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História da Educação, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, n. 20, p. 173-180, set. 2006 Disponível em: http//fae.ufpel.edu.br/asphe Primórdios da Educação no Brasil Tania Conceição Iglesias do Amaral MATTOS, L. A., Primórdios da Educação no Brasil: o período heróico (1549-1570). Rio de Janeiro, Aurora, 1958. 306 p. Luiz Alves de Mattos foi catedrático de Filosofia, História da Educação e diretor da Faculdade de Educação da Universidade do Distrito Federal - já extinta na época da publicação desse livro - catedrático de Didática Geral e Especial e diretor do Colégio de Aplicação da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Além da obra acima referida que passaremos a resenhar, o autor escreveu, entre outros trabalhos, os seguintes livros lançados pela editora Aurora, Rio de Janeiro: “O Quadro-negro e a sua Utilização no Ensino” (1954). “A Linguagem Didática no Ensino Moderno” (1956). “Sumário de Didática Geral”(1957). “Os objetivos e o Planejamento de Ensino” (1957). Todos, com caráter de manual didático, inseridos no campo da educação e abordando, notadamente, o tema Ensino Aprendizagem. Primórdios da Educação no Brasil, publicado em 1958, extrapola, na produção do autor, a discussão didática propriamente dita em direção a compreensão do campo historiográfico educacional brasileiro, do qual afirma a precariedade de pesquisas e conseqüentemente, a também precária compreensão de um período de vinte anos, (1549-1570) que para ele, representou o período mais empreendedor e dinâmico da educação brasileira, ao qual denomina, devido às agruras pelas quais tiveram que passar os homens educadores dessa época, Período Heróico, justificando assim, não só a pesquisa, como também a sua delimitação espaço-temporal, categoria, aliás, muito importante para o autor, na medida em que a obra pretendia inicialmente discorrer sobre a periodização da história da educação brasileira, tendo, inclusive, no início do livro, esboçado tal periodização defendendo-a como elemento fundamental e necessário à compreensão da História da Educação. Para ele, evidentemente até o momento em que escreveu esse livro, a educação brasileira possuiu “nitidamente” seis períodos distinguíveis que são: Período Heróico (1549 a 1570); Período de Organização e Consolidação (1570 a 1759); Período Pombalino (1759 a 1827); Período Monárquico (1827 a 1889); Período

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Histria da Educao, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, n. 20, p. 173-180, set. 2006 Disponvel em: http//fae.ufpel.edu.br/asphe Primrdios da Educao no Brasil Tania Conceio Iglesias do Amaral MATTOS,L.A.,PrimrdiosdaEducaonoBrasil:operodoherico (1549-1570). Rio de Janeiro, Aurora, 1958. 306 p. LuizAlvesdeMattosfoicatedrticodeFilosofia,Histriada EducaoediretordaFaculdadedeEducaodaUniversidadedoDistrito Federal-jextintanapocadapublicaodesselivro-catedrticode DidticaGeraleEspecialediretordoColgiodeAplicaodaFaculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Alm da obra acima referida que passaremos a resenhar, o autor escreveu,entreoutrostrabalhos,osseguinteslivroslanadospelaeditora Aurora,RiodeJaneiro:OQuadro-negroeasuaUtilizaonoEnsino (1954). A Linguagem Didtica no Ensino Moderno (1956). Sumrio de Didtica Geral(1957). Os objetivos e o Planejamento de Ensino (1957). Todos, com carter de manual didtico, inseridos no campo da educao e abordando, notadamente, o tema Ensino Aprendizagem.Primrdios da Educao no Brasil, publicado em 1958, extrapola, naproduodoautor,adiscussodidticapropriamenteditaemdireoa compreensodocampohistoriogrficoeducacionalbrasileiro,doqual afirma a precariedade de pesquisas e conseqentemente, a tambm precria compreensodeumperododevinteanos,(1549-1570)queparaele, representouoperodomaisempreendedoredinmicodaeducao brasileira,aoqualdenomina,devidosagruraspelasquaistiveramque passaroshomenseducadoresdessapoca,PerodoHerico,justificando assim, no s a pesquisa, como tambm a sua delimitao espao-temporal, categoria,alis,muitoimportanteparaoautor,namedidaemqueaobra pretendiainicialmentediscorrersobreaperiodizaodahistriada educaobrasileira,tendo,inclusive,noinciodolivro,esboadotal periodizaodefendendo-acomoelementofundamentalenecessrio compreensodaHistriadaEducao.Paraele,evidentementeato momentoemqueescreveuesselivro,aeducaobrasileirapossuiu nitidamente seis perodos distinguveis que so:Perodo Herico (1549 a 1570);PerododeOrganizaoeConsolidao(1570a1759);Perodo Pombalino(1759a1827);PerodoMonrquico(1827a1889);Perodo 174 Republicano (1889 a 1930) e Perodo Contemporneo (1930 at os nossos dias) aqui, o autor se refere ao ano de 1958. Quanto ao contedo, afirma a iseno de pretenso interpretativa, buscandoapenassubsidiarpormeiodooferecimentodefontes historiogrficas,documentoscapazesesuficientesparadialogarporsiss comoleitor,que,emltimainstncia,quemdeverinterpret-los evitando, dessa forma e de acordo com a crena epis temolgica do autor, a subjetividade em direo a um maior rigor cientfico. OLivrofoidivididoemquatropartesdesenvolvidasemdoze captulosassimorganizados:Aprimeirapartetratadoesboodeum sistema educacional no qual constam quatro captulos que mostram a gnese dosistemaeducacionaljesuticonaAmricaportuguesa.Asegundaparte, desenvolvidaemdoiscaptulos,tratadapolticaadministrativadoplano educacional jesutico, apresentando os conflitos bem como a administrao ancoradaemumapolticatemporaledegerenciamentodosrecursos financeiros.Naterceirapartedolivro,desenvolvidaemtrscaptulos,o autorapresentabiografiasdaquelesqueavaliacomograndesfiguras histrico-educacionais da poca, tomados para o estudo pelos atributos, que nolivroaparecemcomopredicadosqueoautorenfatiza,quaissejam: Martinote, O Primeiro Professor de Curso Secundrio do Brasil; Vicente Rijo:OPrimeiroMestredoBrasileJosdeAnchieta:OGrande EducadoreApstolo.Aquart aeltimaparte,desenvolvidaemtrs captulostratadofimdomomentoestudadoperodoHerico,ondeo autor recapitula e caracteriza o perodo estabelecido. Mattos inicia o livro traando o panorama do momento histrico emquesedeuoincio,segundoele,daHistriadaEducaonoBrasil (1549).Acontextualizaofoielaboradadeformaaevidenciara ineficincia das primeiras formas de possesso, gerada pela falta de controle dePortugaloudaempresacolonizadoraportuguesa,sobreodomniodo territrioconquistado.Mostra,apartirdedocumentos,osfundamentos poltico-colonizadores concretos que se constituram as bases sobre as quais foramconstrudas,aindaqueinsipientes,asprimeirasaespolticas educacionais para o Brasil, bem como as primeiras diretrizes bsicas para as instruescontidasnosregimentosinstitudosporD.JooIIInos Regimentos de 1548 e entregues a Tom de Souza, que a partir da teria a tarefa de governar a nova fase da colonizao da Amrica portuguesa cujo xitodependia,emgrandepartedaconversodosgentiospormeioda catequeseadainstruo,missoquefoientregueCompanhiadeJesus, ordemreligiosacultivadaemPortugalcomoprecpuoobjetivodaobra catequtica nas terras conquistadas alm mar. 175 Exaltaosprimeirosmissionrioseducadoresjesutas, nomeadamente por meio da figura do padre Manoel da Nbrega, por terem correspondido s expectativas da misso que lhes foi conferida tomando em contaofrgilsistemaeducacionalpraticadonoReinoemesmoem outras partes da Europa. Entretanto no se detm a enaltecer os feitos hericos de seuspersonagens.Procuramostrarosconflitosquesefizerampresentes naquele momento histrico. Toma como recurso a narrativa, mas tece a histria de forma tal quevaievidenciandoaconstnciademovimento,demodoqueoleitor possacaptaraconfiguraoderelaesexistentesnamesma.Quandofala sobre o Colgio dos Meninos de Jesus de So Vicente, inicia por questes administrativas temporais terminando com as perspectivas de Nbrega para ofuturoeducacionaldopas,mostraoquoarrojadofoi,setomarmosa pocadesuacriao,opensamentoeducacionaldoJesutaManoelda Nbrega, sua poltica, objetivos, planos de estudos e projetos vindouros que emltimaanalise,pelomenosatessapoca,representouopensamento jesutico colonial em sua primeira fase ou perodo como prefere o autor. Aocontrriodaprimeirapartedolivroqueversasobrea edificaodaCompanhiadeJesusedaeducaojesuticanacolnia portuguesa,asegundatratademostrarocerceamentonosideais educacionais de Nbrega que do origem a um novo perodo na histria da educaobrasileira.Nessaparteoautorvaiseacercandodosconflitos internosdaordemdosjesutasparamostraraorigemdanovafase educacionalqueseinicia,segundoomesmo,comodesamparoaoplano educacionalaquiestabelecidopelosprimeirosjesutas,comoestratgiade desmontedeideaisquehaviamsidoestabelecidoseconcretamente aplicadosnaconversodospovos.Trata-sedaoposioaoPlano Educacional de Nbrega, bem como da administrao temporal de recursos financeiros praticados pelas confrarias por ele fundadas para tal. Oautorapontacomoraizdaretiradadoapoiopolticados recolhimentospraticadosporNbreganaColnia,oafastamentodopadre SimoRodrigues,queforaofundadordaordemjesuticaemPortugale principalpatronodascausasjesuticasnacolnia.Issosedeudevidoa conflitos1 entre ele e o padre Incio de Loyola, criador da ordem de Cristo, e resultou em sua substituio por Diogo Miro em 1552. Alm disso, o autor aindaapontaoutrasdificuldadesquelevaramaoesgotamentoosesforos iniciais da educao jesutica: 1Oautornoesclarecequaisforamosconflitosouosseusmotivos.Apenasserefere existncia de um desentendimento entre Incio de Loyola e Simo Rodrigues. 176 Nbrega perdera em Simo Rodrigues seu inspirador e seu principal advogadoeprotetornametrpole.NoBrasilperderatambmseu principal apoio na pessoa de Tom de Souza, que em julho de 1553 entregava a Dom Duarte da Costa o supremo govrno da colnia. O novo governador geral, amigo pessoal de Luiz da Gr -substituto de Nbrega no governo da provncia jesutica no Brasil - no era toinclinadoafavorecerosrecolhimentos,tornando-se-lhes at mesmohostil,apoiado,alis,pelaexplcitamvontadeeaberta oposio de Dom Pedro Sardinha, primeiro bispo da Bahia e de todo o Brasil (p.107).[destaque nosso] NacitaoMattosmostraadesconfortvelsituaodeNbrega frente defesa dos recolhimentos, que foram sem dvida a base da poltica educacionaldoquepodeserchamadadeprimeirafasejesuticanoBrasil. Os novos direcionamentos e perspectivas polticas acabaram por suprimir os recolhimentosoriginandoumnovoperododaeducaobrasileira, inauguradoem1564,comoalvardaredzima,at1759,quandose extingue a ordem jesuta no Brasil pelas reformas pombalinas. NbregaeGrpossuamideriodistintosobreopapelda companhiadeJesusnacolnia.LuizdaGrpretendiaumtrabalhomais ligadosquestesespirituais,despojadosdebensmateriais,bemcomodo projetoeducacional.Naverdade,pretendiausarospoucosrecursosda companhiaparaaplic-losformaoreligiosa,enquantoNbrega pretendiafortalecermaterialmenteacompanhiaparapodercontinuar tocando o seu projeto educacional dos recolhimentos. Conscientesdoimportantepapelquerepresentavamosjesutas napolticadeexpansoultramarinapormeiodaeducaocatequticade aculturaodospovosconquistados,ainstituiodaRedzima2foia frmulaqueossuperioresdametrpole3encontrarampararesolvero conflito no seio da Compahia de Jesus no Brasil. Ao fato, devido negao de Gr em aceitar recursos da coroa, Mattos se refere da seguinte forma: Entretanto, no se limitava a Companhia em aceitar de bom grado a redzimaeesseseoutrosfavoresreaisquelheseramdadospor acrscimo. O ponto de vista da autonomia patrimonial e econmica, toinsistentementedefendidosporManueldaNbregacontraas tendnciasfranciscanizantesdoPe.LuizdaGr,equeantesno logravamaceitao,agora,depoisdefirmadosospadresda redzimaparaoscolgiosdaBahiaedoRiodeJaneiro,obtinha 2frmulapelaqualdezporcentodetodaaarrecadaodosdzimosreaisemtodasas capitaniasdacolniaeseuspovoadosficariaminperpetuumvinculadosmanutenoe sustento dos colgios da Companhia de Jesus (p.134). 3Oalvardaredzimafoiassinadoem1565peloCardealInfanteDomHenrique,regentedo reino durante a minoridade de Dom Sebastio (p.138). 177 plena aprovao do Pe. Geral de Roma nos termos do postulado da Congregao Provincial de 1568. (p.139). Mattosapontaque,apesardeterseimpostoopontodevistade Nbregaemrelaoautonomiapatrimonial,nofoipossvelaesse, mesmo tendo labutado por tal at a sua morte em 1570, salvar a poltica dos recolhimentosqueapartirdeentoforasubstitudaporoutroiderio,que deuincionovafaseeducacionaljesuticanoBrasil,dessavez,centrada nos colgios. Comumaconfiguraoacentuadamentepositivistadefazere escreverhistria4,olivroapresenta,naterceiraparte,abiografiade educadores aos quais Mattos denomina: [...] denodados e hericos pioneiros denossaeducao(p.16).Soeles:Marinote,VicenteRijoeJosde Anchieta.Doprimeirojesuta,trata-semaisdeumainvestigaodoque uma biografia propriamente dita. que a exposio versa sobre o resultado deumapesquisasobreumasuspeitadeMattossobreumtalprofessor que fora desterrado expatriado de Portugal por denncias de infidelidade por ter sido encontrado com ele, um catecismo luterano, e que segundo o autor, viriaaseroprimeiroprofessordeLatinnocursosecundrio,atualmente correspondente ao segundo ciclo do primeiro grau. Numexemplobemcaractersticodahistriaoficial,continua Mattos, dessa vez falando de Vicente Rodrigues, vulgo, Vicente Rijo: coube aglriadetersidooprimeiromestre-escoladoBrasilnoseudespertar paraaculturaocidentalecrist(p.180).Apresentasuavidaesuaobra destacando seus atos de herosmo, inscrevendo-o na histria como um pai, pioneiro,desbravador.Umsemeadoresmbolodaeducaobrasileira terminando com uma prdica digna de citao:A esse herico e abnegado VicenteRijoeaosseusintrpidosedevotadosirmosopreitode homenagem e de gratido dos educadores e do povo do Brasil. (p.180) Porsuavez,abiografiadeJosdeAnchietaumaadmirvel narrativa amparada em documentos biogrficos primrios e secundrios que apresentaavidaeaobracatequtico-educacionaldesseJesuta.Oautor baseia-seprimariamentenabiografiadeAnchieta,escritaporSimode Vasconcelos e de forma indireta, por meio da obra monumental de Serafim 4Deacordocomametodologiahistricapositivista,omtodocompreende duas fases bem determinadas,quaissejam:Adeterminaodosfatos;quepossamserempiricamente verificados por meio de observaes diretas ou indiretamente por meio de fontes documentais oficiais, por isso tambm ser conhecida como histria oficial, que acabou por destacar ou criar a figura positiva ou negativa dos personagens objetos de estudo e, conseqentemente a figura do heri por meio da narrativa histrica onde se enquadram grandes partes das biografias. E a outra fase, que trata do estabelecimento das conexes causais entre os fenmenos, onde se cr poder apreender a realidade em sua objetividade. 178 Leite, na biografia escrita por Quircio Caixa. Prope-se a apreender nesses documentoseofaz,ostraosmoraisepsicolgicosdapersonalidade marcantedeJosdeAnchieta,quesegundooautor,brilhouporsua inteligncia, sua cultura, sua ampla atividade apostolar, educativa e literria. A quarta e ltima parte do livro, que segundo o autor pretende ser uma recapitulao dos assuntos anteriores, extrapola e muito essa pretenso. Namedidaemqueresumeosprincipaisfatosabordadoselevai apresentandoanlisesatentoocultadasnotexto,bemcomo,trazendo tonaquestesqueaindanohaviamsidotratadas.Valeapenaressaltar algumas dessas anlises como tambm as novas questes. ParaMattos,odesmantelamentodosrecolhimentosedas confrarias, em nome de ideais espirituais e de abstinncia material tratou-se, naverdade,deumamanobra,apoiadapeloaltoescaloJesuta,para desgastar a poltica praticada e assegurar a obteno de maiores recursos da coroaparaoxitodanovapolticaadministrativaqueseengendrou na Metrpole entre 1553 e 1564, aguardando os alvars da redzima (p.256). Entreessaspolticashavia,entretanto,trsdiferenasquepara Mattos vieram a interferir grandemente no futuro educacional do pas. Aprimeiradizrespeitoincorporaodopatrimnioautnomo dasconfrariascompanhiadeJesusqueprovocouofimda descentralizao.Comissoopatrimnioficoucentralizadonasmosda companhiaeacabouconfiscadopeloMarqusdePombal.NofosseIsso grande parte do imenso patrimnio acumulado pela companhia de Jesus... teriasidopreservadaintataparaosobjetivosdaeducaonacional (p.257) [sic]. Osegundodizrespeitoseletividadedaeducao:a substituiodopadroeminentementedemocrticodoprimeiropelo padroseletivamentearistocrticodosegundo(258).Oprimeiromodelo era destitudo de carter seletivo na medida em que no havia distino de raaedeclassesocial.Todos5possuamasmesmasoportunidades educacionais,enquantononovoplano,osrfosforamtotalmente excludosdomodelopraticado;oscuruminspodiamparticiparapenasdas escolasdelerescrever.Oscolgiosprivilegiavamosfilhosdosbrancos mais abastados e mais restritivamente aos mamelucos que progressivamente tiveram, em colgios como o da Bahia e do Rio de Janeiro, tanto eles como osmestios,oacessoproibido.Foramessasaesque,segundooautor, inauguraram no campo educacional a perniciosa mentalidade que at hoje 5Entenda-se todos queles que podiam participar do processo educacional da poca quais sejam: os curumins, os mamelucos, os filhos dos colonos pobres, filhos de pessoas de posse e os rfos vindos de Portugal. Mulheres, apesar do esforo de Anchieta no sentido de adicion-las ao processo educativo, eram excludas. 179 subsiste entre ns de considerar a educao de grau mdio e superior como privilgiodasclasseseconomicamentemaisfavorecidaseabastadas (p.259). A terceira diz respeito ao ensino profissional. Enquanto Nbrega enfatizava a necessidade de iniciar os educandos nos ofcios, a nova poltica educacionaldesvalorizouotrabalhoprofissionalrelegando-oaobrao escravo,oqueacabouporacarretaronodesenvolvimentodoensino profissional na educao brasileira e at mesmo a falta de conscincia sobre essa necessidade. Oautorencerraolivrofalandodasvicissitudespelasquais passaramosprimeirosjesutas,asprivaes,openosotrabalhopara catequizaoeensinoeasrudescircunstnciasnasquaisforam desenvolvidas,traandoumparalelodoambientecolonialanteriore posteriora1570,pocaquedemarcacomooencerramentodoPerodo Herico e ao mesmo tempo o incio de uma nova fase para os missionrios da Companhia de Jesus no Brasil. ParaMattos,devidoaosfartosrecursosproporcionadospela redzima,essanovafaselevouosjesutasouaeducaocolonialao desinteressepelosproblemasmateriaisetemporaisdasociedadeem formao,namedidaemqueoconfortoeoisolamentodoscolgios proporcionaramestabilidadeparaquesededicassemapenasaabstraes especulativas6queacabouoscolocandoacimadomundoreal distanciando-osdasquestessociaisqueseapresentavamoumelhor dizendo, que estavam sendo gestadas naquele momento. Para ele, reside a a grande diferena entre o Perodo Herico e o posterior.Noprimeiro,osjesutasseidentificavamcomacoletividade porquecompartilharamcomelasuasnecessidadeseporissoatuaramno sentidodeumprojetopolticoesocial.Nosegundo,oseducadores voltando-separaaculturaerudita,afastaramaescoladasociedade, inaugurandooensinoformaldespojadodecontedoideolgico-sociale provocando,segundoMattos,atradioeducacionalbrasileira,da desconexo entre a cultura escolar e a vida social material. O livro apresenta caractersticas interessantes e contraditrias em seu interior. Desde a introduo o autor se prope a fazer uma narrativa dos fatoshistricosisentando-sedaambioanaltica.Entretanto,no desenvolvimento das partes constitutivas da obra, ele passa a analisar no s aconjunturasocial,comotambmapolticaeeconmicadoespao temporalestabelecidopelapesquisa.Assim,tem-sequeaprimeiraparte 6 O autor se refere a princpios abstratos da escolstica tradicional praticada nesses colgios em um contexto to adverso como o colonial brasileiro. 180 constitui-seumanarrativa;asegundaparte,anlise;aterceira,narrativa literria e a quarta e ltima parte, trata-se de anlise, bem como conjecturas a respeito das implicaes dos fatos apresentados, formatao da educao brasileira. NodecorrerdolivroLuizAlvesdeMattosdeixaanteveruma viso de histria positivista bem caracterstica do sc. XIX e de acordo com oiderioquesepraticavanapocaemqueescreveu.Nessesent ido, elege comoobjetoosgrandesfeitosdahumanidadequedevemserinscritospor meiodedocumentaesquelhesatestemecomprovemaoriginalidade,e dessa forma, a cientificidade. No obstante, no se priva, em diversas partes dolivro,detraaralgunsjuzosarespeitodosfatosexpostos,deixando transparecer uma viso pessoal do tempo sobre o qual escreve, quando, por exemplo,denominaasrelaestribaisexistentesnapoca,deformas primitivasedesorientadasdeagrupamentoshumanos.Todavia,trata-se de ummaterialdegrandevalordocumental,interessantenospara educadoresquepretendementenderahistriadaeducaobrasileira,mas tambmparaoshistoriadoresquepodemtom -locomofonteparaa pesquisahistricadoperodosobreoqualo autorescreveudevido abundantedocumentaoqueoferecenocorpodotrabalhoearrolana bibliografia. TaniaConceioIglesiasdoAmaral.Mestreemeducaopela Universidade Estadual de Maring UEM e Doutoranda em educao pela UniversidadeEstadualdeCampinasUNICAMP.E-mail: [email protected]