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26 Junho - 9 Julho 2000 Vol. I, No. 10 Tais Timor é um serviço de informação da Administração Transitória das Nações Unidas em Timor Leste (UNTAET) UNTAET requesita mais 16 milhões de dólares para Timor Leste N o encerramento de uma conferência de três dias, em Lisboa, Portugal, em que os países doadores analis- aram a evolução em Timor durante o primeiro semestre de 2000, foi prometido a consideração de mais 16 milhões de dólares destinados a ajudar a satisfazer os compromissos orçamentais no próximo ano fiscal. Esta verba irá somar-se aos 522,45 milhões de dólares prometidos na anterior reunião de doadores, em Tóquio, em meados de Dezembro, e dos quais 148,98 milhões de dólares se destinavam a actividades humanitárias e 373,47 milhões à administração civil, reconstrução e desenvolvimento. Sérgio Vieira de Mello, Chefe da Administração de Transição para Timor Leste, afirmou que “as respostas rece- bidas dos Estados membros e das organizações interna- cionais constituem um voto de confiança e uma indicação clara de que os doadores gostaram da proposta de orçamen- to, responsável e realista, apresentada pelos Timorenses e pela UNTAET, em especial do orçamento consolidado revis- to”. Os doadores expressaram o seu apoio às actividades do Fundo Especial para Timor Leste administrado pelo Banco Mundial (TFET), e aprovaram um plano de trabalho para o período entre Julho e Dezembro de 2000. A reunião teve como resultado a adesão de outros doadores ao TFET. “A comunidade de doadores e os Timorenses trabal- haram com uma incrível rapidez, nos primeiros seis meses de reconstrução de Timor Leste”, afirmou Jemaluddin Kassum, Vice-Presidente do Banco Mundial para a região do Leste Asiático e do Pacífico. “Agora, precisamos de centrar a nossa atenção na qualidade do processo de desenvolvimento. Consideramos que a participação e liderança dos Timorenses na coordenação dos organismos de desenvolvimento é a chave de um processo de desenvolvimento sustentável. Isto é especialmente importante, à medida que caminhamos para esta nova fase: a execução de planos de reconstrução”. Xanana Gusmão, presidente do Conselho Nacional da Resistência Timorense (CNRT), foi citado como tendo dito que a conferência fora um “grande êxito”, por subscrever um programa de trabalho concreto para a reconstrução e desen- volvimento de Timor Leste. “Estamos profundamente emocionados com o facto de a comunidade internacional ter respondido rapidamente à mensagem que nós, Timorenses, trouxemos para Lisboa, e ter sabido expressar o seu apoio incondicional ao povo de Timor Leste, num espírito de generosidade e confiança”, disse o Sr. Gusmão. “Este processo tem de incluir o povo timorense de todas as correntes políticas, incluindo aqueles que ainda estão a viver em Timor Ocidental”, afirmou. O Sr. Vieira de Mello disse que alguns países não tin- ham conseguido estabelecer um compromisso firme na última reunião, dado que os seus contributos teriam de ser sujeitos a aprovação pelos seus próprios parlamentos. Mas tinha confi- ança em que os fundos em breve chegariam. A Administração de Transição das Nações Unidas em Timor Leste (UNTAET) procurou obter mais 16 milhões de dólares que lhe permitissem pôr em execução o seu orçamen- to de 43 milhões de dólares para o ano fiscal 2000-2001, que tem início a 1 de Julho. Entretanto, a UNTAET e o Banco Mundial assinaram, na conferência de Lisboa, acordos de subsídio destinados à educação e à agricultura, elevando para sete o número de pro- gramas no âmbito do TFET. O Projecto de Preparação de Emergência de Escolas (ESRP) destina-se a reabrir escolas a tempo do ano escolar, que se inicia em Outubro. Irão ser gastos 8,7 milhões de dólares na reconstrução de salas de aulas, enquanto mais 3,2 milhões estão destinados à compra de material educativo. Segundo funcionários do Banco Mundial, o principal objectivo do ESRP é garantir que todas as crianças timo- renses que pretendam ter acesso ao ensino básico e secundário possam matricular-se numa escola que preencha os requisitos operacionais básicos normais em termos de infra-estrutura física, mobiliário, equipamento escolar, man- uais e outros materiais educativos. O primeiro passo, no âmbito do ESRP, será a recon- strução das infra-estruturas físicas e a aquisição de materi- ais de aprendizagem-ensino. A segunda e terceira fases implicarão o desenvolvimento da mobilização social e cam- panhas de comunicação, o apoio ao desenvolvimento de políticas e a prestação de apoio em termos de gestão e exe- cução. O Projecto de Recuperação e Desenvolvimento Agrícolas, de 18,2 milhões de dólares, tentará melhorar a segurança alimentar de famílias pobres escolhidas, aumen- tar a produção agrícola em áreas seleccionadas e promover o crescimento rural. Compilado a partir de textos de agências noticiosas ADVERSÁRIOS FORTES A maratonista Aguida Amaral (à esquerda) e o pugilista Victor Ramos, nas ruínas do Complexo Desportivo do Benfica de Díli, que foi usado como centro de tortura nos dias que se seguiram à consulta popular. Fazem parte do grupo de 10 atletas timorenses escolhidos para treinarem em Camberra, Austrália, antes dos Jogos Olímpicos de Sydney, por oferta do Fundo de Solidariedade Olímpica do Comité Olímpico Internacional (COI). Ver o artigo e mais fotografias na página 7. Foto: UNTAET-OCPI Quem são os meninos da rua de Díli? Muitos refugiados em Timor Ocidental ainda têm medo de regressar D ollar, dollar, mister”, pediam os dois rapazes andrajosos que seguiam Faith Mburu, uma fun- cionária da Administração Transitória das Nações Unidas em Timor Leste (UNTAET), numa rua de Díli. Ansiosa por jantar no Olympia Hotel, a Sr.ª Mburu mal reparou no duo que avançava, até os rapazes se tornarem nitidamente ameaçadores. “Já estava escuro quando saí do escritório”, afirma. “Mas os rapazes chegaram perto de mim na esquina perto do Palácio do Governador. Um deles estendeu a mão para a minha mala, mas um colega meu, que vinha a pouca distância de mim, afas- tou-os”. “Foi um pouco assustador”, recorda a Sr.ª Mburu, descrevendo o momento como um despertar. “Agora, tenho muito cuida- do, sobretudo à noite”. Quase um mês depois do incidente no bairro que é o centro comercial da cidade, vários rapazes com idades compreendidas entre os seis e os dezanove anos continu- am a percorrer as ruas de Díli, pedindo dinheiro e comida aos estrangeiros e, oca- sionalmente, utilizando técnicas mais vio- lentas. OS DUROS DA RUA - Algumas das crianças que vagueiam em frente à Sede da UNTAET, no Palácio do Governador. continua na página 4 Foto: UNTAET-OCPI D epois de o surto de violência e destruição de Setembro passado ter obrigado centenas de milhar de Timorenses a fugirem de suas casas, mais de um terço dos que foram transportados para Timor Ocidental continuam a viver em campos de refugiados miseráveis, em muitos casos demasiado receosos de regressarem às suas cidades natais. Embora cerca de 160 000 das 300 000 pes- soas que foram levadas - amiúde contra a sua vontade - para o outro lado da fronteira tenham regressado a Timor Leste, 120 000 continuam sem possibilidades ou sem vontade de aban- donar os campos, superpovoados e sujos. Nestas últimas semanas, a Administração de Transição das Nações Unidas em Timor Leste (UNTAET) retomou a iniciativa de encon- trar uma solução para o problema dos refugia- dos, acelerando os contactos com as autoridades de Timor Ocidental e levando a cabo uma com- continua na página 2 Publicado quinzenalmente em tétum, inglês, português e bahasa indonésia e distribuído gratuitamente

26 Junho - 9 Julho 2000 Vol. I, No. 10 UNTAET requesita mmais … · 2017. 8. 16. · 26 Junho - 9 Julho 2000 Vol. I, No. 10 Tais Timoré um serviço de informação da Administração

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26 Junho - 9 Julho 2000 Vol. I, No. 10

Tais Timor é um serviço de informação da Administração Transitória das Nações Unidas em Timor Leste (UNTAET)

UUNNTTAAEETT rreeqquueessiittaa mmaaiiss 1166 mmiillhhõõeess ddee ddóóllaarreess ppaarraa TTiimmoorr LLeesstteeNo encerramento de uma conferência de três dias, em

Lisboa, Portugal, em que os países doadores analis-aram a evolução em Timor durante o primeiro semestre de2000, foi prometido a consideração de mais 16 milhões dedólares destinados a ajudar a satisfazer os compromissosorçamentais no próximo ano fiscal.

Esta verba irá somar-se aos 522,45 milhões de dólaresprometidos na anterior reunião de doadores, em Tóquio, emmeados de Dezembro, e dos quais 148,98 milhões de dólaresse destinavam a actividades humanitárias e 373,47 milhõesà administração civil, reconstrução e desenvolvimento.

Sérgio Vieira de Mello, Chefe da Administração deTransição para Timor Leste, afirmou que “as respostas rece-bidas dos Estados membros e das organizações interna-cionais constituem um voto de confiança e uma indicaçãoclara de que os doadores gostaram da proposta de orçamen-to, responsável e realista, apresentada pelos Timorenses epela UNTAET, em especial do orçamento consolidado revis-to”.

Os doadores expressaram o seu apoio às actividades doFundo Especial para Timor Leste administrado pelo BancoMundial (TFET), e aprovaram um plano de trabalho para operíodo entre Julho e Dezembro de 2000. A reunião tevecomo resultado a adesão de outros doadores ao TFET.

“A comunidade de doadores e os Timorenses trabal-haram com uma incrível rapidez, nos primeiros seis mesesde reconstrução de Timor Leste”, afirmou JemaluddinKassum, Vice-Presidente do Banco Mundial para a região doLeste Asiático e do Pacífico. “Agora, precisamos de centrar anossa atenção na qualidade do processo de desenvolvimento.Consideramos que a participação e liderança dos Timorensesna coordenação dos organismos de desenvolvimento é achave de um processo de desenvolvimento sustentável. Isto éespecialmente importante, à medida que caminhamos paraesta nova fase: a execução de planos de reconstrução”.

Xanana Gusmão, presidente do Conselho Nacional daResistência Timorense (CNRT), foi citado como tendo ditoque a conferência fora um “grande êxito”, por subscrever umprograma de trabalho concreto para a reconstrução e desen-volvimento de Timor Leste.

“Estamos profundamente emocionados com o facto de acomunidade internacional ter respondido rapidamente àmensagem que nós, Timorenses, trouxemos para Lisboa, eter sabido expressar o seu apoio incondicional ao povo deTimor Leste, num espírito de generosidade e confiança”,

disse o Sr. Gusmão.“Este processo tem de incluir o povo timorense de todas

as correntes políticas, incluindo aqueles que ainda estão aviver em Timor Ocidental”, afirmou.

O Sr. Vieira de Mello disse que alguns países não tin-ham conseguido estabelecer um compromisso firme na últimareunião, dado que os seus contributos teriam de ser sujeitos aaprovação pelos seus próprios parlamentos. Mas tinha confi-ança em que os fundos em breve chegariam.

A Administração de Transição das Nações Unidas emTimor Leste (UNTAET) procurou obter mais 16 milhões dedólares que lhe permitissem pôr em execução o seu orçamen-to de 43 milhões de dólares para o ano fiscal 2000-2001, quetem início a 1 de Julho.

Entretanto, a UNTAET e o Banco Mundial assinaram,na conferência de Lisboa, acordos de subsídio destinados àeducação e à agricultura, elevando para sete o número de pro-gramas no âmbito do TFET.

O Projecto de Preparação de Emergência de Escolas(ESRP) destina-se a reabrir escolas a tempo do ano escolar,que se inicia em Outubro. Irão ser gastos 8,7 milhões dedólares na reconstrução de salas de aulas, enquanto mais 3,2

milhões estão destinados à compra de material educativo.Segundo funcionários do Banco Mundial, o principal

objectivo do ESRP é garantir que todas as crianças timo-renses que pretendam ter acesso ao ensino básico esecundário possam matricular-se numa escola que preenchaos requisitos operacionais básicos normais em termos deinfra-estrutura física, mobiliário, equipamento escolar, man-uais e outros materiais educativos.

O primeiro passo, no âmbito do ESRP, será a recon-strução das infra-estruturas físicas e a aquisição de materi-ais de aprendizagem-ensino. A segunda e terceira fasesimplicarão o desenvolvimento da mobilização social e cam-panhas de comunicação, o apoio ao desenvolvimento depolíticas e a prestação de apoio em termos de gestão e exe-cução.

O Projecto de Recuperação e DesenvolvimentoAgrícolas, de 18,2 milhões de dólares, tentará melhorar asegurança alimentar de famílias pobres escolhidas, aumen-tar a produção agrícola em áreas seleccionadas e promover ocrescimento rural.

Compilado a partir de textos de agências noticiosas

ADVERSÁRIOS FFORTESA mmaratonista AAguida AAmaral ((àesquerda) ee oo ppugilista VVictor RRamos,nas rruínas ddo CComplexo DDesportivodo BBenfica dde DDíli, qque ffoi uusadocomo ccentro dde ttortura nnos ddias qquese sseguiram àà cconsulta ppopular.Fazem pparte ddo ggrupo dde 110 aatletastimorenses eescolhidos ppara ttreinaremem CCamberra, AAustrália, aantes ddosJogos OOlímpicos dde SSydney, ppor oofertado FFundo dde SSolidariedade OOlímpicado CComité OOlímpico IInternacional(COI).

Ver oo aartigo ee mmais ffotografias nna ppágina 77.

Foto: UNTAET-OCPI

Quem são os meninos da rua de Díli? Muitos rrefugiados eemTimor OOcidental aaindatêm mmedo dde rregressarDollar, dollar, mister”, pediam os dois rapazes andrajosos que seguiam Faith Mburu, uma fun-

cionária da Administração Transitória das Nações Unidas em Timor Leste (UNTAET), numarua de Díli.

Ansiosa por jantar no Olympia Hotel, a Sr.ª Mburu mal reparou no duo que avançava, até osrapazes se tornarem nitidamente ameaçadores.

“Já estava escuro quando saí do escritório”, afirma. “Mas os rapazes chegaram perto de mimna esquina perto do Palácio doGovernador. Um deles estendeu a mãopara a minha mala, mas um colega meu,que vinha a pouca distância de mim, afas-tou-os”.

“Foi um pouco assustador”, recorda aSr.ª Mburu, descrevendo o momento comoum despertar. “Agora, tenho muito cuida-do, sobretudo à noite”.

Quase um mês depois do incidente nobairro que é o centro comercial da cidade,vários rapazes com idades compreendidasentre os seis e os dezanove anos continu-am a percorrer as ruas de Díli, pedindodinheiro e comida aos estrangeiros e, oca-sionalmente, utilizando técnicas mais vio-lentas.

OS DUROS DA RUA - Algumas das crianças que vagueiam emfrente à Sede da UNTAET, no Palácio do Governador.

continua na página 4

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Depois de o surto de violência e destruição deSetembro passado ter obrigado centenas de

milhar de Timorenses a fugirem de suas casas,mais de um terço dos que foram transportadospara Timor Ocidental continuam a viver emcampos de refugiados miseráveis, em muitoscasos demasiado receosos de regressarem àssuas cidades natais.

Embora cerca de 160 000 das 300 000 pes-soas que foram levadas - amiúde contra a suavontade - para o outro lado da fronteira tenhamregressado a Timor Leste, 120 000 continuamsem possibilidades ou sem vontade de aban-donar os campos, superpovoados e sujos.

Nestas últimas semanas, a Administraçãode Transição das Nações Unidas em TimorLeste (UNTAET) retomou a iniciativa de encon-trar uma solução para o problema dos refugia-dos, acelerando os contactos com as autoridadesde Timor Ocidental e levando a cabo uma com-

continua na página 2

Publicado quinzenalmente em tétum, inglês, português e bahasa indonésia e distribuído gratuitamente

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26 Junho - 9 Julho 2000 Tais Timor

DDeeuueemmooss ddee rreecceebbeerr ooss rreettuurrnnaaddoossddee ccoorraaççããoo ee bbrraaççooss aabbeerrttooss

UNHCR

Ha muito trabalho a fazer em Timor Leste! As casas devem ser reconstruidas e hor-tas/varzeas cultivadas.As criancas devem regressar as escolas.As comunidades deve

organizar-se e trabalhar em conjunto para melhorar as suas vidas. Os lideres devempreparar-se para assumir novos papeis e responsabilidades. Estas importantes actividadesrequerem paz, estabilidade e cooperacao.

Toda a gente deve participar na reconstrucao de Timor Leste, incluindo os refugiadosem Timor Ocidental que ainda pretendem regressar a patria. Alem demais, eles sao nos-sos irmaos e muitos deles querem regressar e ajudar a reconstrucao do seu pais.Quantomais rapido os refugiados regressarem, mais rapido a reconciliacao e reconstrucao teraolugar, e Timor Leste sera mais estavel e pacifico.

Manter a paz, estabilidade e cooperacao exige reconciliacao com aqueles cujas opin-ioes politicas podem ser diferentes. Isto exigira compreensao e aceitacao daqueles queescaparam ou foram forcados contra a sua vontade a ir para Timor Ocidental. Nao ecrime ter escapado para Timor Ocidental.

Mesmo os refugiados que estavam envolvidos em crimes perpretados pelas milicias,tem direito de regressar ao seu pais. Esses suspeitos de crimes serao julgados segundo alei no tribunal. Nao actuar arbitrariamente. Se fores uma testemunha ou tiveres algumainformacao relacionada aos crimes deves contactar CIVPOL para a investigacao. Isto facil-itara a aplicacao da justica e prevenira mais violencias no futuro.

O povo timorense tem sofrido grades prejuizos. Mas os que confrontam os retorna-dos com violencia, ameacas ou insultos tornam a ferida mais profunda. Isto criara maisdificuldades para a comunidade e para o pais.

A sociadade timorense nao obtera proveito positivo da Independencia se nao existirpaz, estabilidade e cooperacao.

UUmmaa mmeennssaaggeemm ddoo AAllttoo CCoommiissssaarriiaaddoo ppaarraa ooss RReeffuuggiiaaddooss ((AACCNNUURR))

panha destinada a combater os boatos e as informações falsas.No entanto, as razões para a demora no regresso dos refugiados são

bastante claras, afirma Colin Stewart, um funcionário de assuntos políti-cos da UNTAET sediado na capital de Timor Ocidental, Kupang. “Muitosdeles ainda estão sob a influência ou intimidação dos líderes políticos pró-autonomia que, na verdade, não desejam que eles regressem”, afirma.

Esses líderes, que perderam o poder e o nível de vida de que gozavamoutrora sob o regime indonésio, não têm desejo de regressar a TimorLeste para enfrentarem carreiras incertas e, em muitos casos, acusaçõescriminais. Por isso, juntamente comos seus sequazes, intimidam aquelesque exprimem desejo de regressar acasa e espalham contra-informaçãosobre coisas terríveis que acontecema refugiados que o fizeram.

“No ambiente volátil e fervil-hante de boatos dos campos de refu-giados, as histórias circulam comrapidez, quer sejam verdadeiras,quer não”, afirma o Sr. Stewart.

Noutros casos, alguns refugia-dos que eram funcionários públicos,polícias ou ex-membros do exércitoindonésio sentem-se desincentiva-dos, por razões financeiras, a regres-sar a casa. Continuam a receberpequenos salários ou pensões do governo indonésio, que perderiam seregressassem ao território. Dado que as suas carreiras seriam incertas,caso regressassem, até mesmo esses pequenos benefícios os incentivam apermanecer no exílio, afirma do Sr. Stewart.

O que é certo é que, embora a maior parte das preocupações quantoao repatriamento dos refugiados se tenha centrado nos membros dasmilícias que podem ter sido responsáveis por muita da destruição ocorri-da em Setembro passado, a maior parte dos refugiados não cometeucrimes, assevera o Sr. Stewart, da UNTAET. “20% - ou 90 000 dos 450000 que votaram - escolheram a autonomia”, afirma, “e, no entanto,foram deslocadas para Timor Ocidental quase 300 000 pessoas. Por isso,na verdade, os refugiados eram, na sua maioria, pessoas que votaram a

favor da independência”.Todavia, em alguns casos, foram sujeitos a um tratamento duro,

quando do seu regresso, como se fossem criminosos. Embora a grandemaioria dos refugiados tenha regressado em segurança, quaisquer inci-dentes de violência contra eles foram publicitados e exagerados rapida-mente pelos meios de comunicação social de Timor Ocidental, apoiandoaqueles que são responsáveis pela propaganda negativa, acrescenta o Sr.Stewart.

Para combater as informações falsas que circulam nos campos, aUNTAET tem estado a tentar promover a reconciliação política entre osTimorenses, através da organização de reuniões e outros contactos.

“Este processo é essencial para aestabilidade a longo prazo de TimorLeste, dado que um grupo infeliz noexílio apenas irá continuar a causarperturbação”, afirma o Sr. Stewart.“É uma questão difícil, que dependedos próprios Timorenses, mas, atéestar resolvida, os refugiados timo-renses inocentes continuarão a sofrer.Os incidentes de violência contra osretornados prejudicam o processo dereconciliação e desincentivam novosrepatriamentos”

A UNTAET também tem estado atrabalhar com outras organizaçõesinternacionais para tentar espalharinformação fidedigna sobre a ver-

dadeira situação em Timor Leste. Quantos mais contactos pessoais hou-ver com pessoas dentro do Território - através de cartas, telefonemas,encontros na fronteira ou visitas - maior será a confiança que os refugia-dos terão em que a situação em Timor Leste é boa para regressarem,afirma o Sr. Stewart.A UNTAET tem estado a negociar com o Governo indonésio para que estepague as pensões aos timorenses em Timor Leste. Para além de propor-cionar àqueles que vivem em Timor Leste o dinheiro que efectivamente éseu, este facto iria acabar com a necessidade de as pessoas ficarem emTimor Ocidental para receberam esses benefícios, diz o Sr. Stewart.

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Um casal de refugiados timorenses (em cima) fala comum membro do Exército Indonésio (TNI), sob o olhar deum Observador Militar da ONU. À direita, timorensesque regressam a Timor Ocidental, no posto fronteiriçode Batugade, depois de terem visitado familiares emTimor Leste, durante as visitas de reunião das famílias.

Refugiados...continuação pág. 1

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Tais Timor 26 Junho - 9 Julho 2000

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A CConstituição ee oo RRenascer dde TTimor LLeste

CCoommeeççaa aa rreeccuuppeerraaççããooddoo bbaannccoo cceennttrraall

Durante os próximos meses, vós, o povo deTimor Leste, tereis de decidir qual será a

estrutura do vosso futuro governo. Ireis delib-erar sobre a democracia, o Estado de direito e orespeito dos direitos humanos - formas de gov-erno que devem servir-vos bem, não apenashoje ou amanhã, mas durante muito tempo, nofuturo. Nesta edição do Tais Timor, e nasseguintes, irei escrever uma coluna dedicada aestas questões e talvez possa dar-vos algumasopiniões úteis.

Ao determinarem a estrutura do vossofuturo governo, é essencial que mantenham umempenhamento sério no objectivo de estabele-cer a democracia, o Estado de direito e orespeito pelos direitos humanos. Sem talempenhamento, a democracia não pode sobre-viver. Mas, se houver muitos indivíduos, grupose organizações dispostos a trabalhar e sacri-ficar-se por esse objectivo, ele será realidade.

Mas o país como um todo pode tambémcomprometer-se oficialmente em relação a essesobjectivos - e a quaisquer outros objectivos eprincípios que escolha - através de uma consti-tuição. Uma constituição não é um mero textonum pedaço de papel. É um compromisso oficialem relação aos vossos ideais e estabelece, por-menorizadamente, a forma de governo que aju-dará a atingir esses ideais, incluindo umaassembleia, o poder judicial e um governo.Podemos pensar nela como uma espécie decasamento. Um país faz um compromisso alongo prazo em relação aos seus ideais; prometefazer algumas coisas (administrar de umaforma democrática, por exemplo) e prometetambém que nunca fará outras coisas (ater-rorizar a população, por exemplo).

Uma constituição é um compromisso ofi-cial, do povo e do governo pelo povo, de protegere defender determinados princípios - sobretudo,a democracia, o Estado de direito e o respeitopelos direitos humanos. Eleições livres e justassão o cerne da democracia. Os tribunais inde-pendentes são o cerne do Estado de direito. Euma constituição, se lhe for dada suficiente-mente força, pode ser fulcral para a protecção

dos direitos humanos.Estas ideias são bastante abstractas. Há

séculos que os filósofos escrevem sobre elas, e osjuristas tentaram defini-las mais precisamente,para que fossem convertidas em lei. Quandoisso acontece com as ideias, podemos esquecer-nos facilmente da sua ligação com as nossaspróprias experiências; não quero esquecer essaligação. Por isso, falarei também sobre as exper-iências donde surgiram essas ideias: de medo eesperança, perigo e oportunidade, e da imper-feição de todos os seres humanos. Trata-se deelementos da nossa experiência quotidiana,incluindo em grande extensão a amarga exper-iência recente de Timor Leste.

As ideias de constituição, democracia,Estado de direito e direitos humanos são anossa herança das experiências das geraçõespassadas. Foram apresentadas pela primeiravez, numa forma mais simples, na Europa, nasegunda metade do século XVII, embora ten-ham também uma história mais antiga. Deentão para cá, foram desenvolvidas e evoluíram.E, por fim, após a Segunda Guerra Mundial, acomunidade internacional, através das NaçõesUnidas, adoptou oficialmente estes princípios.

O final do século XVII na Europa e o finalda Segunda Guerra Mundial foram, em certamedida, momentos semelhantes da história. Emambos os casos, estava a chegar ao fim umperíodo de destruição e violência terríveis. Aspessoas estavam chocadas e horrorizadas com aviolência numa escala nunca antes vista. E, 250anos mais tarde, as guerras mundiais do séculoXX trouxeram de novo uma nova escala dedestruição e sofrimento humano.

No final de cada um desses períodos, amemória vívida do passado enlaçou-se com aesperança em relação ao futuro. A maior partedas pessoas desejava fazer tudo o que fosse pos-sível para inverter a destruição que havia sofri-do no seu passado recente e para impedir oregresso da violência. Mas também estavamprontas para iniciar a reconstrução - não ape-nas a reconstrução material, mas a recon-strução do espírito humano. Estes também

foram períodos de renascimentos.Timor Leste acabou de passar por uma

época de grande violência e destruição. Masesse tempo acabou e a atenção está a voltar-separa a reconstrução. É, esperamos todos, ummomento de um grande renascer para TimorLeste. Foi desses momentos do passado queemergiram as ideias de constituição, democra-cia, Estado de direito e direitos humanos.

Por isso, falarei convosco sobre estas ideiasque surgem em períodos de renascimento,quando as experiências humanas - tanto osmedos como as esperanças - parecem de algu-ma forma mais intensas. Em momentos derenascimento, quando o medo ainda está vívi-do mas a esperança regressou, torna-se espe-cialmente nítida a necessidade de democracia,Estado de Direito e direitos humanos.

Uma boa constituição torna mais perma-nente este período do renascer. Limita adestruição e minora o medo. Protege-nos, atéonde é possível, do perigo de a violência poderregressar novamente à política e à vida. Tornamais fácil que tantas pessoas quanto possíveltornem melhor o seu mundo, cada uma de seumodo. E, quando uma constituição funcionabem, reforça a esperança.

O autor, Karol Soltan é Vice-Director doDepartamento de Assuntos Políticos,Constitucionais e Eleitorais da UNTAET. Falacom alguma experiência acerca da importânciada democracia e de uma constituição. O Sr.Soltan nasceu em Varsóvia, na Polónia, cincoanos depois de a cidade ter sido completamentedestruída na Segunda Guerra Mundial.

“As recordações de brincar nas ruínasdaquela cidade, em criança, regressaram comenorme intensidade à minha mente, quandocheguei a Díli”, afirma.

Lembrando esse tempo, acrescenta, “OsAlemães tinham planeado destruir totalmente aminha cidade, de modo a que não restasse umúnico edifício de pé, e quase o conseguiram”.

Hoje em dia, Varsóvia está completamentereconstruída e é uma cidade vibrante. “As pes-soas também mudaram”, afirma o Sr. Soltan.“Agora, os Alemães contam-se entre os amigosmais chegados da Polónia, na Europa”.

O Presidente do CNRT, Xanana Gusmão, e Cristina Carrascalão, durante a inauguração, em 27 de Junho, dabiblioteca que tem o seu nome, a primeira a abrir desde a consulta popular de Agosto passado.

A Sala de Leitura Xanana Gusmão, localizada no edifício histórico que outrora albergou o consuladoindonésio em Díli, tem exposição livros e quadros do líder da independência, bem como cartas que lhe foramenviadas e medalhas que lhe foram concedidas e está aberta, diariamente, das 10 da manhã às 4 da tarde.

A biblioteca tem uma colecção de livros sobre Timor Leste, bem como livros infantis, guias de viagem,romances e dicionários, em português, tétum, bahasa indonesia e inglês.

Para além da biblioteca e da sala de leitura, o edifício alberga também a rede de mulheres timorensesOTM e a organização estudantil Le Ziaval. O centro de indústrias da cultura Yayasan Murak Ray abriu trêslojas nas traseiras do edifício que vendem artesanato colorido.

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Na Terça-feira, 15 de Junho, iniciou-se um projecto coma duração de dois meses e o valor de 416 000 dólarespara recuperar o Gabinete Central de Pagamentos. Ainstalação de um sistema de segurança de elevada qual-idade e a reinstalação das caixas-fortes estão incluídas naobra, que será realizada por uma equipa de construçãocomposta por 50 pessoas, sendo 38 timorenses.

Trata-se do primeiro grande projecto de reconstruçãode um edifício público levado a cabo pela Administraçãode Transição das Nações Unidas em Timor-Leste(UNTAET).

Vão ser renovados vários outros edifícios e as empre-itadas estão neste momento em fase de concurso. Em Díli,incluem-se: o Gabinete de Assuntos Judiciais, o armazémda Educação, o Tribunal de Recurso, o Centro do Serviçode Emprego, a instalação de uma cozinha na Academiade Polícia e a renovação das instalações sanitárias e sis-temas sépticos do Aeroporto de Díli.

Em Baucau, estão a ser levadas a cabo obras derecuperação na cadeia, no tribunal distrital, no Gabinetedo Procurador-Geral e no mercado.

Em Suai, estão previstas reparações no edifício dogoverno.

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lhes um pão”, afirmou o psiquiatra, dando voz aosentimento de muitos desses profissionais, incluin-do muitos trabalhadores do serviço social, quedefendem que o facto de dar esmolas aos pobrestem tendência para promover a dependência.

O conselheiro do pessoal da UNTAET, quepassou bastante tempo no Haiti e na AméricaLatina, reitera a sua convicção de que “a soluçãoé tanto política como social. O problema não seráresolvido numa base individual”. Exige uma abor-dagem multidisciplinar, afirma. “O ideal seria umsistema holístico, envolvendo o bem-estar totaldas pessoas, incluindo a sua saúde e as necessi-dades físicas e sociais”.

Exortando a uma verdadeira com-preensão das dificuldades dosmeninos da rua de Díli, o Dr.Beaudoin identifica a pobrezacomo o principal culpado. Estacriou uma reacção em cadeia deproblemas como o êxodo rural,agrupamentos de desalojados edeslocados bem como a separaçãoprolongada das famílias. Paramuitos, “não se trata de vida, masde sobrevivência”. O problema éexacerbado pelo desmoronamentodas estruturas de apoio tradicionaiscomo a família alargada, quesofreu um rude golpe na sequênciada longa guerra do ano passado.A presença internacional também

agravou este problema. “Podemosver muitas pessoas reunidas pertodo barco (Olympia) porque o vêem

como um símbolo de riqueza”, observou o Dr.Beaudoin, classificando a presença deestrangeiros com um ar relativamente prósperocomo uma atracção importante.

“Mas devemos lembrar-nos de que nãoestamos no Haiti nem nas ruas do Rio deJaneiro”, conclui o consultor do pessoal. “Aqui,não se cheira cola, não existe prostituiçãoinfantil nem violências graves exercidas sobreestas crianças. Ainda estamos a tempo de asajudar”.

O QUE VOCÊ PODE FAZERQuando encontrarem estes meninos darua, em vez de lhes darem esmolas, podemaconselhá-los a procurarem ajuda atravésda congregação das irmãs salesianas, quetêm um centro em Balide-Crystal (emGedung Kejasan, um antigo tribunal) queproporciona aconselhamento e programas.

Podem encaminhar também as cri-anças para a igreja ou grupo de jovens aque pertencem e que poderão prestar-lhesassistência. Além disso, espera-se que aUNICEF abra em breve um centro infantile de juventude em Comoro. A organizaçãoplaneia também criar outras delegaçõesem Balide e Bekora, para além de centrosde reabilitação sediados nos distritos.

Mas, acima de tudo, evitem estereoti-par ou estigmatizar vítimas de uma situ-ação criada por circunstâncias que, paracitar o Dr. Beaudoin, "estão para além doseu controlo".

Quem ssão aafinal eestes mmiúdos?Os meninos da rua são um subproduto de umasituação complexa em termos de sociedade e,portanto, uma abordagem individual do proble-ma não pode funcionar por si só, afirma AlainBeaudoin. “Todo o sistema (social) ruiu. Nãoestão nas ruas por escolha”, observou o consel-heiro do pessoal da UNTAET, descrevendo asituação actual como “uma sociedade emcrise”.

Beaudoin censura aquilo a que chama a“síndrome das esmolas de dinheiro”, em que aspessoas ajudam a perpetuar a vida na rua dascrianças, dando-lhes dinheiro. “Preferia dar-

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Os menores, que se colocam em pontosestratégicos onde os elementos internacionaispassam frequentemente, estão a tornar-sefamosos pela utilização de tácticas de tipoOliver Twist, comuns em muitos países emdesenvolvimento.

“No outro dia, fui insultado por um dosrapazes, quando me recusei a dar-lhe din-heiro”, afirma um jornalista instalado em Díli.“Gritou-me uma expressão em inglês que nãopode ser publicada. Nunca me tinha acontecidouma coisa assim!”, acrescenta. Uma vietnami-ta que trabalha para as Nações Unidas, quetambém foi vítima, afirma que o curso dosacontecimentos é perturbador. “É como que umchoque para mim, que conheço a naturezaafável da maioria dos Timorenses, tanto velhoscomo novos”, afirma.

Carlos Ximenes, um ex-estudante univer-sitário timorense, concorda com esses senti-mentos. Tentando dar uma explicação, diz:“Aquilo a que estamos a assistir neste país éum profundo choque cultural - os estrangeiros,os belos carros e outras coisas. Isso pode des-encaminhar alguns jovens, em especial aquelesque são vulneráveis e carecem de tutores famil-iares próximos”. Acrescenta que considera“escandalosos” os casos recentemente noticia-dos de velhos timorenses que pedem dinheiropara comer nas ruas de Díli.

Embora seja provável que a presença dacomunidade internacional em Timor Lestepossa ter precipitado uma certa mudançasocial, os peritos dizem também que o impacteda movimentação em massa da população, noano passado, teve uma influência desestabi-lizadora na família timorense.

“Quase todas as famílias foram divididas,quer para proteger as mulheres e as crianças,quer porque as milícias e os militares as sepa-

para a infância e a juventude em Díli e emOecussi, para aquelas crianças que, por quais-quer razões, não frequentam a escola e vivemprincipalmente nas ruas.

João da Costa, de 12 anos, é órfão. Orapaz vive agora com a avó. Para viverem como que têm, “ela pede-me para vender coisascomo bananas e cigarros para a ajudar a com-prar alimentos, legumes e roupas”, diz João.“Não posso recusar-me, porque precisamos dodinheiro”.

Ciente das dificuldades por que passamcrianças como o João, a administração daUNTAET está ansiosa por intervir.“Compreendemos a necessidade de deter estasituação antes de que escape ao nosso contro-lo”, afirma Faith Harding, Directora doGabinete do Representante Especial Adjuntodo Secretário-Geral. “Na sua maioria, as cri-anças têm lesões mentais e físicas”, acrescen-ta, “e, por isso, precisam de alguma ajuda”.

O plano, afirma a Sr.ª Harding, é centrar-se na criação de programas baseados na comu-nidade e ligados a outros grupos, como aIgreja e organizações não governamentais(ONG). Foi formada uma comissão, que é con-stituída pelas chefias do Departamento deServiços Sociais, para tratar especificamentedo problema e espera-se que os seus membrosem breve tornem públicas as suas conclusões.

Entretanto, já brilha um raio de esper-ança para os meninos da rua. Trata-se de umainiciativa das irmãs salesianas. As religiosas,apoiadas por 30 voluntários, abriram um cen-tro no antigo Gedung Kejakasaan (gabinetejurídico), a 26 de Maio, para dar apoio às cri-anças deslocadas. “Alguns dos meninos da ruatêm pais, outros não, enquanto a maioria nãofrequenta a escola”, afirma a Irmã ÁureaFreitas. “De momento, o que estamos a fazer éproporcionar-lhes um local para onde podemvir, brincar e onde podemos aconselhá-los”.

raram pela força”, afirma um relatório conjun-to elaborado pelo Fundo das Nações Unidaspara a Infância (UNICEF), o Comité de SocorroInternacional (IRC) e o Fundo Cristão para aInfância (CCF), publicado em Março. “Umaconsequência é o número de crianças que foramseparadas dos seus pais”.

Estas crianças separadas são “especial-mente vulneráveis e podem não estar a receberos mesmos cuidados e apoio do que outras cri-anças da sua família temporária”, afirma orelatório. Alguns destes jovens separadosacabaram, sem a menor dúvida, nas ruas deDíli.

Mas há que fazer uma distinção entre osrapazes honestos e trabalhadores, que sãovendedores, e os vagabundos das ruas que pas-sam o tempo a pedir, a insultar e, por vezes, aroubar.

Um espectáculo familiar nas ruas de Dílisão os jovens que apregoam cigarros, fruta,rebuçados e outros alimentos. Até onde existememória, sempre foi um modo de ganhar avida na capital de Timor Leste.

“Desde o tempo dos Indonésios que o meuamigo e eu vendemos bananas fritas e amen-doins preparados pelos nossos pais”, diz ArsinoCosta Araújo, de 12 anos, ladeado porMarselino do Rego. “É a nossa contribuiçãopara o rendimento da família”. Estes alunos doterceiro ano dizem que o seu trabalho é feito só“depois da escola”. Arsino calcula que o númerode jovens vendedores ambulantes, nas ruas deDíli, se cifra nas centenas.

“Se as crianças tiverem oportunidades deaprenderem e de se divertirem, mas tambémrealizarem algum trabalho que não sejaperigoso, não penso que seja um problema”,afirma Richard Koser, um Funcionário deInformação da UNICEF, baseado em Díli.Apressa-se a acrescentar, no entanto, que aUNICEF planeia instalar, em breve, centros

Meninos da rua...continuação pág. 1

Um dos rapazinhos que não têm lar, em Díli.

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Exumados corpos de pessoal daUNAMET: Os corpos de dois funcionários daUNAMET, assassinados na violência deSetembro passado, foram exumados emErmera, em 10 de Junho. Esta é a primeiraexumação relacionada com investigações sobreas mortes de pessoal da UNAMET.Os corpos em decomposição encontram-sedepositados na morgue do Centro de DireitosHumanos da UNTAET, em Díli. Os peritosmédico-legais estão a examinar os corpos e embreve emitirão as certidões de óbito.

Os corpos, ambos do sexo masculino, foramencontrados em covas, tendo um deles sidoexumado de um caixão, na aldeia de Babolete,no subdistrito de Atsabe.

Durante a violência, foram mortos seistimorenses que trabalhavam para a Missãodas Nações Unidas em Timor Leste. Os seisassassinados eram João Lopes, OrlandoGomes, José Ernesto Mariano, Ruben BarrosSoares, Domingos Pereira e Leonardo da SilvaOliveira. Álvaro Dias Lopes, outro membro dopessoal da UNAMET, foi ferido com gravidade.

Primeiro estrangeiro preso por delitosrelacionados com a droga: Um trabalhadoraustraliano da construção civil suspeito deposse e venda de drogas foi detido, a 17 deJunho, em Díli. É o primeiro estrangeiro a ser

‘Conquistastes o nosso afecto’

OVice-Presidente do CNRT, José Ramos Horta e o comandante jordano,Coronel Ahmad Farajat, riem, enquanto tomam chá, na sede do batalhão, em

Oecussi.Numa visita de um dia, em que o Coronel Farajat foi o anfitrião, ao enclave timo-rense de Oecussi, o Sr. Ramos Horta falou a aldeões em Sacato - a apenas 1,5quilómetros da fronteira com Timor Ocidental - e Junho, onde uma multidãoavaliada em 2000 pessoas acolheu entusiasticamente o dirigente do CNRT.

Rodeado por residentes de Sacato, o Sr. Ramos Horta expressou apreço peladedicação profissional das forças jordanas. “Tornastes as vidas, aqui em Oecussi,mais pacíficas, destes tranquilidade ao povo, destes-lhe segurança e destes-lheconforto”, afirmou o dirigente do CNRT, que fora crítico em relação à instalaçãono terreno dos jordanos, quando esta foi anunciada, em Fevereiro.

“Conquistastes, efectivamente, o afecto e a confiança do povo de Oecussi”, afir-mou o Sr. Ramos Horta.

Desde a sua chegada, o batalhão, composto por 900 homens, tem colaboradona limpeza do distrito, na reparação de escolas e casas e trazido estabilidade auma área que foi destruída em 98% na sequência da votação de Agosto passado.

Resumo Notícias preso em Timor Leste.A prisão seguiu-se à detenção de um agenteegípcio da CivPol, suspeito de negociar comdrogas. Foi detido e interrogado em 16 deJunho.

A CivPol fez uma busca em casa do sus-peito australiano e encontrou uma quantidadesignificativa de matéria orgânica, que se pensaser marijuana, bem como diversos objectos edinheiro. O caso do cidadão australiano, que seencontra detido na prisão de Becora, em Díli,foi entregue ao juiz de instrução.

Um relatório completo foi enviado de Dílipara a Sede das Nações Unidas, em NovaIorque, onde em breve será decidido onde serájulgado o caso do agente da CivPol.

A Pertamina vai vender combustível agranel a preços mais baixos: Na sequênciade conversações entre funcionários daPertamina e da UNTAET, a companhiapetrolífera indonésia anunciou que vai vendergasolina e gasóleo a granel ao preço de 3000rupias por litro.

O preço aplica-se a compras de pelo menoscinco barris de combustível, ou 1000 litros. Osmotoristas de táxis e outros que utilizam quan-tidades menores de combustível poderiam con-stituir grupos para comprar o combustível agranel.

Investigadores indonésios visitarãoTimor Leste: Uma equipa de 15 membros da

Procuradoria-Geral Indonésia deverá visitarDíli, no início de Julho, para, durante 10 dias,entrevistar testemunhas e recolher provasmateriais.

Representantes políticos e jurídicos daUNTAET e os seus homólogos indonésios acor-daram em que só os investigadores daUNTAET irão interrogar as testemunhas emvários casos seleccionados. Os resultados serãoenviados ao Gabinete do Procurador-Geralindonésio.

A UNTAET apreende munições ilegais: APolícia Civil (CivPol) da UNTAET e agentesdas alfândegas apreenderam um carregamen-to de munições ilegais, num contentor decarga, em Díli. As munições, 200 carregadoresde balas de ponta macia, estavam escondidasnuma caixa com várias embalagens de corti-nas. As investigações estão em curso.

A 1 de Junho, funcionários do Serviço deControlo de Fronteiras da UNTAET detiveramdois camiões no posto fronteiriço de Batugade.O importador apresentou inicialmente, aosfuncionários alfandegários, as facturas do car-regamento que apresentavam um valor denove milhões de rupias, No entanto, duranteuma inspecção de rotina, foi encontrado umsegundo manifesto que mostrava que mercado-rias avaliadas em 39 milhões de rupias. Oscamiões foram escoltados até ao porto de Díli,dado que eram demasiado grandes paradescarregarem em Batugade.

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Timor Leste tem extensos recifes de coral. Os recifes sãoáreas pesqueiras e de criação de peixes importantes e

protegem as orlas costeiras da erosão e fornecem, inclu-sive, areia às praias. Os recifes de coral, um dos ecossis-temas mais variados e frágeis, são muitas vezes chamadosas “florestas virgens dos oceanos”. No futuro, os recifes decoral poderão também vir a revelar-se muito importantes,em termos económicos, para Timor Leste, como atracçõesturísticas. No entanto, os recifes de Timor Leste estão aapresentar sinais crescentes de esgotamento, sobretudoao longo da costa norte.

Aileu: Três igreja protestantes foram queimadas nas aldeias deName Lesso, Fahisoi e Berilau, no subdistrito de Lequidoe.

O pastor protestante de Berilau foi agredido fisicamente e asua motorizada, queimada. O incidente foi, aparentemente, des-encadeado quando jovens protestantes fizeram chacota de umaprocissão católica. Em Timor Leste, o mês de Junho é dedicado aoSagrado Coração de Jesus e as procissões nocturnas são um acon-tecimento vulgar.

A CivPol do distrito está a investigar os incidentes e apeloua todas as partes para que exercessem tolerância religiosa. Ospadres católicos da zona referiram-se ao incidente num sermãode Domingo e exortaram à reconciliação entre protestantes ecatólicos.

Baucau: A UNTAET distribuiu 1200 toneladas de peixe a cercade 600 pessoas e forneceu 105 folhas plásticas e 100 conjuntos derações a cerca de 150 famílias, nas aldeias de Laisoro, Adu eMaluru, que foram afectadas, recentemente, por uma torrente delama.

O Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidascontribuiu com 6,2 toneladas de arroz e milho, enquanto a CAR-ITAS, uma organização não governamental (ONG) forneceu, a108 famílias, as quantidades de óleo alimentar e feijõesnecessária para um mês.

A torrente de lama foi provocada pelas fortes chuvas e pelaerosão numa zona montanhosa que sofrera um grave desflo-restamento. Para além de destruir os lares, a lama alagou os tal-hões de arroz, coqueiros e as colheitas de mandioca. Não há notí-cia de baixas embora tenham sido afectadas 6000 pessoas em seisaldeias.

A maior torrente de lama ocorreu entre as aldeias de Bualalee Laisoro Lai, cobrindo uma área que se estima ter atingido cercade um quilómetro de comprimento e 100 metros de largura.

Resumo de Notícias dos Distritos

COORRAALL: ‘‘ASS FLLOORREESSTTAASS VIIRRGGEENNSS DDOOSS OCCEEAANNOOSS’LEEMMBBRREEMM-SSEE DDEE QQUUEE:• CCOOMMPPRRAARR EE VVEENNDDEERR CCOORRAALL, IINNCCLLUUIINNDDOO CCOORRAALL 'MMOORRTTOO', ÉÉ ILEGAL• RREECCOOLLHHEERR CCOORRAALL NNOOSS RREECCIIFFEESS ÉÉ ILEGAL• AA DDEESSTTRRUUIIÇÇÃÃOO EE DDEEGGRRAADDAAÇÇÃÃOO DDOOSS RREECCIIFFEESS DDEE CCOORRAALL SSÃÃOO ILEGAIS• QQUUAALLQQUUEERR PPEESSSSOOAA QQUUEE SSEE DDEEDDIIQQUUEE ÀÀSS AACCTTIIVVIIDDAADDEESS AATTRRÁÁSS RREEFFEERRIIDDAASS PPOODDEERRÁÁ SSEERR AALLVVOO DDEE UUMM MULTAAAVVUULLTTAADDAA

E, PPOORR FFAAVVOORR, LLEEMMBBRREEMM-SSEE DDEE QQUUEE OO LLUUGGAARR DDOO CCOORRAALL ÉÉ NNOO MMAARR, NNÃÃOO EEMM VVOOSSSSAA CCAASSAA OOUU EESSCCRRIITTÓÓRRIIOO

CCOOMMOO PPEEÇÇAA DDEECCOORRAATTIIVVAA!

PAARRAA MMAAIISS IINNFFOORRMMAAÇÇÕÕEESS SSOOBBRREE EESSTTAA OOUU QQUUAALLQQUUEERR OOUUTTRRAA QQUUEESSTTÃÃOO AAMMBBIIEENNTTAALL, ÉÉ FFAAVVOORR CCOONNTTAACCTTAARR

AA UNNIIDDAADDEE DDEE PRROOTTEECCÇÇÃÃOO AMMBBIIEENNTTAALL DDAA UNTAET, PPEELLAA EEXXTTEENNSSÃÃOO 5335 OOUU VVIISSIITTAARR OO SSEEUU

EESSCCRRIITTÓÓRRIIOO NNAA "CCIIDDAADDEE DDAASS TTEENNDDAASS", PPOORR DDEETTRRÁÁSS DDOO PAALLÁÁCCIIOO DDOO GOOVVEERRNNAADDOORR.

A Embaixadora da Boa Vontade daUNICEF para Timor Leste, AgnesChan, durante uma entrevista em18 de Junho, em Díli. A música,nascida em Hong Kong, visitoucampos de refugiados em Kupang eAtambua, Timor Ocidental, onde asdificuldades enfrentadas pelas cri-anças a tocaram profundamente.“Vi muitos bebés nos campos… asituação não é nada boa”, disse,descrevendo as colónias de refugia-dos como “muito confrangedoras”.

A Sr.ª Chan, que também éprofessora e escritora, afirmou que era importante que alguém falasse pelascrianças, que foram vítimas inocentes dos tumultos do ano passado. “Lembro-me de quando o Comité da UNICEF me pediu para me tornar Embaixadorada Boa Vontade para Timor Leste”, disse a cantora, “O Comité disse quehavia vozes muito fracas, neste mundo, que precisavam de ser ouvidas e per-guntou-me se desejaria colaborar dando apoio à sua causa. Respondi, 'Sim,é claro que quero juntar-me a vós'”.

Quanto ao papel que as nações asiáticas vizinhas, como o Japão - ondea Sr.ª Chan é uma grande estrela da música pop -, poderiam desempenharno futuro de Timor Leste, a artista afirmou: “Penso que o tipo de país ou deidentidade que os Timorenses vierem a escolher depende apenas delespróprios. Merecem a sua dignidade e independência”. No entanto, disse,existe a necessidade de ensinar as pessoas a pensarem por si próprias, umpré-requisito para a construção de uma nação. “Mas trata-se de um proces-so que, espero, libertará verdadeiramente os corações dos Timorenses doslongos anos de sofrimento”.

A Embaixadora da Boa Vontade da UNICEFpara Timor Leste Agnes Chan.

Número de Emergência da CivPolda ONU em Dili

(Telemóvel) 0408039978

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Pop star empresta a sua voz a favor das crianças de Timor Leste

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Noticias DesportivasTénis: Mary Pierce ganhou o Open de França, após ter derrotado a sua rivalespanhola, Conchita Martinez, enquanto no lado masculino, Gustavo Kuerten, doBrasil, ganhou o seu segundo título de ténis francês, ao derrotar o sueco MagnusNorman numa final de cinco sets.

Basquetebol: Os Los Angeles Lakers ganharam o seu 12º campeonato, derrotan-do os Indiana Pacers por 4-2, numa competição à melhor de sete. O jogador cen-tral Shaquille O'Neal marcou 41 pontos no jogo que decidiu o título e foi consid-erado o "Melhor Jogador" do torneio.

Euro 2000: O campeonato arrancou a 10 de Junho, quando a Bélgica ganhou oseu primeiro jogo, no Grupo B, contra a Suécia, por 2:1, enquanto a Itália derro-tou a Turquia por 2:1. Noutros jogos, a Alemanha empatou com a Roménia, por1:1, enquanto Portugal derrotou a Inglaterra por 3:2, no Grupo A. Nos jogos doGrupo C, a Noruega derrotou a Espanha, por 1:0 e a Eslovénia empatou por 3:3contra a Jugoslávia. Entretanto, a França eliminou a Dinamarca por 3:0 e osPaíses Baixos derrotaram a República Checa por 1:0.A França e a Holanda ficaram apuradas para a segunda volta com vitórias idên-ticas, por 3:0, contra a República Checa e a Dinamarca, respectivamente. Entreos apurados do Grupo A, conta-se Portugal, que derrotou a Roménia por 1:0 com

um golo marcado no último minuto. A Inglaterra manteve vivas as suas esper-anças ao derrotar a Alemanha com o golo solitário marcado por Shearer.

Mercado de transferências: Raul Gonsalez e Roberto Carlos assinaram novoscontratos com o Real Madrid, para jogarem durante mais cinco anos.Actualmente, Raul é considerado o jogador mais bem pago, recebendo 4 mil-hões de libras por ano. Afirma-se também que o Real está em negociações comRoberto Pirez, oferecendo-lhe uma transferência depois de anteriormente terestado ligado ao Arsenal. Foi noticiado que a Fiorentina está interessada nocapitão internacional da Eslovénia, Zlatko Zahovic, depois de ter contratadoFaith Terim, do Galatasaray… Hakan Sukur está a negociar a sua transferênciapara o Inter de Milão, enquanto se afirma que a Lazio tem um vínculo muitoforte com o meio-campo português do Barcelona, Luís Figo, e está disposta apagar 30 milhões de libras pela sua transferência… Após ter contratado JimmyFloyd Hasselbaink, o Middlesborough pagou também um passe de 3 milhõesde libras para libertar Clarence Seedorf do Real Madrid. A equipa gastou tam-bém 6 milhões de libras na aquisição de Chris Sutton, do Chelsea… Entretanto,afirma-se que o Aston Villa está em negociações para a transferência do meio-campo internacional francês, David Ginola, do Totenhamhotspur, por um preçode 3 milhões de libras. O presidente do Spur, George Graham, espera queGinola fique e o ajude a lutar contra o Man United e o Arsenal, na próximaépoca.

JJooggooss OOllíímmppiiccooss:: O Vice-Presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Kevan Gosper, chegou a Dília 17 de Junho, para ajudar a criar o Comité Olímpico de Timor Leste e identificar potenciais candidatospara competirem nos Jogos de Sydney.

O Sr. Gosper era acompanhado por Peter Miro, director da Solidariedade Olímpica. Os dois repre-sentantes desportivos foram acolhidos cordialmente pelo Presidente do Comité Olímpico de Timor Leste,José Ramos Horta.

“Já identificámos Victor Ramos como um potencial participante nos Jogos de Sydney”, afirmou o Sr.Miro. “Identificar um atleta que pode progredir para a participação olímpica, tão rapidamente, é muitodifícil”.

O Sr. Miro disse que esperava poder vir a identificar “três ou quatro e mais alguns [atletas] para estru-turar esse grupo como uma equipa. Já temos um acordo de princípio com a Australian Institution of Sport(AIS) para nos dar assistência e esperamos, dentro de dias, ter o Sr. Ramos a bordo de um avião. O COIirá financiar tudo isso mediante um programa de bolsas de estudo”.

O Sr. Gosper acrescentou que o COI estava disposto a providenciar, de imediato, fundos para areconstrução do telhado do ginásio público desportivo de Díli, que se encontra grandemente destruído.

A esperança olímpica Victor Ramos (à esquerda) ganhou medalhas nos Jogos Asiáticos e nos Jogos do Sudeste Asiático.Em baixo, alguns dos atletas e os seus treinadores que foram convidados para treinar na Austrália, antes dos JogosOlímpicos de Sydney, que terão início a 15 de Setembro. Apenas dois desses atletas irão participar efectivamente nosJogos. Mais abaixo, à direita, a maratonista Aguida Amaral num treino.

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O nome Tais Timor conjura a image do cuidadoso e laboroso processo envolvido na tecelagem do tecido tradicional Timorense usado em todas as ocasiões especiais. Os diferentes “ingredientes” que constituemTimor Leste unem-se durante o tempo de transição para a recontrução do país. Tais Timor tem como objectivo documentar e reflectir todos aqueles eventos que tecem a beleza da tapeçaria que é Timor Lorosa’e.Um serviço público de informação bi-semanal publicado pela Administração Transitória das Nações Unidas em Timor Leste (UNTAET). Publicado em tetum, indonésio, português e inglês. Escrito, editado edesenhado pelo Gabinete de Comunicação e Informação Pública. Circulação 75,000.UNTAET-OCPI c/ - PO Box 2436 Darwin, NT 0801 Austrália Telefone: +61-8-8942-2203 Fax +61-8-8981-5157 e-mail [email protected] não é um documento oficial. Apenas para informação.

TTiiuu rreessppoonnddee aa ppeerrgguunnttaass ssoobbrree......

A ssituação ddifícil ddos rrefugiadosCaros leitores: Em Setembro passado, quan-do se desencadeou a violência após a votaçãode 30 de Agosto, mais de metade dosTimorenses obrigados a fugir acabou emTimor Ocidental, muitos contra a sua von-tade. Muitos dos refugiados regressaram aTimor Leste, mas milhares deles continuamem campos de refugiados, do outro lado dafronteira. A sua difícil situação preocupamuitos dos meus jovens amigos e discutimosesse facto, recentemente. Oiçam:

Amigos: Olá, Katuas, diak ka la'e?Tiu: Bem, obrigado, mas que se passa destavez?João: Bem, Tiu, penso que sabes que, seestamos aqui, é porque queremos conversar.Tens tempo?Tiu: Claro, para vocês arranjo sempretempo.Gracia: Tiu, especificamente, gostaríamosde saber alguma coisa acerca do que está aacontecer com os refugiados, em TimorOcidental.Aluci: Sim, quantas pessoas foram paraTimor Ocidental e quantas ainda lá estão?Tiu: O Alto Comissariado das NaçõesUnidas para os Refugiados (ACNUR) e osorganismos internacionais afirmam queentre 150 000 e 280 000 pessoas foram paraTimor Ocidental. As mesmas organizaçõesdizem que ainda lá se encontram cerca de 90000 pessoas. No entanto, o Governo indoné-sio refere um número que se aproxima das126 000.João: Como são as condições de vida emTimor Ocidental, especialmente no que serefere a alimentação, saúde e habitação?Tiu: Bem, meu amigo, os refugiados, emTimor Ocidental, vivem em condições muitodifíceis, mas estas variam de local para local.Alguns refugiados vivem em casas arren-dadas, têm inclusive pequenos estabeleci-mentos comerciais, mas outros estão a vivercom as famílias em meras cabanas debambu. Para muitos, a situação piorou,durante as graves cheias, em Maio. Muitosviram as suas cabanas e os seus bens seremlevados pelas águas e mais de 20 refugiadosmorreram afogados.Aluci: Que comem eles, Tiu?Tiu: Cada família recebe uma pequenaporção de arroz, mas existem dificuldades e,por vezes, nem todos a recebem regular-mente.

Os refugiados recebem também cuidadosgrátis em postos de saúde e hospitais mas,em lugares como Betun, que foi duramenteatingido pelas cheias, muitas das clínicasforam destruídas e por isso, agora, a Igreja eos médicos estão a tratar os pacientes eminstalações improvisadas.Gracia: Caramba, isso parece terrível. Mas,

Tiu, porque é que eles não regressam, sim-plesmente, a Timor Lorosa'e e retomam assuas vidas na sua terra natal?Tiu: Bem, Gracia, sabes tão bem como euque não é tão simples como isso. Paracomeçar, alguns dos refugiados são membrosdas milícias e outros, ex-funcionários públi-cos. Mostram alguma hesitação em relaçãoao regresso.

Para além disto, nos campos de refugia-dos, existe uma campanha generalizada deintimidação e desinformação, que faz quemuitos pensem que Timor Leste está imersono caos e é um local assustador para se viver.Gracia: Mas, Tiu, isso não é verdade!Tiu: Claro que não, Gracia. Os nossos ami-gos e familiares precisam de receber infor-mações correctas acerca das condições aqui,em Timor Lorosa'e e precisam de garantiasde que estariam em segurança, caso decidis-sem regressar, e de que poderiam ganhar avida, dar educação aos seus filhos e recebercuidados de saúde adequados.

Muitos deles estão também à espera deque os dirigentes locais, que foram com elespara Timor Ocidental, lhes assegurem quechegou a hora de regressarem a casa.

Podemos todos ajudar os que pretendemregressar, dizendo-lhes o que está a aconte-cer, verdadeiramente, aqui. Por exemplo,rapazes, mandem-lhes cartas e fotografiasatravés de organizações como o ACNUR, oServiço dos Jesuítas para os Refugiados(JRS), o Comité Internacional da CruzVermelha (CICV) e a OrganizaçãoInternacional para as Migrações (OIM).Mostrem-lhes que as condições melhoraram.Liza: Mas, Tiu, muitos de nós já fizemosisso. Então, porque é que ainda lá estão tan-tos refugiados?Tiu: Bem, como já disse, continua a existirmuita intimidação e desinformação. Temosde ser pacientes e confi-ar em que, com a pas-sagem do tempo, todosos que pretendemregressar ficarão mel-hor informados eregressarão. Isso está aacontecer, emboradevagar.Liza: Bem, Tiu, e quan-to aos refugiados quetinham emigrado paraoutros provínciasindonésias? Quantosforam repatriados?Tiu: Sinto muito, naverdade não posso dizerque sei. Mas, em termosglobais, o número totalde pessoas que foram

repatriadas para Timor Leste situa-seacima de 160 000.Aluci: Tiu, houve alguns membros das milí-cias repatriados para Timor Leste? E comofoi o processo de reintegração?Tiu: Claro, muitos deles regressaram.Alguns foram reintegrados facilmente nacomunidade, quando se verificou que nãohaviam cometido quaisquer crimes. Masaqueles que eram suspeitos de terem toma-do parte em quaisquer formas de violência ehomicídios foram levados pela Polícia Civil(CivPol) das Nações Unidas e encontram-seactualmente em centros de detenção.João: Então, Tiu, como é que essas pessoasvão ser reintegradas na sociedade?Tiu: João, a melhor maneira de apoiar oprocesso de reconciliação em Timor Lorosa'eé as comunidades serem informadas, ante-cipadamente, sobre as prováveis dificul-dades que os retornados poderiam ter quan-to à sua reintegração na sociedade.

As comunidades são incentivadas a dis-cutirem se os retornados cometeram quais-quer crimes e a envolver também a CivPol,grupos de defesa dos direitos humanos, aIgreja, ONG e a UNTAET.

Apesar disso, houve alguns que foramrejeitados pela comunidade ou atacados eperseguidos por outros. Isso não é bomporque, como sabem, menos por menos nemsempre dá mais.Gracia: Tiu, tens algumas informaçõessobre as condições de vida dos refugiados,após o seu regresso de Timor Ocidental?Tiu: Praticamente todos recebem algumaajuda durante o período de transição. Amaior parte dos retornados traz poucosbens, mas recebem alimentação, casa e out-ras ajudas, à chegada. Os indivíduos vul-neráveis recebem ajuda especial.

Bem, meus amigos, tenho de me ir emb-ora, mas devíamos voltar a falar muito embreve. É sempre um prazer.Amigos: Obrigado barak, Tiu. Tambémgostamos sempre de falar contigo. Adeus!!

Dois irmãos reunidos nas reuniões familiares mensais em Batugade, na fronteira entreTimor Leste e Timor Ocidental.

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