41042 - Noções de Psicopatologia- (Apontamentos) Carla Marina Vieira

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    substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão.

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    41042NOÇÕES PSICOPATOLOGIA

    Apontamentos de: Carla Marina VieiraE-mail: [email protected] Data: Janeiro de 2009 

    Livro:  Apontamentos ano lectivo 2007/2008

    Nota: 

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    2007/2008

    I – DEFINIÇÃO E CONTEXTO DE PSICOPATOLOGIA .................. 6 

    II BREVE HISTÓRIA DA PSICOPATOLOGIA ............................. 8 

    2.1 Demologia .............................................................................. 8 2.1.1 A demologia da Idade Média. Os doentes mentais como baixos.................................. 9 

    2.2 A Somatogénese...................................................................... 10 

    2.3 Síntese do pensamento contemporâneo sobre a psicopatologia ................... 11 

    2.3.1 O ponto de vista da somatogénese................................................................................... 11 

    2.3.2 – O ponto de vista da psicogénese ........................................................ ........................... 12 

    III – O DIAGNÓSTICO EM PSICOPATOLOGIA ........................ 13 

    3.1 – Distúrbios psicopatológicos: uma panorâmica ..................................... 13 

    IV – AVALIAÇÃO E DISGNÓSTICO EM PSICOPATOLOGIA .......... 16 

    4.1 – Os testes projectivos .............................................................. 16 

    4.2 Outros materiais de avaliação psicométrica e clínica ............................. 17 

    V – AS DESORDENS DE ANSIEDADE ................................... 18 

    5.1 – Fobias ............................................................................... 18 5.1.1 – Etiologia das Fobias .......................................................................................................... 18 5.1.2 – Os tratamentos psicológicos das fobias ...................................................................... 20 5.1.3 - Os tratamentos farmacológicos ........................................................ ............................ 21 

    5.2 A desordem de pânico ............................................................... 21 

    5.2.2.Tratamentos para a desordem de pânico sem e com agorafobia .............................. 22 5.2.3 Desordem de ansiedade generalizada ........................................................... .................. 23 5.2.4 Etiologia da desordem de ansiedade generalizada .................................... .................. 23 5.2.5 Terapias para a desordem de ansiedade generalizada................................................ 24 5.2.5 DESORDEM OBSESSIVO COMPULSIVO ......................................... ........................... 24 5.2.6 ETIOLOGIA DA DESORDEM OBSESSIVO-COMPULSIVA..................................... 26 5.2.7 A DESORDEM DE STRESSE PÓS-TRAUMÁTICO ..................................................... 27 5.2.8 TERAPIAS PARA A DESORDEM DE STRESS PÓS TRAUMÁTICO ....................... 29 

    VI – AS DESORDENS SOMATOFORMES E DISSOCIATIVAS ........ 30 

    6.1 – Desordens somatoformes .......................................................... 30 

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    6.1.1 Etiologia das desordens somatoformes ........................................................................... 31 6.1.2 Terapias para as desordens somatoformes ................................................................... 33 

    6.2 Desordens dissociativas .............................................................. 34 6.2.1 – Etiologia das desordens dissociativas .......................................................................... 35 

    6.2.2 – Pistas para a abordagem terapêutica das desordens dissociativas ...................... 36 

    7 – AS DESORDENS DE HUMOR ......................................... 36 

    7.1 – Teorias da depressão .............................................................. 38 

    7.2 – Abordagens terapêuticas .......................................................... 41 7.2.1 Tratamentos de natureza médica ......................................................... ........................... 41 7.2.2 Tratamento natureza psicológica ......................................................... ........................... 42 

    7.3 – Alguns aspectos sobre o suicídio .................................................. 42 

    8 – AS DESORDENS DE PERSONALIDADE ............................. 43 

    8.1 – Desordem da personalidade paranóide ............................................ 43 

    8.2 – Desordem da personalidade esquizóide ........................................... 43 

    8.3 – Desordem ezquizotípica ............................................................ 44 

    8.4 – Desordem estado-limite da personalidade ....................................... 44 

    8.5 – Desordem de personalidade histrónica ........................................... 44 

    8.6 – Estado de personalidade narcísica ................................................ 45 

    8.7 – Desordem de personalidade dependente .......................................... 45 

    8.8 – Desordem de personalidade obsessivo-compulsiva ............................... 45 

    8.9 – Desordens de personalidade evitante ............................................. 45 

    8.10 – Desordem de personalidade psicopática ......................................... 45 

    8.11 – Causas da psicopatia (Zuckerman 2002) ........................................ 47 

    8.12 – Tratamento ....................................................................... 47 

    9 – ESQUIZOFRENIA ..................................................... 47 

    9.1 – Sintomas positivos ................................................................. 48 

    9.2 Alucinações e outras desordens de percepção ..................................... 48 

    9.3 – Os sintomas negativos ............................................................. 49 

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    9.4 – Outros sintomas .................................................................... 49 

    9.5 – Factores bioquímicos ............................................................... 51 9.5.1 – Aspectos cerebrais .......................................................................................................... 51 

    9.6 - Stress .............................................................................. 52 

    9.7 – Terapias para a esquizofrenia .................................................... 52 

    10 – DESORDENS ALIMENTARES ....................................... 53 

    10.1 – Anorexia nervosa ................................................................. 54 

    10.2 – Bulimia nervosa ................................................................... 55 

    11 – AS DESORDENS DO COMPORTAMENTO SEXUAL ............... 56 11.1 – As desordens sexuais ............................................................ 57 

    11.2 – Etiologia das desordens sexuais ................................................. 58 

    11.3 – Terapias das disfunções sexuais ................................................ 58 

    11.4 – Parafilias .......................................................................... 59 11.4.1 – Causas das profilias .......................................................... ............................................... 60 

    11.5 A modificação das preferências sexuais .......................................... 61 

    12 – ALGUMAS DESORDENS PSICOLÓGICAS EM CRIANÇAS EADOLESCENTES: BREVE PANORAMA ................................... 61 

    12.1 – Desordens de ansiedade ......................................................... 62 

    12.2 Desordens disruptivas dos comportamento ........................................ 63 12.2.1 – Hiperactividade com défice de concentração................................................... ........ 63 12.2.2 Hipóteses explicativas ..................................................................................................... 65 

    12.2 – Perturbação do comportamento .................................................. 65 12.3.1 – Causas para a perturbação dos comportamento ....................................................... 66 12.3.2 – Tratamento da perturbação do comportamento ................................... .................. 67 

    12.4 – Distúrbio de oposição ............................................................. 68 

    12.5 – Perturbação autística ............................................................ 68 

    12.6 – Desordens e características associadas ........................................ 69 

    12.7 – Causas do autismo ................................................................ 70 

    12.7.1 – Factores genéticos ......................................................................................................... 70 12.7.2 – Factores imunológicos ................................................................................................... 71 

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    12.7.3 – Factores peri-natais ........................................................................... ........................... 71 12.7.4 – Factores bioquímicos ................................................................................... .................. 71 12.7.5 – Tratamento .................................................................................................... .................. 71 

    13 – O EFEITO PLACEBO ................................................. 75 

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    I – Definição e Contexto de Psicopatologia

    Psicopatoplogia – Área do conhecimento que se interessa pelo estudo danatureza das desordens mentais. Isto é, trata-se de uma área que seinteressa pelo estudo da história, desenvolvimento e natureza dasdesordens mentais. Aqueles aspectos que respeitam à história e causasque fazem parte de um subdomínio chamado etiologia A psicopatologia é uma área interdisciplinar, no sentido em que nelacolaboram profissionais e cientistas de várias proveniências(epidemiologistas, psicólogos, médicos, sociólogos, por exemplo).

    A psicologia, enquanto domínio científico e profissional contribui, para aárea da psicopatologia, porém, esta tem estado muito mais ligada àpsiquiatria, já que a medicina, fundamentando-se numa série de ciênciasmuito antigas é, ela própria, muito anterior ao aparecimento da psicologiacientifica, que remonta a meados do séc. XIX. Por outro lado, odesenvolvimento da farmacologia moderna permitiu a abordagemterapêutica das desordens mentais. Estes dois factores contribuíram parao desenvolvimento da psiquiatria. Esta predominância médica teve comoresultado, naturalmente, numa excessiva medicalização da área, pelo facto

    do chamado “modelo médico” se ter tornado dominante. Claro que, um doscontributos que a psicologia mais rapidamente trouxe para esta área, foiter evidenciado a importância dos factores culturais e sociais, para alémdos psicólogos.

    Modelo Médico O modelo médico de doença afirma que existe sempre uma causa biológicana origem de todos os distúrbios mentais.

    Doença (vírus, gene, neurotransmissores….)

    Esquizofrenia Depressão Dificuldades de aprendizagem

    Comportamento dito patológico e comportamento dito normal 

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     A Frequência Estatística, respeitando à relativa raridade ou muitoreduzido número de casos possíveis de ocorrerem. Por exemplo, quandoconsideramos a distribuição normal de QI, observamos que o atraso

    mental ocorre no extremo esquerdo mais baixo da curva normal. Noentanto já não podemos considerar como patológicos os casos que ocorremno outro extremo dessa mesma distribuição (apesar de, eventualmente, aspessoas geniais serem muito menos frequentes que aqueles caracterizadaspor terem o tal “atraso mental”.

    A Violação de normas. Visto existirem normas sociais e culturais queregulam o comportamento, a sua violação pode ser, indicativo de distúrbio.Por exemplo, a violação de menores e pessoas adultas, já que existe

    implicitamente (e também na lei) a norma de que ninguém pode ser forçadoa ter relações sexuais contra sua vontade. No entanto, motivos culturaispodem justificar comportamentos aparentemente bizarros (que violamnormas implícitas), como por exemplo, uma pessoa adulta comer com asmãos num sítio público. O mesmo comportamento pode, de resto, serconsiderado patológico ou não conforme o contexto em que ocorre:durante um terramoto correr para a rua completamente despido seráconsiderado muito apropriado.

    O Relato de sofrimento pessoal. Caso em que a única evidência que temos,quanto à existência de uma eventual perturbação, é o próprio relato dapessoa. Apesar disso, este critério (o relato que a pessoa faz do seuestado) pode não ser apropriado para alguém que, tendo uma desordembipolar em fase de mania, jura a pés juntos que tudo está impecável,embora contra toda a evidência.

    Disfunção ou Distúrbio Resultante da existência de Psicopatologiasubjacente, eventualmente passando despercebida. Por exemplo umtoxicodependente, mesmo que nada mais se observe, dificilmente poderámanter uma vida social e profissional adequadas. Pessoas com fobia socialpoderão passar sem ser notadas, desde que não tenham relaçõesinterpessoais. Porém a ausência de tais relações, poderá bem ser umindício de que algo não vai bem. Apesar disso, este critério não chega: umavida reservada, afastada do convívio social, ou uma vida profissional semgrande mérito, podem simplesmente ser opções pessoais de vida.

    Comportamentos inesperados. Não esperamos que uma pessoa reaja compânico a uma simples trovoada de Inverno. Nem tão pouco se espera que,

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    2 – As drogas mais usadas eram o álcool, o ópio e a cannabis.

    2.2 A Somatogénese

    Somatogénese pode definir-se como a crença de que alguma coisa erradaaconteceu no corpo, sendo a causa de perturbações tanto no pensamentocomo no comportamento. Opõe-se à psigogénese, em que se acredita haveralterações psicológicas na origem daquelas mesmas perturbações

    Hipócrates  é considerado um dos primeiros preponentes da somatogénese.De facto Hipócrates   não acreditava que os deuses punissem os homensatravés de doenças, fossem elas físicas ou mentais. Considerou o cérebro

    como o órgão da consciência, da vida intelectual das emoções.Hipócrates  dividiu as desordens mentais em três categorias:

    - mania- melancolia- febre cerebral

    Deste modo, o comportamento patológico passava a ser conceptualizadocomo algo mais do domínio médico do que do domínio religioso.Como tratamento, Hipócrates   indicou diversos procedimentos. Por

    exemplo, para a melancolia aconselhou tranquilidade, sobriedade, cuidadosdietéticos e abstinência sexual.Claro que a fisiologia de Hipócrates  era muito primária: a saúde mental eravista como uma balanço muito delicado entre quatro fluidos corporais:

    - Sangue- Bílis preta- Bílis amarela- Fleuma

    Uma predominância de bílis preta explicaria a irritabilidade e a ansiedade.

    Demasiado sangue estaria na causa de temperamento instável.Todavia, a perspectiva mais naturalista de Hipócrates   esteve como queadormecida durante muito séculos. Foi só com o avanço da medicinamoderna que se deu um novo fôlego à perspectiva somatogénica. Desta vezem conjunto com a sua perspectiva psicogénica, já que é, igualmente poresta época, que aparecem as primeiras concepções psicológicas emboraalgo inconsistentes nesta área.

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    2.3.2 – O ponto de vista da psicogénese

    Propõe que factores de natureza psicológica estão na origem (são a caus)das póprias alterações psicopatológicas. São desta época os estudos da

    Mesmer sobre o magnetismo animal e de Charcot sobre a hipnose. Tantoum como o outro se centraram em pacientes sofrendo de histeria(designação que actualmente deixou de se usar, passando a estarenglobada na rubrica geral dos distúrbios somatoformes).

    Franz Anton Mesmer é uma das pessoas mais misteriosas da história dapsicopatologia, por uns considerado um génio por outros tido como umgrande charlatão. Mesmer propôs que ma grande variedade de doenças,como a epilepsia e a histeria fossem consideradas resultado de uma

    obstrução por parte de uma espécie de fluido ou corrente invisível quechamou magnetismo animal. No caso de doenças, estas resultariam da distribuição desigual em partesdo corpo desse mesmo fluído. Por outro lado, este balanço de fluído seriainfluenciado pelos ciclos lunares, marés, planetas e estrelas. O processoterapêutico (tocar o doente com uma varinha de ferro, que tinham aspartes afectadas encostadas a tubos magnetizados e contendo água),consistia em provocar sucessivas crises, com estranhas sensações,desmaios e convulsões. Sabendo hoje que as referidas curas terãoresultado da manipulação de uma variável psicológica chamadasugestionabilidade, é um facto que Mesmer demonstrou a existência deum novo domínio de acção, que genericamente poderemos chamar“psicológico”.Daí derivou o hipnotismo, cuja figura proeminente foi o médico francêsJean Martin Charcot, considerado o mais importante neurologista do sécXIX. Charcot fistinguia a epilepsia da histeria através da hipnose. Se apessoa sob hipnose conseguisse fazer algo que não fazia em estadoconsciente, então tratava-se de histeria. Em caso contrário, estaria napresença de uma situação neurológica.Josef Breur, apareceu com o método catártico, utilizando a hipnose,igualmente no contexto da histeria, mas levando os pacientes a reviveremos acontecimentos catastróficos ou traumáticos. Acreditava que estascatarses eram fundamental e terapêutica.Freud, o criador da psicanálise, surge também nesta altura, muito próximodestes outros pioneiros, embora levando mais longe os novos conceitossobre psiquismo, inconsciente, e terapias de base psicológica.Actualmente, cerca de um século passado sobre as primeiras abordagenssistemáticas, e com bases científicas, os distúrbios mentais, coexistem

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    diversas teorias, hipóteses, sobre esses distúrbios. Chamamos a taisperspectivas “paradigmas” já que se trata de abordagens que procuramexplicar e compreender a etiologia, desenvolvimento e tratamento daquiloque é considerado psicopatológico.

    Langer & Abelson 

    Realizaram uma pesquisa que tratava averiguar até que ponto a formaçãoteórica poderia influenciar o processo de avaliação e diagnóstico clínico.Esta pesquisa, chama a atenção para o modo como a formação teórica dosclínicos orienta a sua perspectiva sobre o que observam nos possíveis

    pacientes. Sem dúvida que os profissionais de saúde, apesar da suaformação avaliam de acordo com os seus pressupostos teóricos.

    III – O DIAGNÓSTICO EM PSICOPATOLOGIA

    DSM – É um sistema de diagnóstico que resulta de um grupo de trabalhoconstituído pela Associação Americana de Psiquiatria, sendo igualmente areferência mais usada internacionalmente quanto ao diagnóstico das

    desordens mentais.

    DSM – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

    O mais recente (2000) é designado DSM – IV TR 

    1  2

    1 – IV – indica que se trata da quarta reformulação

    2 – TR – indicam tratar-se de uma revisão

    3.1 – Distúrbios psicopatológicos: uma panorâmica

    Esquizofrenia As pessoas com esquizofrenia experimentam delírios, alucinações. As suasemoções são frequentemente dessintonizadas inadequadas.

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    - a desordem depressiva, ou depressão maior (major, em inglês), tambémdesignada por desordem unipolar, em que predominam os sentimentosprofundos de tristeza, para além da perda de peso dos pensamentos de

    suicídio e auto-desvalorização;

    - a desordem bipolar, anteriormente chamada psicose maníaco depressiva,em que alternam períodos de mania com períodos de depressão.

    As desordens de ansiedade 

    Colocam-se sob esta designação todas as desordens em que a ansiedade se

    acredita estar implicada, de modo determinante na sua génese. Existemvárias desordens:

    Fobias  – caracterizadas por modos intensos e ansiedade a estímulos,situações, objectos ou animais;Desordem de pânico  – caracterizada por episódios de pânico queaparentemente não têm ligação com estímulos relevantes;Desordem obsessivo-compulsiva como ser-se um mentiroso compulsivo outer a “mania” das limpezas, não querer ter determinados pensamentos ou

    lavar as mãos vezes demais

    Componente cognitiva = dimensão obsessivaComponente comportamental = dimensão compulsiva

    Desordem de ansiedade generalizada ocorre em pessoas caracterizadaspor terem um nível de ansiedade, relativamente elevado, no seu dia-a-dia.Pessoa que vivem cronicamente preocupadas.Desordem de stress pós-traumático  frequentemente na sequência deacidentes, situações de guerra, terramotos, outros cataclismos,situações/vivências violentas, resulta em muitas pessoas uma desordem deansiedade.

    O DSM-IV distingue-a da desordem de stress agudo, em que haverá umaetiologia e sintomatologia idênticas, mas de menor duração

    As Desordens Sematoformes 

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    São desordens em que não se encontram causas conhecidas para ossintomas físicos, mas devido aos quais já tiveram vários tratamentos.

    Desordem de conversão (anteriormente chamado histeria) com perda de

    funções motoras ou sensoriais como a paralesia, a parastesia e a ceguez.

    Desordem de dor, em que se sofre de dor prolongada e severa, sem umaadequada explicação orgânica.

    Hipocondria tem a ver com a interpretação errónea de alterações físicas.

    Desordem corporal dismórfica  a pessoa preocupa-se com um defeitoimaginário da sua aparência.

    Desordens dissociativas A dissociação é uma súbita alteração na consciência que afecta a memóriae a identidade. Consideram-se os seguintes tipos:

    Desordem de personalidade múltipla – em que a pessoa evidência padrõesde personalidade diversas, consistentes e contemporâneasDesordem de despersonalização onde existe um sentimento muito severoe perturbador de irrealidade ou auto-estranheza.

    IV – AVALIAÇÃO E DISGNÓSTICO EM PSICOPATOLOGIA

    Tradicionalmente, esta era a proximidade maior que a psicologia tinha coma área da psicopatologia, situação que se modificou drasticamente nosúltimos 40 anos.

    4.1 – Os testes projectivos

    Os testes projectivos têm origem teórica na psicanálise e o seupressuposto fundamental é o de que a pessoa projecta as suascaracterísticas psicológicas nas diversas apreciações que faz dosmateriais temáticos apresentados, suficientemente ambíguos paraevitarem apreciações racionalmente controladas.Os testes projectivos são conhecidos comos os Rosecharch e o TAT (CAT,na versão para crianças).

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    4.2 Outros materiais de avaliação psicométrica e clínica

    O uso e validade deste tipo de material de psicodiagnóstico constituemassuntos polémicos. Os psicólogos não reconhecem grande interesse,

    utilidade e fundamentação científica.Existem, em alternativa, outro tipo de instrumentos de avaliaçãopsicológica comos os inventários de personalidade:

    Ex:

    - Inventário Multifásico de Personalidade Minesota (MMPI)- 16PF de R.B. Cattel

    Avaliação de aspectos emocionais e psicopatológicos

    Ex:

    - Inventário de ansiedade de Zung- Inventário de Depressão de Beck

    Escala de Hopelessness (Beck e tal, 1974)

    1 – Olha para o futuro com esperança e entusiasmo2  – Posso muito bem desistir porque não há nada que possa fazer paratornar as coisas melhores para mim3 – Quando as coisas estão a piorar, ajuda-me a ultrapassar esse problemasaber que as coisas não podem ficar assim para sempre.

    Escala de atitudes Disfuncionais (Weisseman e Beck, 1978)

    1 – As pessoas vão, provavelmente pensar menos em mim se eu cometer umerro2 – Necessito ser uma pessoa útil, produtiva e criativa, se não a vida nãotem sentido3 – Tiro mais prazer se fizer as coisas porque as quero fazer, do que asfizer para agradar aos outros4 – Controlando a forma como interpreto as situações, posso controlar asminhas emoções

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    V – AS DESORDENS DE ANSIEDADE

    5.1 – Fobias

    São características da fobia, para além da ansiedade de medo, a fuga ou oevitamento do objecto fóbico.

    5.1.1 – Etiologia das Fobias

    A Teoria Psicanalítica, pelo menos nesta área, reveste-se de um interessemeramente histórico. Com origem em Freud, foi obviamente a primeira a

    tentar explicar o comportamento fóbico. Segundo ela as fobias seriamuma defesa contra a ansiedade produzida pelo impulso do id, masreprimida. Em 1979, um outro psicanalista Arieti, propôs como base dasfobias, não um impulso do id, mas um problema interpessoal acontecido nainfância.

    Explicações biológicas para o desenvolvimento das fobias Lacey (1967), propôs o conceito de estabilidade versus labilidadeemocional. As pessoas lábeis serão aquelas que reagem muito facilmente a

    uma vasta gama de estímulos. Esta labelidade teria uma base genéticahereditária, podendo ter alguma importância na etiologia das fobias.Recentemente têm sido também propostos factores neurofisiológicoscomo contribuindo para o desencadeamento das fobias. Assim, com baseem alguns resultados laboratoriais, tem sido defendida a hipótese quantoà existência de uma desregulação nas vias serotoninérgicas edopaminérgicas. Haveria para além disso, uma actividade do GABA (ácidoaminobutírico) que funciona como “travão” do neurotransmissorexcitatório glutomato. As pesquisas de LeDoux (2002) também têm sido

    invocadas a este propósito, especialmente os resultados implicando aamígdala como estrutura mais importante no estabelecimento do medo efobias.

    As fobias como Comportamento Apreendidos As características comuna a todas as Teorias da Aprendizagem, semdúvida, a teorização psicológica que se tem revelado mais profícua e mausprodutiva em termos clínicos e de pesquisa, é o de que todo ocomportamento, incluindo as fobias, é a de que toso o comportamento,incluindo as fobias é apreendido. As diferenças entre as diversas teorias

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    da aprendizagem, quanto à explicação das fobias surgem mais a nível dosmecanismos da aprendizagem que são propostos para a sua explicação, eque em muitos casos são complementares.Existem 3 grandes mecanismos que têm sido propostos separadamente

    para explicar as fobias:- o condicionamento por evitamento- o condicionamento vicariante- o condicionamento operante

    O modelo de Condicionamento por Evitamento Watson e Rayner, em 1920, foram os primeiros a demonstrar o

    condicionamento de uma fobia numa criança, que ficou conhecida como o“Pequeno Albert”. Em 1947 Mower propôs o processo de condicionamentoem 2 fases.

    a)  Condicionamento clássicob)  Condicionamento operante

    Na fase a) uma pessoa aprende a ter medo de um estímulo neutro quandoeste é associado com um estímulo desagradável ou incondicionado.Na fase b) a pessoa aprende a reduzir este medo condicionado escapando

    ao estímulo condicionado.

    O “Modelo Vicariante” (ou por observação)Uma gama muito vasta de comportamentos emocionais podem pode seraprendida observando as reacções emocionais de outras pessoas. Numaexperiência clássica, Bandura & Rosenthal (1996) colocaram sujeitosobservando outra pessoa numa situação de condicionamento aversivo.Observaram que os observadores começaram a ter reacções idênticas àpessoa sujeita à experiência.

    Condicionamento operanteEm geral é pouso credível.

    A hipótese cognitivista Grande quantidade de estudos sugere que não são apenas as emoções queinfluenciam as cognições. Estas também influenciam as emoções.

    O conceito de “terreno preparado” de Seligman 

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    Seligman parte de uma ideia base: constatação de que determinadosestímulos são mais geradores de fobias que outros.O modelo de Mowrer, torna-se mais válido entrando em linha de conta coma hipótese de Seligman, em que se assume que as diferentes espécies

    estão mais ou menos predispostas (sensíveis) a reagir a uns estímulos doque os outros.

    A questão das competências sociais em fóbicos sociais 

    Uma hipótese cognitivista, explicativa relativamente aos fóbicos sociais, éa que defende a existência de um problema ao nível das competênciassociais apropriadas, sendo esta circunstância que condiz à situação fóbica.

    5.1.2 – Os tratamentos psicológicos das fobias

    O Psicanalítico  é o tipo de tratamento mais antigo. Ainda que com

    variantes poderá dizer-se que o objectivo principal desta abordagem é ode resolver conflitos que se acredita estarem na origem dos “sintomas”.

    A abordagem cognitiva comportamental. Têm sido utilizadas duasvariedades principais de tratamento. A mais antiga desenvolvida por J.Wolpe durante a década de 1950.

    Dessensibilização sistemática. O procedimento combina o treino erelaxamento com a exposição gradual e estímulos fóbicos.

    Dessensibilização Treino de Relaxamento  – Permite à pessoadesactivar-se do ponto de vista fisiológico

    Sistemática Treino de Dessensibilização  – Consiste emcolocara pessoa numa situação um pouco desagradável

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    Exposição  – Neste tipo de tratamento, a pessoa é colocada peranteintensidades elevadas de medo, sem qualquer redução prévia de ansiedaderelativamente à situação fóbica.

    5.1.3 - Os tratamentos farmacológicos

    As drogas mais importantes, inicialmente utilizadas no tratamento dasdesordens de ansiedade, fobias em particular, foram os barbitúricos.Porém, devido aos seus efeitos adversos muito severos e às suaspropriedades aditivas, originando grave dependência de tolerância, estesforam substituídos, de um modo geral, por outras substânciasconsideradas sem problemas de maior chamadas benzodiazepinas.

    5.2 A desordem de pânico

    Etiologia da desordem de pânico 

    Como em todos os distúrbios psicológicos, também no respeitante àdesordem de pânico é tarefa difícil, estabelecer condições etiológicasgerais. São duas grandes linhas de atribuição etiológica para a desordem

    do pânico: a biológica e a psicológica.

    Critérios de diagnóstico para a perturbação de pânico com agorafobia 

    A) Existência de ambas as seguintes características

    1-  Episódios de pânico inesperados e repetidos2-  Pelo menos um dos episódios foi seguido de pelo menos de

    uma das seguintes mudanças:

    i.  Preocupação persistente acerca de novos episódios;ii.  Preocupação acerca das implicações ou consequênciasdesses episódios;

    iii.  Alteração importante no comportamento em resultadodesses episódios.

    B)  Presença de agorafobiaC)  Os episódios não são provocados por drogas ou doençasD) Os episódios de pânico são melhor explicados por outra categoria

    de diagnóstico.

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    Critérios de diagnóstico da agorafobia sem história de perturbação depânico 

    A) A presença de agorafobia relacionada com o medo de

    desenvolvimento de sintomas semelhantes ao pânico;B)  Nunca foram preenchidos os critérios para o distúrbio de pânicoC)  Não resulta de efeitos directos de drogas ou de um estado físico

    geral;D) Se existe um estado de físico geral, então, o medo descrito em A é

    claramente exagerado

    5.2.2.Tratamentos para a desordem de pânico sem e com agorafobia

    Abordagem Farmacológica 

    As Benzodiazepinas, segundo vários autores mostraram alguma eficácia notratamento desta desordem. No entanto, ultimamente tem sido advogadoao uso dos ISRSS (inibidores selectivos de recaptação de serotonina).Segundo referem Danton & Antonucci (1997), prescreve-se estesfármacos para a desordem de pânico, desde que o diagnóstico tenha a vercom ansiedade.

    RIMAS (Inibidores Reversíveis da Monoamina Oxidase)

    Abordagem Psicológica 

    As modernas terapias psicológicas envolvem, por norma 3 componentes:

    - O relaxamento ((Labrador & al 1993) – Técnica de desactivaçãoemocional

    - A redução cognitiva

    - A exposição a estímulos internos

    De um ponto de vista terapêutica, saliente-se que um objectivofundamental é a prevenção das crises de ansiedade (ou dos episódios depânico), tanto mais que se sabe desempenharam os pensamentos em papelessencial enquanto desencadeadores de tais situações. Aliás, uma terapiasurgida recentemente baseia-se, precisamente, numa conjunção entreexposição e reeducação cognitiva, com resultados terapêuticosextremamente positivos (na ordem dos 90% de eficácia), da autoria dos

    psicólogos ingleses David Clark e Paul Solkovoskis (Seligman & al – 2001)

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    5.2.3 Desordem de ansiedade generalizada

    As pessoas que sofrem desta desordem estão continuamente num elevadoa moderado estado de ansiedade. Esta ansiedade incomodativa epersistente é por vezes chamada de “ansiedade flutuante” e é um tipo deansiedade para a qual frequentemente não é fácil encontrar estímulosdesencadeadores, visto serem constantes e muito generalizadas.

    Critérios de diagnóstico para a perturbação de ansiedade generalizada 

    A) Ansiedade e preocupação ocorrendo mais de metade do tempo e

    durante pelo menos 6 meses, respeitantes a situação correntes davida;B)  A pessoa tem dificuldade em controlar essa ansiedade e

    preocupação;C)  A ansiedade e preocupação estão associadas a pelo menos 3 dos

    seguintes sintomas:1)  Agitação, nervosismo ou tensão interior;2)  Fadiga fácil;3)  Dificuldades de concentração ou “cabeça vazi”

    4)  Irritabilidade5)  Tensão muscular6)  Perturbações do sono

    D) A perturbação não tem origem nos efeitos fisiológicos de uma drogaou num estado físico geral, nem ocorre no contexto de outrosdesordens. 

    5.2.4 Etiologia da desordem de ansiedade generalizada

    Do ponto de vista psicanalítico a ansiedade generalizada foi consideradaum conflito inconsciente entre o ego e os impulsos do ID. Os impulsosseriam usualmente na natureza sexual ou agressiva.Do ponto das diversas teorias de aprendizagem, as causas da ansiedadegeneralizada são atribuídas aos estímulos do meio.

    Neurobiologia da ansiedade e pânico 

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    Considera-se que a ansiedade característica da desordem de pânico estáligada ao sistema norodrenégico, isto é, aos neurónios que utilizam anorepinefrina como transmissor, o modelo neurobiológico mais conhecidoassenta nos conhecimentos derivados dos efeitos das benzodiazepinas.

    5.2.5 Terapias para a desordem de ansiedade generalizada

    Do ponto de vista psicológico – Dessensibilização sistemática quando nãohá estímulos observáveis é seguir o esquema preconizado pela chamada“abordagem cognitivo comportamental” :

    1ª fase – Relaxamento standard - + 15 dias2ª fase – Relaxamento diferencial

    Técnicas de Relaxamento 

    •  O treino de relaxamento de Jacobson ou muscular profundo Baseia-se em exercícios de contraste tensão/descontração muscular. Éuma técnica de relaxamento relativamente demorada, se bem queexistem versões mais rápidas dela derivadas. Uma sessão normal podedemorar 30 a 40 minutos e, como consequência, a pessoa também levamais tempo a aprender relaxar.•  O treino autogénico de Schutlz É baseado em sugestões verbais. É por norma, mais rápido tanto em

    termos da sessão como no que respeita, em geral, à aprendizagem datécnica. Uma sessão pode demora por volta de 15m, e ao fim de cercade 2 semanas poderá já haver domínio da técnica.•  O treino da respiração Consiste, muito simplesmente em aprender a respirar pausada eregularmente, de forma completa e profunda. É muito provavelmente, aforma mais simples de relaxamento.

    5.2.5 DESORDEM OBSESSIVO COMPULSIVO

    É uma desordem de ansiedade em que a mente é inundada porpensamentos persistentes e incontroláveis, ou em que a pessoa écompelida a repetir certos actos, que originam um significativodesconforto, bem como a influência perturbadora da sua vida.

    Critérios de diagnóstico para a perturbação obsessivo compulsivo

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    A) Obsessões ou compulsõesAs obsessões são definidas como:

    1)  Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes epersistentes, experimentados como intrusivos e inadequados,

    provocando ansiedade ou mal-estar intensos;2)  Pensamentos, impulsos ou imagens que são preocupaçõesexcessivas acerca de problemas reais da vida;

    3)  A pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos,impulsos ou imagens ou neutralizá-los com algum outropensamento ou acção;

    4)  A pessoa reconhece que esses pensamentos, impulsos ouimagens são produto da sua própria mente.

    As compulsões são definidas como:

    1)  Comportamentos repetitivos que a pessoa se sente compelida arealizarem em resposta a uma obsessão;

    2)  Os comportamentos ou actos mentais têm como objectivo evitarou reduzir o mal-estar ou prevenir algum acontecimento temido.Contudo, estes acontecimentos não têm uma relação realista comtais compulsões.

    B)  A perturbação não resulta de um efeito fisiológico directo de umadroga (por ex: medicação), ou de um estado físico geral.

    Natureza das obsessões A obsessão tem sempre um conteúdo que não se quer, que vai contra osprincípios mentais, ou outros, da pessoa.Poderemos definir as obsessões como pensamentos, impulsos, imagens denatureza intrusiva e recorrente, que se impõem à vontade da pessoa,parecendo irracionais e incontroláveis para quem as tem. Embora aocorrência esporádica de obsessões seja algo frequente, a pessoaobsessiva tem-nas com tal intensidade e frequência que a sua vida setorna difícil de ser levada com normalidade.

    As compulsões  são comportamentos ou actos mentais repetitivos que apessoa sente ter de realizar para reduzir o seu mal-estar, a ansiedade, oupara evitar alguma calamidade.

    Davison & Nale (1996) – Formas de obsessões e compulsões 

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    Paragem do pensamento – um estímulo desagradável é associada à palavraAlto! Sendo esta posteriormente utilizada para interromper sequênciasobsessivas.

    Saciação – uma pessoa tem um medo obsessivo. Então repete muitas vezesesse medo. Apesar de aparente simplicidade, tal procedimento terá de serorientado por um/a psicólogo/a muito experimentado/a e conhecedor/a datécnica.

    A abordagem farmacológica  centra-se no uso de antidepressivos,sobretudo nos inibidores da serotonina (tricíclicos e ISRS), Note-se quetodos eles provocam, pelo menos teoricamente, o aumento da serotoninacerebral, incluindo os IMAO (Inibidores da Monomina Oxidase),

    eventualmente através de diferentes mecanismos.

    5.2.7 A DESORDEM DE STRESSE PÓS-TRAUMÁTICO

    Uma perspectiva geral A desordem de stress pós traumático (DSPT), como a categoria dediagnóstico, foi introduzida pela 1ª vez no DSM-III (1980) e, desdeentão, o interesse e a quantidade de estudos, tanto empíricos, como

    clínicos, tem vindo a aumentar e a vulgarizar esta desordem.

    Critérios de diagnóstico para a desordem de stress pós traumático

    A) A pessoa foi exposta a um acontecimentos traumático, tendo estadopresentes as seguintes circunstâncias:

    1-  a pessoa experienciou, observou ocorrendo noutra pessoa, ou foiconfrontada com um acontecimento ou acontecimentos que

    envolveram a morte, ameaça de morte ou de danos sérios, ou aameaça à integridade de si ou de outros;

    2-  a pessoa respondeu com medo intenso, desespero ou horror;

    Obs em crianças, isto pode ser expressivo, principalmente através decomportamento desorganizado ou agitado.

    B)  O acontecimento traumático é reexperienciado de forma persistentede uma ou mais das seguintes formas:

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    1-  Recordações perturbadoras do acontecimento, recorrentes eintrusivos, incluindo imagens, pensamentos, ou percepçõesObs. Em crianças mais novas, podem ocorrer jogos repetitivos emque temas ou aspectos do trauma são expressos.

    2-  Sonhos perturbadores e recorrentes sobre os acontecimentostraumáticos.Obs. Em crianças, podem ocorrer sonhos de conteúdo assustador,mas sem aparente relação com o acontecimento traumáticooriginal

    3-  Comportar-se ou sentir-se como se o acontecimento traumáticoestivesse a repetir-se (incluindo sensação de reviver aexperiência, ilusões, alucinações, e episódios de “flashback”dissociativo, incluindo aqueles que ocorrem com a pessoa acordada

    ou quando intoxicada)Obs. Em crianças mais novas resposta específicas à situação detrauma podem ocorrer.

    4-  Desconforto psicológico muito intenso quando exposto a estímulosinternos ou externos que simbolizam ou se parecem com algumaspecto do acontecimento traumático.

    5-  Reactividade fisiológica quando se é exposto aos estímulos quesimbolizam ou se parecem com o acontecimento traumático.

    C)  Evitamento persistente dos estímulos associados com trauma edistanciamento de uma actividade geral (não presente antes dotrauma), como resulta dos seguintes 3 ou mais:1-  Esforços para evitar pensamentos, sentimentos ou conversas

    associadas com o trauma;2-  Esforços para evitar actividades, lugares ou pessoas que evocam

    recordações do trauma;3-  Incapacidade para lembrar um aspecto importante do trauma;4-  Diminuição relevante do interesse para participar em actividades

    significativas;5-  Sentimento de distanciamento ou estranheza relativamente aos

    outros;6-  Diminuição dos afectos (por ex: incapaz de sentir amor)7-  Sentir-se sem futuro (por ex: não esperar conseguir ter uma

    profissão de carreira, casar, ter filhos ou um desenvolvimentonormal da sua vida)

    D) Sintomas persistentes de aumento de excitação (não presentes antesdo trauma) como 2 (ou mais) dos seguintes:

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    1-  Dificuldade em adormecer ou em manter-se a dormir;2-  Irritabilidade ou explosões de raiva;3-  Dificuldade de concentração;

    4-  Hiper vigilância;5-  Resposta de alerta exagerada

    E)  Duração do distúrbio superior a um mês (sintomas dos critérios B, C eD)

    A DSPT em crianças e adolescentesÉ hoje facto aceite que tanto a violência física, como o abuso sexual, têmuma incidência e uma prevalência muito maiores do que aquilo que se

    pensava há uns anos atrás (Saigh & al, 1996).Algumas relações têm sido encontradas entre a DSPT e outras desordens,a saber:

    1.  desordens depressivas, havendo autores que acreditam haver umamaior susceptibilidade para as crianças com DSPT desencadearemdepressões;

    2.  alguns estudos também encontram uma certa susceptibilidade parao abuso de substâncias naquelas crianças;

    3.  diversas desordens (como agorafobia, ansiedade à separaçãodesordem de ansiedade generalizada) têm sido considerados comomais frequentes em crianças com DSPR.

    5.2.8 TERAPIAS PARA A DESORDEM DE STRESS PÓS TRAUMÁTICO

    Diversas têm sido as abordagens terapêuticas utilizadas neste domínio.Podemos dizer que, de um modo geral, as mais credíveis assentam em

    variantes de exposição, seja essa exposição realizada através deprocessos imagéticos, verbais (o que não exclui, como é óbvio, osprimeiros), ou reais, no sentido convencional. Porém, naqueles casos em quetudo indica existir uma interpretação problemática dos factoresrelacionados com o trauma, poderá fazer todo o sentido a utilização deuma abordagem mais dirigida à reconstrução e reinterpretação cognitivasde tais acontecimentos traumáticos.Mais recentemente, Francine Shapiro (1989) propôs uma terapia chamadaDessensibilização e Reprocessamento por movimento ocular (EDMR  -.

    Inglês). É uma terapia bastante complexa, baseada numa estrutura de

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    estimulação rítmica (habitualmente, ao ritmo dos olhos) exigindo umconhecimento dos procedimento, bastante aprofundado, para além de umasérie de cuidados a ter na sua realização. Os resultados das pesquisas(não provenientes dos defensores do EDMR) têm sido bastante

    contraditórias e, com efeitos não existe acordo geral entre os psicólogosquanto à eficácia e natureza desta possível terapia.

    VI – AS DESORDENS SOMATOFORMES E DISSOCIATIVAS

    As desordens somatoformes e dissociativas relacionam-se com as outrasdesordens de ansiedade.

    Nas desordens somatoformes a pessoa queixa-se de sintomas corporais,sugerindo a existência de um defeito físico ou de uma disfunção, nãoexistindo para estes uma explicação fisiológica comprovada. Nasdesordens dissociativas a pessoa experiência mudanças no estado deconsciência, na memória e/ou identidade. Frequentemente, na origem deambas as desordens está uma experiência stressante.

    6.1 – Desordens somatoformes

    Segundo o DSM-IV, a característica comum a todas as perturbaçõessomatoformes é a presença de sintomas físicos sugerindo a existência dealterações no estado físico, mas sem que tais sintomas possam serexplicados neste contexto.

    A Desordem de Dor é assim diagnosticada quando de inicio a severidadeou a manutenção da dor originam um mal-estar constante, perante ainexistência de uma explicação orgânica apropriada. O diagnóstico é difícil

     já que, sendo a dor uma experiência subjectiva, pode não ser fácil decidirse se trata efectivamente de uma dor de natureza somatoforme ou umador no sentido mais comum do termo. O diagnóstico diferencial e autilização de meios auxiliares de diagnóstico são, pois, de grandeimportância.

    Desordens Somatoformes 

    Desordem de Conversão, em que existem sintomas inexplicados,

    afectando as funções voluntárias motoras ou sensoriais, eventualmente

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    sugerindo a existência de problemas neurológicos ou no estado físicogeral. Supõe-se existirem factores psicológicos na sua origem.

    Desordem somatização, é polissintomática, desenvolve-se ao longo de

    vários anos, caracterizando-se pela combinação de sintomasgastrintestinais, sexuais, neurológicos (sintomas falsos) e dor.

    Desordem de dor, em que a dor é o centro das queixas e atenção clínica.Considera-se existirem factores psicológicos desempenhando um papelimportante no seu desencadeamento ou manutenção.

    Desordem Corporal Dismórfica, em que existe a preocupação com umdefeito exagerado ou imaginado na aparência física.

    Hipocondria, em que predomina a preocupação ou medo relativos a poderter-se uma doença grave, com base na interpretação errada dos sintomasfísico ou funções corporais.

    Desordem somatomaforme indiferenciada, caracterizada por queixasfísicas inexplicáveis, mas como não tendo a intensidade das queixas dadesordem de somatização.

    Desordem somatoforme sem outra especificação, quando existemsintomas somatoformes que não preenchem os critérios estipulados paraqualquer das Perturbações Somatoformes específicas.

    6.1.1 Etiologia das desordens somatoformes

    A Desordem de Conversão. É habitualmente durante a juventude que dedesenvolvem os sintomas. Pode desaparecer de repente, mas muitas vezes

    regressa na forma original ou com mudanças substanciais.

    A Desordem de somatização. É uma desordem caracterizada pormúltiplas e crescentes queixas somáticas, para as quais não existemcausas médicas evidentes.

    As Desordens de somatização de conversão. Partilham muitascaracterísticas e não é raro ambos os diagnósticos serem aplicados àmesma pessoa.

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    A Desordem de somatização  habitualmente inicia-se no final daadolescência. A ansiedade e a depressão são referidas frequentemente talcomo um vasto conjunto de comportamentos e problemas.

    Uma teoria mais recente (1975) foi proposta por Ullman & Kasner. Elescomeçaram por comparar as desordens de conversão à simulação dedoenças, em que a pessoa adopta um determinado sintoma a fim de atingirum determinado fim. Na verdade, a pessoa evidencia quando é afectadapor uma doença.É claro que esta teoria levanta duas questões essenciais:

    1 – São pessoas realmente capazes de simular tais comportamentos?

    Segundo pesquisas a resposta é sim. Na verdade, as pessoas podemadoptar padrões de comportamento que estão de acordo comdeterminados padrões de comportamento.

    2 – Em que condições poderá este comportamento mais provavelmenteocorrer?

    Ulmann & Kesner especificaram duas condições que aumentam asprobabilidades de perturbações motoras e sensoriais ocorrerem:

    - é necessário alguma experiência do papel que vai ser “adoptado”(“representado”), a pessoa deverá já ter tido alguns problemasfísicos similares, ou então, tê-los observado;- tal comportamento deve ser gratificante, isto é, dele deveráresultar algum benefício.

    Porém, assim simplesmente, a teoria parece ser incompleta. Na verdade, énecessário postular-se a existência de uma actividade não consciente ainfluenciar o comportamento.Sackeim & al (1970), argumentaram que, em primeiro lugar, asrepresentações nociptiveis dos estímulos são bloqueadas na consciência,fazendo com que a pessoa julgue estar cega. Em segundo lugar, e apesardisso, essas representações continuam a ser extraídas dos dadosperceptivos.

    Factores biológicos e cerebrais Apesar da tentativa de associação com factores genéticos, a evidencia nãosuporta tal perspectiva. Mais promissores são os dados provenientes da

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    neurofisiologia. Em primeiro lugar, sabe-se que os sintomas de conversãosão mais prováveis de acontecer do lado esquerdo do que do lado direitodo corpo e acontece que a maior parte das nossas actividades é controladapelo hemisfério direito. Assim, a maioria dos sintomas de conversão

    parece relacionar-se com a actividade cerebral direita. Para além disso,investigações em pessoas cujos hemisférios foram desconectados paraprevenir ataques epiléticos mostra que o hemisfério direito pode gerarseparadamente, mais emoções do que o lado esquerdo e, sobretudo,emoções negativas.Os sintomas de conversão  podem assim ligar-se, do ponto de vistaneurofisiológico, à activação emocional. Tudo indica que o hemisfériodireito defende as vias neuronais do corpo caloso para conexão com ohemisfério esquerdo, nele “residindo” a capacidade de descrever

    verbalmente e explicar as emoções, bem como ter consciência delas.

    Nas desordens de conversão talvez aconteça que o hemisfério esquerdobloqueie os impulsos que transportam o conteúdo emocional desagradávelproveniente do hemisfério direito. Assim sendo, estas pessoas não forama conexão entre os seus sintomas e as circunstâncias perturbadoras ou assuas necessidades emocionais.Na chamada hipótese comunicativa, a pessoa tem dificuldade emexpressar verbalmente o seu mal-estar: este é comunicado às outras

    pessoas através dos sintomas físicos, constituindo estes formasaceitáveis e fáceis de compreender. Isto é, de acordo com esta hipótese,as reacções de conversão “falam”, como se assim quisessem dizer àspessoas que lhes são queridas que não estão bem. Os estudos dePennebaker (1997) vão igualmente nesse sentido.

    Bloqueio perceptual, esta hipótese centra-se no modo como a percepção ébloqueada da experiência consciente, como acontece exemplarmente naceguez “histérica”. Estudos controlados mostram que estas pessoas têspercepção sem que, porém saibam disso.O processo conversivo, então, consistirá em bloquear o acesso àconsciência da percepção. E este bloqueamento poderá ser motivado pelaexistência de ansiedade, pela necessidade de comunicar algo respeitante asi mesmo, ou pode resultar do reforço que a redução da ansiedade,através da própria conversão, permite alcançar.

    6.1.2 Terapias para as desordens somatoformes

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    Diversas têm sido as terapias indicadas para este grupo de desordens; adessensibilização, as técnicas de manuseamento da dor, a exposição aovivo. Outras terapias são a confrontação, e sugestão, o insight.  Ocontexto da sua utilização depende, é claro, da natureza específica da

    desordem e da pessoa em questão.No campo farmacológico, referem-se a amitriplina que, sendo um anti-depressivo tricíclico tem igualmente efeitos analgésicos.

    6.2 Desordens dissociativas

    O DSM-IV considera diversas perturbações dissociativas. Todas elas secaracterizam por mudanças no modo como a pessoa se percepciona emtermos de identidade, memória ou consciência. Trata-se de distúrbios emque uma pessoa poderá esquecer temporariamente a sua identidade ou, atémesmo, assumir uma nova identidade.

    Amnésia dissociativa  – incapacidade para recordar informação pessoal

    importante traumática ou stressante.Inesperadamente, a pessoa torna-se incapaz de recordar informaçãopessoal importante, habitualmente na sequência de um acontecimentostressante ou traumático.Habitualmente, a perda de memória refere-se a tudo o que sucedeu numdeterminado período, sendo apenas raramente selectivo.Episódios dissociativos podem durar algumas horas ou anos. Normalmenteaparecem tão subitamente como aparecem com total recuperação, havendouma probabilidade pequena de reaparecimento.

    Fuga dissociativa – afastamento súbito e inesperado de casa ou do localde trabalho, com esquecimento ou confusão sobre o seu passado ouidentidade.

    Quando o episódio já não é apenas perda de memória e abrange o súbitoafastamento de casa e do local de trabalho, para longe, assumindo novaidentidade, então estamos a falar de fuga dissociativa. Esta acaba porconsistir num episódio de curta duração. Habitualmente consiste num

    episódio intencional, em viagem, durante qual os seus contactos sociais sãomínimos ou inexistentes. Estas fugas ocorrem por norma, na sequência de

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    stress severo e a recuperação, ainda que em muito variáveltemporalmente, costuma ser completa. Apesar da pessoa não costumarrecordar o que aconteceu enquanto andou em fuga.

    Perturbação de identidade dissociativa  – presença de duas ou maisidentidades distintas = Desordem dissociativa de identidade Sendo mais rara é, também, a mais intrigante e complexa desordemdissociativa. Anteriormente chamada Personalidade Múltipla, consistenuma mudança radical de características de personalidade, por mais doque uma vez. De acordo com os critérios do DSM, o diagnóstico destadesordem requer que a pessoa tenha pelo menos dois estados separadosdo ego, ou alterne diferentes modos de ser, sentir e agir, e que estessejam independentes uns dos outros, de forma consistente e em

    didferentes circunstâncias.Este distúrbio usualmente começa na infância, mas raramente édiagnosticado antes da adolescência. É mais crónico e severo que os outrosdistúrbios (depressão, somatização). É frequente acompanhar-se decefaleias, abuso de substâncias, fobias, ideias de suicídio, entre outrasalterações.

    Perturbação de Despersonalização  sensação persistente dedesprendimento dos processos mentais em relação ao próprio corpo.

    Perturbação Dissocitiva sem outra especificação  – tem comocaracterística dominante o sintoma, dissociativo sem, no entanto,preencher os critérios para uma perturbação dissociativa específica.

    6.2.1 – Etiologia das desordens dissociativas

    De acordo com esta teoria psicanalítica, todas as desordens dissociativas

    resultarão de enorme repressão, habitualmente relacionadas com desejosinfantis inaceitáveis. Por seu turno, os teóricos da aprendizagemconsideram os fenómenos dissociativos respostas de evitamento queprotegem a pessoa de acontecimentos altamente stressantes outraumáticos.Bliss (1980) acredita que a personalidade dissociativa é estabelecida nainfância através de auto-hipnose, sendo uma forma de lidar com osacontecimentos extremamente perturbadores.

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    7.  Perda de auto-estima, sentimentos de auto-culpabilização8.  Dificuldades de concentração, indecisão, e lentidão nos

    próprios pensamentos9.  Pensamentos constantes sobre a morte ou sobre o suicídio

    No entanto, o DSM considera um grupo bastante mais vasto de desordensdepressivas:

    •  Perturbação Depressiva Maior•  Perturbação Distímica•  Perturbação Depressiva sem outra especificação•  Perturbação Bipolar I•  Perturbação Bipolar II•  Perturbação Cidotimica•  Perturbação Bipolar sem outra especificação•  Perturbação do Humor Devido a um Estado Físico Geral•  Perturbação do Humor Induzida por substâncias•  Perturbação do Humor sem outra especificação

    Algumas destas categorias têm sido sujeitas a grande polémica. As duascategorias mais relevantes, tal como são consideradas no DSM são aDesordem Bipolar (anteriormente chamada Psicose Maníaco-Depressiva)

    e a Depressão Maior, também chamada Desordem Depressiva Unipolar 

    A Depressão é um estado emocional caracterizado por profunda tristeza eapreensão, sentimentos de culpa, isolamento, perda de sono, do apetite, dodesejo sexual, e das coisas em geral.

    A Mania, é um estado emocional de intensa alegria sem que exista umfundamento razoável para tal. Esta euforia manifesta-se porhiperactividade, por excesso de fala, flutuação de ideias, distratibilidade,planos grandiosos irrealizáveis,

    Diagnóstico (sintomas-Mania) 

    1.  Aumento da actividade no trabalho, relações sociais e sexuais2.  Palrador fora do habitual3.  “Voo de ideias”, impressão subjectiva de que os pensamentos

    correm4.  Dormir menos do que o tempo habitualmente necessário5.  Auto-estima exageradamente elevada

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    6.  Distractibilidade, atenção facilmente interrompida ou alterada7.  Excessivo envolvimento em actividades de prazer (por exemplo:

    sexo, jogo), ocasionando elevada probabilidade de provocarconsequências indesejáveis.

    A Desordem Bipolar  – ocorre menos frequentemente que a DepressãoMajor. A idade de aparecimento do primeiro episódio situar-se-á entre osvinte e os trinta anos.

    Depressão Major costuma haver actividade Maior

    prevalênciamotora agitada e dificuldade para o sexoem adormecer feminino

    Depressão Bipolar costuma haver actividade Prevalênciamotora tipicamente lenta idêntica para

    a pessoa dorme mais do que o ambos os sexos habitual

    7.1 – Teorias da depressão

    A Hipótese bioquímica da depressão  – assenta no pressuposto de que

    existe um problema qualquer relacionado com monoaminas, especialmentea norepinefrina e a serotonina. Este problema está relacionado com umdéfice na actividade destes neurotransmissores.

    4 Hipóteses biológicas mais relevantes quanto à depressão

    Hipóteses Monoaminérgico Sendo a mais antigo das hipóteses, é também amais divulgada e usada como base científica por parte da propagandafarmacêutica.

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    De acordo com esta hipótese, as pessoas deprimem-se porque nos seuscérebros existe norepinefrina ou serotonina a menos. Teríamos, então,uma síndrome de deficiência de serotonina.

    Síndrome de deficiências de norepinefrinaPerturbação da atençãoProblemas de concentraçãoDeficiência na memória de trabalhoLentificação do processamento de informaçãoHumor depressivoRetardamento psicomotorFadiga

    Síndrome de deficiência de serotonina Humor depressivoAnsiedadePânicoObsessões e compulsõesBulimia

    Teorias Psicológicas 

    Teoria das cognições disfuncionais (Aaron Bek)As pessoas deprimidas sentem-se assim porque o seu pensamento estáenviesado na direcção de interpretações negativas, sendo concebidos 3níveis de cognição, todos eles com um carácter negativo.

    1.  A tríade negativa (constituída por uma visão pessimista de si, domundo e do futuro)

    2.  Esquemas de crenças negativas, que são desencadeadas pelosacontecimentos (“Tenho que ser perfeito”)

    3.  Distorções cognitivas (ex: inferência arbitrária – conclusão tiradana ausência de evidência suficiente, ou mesmo de qualquer evidência“Tive um furo porque ia para uma reunião importante: é sempreassim…”

    De acordo com esta teoria as pessoas mais tarde vêm a deprimir-se,adquirem esquemas negativos na infância e adolescência, o que cada um denós desenvolve são esquemas, construções sobre o mundo.

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    Os esquemas depressivos/negativistas, que as pessoas eventualmenteaprenderam, são posteriormente activados sempre que se encontram emsituações idênticas às originais.

    Tríade Negativa(visão negativa sobre si, o mundo e o futuro)

    Esquemas ou crenças negativas(Desencadeados por acontecimentos negativos da vida)

    Distorções Negativas

    DEPRESSÃO

    Teoria da desesperança aprendida 

    A premissa básica desta teoria é que a passividade e sentimento deincapacidade para conduzir e controlar a vida é adquirida através deexperiências e traumas desagradáveis que a pessoa tenta, sem sucessocontrolar e é isto que conduz à depressão

    Teoria da desesperança de Seligman considera que a depressão resultado desenvolvimento de um estado de desesperança, a expectativa segundoa qual acontecimentos positivos nunca irão acontecer.

    Condições psicológicas consideradas por Seligman suficientes para aocorrência de depressão 

    1.  A pessoa espera que circunstâncias altamente negativas vãoacontecer de certeza

    2.  Considera não ser capaz de impedir a concorrência dessesacontecimentos

    3.  A pessoa tem estilo atribucional disfuncional que consiste ematribuir ocorrência desses acontecimentos a características suas

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    4.  Quanto maior a certeza de que irão dar-se aqueles acontecimentosnegativos, maiores os défices cognitivos (memória, raciocínio) emaior a falta de motivação para fazer-lhes face.

    7.2 – Abordagens terapêuticas

    7.2.1 Tratamentos de natureza médica

    No tratamento electroconvulsivo actual a descarga é dada apenas num doshemisférios (o não dominante). Por outro lado, a pessoa é usualmente

    sedada através de um sedativo tipo diazepan. O tratamento é utilizadocom pouca frequência e em casos de resistirem a outras abordagensmédicas.

    Tratamento farmacológico  - a depressão é preferencialmente tratadacom antidepressivos

    Inibidores da Moncomina Oxidase : MoclobemidaFenelzina

    FluoxetinaInibidores Selectivos da FluvoxaminaRecaptação da Serotonina Paroxetina

    SertralinaCitalopram

    AmitriplinaClamipraminaImipramina

    Triciclicos  NortriplinaDesipraminaTrimipramina

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    Antidepressivos  Buproprian(vários miscelânea) Mirtazepina

    NefazodonaTrazodona

    Venlafaxina

    Fármacos utilizados no tratamento da Mania CabomazepinaLítioÁcido valpróico/vaporato de sódio

    7.2.2 Tratamento natureza psicológica

    São 3 as terapias psicológicas comprovadamente eficazes na depressão:

    Terapia InterpessoalTerapia ComportamentalTerapia Cognitiva

    O tratamento psicológico da depressão visa 3 grandes objectivos

    1.  Aumento do número de actividades2.  Modificação das crenças, atitudes e esquemas3.  Aumento dos contactos interpessoais gratificantes

    O treino de auto-afirmação e de aptidões sociais  visa treinar aspessoas no uso de competências sociais importantes para o seurelacionamento com os outros.

    7.3 – Alguns aspectos sobre o suicídio

    1.  Três vezes mais mulheres tentam o suicido mas o nível deconcretização é superior nos homens

    2.  O suicídio acontece tanto em jovens como em idosos3.  Encontra-se em todas as classes sociais, níveis económicos e,

    nos USA é mais frequente entre psiquiátricos, outros

    médicos, advogados4.  É o tipo de morte que deixa mais marcas nos que ficam

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    5.  Em algumas sociedades industrializadas o suicídio encontra-se entre as 10 principais causas de morte

    6.  A incidência do suicídio varia com as oscilações económicas

    8 – AS DESORDENS DE PERSONALIDADE

    As Desordens da Personalidade  constituem um grupo heterogéneo dedesordens, consideradas como tendo um carácter durável, inflexível ecujos padrões de comportamento e experiência interna tendem a desviar-se das expectativas sociais, provocando mal-estar ou perturbação.No DSM-IV as desordens de personalidade estão organizadas em 3clusters (constelações/agrupamentos de características comuns)

    Cluster A – Agrupa as desordens paranóide, esquizóide e esqui-zótipica

    Cluster B  – Agrupa as desordens de personalidade anti-social, estado-limite de personalidade, histriónica e narcísica

    Cluster C – engloba a evitante, a dependente e a obsessivo compulsiva

    8.1 – Desordem da personalidade paranóideÉ uma desordem característica de pessoas frequentemente hostis. Aspessoas de personalidade paranóide  preocupam-se em excesso, têmdúvidas injustificadas sobre lealdade e honestidade dos outros,encontram frequentemente mensagens escondidas nos acontecimentos.Este diagnóstico sobrepõe-se, frequentemente, com a personalidadeestado-limite e evitante.

    8.2 – Desordem da personalidade esquizóideNo caso desta desordem a pessoa não deseja nem gosta de relaçõessociais e, normalmente, tem apenas alguns poucos amigos:

    •  Frias no seu relacionamento interpessoal•  Raramente evidenciado emoções•  Desinteressados pelo sexo ou outras intimidades•  Experimentam poucas actividades agradáveis

    Em cerca de 53% existe sobreposição com a desordem evitante e emcerca de 47% com a desordem paranóide.

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    8.3 – Desordem ezquizotípica

    O conceito moderno desta desordem vem dos estudos dinamarqueses

    sobre crianças adoptadas por pessoas com ezquizofrenia. Enquantoalgumas destas crianças desenvolveram esquizofrenia quando adultas, umnúmero maior desenvolveu o que parecia ser uma forma atenuada deesquizofrenia.A personalidade esquizotípica, habitualmente manifesta dificuldadesinterpessoais, como na personalidade esquizóide, porém, não diminui aexcessiva ansiedade social com a familiaridade (habituação). Estaspessoas manifestam por exemplo:

    •  Crenças divinas ou pensamentos mágicos•  Superstições•  Crenças sobre serem clarividentes e telepáticos•  Sentem a presença de uma força ou de alguém que está

    presente

    Esta desordem te uma prevalência de 3% e é ligeiramente mais frequentenos homens. O grande problema com o seu diagnóstico é a sobreposiçãocom outros diagnósticos. Embora na sua formulação inicial e acreditasse

    que as pessoas com estas desordens eram filhas de esquizofrénicos não setem verificado diferenças entre estas e os filhos de pessoas comdesordens de humor.

    8.4 – Desordem estado-limite da personalidade

    Nesta desordem a pessoa revela instabilidade nas relações interpessoais,no humor e na auto-imagem.São pessoas que não desenvolvem um sentido claro e coerente de si

    próprios e se mantém incertas quanto a valores, a lealdade e à escolha decarreira. Não suportam a solidão e têm medos relativos a abandonos. Ossintomas dissociativos e a ideação paranóide podem parecer duranteperíodos de elevado stress. A desordem estado-limite de personalidade é constituída por um grupo heterogéneo de característica com umaprevalência de 2%, sendo mais comum nas mulheres.

    8.5 – Desordem de personalidade histrónica

    O diagnóstico desta desordem, anteriormente designada de personalidadehistérica, aplica-se a pessoas excessivamente dramáticas e com uma

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    Algumas características relevantes desta perturbação:

    1.  Encanto superficial e manipulação. Efectivamente, a maioria destas

    pessoas revela uma habilidade especial para seduzir as outraspessoas. No entanto, a sedução é meramente manipuladora. Isto é,para ela os outros são meros objectos de eventual conveniência, deque se descarta logo que se tornem desnecessárias.

    2.  Mentira sistemática, que se traduz num autêntico “instrumento detrabalho”, usado para atingir os seus fins. Está de tal formatreinado neste uso, que pode tornar-se tarefa difícil detectar-lheas mentiras, mesmo com o uso de instrumentos sofisticados. Sãofrequentes por exemplo as simulações de suicídio.

    3.  Ausência de sentimentos de afecto desde a infância, revelando umaincapacidade de colocar “no lugar do outro”, para sentir remorsos ouansiedade.

    4.  A moralidade, no sentido em que se revelam uma quase completainsensibilidade pelos temas morais, noção de Bem, de Mal ou ética.

    Critérios de diagnóstico

    A) Padrão consistente e persistente de desrespeito e violação dosdireitos dos outros, tendo este padrão começado a ocorrer desdeos 15 anos de idade, com três ou mais das seguintes características:

    1.  Incapacidade para se conformar com as normas sociais,levando à realização de confrontos com a lei;

    2.  Uso repetido da mentir e da manipulação dos outros para oproveito próprio;

    3.  Impulsividade ou incapacidade para antecipar o futuro;4.  Irritabilidade e agressividade evidenciada pelo repetido

    envolvimento em conflitos, incluindo confrontos físicos;5.  Desrespeito temerário pela segurança de si próprio e dos

    outros;6.  Irresponsabilidade consistente tanto a nível laboral como

    financeiro;7.  Ausência de remorsos relativos ai sofrimento provocado nas

    outras pessoas

    B)  Os comportamentos anti sociais não podem ocorrer no decurso deepisódios maníacos (desordem bipolar) ou na esquizofrenia.

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    8.11 – Causas da psicopatia (Zuckerman 2002)

    Pesquisas feitas em famílias indicam que os psicopatas costumam ter pais

    que são ou foram psicopatas ou evidenciaram comportamentos anti-sociaisbem como famílias em que a disciplina educacional está ausente ou éinconsciente. Parece haver também, uma elevada incidência de abuso físicoe sexual sobre estas pessoas quando foram crianças.

    8.12 – Tratamento

    Existe entre os investigadores e os clínicos um pessimismo geral quanto àpossibilidade da sua modificação. Acredita-se que é um distúrbio crónico ecom pouca margem de mudança. Na prática, e em gera, utiliza-se

    medicação massiva e neurolépticos, e outros fármacos, cujo efeitoprincipal é a depressão de SNC.

    Têm existido programas de recuperação.Talvez aqui os esforços devam ser dirigidos, preferencialmente, para asua prevenção. Nesse sentido, Cathy Widom, baseada na análise da grandequantidade de dados das suas pesquisas aconselha que tais programasincluam os seguintes pontos:

    1.  Intervenção precoce2.  Especial atenção a crianças em situação de abandono3.  Programas de intervenção que tenham em atenção

    diferenças específicas, já que não existe “um tipopsicopata” mas múltiplos

    4.  Fornecimento de ajuda e de recursos a crianças jovens,que sejam consideradas de risco, e respectivas famílias

    9 – ESQUIZOFRENIAA maioria das pessoas esquizofrénicas apresenta distúrbios em certasáreas: pensamentos, percepção, atenção, comportamento motor, afecto eemoção, bem como no funcionamento geral da vida. Habitualmente, taispessoas evidenciam problemas na generalidade destas áreas, porém podemrestringir-se a apenas uma delas.

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    9.1 – Sintomas positivos

    Caracterizam-se por excessivos: alucinações, delírios e diversos outrostipos de comportamentos bizarros, como os seguintes:

    - Fala desorganizada – (também conhecida por distúrbio do pensamentoformal) em que existe um problema na organização de ideias e da fala, detal forma, que o interlocutor pode não compreender. Também podeacontecer na forma de incoerência ou de associações sem nexo.- Actividade delirante – o desvio no conteúdo do pensamentoesquizofrénico parece ser mais central que na fala ou na forma depensamento. Na verdade, muitos esquizofrénicos têm crenças bastantefortes sobre o resto da sociedade não estar de acordo com os seus pontosde vista, acreditando que o resto do mundo não gosta dessas ideias. Os

    delírios persecutórios são comuns em cerca de 65% dos esquizofrénicos.Tais delírios nem sempre têm um carácter persecutório, poderão teroutras formas, como as seguintes:

    - Passividade somática – a pessoa sente-se passiva, como se fosseo simples receptáculo de sensações corpóreas impostas por alguém- Inserção do pensamento – a pessoa acha que têm pensamentos,as que estes não lhe pertencem e que lhe foram colocados por umamáquina ou por pessoas com poderes especiais- Divulgação do pensamento – a pessoa tem a convicção de que umdeterminado pensamento lhe foi roubado- Imposição de sentimentos – a pessoa dá conta de ter umdeterminado sentimento que é pertença de alguém mas sente-ocomo estando em si, ou seja, sente que esse sentimento lhe foiimposto- Imposição de actos de vontade – a pessoa está a andar, porém oandar não tem origem em si, mas sim numa máquina, sentindo não terautonomia, e, enquanto existir essa ordem não poderá parar.- Imposição de impulsos – actos súbitos de natureza impulsionável,que a pessoa acredita terem uma origem externa.

    Estes delírios acontecem em cerca de 50% dos esquizofrénicos (Davison &Neale, 1996), mas podem esporadicamente aparecer na fase de mania nadesordem bipolar e na depressão com delírio.

    9.2 Alucinações e outras desordens de percepção

    As pessoas esquizofrénicas costumam referir que o mundo lhes parecediferente, mesmo irreal.

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    São mais frequentes as alucinações auditivas, comparativamente àsvisuais, e geralmente assumem 3 formas:

    Pensamentos audíveis: a pessoa ouve vozes vindas do exterior

    Vozes que discutem: a pessoa ouve vozes provenientes de fora, queestão em diálogo e a discutirVozes comentadoras  a pessoa ouve uma ou mais vozes comentando o

    que está a fazer.

    9.3 – Os sintomas negativos

    Dizem respeito a défices como, por exemplo, ausência de vontade detrabalhar, de estudar, ausência de prazer, entre outros.

    Apatia Refere-se à falta de energia, de interesserelativamente às actividades de rotina, porexemplo falta de higiene.

    Alogia  é um distúrbio negativo do pensamento,com vários componentes: pobreza de fala,pobreza de conteúdo. Estas pessoas sãotipicamente lentas a responder às questões,chegando mesma a não responder.

    Anedonia  refere-se à impossibilidade de experiênciaro prazer, a falta de interesse poractividades lúdicas, bem como por relaçõessexuais intimidades e relações de amizade.

    Embotamento afectivo  isto é, a pessoa não reage emocionalmenteaos estímulos, o que quer dizer que a suaexpressão permanece inalterada,independentemente do contextointerpessoal em que esteja inserida

    9.4 – Outros sintomas

    Imobilidade catónica trata-se da adopção de posturas inabituais e muitasvezes desconfortáveis, por longos períodos de tempo. Estas posiçõespodem ser originadas por outras pessoas.

    Afecto inapropriado aqui trata-se de reacções emocionais não sintónicas

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    O DSM-IV considera que as principais categorias de diagnóstico para aesquizofrenia são as seguintes:

    Esquizofrenia desorganizada  – Caracterizada pela presença de

    alucinações e delírios, que podem ter um conteúdo sexual, hipocondríaco,religioso e persecutório. Normalmente estes sintomas são muitoabundantes, mas mal organizados. A pessoa poder ser sujeita a ideiasbizarras não envolvendo a deterioração corporal, fala de modo incoerentee inventa palavras.

    Esquizofrenia catatónica  – Os sintomas mais comuns são os motores.Existe tipicamente uma alternância entre a mobilidade catatónica e umaexcitação muito exagerada, podendo predominar um dos sintomas. Neste

    estado a pessoa torna-se negativista, resistindo a instruções, sugestões efazendo frequentemente eco daquilo que os outros dizem.

    Esquizofrenia paranóide – Neste caso predominante delírios quegeralmente, são de carácter persecutório, de grandiosidade e de ciúmesdelirantes. As ideias de referência são uma forma comum, isto é, tudo oque se passa na TV, rádio ou jornais tem a ver consigo.

    São geralmente considerados diversos subtipos:

    •  A Esquizofrenia indiferenciada com sintomas de várias das outrascategorias.

    •  A Esquizofrenia residual, quando não preencher os critérios para asoutras categorias de esquizofrenia, embora existam sintomasesquizofrénicos

    A propósito de genética da esquizofrenia 

    Não se pode dizer que a esquizofrenia seja uma desordem completamentedeterminada por factores genéticos, sugere-se, porém, que os factoresgenéticos constituem uma predisposição para esta desordem. Seránecessário a ocorrência de stress para haver a passagem de predisposiçãopara uma concretização (é este o contexto da chamada hipótese deDiathessis-stress. Por outro lado, as características de stressrelacionadas com esta desordem ainda não são conhecidas. Acrescente-sea existência de interacção entre certos padrões familiares de classesocial baixa. Por outro lado, existe evidência de que, nas semanas, que

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    esquizofrénicos são também uma outra forma de evidência. O dados maisconsistentemente encontrado é o que diz respeito às áreas límbicas ecórtex pré-frontal, nomeadamente os níveis metabólicos baixosdeterminados, assim como a falta de activação sanguínea.

    9.6 - Stress

    Têm sido propostos dois tipos de específicos de stress:

    Stress Social Pode referir-se, em primeiro lugar, a hipótese sócio-genética, a qualdefende que pertencer a uma classe social mais baixa é a causadora deesquizofrenia, devido ao impacto stressante que lhe está associado. Existe

    mesmo quem advogue que durante o desenvolvimento da psicose daspessoas esquizofrénicas, estas movem-se para classes sociais mais baixasdevido ao distúrbio.

    Stress Familiar Uma hipótese que tem merecido alguma atenção é a chamada “mãeesquizofrénica”: uma mãe fria e dominante, rejeitadora, super-protectora,auto sacrificante, rígida e modesta quanto a questões de sexo e com medoda intimidade.

    Uma outra hipótese, bastante interessante, é a chamada “Teoria daDouble-Blind”  (Bateson, 1956 citado por Davison & Neale, 1956). Estadefende existirem as seguintes condições na origem da esquizofrenia:

    •  A pessoa tem uma relação tão significativa com outra que éespecialmente importante compreendê-la, de forma a poderresponder-lhe adequadamente (caso da relação mãe oupai/filhos)

    •  A outra pessoa expressa, simultaneamente, duas mensagens

    quando faz uma afirmação, uma negando a outra.•  A pessoa não pode criticar essas mensagens contraditórias,

    mas também não lhes pode fugir.

    9.7 – Terapias para a esquizofrenia

    Os tratamentos actualmente de primeira escolha são os farmacológicos, eas substâncias utilizadas no seu tratamento são designadas com o nome de

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    neuropiléticos  ou antipsicóticos. Também lhes chamam, com bomfundamento, “grandes tranquilizantes”.Relativamente ainda à esquizofrenia tem havido nos últimos anos váriastentativas, tanto a nível clínico como experimental no sentido de se

    desenvolverem novas modalidades de tratamento psicológico, sobretudo noque diz respeito a delírios e alucinações.De um modo geral, e na sua forma mais simples, tal abordagem é dirigida a2 ou 3 aspectos essenciais:

    •  Educação: a pessoa aprende a identificar e a compreender assuas crises

    •  Aprender a lidar com as essas situações. O que envolveabordagens complexas a nível cognitivo e de competências

    interpessoais.

    1-  Lidar com situações interpessoais (“competências sociais”)2-  Identificação de sinais stressantes

    Melhoria da auto-crítica (“será mesmo verdade ou é “imaginação”)

    Identificação de sinais emocionais

    Relaxamento

    Auto Reforço

    10 – DESORDENS ALIMENTARES

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    10.1 – Anorexia nervosa

    No DSM-IV a anorexia e a bulimia são consideradas categorias distintas.

    Categoria da anorexia 

    O DSM-IV considera dois tipos de anorexia

    Tipo restritiva  a perda de peso é conseguido principalmente através dedieta, jejum ou exercício físico.

    Tipo porgativo/Ingestão compulsiva (ou bulimia)  em que a pessoa semantêm com baixo peso à custa de vómitos auto-induzidos ou através de uso de purg