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Próximo lançamento O Sistema dos Objeto s Jea n Bau dri lla rd A procura de um estatuto do objeto estético leva Mikel Dufrenne a se interrogar não só das relações entre Ciência e Filosofia como a redefinir  n at ur ez a v en do -a p ro lo nga da na técnica e na prática h uma nas . Du fr en ne compreende a experiência estética como ponto de partida de todas as ro as que a humanidade percorre: ela abre seu caminho à ciência e à ação. Ela manifesta a aptidão do homem para a moralidade. Arte e Semiologia I Expressiv idade do Abstrato I Estrutura e Sentido I co nstituem no livro alguns d os b lo co s- co ncei to s s it ua do s n o c er ne d a es pec ula çã o es tét ica e f ilo só fi ca contemporânea. ISBN 85-273-0136-9 9 788527 301367 egates e ates e ates filosofi mikel dufrenne  ESTÉTICA E FI OSOFIA ----,

69882409 Dufrenne Estetica e Filosofia

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Dufrenne Estética e Filosofia

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  • Prximo lanamentoO Sistema dos ObjetosJean Baudrillard

    A procura de um estatuto do objeto esttico leva Mikel Dufrenne a seinterrogar no s das relaes entre Cincia e Filosofia como a redefinir"natureza" vendo-a prolongada na tcnica e na prtica humanas. Dufrennecompreende a experincia esttica como ponto de partida de todas as rotasque a humanidade percorre: ela abre seu caminho cincia e ao. Elamanifesta a aptido do homem para a moralidade. Arte e Semiologia IExpressividade do Abstrato I Estrutura e Sentido I constituem no livro algunsdos blocos-conceitos situados no cerne da especulao esttica e filosficacontempornea.

    ISBN 85-273-0136-9

    9 788527 301367

    egatese atese ates filosofia

    mikel dufrenne-ESTTICA

    E FILOSOFIA----,

  • Coleo DebatesDirigida por J. Guinsburg

    Equipe de realizao - Traduo: Roberto Figurelli; Reviso: Mary Ama-zonas Leite de Barros; Produo: Ricardo W. Neves e Heda Maria Lopes.

    mikel dufrenneESTTICA

    E FILOSOFIA

    SBD-FFLCH-USP

    1111111111111111111111111111111111111111245592

    ~\IIII=== ~~ EDITORA PERSPECTIVA~I\\~

  • Ttulo do original:Esthtique et Philosophie Editions KJincksieck

    DEDALUS - Acervo - FFLCH-FIL

    \IMIIII~lli\II!121000056131

    SUMRIO

    11/ Ir duo edio brasileira3' edio - 2' reimpresso

    t'rrjcio:

    A 'ontribuio da Esttica Filosofia . . . . . . . . . 23A lgemeen Nederlands Tijdschrift voor Wijsbegeerteen Psychologie, Assen, 56-5, dez. 1962.

    Direitos reservados em lngua portuguesa EDITORA PERSPECTIVA S.A.Av. Brigadeiro Lus Antnio, 302501401-000 - So Paulo - SP - BrasilTelefax: (O--ll) 3885-8388"www.editoraperspectiva.com.br2002

    I. PROBLEMAS FlLOSOFlCOS DA ESTETICA'

    () BeloNQ especial da Revue A. S. FI. DE PHI., iun-out.1961

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    5

  • Os Valores Estticos . . . . . . . . . . . . . . 48Encvclopdie [ranaise, tomo XIX: Filosofia. Re-ligio.

    A Experincia Esttica da Natureza 60Revue intcrnationa!e de Philosophie, Bruxelas, 1955.XXX, 1.

    Intencionalidade e Esttica. . . . . . . . . . . . . . . . . . 78Revue philosophique, P. U. F., Paris, 1954, 1-3.

    A "Sensibilidade Generalizadora" 89Revue d'Esthtique, Paris, 1960, XIII, 2.

    li. ARTE E SEMIOLOGIA

    A Arte Linguagem? 103Revue d'Esthtique , Paris, 1966, XIX, 1.

    Formalismo Lgico e Formalismo Esttico 150Annales d'Esthtique, Atenas, 1964.

    A Crtica Literria: Estrutura e Sentido 169Revue d'Esthtique, Paris, 1967, XX, 1.

    Crtica Literria e Fenomenologia ' 187Revue internationale de philosophie, Bruxelas, 1964,68, 2-3.

    A Propsito de Pndaro 204Revue d'Esthtique, Paris, 1957, X, 2.

    lIl. A ARTE HODIERNA

    Mal do Sculo? Morte da Arte? . . . . . . . . . . . .. 215Revue d'Esthtique, Paris, 1964, XXII, 3-4.

    Objeto Esttico e Objeto Tcnico 238The Journal of Aesthetics and Art criticism, eleve-land, 1964, XXIII, 1.

    Da Expressividade do A bstrato. A propsito deuma exposio de Lapoujade 257Revue d'Esthtique, Paris, 1961, XIV, 2.

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    INTRODUO Edio Brasileira

    I, Embora sem igualar a importncia da fenomeno-li) 'ia no panorama da filosofia contempornea, a est-11 'U Ienornenolgca , hoje, uma das correntes de maior('onsi tncia no mbito da esttica. Sua histria re-rvntc. O ponto de partida, obviamente, deve ser pro-vurudo na obra de Edmund Husserl. Apesar de Husserl11 10 ler escrito uma esttica, sua vasta obra contm('h'Ill

  • pam a ateno dos estetas. Assim, por exemplo, devemser lembrados os sutis estudos de M. Geiger e as pes-quisas de ndole fenomenolgica de W. Conrad. TantoGeiger quanto Conrad eram integrantes do crculoberlinense de Max Dessoir. Mas em Das iiterarischeKunstwerk' do polons Roman Ingarden - um dosprimeiros discpulos de Husserl no tempo de Goettingen- que deparamos com uma obra organicamente arti-culada, empenhada em responder exigncia de supe-rao do psicologismo, o qual caracterizava a filosofiano final do sculo XIX. Infelizmente a Aesthetik deN. Hartmann - filsofo que tanto contribuiu para aformulao dos princpios e problemas de uma fenorne-nologia da arte - s foi publicada aps a morte doautor, ocorrida em 1953. Na Itlia, difcil avaliar aextenso da influncia de A. Banfi como mentor de umgrupo de estudiosos que ainda hoje continuam, no cam-po da fenomenologia, as pesquisas do mestre iniciadasna dcada de 30. Na Frana, J.-P. Sartre e M. Mer-leau-Ponty encarregaram-se da aclimao da fenome-nologia husserliana. atravs deles que surge a figurade Mikel Dufrenne-.

    2 . A obra de Dufrenne pode ser dividida, por razesdidticas, em dois setores: filosofia e esttica. Maslogo devemos observar que no existe uma separaontida entre os dois campos. A esttica, para Dufrenne, filosofia. E no difcil descobrir os traos do estetano Dufrenne-filsofo, No setor da filosofia incluira-mos: Karl Iaspers et Ia Philosophie de l'existence', es-crita em colaborao com P. Ricoeur, La Personnalitde base. Un concept sociologique', Language and Phi-losophyr, Ialons: e Pour l'homme', A simples enume-rao dos ttulos revela a amplitude de assuntos abor-

    (I) Halle, 1931.(2) Nascido em 19\0, em Clermont, Mikel Dufrenne professor

    efetivo de. filosofia e doutor em letras. Exerceu o magistrio em vriosliceus e, atualmente, leciona esttica e metafsica em Nanterre. :t;:membro da socuu [ranaise d'esthtique e dirige, com Etienne Souriau,a Revue d'Esthtique,

    (3) Dufrenne, Mikel. Karl Jaspers et Ia Philosophie de l'existence ,en collaboration avec P .. Ricoeur. Paris, t:.d. du Seuil, 1947.

    (4) Dufrenne, Mikel. La Personnalit de base. Un concept socio-logique, Paris, PUF, 1953.

    (5) Dufrenne, Mikel. Language and Philosophy . Bloomington.Indiana University Press, 1963.

    (6) Dufrenne, Mikel. Jalons, Haia, Martinus Nijhoff, 1966.(7) Dufrenne. Mikel. Pour 'homme, Paris. ~d. du Seuil, 1968.

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    dados num arco que se estende desde o estudo sobrea filoscfia de Jaspers at o escrito polmico Pourl'homme, cuja finalidade "evocar o anti-hurnanismoprprio da filosofia contempornea, e defender contraela a idia de uma filosofia que teria solicitude pelohornem'",

    Na parte esttica propriamente dita: o artigo "Phi-I sophie et Littrature", na Revue d'Esthtique 9, Ph-11 mnologie de l'exprience esthtique, em dois volu-mes'", La notion. d":a priori"!', Le Potiquev e Esthti-que et Philosophiev, cuja traduo a Editora Perspecti-v ora oferece ao leitor de lngua portuguesa com ottulo de Esttica e Filosofia. nosso intuito, nos li-mites de uma introduo, seguir o itinerrio da reflexoesttica de Dufrenne e situar Esttica e Filosofia no. njunto de sua obra.

    3. Phnomnologie de l'exprience esthtique foi aobra que projetou Dufrenne no cenrio internacional da.. ttica. O escopo da Phnomnologie submeter a:xperincia esttica descrio fenomenolgica, an-tls transcendental e apreenso da significao me-tulsica. So trs etapas de um itinerrio que no atin-iu o trmino com a ltima pgina da Phnomnologie,111a continua at hoje, tendo passado por La notiond": priori" e O Potico. O leitor, acostumado a con-cluses acabadas e definitivas, talvez se decepcione com1 obra de Dufrenne. Seus livros so o fruto de um pen-uncnto gil e indagador, aberto ao contato vivificanterorn a experincia e disposto a repensar os dados 'dopnssado. S atravs da leitura atenta de seus livros -

    desde a Phnomnologie at O Potico, com o re-I urs constante da Esttica e Filosofia - possvel1 '( rnpanhar o itinerrio da fecunda reflexo do estetah ancs, Itinerrio que no chegou ao fim visto que

    ca) tua.. p. 9.(9) "Philosophie et Lttrature". Revue d'Esthtique I (1948) pp

    'H'I 'O~. ' ,.(10) Dufrenne, Mike l. Phnomnologie de l'e xprience esthtique.

    1',,01 , PUF, 1953, 2v.(11) Dufrenne, Mikel. La noton d'Ha pror", Paris, PUF, 1959.(I ) Dulrenne, Mikel. Le Potque, Paris, PUF, 1963. Em portu-

    11H O Potico, traduo de Luiz Arthur Nunes e Reasylvia Kroeff de"lI/h, P. Alegre. Ed. Globo, 1969.

    (I) Dufrenne, Mikel. Esthri que et Philosophie. Paris, :f:d. Klinck-I k. 1967.

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  • ele, atualmente, trabalha no recenseamento dos apriori 14.

    No incio da Phnomnologie, Dufrenne observa:"Entendemos fenomenolozia no sentido em que Sartree Merleau-Ponty aclimaram este termo na Frana: des-crio que visa a uma essncia, a qual definida comosignificao imanente ao fenmeno e dada com ele. Aessncia est para ser descoberta mas por um desvela-mento, no por um salto do conhecido ao desconhe-cido"15.

    Sabemos quo difcil o problema das diferentesinterpretaes suscitadas pela obra de Edmund Husserl.Dufrenne filia-se corrente francesa liderada por Sar-tre e Merleau-Ponty. Ambos os autores, no obstantenotrias divergncias, tm influncia reconhecida naobra de Dufrenne. Ele no esconde seus receios peladireo idealista do pensamento de Husserl. Da a pre-ferncia pela interpretao de Merleau-Ponty, que sa-lienta os aspectos existenciais da fenomenologia, e pelaleitura de Sartre, que d relevo idia de intencionali-dade e dimenso antropolgica. Se acrescentarmosos nomes de Espinoza, Kant, Hegel, Wittgenstein, Hei-degger, Bachelard e Alain, teremos o elenco dos fil-sofos que mais tm influenciado Dufrenne,

    4. A Phnomnologie est circunscrita experinciaesttica do espectador. Mas existe uma intercomunica-o entre a experincia do espectador e a experinciado artista. No possvel descrever a experincia doespectador sem ter presente, ao menos implicitamente,a experincia do artista. Trata-se, porm, do artistaque a obra de arte revela. na obra, portanto, quese realiza o encontro entre espectador e artista. E nes-se ponto a Phnomnologie completada por outrosescritos do Autor. O Potico e Esttica e Filosofia ofe-recem-nos valiosos subsdios para uma fenomenologiada criao artstica.

    A maior parte da Phnomnologie est dedicada descrio fenomenolgica seja do objeto esttico, sejada percepo esttica. de fundamental importnciaa distino entre obra de arte e objeto esttico. Este

    (14) Dufrenne, MikeL "A prtori" et Philosophie de Ia Nature .Filosofia, 18 (1967), p. 723.

    (15) Dufrenne, Mkel, Phnomnologie, op, cit., pp. 4-5, nota L

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    objeto percebido esteticamente. o objeto percebidoenquanto esttico. A obra de arte, atravs da per-cepo esttica, se torna objeto esttico. Obra de arteobjeto esttico no se identificam. O campo dobjeto esttico mais amplo. Abarca o mundonatural que, excludo da Phnomnologie, aparece emesttica e Filosofial6

    Longa e exaustiva a descrio do objeto esttico.Paz-se mister situ-Io entre outros objetos: o objeto deli e o objeto tcnico, por exemplo. A descrio de-R nvolve-se atravs dos trs planos noemticos: o sen-svel, o objeto representado e o mundo expresso. O ob-j t esttico confrontado com os conceitos de natu-r' za, forma e mundo. Dufrenne, ento, submete ao.rivo da crtica as doutrinas de inspirao fenomeno-)t gica de J.-P. Sartre, R. Ingarden, B. de Shloeser eW. Conrad. Tendo fundamentado seu empreendimentona realidade do objeto esttico e afastado os perigosdo subjetivismo e do psicologismo, ele situa ser e apa-I' er em forma de adequao. O ser do objeto estticotil pende da percepo e s se realiza na percepo.Por fim, o problema do estatuto do objeto esttico.Visto que o objeto esttico no s um em-si, cornoI unbm um para-si, Dufrenne recorre frmula quase-su] ito numa tentativa de definir o estatuto do objeto('NI tico atravs da superao da alternativa do para-si( d em-si.

    Aos trs aspectos noemticos - descobertos nati ., rio do objeto esttico - correspondem os nveisti I presena, representao e sentimento: trs marcostio r teiro da fenomenologia da percepo esttica. :E:I I 'rceira parte da Phnomnologie e, com ela, Du-trcnnc completa a descrio da experincia esttica,uma das finalidades de sua obra. No plano da presena,ulimta-se o tratamento dado ao papel desempenhadopelo corpo na percepo, talvez um dos passos da/'/1 nomnologie onde mais se percebe a influncia deerlcau-Ponty. No nvel da representao, Dufrenne

    11' 11ft a distino entre percepo e imaginao. Todo11 u empenho demonstrar que a imaginao est nah I c da percepo e deve ser encarada como sua cola-hlll ItI ra. No terceiro momento notico, o Autor pro-

    1/,) No artigo: A experincia esttica da Natureza, p, 54.

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  • cura caracterizar a funo do intelecto na percepoesttica, funo importante mas que no deve ser exa-gerada sob pena de transformar a experincia estticaem mero exerccio racional. O mesmo ocorre com osentimento: sua posio, no pice da percepo, nodeve levar ao erro de tudo sacrificar em favor do sen-timento. Na atitude esttica h uma espcie de osci-lac entre a atitude crtica e a ati tude sentimental.

    5. Terminada a descrio da experincia esttica, necessrio dar um passo alm e submet-Ia anlisetranscendental. Assim como Kant fala dos a priori dasensibilidade e do intelecto, Dufrenne procura demons-trar que a experincia esttica - ao atingir o pontoculminante no sentimento como leitura da expresso- pe em ao autnticos a priori da afetividade. Tal o escopo da quarta parte da Phnomnologie, intitu-lada: "Crtica da experincia esttica". E aqui nosdefrontamos com um exemplo tpico da evoluo dopensamento de Dufrenne. Aps a Phnomnologie, elevolta ao tema em questo, opondo-se tradio kan-tiana do a priori em La notion d"'a priori", publicadoem 1959. Sua finalidade pensar o a priori corno sen-tido imediato do objeto conhecido e no corno condiolgica do conhecimento. H, portanto, uma deslogi-cizao do a priori. Alm disso, o a priori desdobra-do no objeto e no sujeito: estrutura no objeto e sabervirtual no sujeito. Em La notion. d"'a priori", Dufren-ne parece afastar-se do contexto da experincia est-tica. Realmente, a maior parte do livro ocupadapelo repensarnento da noo de a priori, tanto do ob-jetivo, quanto do subjetivo. Mas na terceira parte ("Ohomem e o mundo"), o leitor depara com algumas dasmais profundas pginas do livro onde Dufrenne, apster situado o homem e o mundo em termos de afini-dade, efetua o salto do transcendental ao ontolgico.

    J no final da Phnomnologie, o Autor tentaraa apreenso da significao metafsica da experinciaesttica. Seu propsito, porm, ficou invalidado ao prem dvida a necessidade da crtica se voltar para acntologia. Mas em La notion d":a priori", aps terordenado a dualidade do a priori numa unidade queabrange os dois termos, Dufrenne prope a idia de

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    um ser anterior ao a priori: o "a priori do a priori"a soluo para o salto do transcendental ao ontol-

    gico e para o exame da significao ontolgica daxperincia esttica. E a busca do a priori do a prioriI va-o a uma filosofia da natureza - em O Potico- onde a Natureza naturante concebida como af nte de todo o a priori, O fato de Dufrenne ter sidoobrigado a efetuar a passagem do a priori ao ontol-ico, para no cair nas malhas do idealismo, situa suabra na corrente das enornenologias de inspiraontolgica.

    6. Contam-se, no elenco das obras de Dufrenne, duas, letneas: Ialons (1966) e Esttica e Filosofia (1967).Jalons, que rene artigos sobre os filsofos que maiso influenciaram, pertence s obras filosficas propria-mente ditas. Cabe-nos, agora, a tarefa de situar Est-li 'a e Filosofia no itinerrio esttico de Dufrenne.

    Os artigos que compem a obra foram agrupadosp ,I Autor em trs grandes grupos: I. Problemas filo-)ficos da esttica; lI. Arte e Semiologia; IH. A artehodierna. Estendem-se de 1954 - portanto logo aps\ primeira edio da Phnomnologie - at 1967,

    A justificativa do ttulo dado coletnea encontra-~ na apresentao e no primeiro artigo do livro. Es-

    f ('( i a e Filosofia porque a esttica s pode ser realizada!lO mbito de uma filosofia e porque a esttica urnavin privilegiada para a filosofia.

    Assim ccmo a Phnomnologie, tambm o artigo., contribuio da esttica filosofia tem o seu pontoIIl' partida na descrio da experincia esttica, O ho-11\ .m um ser-no-mundo. E estar no mundo leva o ho-II1l'm a buscar o fundamento que consiste no acordo dohomem com o mundo. Da a importncia da experin-ri I esttica, Ela reconcilia o homem consigo mesmo.1-111 manifesta a aptido do homem para a cincia e .para1\ moralidade, E isso porque a experincia esttica "seItUI na origem, naquele ponto em que o homem, con-tundido inteiramente com as coisas, experimenta suafllllllliaridade com o mundo" 17. O fato de a esttica re-111 tir sobre a experincia esttica - uma experincia11rif.llrlHl, segundo Dufrenne - reconduz o pensamento

    (I n Dufrenne, Mike1. Esttica e Filosofia. op . cit ., PP. 89.

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  • e a conscincia origem. Nisso reside a principal con-tribui o da Esttica Filosofia. So visveis, aqui, aspegadas de Kant e de Merleau-Ponty.

    7. No passa despercebido ao leitor da Phnomno.-logie a recusa do Autor a utilizar o belo p~ra desc~?nra obra de arte e delimitar o campo do objeto esttico.Mas se levarmos em conta trs artigos de Esttica eFilosofia - O Belo, Os valores estticos e Obj;to es-ttico e Objeto tcnico - veremos que, no computogeral, a noo do belo adquire consistncia na estticade Dufrenne.

    H uma exigncia de valor na vida. O valor no s o que se procura. f:. aquilo ~ue encontrad~. Ovalor ser. O objeto - porque e valor - se afirmae persevera no seu ser. H seis tipos diferent~s devalores: o til, o agradvel, o amvel, o verdadeiro, obom e o belo. Cada qual corresponde a modos espe-cficos da intencionalidade e o conjunto abarca o campodas relaes do objeto com o sujeito.

    Vimos que o objeto esttico a obra. de arte, ~n-quanto percebida esteticamente .. Se o obJeto. estet~cocorresponder sua vocao, realizar sua fmalid~de m~trnseca, for - numa palavra - ele mesmo, entao ser aum objeto de valor.

    Ao sensvel, primeiro plano noemtico, deve estarimanente um sentido. Quanto mais perfeita for a ade-quao do sensvel com o sentido, tanto maior ser aperfeio do objeto esttico. E o conceito de belo,segundo Dufrenne, se identifica com a perfeio do ob-jeto esttico. O belo o 'perfeit~, ~ acab~do. O contr~-rio do belo, por conseguinte, nao e o feio. o aborti-vo no caso de uma obra criada com pretenses aobjeto esttico. .

    O homem um ser-no-mundo. Ele tem necessi-dade de se sentir bem, no mundo, entre as coisas. Epelo fato de precisar se sentir no mundo, o homem ~emnecessidade do belo. Ele capaz tanto de apreciar,quanto de criar beleza. . Assim se justific~. a divisoproposta: esttica do artista (fazer) e esttica do es-pectador (aparecer). A esttica de Dufrenne reconheceo belo. Reabilita e enaltece o belo. Sua esttica, po-rm, para evitar os perigos do relativismo e do subje-tivismo, no apresenta uma teoria do belo.

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    R. Objeto estenco e obra de arte no se identificam.) conceito de objeto esttico , como vimos, mais am-I : inclui a obra de arte e o objeto natural. f:. poss-vel viver uma experincia esttica tanto diante de umaobra de arte, quanto perante a natureza. Toda a Ph-1/0 111nologie, por razes de mtodo, est dedicada , perincia esttica da obra de arte.' Essa experincia\, ob o ponto de vista fenomenolgico, a mais esc1a-rcccdora de todas. E Dufrenne afirma que a contem-pla o da obra de arte estabelece a norma da experin-ia esttica. Mais uma vez Esttica e Filosofia nosoferece a complernentao necessria para termos umaviso de conjunto do pensamento do Autor.

    Em primeiro lugar, deve ser mantida a distinoentre as duas experincias. Mas o lugar de relevo atri-hudo experincia diante da obra de arte no pode1 'verter em detrimento da experincia esttica da na-turcza. Assim como no h oposio entre natureza, arte, tambm no possvel forjar um antagonismo-ntrc as duas experincias tanto mais que Dufrenne vempro ressivarnente elaborando uma filosofia da Natureza.I.m O Potico, por exemplo, a noo de natureza 11m; entada em referncia ao mundo, ao homem e "te. Nesse sentido, de fundamental importncia adistino, de origem espinoziana, entre Natureza natu-runtc e natureza naturada",

    A Natureza naturante espontnea, capaz de re-('1

  • Embora no seja nosso intuito apresentar umacrtica filosofia da Natureza elaborada por Dufren-ne, no podemos deixar de chamar a ateno para aexistncia de certas dificuldades que envolvem seuempreendimento. Tais dificuldades poderiam ser com-prendidas na pergunta: ser que o empenho de Du-frene em sublinhar a conaturalidade do homem com anatureza no o induziu, talvez inconscientemente, afavorecer a natureza em prejuzo do homem?

    9. No artigo Iruencionalidade e esttica, o Autor re-toma e continua a reflexo sobre certos temas bsicosda Phnomnologie. A noo de intencionalidade estno mago da reflexo filosfica. A. de Muralt vi sua-liza duas dimenses na idia de intencionalidade: Ie-nomenolgico-transcendental e fenomenolgico-descri-tiva. Dufrenne, juntamente com Sartre e Merleau--Ponty, inclui-se na dimenso fenomenolgico-descritiva,Para ele, a experincia esttica do espectador podeservir para esclarecer a idia de intencionalidade edar peso interpretao merleau-pontyana. Isto por-que a percepo esttica "procura a verdade do objeto,assim como ela dada imediatamente no sensvel?",Do .mesmo modo como o artista se aliena na criaoda obra de arte, assim o espectador se aliena na per-cepo esttica: entrega-se totalmente manifestaodo objeto. Efetua-se, ento, a reduo fenomenol-gica. Real e irreal so neutralizados. Tudo, comexceo do mundo do objeto esttico, posto entreparnteses a fim de que o sujeito possa apreender ofenmeno, isto , o objeto, e viver uma experinciaesttica.

    A obra de Dufrenne est sob o signo do binmiomonismo-dualismo inserindo-se, destarte, na problem-tica da filosofia moderna que no evita a oposio entresujeito e objeto e, ao interrogar o ser, pe em questoaquele que interroga. No o momento oportuno paraverificar se Dufrenne pertence s fileiras do monismo oudo dualismo. Interessa-nos, porm, sublinhar a exis-tncia de um liame, tecido pela intencionalidade, entresujeito e objeto na experincia esttica. Ora, da cons-tatao desse liame, ele passa idia de uma comuni-

    (19) Dufrenne, MikeJ. Esttica e Filosofia, op, cir., p. 51.

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    cao originria entre sujeito e objeto. O objeto es-ttico, alis, est duplamente ligado ao sujeito. Oartista cria a obra de arte. O espectador, atravs dapercepo, responsvel pela epifania do objeto est-tico. O artista expressa seu mundo interior no objetode modo que, na experincia esttica, o espectador temacesso ao mundo do artista. Da ser correto nomear omundo do objeto esttico pelo nome do artista: mundodc Racine, Mozart ou Van Gogh.

    Segundo Dufrenne, a comunicao originria entresujeito e objeto - conseqncia da idia de intencio-nalidade - encontra sua explicao ltima na noode a priori. "A intencionalidade significa, portanto, quehomem e o mundo so da mesma raa: a comunica-

    que ela conota se funda numa comunidade'w.A fenomenologia uma doutrina. Doutrina que

    prope um mtodo. Dentre as aplicaes do mtodor nomenolgico, sobressai - em Esttica e Filosofiaa crtica. crtica, Dufrenne dedica dois profundos

    rrtigos: A critica. literria: Estrutura e Sentido e Crticalit irria e [enomenologia, Em ambos os artigos, almd que se refere especificamente crtica literria, de-paramos com o pensamento de Dufrenne a respeito dacrltica de arte em geral. o Dufrenne terico da cr-tlca e crtico penetrante das mais importantes teoriasqu norteiam a atividade dos crticos de hoje. Algumas11 ias desses artigos, principalmente as restries emf "C do estruturalismo, retomaro em Pour l'homme.() principal interesse, entretanto, reside na comprovao11, que os princpios da fenomenologia encontram apli-iao prtica em setores de tanta atualidade, como o

    I IS da crtica literria.

    I(). No nos possvel apresentar uma anlise por-111l'1) rizada de Esttica e Filosofia. Na perspectiva em'I1l nos colocamos, o principal interesse do livro reside11 1 primeira parte. Isso porque os artigos includos sobI1 t tulo de "problemas filosficos da esttica" ser-VI /11 de aprofundamento e complementao a temas deIIIIH rtncia decisiva no itinerrio esttico de Dufrenne.nfase que damos primeira parte no deve levar otor 8 menosprezar as outras duas partes. Nelas setI) Ibi., p, 58.

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  • encontram dados de real valor que muito nos auxiliama ter uma viso geral da obra de Dufrenne.

    Alm dos j mencionados artigos sobre crtica, me-rece ser citado o longo estudo A arte linguageml , ondeDufrenne, colocando-se na esteira de Husserl, Wittgens-tein e Merleau-Ponty, aborda, sob diferentes pontos devista, o problema da linguagem. Na Phnomnologie,a linguagem auxilia a compreenso do fenmeno daexpresso. Em O Potico, ao confrontar a linguagemcom a prosa e a poesia, aprofunda a idia de expresso.Em Esttica e Filosofia visvel a preocupao de Du-frenne em delimitaras campos da Semiologia e da Lin-gstica e em esclarecer a maneira pela qual deve serentendida a assero "a arte linguagem"

    Na ltima parte do livro, mais precisamente noartigo Mal do sculo? Morte da artei , Dufrenne apre-senta uma das mais lcidas anlises da arte contem-pornea efetuadas na dcada de 60. O autor no secontenta com observaes superficiais mas, fiel voca-o filosfica da Esttica, procura as causas dos atuaisfenmenos artsticos para melhor cornpreend-los e in-terpret-los. E no artigo Da expressividade do abstratoDufrenne coloca-se, como espectador, diante da pinturafigurativa e da pintura abstrata para, num segundo tem-po, revelar-se um crtico exmio ao esclarecer e julgara pintura de Lapoujade. Nesse artigo no passa des-percebido ao crtico o engajamento do artista na pro-blemtica de nossa poca, como tambm no passa des-percebido ao leitor o entusiasmo de Dufrenne ao real-ar os aspectos humanos e sociais da exposio de La-poujade.

    Como todas as coletneas que renem estudos efe-tuados em momentos diversos, Esttica e Filosofia um livro desigual. Um juzo de valor no pode deixarde tomar em conta a diversidade de assuntos abordados,os motivos que suscitaram os artigos e o longo perodoque se estende de 1954 a 1967. No obstante a inevi-tvel desigualdade que transparece duma leitura atenta,cremos que possvel, com o auxlio desta introduo,ter uma viso de conjunto da obra de Dufrenne e doseu itinerrio esttico. Alm de servir como comple-mentao e aprofundamento aos temas bsicos da es-ttica de Dufrenne, Esttica e Filosofia um convite

    ~eitura e estudo das demais obras de um dos vultos maisImportantes da esttica contempornea. De fato o em-~re:nd.iment~ de Mikel Dufrenne ganha em for~ e con-sistencra se tivermos presente que sua esttica preencheuma lacuna da fenomenologia e afirma a possibilidadede uma esttica Ienomenolgica,

    ROBERTO FIGURELLI

    18 19

  • Reuni aqui, com o gentil consentimento das re-vistas nas quais apareceram, artigos cu]a redao serscalona por uma qunzena de anos. Deverei descul-l'lr-me ou, ao menos, dar uma explicao? Para o11111 r um modo de fazer uma reviso, de conseguir,It'/Iurana a respeito de si mesmo, mantendo sob o olharntonremos diferentes de sua pesquisa: feliz se, na falta'/1' um progresso certamente impossvel num domniofinde sempre se est no comeo, constata, ao menosrm seu pensamento, atravs dos diversos problemas queIIhorda, certa continuidade. Quanto ao leitor, talvez/'/t' observe que essa continuidade posta em questoI'do modo de escrever a palavra natureza, ora com,fi! I sem maiscula: sinal de que se elahorou progressi-\'(/I//(mle a idia de uma filosofia da Natureza. Mas

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  • se faz mister acrescentar que essa filosofia impe oduplo modo de escrever, segundo se nomeia a naturezanaturante ou a natureza naturada. Em todo caso esperoque o leitor seja sensvel diversidade dos probLemassuscitados nestes textos: tal tolerncia somente preten-de solicitar a reflexo e seu nico mrito reside na mul-tiplicidade de vias TUlS quais se engaja.

    E necessrio tambm justificar o ttulo desta cole-tnea. O primeiro artigo a isso se dedica, querendodizer que a esttica s pode se realizar JU) interior deuma filosofia e tambm que a esttica uma via privi-legiada para a filosofia. Privilegiada para o autor, emtodo o caso; mas talvez o leitor esteja pronto a segui-Iapor um momento.

    23

    M.D.

    Prefcio

    A CONTRIBUIO DA ESTTICA FILOSOFIA

    I r. ~~tes de con~truir conceitos ou mquinas, enquan-li,

  • 25

    original, ela reconduz o pensamento e, talvez, a cons-cincia origem. Nisto consiste sua principal contri-buio filosofia.

    No se trata, porm, de remontar noite dos tem-

    Ipos: a esttica no a histria, e a pr-histria que ela

    I explora no a das sociedades sem histria mas, na

    fhistria, a das iniciativas que em todas as pocas edifi-

    I cam a cultura e descortinam uma histria. Sim. Cada,~ssas iniciativas - o olhar novo que um homemlana paisagem, o gesto novo que cria uma nova for-ma - se inscreve na cultura. A esttica, entretanto,dirige a ateno para o mbito que se situa aqum docultural. Em que que ela se empenha? Mais do queem apreender o natural, enquanto se ope e se liga aocultural, em apreender o fundamental: o prprio sen-tido da experincia esttica, ao mesmo tempo aquilo quea fundamenta e o que ela fundamenta. Para esta pes-quisa ser invocado o patrocnio de Kant: o que tornapossvel a experincia esttica sempre a questo cr-tica. a qual pode ser retomada se orientarmos a crticapara uma fenomenologia e, depois, para uma ontologia.Outro cuidado de Kant determinar o que essa expe-rincia torna possvel e de que modo garante a buscado verdadeiro e atesta a vocao moral do homem. Re-tomemos, portanto, livremente a Crtica do Iuizo,

    Mas antes de abordar o problema crtico, neces-srio descrever rapidamente a experincia esttica. Oprimeiro problema colocado por essa descrio j in-

    Itegra a esttica na filosofia: o que o hom;m-?illl!.@ntosensvel ao~b 10 isto , enquan o capaz-do apreciar abe eza segun o a normatividade do gosto, e de produ-zi-Ia segundo os poderes da imaginao? O belo umvalor entre outros e abre caminho aos outros. Mas oque um valor? No s o que procurado, aquiloque encontrado: o prprio de um bem d$-;um ohje-to que resgonde a algumas de nossas tendncias esatis-raz a gurnas de ffo-ssro- nec~~Cfs. "'"\: exigenclaaeva or est enraizd" na VI a eValor est enraizadoem certos objetos. Aquilo que vale absolutamente novale no absoluto, mas em relao a esse absoluto que um sujeito, quando ele se sente ou se quer satisfeito porum objeto, real ou imaginrio, que aplaca sua sede debebida, de justia ou de amor. H uma sede de belezano homem? necessrio dizer que sim, a no ser que

    se veja nisto uma necessidade artificial despertada ouem todo o caso? orientada pela cultura; mas semprea natureza que Inventa a cultura, mesmo que seja paranela se .negar. I7ssa sede no nem muito exigente,ne~ mu_Ito consciente (e isso explica que nossa civil i-zaao n~o. a ~enha sempre em muita considerao e ten-da. a privilegiar a funcionalidade, por exemplo, na ar-quitetura ~ n~ organizao, do ambiente de vida); elase .torna conscia quando esta satisfeita. Por quem? PorobJe~os que ofere~em aJ?t!nas sua presena, mas cujaplenitude se anuncia gloriosamente no sensvel. O belo esse valor que experimentado nas coisas bastandoque aparea, na _gratuidade exuberante da; imagens,quando a percep~o cessa de ser uma resposta prticaOoU quando a praxis cessa de ser utilitria. Se o homemna experincia esttica, no realiza necessariamente suavoca~.o, ~o menos manifesta melhor sua-condio: essaexpe~IencJa revela sua relao mais profunda e mais:strelta c~m o mundo. Se ele tem necessidade, do belo,e n medI em ue recis se sentir no mundo. Estarno mundo no ser uma coisa entre as coisas, sentir--se em casa en~re as, co.isas, mesmo as mais surpreen-dentes e as I1!-als terrveis, porque elas so expressivas.Or~,. um sentido se desenha na. prpria carne do objetoestet~co,. como o vento que aroma a savana; um signonos e felto~ O q~~l ~os remete a si mesmo: para signifi-car, o objeto ilimita-se n?m mundo singular, e essemundo e o qu~ ele nos da a sentir. Esse mundo quenos fala, nos dIZ.o mundo: no uma idia, um esquema~bs~~to, uma VIsta sem viso que viria se acrescentara visao, mas um ~s!ilo. que ,um mundo, o princpio deum mundo na evidncia sensvel. A superfcie do vis-v~l, o que "a duplica de uma reserva Invisvel" comod~z - etleau-Pon ~I ~ esse mundo do ql ela ~t gr-VIda e ue ~OnStItUl o seu sentido. Um sentido queressoa. ~o mais profundo do corpo, mas que no solicitasua atividade como fazem uma presa, um obstculo, umaferramenta ou mesmo um discurso, um sentido que so-~ent~ ,s~ d a sentir e cuja idealidade apenas algol~a~narIo., . pe modo que aJenomenologia da ~xpe-riencia estettca. e.nfrenta diretamente a questo funda-mental do sur81mento da representao na presena: do

    (I) LeAvisible et l'!nvisible, P. '37. (O Visvel e o Invisvel. Traduo

    em portugus pela Editora Perspectiva, Col. "Debates", 1971.)

    Paula Braga

    Paula Braga

  • nascimento do sentido. E no nos admiramos que Mer-leau-Ponty ten a meditado sobre a linguagem indiretada arte e sobre as vozes do silncio.

    O sentido s pode aparecer nessa expenencia setodas as potncias da conscincia nela j esto presen-tes. A percepo esttica a percepo aberta e felizque atesta essas potncias e solicita a reflexo sobreelas. Ao mesmo tempo, ela anuncia e prepara para aconscincia o seu futuro, fundamenta-o, como dizamosh pouco. Primeiro, o fato de o homem ser sensvel aoelo indica, con orme Kant, sua iptlilpr.a_a..morali-dade. O acordo livre das faculdades, que desperta emns um sentimento de prazer, se produz quando seuexerccio como que sublimado: o intelecto se superarumo razo quando os conceitos se ampliam em idiasestticas e quando a brancura do lrio se torna smboloda inocncia; e a imaginao se liberta do domnio dointelecto refletindo a forma do objeto e "se divertindona contemplao da figura'". O acordo situa-se, por-tanto, em um ponto de concentrao no supra-sensvel,que atesta a vocao do homem para a racionalidade e,no domnio prtico, para a moralidade. No ne~s-srio, para aceitar essa anlise, conceber o _supra-sens-ve como uma superaao ra ical dosensvel, ea mora-lidade como a su misso a"Uma iormPilr trnscen-ente a fado contedo. O que retemos de Kant , emprimeiro lugar, a idia de uma harmonia espontneae feliz das faculdades; a ex eri '~st c econci-lia-nos conosco mesmo: ao abrir-nos presena doobjeto, no renegamos nosso poder de conhecer, dei-xamo-nos penetrar por um sentido, sem dvida inde-terminado, mas insistente, que pode ser o smbolo deum predicado moral, como os cumes o so da purezaou as borrascas das paixes. f.lm disso, o belo noestimula como um estmulo qu uer, e e inspira, mo i-Ig~---_alma mtelra':e tfria disponvel, f: sobre essefundo que se desenham as figuras da moralidade, namedida em que requerem simultaneamente um engaja-mento total da pessoa e o poder de superar o real ru-mo a um irreal que pode ser um ideal.

    tambm para o verdadeiro que o homem se di-rige ~toa::::: ma. O ]uzo que visa - verdwe

    (2) Kant. Critique du Lugement , 16. (3) Potique de Ia r vere, p. 10.

    coloca em jogo eSSe acordo das faculdades, e o juzodeterminante s pode manifestar a autoridade do inte-lecto legislador porque o juzo que reflete manifesta,primeiro, a possibilidade de um acordo de todas asFaculdades. ~ erincia esttica rtanto, teste-munha uma aQtido ...Q. homem para a cincia. A cin-cia suscitada pela praxis e, sbretudo, pelos fracassosdessa praxis. ci cia, enquanto teoria, - cons-truo de conceitos e, depois, e mguinas ue produ--zem o jetQ1! a medica os concei!os - provm do pen-samento que juzo. Esse pensamento delirante en-quanto imagino exerce sua liberdade fora de todocontrole do intelecto, como no sonho; mas o delrio seabranda e se torna promessa de razo quando a imagemse carrega de sentido ou quando se torna, pela operaodo gnio, idia esttica. lndubiamente a poesia no cincia, mas a prepara, no s ao provocar o pensa-mento positivo por meio de obstculos epistemolgicos,mas ao exercer o intelecto em objetos ainda imagin-rios, E ela tambm a confirma: a verdade de uma teo-ria sem re se recomenda Ror sua e egancia, como se obe o ornecesse antia.a M.e_Id~ij). ,com fito,toda teoria, mesmo quando no ainda formalizada, j formal, e s materialmente verdadeira com a con-dio de se-Io formalmente, visto que as dedues queautoriza devem, em primeiro lugar, dar prova de validezsegundo critrios formais. Ora, a forma que se re-vela na experincia esttica; e mesmo a imaginao ma-terial, segundo Bachelard, a qualidade formal do ver-bo potico que a solicita, enquanto o sonhador de ma-trias "um sonhador de palavras'"; e, finalmente, amatria sempre informada. Contudo, algum dir quea forma lgica, que se presta necessidade lgica, notem nada em comum com a Gestalt que se recomendapor uma necessidade sensvel; a necessidade lgica su-pe a linguagem - um simbolismo lgico -, e noh linguagem em arte, s h linguagem em poesia. Domesmo modo, o formalismo esttico que regula umaprtica totalmente diferente do formalismo lgico queconstitui um objeto ideal. Certamente. Mas a formalgica, ainda que s exista para um pensamento capazde pureza e de rigor, tem certa "forma" que, sem sersensvel, apela para a sensibilidade: h nela como que

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  • um estilo ideal de encadeamento dos objetos ideais. E,por outro lado, a prtica artstica, se o formalismo dasnormas nela no exaure a inspirao, cria um objeto- real e no ideal - que "d o que pensar", e sagrada com essa condio, na falta da qual ele deixaindiferente ou s agradvel e vazio. Evidentementeesse pensamento no ainda o pensamento formal deum universo do discurso nem o pensamento positivodo universo cientfico; , antes, o sentimen ummundQ, de urri possvel do real. as as operaes que~stroem o possvel lgico como trama do real talvezse preparem nos atos da imaginao que se abre s fi-guras irreais do mundo ao apreender formas ricas desentido. Apreender essas qualidades formais que con-ferem a um monumento, a uma sonata ou a uma pai-sagem a virtude de se expandir sem limites num mundopossvel, imitar, na ordem do sentimento, o processoracional que construir formalismos lgicos para ex-plicar as aparncias. Poder-se-, assim, mostrar q~ea beleza a~la ara o sa...er: que as idias fun-,damentais de invarivel, de ordem, de lei, so su-geridas por certas propriedades dos objetos belos; etambm que a criao de certos objetos da plstica ouda msica requer atividades como contar, medir, orde-nar, onde a imaginao j esquematizante, e que imi-tam os processos da cincia. De ois, uando a opera-o da cincia tiver sido realizada, quando as aparnciastiverem SI Oesarma as e dominadas, o gosto das for--mas sensveis vir reanimar o sentimento insubstituveld.e uma-plenitude-do ser,e de nOssa familiaridade nativacOl!'LJ!le._

    Assim a experincia do belo convida a filosofia ameditar na unidade de sentido da palavra forma (outambm da palavra estrutura), isto , na relao entrea forma sensvel dada como Gestalt significante, pr-pria ao objeto esttico, e a forma racional elaboradapelos formalismos que, para compreend-lo, substituemao objeto real um objeto ideal. Em outras palavras,ela convida a meditar na unidade dessas duas atividades"complementares como contrrios bem feitos", diziaBachelard': a poesia e a cincia.

    (4) Psychanalyse du teu, p. J.O.

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    Ora, a mesma experincia talvez nos sugira queessa unidade no tem sua origem no logos humano,numa atividade constituinte, mas na prpria Natureza.Pois se pode dizer, contanto que se evite qualquer in-flexo teolgica, que ela sugere filosofia que v dotranscendental transcendncia, da fenomenologia ontologia. E ainda Kant quem nos ensina, que pri-vilegia a beleza natural e que, aps ter evidenciado, nojuzo esttico, o livre acordo das faculdades, considerao acordo contingente da Natureza com nossas faculda-des. Sim, a estti a contemporn a, to atenta a des-cobrir no artista a ativida e e um ego transcendental

    ~ anlogo quele que constri a cincia, ende qaecerY gue a Nature a-p,rmu a-beleza. Muitas vezes o artistadeve embrar ao esteta que ele inspirado pela Natu-

    lreza, quanto sua vocao e ao seu ato, e que eleexprime a Natureza mesmo-quando dela parece se apar-t~r: assim como(; abstr~tdl na operao do sab:r,VIsa ao real do qual~pro em, o abstrato, na produaoda arte, diz ainda um mundo que proposto ao artistapelo mundo. E, sobretudo, o artista provocado pelabeleza do mundo a produzir algo de belo onde a Natu-reza se exprime. Ora, pela beleza, a Natureza mani-festa sua complacncia em ateno a ns. Indubia-mente como lembra Kant, a finalidade implicada plojuzo esttico uma finalidade sem fim, subjetiva e for-ma cuja realidade reside "na finalidade interna da re-~ao e nossas faciildds su15jetivas"s. Mas resta quea Natureza se ajusta a ns: parece que imita a artecujas produes esto deliberadamente ordenadas paraa felicidade da percepo. Ser necessrio dizer queesse acordo apenas contingente? Sim, tanto que seconcebe a natureza s sob o aspecto crtico, como o di-verso emprico, essa matria-prima que o intelecto in-forma. Mas o fenmeno da beleza convida a re ensara idia diifureza. A Natureza capaz de bondade ,atraves do diverso emprico que nunca propriamentenatural porque sempre j leva a marca da mo e dointelecto humano, uma potncia escondida, Gaia, a Me,e tambm a esposa que c in esposo, nCiDo amatria deseja a forma, pois ela j se revela por for-mas ou por imagens, mas como o incQnscien~.-d.esjaa conscincia, como a noite eseja o dia. O homem s

    (5) Critique du Jugement, 58.

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  • o correla to dessa Natureza porque o seu produto,o filho; ela fala ao homem ao lhe prodigalizar imagensnas quais se revela, para que ele a diga; sua compla-cncia no nem fingida nem fortuita. Isso no sig-nifica, evidentemente, que ela seja premeditada: s ohomem pe fins, mas porque ele mesmo produzidocomo fim por uma fora que s nele se conhece. Assima arte responde a esse apelo da Natureza: e a ae;n=-me ao ex nmrr os muu_dos_dos quais est grvida.a arte celebra aNJu..r.za. - - - .

    Mas o sbio e o agente moral tambm respondema seu modo. Pois o mesmo apelo lhes dirigido, amesma inspirao lhes. dada: tambm a cincia, aoelaborar teorias ue e.gem~rtos ommlOs e ten em aoiiVi-gir numa figura do universo, iz, mas etromo o, -_ a ureza. EenecessrlO, e fto, que Na-tureza se preste a isto, que o cinbrio seja constanteem sua natureza e que os corpos simples no sejampor demais numerosos: a inteligibilidade do dado, aconvenincia quase miraculosa da verdade formal e daverdade material, se podem ser explicadas por umagnese recproca do a priori e do a posteriori, na Na-tur~za, ~ aspirao da Natureza luz, que t~vez te:-nham sua origem. E o mesmo vale d praxis tcniaque, longe e fazer, em sua-essncia,-violncia a-tureza, trava amizade com ela, conhece-a e a aperfei-

    o oa; e crii'Olanao-desnatura a Natureza, tambrii no;~ aliena necessariamente o homem. Enfim, a ao moralque procura realizar no mundo o conceito de liberdade,que trabalha na promoo, atravs das vicissitudes ter-rveis da histria, de uma Repblica dos fins, visa auma relao final da Natureza e do homem: a consti-tuio civil deve ser instaurada pelo homem conformesua prpria razo, mas no contra a Natureza; e sealgum progresso possvel, porque a Natureza quera cultura, no homem, e no mundo, como aquilo que adesenvolve. De modo que o supra-sensvel que tendea se realizar no jogo cego das foras sensveis talvezseja o desejo do infra-sensvel, da Natureza como fundo.

    Assim a experincia esttica pode ser descobertana partida de todas as rotas que a humanidade percor-re: ela abre o seu caminho cincia e ao. E claro por que: ela se situa na origem, naquele ponto

    30

    em que o homem, confundido inteiramente com as coi-sas, experimenta sua familiaridade com o mundo; a Na-~ureza se desvenda para ele, e ele pode ler as grandesImagens que ela lhe oferece. O porvir do lagos pre-para-se no encontro ant~ior lingl!agem onde o Na-tureza que f~la .. \.Natureza natu.ra~")..que Qrodu,z ohomem e o mspua ter acesso aonscincia. Com-pr~e.nd~-se, por~a.nto, que certas filosofias 'optem porprivilegiar a esttica: com isso remontam fonte e to-das as suas anlises nela se encontram orientadas e es-clarecidas.

    31

  • IPROBLEMAS FILOSFICOS

    DA ESTTICA

  • o BELO .Como nos referimos ao Belo? Essa alavra, que

    tem funo de adjetivo na linguagem cotidiana, torna- e~us antIvo na lingua em erudita.da.filosoa.ou da es-ttica: o jire 'lcaatOrna-se sujeito e ode, or sua vez,scr--redicado, como diriam s lgicos; assim, quandons dizemos "o Belo um conceito", ou "o Belo odenominador comum de todas as coisas belas". Oque significa, portanto, essa dualidadq de emprego?

    Consideremos, em primeiro lugar, o juzo em que() belo um atributo: "esta escultura bela". umjuzo de valor: reconhece a qualidade de certo objetoquando esse jeto apreendido segundo certa atitudeque a contemplao esttica. Se o modo de intencio-

    35

  • naJidade ou a atitude so diferentes, outros valores soinvocados; se se trata de agir, poder-se- dizer: "esteobjeto til"; de saber: "este objeto verdadeiro";de amar: "este objeto amvel". O juizo de valor es-tt~o, alis, pode ser emitido a. propsito e objetosque no parecem solicitar a atitude esttica; dir-se-,pC"exemplo, de um ato de coragem que belo, ou deum raciocnio lglco;-ou ate mesmo d umreliz acaso.Isso podera induzir-nos a pensar que a noo de bele-za bastante elstica; mas isso tambm significa quemuitas coisas podem se prestar, por algum fIanco, atitude esttica. Tambm acontece, de modo inverso.que nosso juzo se exprime timidamente num vocabul-rio menos categrico e que, em lugar de dizer que umobjeto belo, dizemos que bom, valioso, autntico,interessante etc.

    Mas sua rete!lo universalidade o ue espe-cifica, em o os os casos, o juzo de valor esttico.Observoui Kan e , de fato, o ponto de partida desua reflexo: quando emito determinado juizo, no possodeixar de reivifdir para ere1Jjetiviaae edeixar deensar gue dev~e por tod.Qs subscrito. Por certo,tambm posso pronunciar juzos sub'~s, em primei-ra pessoa, ao dizer, por exemp o, ' gosto desta obra" ou"prefiro isto quilo"; mas, nessas circuns ancra , tenhoconscincia de exprimir apenas meus gostos e, afinal,de julgar a partir de mim mesmo mais do que do objeto.Portanto, distingo claramente entre [uzo objetivo e ju-zo subjetivo; e talvez seja necessrio estar de m-f ouser ingenuo por excesso de sutileza para sustentar umrelativismo total e afirmar que todo juzo ,esttico irredutivelmente subjetivo.

    Contudo, esse relativismo, encorajado de bom gra-do pela histria e pela sociologia, pode ser primeiramen-te uma santa reao contra certo dogmatismo que pre-valeceu por muito tempo e ao qual nos conduz a subs-tantivao do adjetivo belo. Com efeito, se o juizo es-ttico aspira universalidade, ele tentado a justificaressa as irao recorrendo a um conceito que tambm universal: objeto belo aquele _que realiza e mani-festa o beJo. - Reconhece-se aqui o movimento platnico~nsamento que vai ser retomado, talvez com alte-raes, pelo racionalismo clssico.

    36

    Para Plato} realmenre, saber e sabedoria exigemq.ue o hom,em se liberte do mundo sensvel e deixe deviver no nvel do percebido para ter acesso s idiasd.onde ele r.etomar ao mundo. sensvel no qual se de~cide o destino de seus companheiros. E essas idiasprovavelmente, apenas miticamente so realidades nu~mundo inteligvel. Pois, por si mesmas, nada mais soque uma lu~ ~~ra aclarar o dado ou para inspirar a con-duta. As Idelas constituem os elementos de um dis-Curso lgico e no oossuem ser fora da contextura-dia,!etlc.a. que elas compem, como as palavras no tm sersignificante - a no ser abstratamente, nos dicionrios- fora da. fr_~se e .da totalidade da linguagem. Masentre essas idias CUjOser necessariamente indetermi-nvel, porque consiste em se abolir no sentido por elasengendrado, uma az.exeo: ~Be eza. Pois ela ti uruca que resplandece; e a a nica - diz Fedro- .que tem. c: p:ivilgio de poder ser aquilo que estmais em evidncia e cujo encanto o mais atraente"~nquanto as outra~ id~ias, "justia, sabedoria, no pos~s~em nenhuI?a luminosidade nas imagens deste mundo".f: verdade, ~to apenas significa gue o objeto belo nos.nvove e emociona mais Imediatamente do que qual-",uer out~o ?~jeto, por ue ele , ao mesmo tempo, sen-'Ivel, e slgmflcante: nessa experincia incomparvel o~ nsvel revela. em lugar de ocultar. CMas tentador~l1po~'que aquilo que nos arrebata nos transporta foradaq.U1,. nu~ outro mundo, e que o seu poder lhe vemda mutao da Beleza em sil

    1:: assim ue o cJassicismo se escuda no platonismop lr.a conceber uma esttica normativa, fundada sobre aIdia de que h, de fato, uma idia ou uma essncia do '~". Essa idia justific: ento, uma dupla normati-vidade, ~or um lado, confere autoridade ao juzo crJ11'0 exercido elas "academias", por outro lado, esta-bclece uma concepo didtica da arte que se exprimeIIIS "artes poticas". Assim a idia do Belo no con-rva sua transcendncia: ela se concretiza e se especi-

    ri 'U em modelos determinados, dos quais os cnones darquitetura ou a regra das trs unidades figuram entre

    ti mais clebres. Esses modelos impem-se tanto aor ti o que julga as obras em seu nome, quanto ao ar-

    ti til que deve criar conforme eles, assim como o de-

    37-,

  • miurgo do Timeu cria o mundo contemplando as idias,Os julgamentos proferidos pela Academia Real, no s-cul-XVI-I seriam um excelente exemplo do dogmatismes ontneo que assim se exerce na crtica e na peoa-gogia. ara prov-lo basta a seguinte pass~gem de ~mdiscurso de M. de Champaigne "contra o discurso felt?por M. Blanchard sobre o valor da cor": "Eu no sei,senhores, se podemos crer que pintor se deve prop.oroutro objeto a no ser a imitao da bela e perfeitanatureza. Dever propor-se algo de quimrico e de in-visvel? Consta, entretanto, que a mais bela qualidadedo pintor ser imitador da perfeita natureza, sendo im-possvel ao homem ir mais alm "1.

    Esse dogmatismo , no fundo, ,-expresso da r-tica e dos gostos estticos de uma po.ca mas no tem,disso conscincia e, por isso, ajJsolutiza uma Id-ia~o,belo que relativa. Justifica a promoo da idia a~absoluto dizendo que essa idia impo.....@.};leia natu~(e nov-propsta -pela cultura). Em primeiro lugar,.ela natureza das coisas: por isso~rtasffi'iSso invoca as a r..erfeio d~ lato_._Essa idia significa, emprimlro lu ar.,--inte.r.Rretada Ror um racionalismo--UC- ~";-1Lti 'Ia desconfia - que a criao de uma ob ela it",'r;r.&t revlSlvel e UC-a- a Ida e se eve acresceotar-'l ~sorte ou, como s vezes se diz, a fe iCidade. Mas se aidia for toma a com mais rigor, ser necessrio per-'untar quem inspira a criao: se for a idia do Belo,-nto no pode ser essa idia enquanto ela se referir a11111 sistema de preceitos ou receitas, pois a regra foral' no inspira. Mas poder-se- dizer que uma idia sejainspiradora? Sim, pois os homens vivem e morrem porld ias: pela liberdade ou pela justia; contanto que aprpria idia seja bela, isto capaz de seduzir, porqueda provm da natureza. necessrio, portanto, que1I idia do Belo deixe ~er idia, que no nos fale enHO nos estirriule como uma noo abstrata, mas ue('sI ja encarnada em objetos belos.

    i~(I) Citado por Lhte, De Ia Palette '~ritoire, p . .J~.

    3938

  • Plato, por este desvio, conduz-nos a Kant. Kant,com efeito, prope rirneirarnente uma teoria do juizo"esttico: com que direito posso julgar que uma coisa e a. O critrio aze que ela desperta em mim:prazer desinteressado, ligado s forma do objeto e(1,Como no aSsentimento, ao seu conted. O nela .portanto, quil que agrada. Mas Kant acrescenta: uni-versalmente, sem conceito. "Sem. conceito" quer dizerque nao a iaela o hera, isto , um modelo que possa

    ~ crientar meu juizo e servir de padro._O belo_ s se en-~:t:-contra em objetos sensyeis.. e s a sensi ilidad or:r'~-juiz. "P~ocurar um princpio do gosto que d, atravs~ de con~elto$ determmado:,. um. conceito un.iversal do,pV~':. gosto, e um trabalho estril, VIsto que aquilo que se

    procura impossvel e contraditrio em si'": contradi-trio, porque o rincgio do juzo esttico o senti-mento do sujeite. e no o conceito de um objeto. Decerto modo, o objeto belo, aqui, apenas ocasio deprazer; a causa do prazer reside em mim, no acordo daimaginao com o ififlcto; isto , das

  • ou a obra de gnio que so belos, modelos-a mesmorernpo exemplares e inimitveis. Poder ege ajudar-n s a ir mais longe? Para dizer a verdade, ns j nos(IV nturamos em suas paragens. em Hegel ue sei: plicita a idia - apenas esboada por Kant - de11l11areconciliao ntre a natureza c o esprito. ,egel,~im duvida, se interessa antes de tudo pela arte. Eleno elabora como Kant, uma teoria do juzo estticomas ma teora da arte e do seu devir. Do seu devir,porque, com Hegel, uma nova idia conquistou direitod cidadania em filosofia: a idia de histria. Ficamossaben o que os semblantes do be o so mltiplos e suadiversidade irredutvel afravs do tempo. Mas isson nos deve conduzir a um relativismo ou a um ceti-cismo superficiais, pois o devir pensado por Hegel sobos auspcios da dialtica: obedece a uma necessidadelgica, gue o orienta e o racionaliza (a tal ponto quequase deixa de ser devir: um problema momentoso- que no ser por ns aqui abordado - saber emque medida a dialtica pode recuperar a histria e seo lgico no corre o risco de suprimir, de alguma forma,o cronolgico por ele suscitado e ilustrado).

    Mas se esse devir um devir lgico, , por acaso, ~um devir da idia? No. No h mais idia do BelO\~'-otem Hegol; ffi o belo a idiaffie

  • longe se afasta desta forma objetiva, a rejeita. reentraem si mesmo".

    Assim o belo a manifestao do "ideal"; o idealno a5strato, a idia presente e transparente no obje-to idealizado; sejam os humildes objetos cotiiaoos deuma natureza morta holandesa, seja o semblante de umamadona de Ratael. \ A arte no imita. Idealiza. Aarte exprime o universa no parflcu ar; "e a obra tantomais bela quanto seu contedo espiritual possui umaverdade mais profunda: se os chineses, os hindus, osegpcios no puderam se tornar mestres da verdadeirabeleza porque suas concepes mitolgicas, as idiascontidas em suas obras eram ainda indeterminadas oumal determinadas, em lugar de serem acabadas e ver-dadeiras". Essa , em Hegel, a conseqncia da intro-duo de u~rspectiva histrica: h graus do Belo,segundo a idia mais ou menos rica, ou encarnadacom mais ou menos felicidade. Hegel, ao menos, nocede tentao ao dogmatismo que aprova ou condenaabsolutamente em nome de certo modelo intemporal:admite um devir do belo mas condicionado ao devirda idia; a arte, dir-se-ia hoje, recebe seu movimentomais da cultura e da viso do mundo, do qual expres-s'o;-do que de st esrna, deumaexigncia intrnseca.---.Julga nossa poca o Belo de um modo diferente?Por certo, ela se acautela, mais do que nunca, contratodo dogmatismo: ela se esfora em fazer justia a to-dos os estilos reunidos no museu imaginrio, ela con-descende com a extraordinria renovao das formasplsticas e sonoras que tanto o gnio da inveno, quan-to o contacto com as artes dos selvagens suscitam nosartistas. Por causa disso deve ser ela interditada de jul-gar? Alguns pensam assim e, com o pretexto de repri-mir a expresso de preferncias subjetivas, se aplicamem dar uma acolhida igual a todas as obras sem jamaisescolher dentre elas: a palavra belo desaparece de seuvocabulrio. Atitude rl crita ou preguiosa. Em pri-meiro lugar, porque a arte no renunciou beleza. Asbuscas mais desconcertantes - aquelas que, s vezes,eScandalizam um gosto esclerosado pelos hbitos ou pre-conceitos - visam beleza. Ns s as podemos apre-ciar se tomarmos em conta' que elas obedecem lgicacriadora dessa busca do belo e da perptua exigncia

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    de renovao que ela comporta na medida em que oBelo se inventa mas no se imita. Em segundo lugar,porque, entre ns, se opera o discernimento de valorescom mais rigor do que nunca: h, no mundo, umaBolsa das obras pisticas c das. obras literrias quedomina o mercado da arte. Valores uramente econ-micos e totalmente provisrim, dir-se-: mas essa co-tao pesa sobre o destino' dos artistas e da arte toduramente quanto o gosto dos mecenas de outrora eela exprime, sua maneira, os gostos de certo blico.Ser necessrio, portanto, deixar que esse JUIzo prticotome o lugar de um juizo terico?

    No. Somente que esse juzo, se ainda reivindicaa universalidade, evita todo dogrnatismo. Ele no con-fronta o objeto com um cnone preestabelecido. Deixaobjeto realizar-se e julgar-se por si mesmo. Ter o

    gosto bem formado, a ateno assaz dcil, o espritomuito aberto - eis o que se requer do espectador -para fazer justia ao objeto que se prope sua per-cepo. Certamente, ele no ser jamais assaz pru-dente em seu juzo, visto que nunca est seguro de estarde bca f, de ser suficientemente cultivado e disponvel:ernpre possvel que, em conseqncia de um defeitode preparao ou de um excesso de preconceitos,. cjamos literalmente cegos ou surdes a certos objetos.m tal caso, a sabedoria exige ~e suspendamos nossojuizo porque serra um juz-o sem objeto: o obieto aindano existe para ns. Mas se no estamos perturbados,predispostos ou impacientes, ento a beleza se manifestapor si mesma e, simultaneamente, se denunciam os obje-t s falhos e inautnticos.

    Mas o que , ento, o Belo? No uma idia ouum modelo. uma qualidade presente em certos pbje-t - sempre singulares - que nos so dados per-.cp." - a pleni u e, expenmentada lmeaiatamentepela percepo do ser percebido (mesmo se essa per-.cpo requer longa aprendizagem e longa familiaridade. m o objeto). Perfeio do sensvel, antes de tudo,que se impe com uma espcie de necessidade e logode: encoraja qualquer idia de retoque .. Mas tambmimanncia total de um sentido ao sensvel, sem o queo objeto serIa IOslgni icante: agra ave, decorativo oudeleitve, uando uito-.-U bieto el ~.ala e eJe~6 De o se for verdadeira Mas o que me diz? Ele

    (~

  • no se dirige inteligncia, como o objeto conceitual -algoritr io lgico ou raciocnio -, nem vontade pr-tica como o objeto de uso - sinal ou ferramenta -,nem afetividade como o objeto agradvel ou amvel:primeiramente ele solicita a sensibilidade para arreba-t-Ia. E o sentido que ele prope tambm no podeser justificado nem por uma verificao lgica ne~ poruma verificao prtica; suficiente que ele seja ex-perimentado, como presente e urgente, pelo sentimento.Esse sentido a sugesto de um mundo. Um mundoque no p6e ser definido nem em termos de coisa,nem em termos de 'estado de alma, mas promessa deambos; e que s pode ser nomeado pelo nome do seuautor: o mundo de Mczart ou ae Czanne.

    ~ Esse mundo singular, entretanto, no subjetivo.fV~] autenticidade o critrio da veracidade esttica. a-I T rece ser o mundo como~atureza naturante, atravs do\.... autor da obra - quan o inspirado -, que nos faz

    sinal e nos d para decifrar um de seus semblantes.Cada mundo singular um possvel do mundo real. Eesse mundo real , tambm o mundo vivido pelos ho-mens. Sartre, prefaciando uma recente exposio depinturas de La oujade, cujo tema .era a tort~ra e ostumultos, escrevia que "a arte intima o artista parainstalar o reino humano em toda a sua verdade sobreas telas e a verdade desse reino, hoje, que a espciehumana abrange carrascos, seus cmplices e mrtires".Essa verdade, infelizmente, a mais urgente para ns,hoje, no plano tico e poltico. pa ser oportuno quea arte tam em a assuma. Mas l1 outra '9'erdades-iflcTusive a da compteira na obra de Czanne ou doscavalos na obra de Lapique - que podem ser ditassem traio pela arte e que podem, tambm, se ampli~rnas dimenses de um mundo. Pois, como Carnap dizda lgica, no h moral na arte: na?a de ~~sun~~, im-

    G li posto. A mca tarefa, e Sartre tamoem o dizia, e res-( tituir o mundo". E o mundo o inesgotvel: ele sempre\ excede aquilo que vivem - como sua principa~ soli-citude e principal tarefa - os homens de uma epoca.No se pode fazer justia ao Belo sem. lhe reconh,ec~ro direito de atualizar o no-atual, de dizer os possrveisvividos ou capazes de serem vividos dos quais o mundoest pleno, pois no se daria Natureza - e isso noartista mesmo - a parte que lhe corresponde.

    De resto, o posmvismo, mais do que o existen-iialismo, que pode contestar arte sua liberdade cria-d ra. Ele fem a liberdade para recusar os possveis queu arte prope: para rejeitar a poesia em favor da prosa,a pintura em favor da fotografia, a msica em favord s rudos; ele tem a liberdade para conhecer somenteum mundo de uma dimenso. Mas se dizemos. ue U1~al "c isa bela, atestamos a presena de um signo cuja vjVsignificao irredutvel ao conceito e que, entre rto,nos atrai e nos empenha, falando-nos de uma Ntirezaque nos fala. O gosto d ouvidos a essa voz: suficien-tc que ela o oua, qualquer que seja a mensa em, paraque julgue que c objeto esttico belo: pelo porquerealiza o seu destino, porque verdadeirarnefi e, segundo .,I!.modo de ser que convem a um objeto sensvel e sig-

    nificante. , ento, baseado num justo ttulo ue meujuzo aspira'T univerr~lllde, pois a universal~n-dica a bjertvid'n'le e_essa ooJ'tividde est asseguradapelo fato de seroQr2rio objeto que se julg em mimdesde qu~ se impe a mim com toda a for a de suapresena radiosa.

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  • OS VALORES ESTTICOS

    tfvf $''~

    berano, dando mais sabor ao festim. [ yalor d~us uese ~xp:nr~enta, .na consumao: mas a consumao,aqui, nao e est uca., ~~ser necessrio, para afirmar um valor mais

    autentico, colecar a 05ra ae arte fora do alcance noempreo, onde rema a beleza? Mas se a idia do belono co.nduzida pelo pensamento metafsico, que aeleva ao impensvel e a separa da esttica o cu me-tafsico corre o risco de ser um cu acadmico e o valorno mais se manifesta a no ser pela afirma'(; de nor-mas exteriores ao propor um modelo objetivo como fi-nalidade. Tal valor s serve para instituir um valorde permuta que medir e sancionar a diferena entreobra e modelo, a docilidade do artista s normas social-mente aprovadas. Mas os especuladores s jogam emvalores seguros; a histria no tarda em lhes ensinarque as normas tm o seu em o. averia, por acasouma histria se o artista lhes fosse constantemente d~cil e se, afinal, a obra no criasse suas prprias normas?

    b necessrio, portanto, retomar idia de um va-lor imanente obra e que""sej;- ro riamente esttico:em que condies pode s-lo? suficiente que a obraeja considerada propriamente como obra, isto , comoobjeto esttico e no como objeto til. Nem precisoacrescentar qualquer especificao idia de valor: ovalor sem re o valor de uso, mas tudo deRende -dognero do uso: o scio dos concertos no usa de Mo-zart como o convidado do arcebispo. Provavelmenteno necess~io, para obter essa converso da ateno,ue a obra seja arrancada de seu contexto cultural, em-

    17 ra isso, hoje em dia, acontea freqentemente com asartes antigas ou selvagens que enchem nossos museus:uma igreja pode ser bela sem prejuzo de sua funcio-nalidade, um retrato sem que seja esquecido o mo-delo. E talvez mesmo tenha sido necessrio que o ato.riador fosse inspirado por esse contexto para ter todasua densidade, toda sua veracidade. Alm disso. talvezs 'ja necessrio que esta cultura, de alzuma for~a nos, ""stcja presente tambm atravs da obra, contanto que a

    obra, aqui, seja a verdade da cultura e no a cultura1\ verdade da obr-. .or conseguinte, com a condio denosso olhar fixar a prpria obra e fru-la de modo desin-tercssado, isto , sem ser impulsionado por nenhum

    Como pode a arte revelar-se portadora e criadorade valores? E de que valores? O chefe de tribo queordena um fetihe, o prncipe que encomenda o seuretrato, o arcebispo de Salzburgo que solicita apetitemusique de nuit no pensam em termos de valor es-ttico: eles obedecem a ritos que dizem respeito sal-vao, glria ou prazer. A arte ainda no foi inventadaou, ao menos, eles no a reconheceram: eles no enco-mendam obras de arte, mas os instrumentos do cultoou da cerimnia cujo valor reside na eficcia; como aplvora ao explodir mas tambm como um monumentoao regular a cerimnia, assim a obra de arte se aboleao cumprir sua misso, honrando o ancestral ou o so-

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  • outro interesse seno o esttico, sem dela fazer nenhumoutro uso a no ser o esttico.

    A relao do valor ao uso no condena, em ne-nhum-caso --ovlor a ser subjetzo: O uso, ao contrrio,reVela a objetividade do valor, como certas proprieda-des pertencem ao objeto e se manifestam quando ex-perimentadas. . Mas somos ainda ~enta?os a acusar ?valor de subjetividade porque ele implica uma valori-zao: no h valor que no seja apre~iado, '~?:que no se confronte o objeto a um determina o cnteno,e, por acaso, a escolha do critrio no ~ma oecI._aosubjetiva? Mas o critrio pode ser escolhido precisa-mente por manifestar o ser ?o ?bjeto: p.ex"A a :o~ustezou o rendimento de uma maquina de preferncia a ele-gncia ou preo; o sabor de um ~rut~ de prefernciaao brilho. Por outro lado, a valonzaao pode ser em-pregada na compatao de objetOs para classific~l.os emfuno desse critrio, como os alunos so classificadosconforme as diversas disciplinas que lhes so ensinadas.Mas o valor relativo no o valor ~to: em terrae cego quem tem um olho rei. E a ~alorizaoverdadeira ou primeira aquela queJ a~ormente atoa comparao, reconhece o valor intrnseco _do _in:comparvel, o valor que no se mede, que na~ est~subordinado a um critrio exterior porque o objeto ea si mesmo, par''o juiz, o seu Prprio critrio, e requerser julgado em si mesmo, requer julgar, ele mesmo, asi: index sui. No , por acaso, l em cima que sefundam os juzos de comparao? Os pontos de refe-rncia mais firmes, numa escala de valores, so aquelesnos quais o valor parece se manifestar - presente ouausente - num objeto incomparvel e requerer o quechamamos uma valorizao verdadeira como fundamentode todo juzo e valor, na meuida em que esses juzosesteiam fundados.

    . Assim o valor ser, plenitude de ser: ser verda-deirarileil'te isto , segunuo sua verdade; e, sem dvida, "iicessrio qe" essa verdade seja reconhecida ou rea-lizada, que o fruto verdadeiramente saboros~ sederreta em degustao na boca do homem sequioso,ou que o ato verdadeiramente moral se proponha como

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    comovcnte e irrefutvel aos olhos -do moralista; mas osujeito apenas reconhece um valor que est no objetoe pelo qual o objeto se afirma e persevera em seu ser,sendo, precisamente, o seu ser a permisso de certo usoe. se quisermos, a proposta para certos fins. Mas eles pode responder a esta finalidade externa porque res-ponde a uma finalidade interna; ele s ode estar sub-metidc a nor as - da utilidade do deleite ou dVaoresttico - no caso de serem suas prprias normas.

    o valor ,9.Qkt de alorr~0=-:v'"'a710:':'r~n-:~0~'!':'n:::'a-dt;:a~d;-.::t::e:':::x:':'te-':rio.r.ao ob-jeto, o objeto mesmo enquanto responde ao sel!.S0n-celto e satisfaz sua vaca o. Mas qual a vocaoo o jeto esttico? Se dissermos que sua vocao agradar, alm de no ser verdade a respeito do sublime(e h, talvez sempre, algo de sublime no belo) exce-demo-nos: pois medimos o valor por aquilo que podeser o despotismo de uma subjetividade. lndubiamentea obra de arte existe para algum, mas ela s esperaser reconhecida - apreciada, se quisermos - mas nojulgada; a obra de arte espera a perce o ue lhe faajustia. Isso quer er que e a e, essencialmente, umo je o a ser percebido: ela encontra a plenitude doSeu sere princpio mesmo do seu valor na plenitudedo sensvel. Agradar no afagar a. sensualidade, ,principalmente, satisfazer a sensibilidade.

    as isto suficiente para suscitar o prazer est-tico e especificar o valor esttico? suficiente que aobra de arte oferea o semblante de uma necessidadesensvel e que esteja plena de um acordo perfeito? No.Pois no possvel que o sensvel no seja significante;no lhe basta ser soberanamente exaltado e ordenado, necessrio que ele assuma sua funo de linguageme que, nele, o splendor ordinis provenha de um sentido:sendo a diferena entre a linguagem da prosa e a dapoesia, precisamente, a imanncia do sentido ao signo ..O J?bjeto belo a uele ue realiza p.Qgeu do s.@-S\'el, -a -e1 aao otal do sensvel e do sentido e ue,'aSsim, Suscita o lIvre acordo-illi. sensibilidade e do in- Itlecto~ -- - I

    Mas, com isso definimos apenas a beleza, que a perfeio do objeto esttico enquanto esttico: valor

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  • geral ou, antes, canornco, cujo lugar, ao lado de cincooutros valores, se poderia justificar por uma espciede deduo tran.?-ce.!2dental: o til, o agradvel, o am-vel, o verdadeiro, o bem. Todos esses respondem amodos especficos da intencionalidade e o conjuntotalvez cubra o campo das relaes fundamentais doobjeto com o sujeito. Cada um desses valores, incom-parveis entre si, circunscreve um domnio prprio, or-denado para uma exigncia que diz respeito, ao mesmotempo, ao objeto e ao sujeito: nisso esses valores soformais. Mas o problema da criao dos valores est-ticos s se pe sob a conio-.fu: uralizar-o-valor.De fato, no podemos permanecer na idia de umvalor forma: o prprio objeto-=-- cada objeto desdeque seja belo - que valor e segundo o seu ser sin-gular. necessrio, portanto, para diferenar os valoresestticos, com o inconveniente de multiplic-Ias infini-tamente, passar do formal ao material e considerarmais de perto cada essncia singular, ou seja, retomar~o entido que cada objeto esttico prope.

    Esse sentido inseparvel do signo defin o estilo.JI ~ pois o estilo, longe de ser uma coletnea deecei as

    \

    ~icas impessoais e inexpressivas, define uma maneirade fazer como maneira de dizer. Mas o qUe dito?O que a sonata pode dizer e dizer to bem quanto umpoema, uma teia ou um monumento? No pode ser umsentido conceitualizvel ao qual a qualidade sensvel

    Qda linguagem seria indiferente: a mensagem do belo sem conceito. Aqui a linguagem remonta sua origem:

    ~ ela no um meio annimo, e transportvel para a co-municao, de um sentido que se poderia dizer de outramaneira, como se traduz a geometria euclidiana em geo-metria riemaniana, ou o falado em morse: a linguageminventa e carrega em si o seu sentido. Sentido implcitoconseqentemente ou, ao menos, todo envolvido no sen-svel, sentido nascente, claro e indistinto, irrefutvel e,contudo, sem prova: um pr-sentido, de certo modo.Visto que o sentido no comporta nenhuma determi-nao explcita, ele figura a possibilidade luminosa deuma multiplicidade indefinida de sentidos, o annciofeito ao intelecto por uma razo que ainda no seconhece como razo. por isso que o objeto estticono fala de uma coisa ilm sequer quando a representa:e~fl-a do- munao que uma idia da razo. A cadeira

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    de Van Gogh no me conta Ima histria de cadeiras,ela me .?fere~e o mundo de Van Gogh, mundo no qualas P,lIXOCStem um.a COr porque as cores so paixes,p~rque todas ~s c?lsa~ padecem a insuportvel necessi-dade de uma J,ustJa Impossvel. O objeto esttico Sig-

    nnifica -- :~e belo com a condi o de significar _C"',_"I."o do mundo Com a ,ubjovidado, uma di- ri'mens~o do mundo; ele nao me propoe uma verdade arespeito do mundo, e!e me descortina o mundo como ~!o~te de verdade. POIS o mundo no , para mim, um fobjeto de saber ante~ de ser um objeto de deslumbra- ~men.to e de rcconhecimenny, O objeto esttico tem ums:ntldo porque ele um sentido - sexto ou nono sen-tido - cuja aquisio logo me facultada, se eu mededico a e~s.e objeto,. e cuja especificidade propria-mente espiritual: pOIS a faculdade de ressentir oafe:I~~ e no o visvel,. o tctil ou o auditivo. O objeto~~etl:o resume e expnme numa qualidade afet;a mex-~f1ml~el a totali,:Iade sinttica do mundo: ele me fazco~preen~er o mundo ao compreend-Ia em si mesmoc >e_atrave~ de sua mediao que eu o reconheo antesd..s.E2nhece-lo e que eu nele me reencontro antes de meter encontrado.

    . Detenhamo-no, por um instante, pois, agora, es-tamos capacitado, para ~efinir os valores estticos nol~ral. ~~cusando fazer deles modelos exteriores ~oobjeto, d:z~amos: os valores so os objetos mesmos en-quanto sao _verdadeiramente aquilo que pretendem ser.e~quanto sao verdadeiros. Digamos agora: enquanto.~ao focos de verdade: E o que neles especifica o valorp en a?e gue revelam sob as espcies de uma quali-dade af~tl~a. Acaso pO,de ser chamado valor o grotes-c.a, o trgico ou o elegaco ou, antes, o matiz de sen-tImento. prprio a tal ou qual obra, a alegria de Bach,a serenidade de Matisse, a intensidade de Rernbrandr eaquela at~osfe.ra indefinvel cnde nos mergulham umn:osa,lco bizantino, uma mscara sudanesa ou um jar-dirn a Ia francesa? Por que dizer valor e no essncia?Porque a essncia nao designa sempre o essencial g oessencial agui no . explicitvel e reduzvel idia geral,mas deve ser sentido como se sente o perfume de uma

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  • flor ou de uma virtude; e tambm porque esse essencialaparece num domnio que est ordenado para um va-lor e sob a condio de adotar a atitude que esse valorsclicita. Contudo, para justificar esse termo, suficien-te renunciar a fazer do valor o mgo de uma ierarqui-zao. ndi.l5lamente o homem consagra boa parte de-Sua atividade a exprimir preferncias ou estabelecerclassificaes. E essas preferncias no so todas sub-jetivas pois o valor, considerado formalmente, Ihcsempresta autoridade: o belo ope-se ao feio e pa-rece estar sujeito a graus; pode-se discutir indefinida-mente sobre o mais ou menos belo. Mas o valor talvezseja, primeiramente, uma exigncia mais para a ao doque para o juizo; na medida em que formal, o valorapela para o ato que o realiza e tanto pior se esse atodestina a ao a uma dialtica que far, cem sua des-graa, a felicidade da reflexo. A afi aro delasignifica: age de modo que produzas obras que, longede serem malogradas, sejam obras verdadeiras e capa-zes de solicitar a contemplao) E im lica tambm umiml2erafvo p.ara o e~ eclli.S!..2!::age de ~fasjustia s coisas belas; s tu mesmo para deix-Ias serem ti e por ti mas, ao mesmo tempo, cala-te a fim dedeix-Ias falar. Ora, se o valor se nos manifesta comoexigncia - fazer ser o deixar ser - e porque o valorreside no ser do objeto e, singularmen e, naqUI o que-o infmma e lhe d um estilo: no sentido que anima,pelo qual ele o que e d provas do seu acabamento.O valor G objeto porque est no corao de. objetocorno seu princpio e seu fim. Criar valores ser criar~,9.hjetos. Criar valores estticos ser produzir obras no-vas carregadas de um novo sentido, iniciadoras de umnovo estilo, mensageiras de um novo mundo.

    Contudo, essa identificao entre valor e obra podeser posta em questo se se contesta que valor possaser criado. Qual , portanto, a parte do criador? Tal-vez seja necessrio, ao mesmo tempo, lhe conceder opoder e lhe recusar a iniciativa; pois o valor, com efeito,no simplesmente um sentido subjetivo, homo additusnaturae, produto. de uma inveno arbitrria; neces-srio que o valor seja expresso e essa expresso , real-mente, inveno; mas antes de o ser, ela preexiste dealgum modo como a essncia leibniziana que aspira

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    exis_tncia; o valor um possvel que espera sua real i-zaao, mas ue e, ele mesmo.cuma figura do real:-Issosera visto mais claramente ao aprofundarmos a anliseda objetividade prpria significao esttica.

    O valor ~ue o objeto esttico revela - e que elevale ao revelar - uma gualidade afetiva pela qualse desvela um mundo. Que mundo? Ns evocamos omun o de Van Gogh, como tambm o mundo de Mo-zart, de Michelangelo ou de Valry. Trata-se, portan-to, de um ser do mundo para um ser no mundo: nopara um.a subjetividade transcendental, e sim para umapessoa singular. nisso que a revelao esttica difereda . 'd~cia racional: to mundo sugerido pela idiaka~tJan _e u~ mundo Impessoal e objetivo como a pr-pna razao, e a promessa ou o voto de uma fflidadeifhgvel afinal conquistada pelo intelecto. O mundo~uge~ido pelo oBjeto. esttico a irradiaao de umqualidade afetiva, a exp-erincia urgeQ!.e.:e precria naqual o homem descobre num instante o sentido de seudestino, quando ele est totalmente engajado nessa pro-va. O artista est sempre presente em sua obra e tantomais presente, quanto mais discreto: ns reconhecemos~elhor sua voz quando ela profere uma palavra que noe a sua.

    Com efeito, se o ue a obra exprime .,o mundoem certa relao com uma pessoa - e poderemos al-gum dia nos libertar dessa correlao? - no recisocre~.--9.!1e a essoa.-5eja, a9..':!i, constituinte ou mesmo~nferprete do mundo. possvel que o tema da cons-tituio deva presidir a uma teoria do conhecimento aum~ teoria d.a arte: o tern'' da ins Ira o)Essa ae-naao do artista em sua obra preserva-nos de acreditarna sll~jet.i~idade do mundo esttico. O mundo que aobra significa tem, por certo, necessidade de uma cons-c!ncia para aparecer como tambm requer a conscin-era do espectador para ser reativado; pois s existeao aparecer luz ,natural de uma conscincia. por issoque podemos designar esse mundo pelo nome do artista,como as terras desconhecidas pelo nome do primeiroqu~ nelas desembarca. O artista o viajante feliz que,apos ter longamente navegado sobre as guas da dvi-da, nas trevas do esforo, pode, enfim, bradar: terra! A

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  • obra est pronta! Por que pronta? Porque se diz algu-ma coisa que no podia se dizer de outro modo.

    Porque o mundo foi dito. Sim, o mundo, eternapersonagem em busc~ de autor, que. solicita e sustentao artista em seu paciente empreendimento. Quando oautor revela um mundo atravs da obra, o mundo quese reve a 2tria de toda verdade. Quer dizer que omundo a soma de todos Os mundos singulares pro-postos pela arte? No a som~, mas a ~onte. Como ouniverso se reflete em cada manada, assim o mundo sereflete no~spel~os mundos estticos. ~a~ a verd~deno um jogo de espelhos, o a arecer nao e o ser, e oaparecer do ser: so semblantes do ~undo que apare-cem nesses espelhos como tantos possiveis autenticadospelo real. O possvel aqui - ? imaginrio - atesta afora silenciosa do real, a potencJa do mundo.~

    V-se aqui o destino da subjetividade. Estar nomunde azer )2arte do mundo. O mundo no mundo"S"eTh mim maseu e eu no sou o outro do mundo; euexisto no interior da correlao da qual sou um dos ter-mos: s h mundo para mim, mas eu no sou .0 !:'undo;o que parecia nascer de mim me faz nascer, aldeia kan-tiana retoma natureza, natura naturans; entretanto,eu continuo sendc sua testemunha indispensvel e ,for-mal. Mas o meu testemunho diz respeito ao possvel:esse mundo que meu ,- o mundo de Van Gogh .oude Mozart como tambm o mundo do vero opres~lvoou da leve primavera, o mundo do abandono ou da mo-cncia - um mundo possvel, e a poss~vel t~stemunhaem favor do real: o possvel que eu projeto e uma ver-dade do real que me conduz e me justifica.

    Tal tambm - e nosso propsito - o destinodo artista, subjetividade por excelncia.. po?emos, ago-ra tentar me ir sua criatividade. Cnar e um modoeminente de realizar o destino da subjetividade: sernecessrio ao mundo sendo necessitado por ele. ~sseapelo, que o artista ouviu - na .inquietude ou na mo-cncia, pouco importa - o mundo que o profere.Talvez o artista no o saiba: o mundo assume a voz daobra esboada, desse possvel irritante e fascinante queexige seu acabamento. Mas o mundo que fala: ele

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    , precisamente, essa potncia do possvel interior aoreal. Ele , em primeiro lugar, essa promoo do por-vir, pcrque ele o tempo. por isso que o artista'qtI o ouve chamado a criar duas vezes: criar umaobra e uma obra que seja nova; pois o tempo recusa arepetio: quem e assu me no pode refazer o que foifeito; era necessrio que Giotto renunciasse a Masaccio,El Greco a Tintoretto ; a nica fidelidade que devemosa um mestre aprender dele a tornarmo-nos ns mes-mos; a uma tradio, ser revolucionrios:. viver umadurao criadora. Mas o tempo que o mundo otempo do mundo; ele a realidade do real. Que real?Todas as coisas: o cu por cima do telhado, a palmeirasobre o fundo do deserto, o sorriso da amante. O mun-de no est escondido em alguma parte: ele est a,infinito sem cessar anunciado no finito, coisa em sicintilante em cada aparncia, saber presente em cadasonho. por isso que Espinoza contempla uma moscasingular, Van Gogh pinta uma cadeira e Ravel um jar-dim s?b a chuva; mas os mo~tros imaginados por Goya /tambm so do mundo, e os deuses da epopeia, desde-que a arte os fixou, porque o imaginrio uma ima-?;!Sgem possvel, refletida na conscincia esttica, desse nreal cuja significao inesgotvel. ' ?

    Talvez artist no seja sensvel a essa necessi-dade que o m n o tem dele para Se verificar; ento elemesmo se procura, p ocura seu estilo sem saber queele mesmo procurado; cr realizar-se enguanto rea-liza o mundo. Mas preciso, com efeito, que ele serealize: criar , antes de tudo, criar em si - ou deixarser - um rgo assaz sensvel para experimentar edizer um novo semblante do mundo; s os generososso suficientemente ricos para acolher e neles deixardesabrochar esse semblante. O artista, ao se procurar,procura a uilo ue pode encontrar o mundo: toda Qb-ra subj~Qara ser objet~v~ visto ser esta sua maneirade ser veraz.

    Mas necessrio, ainda, criar a obra na qual ovalor se deponha e o mundo revele um dos seus senti-dos sob a forma de uma qualidade afetiva. Ora, o pr-prio da arte - ns o assinalamos suficientemente - que o sentido nela est totalmente enga jado no sensvel;e o sensvel, longe de se enfraquecer e apagar ao entre-

  • gar o sentido, exalta-se e brilha. O artista, portanto,trabalha para a epifania do sensvel e no para o ad-vento do valor: entretanto, o sentido que o dirige dadopor acrscimo. Arteso, em primeiro lugar, como Alaino repete: um estilo e uma tcnica perpassados por umsentido, eis que ele inventa ao se engalfinhar com amatria. A inveno da espiritualidade gtica foi, pri-meiramente, a inveno de uma nova tcnica de andai-me; a inveno do mundo de Bach, a assinalao dagama moderada. Estaramos, com isso, sendo injustospara com gnio do inventor? Absolutamente . .1a~aque a inveno tcnica tenha propriedade de um estilo "necessrio ~e o rocessc: ~par~a como ~ obra ~ aexpresso de uma personalidade capaz, me~o se. elao-ignora, e entrar em uma nova relao com o mundo,de apreender-e fixar um novo aspecto real. No inventarnvlor quem quere no basta querer; mas o querere o agir s podem se referir ao objeto e no ao sujeito, matria e no ao sentido. O artista no quer inventarum valor, ele quer fazer uma obra. Como o sentido,na obra de arte, est totalmente imanente ao sensvel,a'SSim a .nveno do sentid, .-no artista, totalmenteimanente . manipulao dg sensvel, a esgiritulidadeotalmente imanente tecnicidade. Visto que jamaish possibilidade para .desquaflfcr a tecni,ci~~de: ofazer no somente a prova do pensar, e ja certamaneira de pensar e de viver conforme o pensamento.O trabalho do artista como o do sbio moderno numoutro plano, reconcilia ao e contemplao. ~zquem pensa com as mos..:- Talvez n haja tambm possibilidade para su-perestimar o artista. Um estilo ode ser coletiv~:. aarquitetura romana, os pftrrr lVOSflamengc:s,. a musl.cafrancesa do sculo XVII criam valores anornmos, am-da que claramente reconhecveis, e compete aos peritos,quando eles o conseguem, o cuidado de promover pro-cessos de paternidade que interessam histria das ~r-tes mas no histria dos valores. E, portanto, o estiloque manifesta o valor, mas no necessrio que sejao estilo de um indivduo. Ou, antes, suficiente que oindivduo tenha assumido esse estilo e tenha preferidoestar em sua obra a estar em sua biografia; que ele setenha feito, sem o saber, o instrumento do valor fazen-

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    do-se inzenuamente o herdeiro de uma tradio e, tal-vez' - :u penso no homem gtico, no escultor dogo,no mosasta bizantino - o campeo de uma f.

    E isso, enfim, nos sugere que o espectador tam-bm 'necessrio para o advento dos valores estticos:--ele-quem epaTa o esttico do reli!iioso, do mgicou o u !TiafIO, quem apreende o va or em sua urezae ue, no ~l'igInno, compeo co...mossempreinacaba o. O espectadrti13m tem uma tarefa: oape o que da obra a ser feita se eleva ao artista, ele-va-se da obra feita ao espectador: pois essa obra tam-bm quer ser percebida e que, na glria do sensvel,pelo ato comum daquele que sente e do sentido, brilheo valor esttico. Assim o espectador colabora com oadvento do valor no porque o cria, mas porque sem-pre pode lhe recusar audincia; todavia, sabemos, mu!tobem o que o pblico d obra pela fora da admirao.

    Atravs disso se entrev o estatuto dos valores es-tticos. Estatuto du lamente precrio porque ds valo-~'restm, ao mesmo tempo, de ser. ~ri~dos p~~o trabl~o "i jartstico e reativados pela expenencia esttica do es- t~,~pectador. Eles tm a preca~edade daqu!lo 5ue se~tido ~e contudo no so nem vaos nem arbitrrios, POIS os .v~lores exprimem o mundo, do qual vislumbram os sem-blantes possveis sob qualidades afetivas; mas. o nlu_~dos mundo em relao a uma subjetividade que ele'iiipreende e que a compreende: parodiando uma' c-- ebre frmula de Kant sobre o tempo, diramos: euestou no mundo e o mundo est em mim. O valor es-ttico atesta essa reciprocidade paradoxal: criado pelainiciativa da fantasia e, contudo, imperioso; contingen-te e, contudo, necessrio; submetido percep~o e, con-tudo, irrefutvel; imaginrio e, contudo, verdico. Mastalvez seja esse o carter de todo valor: se o homem o ser das distncias, o valor o ser de nenhures e,contudo, presente e ativo em toda a parte; pois o valorno exprime nem o ser do homem nem o ser do mundo,mas o liame irrompvel do homem e do mundo, segundoo qual o homem cria ao se criar porque criado:, le-vando o mundo e, no entanto, a ele consagrado ate sealienar na ex erincia esttica.~~~-----~-------------

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