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    Revista Hmus - ISSN: 2236-4358 Jan/Fev/Mar/Abr 2014. N 10

    AS TCNICAS XAMANICAS E O CASO DE XAMANISMODE TIA NEIVA NO VALE DO AMANHECER.

    Cleiton Machado Maia1

    RESUMO: Consiste em trabalhar o fenmeno do xamnismo e suas tcnicas no Valedo Amanhecer em Braslia, buscando incluir a religio ali formada no quadro de novosmovimentos religiosos brasileiros, como religio de caractersticas nova era esincrtica. O xamnismo na sua complexa forma, unindo todas as caractersticasexistentes como smbolos, cores, ritos, canto, objetos sagrados, viagem, curas e outrascaractersticas mais que esto presentes nesse complexo sistema religioso. O caso deTia Neiva como lder fundadora e xam da comunidade iniciada em meados dos anosde 1960. As experincias vividas pela herona e protagonista da formao da doutrina,seus anseios como mdium, mulher e cidad que acabaram por caracterizar a formadoutrinaria do Vale. E a peculiaridade do Templo Mo em Braslia que o nico capazde suportar e abranger todas as formas ritualsticas da to emblemtica figura de TiaNeiva, apesar da presena de mais de cinco mil templos espalhados no Brasil e mais de350 espalhados no restante do mundo. Sem contar com os vinte e oito mil mdiunsiniciados na doutrina existentes s em Planaltina, considerando que mais de milconviveram e vivenciaram as histrias de Neiva.

    Palavras-chaves: Xamnismo, Xam, Tia Neiva, Vale do Amanhecer, NovosMovimentos Religiosos.

    ABSTRACT:It consists of working the phenomenon of shamanism and its techniquesin the Valley of Dawn in Brasilia, trying to include religion there formed underBrazilian new religious movements, as a religion of new features and was syncretistic.Shamanism in its complex form , uniting all existing features such as symbols , colors ,rituals , singing, sacred objects , travel , cures and other features that are present inmore complex religious system. The case of Tia Neiva as the founding leader andshaman community started in the mid 1960s. 's Lived experiences of the protagonistand heroine of the formation of doctrine, their longings as a medium, and citizenwoman who eventually characterize the doctrinal form of the Vale. And the peculiarityof the Hand Temple in Brasilia that is uniquely capable of supporting and cover allforms of ritual so emblematic figure of Tia Neiva , despite the presence of more thanfive thousand temples spread in Brazil and more than 350 around the rest of the world .Not counting the twenty-eight thousand mediums started in existing doctrine only inPlanaltina, whereas more experienced and lived a thousand stories of Neiva.

    Keywords: shamanism , shaman , Tia Neiva , Sunrise Valley , New ReligiousMovements .

    INTRODUO: O PROCESSO HISTRICO DE FORMAO DO VALEDO AMANHECER

    1 Prof. Msc. (Doutorando) - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro E-mail:[email protected]

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    Entender a formao do Vale do Amanhecer importante para destacar a

    histria da comunidade, de sua lder fundadora, como tambm alguns aspectos

    relevantes para esse trabalho. A vida religiosa do Vale do Amanhecer vai ser

    iniciada muito antes de sua fundao em Braslia, assim como o incio da vida

    espiritual da fundadora. Com o nome de batismo Neiva Chaves Zelaya, a futura

    fundadora do Vale, nasceu em Propri, pequena cidade de Sergipe em

    30/10/1925. Devota fervorosa do catolicismo criou sua famlia dentro da

    religio, onde se casou e batizou quatro filhos: Raul, Gilberto, Carmem Lcia,

    Oscar e Vera Lucia. Ficou viva bem cedo e teve que comear a trabalhar para

    sustentar sua famlia, tornando-se a primeira caminhoneira licenciada do

    Brasili, isso com apenas o primrio completo.No ano de 1957, comeou a manifestar suas primeiras experincias

    medinicas, onde, segundo estudos, recebeu do mundo etreo a mensagem

    crist de Jesus para o terceiro milnio, sendo assim escolhida por Pai Seta

    Brancaentidade maior do Vale do Amanhecer para essa misso. Como era

    catlica fervorosa, demorou a entender e aceitar a misso para qual tinha sido

    escolhida. Neste momento preciso destacar a figura de Dona Nenm, que teria

    ajudado-a a conhecer e desenvolver sua mediunidade. Muitos devotos do Valedestacam a no confirmao da pessoa fsica de Dona Nenm, o que sustenta a

    sua figura como uma entidade que ajudou Tia Neiva a formar o que seria um dia

    a doutrina do Vale do Amanhecer e sua vida medinicaii.

    Percebendo as boas oportunidades de emprego na construo de Braslia

    nos anos de 1905, muda-se para Alxania, em Goinia, e funda em 1959 a Unio

    Espiritualista Seta Branca (UESB). Segundo Tia Neiva, era uma emergncia

    espiritual, que iria ajudar os pacientes com dificuldades espirituais. Por ordens

    astrais, mudou-se para a Serra do Ouro que se localiza no quilmetro 73 da

    rodovia Braslia Anpolis, onde continuaram os trabalhos, mantendo a

    serralheria, a fbrica de farinha e fundando um orfanato, uma farmcia, uma

    plantao de amendoim e uma penso para os pacientes de curas espirituais e

    fsicasiii. Assim, no ano de 1964, a histria do Vale do Amanhecer comea a se

    formar de maneira mais concreta. Tia Neiva se separa definitivamente de Dona

    Nenm - nunca mais tendo contato e nem a encontrando fundando sozinha

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    em Taguatinga um galpo para seus atendimentos de clarividncia e cultos.

    Nessa poca, conhece Mario Sassi, aquele que seria seu brao direito na

    formao da doutrina e futuras estruturas do Vale do Amanhecer. Mario Sassi,

    que era paulista e trabalhava como assessor de Relaes Pblicas na

    Universidade Federal de Braslia (UnB) abandonou tudo para engatar no

    trabalho como mdium e auxiliar de Tia Neiva no Vale, sendo o grande

    responsvel por registrar a obra de Neiva em filmagens, fitas e livros,

    permanecendo no Vale enquanto Neiva esteve viva.

    Em 1969, depois de quatro anos em Taguatinga, Tia Neiva perde o direito

    de posse na terra em que viviam e comea a procurar local para uma nova

    instalao onde acham um terreno a seis quilmetros de Planaltina, fixando-seali, onde est localizada at hoje. Segundo Mestre Sebastio iv, no momento que

    Neiva e demais mdiuns passaram pelo local, Pai Seta Branca teria dito a ela

    que aquele era o local escolhido para a construo da primeira cidade

    medinica (grifo meu). Nos anos seguintes comearam a ser construdos os

    templos e locais de trabalhos, onde em 1971 iniciou-se a construo da Casa

    Grande; local de moradia de Tia Neiva, seus filhos e seu companheiro Mario

    Sassi (destaco a Casa Grande no s como local de moradia, mas sim como umtemplo tambm, j que nele existiam trabalhos e algumas experincias

    medinicas da clarividente que sero de grande importncia para nossa anlise

    do xamanismo de Tia Neiva) e o novo orfanato.

    No ano da morte de Tia Neiva, em 1985, o vale j estava com sua

    estrutura fsica totalmente completa e sua doutrina estruturada e organizada em

    cargos hierrquicos numa srie de rituais complexos, onde Tia Neiva levou em

    conta o crescimento em nmero de adeptos, onde cada mdium passou a ter sua

    ordem religiosa hierrquica e medinica at hoje. Aps sua morte, os mdiuns

    que haviam sido escolhidos por Neiva tomaram a liderana e continuao dos

    ensinamentos e doutrina da fundadora. Segundo mestre Wernerv no existe

    atualmente um lder carismtico, ou com carisma o suficiente para convocar um

    trabalho de propores iguais ao da tia Neiva. Um dos grandes incmodos dos

    mdiuns do Vale do Amanhecer nesse momento a falta de um lder que se

    responsabilize pelos trabalhos.

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    ENQUADRAMENTO DENTRO DOS NOVOS MOVIMENTOSRELIGIOSOS BRASILEIROS (N.M.R. Br.)

    Todos os grupos religiosos so novos frente s correntes religiosas ditas

    tradicionais grupo religioso formal - que se estabeleceram no Brasil. Podemos

    incluir neste grupo aquelas religies que apresentam tcnicas de dimenso

    espiritual diferente ou que busquem divergncia com os grupos religiosos

    tradicionais. Seriam estas as religies encontradas no terceiro grupo, distintas

    em relao ao catolicismo e ao protestantismo. Apesar de, desde o incio do

    sculo XX, haver uma frequente mudana nesse terceiro grupo no Brasil, no

    chegou a ocorrer uma perda dos antigos grupos, mas sim um surgimento denovos movimentos. As antigas religies do terceiro grupo continuaram

    inalteradas, recebendo novas religies junto delas. Uma das grandes

    dificuldades para se estabelecer e entender esse surgimento de novos grupos

    religiosos o dualismo, dupla definio ou religiosidades ocultas. Esses

    fenmenos acontecem muito por medo que um grupo tem de assumir uma nova

    religio ou at mesmo quando uma dessas novas religies no exige de seus

    adeptos que a assumam como religio ou como nica religio.Nos Estados Unidos e na Europa esse tipo de interesse pelos novos

    movimentos religiosos j tem um grande espao na rea cientifica como a

    CESNUR (Centro de Estudos Sobre Novas Religies); que vem tentando

    encontrar os limites, fronteiras e diferenas entre esses movimentos, gerando

    assim uma diversidade de trabalhos que definem um corte para as novas

    religies das religies tradicionais, j que essas novas religies seriam de forma

    pejorativa uma afronta as antigas religies que estavam responsveis pelas

    normas de tica e moral.

    Existem varias controvrsias em relao ao titulo de movimentos

    religiosos, pois varias organizaes includas nesse rtulo no se auto - definem

    seguidores de princpios espirituais ou rejeitam a organizao formal

    normalmente associada religio. Seriam seguidores de princpios filosficos;

    alm do problema de nomear uma revitalizao ou adaptao de um movimento

    religioso tradicional, como acontece com o hindusmo e o islamismo desde o

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    final do sculo XVIII, como novo movimento. Seria muito vago e generalizador,

    servindo como um grande guarda-chuva que acolheria todas as religies

    ambiguidade de metforas - que se distanciam das tradicionais (Amaral,

    2000:191).

    No Brasil ainda se tem a singularidade das religies como a Umbanda e o

    Kardecismo, que so do sculo XX, mas esto enraizadas na nossa cultura e

    sociedade, onde dificilmente seriam nomeadas como algo diferente de

    tradicional, dentro dos nossos parmetros sociais e culturais, considerando o

    processo de formao da nossa identidade histrica como naovi. Deparamo-

    nos ento com a existncia de duas grandes tendncias: em primeiro lugar as

    fundamentalistas e separatistas, com forte influencia do que Weber (1974:187)chamou de via tica, procurando resposta aos erros encontrados na sociedade

    atravs de uma forte conduta tica. E a outra, no menos importante, so os

    grupos voltados para o relativismo e as buscas individuais (religiosidades

    paralelas e no institucionais), onde ganha destaque a autonomia do sujeito,

    constelao dos autos, autoconhecimentoe elevao espiritual.

    Mostra-se como relevante, a salvao do individuo de forma mstica

    (1974:187), sem a separao do corpo e esprito, mas sim uma evoluo e bemestar de ambos com um bem estar geral, viabilizando a religio atravs

    determos cientficos e fazendo referencia as religies tradicionais, e um passado

    distante, o que permite maior aceitao de diversos grupos sociaisvii. Sendo

    assim, podemos entender que o Vale do Amanhecer se encaixa no modelo

    histrico de N.M.R. com seu surgimento iniciando-se por meados da dcada de

    60, alm de ter em seu discurso, essa busca de autoconhecimento e evoluodo

    individuo, como caractersticas de orientalismo.

    O QUE XAMANISMO

    O xamanismo esteve negativamente associado figura do feiticeiro ou

    sacerdote de uma tribo ou comunidade, prtica antiga da humanidade segundo

    o antroplogo Paul Devereaux (1993:19). Segundo esse autor, a prtica surgiu

    junto ao universo mgico - espiritual do animismo, mentalidade religiosa

    associada aos caadores, nmades e coletores do paleoltico e mesoltico que

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    percebiam a natureza sobre um vis antropomorfizante, e tambm do

    totemismo que teria evoludo do animismo onde via uma espcie de animal ou

    ser natural como sagrada e a relacionava a um cl particular, em alguns casos

    crendo ser um ancestral em comum. Detectados em diversos lugares e culturas

    do mundo, levou a autores como M. Eliade (2002:16) a crer que (os xamsviii)

    surgiram em perodos concomitantes, correspondendo a uma necessidade

    arquetpica do ser humano as prticas xamnicas, estendendo arqutipo ao

    sentido junguiano, como elemento estrutural do consciente coletivo. Outra

    explicao encontrada e bem aceita a de transmisso por contatos culturais

    das civilizaes antigas por meio de migrao, essa ideia defendida por C.

    Guinsburg (1991:13) em seu livro Histrias noturnas do Sab: decifrando oSab. No caso de Walsh (1993:20-22) a entrada no EAC - estado alterado de

    conscincia - em beneficio da comunidade que define o xtase xamnico, pois

    este tem como diferencial primordial o vo da alma em viagem a outros

    mundos.

    Em todos os autores que citarei, o EAC - estado alterado de conscincia-

    fator necessrio e essencial para um xam. Pois isso ir contribuir para a

    mstica e complexa segunda realidadeou clarividncia, isso por meio de umasoma de ritos, smbolos, crenas e a prpria manifestao do xtase. Essa

    segunda realidade seria uma superao da primeira realidade,que nada mais

    que o nvel biolgico e real, de onde todos tm total conhecimento. A obteno

    do xtase xamnico se d por meio de um combinado, no obrigatrio de

    elementos como: o desgaste fsico, o consumo de alucingenos, as tcnicas de

    concentrao, o canto, a dana e outros mais. Assim ele atinge o xtase que o

    possibilita atender a sua comunidade em sees de cura, falar com espritos,

    viajar a outros mundos e planetas. Esse xtase tem que ser aceito pelos adeptos

    da comunidade para que assim o xam seja respeitado, assim os demais tm que

    participar pelo menos um pouco dessa atmosfera ldica e dramtica das sees

    xamnicas, onde sons, figurinos, cheiros e cores proporcionam uma sensao de

    vertigem e o teatro atinge a sua funo de fazer os adeptos sentirem ao menos

    um percentual mnimo dessa viagem, onde no Vale podemos perceber esses

    elementos bem claramente.

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    O PERCURSO DO XAM E HERO

    Campbell (1996:103) em seu livro O heri de mil faces, faz uma

    comparao entre o xam e o heri, assim como Walsh (1993:33), dizendo que

    os xams so os heris da humanidade, pessoas que triunfam e ultrapassam a

    natureza humana.

    So os guerreiros, regentes, curandeiros, santos e sbios que seinspiraram protegeram, serviram e iluminaram, e cujas vidasfuncionam como monumentos em homenagem ao potencialainda desconhecido de cada um de ns. Suas vidas foramimortalizadas em mitos, lendas e biografias. Os mortais comunspensam a respeitos deles e espantam-se com suas faanhas,veneram-nos e at mesmo idolatram-nos e, muitas vezes,acreditam que devem ser mais do que somente humanos,mesmo quando os prprios heris afirmam que no (WLASH,

    1993:33).

    Nesse caso a partida e o rito de separao se equivalem, pois a iniciao

    do heri normalmente ocorre quando ele se distancia do mundo para um lugar

    afastado onde s tem contato com seu mestre e o mundo sobrenatural, da o rito

    de marginalidade. E por ultimo o retorno que est diretamente ligado ao rito de

    agregao, tempo onde o heri consagrado volta para a sua comunidade

    trazendo benefcios e conhecimento para ela. Eliade (2002:154) em sua

    consagrada obra O xamnismo e as tcnicas arcaicas do xtase, apresenta as

    trs fases expostas acima e caracteriza alguns tpicos existentes na generalidade

    das tcnicas xamnicas. Segundo ele antes da partida do xam ele tem que

    passar por uma fase chamada recrutamento, onde por meio de sonhos

    iniciticos ou doenas inexplicveis, o xam recrutado e percebe sua

    excentricidade. A partir deste momento, ele entra na fase conhecida como

    partida onde se marginalizar da sua comunidade e viver com seu chefe

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    espiritual e os espritos. Nesta etapa, sua iniciao comea a ocorrer, com a

    obteno de seus poderes xamnicos, seus smbolos, indumentrias, curas

    mgicas e principalmente o que Eliade (2002:184) chama de ascenses celestes

    e descida ao inferno; onde o xam faz o pacto com as divindades celestes e do

    inferno, impondo limites e mostrando-se como um dominador dos poderes

    mgicos, um ser sagrado e controlador do sagrado. Seria o momento nico e

    mximo da iniciao do xam; terminando aqui seu treinamento.

    Ao final deste percurso, o xam pode fazer o seu retorno, para a sua

    comunidade, sendo ele agora o manipulador do sagrado, o lder que faz a ligao

    entre o mundo etreo e o fsico. Com sua volta, inicia-se uma fase que tem seu

    apoio, mas no promovida somente por ele, onde a comunidade,reconhecendo sua volta, comea a admir-lo e formar em torno dele a

    cosmologia do xam, a doutrina religiosa, os smbolos, os mitos e os ritos

    paralelos.

    A PARTIDA DO XAM

    Assim como o heri, o xam se diferencia dos homens normais pela

    forma de recrutamento que tem caractersticas nicas e especificas.Normalmente os mtodos de seleo so feitos de forma hereditria, por

    vocao espontnea, auto eleio ou escolha pelo cl (comunidade). Esse

    escolhido entra em uma crise iniciticaonde o xam entra em desequilbrio e

    chega a perder sua identidade, mas essa crise e sofrimento so necessrios como

    uma condio para o heri e xam. Atravs dessa crise, sofrimento e dor ele

    sobe de status, adquirindo o nvel de sagrado, a consagrao que o leva a

    segunda realidade. Tia Neiva teve as primeiras experincias com apario deespritos numa fase de normalidade em sua vida, e ela sofreu para aceitar essa

    nova misso:

    Minha vida seguia o curso normal de uma mulher viva aos 32anos, quando comearam os primeiros fenmenos de minhaclarividncia. Comeavam tambm as indecises, e tudo quehavia planejado em toda a minha vida se transformava semque eu percebesse, sentia apenas que tudo mudava (...). Foi o

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    mais terrvel martrio, pela brusca transformao de toda aminha vida. Meus filhos, Gilberto. Raul, Oscar, Carmen Lucia eVera Lucia estavam na critica idade de estudos edesenvolvimento. Renunciei a tudo porque somente uma lei

    passou a existir: O DOUTRINADOR!(ALVARES, 1991:34.).

    A INICIAO DO XAM

    Aps a efetivao no cargo, o xam/heri passa a receber instrues, as

    quais lhe sero teis na compreenso da cosmologia e atuao do mundo do

    sagrado e do profano. Com um mestre que lhe designado, aprende a teoria e a

    prtica dos mitos, a estruturao do universo, os rituais e as tcnicas de xtase.

    D-se assim, a sua iniciao. Detentor do poder da cura e conhecedor de umapossvel linguagem secreta, proferida durante os rituais, o xam, atravs da

    induo dos EAC seria, sobretudo capaz de viajar pelos diversos planos astrais,

    de se comunicar e de dominar espritos. Estes, por sua vez, podem aparecer em

    sonhos, devaneios ou vises. Por esta razo, grande parte do treinamento

    xamnico consiste em cultivar os EAC como forma de entrar no mesmo plano

    vibracional do esprito para buscar auxlio ou obter conhecimentos.

    Constata-se, desta forma, a funo mediadora do xam, interferindo na

    estrutura bipolar e assimtrica da cultura que, de acordo com Bystrina (1995:7)

    resulta na separao entre o mundo dos espritos (positivo) e a vida material

    (negativo), onde o xam atua como elemento ambivalente, possibilitando a

    comunicao entre as duas esferas, na medida em que busca em determinado

    plano uma ajuda ou conhecimento que ir aplicar em outro. H inmeros

    relatos de adeptos do Vale que relatam os supostos contatos de Tia Neiva com os

    espritos. Nessas narrativas, podem-se observado ntido controle sobre a

    maioria deles, que, no caso, seriam enquadrados na categoria de espritos

    auxiliares. Ocupando diversas posies hierrquicas, alguns dos espritos e

    entidades do Vale do Amanhecer incorporariam em Tia Neiva quando ela assim

    o permitisse. Nesse caso, mais uma vez, o comportamento da clarividente

    corresponde ao de um xam. Para os fiis, Tia Neiva era o que se poderia

    chamar de um mdium universal. Embora desempenhasse a funo de "apar"

    (mdium que no Vale responsvel pela incorporao), ela tambm doutrinaria

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    os espritos. Ela os traria dos planos inferiores e os mandaria para o Astral

    Superior.

    Segundo o adepto Mrio Sassi (1977:149), certa vez, Tia Neiva queixou-se

    de sua ignorncia ao Pai Seta Branca. Ele, ento, teria lhe prometido um mestre

    para que, com ele, aprendesse novos fundamentos da doutrina. Sendo assim,

    Neiva, um dia ao adormecer, supostamente saiu de seu corpo e se deslocou at o

    Tibete. Quando deu por si, estava diante de um monge de olhos puxados e barba

    rala que, para sua surpresa, falava em portugus. De acordo com entrevista com

    o mdium Vladimir, de Humah pouco se sabe. Apenas que ele teria vivido

    recluso em um mosteiro de Lhasa e, durante cinco anos, ministrado um curso

    para Tia Neiva. Os ensinamentos de Humanh e as constantes viagensextracorpreas que Tia Neiva afirmou ter feito at o Tibete revelam o processo

    de iniciao da clarividente. Fica claro, tambm aqui, o rito de marginalidade

    do xam, citado por Bystrina (1995:7). Tia Neiva, para receber instrues de seu

    mestre, precisaria sair do convvio de seus amigos e de seus familiares. Em

    esprito, viajaria para um local distante, retirado de seu local de origem. Tia

    Neiva teria realizado algumas viagens ao planeta Capela na inteno de

    consolidar seu aprendizado. Em estado etreo, viajaria sozinha ou em discovoadores tambm conhecidos como chalanas guiados por "capelinos". No

    livro 2000 - a conjuno de dois planos, um desses encontros narrado pelo

    adepto Mrcio Sassi:

    No mesmo instante ela sentiu-se transportada para o interior deuma nave, muito parecida com aquela em que estivera antes. Nacomplicada cabine havia outro capelino que lhe foi apresentadopor Johnson com o nome de Eris. Enquanto falavam, os dois

    manipulavam alavancas e botes. Abriu-se ento uma enormecomporta e Neiva se extasiou com o que viu. Ali bem perto,como se estivesse ao alcance de suas mos, estava Capela (...).Neiva, fascinada, continuava olhando Capela, observando cadadetalhe. Cada vez mais maravilhada com o jogo de luzes,Johnson continuou:- A misso fundamental de Capela, nomomento, presidir a transio do segundo para o terceiromilnio da fase atual da Terra. Haver uma grande mortalidadee, ao mesmo tempo, ser lanada uma nova civilizao que irfazer jus evoluo alcanada por esse planeta (...) (SASSI,1977, p. 99).

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    A suposta viagem ao planeta Capela localizada no Astral Superior

    segue ao trajeto oposto ao da experincia que Tia Neiva teria tido ao penetrar

    nos Planos Cavernosos. Por instruo de Pai Seta Branca, a clarividente deveria

    fazer as pazes com os inimigos para que pudesse dar continuidade ao plano

    inicitico. Outro trecho do livro autobiogrfico descreve tal passagem:

    Ento, j no terceiro ano de conhecimentos, ao lado deHumah, segui at as cavernas a pedir paz e amor aos reis nossubmundos (... ) Entrei num suntuoso castelo, tudo era riquezae no me foi difcil saber que estava diante do trono de umsuntuoso rei, Exu Sete Flechas ( ... ) Dois grandes homens compequenos chifres me seguraram pelo brao num gestodeprimente, enquanto o rei vociferava ( ... )E virando-se para

    mim foi dizendo: Sua pretenso muito grande em quereracordo quando no tem nem mesmo um povo para defender! (...) J sei muito bem de suas intenes, disse ele, eu mecomprometo de no penetrar em sua rea, para lhe fazer sentira minha fora ( apud LVARES, 1992:85).

    O processo de inverso, identificado por Bystrina (1995:9) como um dos

    Padres de Soluopara a assimetria da cultura, aparece como uma constante

    na Doutrina do Amanhecer. Como se pode confirmar na citao acima, Tia

    Neiva, a rude caminhoneira, em uma de suas encarnaes, tida, pelos adeptos

    do Vale, como Clepatra, rainha do Egito. Tal inverso tambm se d no mundo

    das entidades. Pai Seta Branca, retratado com um ndio que fala espanhol,

    diferencia-se, em sua linguagem crmica, dos outros espritos. De acordo com

    os adeptos, na ltima encarnao, o mesmo foi So Francisco de Assis. Quanto

    aos fies, estes garantem que foram guerreiros, prncipes e magos. As viagens em

    estados extticos de Tia Neiva podem ser identificadas com a passagem pelo

    limiar do heri. Comumente associada a uma espcie de morte provisria, a

    vivncia do xtase propicia ao xam o contato com o desconhecido, com o

    obscuro e, em seguida, o seu renascimento. Com a iniciao, o xam geralmente

    recebe um novo nome. Tal situao tambm uma metfora da morte

    simblica. O xam morre para uma vida anterior e adquire outra denominao,

    uma nova identidade.

    Depois de uma srie de pretensas viagens a diferentes planetas e mundos

    espirituais, ocorridas durante os cinco anos de curso ministrado por Humah,

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    Tia Neiva, conforme relatos, foi consagrada com o nome de Koatay 108, no dia

    30 de dezembro de 1972. Fala-se entre os adeptos que o nmero 108 diz respeito

    aos 108 mantras recebidos por Tia Neiva dos planos espirituais. Esse nmero

    sugere, ainda, a imagem de 108 diamantes luminosos cravejados em uma coroa

    invisvel aos olhos comuns, posta sobre a cabea de Tia Neiva, a partir daquele

    momento, segundo os fiesix.

    O RETORNO DO XAM

    O xam aps passar por todas as fazes e provas necessrias, assume e

    obtm o reconhecimento e regressa para o seu povo, como diz Campbell

    (1996:195):

    Terminada a busca do heri (...) o aventureiro deve aindaretornar com seu trofu transmutado da vida. O circulocompleto, a norma do monomito, requer que o heri inicieagora o trabalho de trazer os smbolos da sabedoria, o Velocinode Ouro, ou a princesa adormecida, de volta ao reino humano,onde a bno alcanada pode servir renovao dacomunidade, da noo, do planeta ou dos dez mil mundos.(CAMPBELL, 1996:195)

    Assim comea o rito de agregao, onde o xam retorna ao seu grupo, ou

    comunidade de origem, trazendo conhecimentos diversos que serviro de

    benefcios para a comunidade. a que ele assume uma natureza com duas

    essncias, humana e divina, fazendo as graas e favores esperados. Tia Neiva

    aps sua iniciao e viagens em todos os planos espirituais reuniu todos os

    conhecimentos e informaes necessrias para ser o xam do Vale. Ela tornou-

    se indiscutivelmente a figura central no Vale, todos encontravam na clarividente

    cura, explicaes, consolo para os males da vida. Conquistando assim perdo

    pelas faltas dessa vida e das reencarnaes passadas, alm de promessa de

    salvao e o advento do terceiro milnio. Com isso a esperana e paz em dias

    melhores num futuro bem prximo era o maior beneficio que Tia Neiva

    conseguia plantar no corao dos adeptos do Vale do Amanhecer.

    O ESPAO SAGRADO

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    O lder xamnico precisa de um espao prprio para fazer seus rituais,

    onde esse local receber caractersticas especiais e sacramentais para receber o

    sagrado:

    (...) h, portanto, um espao sagrado, e por consequncia forte,significativo, e h outros espaos no sagrados, e por consequnciasem estrutura nem consistncia, em suma, amorfos. Mais ainda:

    para o homem religioso essa no homogeneidade espacial traduz-sepela experincia de uma oposio entre o espao sagrado o nicoque real, que existe realmente e todo o resto, a extenso informeque o cerca (ELIADE, 1992:91).

    Na histria do Vale encontrei uma caracterstica diferente, pois na

    escolha do terreno, Tia Neiva teria recebido do prprio Pai Seta Branca a

    localizao, pois segundo o Vale, assim como o Planalto Central, est situado em

    um local extremamente energizado e mstico, isso por uma profecia de Dom

    Bosco que um padre da igreja catlica, em que dizia que o mundo inteiro como

    limiar, o Planalto Central o umbigo da terrax. Essa profecia contada e

    recontada diariamente dentro do Vale, e valendo-se dela os adeptos de Tia

    Neiva constroem uma atmosfera de misticismo. Os adeptos adotaram essa

    profecia com muita facilidade, pois acreditam ser o inicio de uma civilizao

    sem dor ou sem sofrimento, segundo eles o Vale o local escolhido para a

    chegada do terceiro milnio, por isso o mais prximo do paraso.

    Eliade (1992:26) relaciona claramente essa ideia de espao da

    comunidade como centro do mundo com o sagrado, onde os locais sagrados so

    sempre identificados como centro do mundo, reveladores de outra realidade e

    por isso hierofnicos, realizando a ligao de nveis csmicos: mundo divino,

    mundo dos vivos e mundo dos mortos. E no Vale do Amanhecer existe essa

    diviso, pois os adeptos acreditam que nos espaos coletivos (templos) esses

    trs espaos se comunicam atravs de trabalhos feitos pela grande xam (TiaNeiva) e seus adeptos. Os adeptos do Vale acreditam que o universo formado

    por vrios mundos que so habitados por vrios espritos encarnados ou

    desencarnados, em diferentes estgios de evoluo. O planeta terra seria um

    plano intermedirio entre os planos superiores (astral superior) e o plano

    inferior (planos cavernosos e astral inferior). A antroploga Galinkin (1997:26)

    classificou esses planos da doutrina do amanhecer, organizados por Tia Neiva,

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    na seguinte estrutura: o astral superior dividido em quatro planos conhecidos

    como: Estrela Manhante (habitam os espritos mais evoludos), Pedra Branca

    (local onde todo esprito passaria sete dias aps uma encarnao), Canal

    Vermelho (mais parecido com a terra) e Capela (planeta onde vivem os espritos

    encarnados e mais adiantados no estado evolutivo).

    Alm desses quatro principais existem outras divises que devem ser

    citadas como o Hospital da Recuperao, uma espcie de plano de partida para

    a Capela e o Vale das Sombras (no astral inferior) onde estariam situados

    espritos sofredores. Eliade (2002:34) fala nos arqutipos celestiais de

    territrios, onde muitos povos construram suas cidades e templos baseados

    em modelos celestiais, o que por si s j seria um reflexo da estruturao socialhumana em classes, em castas e espaos definidos. No Vale essa transposio

    real; segundo os adeptos a diviso espacial do templo elptico (Templo do

    Amanhecer) seguiria modelos dos mundos espirituais, os castelos e salas

    representariam as encarnaes passadas pelos adeptos como a Cruz do

    Caminho que uma lembrana da encarnao egpcia e o Orculo do Pai Seta

    Branca (destinado a incorporao dessa entidade) remete a encarnao inca.

    CANTO SAGRADO

    Existe um consenso entre a maioria dos antroplogos que estudam o

    xamanismo de que o canto a forma de comunicao do xam e seus auxiliares,

    onde ocorre a transmisso de palavras para outro plano. A orao do xam

    usada para produzir o xtase e promover as comunicaes com os planos

    espirituais e por isso esto presentes em quase todas as sesses xamnicas,

    sendo indispensveis para os rituais do Vale do Amanhecer. Por isso Tia Neivaescrevia todos os mantras do Vale, usados at hoje, em todos os rituais. Cada

    mdium do Vale, ao fechar ou abrir trabalho, deve proferir a sua emisso. Essa

    emisso serve como uma identificao ao mundo espiritual, pois nela se

    encontra todas as vidas passadas do adepto e tambm todos os cargos

    conquistados por ele aqui. A orao de Tia Neiva a mais destacada dos demais,

    ela lembra muito uma orao catlica.

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    O GESTUAL

    O xam o ponto intermedirio entre o divino e os homens, por isso faz

    de seu corpo uma representao entre o fsico e o espiritual. Para fazer valer

    isso, ele segue um conjunto de regras que ir dirigir seus gestos e movimentos,

    com finalidade de demonstrar e assegurar ao mximo esse contato. Sabendo da

    existncia de inmeros rituais e incorporaes existentes no Vale durante seu

    dia a dia, podemos destacar algumas dessas incorporaes e as formas de

    gestos e esteretipos que Tia Neiva usava e que so reproduzidos at hoje por

    seus adeptos quando incorporados. Ela movimentava-se de acordo com o

    esprito incorporado, lembrando que algumas entidades tm caractersticas em

    comum com as da umbanda. Quando estava incorporada com um esprito aflito

    ela retorcia os dedos das mos e apresentava uma voz aflita e grave. Quando

    incorporada por um preto velho tinha um semblante tranquilo e sereno, com

    voz e gestos carinhosos. E quando incorporada de um caboclo, apresentava

    gestos fortes e agressivos, com tapas no peito e voz forte e altaxi.

    A INDUMENTRIA

    O antroplogo Andr Leroi-Gourhan (1990:166) destaca que o vesturio e

    os acessrios decorativos so os primeiros graus de reconhecimento social, onde

    nele tem que estar representado toda a solenidade que aquela pessoa deve

    mostrar. No caso de um traje para um lder religioso, no nosso caso um xam,

    esse traje tem de ser o prolongamento do templo, inspirado nas formas e

    majestade dele, demonstrando assim o domnio do xam sobre o ambiente etodo o ritual que ocorre ali dentro. Assim, o xam parte do templo, sem ele

    nada acontece, ele o manipulador da energia e prpria fonte de energia. O

    traje sagrado e rompe, ope e se destaca com a realidade profana que o cerca;

    interagindo com os gestos do lder formando uma identidade nica, servindo

    para lembrar dos mitos e ritos. As vestes do xam exercem de alguma forma um

    poder sobre a sociedade, seja atravs do medo, respeito, fascnio ou outro

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    sentimento. Pode-se observar que Tia Neiva sabia disso, pois no Vale existem

    uniformes diversos para cada tipo de trabalho, e seguida uma hierarquia

    existente na doutrina. Todas as jias presentes nas vestes tambm mostravam

    uma fora, onde as mesmas eram encomendadas por Tia Neiva ao ourives e

    adepto da doutrina eram recebidas por ele de forma medinica, sempre

    representando um smbolo ou representando algo existente no Vale ou nos

    templos.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    LVARES, Blsamo.Mensagens de Pai Seta Branca.Braslia: [do auto], 1991.AMARAL, Leila. Carnaval da alma: comunidade, essncia e sincretismo naNova Era. So Paulo: Vozes, 2000.BYSTRINA, Ivan. Tpicos da semitica da cultura. So Paulo: CentroInterdisciplinar de Semitica da Cultura (CISC) da Universidade Catlica de SoPaulo, (pr-print), 1995.CAMPBELL, Joseph. O heri das mil faces. So Paulo: Cultrix, 1996.DEVEREAUX, Paul. O xamanismo e as linhas misteriosas.Lisboa: Estampa,

    1993ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano - a essncia da religio. So Paulo:Martins Fontes. 1992.ELIADE, Mircea. O xamanismo e as tcnicas arcaicas do xtase. 2 edio.So Paulo: Martins Fontes, 2002.GALINKIN, Ana Lcia. A cura no vale do amanhecer.Braslia: Universidadede Braslia, 1997 (Tese).LEROI-GOURHAN, Andr. As religies da pr-histria. Lisboa: Edies 70,1990.GUINSBURG, C.Histrias noturnas do Sab: decifrando o Sab. So Paulo:Cia das Letras, 1991.

    SASSI, Mrio. 2000 A conjuno de dois planos.Braslia: [do autor], 1977.TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata (Orgs.). As religies no Brasil,continuidades e rupturas.Petrpolis: Vozes, 2006.

    WALSH, Roger. O esprito do xamanismo: uma viso contempornea destatradio milenar.So Paulo: Saraiva, 1993.WEBER, Max.A psicologia social das religies mundiais.In: GERTH, H. H.;MILLS, WRIGHT(orgs.).Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.

    iLVARES, Blsamo. Tia NeivaAutobiografia missionria.Braslia: [do autor], 1992.iiLVARES, Blsamo. Tia NeivaAutobiografia missionria. Braslia: [do autor], 1992.

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    iiiLVARES, Blsamo.Mensagens de Pai Seta Branca. Braslia: [do autor], 1991.ivMestre Sebastio o responsvel pela recepo do Vale do Amanhecer, adepto da doutrina a mais de 35anos, vindo de seu estado natal MG, foi ao Vale procurar cura para um filho seu que havia nascido comuma sria doena. Iria ficar uma semana, mas acabou se fixando na cidade at hoje, ganhando prestgio e

    conhecimento aps viver 25 anos com Neiva (de quem fala com carinho e muita intimidade, ao ponto deter sido um dos ltimos a ver Neiva viva em seu quarto, poucos minutos antes de morrer). Reformado daAeronutica criou trs filhos (no qual o que era especial faleceu anos depois de entrar para a doutrina) ehoje vive exclusivamente para o trabalho doutrinrio. Foi Mestre Sebastio que me acolheu nos perodosque estive em campo no Templo Me do Vale do Amanhecer em Braslia, durante dois perodos de umms estive guiado por ele andando, entrevistando membros, conhecendo a doutrina e a vida emcomunidade.vMestre Werner conheceu a doutrina do Vale em sua cidade natal em Minas e hoje o responsvel pelotransporte dentro da comunidade, ele quem fez meu transporte dentro do Vale. Era umbandista no inciode sua vida e conheceu Tia Neiva, e tambm conheceu as diferenas das duas formas de mediunidades, ado Vale e da umbanda. Foi Mestre Werner que fez meu transporte durante o perodo que estive noTemplo Me em Braslia.viGUERREIRO, Silas.Novos Movimentos Religiososum quadro brasileiro. So Paulo: Paulinas, 2006.viiWEBER, Max.Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.viiiAcrescentado e grifado por mim.ixLVARES, Blsamo. Tia Neiva Autobiografia missionria. Braslia: [do autor], 1992.xSASSI, Mrio. 2000 A conjuno de Dois Planos. Braslia: [do autor], 1977.xiGUINSBURG, C. Histrias noturnas do Sab: decifrando o Sab. So Paulo: Cia das Letras, 1991.