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2014/2015
12 Janeiro 2015
Docente: Hélder Bernardes.
Discentes: Ana Rita Dias;
Bibiana Baptista;
Renata Batista;
Sónia Cruz
Unidade Curricular: Seminário I – Atores e Contextos de Educação e Formação
Curso: Educação e Formação
1
I. RESUMO ................................................................................................................... 2
II. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 4
III. METODOLOGIA E ENQUADRAMENTO TEÓRICO ................................................ 6
IV. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS ......................................................... 13
V. CONCLUSÃO ......................................................................................................... 20
VI. ANEXOS ............................................................................................................... 23
VII. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 50
2
O presente trabalho desenvolve-se na Unidade Curricular de Seminário I –
Atores e Contextos da Educação e Formação, no 1º ano da licenciatura de Educação
e Formação no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. O trabalho tem como
principal objetivo compreender um pouco mais do percurso profissional dos
profissionais em Educação e Formação (antigas Ciências da Educação), de forma a
auxiliar os alunos em relação ao seu próprio caminho a percorrer como profissionais
da Educação. Tudo isto foi feito tendo por base uma entrevista que os mesmo alunos
realizaram a um profissional em Ciências de Educação, licenciado ou licenciado e
mestre (pós Bolonha), pondo em prática a técnica de recolha de dados da
investigação educacional aprendida ao longo do semestre: a entrevista semidirectiva.
A entrevista semindirectiva é uma forma de entrevista que permite uma conversa de
teor menos rígido entre o entrevistador e o entrevistado, onde as perguntas presentes
no guião (neste caso previamente concedido aos alunos) são maleáveis consoante o
contexto da conversa, sendo todas elas de carácter aberto. A entrevistada deste
trabalho é a Sr. Irene Santos, a quem deixamos desde já o nosso agradecimento mais
profundo por ter aceite o nosso convite para participar no projeto. Ao longo do trabalho
iremos então dar a conhecer o seu trajeto desde pré-escolar até à atualidade,
passando pelas várias decisões com as quais esta se deparou: escolha da área no 9º
ano de escolaridade, integração no presente curso, inserção no mercado de trabalho,
etc. Prosseguiremos também à análise do mesmo, explicando como se preparou todo
o aparato da entrevista, desde a sua preparação ao resultado final, passando pela
condução. Este trabalho contribui para que os membros do grupo percebam que
saídas profissionais o curso permite, bem como o facto de ser normal um percurso
apresentar sempre os seus percalços. O importante é não nos deixarmos vencer e
sermos maravilhados com a experiência de contribuir para a educação de alguém!
Abstract: This work is developed in the Course Seminar I - Actors and Contexts of
Education in the first year of the Degree of Education at the Institute of Education,
University of Lisbon. The main aim of the work is to understand a little bit more of the
education professionals’ career, in order to help the students on their own way to be an
education professional. All of this was made based on an interview realized by the
same students to an education professional, putting into practice the technique of
information’s collecting of education research learned during the semester: the semi
directive interview. The semi directive interview is one kind of the interview that allows
3
a conversation less rigid between the interviewer and the interviewee, where the
questions in the guide (In this case already done to the students) are malleable
depending on the context of the conversation, which all of them are characterized by
their open character. The interviewee of this work is Mrs. Irene Depolito, who we want,
by the way, leave our profound gratitude for accepting our invitations to join this project.
During the work we will present her career since school until today, passing through
her many decisions with which she faced: the choice of the area in 9th degree, the
integration in this course and her first job on the market. Next we will also do the
analysis of her career, explaining how the interview was made, since its preparation
until the final result. This work has contributed for all the members of the group to
understand the professional outputs that this course allow, as well as the fact that is
normal the career not always be like we pretend it to, and there is possible to have
mishaps. The most important is to not let us win and be wonderful by the experience of
contributing for someone’s education!
4
O presente trabalho foi-nos proposto no âmbito da Unidade Curricular de
Seminário: Atores e Contextos da Educação e da Formação, do 1º ano da licenciatura
em Educação e Formação, no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Ao
longo do trabalho o grupo propõem abordar as várias vertentes da entrevista
semidirectiva, baseando-se na análise e síntese da entrevista por nós realizada a um
especialista em Educação e Formação (antigas Ciências da Educação).
O mesmo encontra-se estruturado nos seguintes pontos: a presente
Introdução, que consiste numa apresentação geral do conteúdo do trabalho, bem
como os seus objetivos e finalidades, juntamente com as nossas motivações e
justificação da escolha do título por parte do grupo. Uma segunda parte que contém o
enquadramento metodológico, tendo como principal finalidade descrever o processo
da entrevista, ou seja a sua preparação; o processo de recolha de dados, equivalente
à condução da entrevista e uma breve fundamentação teórica. Na terceira parte do
trabalho encontra-se a apresentação e interpretação de dados, que aborda a
caracterização dos especialistas de Educação e Formação, segundo a análise dos
estudos da Dra Natália Alves, bem como a análise e síntese da entrevista realizada
pelo grupo. Por último, será apresentada a conclusão, que consiste na análise de todo
o trabalho apontando as principais aprendizagens e competências adquiridas,
levantando problemas e questões e fazendo uma reflexão crítica.
Este trabalho tem como finalidade a entrevista a um especialista em Educação,
de forma a entender que opções temos futuramente, ou seja, após finalizarmos o
curso e entrar no mundo do trabalho, que experiências teve durante o seu percurso
académico relacionadas com Educação e que dificuldades sentiu durante todo o seu
percurso, quer académico quer profissional. Estas informações iram permitir-nos
contornar as possíveis dificuldades que viremos a enfrentar durante todo o nosso
percurso, assim como delimitar estratégias com o intuito de conseguirmos ter sucesso
no mesmo.
Os objetivos que o grupo pretende obter através deste trabalho é criar um
momento em que consigamos ter acesso a práticas de um especialista que tenha feito
o seu curso académico em Ciências da Educação/Educação e Formação e que já
esteja integrado no mundo profissional, ou seja, pretende-se saber qual foi o seu
percurso académico até entrar no mundo do trabalho, bem como a consequente
inserção no mesmo, de forma a proporcionar-nos uma visão do que podemos esperar
após terminarmos o curso. Outro dos objetivos do trabalho é percebermos o leque
5
aberto e amplo de saídas profissionais que o nosso curso permite, ou seja, que
profissões podemos exercer futuramente e em que possíveis projetos nos podemos
envolver ou integrar, estando estes relacionados com o curso académico que
frequentamos. Por último pretendemos desenvolver as nossas capacidades básicas
sobre as técnicas, a recolha e análise de dados qualitativos, proporcionados uma
maior experiência para trabalhos ou entrevistas futuras.
Foram várias as motivações que nos levaram a aceitar este projeto com
agrado, uma delas foi o facto de nos proporcionar um maior saber sobre o mundo da
Educação, sobre que profissões ou projetos podemos praticar futuramente e
principalmente para pôr em prática todas as técnicas da entrevista semidiretiva e
teorias lecionadas ao longo do semestre, o que nos permite ganhar experiência para
futuras entrevistas que possamos vir a concretizar, e através de um olhar crítico,
perceber o que correu mal e poder melhorar. Assim sendo, podemos afirmar que
estamos empenhados na realização do presente trabalho, pois apesar de trabalhoso,
sabemos que contribui imenso para o nosso futuro e aprendizagens.
Por último, antes de darmos início ao conteúdo do trabalho, iremos ainda
deixar um esclarecimento sobre a escolha do título. O grupo optou por este título, pois
através do trabalho podemos ter uma perspetiva do futuro, ou seja, através de toda a
experiência do entrevistado, quer a nível profissional, quer a nível académico,
podemos ter uma ideia do que futuramente nos espera, em termos de projetos,
iniciativas, profissões, etc. O título justifica assim o presente trabalho, no termo em que
o grupo procurou ter um olhar crítico e reflexivo acerca do futuro que nos foi
apresentado, através dos olhos e palavras da entrevistada.
6
Quando falamos em investigação temos várias ideias que nos vêm à memória,
desde o tradicional método de laboratório aos inquéritos e entrevistas. O método
utilizado para desenvolver o nosso projeto de grupo foi a entrevista. Como fomos
descobrindo ao longo do tempo, existem vários tipos de entrevista que diferem na sua
forma, processo e estrutura – entrevista estruturada/diretiva,
smiestruturada/smidiretiva (técnica utilizada que passaremos a explicitar mais à
frente), a entrevista não estruturada/não-diretiva e a entrevista informal. (Amado &
Ferreira 2013, p. 208)
Quando falamos em entrevista semidiretiva, estamos a referir-nos a uma
técnica de investigação mais utilizada no que diz respeito à análise qualitativa de
dados. “deve ser usada para testar ou sugerir hipótese, podendo ainda, servir para
explorar ou identificar variáveis e relações” (Amado Ferreira 2013 p. 212), no presente
caso servirá como meio de exploração de dados.
Este processo, necessita de um trabalho prévio denominado por preparação da
entrevista – os objetivos, o local, número de sessões a realizar, forma como se vai
guardar a entrevista (gravação), número de intervenientes e a realização de um guião
para de modo a que todos os objetivos sejam atingidos, este mesmo guião não
necessita, ao contrário do que se sucede com a entrevista estruturada, de ser seguido
de forma rigorosa, havendo flexibilidade de alteração de ordem das questões do
mesmo ou recurso a outras perguntas que não estejam contempladas neste,
consoante o decorrer a entrevista. As ideias e objetivos devem estar bem delimitados
para o sucesso da entrevista, pois quanto mais claro estiverem mais facilmente o
entrevistador leva o entrevistado a responder às questões centrais do tema a explorar.
O ambiente de entrevista não deve ser de tensão ou de formalidade, deve sim,
fluir naturalmente como um diálogo sem, no entanto, cair em “conversa de café” ou se
desviar dos objetivos, com fim a que o entrevistado não se sinta intimidado ou pouco à
vontade para expor as suas ideias e perspetivas.
Para facilitar o sucesso dos objetivos o guião deve ser divididos em blocos
temáticos segundo os pontos importantes a serem estudados, e com as devidas
perguntas a fim de os aprofundar. Sendo comum a todas as entrevistas o primeiro e
último bloco, em que se trata de por o entrevistado à vontade (“quebra-gelo”), garantir
o anonimato, reforçar o facto de ser gravada, explicar os objetivos da entrevista e
demonstrar-se cooperante com o entrevistado – isto no primeiro bloco – no que toca
7
ao último, o entrevistado deve agradecer, mais uma vez, a colaboração do
entrevistado, assim como a sua especial relevância no estudo/investigação.
Para a criação do guião e conforme os objetivos da entrevista deve haver
vários tipos de questões, não devendo estas influenciar as respostas do entrevistado,
perguntas abertas – que não determinam a resposta do entrevistado, deixando-o
exprimir-se de livre vontade e sem impor uma posição prévia; singulares, ou seja que
apenas contenham um tema, para que não haja possibilidade de criar confusão na
interpretação; claras, isto é, que sejam ditas de forma legível de modo a não criarem
confusão na interpretação; e neutrais – que não tenham uma posição imposta. Além
destas perguntas temos as de recurso como “Porquê?”, “Como?”, “Onde?”, etc., que
servem para levar o entrevistado a clarificar aspetos que o entrevistado não tenha
percebido ou considere que necessita de mais profundidade para concretizar as metas
preestabelecidas.
No decorrer da entrevista, o entrevistador não deve tirar a palavra ao
entrevistado, a não ser que este esteja a fugir à questão colocada; os dois indivíduos
devem estar em sintonia (no entanto não se podem “tornar um só”, para evitar
influenciar as respostas do entrevistado); as notas devem ser retiradas de modo
discreto; não se deve cair em interrogatório; deve recorrer-se a sinais verbais e não-
verbais (a fim de estimular e captar o individuo) entre muitos outros aspetos.
Feita a entrevista, passamos para o processo de transcrição da mesma, que se
baseia, como o próprio nome indica, em escrever toda a conversa, a fim de facilitar a
análise dos dados recolhidos. Esta deve contemplar as notas de campo escritas no
decorrer da entrevista. Notas de campo são os apontamentos retirados no decorrer da
entrevista referentes aos sinais verbais e não-verbais dos participantes.
Posto isto, e como se trata de uma entrevista smidiretiva, para que fosse
possível a realização do trabalho e da entrevista tivemos de delimitar alguns passos
segundo os quais nos organizaríamos afim do sucesso do trabalho.
Primeiramente ocupámo-nos de nos inteirarmos do que seria necessário tratar
e elaborar ao longo do trabalho. Daí procedemos à averiguação do que seria isto de
“entrevista semidiretiva” – este processo foi facilitado pois é uma das matérias
lecionadas na Unidade Curricular de Introdução à Investigação, na mesma foram-nos
disponibilizados textos de apoio a tratar o mesmo assunto.
Para que não fossemos realizar a entrevista sem que houvesse uma
preparação previa – desenvolveu-se um projeto, na Unidade Curricular de Introdução
à Investigação que se baseou em realizar uma entrevista e desenvolver todas as suas
dimensões.
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Para tal, a turma foi dividida por grupos – os mesmos da Unidade Curricular
Seminário I – Atores e Contextos de Educação e Formação, e num momento inicial o
trabalho passou por cada grupo ter de elaborar uma lista de perguntas das quais
foram apuradas pelo professor da unidade curricular, as que melhor se adequavam
aos objetivos – para nos elucidar do que seria fazer um guião, a sua estrutura e
género de perguntas (isto porque primariamente seria cada grupo a elaborar o seu
próprio guião com base nos objetivos propostos). Tal não foi possível, uma vez que
acabou por não haver tempo disponível para a realização do mesmo – o que não
significa que tenha havido desperdício de tempo, pois foi utilizado para esclarecer
dúvidas quanto à realização da entrevista, do que esta se tratava e como se iria
proceder a transcrição. Este processo foi determinante para a concretização do
trabalho pois muitos de nós nunca tinham tido relação com este tipo de investigação.
Este último processo -a transcrição- foi também contemplado no
processamento de entrevista realizado em aula.
No decorrer da entrevista realizada em aula, os alunos estavam a
desempenhar funções que seriam necessárias desempenhar quando fizessem a
entrevista, nomeadamente: três observadores, um entrevistado, um entrevistador e os
restantes tinham a função de detetar e apontar eventuais gestos, expressões e até
mesmo se os objetivos estavam a ser cumpridos ou não (notas de canto).
Feita a entrevista cada grupo teve a tarefa de a transcrever, sendo depois
comparadas para que tivéssemos uma ideia de como seria mais favorável fazer uma
transcrição, uma vez que muitos de nós nunca tinha elaborado uma e não sabia como
transcrever. Uma das dúvidas mais persistentes na execução desta tarefa foi o facto
de saber se quando se utilizavam termos da gíria, deveríamos ou não transcrevia de
forma correta.
Quanto ao guião, este foi cedido aos alunos pois, como referido anteriormente,
não houve tempo para o desenvolver em grupo. Porém no “ensaio geral” feito em
grupo decidimos proceder a algumas alterações, passando a citar.
No bloco inicial, trocar a primeira com a segunda pergunta. Esta foi a única
alteração feita.
No segundo bloco, referente à licenciatura, à pergunta “quais as expectativas
que construiu antes de ingressar na faculdade”, a entrevistada respondeu que não se
lembrava, e por esse motivo, a pergunta seguinte “como evoluíram essas
expectativas” foi eliminada. À que se segue no guião a entrevistada respondeu mais
do que suposto, acrescentado prontamente as sugestões que teria a fazer ao curso, e
portanto a pergunta seguinte revelou-se impertinente. Ainda no mesmo bloco mas
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referente ao mestrado foram acrescentadas três perguntas: “Qual a área do seu
mestrado?” “Como se deu o processo de decisão?” “Fez um estágio, certo? Onde?”
No próximo bloco, que tem o objetivo de perceber a inserção da entrevistada
no mercado de trabalho, foi acrescentada a pergunta “Quais as expectativas que tinha
do mundo do trabalho?”, sendo que a pergunta que se segue foi eliminada pelo facto
de já ter sido respondida anteriormente.
Ainda no mesmo bloco, foram eliminadas mais duas perguntas: “Quais os
locais onde tem trabalho?” e “Que tipo de funções tem exercido?” pelo facto de já
terem sido respondidas na pergunta anterior a estas.
O bloco E foi eliminado por inteiro, pois quando foi pedido que a entrevistada
falasse um pouco dos seus trabalhos na atualidade, este referiu igualmente os
projetos nos quais esteve ou está envolvida, bem como as formações a que esteve
sujeita desde a sua entrada no mercado de trabalho.
Finalmente, no último bloco que consiste na visibilidade dos profissionais de
Ciências da Educação, algumas perguntas foram eliminadas pois a entrevistada não
tinha uma opinião formada acerca do assunto referido.
Em simultâneo, entramos um processo de “seleção de candidatos” de uma lista
previamente cedida pela docente Joana Viana – isto porque recorremos às nossas
professoras tutoras para nos ajudassem a escolher uma pessoa que preenchesse os
requisitos (ser licenciado em ciências da educação num período anterior à declaração
de Bolonha ou mestre na mesma área após a declaração, e ter experiência, porém,
não poderia ser professor pois é uma com a qual estamos acostumados). Posto isto
passámos a uma investigação, pelo perfil pessoal do linkedIn e comparámos com o
perfil de individuo que gostaríamos que fosse, áreas em que trabalhou, onde estudou
e onde trabalha atualmente. Da lista anteriormente referida, selecionámos uma
senhora – Ana Rui Balacó, à qual mandámos um e-mail (anexo 1) a pedir a sua
colaboração. A “candidata” demonstrou-se calorosamente disposta a colaborar, porém
a entrevista teria de ser via e-mail, ou seja, como a candidata está a fazer o seu
mestrado e a trabalhar em simultâneo, não teria tempo de se reunir com o grupo e
assim se fosse possível teríamos de mandar as questões por e-mail e ela responderia
da mesma forma (resposta da candidata, anexo 2). Uma vez que um dos objetivos do
trabalho é desenvolver as capacidades de recolha de dados sob a forma de entrevista,
esta não poderia ser uma opção de desenvolvimento – o método de recolha de dados
passaria a ser um inquérito e não uma entrevista, não aceitámos a proposta e
explicámos o porquê.
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Como não poderíamos escolher contactos que outros grupos tivessem
selecionado, a nossa lista ficou reduzida a nada pois os tutores são comuns a muitas
de nós. Assim, falámos com outra das nossas tutoras, docente Sofia Viseu, que
prontamente se mostrou disponível em nos ajudar, tendo inclusive comunicado com
uma amiga que se demonstrou cooperante com o nosso projeto, após a chamada
comunicámos com a senhora, via e-mail (isto porque não tivemos acesso ao seu
número pessoal) ao qual ela não respondeu atempadamente – uma vez que
estávamos a ficar sem tempo para a realização da entrevista de modo a que
conseguíssemos gerir o nosso tempo de trabalho. Como ainda não tínhamos obtido
resposta e, como referido anteriormente, o tempo estava-se a esgotar, decidimos
recorrer a um grupo de colegas, que tínhamos conhecimento de ter recusado um dos
seus contactos por ter recebido uma outra resposta à qual estavam interessadas, a
pedir esse mesmo contacto que se veio a concretizar ser a nossa entrevistada – Irene
Santos. Porém não tínhamos muita informação sobre ela, não só pela falta de tempo
como por esta não ter conta no linkedIn. Mais uma vez o primeiro contacto foi feio via
e-mail (anexo 3) ao qual obtivemos uma pronta, amigável e positiva resposta (anexo
4). A partir deste momento o contacto foi feito via telefónica com a entrevistada, uma
última vez antes da entrevista para estabelecer pormenores de última hora. A
entrevista ficou então marcada para dia 18/12/1014, por volta das 18.00h, favorável ao
grupo que acabara de concluir o exame de Histórias dos Sistemas Educativos
Contemporâneos, e favorável à entrevistada que sairia por volta da mesma hora do
seu local de trabalho.
O sítio onde se iria desenrolar a entrevista ficou ao critério da entrevistada: na
saída da estação de metro de Anjos. A entrevistada justificou-se afirmando que seria
mais acessível para ela, pois trabalhava ali perto e, estando em dia de greve da CP,
não perderia tempo a apanhar comboios.
Como nenhum dos elementos do grupo conhecia bem este local, a entrevistada
deu-nos ainda duas outras indicações: traria um casaco azul, de forma a facilitar o seu
encontro; e encontrar-nos-ia perto do “homem das castanhas”, para que também ela
nos pudesse identificar.
Quando o relógio contava as 18:00 horas, ali estávamos nós, com um cheiro a
castanhas a pairar no ar, atentas a todas as peças de roupa azul que poderiam cruzar
os nossos olhares ansiosos. No entanto, esta ansiedade foi-se perdendo, para dar
lugar à preocupação… Meia hora havia passado e não tínhamos sinais da
entrevistada! Face a esta situação, e com receio de que esta se tivesse esquecido do
compromisso, o grupo tomou a decisão de estabelecer contacto via telefónica. Boas
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notícias! A entrevistada tinha plena consciência do encontro, dando-nos uma
justificação como quem nos tenta acalmar: o autocarro, devido à greve anteriormente
referida, atrasou-se e ela encontrava-se na paragem à espera, sendo que demorava
apenas cerca de dez minutos mais. Como as temperaturas não eram favoráveis, esta
adiantou-se dando-nos o nome e as indicações de onde iria decorrer a entrevista. Era
um café, de seu nome “Espaço Fá”.
Foi precisamente neste espaço que a entrevista decorreu. O café aparentava
ter bom ambiente e as citações de Fernando Pessoa espalhadas pela parede davam-
lhe um ar zen. A empregada demonstrava simpatia e eficiência, pois assim que
chegámos perguntou se queríamos algo. As cores eram predominantemente neutras e
a presença de várias flores e plantas era notória. Para além da nossa presença,
apenas estava um senhor ao balcão, e por isso a entrevista decorreu num ambiente
silencioso e sossegado (o que contribuiu igualmente para que a gravação se ouvisse
em perfeitas condições). O grupo pode afirmar que este espaço foi favorável para que
as boas energias de ambas as partes reinassem e um sentimento de calma se
apoderasse de nós. Podemos agradecer à entrevistada pelo espaço que escolheu,
pois este teve um grande contributo para que a entrevista decorresse sem grandes
nervosismos. É de referir, no entanto, que o espaço não fez com que a entrevista
perdesse o seu carácter profissional, pois tanto o entrevistado como o entrevistador a
viram como um projeto sério.
Quando finalmente a entrevistada chegou até nós, apesar de atarefada, o seu
sorriso e a sua voz de tom baixo, transmitiam calma. Entrámos no café onde tivemos
uma pequena conversa, com a qual criámos um clima menos tenso e onde houve
espaço para nos conhecermos um pouco. Foi uma conversa que consideramos muito
importante pois assim conseguimos que a entrevistada se sentisse mais à vontade e
não tivesse qualquer constrangimento a responder às nossas questões. Posto isto, e
quase a começar a entrevista frisámos a importância da colaboração da senhora para
a concretização do trabalho, o facto de ser uma entrevista gravada (e informámos que
poderíamos enviar a transcrição, caso estivesse interessada – não demonstrou
interesse em tal facto) e pedimos autorização para irmos retirando notas de alguns
pontos da entrevista. No entanto, as notas que retirámos não foram relevantes pois
eram repetitivas, uma vez que durante toda a entrevista houve o recurso a gestos e o
tom de voz da entrevistada não se alterou.
Antes ainda da concretização da entrevista, o grupo decidiu que seria apenas
uma a entrevistar e as restantes faziam o papel de observadoras, alterou algumas
questões do guião (anexo 5), previamente fornecido pelos docentes da Unidade
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Curricular, fez um pequeno “ensaio” entre ele a fim de verificar se seria possível
aprofundar mais as questões de uma outra forma. A decisão de ser apenas uma a
entrevistar foi com o intuito de não criar um momento de rotura no ambiente da
entrevista, não causar sentimentos de pouco à-vontade por parte da entrevistada,
eliminar a possibilidade de os entrevistadores se interpelarem ou haver perda de
informação assim como não se perder o rumo na condução da entrevista.
Importante referir que em todos os contactos estabelecidos foi expressa a
intenção de gravação da entrevista.
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Ao longo deste capítulo iremos procurar dar resposta a dois principais desafios
que nos foram proposto: a caracterização dos profissionais de educação e a síntese e
correspondente análise da entrevista realizada pelo grupo.
Caracterização dos especialistas em Educação
Para uma melhor caracterização dos profissionais de educação, o grupo teve
como principal fonte os estudos da Dra. Natália Alves, socióloga no Instituto de
Educação da Universidade de Lisboa, ou seja, a instituição à qual pertencem os quatro
elementos do grupo. Infelizmente estes estudos restringem-se ao espaço temporal de
1993 a 2003 e o grupo lamenta não ter conseguido dados um pouco mais recentes,
apesar da árdua pesquisa executava. O objetivo seria realizar uma posterior
comparação entre os mesmos, o que nos iria permitir tirar algumas conclusões, como
a evolução do emprego ou desemprego dos profissionais em educação, a evolução do
emprego nas áreas relacionadas com o curso onde foi concluída a licenciatura, a
idade e sexo dos profissionais, a evolução das dificuldades ou facilidades na inserção
do mercado de trabalho, etc.
No entanto, o estudo no qual o grupo se baseou para fazer a presente
caracterização é um estudo rico em informações pertinentes e portanto, dados
relativos aos anos anteriormente referidos não irão faltar. E apesar de corresponderem
ao ano de 2003, conseguem ainda assim dar-nos uma noção da situação dos
profissionais de educação relativamente a diversas situações.
É também importante referir que, apesar do presente curso ter mudado a sua
designação no ano de 2014, de Ciências da Educação para Educação e Formação,
em nada foram afetados os dados estatísticos, pois o conteúdo e as ideologias
presentes no curso, bem como as possíveis saídas profissionais ou áreas de mestrado
continuam a ser praticamente o mesmo.
Iremos então de seguida apresentar algumas das percentagens mais
relevantes em relação aos profissionais da licenciatura de Ciências da Educação do
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, no seu último ano do curso e no
primeiro ano após a conclusão da licenciatura, ou seja, aquele que deveria ser o ano
de inserção no mercado de trabalho.
Os estudos de Natália Alves têm como principais objetivos caracterizar os
estudantes da Universidade de Lisboa, nos seus variados cursos, através de uma
população amostra que respondeu a um inquérito de cerca de 80 perguntas. Após a
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obtenção das respostas por partes dos estudantes, o seguinte objetivo é, através
destes, observar e analisar o processo de inserção profissional no mercado de
trabalho (em relação a inúmeros aspetos que serão de seguida referidos) por parte
dos alunos que verão a sua licenciatura concluída, bem como, caso contrário, se estes
ao invés de decidirem ingressar no mercado de trabalho, optarem por prosseguir os
seus estudos. Neste caso, iremos ver durante quantos anos os estudos são
prolongados, bem como a caracterização dos estudantes que o decidem fazer em
relação à sua situação de trabalhadores ou não-trabalhadores.
Estes estudos têm então por base a análise de vários aspetos, sendo que este
primeiro ‘bloco’ de aspetos diz respeitos aos dados relacionados com os próprios
estudantes, a sua família e a sua origem ou ao último ano da licenciatura. Os aspetos
são os seguintes: caracterizar os estudantes da Universidade de Lisboa, por curso e
no seu geral, consoante a sua composição etária e sexual; a mobilidade geográfica
dos mesmos; o seu estatuto conjugal; o capital habilitacional de família de origem; a
qualificação profissional dos pais; a sua origem social e a média de entrada. De
seguida procura analisar o estatuto ocupacional, abrangendo os diplomados
desempregados, os diplomados estagiários, os diplomados assalariados, os
diplomados trabalhadores, os diplomados que continuam a estudar e por fim, os
diplomados por conta própria. O próximo aspeto passa pela trajetória escolar, ou seja,
a adequação entre o curso desejado e o curso frequentado (se foi a primeira opção do
estudante presente na lista dos cursos aos quais se candidatou ou não); a
classificação com que os estudantes concluíram a licenciatura; a manutenção ou não
dos contactos feitos na faculdade, ou até mesmo com a própria faculdade (corpo
docente), e o apuramento em relação ao prosseguimento dos estudos (pós graduação,
mestrado e/ou doutoramento).
Num segundo bloco de aspetos a serem abordados, procura-se
essencialmente observar os dados relacionados com a inserção dos estudantes no
mercado de trabalho ou com a sua situação após a conclusão da licenciatura. Nesta
etapa podemos encontrar os seguintes aspetos: inserção na vida ativa, que passa por
estudar os dados relativos à obtenção do primeiro emprego e as características do
mesmo.
A trajetória de inserção, ou seja a mobilidade de emprego e o nível de
remuneração. E por último, as trajetórias profissionais de um grupo específico, os
trabalhadores estudantes, passando pela sua situação no último ano da licenciatura,
após a conclusão desta, a situação face à inserção no mundo do trabalho, ou seja, o
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emprego ou desemprego, bem como o nível de remuneração, caso o estudante este
empregado.
Iremos então começar com a exposição dos resultados, comparando com as
poucas informações às quais o grupo conseguiu aceder. A média de entrada do curso,
nos anos correspondentes a estudo de base foi de 14.2%, sendo que no ano atual
(2014) a média de entrada conta com pouco mais de 10%, é possível acentuar uma
descida de quase 5%! A idade dos estudantes que ingressaram no curso,
correspondia a uma média de 32% (contando com mais 4% do que a média geral dos
restantes cursos da Universidade de Lisboa), sendo que existem mais trabalhos
estudantes do que apenas estudantes, facto que pode contribuir para a explicação
desta faixa etária um pouco elevada. O grupo acredita, baseando-se nas caras
presentes na faculdade diariamente que a faixa etária dos estudantes deste curso
baixou, sendo constituída por pessoas maioritariamente jovens. Os estudantes do
sexo masculino contam apenas com 7.7%, perdendo para os 86,5% das alunas do
sexo feminino; o grupo, mais uma vez baseando-se na constituição das turmas atuais,
apesar de não apresentar percentagens, acredita que estas devem manter-se, pois a
presença de indivíduos do sexo feminino é sem dúvidas percetível! Quanto ao estatuto
conjugal dos estudantes, grande parte são solteiros, pois o prolongamento das
trajetórias escolares retarda o processo de transição para a vida adulta. No primeiro
bloco de aspetos, é ainda possível analisar o capital habilitacional da família de
origem, ou seja, as habilitações dos pais dos estudantes: aqui, grande parte dos
progenitores apresenta maioritariamente apenas o 1º ciclo de escolaridade (30.8%),
em contradição com os 11.5% dos progenitores que obtiveram um diploma do ensino
superior. Por último 24,9% dos diplomados provêm da grande e média burguesia,
enquanto que apenas 2.4% são trabalhadores manuais independentes (origem social).
Num segundo bloco de aspetos a analisar, o primeiro passa por avaliar a
situação dos estudantes em relação à inserção no mundo do trabalho, após a
conclusão da licenciatura. 19.2% começaram a trabalhar de imediato (por imediato
que se entenda desde o mês de conclusão da licenciatura até ao sexto mês), em
comparação com os 50,4% apresentados nos dados relativos a 2003. Esta é uma
evolução sem dúvida positiva! Menos de 10%, 7.7% mais exatamente estiveram à
procura de emprego por um período alargado (mais de um ano), tendo aumentado em
2003 mais 2%. Este facto torna-se ainda menos positivo, quando temos plena
consciência da situa4ão de desemprego que reina em Portugal nos tempos atuais
(2014) devido à intensa crise em que estamos mergulhados, e portanto estes dados
estarão provavelmente mais elevados. Em 2003, ainda em relação a este aspeto,
16
7.1% dos estudantes estão inseridos num estágio (seja este remunerado ou não);
30.8% tem um contacto de termo indeterminado, aumentando 4% quando estes
contractos são de termo certo. 15.4% são trabalhadores independentes (sendo que
nenhum deles é patrão) e 7.7% são estudantes a tempo inteiro, tendo tomado a
decisão de não ingressar no mundo do trabalho, mas sim de prosseguir os seus
estudos. Nesta última percentagem é necessário referir que grande parte das pós
graduações e mestrados são maioritariamente tirados na Universidade de Lisboa
(diplomados por curso segundo o programa de pós graduação). Quase metade dos
estudantes são trabalhadores estudantes! Em relação à obtenção deste primeiro
emprego após a conclusão da licenciatura, os contributos são variados: 23%
conseguiu-o através da ajuda dos professores do seu curso; 19% através do estágio
feito no último ano (como é o caso da nossa entrevistada); e 7.8% mantiveram o
emprego que já tinham anteriormente e ao longo do decorrer do curso. Um dos
aspetos igualmente importantes ainda à cerca desta temática relaciona-se com o facto
do primeiro emprego ser ou não na mesma área em que o curso concluído: 66% dos
profissionais de educação conseguiram encontrar emprego na sua área ou em áreas
muito próximas!
São ainda apresentadas análise de certas percentagens em relação ao grau de
competências que os estudantes do curso acham ter adquirido, podendo variar entre
‘nada’, ‘pouco’, ‘bastante’ e ‘muito’. 53.8% desenvolveu bastante e 42.3% desenvolveu
muito o grau de domínio das aprendizagens feitas; percentagens deveras positivas!
60% dos diplomados têm interesse em prosseguir o aprofundamento dessas
aprendizagens. Quase 50% afirma ter desenvolvido o seu sentido crítico. Já no
desenvolvimento da capacidade de expressão, existem oscilações entre as
percentagens: 4% nada, 48% muito, 28% bastante, 20% pouco. Quanto ao
desenvolvimento das capacidade para responder às solicitações do mercado de
trabalho, as percentagens não mostram concordância: 16% nada, 28% pouco, 40%
bastante e 16% muito.
Por último, foi procurado perceber quais eram as expectativas aquando a
entrada no curso, bem como a evolução das mesmas e a sua reflexão na média final.
A princípio, 46,2% afirma não estar no curso desejado, ou seja, o curso Ciências da
Educação não foi a sua primeira opção. No entanto, no final da licenciatura, quando
confrontados com a pergunta ‘se voltasse atrás, iria inscrever-se no mesmo curso?’
69,2% responderam positivamente! Podemos então afirmar que a evolução das
expectativas ocorreu de forma extraordinária! A nota de conclusão do curso ronda a
média de 15 valores.
17
Através dos dados obtidos neste estudo, e tendo sempre em vista a comparação entre
o nosso país de origem, Portugal, e os restantes países da Europa, foi possível chegar
a algumas conclusões. Podemos afirmar que apesar da massificação ocorrida nos
últimos anos, apoiada e facilitada pelo crescente número de universidades públicas,
novos cursos com um maior número de áreas (sendo estas cada vez mais específicas,
o que permite focalizar e direcionar interesses), criação do ensino politécnico e
abertura do ensino superior à iniciativa privada, a taxa de licenciados em Portugal
continua baixa. É importante que este processo continue, pois um país, ao contrário
das vozes vindas da Alemanha, nunca tem demasiados licenciados. Mais licenciados
é sinónimo de mais formação! O próprio provérbio popular sustenta estas afirmações:
o saber numa ocupa lugar!
No entanto, qualquer processo tem as suas consequências, e este processo de
massificação do número de licenciados não é exceção. A principal consequência
originada pelo crescente número de licenciados foi a falta de inserção no mercado de
trabalho, após a conclusão da licenciatura; ou pelo menos o aumento das dificuldades
para que tal aconteça. A isto chama-se ‘desemprego de inserção’. O desemprego de
inserção é o prolongamento do período durante o qual os recém-licenciados são
obrigados a procurar uma ocupação profissional compatível com as duas qualificações
e aplicações.
A fim de tentar resolver estes problemas foi criado um gabinete de apoio aos
alunos que se encontram no último ano e continuar a acompanhá-los no ano seguinte
à conclusão da licenciatura, na Universidade de Lisboa, tendo por base os estudos e
as percentagens anteriormente expostas.
Precisamente com base nestes estudos e percentagens foi possível chegar a
resultados, dos quais iremos apenas apresentar aqueles que, a nosso ver, seriam os
mais importantes e continuam de ser forma a ser o padrão presente no curso, em
2014: o curso de Ciências da Educação é maioritariamente frequentado por pessoas
do sexo feminino; grande parte dos estudantes são oriundos de famílias com pouco
capital habilitacional; a maioria dos estudantes frequenta o curso que escolheu como
1ª opção; estes estudantes tiveram facilidade em ingressar no mundo do trabalho e
grande parte deles mantém contacto com a faculdade (corpo docente e colegas).
Para concluir então a caracterização dos especialistas em Formação e
Educação, estes devem ser alguém que tem um papel na definição de projetos e
programas de intervenção, na sua implementação e avaliação, sendo ainda preparado
para desempenhar um papel na análise fundamental e crítica do sistema das
instituições educativas.
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Análise e síntese da informação recolhida através da entrevista
Tendo por base o capítulo anterior, onde foram apresentadas a preparação e a
condução da entrevista, esta segunda parte deste capítulo consiste em fazer uma
análise e síntese da mesma.
A entrevistada nasceu em França, onde fez o pré-escolar, e só posteriormente
viajou para Portugal onde ingressou na escola primária. Esta passou ainda uma
temporada em Moçambique, acabando novamente por voltar para Portugal onde
concluiu o 9º ano de escolaridade.
Como acontece ainda hoje, no 9º ano deve ser feita uma escolha acerca da
área a seguir no próximo ano, com o objetivo de focar desde cedo, as nossas áreas de
interesse para o futuro. A entrevistada escolheu o curso de Saúde, equivalente ao
curso de Ciências e Tecnologias no sistema escolar atual. A sua escolha baseou-se
no seu gosto pela biologia e pouco interesse em literatura. Mais tarde, no 12º ano,
confrontada com uma nova decisão, a entrevistada encontrava-se com leque aberto
de ideias, e recorrendo à ajuda da mãe acabou por ingressar em Ciências da
Educação. Adotando um olhar crítico sob o curso e o seu plano, a entrevistada
apresenta algumas críticas e sugestões: o curso era muito focado na educação
escolar, e deixava pouco espaço para outros espaços da educação. Outra das críticas
feitas pela entrevistada foi o facto de existir pouca prática, o que não é aconselhável
para quem vai lidar com a educação dos outros.
De seguida, a temática mudou da licenciatura para o mestrado, e a
entrevistada referiu que a sua área foi a formação de adultos, mas o seu tema foram
as crianças. A entrevistada deixou claro que sempre trabalhou com crianças, desde a
sua adolescência, juntando a necessidade de ganhar experiência e dinheiro com uma
oportunidade. O seu primeiro trabalho foi em Benfica, no bairro das Fointainhas, que
hoje já não existe. Neste trabalho, a entrevistada teve contacto com uma realidade
muito diferente da sua, uma realidade caracterizada pela pobreza; e o seu trabalho
passava por dar apoio às crianças e trabalhar com as respetivas famílias. Esta
experiência contribuiu para que a entrevistada hoje seja uma pessoa que acredita que
se nos empenharmos, investirmos e demonstrarmos entusiasmo, esse mesmo
entusiasmo ser-nos-á retribuído.
Quando saiu deste local começou a trabalhar no projeto de investigação, onde
acompanhou um grupo de crianças na Cova da Moura e na Portela, dois bairros
sociais.
19
Lançada através do trabalho em Benfica e do acompanhamento feito nos
bairros sociais e também devido ao apoio dado pelo estágio integrado no mestrado
que realizou, a entrevistada conseguiu emprego logo após a conclusão do mesmo,
numa associa4ão com crianças, onde permaneceu 3 anos. Em simultâneo esta fazia
investigação, e envolvia-se em projetos, juntando assim as três áreas que mais
gostava. Após esses 3 anos, come4ou a trabalhar na Câmara de Cascais, no
laboratório de aprendizagens durante 7 anos. Aqui acabou por se envolver num
projeto desenvolvido pela Câmara, do qual ainda hoje faz parte: o Banco do tempo. O
banco do tempo constitui um espaço de troca de saberes, baseado na ideia de um
banco, que substitui dinheiro por tempo.
Atualmente, apesar de desempregada, está envolvida em vários projetos
voluntários, entre os quais: a tradução de um livro de francês para português e o
levantamento do património de Lisboa de arquitetura do século XIX e XX. No entanto,
não se sente totalmente realizada a nível profissional, precisamente pelo facto de estar
desempregada.
Futuramente irá para França trabalhar num centro de urbanismo, mas não sem
antes deixar uma crítica ao governo português: o facto dos projetos sociais serem alvo
de pouco investimento e financiamento.
Já na reta final da entrevista, a entrevista afirma que curso foi essencial para a
sua formação, mas mais do que isso, o que a marcou foram as pessoas que a fizeram
desenvolver ideologias. Demonstrou-se ainda muito feliz por ser uma profissional de
Ciências de Educação, afirmando no entanto que não faz distinção entre este e outros
cursos, uma vez que somos todos profissionais de algo e as várias áreas chegam até
a misturar-se, e por isso não devem existir fronteiras.
20
A realização deste trabalho possibilitou-nos o contacto com um profissional da
Educação e da Formação e através dele conseguimos perceber o percurso, a inserção
e a entrada no mercado de trabalho de um licenciado em Ciências da
Educação/Educação e Formação.
Ao longo deste trabalho, e analisando o percurso da nossa entrevistada, foi-nos
possível aperceber que ser licenciado em Educação e Formação nem sempre é fácil e
como em todas os outros cursos e profissões, também estes profissionais se deparam
com altos e baixos na sua vida.
Iremos então levantar algumas questões e problemas, que no fundo não são
mais do que obstáculos que com trabalho podem ser ultrapassados. Primeiro,
queremos realçar a pouca visibilidade que esta licenciatura tem, não só junto dos
estudantes mas também, e mais grave ainda, junto das entidades empregadoras.
Talvez este facto tenha outro obstáculo na sua origem: a não existência de um campo
profissional próprio e específico para os licenciados e a multiplicidade de funções
possíveis que obstaculizam a construção de um corpo profissional com identidade
própria. Assim, a não existência de uma designação profissional própria para os
licenciados em Educação e Formação que lhes confira uma especificidade profissional
atribuída pela sua formação, isto é, que lhes permita identificar, e ser identificados com
um determinado campo ou atividade profissional, é um dos fatores que podem
contribuir para a já referida invisibilidade destes profissionais
No entanto, é necessário salientar que esta dificuldade pode constituir-se numa
potencialidade na medida em que, ao não fechar as possibilidades de ação
profissional, aumentam as oportunidades do seu exercício, possibilitado pelas
competências profissionais decorrentes da formação em Educação e Formação. E
esta é uma situação francamente interessante no atual contexto e panorama de
estruturação do mercado de trabalho pós-fordista em que o trabalho se volatizou em
competências (Magalhães & Stoer, 2002).
Neste cenário, mais do que profissionais com um perfil rígido é necessário
encontrar pessoas qualificadas e com competências para atuar em contextos e áreas
novas. Posto isto, a característica mais prezada num profissional de Educação e
Formação é a polivalência.
A própria entrevistada aponta diversas funções possíveis para os licenciados
em Educação e Formação tais como: formação de adultos, fundações, urbanismo…
21
Relativamente ao modo como decorreu a entrevista, e não podendo deixar de dar o
nosso parecer nesta conclusão, esta demonstrou sempre o máximo de
profissionalismo apesar do seu caracter informal e uma linguagem acessível. O
entrevistador conseguiu que o entrevistado abordasse os aspetos pertinentes ao
nosso trabalho, apesar dos incidentes referidos anteriormente e do facto do
entrevistado dar respostas demasiado extensas, acabando por divagar. As questões
conseguiram apresentar uma ordem coerente, moldando-se ao teor da conversa.
Também o local onde a entrevista se realizou, por ser um espaço bastante
descontraído, facilitou tanto a condução da entrevista para que esta se realizasse da
melhor maneira, como a existência de um maior à vontade entre o entrevistado e o
entrevistador.
Como reflexão final, o balanço deste trabalho é positivo uma vez que foi
possível saber um pouco mais relativamente às saídas profissionais que esta
licenciatura em Educação e Formação nos oferece e também como poderá vir a ser o
nosso percurso e a nossa inserção no mercado de trabalho com esta mesma
licenciatura. Verificou-se à partida que esta mesma licenciatura é muito ampla, pelo
facto da não existência de uma designação profissional para os licenciados em
Educação e Formação, que lhes permite trabalhar em diferentes áreas profissionais.
Foi um trabalho que despertou as nossas consciências para a situação atual do
mundo do trabalho. Apercebemo-nos que nem todos os percursos correm da forma
esperada e portanto podemos afirmar que este trabalho contribui para nos fortalecer,
na medida em que, tendo conhecimento de percursos atribulados, caso o nosso não
corra da melhor forma, não iremos desistir ao primeiro obstáculo! Passamos por isso a
ver os obstáculos como algo que faz parte de qualquer percurso, seja de vida, seja
profissional. Como diz o célebre Fernando Pessoa “Pedras no caminho? Guardo
todas, um dia vou contruir o meu castelo!” é importante que nem tudo corra “às mil
maravilhas”, pois só assim iremos adquirir competências que não teríamos se nunca
fossemos confrontados com dificuldades, e o estofo necessário para nos mantermos
na “corrida”. Corrida, ora aí está um termo que define bem o que o mundo do trabalho
apresenta hoje em dia. Com a crise em que estamos mergulhados, as situações de
desemprego são cada vez mais, e todos nos nos deparamos com elas, seja nas
notícias diárias, ou em situações de conhecidos e até mesmo familiares; por esse
motivo, a competência é igualmente maior! Cada vez mais existe uma corrida aos
postos de trabalho que são cada vez menos e cada vez mais exigentes. Através deste
trabalho percebemos que não basta sermos bons, temos de ser os melhores. E se há
lugar onde a palavra “sucesso” vem antes de “trabalho” é apenas no dicionário.
22
No entanto é importante não pintarmos toda esta situação de preto! Ao longo
deste trabalho tomámos consciência de que, ao nos tornarmos profissionais de
Educação e Formação, estaremos constantemente a lidar com a educação. E o grupo
pode afirmar que não poderia existir um trabalho mais gratificante que este! O
entusiasmo da entrevistada contribui para que o nosso entusiasmo aumentasse ainda
mais. Tal como ela disse ‘Se investirmos e nos entusiasmarmos com alguém, esse
entusiasmo ser-nos-á retribuído’. São as pessoas que constroem o mundo, e são os
profissionais de educação que constroem as pessoas! Todos nós podemos ser
educados e podemos educar. E por esse motivo é de extrema importância sermos
seres educados e sabermos como lidar com os outros, sabermos conviver e viver em
sociedade.
Este trabalho contribuiu (e muito!) para que os elementos do grupo se
lembrassem o porquê da sua presença neste curso, e o quão importante ele é!
Adotando uma visão mais teórica, este trabalho contribui também para que o grupo
adquirisse aprendizagens sobre as técnicas de recolha de dados na investigação
educacional, nomeadamente sobre a entrevista semideirectiva. Foi-nos possível
perceber como é elaborado um guião, bem como todos os passo a cumprir e a ter em
conta na elaboração e escolha das perguntas, na preparação da entrevista e na sua
condução. A partir de hoje, teremos também mais atenção a pequenos pormenores,
como a solicitação da autorização para gravar a entrevista, a garantia do anonimato,
etc.
23
Anexo I – E-mail enviado a convocar a entrevista.
Anexo II – Resposta da primeira selecionada.
Boa tarde,
Gostaríamos, desde já, de nos apresentar como um grupo de quatro elementos,
estudantes na licenciatura de Educação e Formação (antigo curso de Ciências da
Educação), no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.
Informamos-lhe também que tivemos acesso ao seu contacto através da
professora Joana Viana, docente da unidade curricular de Tecnologias da
Educação e Formação, no mesmo instituto.
Assim, vimos por este meio contactá-la, afim de solicitar a sua ajuda na elaboração
de um projeto no âmbito da unidade curricular de Seminário 1 - Atores e Contextos
da Educação e Formação.
Este projeto consiste em fazer uma entrevista a um licenciado (antes de Bolonha)
ou licenciado e mestre (pós Bolonha), e com alguma experiência profissional.
Temos por objetivo perceber o seu percurso profissional, uma vez que frequentou o
mesmo curso que nós e poderá servir de "modelo". Assim sendo, gostaríamos de
saber se está disponível, e quando, para nos responder a algumas questões.
Pedimos-lhe também se esta entrevista poderá ser gravada e se poderá fazer-se
acompanhar do seu CV.
Gratas pela atenção dispensada,
Ana Rita Dias;
Bibiana Baptista;
Renata Batista;
Sónia Cruz.
Bom dia colegas,
Terei todo o gosto em vos poder ajudar e em fazer a entrevista convosco.
Estou neste momento a trabalhar como sabem, e a fazer uma formação em pós-
laboral todos os dias, o que poderá dificultar a entrevista presencial para que
possam gravar e fazer a transcrição.
Será que podem enviar as perguntas por e-mail?
Bom trabalho.
Ana Rui Balacó
24
Anexo III – Mensagem eletrónica enviada à entrevistada a fim de solicitar a sua
colaboração.
Anexo IV – Resposta da entrevistada.
Boa tarde,
Gostaríamos, desde já, de nos apresentar como um grupo de quatro elementos,
estudantes na licenciatura de Educação e Formação (antigo curso de Ciências da
Educação), no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.
Informamos-lhe também que tivemos acesso ao seu contacto através de umas
colegas, a quem este, por sua vez, foi concedido pela professora Sofia Viseu.
Assim, vimos por este meio contactá-la, a fim de solicitar a sua ajuda na
elaboração de um projeto no âmbito da unidade curricular de Seminário 1 - Atores
e Contextos da Educação e Formação.
Este projeto consiste em fazer uma entrevista a um licenciado (antes de Bolonha)
ou licenciado e mestre (pós Bolonha), e com alguma experiência profissional.
Temos por objetivo perceber o seu percurso profissional, uma vez que frequentou
o mesmo curso que nós e poderá servir de "modelo". Assim sendo, gostaríamos de
saber se está disponível, o mais rapidamente possível, para nos responder a
algumas questões. Pedimos-lhe também se esta entrevista poderá ser gravada e
se poderá fazer-se acompanhar do seu CV.
Gratas pela atenção dispensada,
Ana Rita Dias;
Bibiana Baptista;
Renata Batista;
Sónia Cruz.
Olá,
Podem sim, entrevistar-me. Mas quem elabora o projeto são vocês ... ;)
Durante a próxima semana liguem-me e logo combinamos: (número de telefone).
Bom fim de semana, um beijinho.
25
Anexo V – Guião da entrevista.
BLOCOS TEMÁTICOS
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
TÓPICOS PARA O FORMULÁRIO DE PERGUNTAS
NOTAS
A Legitimação da entrevista
Informar o entrevistado sobre a temática e a finalidade da entrevista Sublinhar a importância da participação do entrevistado para o sucesso do trabalho. Motivar o entrevistado. Garantir o anonimato e a confidencialidade das informações prestadas. Referir a disponibilidade para fornecer os resultados do trabalho.
Pedir autorização para gravar a entrevista
Proporcionar ao entrevistado um ambiente que lhe permita estar à vontade e falar livremente sobre os seus pontos de vista
B Percurso académico anterior à formação universitária
Auscultar razões da decisão por esta área de estudos. Conhecer o percurso académico do entrevistado.
Que razões o/a levaram a entrar na licenciatura em Ciências da Educação? Como foi o seu percurso escolar até à entrada na licenciatura em CE?
Razões da escolha CE Percurso escolar até à entrada na universidade
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C Licenciatura (de 5 anos ou mestrado e licenciatura de 3 anos)
Conhecer a opinião acerca da licenciatura/mestrado em Ciências da Educação Perceber de que forma é que os licenciados avaliam a formação que lhes foi dada na faculdade Obter elementos para a caracterização do estágio
Quais as expectativas que construiu no início do curso? Como evoluíram essas expectativas? Atualmente, como avalia a formação que lhe foi proporcionada durante a licenciatura/mestrado? Quais os pontos fortes? E quais os pontos fracos? Que aspetos não foram contemplados no curso e pensa que deveriam ser? Como tem tentado superar as lacunas da formação inicial? Que importância teve para si a escolha da área de especialização/mestrado? Qual o contributo do estágio no panorama geral da sua formação?
Processo de adaptação à faculdade Avaliação da formação dada pela faculdade Pontes fortes e fracos da licenciatura/mestrado Competências adquiridas na licenciatura/mestrado Relação teoria/prática Sugestões para alterações curriculares O que deve proporcionar a formação inicial/o que proporcionou Processo de decisão para escolher a área de pré-especialização, no caso dos licenciados de 5 anos e de mestrado no caso da formação atual Importância do estágio/avaliação Competências adquiridas durante o estágio
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D Integração no mercado de trabalho/ Profissão
Recolher informações que permitam identificar os espaços onde se desenvolve a ação do profissional de Educação e Formação Recolher informações que permitam identificar as áreas de intervenção do profissional em Educação e Formação/Ciências da Educação
Pode falar-nos um pouco do seu percurso profissional? Ao terminar o curso, quais as dificuldades que encontrou na inserção no mundo do trabalho? Qual o papel da faculdade/instituto na sua inserção profissional? Quais os locais onde tem trabalhado? Que tipo de funções tem exercido? Atualmente que funções desempenha e em que local? Quais as principais dificuldades com que se tem deparado? Como as ultrapassou? Como se sente enquanto profissional? Quais as suas perspetivas futuras enquanto profissional?
Caracterização do percurso profissional Balanço das dificuldades e formas de as ultrapassar Caraterização da área de intervenção Funções desempenhadas Obstáculos/dificuldades Satisfação profissional/opinião Competências aprendidas no mundo do trabalho sobre a profissão Local de trabalho /local de aprendizagem Expectativas sobre a profissão
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E Formação ao longo da vida
Conhecer os percursos de formação contínua Identificar linhas orientadoras dos projetos de formação
Após a sua formação inicial, que outro tipo de formação tem selecionado? Que razões o/a têm levado a optar pela formação? Que relação tem essa formação com a formação inicial? Que relação tem essa formação com as exigências do mercado de trabalho? Que expectativas tem de continuidade da sua formação?
Tentar apreender se existe um projeto de formação próprio e como ele se liga com a formação inicial e com as funções que o trabalhador desempenha
F Identidade /visibilidade
Reconhecer a imagem social dos profissionais em Educação e Formação Captar a existência de sentimentos de identificação com uma profissão Identificar a existência de organizações agregadoras dos profissionais em Educação e Formação
Em seu entender, como são vistos os dos profissionais em Educação e Formação/Ciências da Educação pela sociedade em geral? E pelos empregadores? E no seu local de trabalho? O que pensa da sua atividade profissional? Considera-se um(a) profissional em Educação e Formação? Porquê? Que poderá ser
Reconhecimento da formação superior especializada em Educação e Formação Identificação com uma profissão Visibilidade da formação em Educação e Formação/Ciências da Educação Como a promover Locais / funções possíveis Propostas de mudança Organizações académico-profissionais
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feito para que se passe à identificação com uma profissão? O que tem sido feito nesse sentido?
G Finalização da entrevista
Deseja acrescentar algum aspeto que não tenha sido contemplado nesta entrevista?
Agradecer a colaboração.
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Anexo VI – protocolo da entrevista.
Entrevista a: Uma licenciada em Ciências da Formação, pela faculdade de psicologia
e ciências da educação da Universidade de Lisboa.
Entrevistado (S) – Irene Santos.
Entrevistador (E) – Ana Rita Dias.
Entrevista nº1.
Data e hora: 18-12-2014; 18:30h.
Local: Espaço Fá.
Transcrição por:
Ana Rita Dias;
Bibiana Baptista;
Renata Batista;
Sónia Cruz.
Transcrito a: 19-12-2014.
Bloco 1
E - Ahm, queríamos começar primeiramente por conhecer um pouco do
seu recurso escolar até à entrada no curso.
S - O meu percurso escolar? (pausa) olha, foi bastante variado porque eu
comecei com o pré-escolar em França, e em Portugal, depois entrei na
primária em Portugal, na altura ainda se chamava primária, depois tive em
Moçambique, depois o resto foi cá em Portugal.
E - E que curso é que escolheu ahh, quando entrou para 10º ano?
S - O curso? Saúde.
E - Saúde? Uma área muito diferente da atual, portanto.
S - Aaa, não, era a área de ciências.
E - Ah ok.
S - Se calhar não se chamava ci, aaaa, assim.
31
E - Pronto, é que agora o curso de saúde é muito específico mesmo para
saúde, não tem muito a ver com ciências.
S - Pois na altura era mais, era desporto, letras, artes e saúde ou ciências
biológicas.
E - E com que intuito é que entrou para esse curso, já que era tão
abrangente?
S - Quer dizer, eu não era muito virada para a literatura (pausa) e gostava
muito da biologia.
E - Mais para as ciências, portanto.
S - Ainda, ainda gosto muito, era capaz de tirar biologia, botânica (pausa).
E - E que razões é que, posteriormente, quando terminou o 12º a levaram
aaa, escolher o curso de ciências da educação?
S - Olha, eu não sei porque eu não vou, não vos sei explicar isso. Mas eu
sei que eu queria trabalhar na área da educação mas que não fosse ser
professora. (pausa). Eu não vos sei dizer como é que cheguei a essa
conclusão mas eu lembro-me dee, de dizer isto.
E - E como a senhora anteriormente referiu que o curso era muito pouco
reconhecido, como é que teve acesso?
S - Também não vos sei dizer.
E - (Ri) Ok.
S - Eu na verdade, eu acho que foi a minha mãe que andou à procura.
(pausa) porque eu inventava assim umas coisas que eu queria e ela
depois andava à procura, ta/andava muito preocupada comigo e com o
que eu ia estudar.
32
E - A senhora não tinha bem a noção, então do que é que queria?
S - Pois eu lembro-me que um dia resolvi que queria ir estudar o
comportamento dos animais, porque eu gostava das ciências, não é?,
(entrevistador diz sim sim e ela prolongou a frase) mas que não queria ser
veterinária, então ela foi à procura. (pausa) depois lá descobriu, depois eu
já não queria aquilo. Enfim, coitada, eu acho que ela sofreu, foi muito
simpática comigo.
E - E resultou então em ciências da educação.
S - Eu acho que foi isso, foii, o que ela encontrou, não sei, porque eu não
me lembro de fazer um percurso de pesquisa, lembro-me de pensar sobre
o assunto e de dizer: não, eu não quero ser professora, mas quero
trabalhar na educação.
E - Também é uma das razões pelas quais as pessoas, hoje em dia,
entram no nosso curso, também é essa. Aaa e quais eram as expectativas
que a senhora tinha antes de ingressar no curso, expectativas em relação
à faculdade?
S - Uui, já lá vai, não sei.
E - Não tem assim uma pequena noção? (pausa)
E atualmente consegue avaliar (interrompida).
S - Não sei se vocês têm a noção de que já passaram 20 anos, mais de 20
anos, para mim. Eu sei lá o que é que o curso iria ser que encontrei.
E - Ee, mas lembra-se mais ou menos das disciplinas e das matérias
lecionadas?
S - Sim.
33
E - Pronto, então atualmente como é que avaliava essa formação, durante
a licenciatura, por exemplo os pontos fracos, os pontos fortes, o que é que
hoje, olhando para o plano curricular, melhoraria?
S - Eu lembro-me que na altura uma coisa que eu criticava era que tava
muito focado sobre a educação escolar (pausa) e (pausa) que eu queria
abordar outras formas, espaços de educação, outras, outras referências. E
era muito, de uma forma gera, era muito ou a escola ou a família, então,
circulava entre os dois polos. Mas eu queria pensar noutras estruturas.
E - Pronto, então a sua sugestão passava por abordar áreas que não
fossem tao específicas com a escola e com a família, certo? Não tem mais
nenhuma? (pausa 10s)
S - Depois, eu acho que já na altura que, eu acho que já na altura (pausa)
aaa (pausa). Eu acho que esse primeiro é o ponto central, em termos de
criticar, aaa, eu acho que já na altura eu achava uma coisa que eu acho
que hoje em dia tá mais grave, que é a relação com a prática. (pausa) Eu
acho que quem trabalha educação pode começar a trabalhar em educação
mesmo (pausa) sei lá, nós todos lidamos com crianças, com adultos, com
não sei o que, nós ensinamo-nos uns aos outros coisas e acho que nós
podemos e devemos (acentuação no “e devemos”) ir exercendo, e isso
alimenta-nos a nossa reflexão porque torna-nos o nosso projeto de estudo
muito mais rico.
E - Pronto, então a sugestão é passar mais da teoria para a prática,
portanto?
S - Aaa, sim, não quer dizer que seja diminuir a teoria (Rita diz sim sim
sim), eu acho que é muito importante a teoria, eu acho que ela fica
enriquecida se a prática também for aumentada.
E - Uma conjunção entre os dois.
Bloco 2
34
E - De seguida iremos passar mais para o seu mestrado. Qual foi a área
que escolheu para fazer o mestrado?
S - Eu fiz mestrado na área de formação de adultos, mas o meu tema
foram crianças. (pausa)
E - Aaa, como é que se deu esse processo de decisão, visto que a
senhora quando entrou para a licenciatura estava um pouco baralhada,
como é que escolheu a área do seu mestrado? Já tinha umas ideias mais
claras?
S - Eu não tava baralhada.
E - Pronto, não, tava um pouco confusa.
S - (Pausa) Aaa, quando entrei para o curso? Não. Não tava confusão nem
baralhada. Tava era com um campo aberto, tinha um tema e tava aberto.
Mas isso não tem a ver com (es)tar confusa. Eu gosto muito de estar com
o campo aberto. Eu quero aquela área e vou-me aproximar e depois aos
poucos eu é que lhe vou dar forma conforme aquilo que aparecer. Mas
aaa, depois em relação ao mestrado, o mestrado foi um bocado uma.
Juntou-se uma oportunidade com uma necessidade. Ou seja, euu, fuii,
depois de fazer o curso, eu fui trabalhar numa associação em… Num
bairro, um bairro na altura chamado Fontainha, ali nas Vendas Novas,
Portas de Benfica… Vocês conhecem? Já ouviram falar?
E - Eu não conheço, mas já ouvi falar.
S - As Fontainhas já não existem, é um bairro que foi….
E - Tinha uma quinta?
S - Como?
E - Não? A quinta das Fontainhas?
35
S - Não, (aaa), não, era nas Portas de Benfica, havia ali uns bairros que
tinham sido construídos por emigrantes cabo verdianos, sobretudo cabo
verdianos. Também havia guinienses. E eu fui trabalhar para uma
associação lá, pronto, e é uma situação que é muito diferente daquilo que
eu vivo no quotidiano e foi um grande desafio e ao mesmo tempo toda a
gente fala muito sobre isso, toda a gente tem opiniões, e dar-se por isso,
então as crianças não aprendem porque gostam, as crianças aprendem
por lá. Aquele bairro é assim, “o que eu acho é isto, o que eu acho é
aquilo”, a comunicação social fala muito e por exemplo, a comunicação
social fala muito de crimes e de não sei quê e tatata. E eu no meu
quotidiano não vi isso, pronto e é uma coisa um bocado confusa porque eu
trabalhava com os miúdos, trabalhava com as famílias, e… Não havia
problemas de aprendizagem prrr, assim por aí além. Havia algumas
situações de pobreza importante; algumas situações de precaridade de
vida importante, mas isso não tinha nada a ver com a capacidade de
aprendizagem. E sobretudo, percebi que o trabalho importante, o
investimento importante da nossa parte, fazia desabrochar assim os
miúdos, toc toc toc. Não sei se vocês trabalham com miúdos, mas a gente,
o ano letivo começa no Outono e a gente atravessa o Outono e o Inverno e
a gente vai passando (9.06) e agente, de repente os miúdos desabrocham,
assim. Parecem flores mesmo, e a gente vê todo o trabalho que tivemos a
fazer. Bom posto isto, passado algum tempo (aaa), tive a oportunidade de
trabalhar no projeto de investigação e, e portanto me aproximar da
faculdade. Na altura era a faculdade de psicologia e ciências da educação,
e portanto de ler coisas e fiquei com vontade de estudar, e ao mesmo
tempo o facto de tar ali proporcionou-me a possibilidade de estudar, e
portanto juntou-se um bocado das duas coisas: o de ter vontade de
perceber o que era a realidade que eu vivia e destacável daquilo que é o
ruído todo, toda a gente tem muita coisa a dizer.
E - Pronto, e a seguir ao mestrado, ou ainda durante este, fez um estágio.
Ou não?
S - Eu, quer dizer, foi um trabalho de campo, foi pesquisa.
E - E no que é que consistia esse trabalho?
36
S - O, foi de observação de… Fiz observação e fiz entrevistas a crianças
em dois bairros, fiz na Cova da Moura e fiz na Portela e portanto
acompanhei, acompanhei no fundo três turmas.
R - E pode dizer qual foi o contributo que essas experiências tiveram para
a sua formação geral, por assim dizer?
E - Imenso! Imenso porque permitiu-me construir o meu, a minha forma de
pensamento, uma espécie de esqueleto do meu pensamento. E perceber
como é que funcionava este tal crescimento das crianças, e distinguir,
conseguir separar-me deste, ruído todo da comunicação social.
R - Pronto, de seguida iremos focar-nos mais na sua entrada no mercado
de trabalho. Já referiu algumas experiências, mas quais eram as suas
expectativas em relação ao mundo do trabalho quando viu o seu curso
concluído?
S - Olha, a coisa aconteceu muito naturalmente. Ou seja, quando terminei
o curso nós tínhamos o estágio integrado dentro do, dentro do curso da
licenciatura, não é? E durante o estágio houve assim algumas atribulações
e portanto houve coisas que me correram bem, depois a gente entra em
drama ‘ai porque é que isto não corre bem? Porque não sei o quê e tal?
Será que vou conseguir? E às tantas conseguem.
E - As dúvidas normais.
S - E… E depois houve uma, houve uma parte do estágio que eu fiz,
portanto, com miúdos (aaa), desse bairro, nessa associação e eles aí
viram que eu trabalhava, que eu me dava bem com os miúdos, que eu
trabalhava bem com os miúdos. É que eu já tinha prática anterior, eu
sempre trabalhei com miúdos. Desde adolescente que eu sempre lidei
muito com, trabalhei muito com miúdos, nas férias, sem ser em férias,
trabalhava em colégios, e portanto eles viram que eu me dava bem com os
miúdos e viram que eu me dava bem com as famílias, que é aquela coisa
de (es)tar num bairro que era diferente, não, pronto, não me assustava.
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Que há pessoas que ficam assustadas, não é? E que eu me dava bem
com as famílias e portanto eles depois precisaram muito e chamaram-me.
E - E ficou ai quantos anos? Como é que foi o seu percurso profissional a
seguir a essa experiência até hoje?
S - Então eu tive lá com os miúdos durante três anos e depois ao fim
desses anos (aaa) por um lado esta associação desenvolveu um curso
para jovens destes bairros para trabalharem com crianças, portanto foi
dado formação sobre o desenvolvimento infantil e sobre o trabalho com
crianças e simultaneamente fui trabalhar num projeto de investigação. Isso
no fundo abriu uma nova etapa da minha vida que foi juntar vários
trabalhos ao mesmo tempo: trabalhar em formação (aaa) e trabalhar em
projetos, de intervenção e trabalhar também em investigação, foram assim
três áreas que eu fui juntando sempre. Como os nossos trabalhos, muitas
vezes, têm esta coisa da precaridade, ou seja, são trabalhos que a gente
ganha a recibos veeerdes e não sei quê, a gente vai ter que mexer-se, a
gente nunca tem aquele trabalho que é só um, a gente tem que se mexer,
temos que participar em encontros, temos que estar presentes,
estabelecer contactos com instituições etc, (pausa) e termos relação, uma
relação de trabalho com essas instituições para quando houver, quando
haver, quando houver trabalho nós podermos entrar, portanto propor
projetos etc, entããão.. Pronto, depois entretanto entrei a trabalhar na
Câmara de Cascais, num espaço chamado laboratório de aprendizagens,
(pausa) que infelizmente vai acabar eee.. (pausa) Trabalhei lá sete anos.
Lá havia toda uma dinâmica a desenvolver com professores: era um
espaço de encontro entre professores, educadores eee... (pausa). Mas
também com a comunidade e de fazer ligações entre o espaço, digamos
assim escolar, e o espaço não escolar, comunitário. (pausa) E então
desenvolvemos aí vários projetos, no qual um foi muito importante, porque
eu criei desde início e coordenei até 2013 foi um banco de tempo, que é..
Vocês já ouviram falar nos bancos de tempo?
E - Muito sinceramente não.
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S - Um banco de tempo é como se fosse uma associação (aaa) e é, é uma
chamada plataforma, digamos assim (aaa) em que as pessoas se
inscrevem, e a ideia é que as pessoas troquem serviços. Por exemplo, se
eu preciso de ajuda para … (pausa), sei lá.. Arrumar a minha estante dos
livros, eu peço ao banco de tempo uma pessoa que me ajude a fazer essa
tarefa e… (pausa), o banco do tempo vai me dar, fornecer essa pessoa e..
No fundo a ideia do banco é mesmo a ideia dos bancos, que têm dinheiro,
só que a gente em vez de ter dinheiro, tem tempo, e em vez de ser uma
coisa que acumula, que a gente quer ter muito, não. A ideia é ali é termos
tipo zero e portanto estarmos sempre a trocar, e portanto por exemplo, vai
uma pessoa a minha casa e teve a ajudar-me durante duas horas… Ou
três.. (pausa) E eu vou dar duas horas ou três a outra pessoa e não tem
que ser a esta que, que me ajudou. Porque se calhar, se calhar,
imaginemos que eu sei fazer napperons, mas se calhar a ela não lhe
interessa nada os meus napperons. A ela se calhar interessa-lhe aprender
a andar de patins (pausa), pronto. Então a ideia é que são trocas de
serviços, mas em que a moeda de troca é sempre o tempo. Então paga-se
em trocas individuais, podem ser trocas em grupo e eu, normalmente o
serviço que nós prestamos é dentro de uma área de uma coisa que a
gente conhece: eu sei falar inglês, eu sei tocar piano, eu sei pintar unhas,
eu sei.. (aaa) orientar-me na montanha, eu sei fazer surf, eu sei cozinhar,
eu sei (pausa) organizar viagens. Eu sei, sei lá, tudo o que a gente possa
imaginar. Pronto. Eu (es)tou a dizer isto porque efetivamente isto tornou-se
um espaço muito interessante de troca de saberes. E nós depois
conseguirmos estabelecer essa troca de saberes com as escolas e com
professores e portanto pôr pessoas que não tinham nada a ver com
educação, a trabalhar com as escolas. Entre elas.. E a formar professores!
Tivemos uma miúda de dezoito anos a ensinar professores a fazer
origamis. E então inverte-se a coisa, não é? E uma coisa que eu acho
muito interessante é que retira a ideia de hierarquia, não é? Que há uns
que sabem mais, outros que sabem menos… Que é muito aquilo que a
escola marca! A ideia ali… Eu espero que vocês encontrem no vosso
(pausa) no vosso percurso agora de formação, um pedagogo que é muito
importante, que se chama Ivan Illich. Ivan Illich trabalhou muito no México,
ele é europeu, já não me lembro de que país… Acho que era do… Do
México e não sei quê. E ele fez uma crítica feroz à escola, e a proposta
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dele era que o sistema público fosse um sistema (pausa) que organizasse,
no fundo, uma lista de pessoas e dos saberes que elas sabem, e portanto
quando alguém fosse aprender não tinha um professor, tinha vários
professores disponíveis. E portanto organizar espaços de trocas de
saberes. Pronto, e eu acho que o banco de tempo, que a gente, que se
desenvolveu ali, foi muito um banco de tempo com esta base de troca de
saberes. E portanto (pausa) com idades variadas. Tínhamos um miúdo
com doze anos que jogava xadrez com um senhor mais velho e temos
muita gente nova a ensinar informática aos mais velhos; temos os mais
velhos a ensinarem, por exemplo a tricotar, aos mais novos, ou o ciclo da
lã… Havia assim uma série de coisas. Pronto e…
E - E atualmente?
S - Atualmente (es)tou assim num período de transição.
Atualmente olhem em 2013 fiz a tradução de um livro de port...francês para
português com uma senhora velhota (pausa) ahhhh estou atualmente a
fazer um levantamento do património de Lisboa de arquitetura entre o
século XIX e o século XX, início do século XX (pausa) eee estou prestes a
ir passar uma temporada em França trabalhar num centro (pausa) de
urbanismo, eee que é um centro, um espaço de encontro, de debate etc. e
pronto que é muito feito por arquitetos (pausa) e os arquitetos têm uma
visão muito especial da coisa porque a cidade é feita por nós, é um
conceito muito bonito que se chama cidade educativa (pausa) que é de um
pedagogo importante também que é o Paulo Freire, diz que no fundo nós
vivemos em conjunto (pausa) e a ideia de cidade é menos a ideia de
cidade de Lisboa, do Porto ou não sei que mas é a cidade de vida em
conjunto e nós fazemos coisas e quando a gente faz coisas, a gente
aprende e o que nós e o que nós aprendemos faz-nos pensar para quando
formos fazer a seguir já repensamos como é que vamos fazer a cidade, a
vida em conjunto portanto e ali é muito a ideia deee (pausa) trabalhar este
espaço de debate sobre a cidade, sobre o urbanismo (pausa) fazendo
ligação à comunidade portanto ter uma perspetiva mais de interação, mais
pedagógica com as escolas também mais participativa (pausa).
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E - E quais são as dificuldades que têm encontrado agora nesta fase atual
da sua vida, visto que ta ainda numa fase de transição, como referiu
anteriormente?
S - Bem, há duas coisas neste momento que é (pausa) as áreas, esta área
que é muito social (pausa) projetos de intervenção (pausa) em áreas
vulneráveis ah são muitos projetos que são financiados pela comunidade
europeia (pausa) e a comunidade europeia tem aquilo a que se chama o
QREN, quadro comunitário e não sei que que define os financiamentos e
os programas para períodos de quatro anos (pausa) cada vez que passem
quatro anos ficamos a espera do que vai acontecer a seguir e portanto há
ali um período de interrogação que não sabemos o que vai acontecer a
seguir (pausa), há um período sem financiamento portanto é um período
assim meio complicado, (pausa) para todos nós que trabalhamos nestas
áreas (pausa) é uma área sempre difícil porque há projetos que terminam
e depois não se sabe quando vão começar (pausa) as instituições também
associações etc. (pausa) ahh que também trabalham muito à base destes
projetos financiados pela comunidade europeia têm o mesmo problema, e
depois temos em Portugal, temos esta coisa particular que é a área social
de intervenção que é muito cortada pelos financiamentos (pausa)
E - Essa é então a sua maior preocupação? (pausa)
S - Ahhhh, (pausa), sim, quer dizer trabalho não falta (pausa), falta é
dinheiro, são duas coisas distintas (pausa) pronto eu acho que é preciso
aprender a viver com pouco (pausa) são de facto coisas distintas, eu acho
que a gente tem de pensar no que é que nos faz feliz (pausa) porque
trabalho à muito, à imensa coisa para fazer no mundo, coisas muito
interessantes (pausa) e pronto o que é preciso é ir encontrando essas
coisas (pausa) e fazendo.
E - Então, a senhora atualmente sente-se realizada como profissional?
S - Quer dizer, eu neste momento não (es)tou a receber dinheiro (pausa),
eu neste momento (es)tou desempregada, o trabalho que (es)tou a fazer é
voluntário (pausa) ahhh é voluntário porque é uma causa que gosto, eu
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gosto de Lisboa, neste momento este levantamento do património (pausa)
e esta relação com o urbanismo em França, não tem nada haver (pausa)
foram coisas muito distintas, embora eu aproximei-me deles porque é uma
área de interesse minha (pausa) e portanto é a tal coisa a gente acha as
coisas não é por acaso porque nós temos áreas de intervenção. (pausa)
E - E durante essa formação, qual é que acha que foi o papel do instituto?
(pausa). No sentido que contribui para a sua presença lá? (pausa)
S - Quer dizer, o cursoo, o meu curso foram fundamental algumas
pessoas, pessoas (pausa) ahhh e pessoas quee criaram (pausa) ahhh
pessoas que desenvolveram muito algumas áreas e quee (pausa)
desenvolveram áreas e que ensinaram dentro dessas áreas quee vocês
tem por exemplo: história da Educação, têm a área das organizações,
formação de adultos etc., e elas foram (pausa) e elas são lideradas, têm
algumas pessoas que são presenças chaves (pausa) que têm uma maior
intervenção própria mais do que eu concordar ou não, é pensar quee nós
existimos e a nossa formação atravessa a formação delas (pausa) portanto
elas desenvolvem um trabalho, ensinam esse trabalho e depois não quer
dizer que a gente siga tudo aquilo que elas dizem, mas o facto de elas
levarem a cabo coisas que elas acreditam, eu acho que isso é o mais
importante. (pausa)
E - E quais, pronto, já falou que tinha ideia de agora ir passar uma
temporada para França certo?
Quais e que são, as suas expectativas futuras? As metas que ainda
pretende alcançar a nível profissional?
S - (pausa) Olha eu gosto da ideia de manter várias áreas em simultâneo,
várias áreas de trabalho (pausa) eu acho muito importante estar ligada a
grupos de reflexão (pausa), pessoas que se encontram, uma vez por
semana, uma vez por mês, mínimo uma vez por mês, o que seja para ler
coisas, pra apresentar trabalhos, discutir o que fazem, eu acho que isso é
muito importante (pausa) eee eu gosto de estar ligada a universidade
também por causa disso (pausa) eee portanto as minhas expectativas e
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puder manter estas três coisas que é: intervenção, formação, investigação
(pausa).
Bloco 3
E - De seguida, iremos tentar perceber, um pouco o seu parecer sobre os
profissionais da Educação?
Por exemplo, no seu entender o que acha que os profissionais da
Educação e Formação, antigas ciências da Educação são vistos pelas
sociedade em geral? (pausa). Na sociedade em geral ou nos trabalhos que
já executou?
S - Essa para mim, não é uma questão, eu não penso nisso (pausa)
hmmmm (pausa) quer dizer isso faz-se na base do trabalho que a gente
faz e que a gente sente, apresenta como é que a gente consegue entrar
em relação com os outros em termos de trabalho (pausa) eu não penso
nessa categoria “ciências da educação” (pausa) quer dizer eu sempre
trabalhei muito com pessoas da sociologia, da psicologia (pausa) agora
vou trabalhar com arquitetos e urbanistas e (es)tou feliz por essa mistura,
sei que começam a dizer ah não sei quê a educação nho nho, mas sei lá
eu também tenho as minhas reservas em relação à psicólogos e não sei
que e ainda bem que eu sou das ciências da Educação, mas também não
entro nessa conversa de discutir, vocês e nós, eu não identifico essa
fronteira (pausa) gosto muito de psicologia e sociologia (pausa) sempre
estudei muito psicologia, sempre estudei muito psic...ah sociologia agora
(es)tou a começar urbanismo (pausa), portanto não existe fronteira
(pausa).
E - Pronto, e era isto. Mais uma vez obrigada pela colaboração.
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Anexo VII – Quadros de análise.
“O meu percurso escolar? Foi bastante variado porque eu comecei com o pré-escolar em França, e em Portugal, depois entrei na primária em Portugal, na altura ainda se chamava primária, depois tive em Moçambique, depois o resto foi cá em Portugal.”
Nasceu em França, onde fez o pré-escolar, regressando a Portugal para ingressar na escola primária. Durante o percurso até ao 9º ano, ainda passou uma temporada em Moçambique.
“O curso? Saúde” “Quer dizer, eu não era muito virada para a literatura e gostava muito da biologia.”
Escolheu o curso de saúde que corresponde atualmente ao curso de Ciências e Tecnologias, baseando-se na sua falta de interesse em literatura e no seu gosto por biologia.
“Eu na verdade, eu acho que foi a minha mãe que andou à procura.” “Tava era com um campo aberto, tinha um tema e tava aberto.”
Posteriormente, no 12º ingressou no curso de Ciências da Educação, recorrendo à ajuda da mãe e mantendo sempre um leque de opções em aberto.
“Eu lembro-me que na altura uma coisa que eu criticava era que tava muito focado sobre a educação escolar” “Eu acho que já na altura eu achava uma coisa que eu acho que hoje em dia tá mais grave, que é a relação com a prática.”
A entrevistada critica o facto do curso, na altura, ser muito direcionado para a educação escolar, não explorando outro espaços de educação. E critica igualmente o facto de não existir uma relação entre a teoria e a prática.
“Eu fiz mestrado na área de formação de adultos, mas o meu tema foram crianças.”
No mestrado, a sua área foi a formação de adultos. No entanto, deixou muito claro que sempre trabalhou com crianças.
“Ou seja, euu, fuii, depois de fazer o curso, eu fui trabalhar numa associação em… Num bairro, um bairro na altura chamado Fontainha,” “E eu fui trabalhar para uma associação lá, pronto, e é uma situação que é muito diferente daquilo que eu vivo no quotidiano.”
O seu primeiro trabalho foi em Benfica, no Bairro das Fontainhas, com crianças. Aqui, a entrevistada teve contacto com uma realidade diferente e mais pobre do que aquela que estava habituada.
“E sobretudo, percebi que o trabalho importante, o investimento importante da nossa parte, fazia desabrochar assim os miúdos, toc toc toc (…) Parecem flores mesmo, e a gente vê todo o trabalho que tivemos a fazer.”
Ao longo dos vários trabalhos que foi fazendo, uma das aprendizagens mais importantes que adquiriu foi o facto do investimento e entusiasmo demonstrado, é sempre retribuído.
“Fiz observação e fiz entrevistas a crianças em dois bairros, fiz na Cova da Moura e fiz na Portela”.
Mais tarde, começou a trabalhar no projeto de investigação, acompanhando um grupo de crianças na Cova da Moura e na Portela.
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“Então eu tive lá com os miúdos durante três anos” “trabalhar em formação (aaa) e trabalhar em projetos, de intervenção e trabalhar também em investigação, foram assim três áreas que eu fui juntando sempre”.
De seguida, conseguiu emprego numa associação, onde permaneceu 3 anos, evolvendo-se simultaneamente em investigação e projetos.
“Pronto, depois entretanto entrei a trabalhar na Câmara de Cascais, num espaço chamado laboratório de aprendizagens (…) Trabalhei lá sete anos.”
Após esses três anos começou a trabalhas na Câmara de Cascais, no laboratório da aprendizagem, onde permaneceu durante sete anos.
“Vocês já ouviram falar nos bancos de tempo?”
Ainda n Câmara de Cascais, envolveu-se num projeto que ainda hoje faz parte da sua vida, o Banco do Tempo.
“em 2013 fiz a tradução de um livro de port...francês para português com uma senhora velhota (pausa) ahhhh estou atualmente a fazer um levantamento do património de Lisboa de arquitetura”.
Hoje está desempregada, mas participa em vários projetos voluntários, nomeadamente a tradução de um livro de francês para português e o levantamento do património de Lisboa.
“estou prestes a ir passar uma temporada em França trabalhar num centro (pausa) de urbanismo”
Face à sua situação de falta de emprego, irá para França em breve, trabalhar num centro de urbanismo.
“e depois temos em Portugal, temos esta coisa particular que é a área social de intervenção que é muito cortada pelos financiamentos”
A entrevistada não parte para França sem antes deixar uma crítica ao governo português: o facto dos projetos sociais serem alvo de pouco investimento e financiamento.
“Quer dizer, o cursoo, o meu curso foram fundamental algumas pessoas (…) tem algumas pessoas que são presenças chaves.” “é pensar quee nós existimos e a nossa formação atravessa a formação delas”.
Ainda sobre o curso, em tom de conclusão a entrevistada afirma que o Instituto contribuiu imenso para todo este percurso, nomeadamente as pessoas com as quais se cruzou, que permitiram desenvolver algumas das suas ideologias.
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Anexo VIII – tabela de análise por blocos.
Blocos Objetivos que ficaram por contemplar
Objetivos com pouca informação
Exemplos de perguntas
A Legitimação da entrevista
-Todos os objetivos foram cumpridos
-Existiu muita informação
-Não existem exemplos de perguntas
B Percurso académico anterior à formação universitária
-Poderia ter existido um conhecimento mais aprofundado à cerca do percurso académico
-O percurso poderia ter sido um pouco mais explorado
-Com que idade foi para Moçambique? -Quando regressou?
C Licenciatura (5 anos ou mestrado e licenciatura de 3 anos)
-Poderia ter sido percebido a situação da entrevistada relativamente ao estágio
- O estágio feito pela entrevistada tinha poucos elementos de caracterização
-Pode falar-nos um pouco mais do seu estágio?
D Integração no mercado de trabalho/ profissão
-A recolha de informações à cerca das várias áreas/saídas profissionais que o curso permite explorar ficou por contemplar melhor
-Os trabalhos que a entrevistada realizou ao longo do seu percurso tinham informação confusa
-Que outras saídas profissionais teve em mente durante o curso?
E Formação ao longo da vida
-Todos os objetivos foram cumpridos
-Existiu muita informação
-Não existem exemplos de perguntas
F Identidade/Visibilidade
-Não existiu a captação de sentimentos de identificação como uma profissional de educação; -Não foi feita referência a organizações agregadoras dos profissionais de
-Poderia ter sido explorado a forma como a entrevistada se sente enquanto profissionais de educação, e a sua visão relativamente aos mesmos, e não apenas a visão
-Como se sente enquanto profissional da educação? -Tem conhecimento de alguma organização agregadora de profissionais de
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educação dos outros/sociedade.
educação?
G Finalização da entrevista
-Não foi contemplado o objetivo de procurar saber se a entrevistada tinha algo a acrescentar
-Deseja acrescentar algum aspeto que não tenha sido contemplado nesta entrevista?
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ALVES, N. (2000). Trajetórias Académicas e de Inserção Profissional dos Licenciados.
1994-1998. Lisboa: Reitoria da Universidade de Lisboa;
ALVES, N. (2005). Trajetórias Académicas e de Inserção Profissional dos Licenciados.
1999-2003. Lisboa: Reitoria da Universidade de Lisboa;
AMADO, J. & FERREIRA, S. (2013) III – I. A entrevista na investigação educacional. In
J. Amado & S. Ferreira Manual de investigação qualitativa em educação (pp. 207-221).
Coimbra: Imprensa da universidade de Coimbra;
MAGALHÃES, A. & STOER, R. (2002). A escola para todos e a excelência académica.
Porto: Profedições.