos primeiros a sentir na pele o novo fenômeno foi o brasileiro Marcelo, que marcou
um gol contra no jogo com a Croácia e ganhou uma “reedição” de sua figurinha do álbum da
Copa como parte do time adversário e rebatizado como “Marcelolíc”. Quem tentou cavar falta,
como o holandês Robben e o brasileiro Neymar, também não foi perdoado.
Robin Van Persie criou moda na internet ao mergulhar na área da Espanha para marcar
um belo gol de cabeça para a Holanda. Logo, milhares de pessoas compartilhavam fotos de si
mesmas imitando o lance, acompanhadas da hashtag #VanPersieing.
Numa Copa marcada pelo ataque veloz e uma média de gols acima de edições anteriores,
goleiros como o mexicano Oshoa, o brasileiro Júlio César e o costariquenho Navas se
destacaram com belas defesas e foram homenageados com imagens em que aparecem com
tantos braços quanto as pernas de um polvo.
Mas nenhum jogador fez mais barulho do que o uruguaio Luiz Suárez, que deixou a Copa
após morder o zagueiro italiano Giorgio Chiellini. Na internet, o atacante virou o tubarão de
Steven Spielberg, o canibal de Silêncio dos Inocentes e ganhou uma proteção de pescoço como
as usadas em cachorros.
Memes não são uma novidade na internet, mas parecem ser especialmente populares
nesta Copa do Mundo. Seu nome pega emprestado o termo criado pelo biólogo inglês Richard
Dawkins em seu livro O Gene Egoísta, de 1976, um ensaio sobre como uma informação cultural
se espalha pela sociedade.
Recordes nas redes
Os primeiros memes surgiram no fim da década de 1990, compartilhados principalmente
por email e em fóruns de discussão. Então, vieram as redes sociais e elas se provaram o meio
ideal para se publicar e trocar estas piadas e comentários. Os memes explodiram em
popularidade.
Não é coincidência que este Mundial também seja o evento global mais comentado em
redes sociais da história. Nunca o Facebook havia registrado 1 bilhão de comentários, curtidas e
compartilhamentos sobre um mesmo assunto. No Twitter, a Copa bateu o recorde de
mensagens por minuto: chegou a 388,9 mil com a bola na trave do Chile que quase tirou o Brasil
da competição.
“Está todo mundo falando da mesma coisa ao mesmo tempo, e isso faz com que a piada
que ficava restrita ao sofá de casa ou à mesa do bar ganhe o mundo”, diz Carlos Moreira Jr, do
Twitter no Brasil.
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Também nunca foi tão fácil criar um meme. Hoje existem sites dedicados só a eles, como o
Know Your Meme (Conheça seu meme, em inglês) e o 9Gag.com, que criaram seções inteiras
para esta Copa. Noutros endereços, basta escolher uma imagem ou usar uma nova e aplicar
nela um texto para criar um novo meme em segundos.
Broncas e hinos
Tudo isso fez com que, neste Mundial, memes se espalhassem na internet como uma ola
percorre uma arquibancada. Foi assim desde a cerimônia de abertura, quando a cantora Cláudia
Leitte, vestida de azul e brilhantes, virou a Galinha Pintadinha. Muita gente insatisfeita com o
espetáculo compartilhou uma montagem que mostra como a festa “padrão Fifa” não chegou aos
pés do Carnaval ou do Bumba Meu Boi, as festas “padrão Brasil”.
A presidente Dilma Rouseff também protagonizou uma boa leva de memes. Num deles,
publicado após o sufoco nacional passado durante os pênaltis contra o Chile, a presidente
aparece ao lado do técnico Luiz Felipe Scolari com o dedo em riste, dizendo: “Que isso não se
repita!”.
A torcida também foi um prato cheio para a internet. Mesmo captada só por alguns
segundos, uma torcedora mexicana boquiaberta viu sua imagem rodar o mundo. Em outro
meme, torcedores fantasiados de Power Rangers eram a prova de que a Copa está muito boa
“porque até eles vieram assistir”.
Nem um dos momentos mais solenes das partidas, o hino nacional, escapou de virar
piada. A letra do hino do Japão deu lugar à música de abertura do desenho animado japonês
Pokémon, e os jogadores da Coreia do Sul pareciam cantar o hit Gangnam Style, do cantor sul-
coreano Psy.
Sucesso fugaz
Mas Dilma, Claudia Leitte, Suárez, ou “Marcelolíc” não têm muito com o que se preocupar.
Na mesma velocidade com que aparecem, os memes desaparecem.
“Os memes têm uma grande repercussão, mas são uma piada que envelhece rápido”, diz
Alessandro Lima, presidente da empresa de monitoramento e análise de conteúdo digital E.Life.
“Quando um fica velho, as pessoas são estimuladas a fazer um novo. É legal criar um
meme popular, é como deixar uma marca no mundo.”
Os memes fazem sucesso, mas passam rápido.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/07/140706_wc2014_salasocial_copa_dos_memes_rb.shtml?print=1
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Leia o artigo abaixo:
O verdadeiro humor dá um soco no fígado de quem oprime
As piadas não são isentas e carregam consigo os discursos dos preconceitos. Como se a
humilhação diária e a recusa a cidadania já não fossem suficientes
por Djamila Ribeiro — publicado 11/07/2014 12:27
Assim como houve pensadores como Sartre, que criticava a arte pela arte, propondo uma
arte engajada, Henfil, grande cartunista brasileiro, foi adepto de um humor engajado
politicamente, não o humor pelo humor, como o próprio definiu: “Procuro dar meu recado através
do humor. Humor pelo humor é sofisticação, é frescura. E nessa eu não tou: meu negócio é pé
na cara”.
Visivelmente, o cartunista tinha uma posição de embate ao poder instituído. Infelizmente,
não é o que vemos na grande mídia, salvo raras exceções. O que se vê é um humor rasteiro,
legitimador de discursos e práticas opressoras e que tenta se esconder por trás do riso. Sendo a
sociedade racista, o humor será mais um espaço onde esses discursos serão reproduzidos. Não
há nada de neutro, ao contrário, há uma posição ideológica muito evidente de se continuar
perpetuando as opressões.
Alguns humoristas, quando criticados, dizem estar sendo censurados. Há que se explicar
para eles o que é censura. Primeiro, eles dizem e fazem coisas preconceituosas. Quem se
sentiu ofendido, reclama. Onde está a censura nisso? Incomodam-se pelo fato de, cada vez
mais, muitas pessoas denunciarem e gritarem ao ver suas identidades e subjetividades
aviltadas; é como se dissessem “nem se pode mais ser racista, machista em paz”.
Acreditam ter uma espécie de poder divino de falar o que querem sem serem
responsabilizados. Atualmente, pululam humoristas com esse viés. Comportam-se como
semideuses, como Danilo Gentili, que chamou de macaco um moço que discordou dele. Marcelo
Marrom, infelizmente, é um homem negro que faz piadas vergonhosas ridicularizando a si
mesmo e pessoas negras. Age como uma espécie de neocapitão do mato, tentando caçar nossa
dignidade, nossa autoestima, que há anos lutamos para ter. Capitão do mato do humor para
entreter a casa grande. Que a ancestralidade tenha misericórdia dele.
Durante muito tempo, tive receio de passar perto de grupos de adolescentes. Quando
criança, fui alvo de piadas e chacotas por ser negra. Ao passar por um grupo desses, era
inevitável ouvir alguma gracinha do tipo: “Olha, sua mina aí”, “E aí, não vai apresentar?”. E o
garoto “alvo da zoação” se defendia: “Sai fora, está louco?”, “Para de me zoar!”. Ter uma
namorada como eu era algo impensável.
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A pretensão criada neles, fruto de um sistema que os privilegia, os cegava para o fato de
que eu é quem poderia não querê-los. Mas, para eles, eu era só uma “neguinha”, alguém que
merecia ser ridicularizada e deixada de lado. Esse receio me acompanhou até o início da fase
adulta. Eu preferia atravessar a rua a ter que ouvir essas coisas que me machucavam. E o que
as pessoas me diziam? “Deixa pra lá, é só uma brincadeira”. E toda a sociedade concordava
com esses meninos: eu não me via na TV, nas revistas, nos livros didáticos, em minhas
professoras.
Um dia, quando levava minha filha à escola, um grupo de adolescentes começou a rir do
cabelo dela, que estava solto, lindo e com uma flor. Ela nem percebeu, mas eu me aproximei
deles e disse calmamente: “Estão rindo do que? O cabelo dela é lindo. Se eu voltar e vocês
estiverem aqui, vou pegar um por um”. Claro que não faria nada disso, disse aquilo para
assustá-los e consegui, mas ouvi críticas do tipo: “Ah, mas só eram adolescentes brincando”. E
eu me pergunto: quem se compadece da menina negra que terá sua auto estima aviltada? Da
menina negra que desde cedo é ridicularizada?
Por que se tem compreensão com quem está oprimindo e não com quem está sendo
oprimido? A menina negra é que precisa entender que isso é “brincadeira” ou quem faz a
brincadeira perceber que aquilo é racismo? Até quando utilizarão o humor como desculpa para
serem racistas? Quem olhará pela menina negra que odiará seu cabelo por que fazem piadas
sobre? Quem irá lucrar a gente já sabe.
Há também aquela conversa de que devemos rir de nós mesmas, de nossos defeitos. Rir
de mim porque sou distraída ou desastrada é uma coisa, por que raios deveria rir da minha pele
ou do meu cabelo como se isso fosse um defeito, em vez de partes lindas que me compõe? Por
acaso ser negra é defeito? No olhar do racista, é. Então, para ser aceita por ele, eu preciso rir
daquilo que o incomoda, associar meu cabelo a produtos de limpeza, por exemplo. Mal passa
pela cabeça dele associar seu cabelo liso a espaguete. Esse exemplo mostra como o racismo
tem um papel preponderante naquilo que as pessoas julgarão engraçado e naquilo que não
julgarão. Da mesma forma, julgam engraçado ridicularizar travestis, mulheres trans, como se a
humilhação diária e a recusa a cidadania já não fossem suficientes.
É preciso perceber que o humor não é isento, carrega consigo o discurso do racismo,
machismo, homofobia, lesbofobia, transfobia. Diante de tantos humoristas reprodutores de
opressão, legitimadores da ordem, fico com a definição do brilhante Henfil: “O verdadeiro humor
é aquele que dá um soco no fígado de quem oprime”. http://www.cartacapital.com.br/blogs/escritorio-feminista/o-verdadeiro-humor-da-um-soco-no-figado-de-quem-oprime-7998.html
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Artigo de opinião
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O primeiro texto é uma reportagem sobre o humor na copa do mundo de 2014 e o
sucesso dos memes. O segundo texto é um artigo de opinião sobre o papel do humor na
sociedade. Depois de ler atentamente os dois textos, você deverá elaborar um artigo de
opinião sobre o seguinte tema:
Qual o seu ponto de vista sobre o humor e o respeito às pessoas?
Escreva seu texto deixando claro, desde o início, sua posição sobre o tema. Em
seguida, apresente e desenvolva os argumentos, que selecionou, um de cada vez. Procure
organizá-los numa sequência e empregar recursos linguísticos que demonstrem essa
ordem, como primeiramente, em primeiro lugar, outro aspecto, etc.
Abaixo temos uma sequência de perguntas que servem para auxiliá-los na elaboração
do artigo:
Que aspecto da polêmica será discutido?
Qual opinião ou tese será defendida a esse respeito?
Que argumentos principais serão utilizados para isso?
De quais fatos ou dados deve-se partir?
O que será escrito na “Introdução”, de forma que possa indicar ao leitor qual é o
contexto da discussão?
Como serão desenvolvidos os argumentos de forma que fiquem bem claros?
Como se pretende concluir?
Que título será mais adequado para já situar o leitor acerca da tese defendida e
despertar o interesse dele?
Quando concluir o texto, antes de passa-lo a limpo, avalie-o seguindo as orientações
abaixo.
Avalie seu texto de opinião
Observe se seu texto defende claramente sua opinião sobre o tema e se apresenta
argumentos fortes, capazes de explicar suas ideias e convencer os leitores. Verifique
também se a linguagem está clara, direta e precisa.
Língua Portuguesa – Redação – 3º bimestre
Artigo de opinião
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Entendendo o gênero – parte III
Leia a notícia abaixo retirada da revista época
Projeto do Vale-Cultura chega ao Congresso até o final da semana
Benefício será voltado para trabalhadores, que receberão R$ 50 mensais para comprar
ingressos de espetáculos e de cinema, além de livros e DVDs
Época/Agência Brasil, 13/8/2009.
O projeto que prevê a criação do Vale-Cultura chega ao Congresso Nacional ainda
nesta semana, afirmou o ministro da Cultura, Juca Ferreira. O projeto foi assinado pelo
presidente Lula no fim de julho e, segundo Ferreira, demorou para ser enviado para votação
devido à ausência da assinatura do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que estava
viajando. A ideia do Vale-Cultura está sendo discutida desde o fim de 2006.
O benefício será voltado para trabalhadores com rendimento mensal de até cinco
salários mínimos. Por meio de um cartão magnético, similar ao Vale-Refeição, as empresas
poderão destinar ao funcionário o valor de R$ 50 mensais para comprar ingressos de
cinema, teatro e shows, além de livros, CDs e DVDs. Ferreira afirmou que a ideia é de que o
valor mensal seja “aprimorado” e possa chegar a R$ 150.
Com o Vale-Cultura, a previsão é de que R$ 17 bilhões sejam injetados na economia
cultural. “O circuito vai ficar bastante aquecido”, disse Ferreira. As empresas não serão
obrigadas a aderir – mas, segundo o ministro, “na cultura, nada deve ser obrigatório”.
Ferreira também disse que o projeto de lei é “atraente” e que, uma vez aprovado, poderá
haver pressão dos próprios funcionários para ter direito ao benefício.
De acordo com o ministério, apenas 13% da população brasileira têm acesso a
manifestações culturais. Em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, Juca afirmou que o
Vale-Cultura apresenta “efeitos colaterais positivos” e vai gerar um banco de dados sobre a
demanda cultural da população. Para o ministro o projeto também “estimula a legalidade” ao
possibilitar a compra de DVDs e CDs originais.
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Após a leitura da notícia acima, leia o artigo abaixo:
O que é essencial para todos?
Gustavo Barreto, produtor cultural no Rio de Janeiro e mestrando do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação e Cultura na UFRJ. Jornal do Brasil, 18/7/2009, e Fazendo Média, 26/7/2009.
“O homem é essencialmente um ser de cultura”, argumenta o professor Denys Cuche,
da Universidade Paris V. A cultura é um campo do conhecimento humano que nos permite
pensar a diferença, o outro e dar um fim às explicações naturalizantes dos comportamentos
humanos. As questões étnica, nacional e de gênero, por exemplo, não podem em hipótese
alguma ser observadas em seu “estado bruto”. É o caso da relação homem-mulher, cujas
implicações culturais são mais importantes do que as explicações biológicas.
E por que se faz importante fazer esta breve introdução, na questão da ideia do Vale-
Cultura, lançada pelo Governo Federal e atualmente em discussão com os atores sociais da
área? Porque urge que nossa legislação passe por uma transformação, dado que a principal
lei do setor está defasada (é de 1991) e é insuficiente para os desafios atualmente expostos.
O conceito de “cultura” é tão reivindicado quanto controverso. Ouvimos esta palavra
diariamente, para os mais diversos usos: cultura política, cultura religiosa, cultura
empresarial. Também serve para complexificar e ampliar um debate sobre um tema difícil
(“isso é cultural”), para finalizá-lo (“não tem jeito, isso é cultural”) ou gerar preconceito contra
um grupo social (“o povo não tem cultura”). São múltiplos os usos.
Está claro que incentivar as manifestações culturais de um povo é condição
indispensável para seu desenvolvimento. É certo que este instrumento deve atingir um de
seus principais objetivos: a desconcentração regional e a democratização do acesso a
produtos culturais. A simples injeção de R$ 600 milhões por mês no mercado cultural,
podendo atingir até 12 milhões de brasileiros, já é um grande benefício.
O curioso na iniciativa do Governo, que já tramitava no Congresso desde 2006, é a
questão tardiamente (e fatalmente) gerada para reflexão: o que é essencial para todos? Se o
trabalhador possui o Vale-Transporte e o Vale-Alimentação, por que não o Vale-Cultura?
Este debate – e o debate é justamente este – gera reações ainda mais curiosas.
A mais risível é a que ataca a proposta como “dirigista”, afirmando que o tempo do
dirigismo cultural já acabou em todo o mundo. Uma simplificação melancólica e uma
inverdade: governos de países que alcançaram bons índices de desenvolvimento humano
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investem muito mais na cultura do que o Brasil. Os ataques têm nome: são os mesmos que
falam em “alta cultura” e compõem as velhas oligarquias deste setor, pois concentraram por
muito tempo a exclusividade dos “negócios” da cultura. Alguns chegam a duvidar da
“qualidade estética” dos produtos culturais a serem consumidos.
Estão claros os inimigos deste discurso conservador: o trabalhador, que passa a ser
progressivamente um crítico de cultura, e as manifestações da cultura popular – ora
atacada, por exemplo, por meio da restrição à cultura do funk carioca.
A aprovação do Vale-Cultura será um passo importante, dentro de uma longa
caminhada, para a inserção de milhões de brasileiros no universo privilegiado da cultura
local, regional e nacional.
Exercícios
Identifique no texto acima:
a) a questão polêmica
b) a tese que o articulista defende a respeito dessa questão
c) qual é a conclusão
d) quais são os argumentos utilizados por ele.
Entendendo o gênero – parte IV
Como articular
Os articuladores são palavras ou expressões cuja função específica é exatamente
estabelecer e deixar evidentes as relações entre diferentes partes do texto, não permitindo
que o leitor perca o fio da meada. Esses elementos servem para conectar ideias no interior
de uma única oração, ou podem também estabelecer relações entre períodos, parágrafos e
partes do texto, às vezes distantes entre si.
Veja a tabela abaixo com alguns exemplos de articuladores:
Devemos ajudar nossos pais, pois, sem dúvida,
a cooperação é um valor
fundamental para a convivência
familiar.
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As propagandas mostram produtos
atraentes indispensáveis para a
nossa vida,
mas
cabe ao consumidor analisar aquilo
de que realmente necessita e
selecionar o que é bom.
O fumo faz mal à saúde. Portanto, as pessoas deveriam parar de
fumar.
A água doce, por causa dos abusos
cometidos, poderá acabar em nosso
planeta.
Assim, é preciso definir algumas regras
para o uso racional da água.
A limpeza de terrenos e casas é
necessária para impedir a
propagação do mosquito da dengue.
Além disso,
É importante que se faça
campanhas de conscientização para
que as pessoas não deixem que a
água se acumule em vasos e outros
recipientes.
Se o desmatamento não diminuir É provável Que a Amazônia se transforme em
um imenso deserto.
É indispensável que se
intensifiquem campanhas de coleta
seletiva de lixo nas escolas, famílias
e comunidades
pois dessa forma a responsabilidade cidadã crescerá
entre os moradores.
A pena de morte não é a solução
para a criminalidade. Primeiramente,
está comprovado que os crimes
hediondos não deixam de ocorrer
nos países que a adotaram.
A pena de morte não é a solução
para a criminalidade. Em segundo lugar,
porque muitos dos que foram
executados tiveram, posteriormente,
sua inocência comprovada.
A pena de morte não é a solução
para a criminalidade. Finalmente,
não matar os semelhantes é um
princípio ético fundamental.
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Exemplos de articuladores:
Uso Expressões
Tomar posição do meu ponto de vista; na minha opinião; pensamos que;
pessoalmente eu acho
Indicar certeza sem dúvida; está claro que; com certeza; é indiscutível
Indicar probabilidade provavelmente; me parece que; ao que tudo indica; é
possível que
Indicar causa e/ou consequência porque; pois; então; logo; portanto; consequentemente
Acrescentar argumentos além disso; também; ademais
Indicar restrição mas; porém; todavia; contudo; entretanto; apesar de; não
obstante
Organizar argumentos inicialmente; primeiramente; em segundo lugar; por um lado;
por outro lado
Preparar conclusão assim; finalmente; por fim; concluindo; enfim; em resumo