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Universidade Federal do Ceará Departamento de Arquitetura e Urbanismo Aluna: Luana Duarte Vieira FICHA DE LEITURA: A Lâmpada da Memória Referência Bibliográfica RUSKIN, John. A Lâmpada da Memória. Cotia, Ateliê Editorial, 2008 Contextualização John Ruskin foi um crítico de arte que pôde acompanhar de perto a degradação física e moral provocada pela revolução industrial. Posicionava-se radicalmente contra a Revolução Industrial, a divisão do trabalho e a mecanização do ser humano. Julgava que os ganhos adivindos com a fabricação em série não justificava a perda do espírito humano, pois a verdadeira riqueza estava na vida digna e inteira. Para ele as ordens moral e social estão diretamente ligadas à arte. Sua crítica de arte se torna crítica da sociedade que a produz. Nesse contexto ele vai escrever um livro entitulado "As sete Lâmpadas da Arquitetura" onde ele admite sete valores que iluminam a arquitetura. São eles: o sacrifício, a verdade, a potência, a beleza, a vida, a memória e a obediência. A Lâmpada da Memória Ruskin introduz o discurso sobre a lâmpada da memória afirmando que podemos sobreviver sem a arquitetura, mas que esta é essencial para nossa memória. Ele compara a sensação de apenas ouvir uma história e a sensação de ler esta numa edificação. Para o autor, esta última forma de buscar a história parece ter muito mais vida. e diz: "Quantas páginas de incertas reconstruções do passado não poderíamos economizar em troca de umas poucas pedras deixadas em pé uma sobre as outras". A história contada é interpretação de outros, a história vista, escrita por quem a presenciou é confirmação. Daí ele afirma que são peças fundamentais de nossa memória a Arquitetura e a Poesia. Pela poesia pode-se conhecer os pensamentos e sentimentos do homem de cada época, pela arquitetura pode-se conhecer o que suas mãos executaram e o que ele pôde contemplar cada dia de sua vida. Todas as considerações que Ruskin vai fazer, a partir de agora sobre a preservação e conservação do patrimônio parte da idéia (que parece não ser contestada) de que se pode tirar lições da história, do passado, e que é importante preservar. Afirmando isso, há duas questões que precisam ser discutidas e trabalhadas. Uma é a necessidade de se conferir uma dimensão histórica à arquitetura de hoje, contemplando algumas preocupações para com o seu cuidado, para que as futuras gerações possam usufruir delas. A segunda questão diz

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Universidade Federal do Ceará

Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Aluna: Luana Duarte Vieira

FICHA DE LEITURA: A Lâmpada da Memória

Referência Bibliográfica

RUSKIN, John. A Lâmpada da Memória. Cotia, Ateliê Editorial, 2008

Contextualização

John Ruskin foi um crítico de arte que pôde acompanhar de perto a degradação

física e moral provocada pela revolução industrial. Posicionava-se radicalmente contra a

Revolução Industrial, a divisão do trabalho e a mecanização do ser humano. Julgava que os

ganhos adivindos com a fabricação em série não justificava a perda do espírito humano,

pois a verdadeira riqueza estava na vida digna e inteira. Para ele as ordens moral e social

estão diretamente ligadas à arte. Sua crítica de arte se torna crítica da sociedade que a

produz.

Nesse contexto ele vai escrever um livro entitulado "As sete Lâmpadas da

Arquitetura" onde ele admite sete valores que iluminam a arquitetura. São eles: o

sacrifício, a verdade, a potência, a beleza, a vida, a memória e a obediência.

A Lâmpada da Memória

Ruskin introduz o discurso sobre a lâmpada da memória afirmando que podemos

sobreviver sem a arquitetura, mas que esta é essencial para nossa memória. Ele compara a

sensação de apenas ouvir uma história e a sensação de ler esta numa edificação. Para o

autor, esta última forma de buscar a história parece ter muito mais vida.

e diz: "Quantas páginas de incertas reconstruções do passado não poderíamos economizar

em troca de umas poucas pedras deixadas em pé uma sobre as outras". A história contada é

interpretação de outros, a história vista, escrita por quem a presenciou é confirmação.

Daí ele afirma que são peças fundamentais de nossa memória a Arquitetura e a

Poesia. Pela poesia pode-se conhecer os pensamentos e sentimentos do homem de cada

época, pela arquitetura pode-se conhecer o que suas mãos executaram e o que ele pôde

contemplar cada dia de sua vida.

Todas as considerações que Ruskin vai fazer, a partir de agora sobre a preservação e

conservação do patrimônio parte da idéia (que parece não ser contestada) de que se pode

tirar lições da história, do passado, e que é importante preservar. Afirmando isso, há duas

questões que precisam ser discutidas e trabalhadas. Uma é a necessidade de se conferir uma

dimensão histórica à arquitetura de hoje, contemplando algumas preocupações para com o

seu cuidado, para que as futuras gerações possam usufruir delas. A segunda questão diz

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respeito à preservação das edificações antigas, que, segundo autor, devem ser cuidadas

como as mais preciosas heranças.

Considerando a primeira questão, ele discorre sobre a durabilidade das edificações

que iremos projetar. Inicia falando das redisências. Ele interpreta a casa de um "homem de

honra" (como ele define) como a realização de uma vida digna e integra. Há aí uma

veneração da casa que serve de exemplo para os descendentes de uma família, devendo

contar em suas estruturas histórias escritas por seu primeiro construtor.

Como exemplo de importância do local de moradia ele cita as construções

habitacionais desfavoráveis que existem na cidade, são construções que já emergem

buscando uma previsão de serem demolidas, pois mostram e contam a condição subumana

que seu morador vive. Então este a constroe pensando no momento em que mudará sua

situação social e aí sim poderá constituir uma residência digna. O autor afirma ainda que

um homem que não reverencia sua casa é porque não honra seus sentimentos. Então ele

sugere que nós devemos construir nossas moradias com cuidado, paciência e amor com a

perspectiva de que dure o quanto for necessário até que a transformação das tendências e

dos interesses locais aconteça e provoque seu fim. A arquitetura doméstica é o princípio de

todas as outras e deve respeitar os pequenos e os grandes hábitos, de forma com que

possam acontecer com plena eficiência. Assim, depois de anos, outra civilização poderá

compreender como se vivia no nosso tempo, que relações se estabeleciam, os costumes, etc.

A casa deve ser feita para durar e para serem belas, ricas e cheias de atrativos. Aliado à

durabilidade, sugere que sejam escritos em algumas pedras uma síntese de sua vida e de

sua experiência, elevando a habitação a uma espécie de monumento.

Ainda falando da primeira questão, ele discorre sobre as edificações públicas.

Sugere que aprendamos com as construções góticas, onde foi possível a expressão de uma

série de memórias ilimitadas, que expressaram em forma de símbolo ou literalmente, tudo o

que merece ser conhecido sobre uma nação. As ornamentações dos edifícios públicos

devem seguir essa única intenção de caráter intelectual. O autor admite que o pensar no

próximo não é motivador de nossas ações, mas lembra que esse é nosso dever. Recebemos

uma terra que não é nossa, para trabalharmos e deixarmos para o próximo. Devemos pensar

em construir algo que deve durar para sempre, e que um dia essa construção será

considerada sagrada, porque foram tocadas por nossas mãos. Ruskin considera que a glória

de um edifício não está no material (por mais valioso que este seja) empregado na

edificação e sim na sua idade e por tudo o que está por trás dela. Reforçando novamente,

devemos fazer uma arquitetura que perdure por muito tempo, e assim não devemos colocar

nenhum elemento que fique sujeito à imprevisão dos anos que passam.

Esse efeito do tempo nos remete à segunda questão. O tempo remete à obra uma

beleza nas marcas que ele deixa sobre os monumentos. Essa beleza foi chamada de

"Pitoresco" que consiste na expressão de uma decadência universal. Nesse momento ele

puxa um nicho e propõe um conceito chamado "Sublimidade Parasitária", que não fica

muito claro no que significa.

Ruskin fecha a lâmpada da memória com uma visão bastante firme com relação ao

restauro. Este é considerado a pior das destruições. Ele justifica essa opinião afirmando que

é impossível reconstruir o que foi perdido. No máximo o que aconteceria é uma imitação do

que existia e isso é falso e enganador, pois o espírito da obra nunca será o mesmo. Poderão

vir outros espíritos, mas um que já se foi, nunca retornará. A obra antiga possui um quê de

vitalidade, um quê de misterioso e sugestivo vestígio do que ela foi e do que se perdeu, uma

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suavidade naquelas linhas macias modeladas pelo vento e pela chuva, que não pode ser

encontrada na brutal dureza do entelhe novo. O autor defende que devemos ser sinceros

com o edifício, melhor que o restauro é a destruição do edifício e a utilização de seus

materiais em qualquer outra coisa, mas não o enganemos tentando repará-lo. Se tomarmos

todo o cuidado com nossos monumentos essa necessidade de restauro deixa de existir.

Segundo o autor, não temos o direito de decidir sobre a não preservação dos

edifícios, pois não são nossos, logo não temos o direito de destruí-los. Os mortos também

têm os seus direitos sobre essas construções.

Se alguém nos perguntar qual a função da arquitetura, poderemos dar várias

respostas. A arquitetura tem função de abrigar, de proporcionar condições perfeitas para o

exercício de determinadas funções, de ser bela e provocar contemplação, de cirar espaços,

de provocar sensações diversas (de impressionar, de assombrar, de aconchegar), enfim,

infinitas funções. Ruskin sugere mais uma função, a de contar a história de um povo, de

forma bastante clara.