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Bertha de Borja Reis do Valle (coord.) / Ana Maria Alexandre Leite Eliane Ribeiro Andrade/ Eloiza da Silva Gomes de Oliveira José Luiz Cordeiro Antunes / Maria Fernanda Rezende Nunes Maria Inês do Rego Monteiro Bomfim / Marly de Abreu Costa Osmar Fávero / Suely Pereira da Silva Rosa 2009 POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

7 organização e funcionamento da educação no brasil

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  • 1. Bertha de Borja Reis do Valle (coord.) / Ana Maria Alexandre Leite Eliane Ribeiro Andrade/ Eloiza da Silva Gomes de Oliveira Jos Luiz Cordeiro Antunes / Maria Fernanda Rezende Nunes Maria Ins do Rego Monteiro Bomfim / Marly de Abreu Costa Osmar Fvero / Suely Pereira da Silva Rosa 2009 POLTICAS PBLICAS EM EDUCAO Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br

2. 2003-2009 IESDE Brasil S.A. proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autoriza- o por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: Steve Woods IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel Curitiba PR 0800 708 88 88 www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. V181 Valle, Bertha de Borja Reis do (coord.) ; Leite,Ana MariaAlexandre; Andrade,ElianeRibeiro.etal./PolticasPblicasemEducao/ Bertha de Borja Reis do Valle; Ana Maria Alexandre Leite; Eliane Ribeiro Andrade. et al. Curitiba: IESDE Brasil S.A. 2009. 296 p. ISBN: 978-85-387-0136-1 1. Ensino Fundamental. 2. Polticas pblicas. 3. Administrao da Educao. 4. Avaliao Institucional. 5. Perspectivas Educa- cionais. I. Ttulo. CDD 379 Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 3. Bertha de Borja Reis doValle Ana Maria Alexandre Leite (Ana Leite) Doutora em Educao pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Educao pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Ja- neiro (UERJ). Professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e professora titular da Faculdade de Filosofia Santa Doroteia. Experincia na rea de Educao, com nfase em Planejamento e Avaliao Educacional atuando princi- palmente em Formao de Professores, Polticas Pblicas, Planejamento e Gesto da Educao. Mestrado em Educao Brasileira. Possui graduao em Psicologia, licen- ciatura em Psicologia e Psicloga na Universidade Gama Filho (1986). Atualmen- te atua na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro no Convnio Unirio- Projovem. Diretora Pedaggica do GESTAR (Grupo de Estudos e Ao Racial de Nova Iguau e Maric).Tem experincia na rea de Educao com nfase em Edu- cao Inclusiva e desenvolve pesquisas nas reas de Juventude, Relaes Raciais na Escola. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 4. Cursa o Doutorado na Universidad Nacional de Buenos Aires, na Argentina. Mestre em Educao pela UERJ (1991). Possui graduao em Pedagogia pela Uni- versidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ-1985). Atuou nos diferentes nveis/ etapas/modalidades da Educao Bsica. professor Assistente da Universidade Federal Fluminense (UFF). Jos Luiz Cordeiro Antunes Doutora em Educao pela Universidade Federal Fluminense (UFF-2004). Mestre em Educao pelo Instituto de Estudos Avanados em Educao-IESAE, da Fundao Getlio Vargas (FGV-1993) e Ps-Graduao em Avaliao de Progra- mas Sociais e Educativos pelo International Development Research Center (1985) e Instituto Interamericano de Cooperao para a Agricultura. Possui graduao em Cincias Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-1978) e em Comunicao Social pela Universidade Estcio de S (UNESA-1980). Atualmente professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professora do Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Tcnica em Assuntos Educacionais. Tem experincia na rea da Educao, atuando principalmente nos seguintes temas: Educao de Jovens e Adultos, juventude e polticas pblicas. Eliane Ribeiro Andrade Doutora em Educao pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora adjunta, coordenadora do Laboratrio de Estudos da Aprendizagem Humana (LEAH) e do Curso de Pedagogia a distncia da Faculdade de Educao da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atua na rea de Psicologia, com nfase em Aprendizagem e Desempenho Acadmicos. Eloiza da Silva Gomes de Oliveira Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 5. Doutora em Educao pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-2005). Mestre em Educao pela Universidade do Estado do Rio de Ja- neiro (UERJ-1995). Possui graduao em Psicologia pela Pontifcia Universi- dade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Atualmente tcnica em Assuntos Educacionais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Professora do Programa de Ps-Graduao em Educao da UNIRIO. Profes- sora adjunta da PUC-Rio. Tem experincia na rea de Educao, com nfase em Educao Pr-Escolar, atuando principalmente em Educao Infantil, Alfabe- tizao e Currculo. Maria Fernanda Rezende Nunes Cursa Doutorado em Educao na Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre em Educao pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-2002). Possui Licenciatura em Pedagogia, pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Atualmente, pesquisadora da Fundao Oswaldo Cruz. Tem experincia na rea de Educao, com nfase em Ensino Mdio e em Educao Profissional, atuando principalmente nos seguintes temas: Formao Docente, Ensino Mdio e Polticas Pblicas. Maria Ins do Rego Monteiro Bomfim Marly de Abreu Costa Doutora em Educao pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ- 1995). Mestre em Educao pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ- 1985). Possui graduao em Pedagogia pela UERJ (1965). Atualmente professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Tem experincia na rea de Educao, com nfase em Avaliao Educacional, de Instituies, Sistemas e Programas Educacionais, atuando principalmente nos seguintes temas: Avaliao, Formao de Professores, Avaliao da Aprendizagem e Ensino Fundamental. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 6. Osmar Fvero Doutorado em Filosofia da Educao pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP-1984). Mestrado em Educao pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Possui graduao em Matemtica pela Uni- versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-1970). Atualmente professor titular (aposentado) da Universidade Federal Fluminense (UFF), vinculado como profes- sor permanente especial ao Programa de Ps-Graduao em Educao. Tem ex- perincia na rea de Educao, atuando principalmente em Educao de Jovens e Adultos e Educao Popular. Suely Pereira da Silva Rosa Especialista em Superviso Educacional e Educao. Graduada em Pe- dagogia com habilitao em Superviso Educacional e Administrao Escolar. Professora de Lngua Portuguesa e Literatura Portuguesa e Brasileira. Autora de textos e livros sobre Educao. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 7. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 8. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 9. Sumrio Cincia poltica e polticas pblicas de Educao: aspectos histricos........................................17 Cincia poltica: evoluo do conceito............................................................................... 17 Contexto mundial no final do sculo XX e o incio do novo milnio...................... 19 Contexto poltico brasileiro ................................................................................................... 22 Contexto nacional da Educao nas dcadas de 1980 e 1990.................................. 23 A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional............................................... 25 Condicionantes sociais e polticas da Educao............33 Conquista da cidadania plena............................................................................................... 33 Democracia como ideal poltico........................................................................................... 37 Governabilidade e globalizao........................................................................................... 38 Formao de professores e as polticas de Educao................................................... 41 Enfoque das polticas pblicas recentes em Educao.............................................................49 A Educao Bsica...................................................................................................................... 51 A Formao Profissional........................................................................................................... 55 O Ensino Superior....................................................................................................................... 58 Concluindo................................................................................................................................... 59 Concepo da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional Lei 9.394/96....................67 Recordando a histria............................................................................................................... 67 Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 10. Frum Nacional de Educao em Defesa da Escola Pblica na LDB....................... 68 Continuando a histria............................................................................................................. 69 Frum Nacional de Educao/Conselho Nacional de Educao.............................. 73 Concluindo................................................................................................................................... 74 Modificaes introduzidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional Lei 9.394/96.................83 O que modificou?....................................................................................................................... 84 Impasses e polticas atuais...................................................................................................... 87 Finalizando nossa conversa.................................................................................................... 90 Organizao e funcionamento da Educao Bsica........99 Um pouco de histria.............................................................................................................100 A concepo de Educao Bsica.......................................................................................102 A organizao curricular da Educao Bsica: a discusso da formao bsica comum/formao comum/base nacional comum .............104 Os Parmetros Curriculares da Educao Bsica..........115 Como surgem os Parmetros Curriculares Nacionais?...............................................117 Impasses e polticas atuais em relao Educao......127 Primeiro grande desafio para os educadores: o PNE Plano Nacional de Educao, o PEE Plano Estadual de Educao e o PME Plano Municipal de Educao que queremos...........................................129 Segundo grande desafio para os educadores: discutindo a gesto democrtica.......................................................................................134 Terceiro grande desafio para os educadores: o financiamento da Educao.............................................................................................136 Quarto grande desafio para os educadores: construindo uma poltica global de valorizao dos trabalhadores(as) em Educao (professores, funcionrios tcnicos-administrativos)......................138 Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 11. Perspectiva educacional de incluso...............................147 Educao Especial....................................................................................................................151 Educao Bsica de Jovens e Adultos..............................163 Educao de Jovens e Adultos no Brasil de hoje..........................................................163 As diretrizes curriculares........................................................................................................166 Os fruns e os encontros nacionais de Educao de Jovens e Adultos................167 Algumas experincias em EJA.............................................................................................168 As relaes polticas nacionais/polticas locais.............................................................172 Descontinuidade e falta de integrao das polticas pblicas................................175 Desafios da Educao Infantil.............................................183 Neoliberalismo: uma pausa para a histria.....................................................................183 Educao Infantil e a legislao: letra morta..................................................................188 O MEC e a Educao Infantil: confrontando a realidade............................................191 Educao Infantil: implicaes na prtica.......................................................................192 Ensino Mdio: a ltima etapa da Educao Bsica.....201 O Ensino Mdio na LDB..........................................................................................................203 A responsabilidade pela oferta de Ensino Mdio.........................................................204 A autonomia das escolas: preciso ousar.......................................................................204 A organizao curricular do Ensino Mdio: os avanos possveis..........................206 A preparao geral para o trabalho no Ensino Mdio: possibilidades.................208 Educao Profissional: o desafio de formar trabalhadores....................................221 A Educao Profissional e a formao baseada em competncias........................222 A LDB e a legislao de Educao Profissional..............................................................224 Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 12. A avaliao institucional no Brasil.....................................235 Um pouco da histria da avaliao institucional..........................................................236 Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica (Saeb) e Prova Brasil...........240 Exame Nacional do Ensino Mdio (Enem)......................................................................241 Exame Nacional de Cursos (Provo)..................................................................................243 Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior (Sinaes)..............................244 Perspectivas futuras das polticas pblicas....................253 .. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 13. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 14. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 15. Apresentao Neste livro de Polticas Pblicas em Educao voc ter a oportunidade de refletir e de trocar ideias com seus colegas sobre a questo poltica da Educao em nosso pas. Nas duas aulas iniciais, voc poder fazer uma anlise do conceito de cin- cia poltica e do que entendemos por polticas pblicas, alm de refletir sobre os condicionantes sociais e polticas da Educao. As aulas seguintes abordam enfoques recentes das polticas pblicas, a concepo da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (Lei 9.394/96) e as modificaes introduzidas na Educao a partir de sua promulgao. Outros assuntos que voc ter oportunidade de estudar sero a organiza- o e o funcionamento da Educao Bsica em nosso pas, os Parmetros Curricu- lares Nacionais e os impasses e polticas atuais em relao Educao. As ltimas aulas procuraram enfocar as polticas dos diferentes nveis e modalidades da Educao Bsica, como a questo da Educao Inclusiva, da Edu- cao de Jovens e Adultos, os desafios da Educao Infantil, do Ensino Mdio e do Ensino Profissionalizante. Como ltimos assuntos de leitura e estudo, voc refletir sobre as pol- ticas de avaliao institucional no Brasil e as perspectivas futuras da educao brasileira. Este trabalho foi elaborado, sob a coordenao da Prof. Bertha do Valle, pelo grupo de pesquisadores da cidade do Rio de Janeiro os demais autores do livro, que vm, juntos, discutindo h vrios anos a Educao Bsica, em todos os seus nveis e modalidades, e o Ensino Superior no Brasil e participam de diversos fruns de debates em defesa da educao pblica e de qualidade para todos. Esperamos que estes textos colaborem para a sua melhor compreenso das polticas pblicas em nosso pas. Boa leitura! Bertha de Borja Reis do Valle Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 16. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 17. Jos Luiz Cordeiro Antunes Uma poltica nacional de Educao mais abrangente do que a legislao proposta para organizar a rea. Realiza-se tambm pelo planejamento educacional e financiamen- to de programas governamentais, em suas trs esferas, bem como por uma srie de aes no-governamentais que se propagam, com informalidade, pelos meios de comunicao. Realizase, para alm desses espaos, por meio da difuso de seu iderio pelas publica- es oficiais e oficiosas. A reforma do ano de 1990 tambm envolveu e comprometeu intelectuais em comisses de especialistas, anlises de parmetros curriculares, elabora- o de referenciais e pareceres [...] (SHIROMA et al., 2000, p. 87). Esta unidade tem por objetivo discutir como ficou organizada e como funciona a Educao Bsica no Brasil, a partir de um extenso corolrio de- senvolvido na metade da dcada de 1990 e que atravessa o sculo atual. Convm ressaltar que o programa de reformas educativas do governo fe- deral (principais polticas e aes), no se d de forma tranquila, no qual a resistncia dos movimentos sociais organizados e as negociaes poss- veis do concretude s propostas para o campo da Educao. No demais pontuar que tivemos e temos sempre na histria da or- ganizao social e poltica de nosso pas e, especificamente, para as ques- tes do campo da Educao escolar, projetos em disputa de grupos com interesses variados. no embate, tensionado permanentemente, que o campo da Educao vem se organizando. Para a construo de um outro projeto educativo e de uma nova socie- dade, em outras relaes, cabe, principalmente, aos trabalhadores (as) da Educao, dada a especificidade de sua funo, fazer a leitura e a neces- sria anlise do projeto pedaggico em curso (projeto neoliberal), de modo a, tomando por base as circunstncias concretas, participarem da organizao coletiva em busca da construo de alternativas que articu- lem a Educao aos demais processos de desenvolvimento e consolida- o de relaes sociais verdadeiramente democrticas. Organizao e funcionamento da Educao Bsica Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 18. 100 claro que isso passa, por um lado, pela formao inicial e continuada destes trabalhadores, por outro, pela prtica poltica e pedaggica nos locais de traba- lho, pois ser dessa forma que participaremos da construo da escola pblica de qualidade socialmente referenciada. Para isso, bom lembrar as diferentes normatizaes, polticas e aes coti- dianas dos diferentes sujeitos educativos da nossa histria.Trabalhar com dados histricos importante, pois, ao revisitarmos nosso passado, podemos compre- ender com propriedade o nosso presente para poder intervir e construir melhor o nosso futuro. Um pouco de histria Como nos lembra o Frum Nacional em Defesa da Escola Pblica, a hist- ria do Brasil tem sido uma histria de perdas, de excluses e de manuteno de [determinados] privilgios de minorias(PNE Plano Nacional de Educao / Proposta da Sociedade Brasileira, p. 71). Assim que a defesa e luta por uma Educao pblica, laica, popular, de- mocrtica e de qualidade socialmente referenciada no recente na histria da humanidade, tanto no plano internacional como no nacional. Entendida como direito de todos e dever do Estado, vem mobilizando muitos setores da socieda- de para a sua concretude. a partir das transformaes ocorridas nas relaes sociais e no mundo do trabalho que a questo educativa escolar vem sendo alvo das atenes de muitos e na atualidade diversos so os desafios postos para a sociedade como um todo, mas especialmente para os profissionais da Educao um dos sujei- tos concretos que constroem a escola. Os diagnsticos apresentados por diferentes setores/atores da sociedade re- gistram os grandes dficits e expressam a condio subalterna da Educao na sociedade brasileira. Estes dficits se ampliam devido s grandes reformas pro- postas na dcada de 1990, muitas delas patrocinadas/incentivadas pelas agn- cias internacionais e organismos multilaterais, tais como: o Banco Mundial (BID), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD), o Fundo Monetrio Inter- nacional (FMI), a Organizao Mundial do Comrcio (OMC) e a Comisso Eco- nmica para a Amrica Latina (CEPAL). Representando os interesses dos arau- tos do capital internacional e nacional, colocam a Educao como mercadoria com funo meramente econmica, ou seja, a formao de cidados produti- Polticas Pblicas em Educao Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 19. Organizao e funcionamento da Educao Bsica 101 vos, pois as novas bases materiais de produo trazem profundas implicaes para o campo educativo, uma vez que o estgio de desenvolvimento das foras produtivas gesta um projeto pedaggico que comporte as suas demandas de formao de intelectuais, tanto dirigentes quanto trabalhadores, fazendo com que ambos passem por um processo de escolarizao e consequentemente de formao com uma inteno explcita, ou seja, exige-se um novo trabalhador para responder s necessidades do capital. As reformas/modelos em todo continente americano foram/so implemen- tadas de modo autoritrio, tendo como eixos norteadores a privatizao, o indi- vidualismo, a produtividade. Esta concepo mercadolgica desresponsabiliza o Estado de sua funo provedora lema do Estado Mnimo1 , entretanto, fortalece a sua funo centralizadora e normatizadora. Deixa de fora a participao e o controle social. Percebe-se, dessa maneira, a posio neoliberal do governo da poca, ainda que no claramente assumida primeira gesto do presidente Fer- nando Henrique Cardoso FHC (GROSSI, 1999). Os caminhos da Educao hoje ainda esto pautados pelo modelo neoliberal. um modelo que privilegia o mercado e as necessidades do capital, no qual os sujeitos encontram-se aprisionados e reproduzem as relaes sociais e que dissemina valores como competitividade e individualidade, aligeiramento e ra- pidez na qualificao profissional, fragmentao, espaos diferenciados de for- mao, e uma formao voltada para as competncias e resolues de proble- mas que auxiliam no processo de excluso deflagrado em nossa sociedade. Entretanto, bom esclarecer que h um outro projeto gestado pelos diferen- tes setores da sociedade civil que se contrape aos interesses do capital. Este projeto gestado pelas prprias contradies oriundas do modelo econmico- -poltico adotado na atualidade. Isso implica dizer que h dois projetos ou mo- delos de construo de sociedade, de Educao, de escola, de formao de tra- balhadores (as), e por assim dizer de cidados. Neste projeto, a gesto se faz de forma coletiva, encontrando-se a servio dos trabalhadores, na qual valores como solidariedade, democracia, coletivida- de, liberdade, pluralismo de ideias, emancipao dos cidados e da cidadania, buscam ser concretizados. Assim, tambm a Educao/escola tida como direi- to do cidado, enfatizando a Educao Bsica, que no seu processo de constru- 1 Na Constituio de 1988, no seu art. 205 diz: a Educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e incentivada com a colaborao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio de cidadania e sua qualificao para o trabalho. J na LDB 9.394/96 h uma inverso, pois em seu art. 2 diz: a Educao, dever da famlia e do Estado, inspirada nos princpios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho. Percebe-se, assim, a posio neoliberal do governo da poca, ainda que no claramente assumida (a gesto do presidente Fernando Henrique Cardoso FHC). Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 20. 102 o ajuda na desconstruo/compreenso/interpretao da realidade em que esto imersos os diferentes sujeitos para a construo de uma sociedade mais justa, igualitria, fraterna e democrtica. A concepo de Educao Bsica O conceito de Educao Bsica comeou a ser formulado com o incio da construo do projeto da LDB na Cmara Federal (Projeto Jorge Hage) e com o debate desencadeado pelo processo constituinte nos anos 1980. A LDB 9.394/96 absorveu o conceito, que em verdade faz parte de um projeto poltico-educati- vo, na medida em que no um conceito isolado, mas parte de um projeto base- ado em uma outra concepo de Educao, construdo e discutido por inmeros intelectuais, e os movimentos sociais organizados, para a concretizao da for- mao de cidados crticos, emancipados, transformadores de sua realidade. O Projeto de LDB da Sociedade Civil, abortado no Congresso Nacional, face s injunes polticas realizadas pelo senador Darcy Ribeiro e o MEC e a extrema concordncia, dadas as diferentes e muitas emendas; trazia inicialmente como pressupostos a discusso do trabalho como princpio educativo, a concepo de formao politcnica e de escola unitria2 , que difere, em muito, da LDB aprova- da em 1996. Assim, ainda que encampada no art. 21 da LDB 9.394/96: a Educao escolar compe-se de: Educao Bsica, formada pela Educao Infantil, Ensino Funda- mental e Ensino Mdio; a primeira fragmentao/desarticulao que se percebe refere-se Educao para crianas de 0 a 6 anos (Educao Infantil = creche de 0 a 3 anos e pr-escola de 4 a 6 anos)3 e ao Ensino Mdio, na medida em que, para este nvel de ensino, fica demarcado a histrica dicotomia/dualidade estrutural entre Formao Geral, Ensino Tcnico e Educao Profissional (Decreto 2.208, de 17 de abril de 1997). A segunda fragmentao/desarticulao diz respeito s prprias modalida- des que aparecem, ora no corpo da lei, ora como disposies gerais ou tran- sitrias. Referimo-nos s modalidades de Educao de Jovens e Adultos (arts. 37 e 38), Educao Profissional (arts. 39 a 42), Educao Indgena (arts. 78 e 79), Educao a Distncia (arts. 80 e inciso III do art. 87), Educao da Populao Rural 2 NOGUEIRA Maria Alice. Educao, Saber e Produo em Marx e Engels. So Paulo: Cortez, 1990 e NOSELLA, Paolo. A Escola de Gramsci. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1992; sistematizam as discusses/propostas/concepo de Educao apresentadas por Marx, Engels e incorporado/refletido por Gramsci. 3 O parecer da ANPEd do Grupo de Trabalho Educao de 0 a 6 anos, sobre o documento Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil apresenta uma srie de crticas. Polticas Pblicas em Educao Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 21. Organizao e funcionamento da Educao Bsica 103 (art.28), Educao Especial (art. 58 a 60), e mais recentemente a Educao de afro-descendentes/afro-brasileiros(Lei10.639/03,de9/1/2003,queincluinocur- rculo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temticahistria ecultura afro-brasileira arts. 26 A, 79 A e 79 B); modalidades estas que atravessam toda a Educao Bsica, mas que por serem tratadas na LDB de forma compartimen- talizada, no so consideradas e no se reconhece a riqueza dos possveis proje- tos e processos em relao concepo de Educao Bsica; como tambm as diferenas encontradas nos sujeitos especficos presentes nas modalidades, haja vista a distncia em que so colocados os consideradosoutros. A terceira fragmentao que encontramos na Educao Bsica est em seu carter de integralidade, dado que no vem sendo tratado pelas iniciativas go- vernamentais, no que tange ao financiamento e incluso dentro dos respectivos sistemas de ensino (federal, estadual ou municipal). O que se percebe a ausn- cia de inverso pelo Estado, ainda que tenhamos alguns programas construdos por meio de parcerias e por diferentes rgos do poder executivo. Entretanto, verificamos o enorme controle do Estado Mnimo como rgo provedor, mas Estado Mximo quanto s medidas centralizadas e centralizadoras4 . Por exem- plo, em seu art. 4, somente o Ensino Fundamental obrigatrio e gratuito, in- cluindo aqueles que no tiveram acesso na idade prpria. No tocante ao Ensino Mdio, fala-se em progressiva extenso da obrigatoriedade e gratuidade. Sobre a Educao Infantil, pelo atendimento gratuito em creches e pr-escolas para as crianas de 0 a 6 anos de idade, no fica claro quem ser o responsvel. Em seu art. 11, no inciso V, a lei aponta que os Municpios incumbir-se-o de oferecer a Educao Infantil, tendo de priorizar o Ensino Fundamental e s sendo permitida a atuao em outros nveis aps o atendimento das necessidades de sua rea de competncia e se os recursos estiverem acima dos percentuais mni- mos vinculados pela Constituio Federal manuteno e desenvolvimento do ensino. Na lei ainda caracterizada a finalidade da Educao Infantil (art. 29), o oferecimento (art. 30), a avaliao (art. 31) e a integrao ao respectivo sistema de ensino (art. 89, das disposies transitrias). Entretanto, a Educao Infantil e o Ensino Mdio so os patinhos feios, que dependem sempre da vontade po- ltica do poder executivo e da compreenso que este possua em relao a estes nveis de ensino para o desenvolvimento integral do educando. Ainda para estes nveis de ensino que ficam de fora, em seu inciso IV do art. 9 demarca que, a Unio deve estabelecer, em colaborao com os Estados, o Distrito Federal e os 4 Destacamos aqui os Parmetros Curriculares Nacionais, as Diretrizes Curriculares Nacionais, os Referenciais Curriculares Nacionais, as intervenes de natureza avaliativas Saeb, Enem, ENCCEJA etc. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 22. 104 Municpios, competncias e diretrizes5 que nortearo os currculos e seus conte- dos mnimos6 , de modo a assegurar formao bsica comum. Como sinaliza o PNE Proposta da Sociedade Brasileira (2002, p. 101-102), [...]aspolticasdegestoefinanciamentodaEducao,assimcomoosprogramaseducacionais fragmentadoseseletivos,quenoconsideramaformaointegraldoindivduo,soexemplos claros desta desarticulao. Est ameaada, portanto, por fora das medidas governamentais, na concepo de Educao Bsica necessria para dar respostas dvida social com a populao brasileira e preparar o aluno [cidado] da escola pblica para as novas exigncias sociais, formando-o para a insero consciente no mundo do trabalho [na vida social e poltica do pas] e para o exerccio de cidadania. A organizao curricular da Educao Bsica: a discusso da formao bsica comum/forma- o comum/base nacional comum7 A LDB reconhece os diferentes espaos de formao humana. Em seu art. 1., a Educao abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida fami- liar, na convivncia humana, no trabalho, nas instituies de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizaes da sociedade civil e nas manifestaes culturais. Vrias so as passagens que, em uma primeira leitura, poderamos dizer o quanto ela inovadora: [...] podero organizar-se classes ou turmas, com alunos de sries distintas, com nveis equivalentes de adiantamento na matria, para o ensino de lnguas estrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares. (art. 24, IV) [...] aproveitamento de estudos concludos com xito. (art. 24, V,d) Os sistemas de ensino asseguraro gratuitamente aos jovens e aos adultos, que no puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as caractersticas do alunado, seus interesses, condies de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. ( 1. do art. 37) 5 Diretrizes Curriculares Nacionais so o conjunto de definies doutrinrias sobre princpios, fundamentos e procedimentos na Educao Bsica expressas pela Cmara de Educao Bsica do Conselho Nacional de Educao, que orientaro/orientam as escolas brasileiras do sistema de ensino, com determinada perspectiva, na organizao, na articulao, no desenvolvimento e na avaliao de suas propostas pedaggicas. 6 Pareceres e Resolues so criados para estes nveis de ensino: Educao Infantil Parecer CEB 022/98, de 17 de dezembro de 1998, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao Infantil, Parecer CEB 002/99, de 29 de janeiro de 1999, que institui o Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil; Ensino Fundamental Os Parmetros Curriculares Nacionais de 1. a 4. sries (1997) e 5. a 8. sries (1998), Parecer CEB 004/98, de 29 de janeiro de 1998, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e Resoluo CEB 002/1998, de 7 de abril de 1998, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental; Ensino Mdio Parecer CEB 015/98, de 1 de junho de 1998, que define Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio e Resoluo CEB 003/1998, de 26 de junho de 1998, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio. 7 Fizemos questo de apresentar os trs termos, pois so assim que esto expressos na LDB, em diferentes momentos e artigos, principalmente no que toca questo curricular. Em sua essncia apresentam o mesmo significado; ou seja, vinculam-se aos contedos mnimos necessrios forma- o em todo territrio nacional e a um conjunto de conhecimentos organizados na perspectiva hierarquizada e disciplinria. Polticas Pblicas em Educao Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 23. Organizao e funcionamento da Educao Bsica 105 O Poder Pblico viabilizar e estimular o acesso e a permanncia do trabalhador na escola, mediante aes integradas e complementares entre si. ( 2. do art. 37) O conhecimento adquirido na Educao profissional, inclusive no trabalho, poder ser objeto de avaliao, reconhecimento e certificao para prosseguimento ou concluso de estudos. (art. 41) Para esta primeira leitura apressada importante refletirmos. Como aborda Alves (1997), importante que pensemos sobre as mltiplas discusses sobre a diversidade cultural/diferenas culturais, a formao comum, por meio de uma base nacional comum e parte diversificada, a concepo do prprio processo de construo de conhecimento no movimento de formao humana, como as prprias possibilidades de organizaes diferenciadas de currculo. Segundo a autora, sobre as organizaes diferenciadas, [...] foram incorporadas de maneira variada e, algumas vezes, nada coerente. Ainda de maneira inicial, se pode afirmar que elas a esto presentes como realidades que no se pode ignorar mas para qual no se encontra uma soluo verdadeiramente diferente. Assim que na lei esto presentes: as comunidades indgenas, as opes religiosas; o ensino e a Educao, em suas variedades; as peculiaridades da vida rural e de cada regio etc. No entanto, falta coerncia em muitas medidas propostas. (ALVES, 1997, p. 5) importante, ento, chamarmos a ateno para a presente flexibilidade pro- posta nas organizaes diferenciadas do currculo, pois elas no esto desarti- culadas e no se desvinculam das relaes de poder e da necessidade que tem o poder poltico via seu projeto poltico-pedaggico de Educao, de continuar mascarando a realidade, e de tentar imprimir determinado processo de marca- gem nos sujeitos individuais e coletivos, em muitos dos casos, descaracterizando as propostas reais destes sujeitos, que so construdas coletivamente, resultado de processos variados e de identidades distintas. Assim, o processo de marcagem pode passar tanto pela destinao de verbas/ financiamento para os nveis e modalidades presentes na Educao Bsica como tambminculcandodeterminadosvalores,umtipodeformaoprofissionalaligei- rada para o mercado globalizado, trabalhando com a lgica do prprio mercado, restringindo toda a riqueza possvel na formao/construo do cidado pleno. A prpria proposta da formao comum por meio de uma Base Nacional Comum8 = Ncleo Comum (centralizada pelo Estado Nacional) e uma Parte Di- versificada9 (para complementar a formao,respeitando as diversidades cultu- 8 Refere-se ao conjunto de contedos mnimos das reas de conhecimentos, representando as noes e conceitos essenciais sobre fenmenos, processos, sistemas e operaes, que contribuem para a constituio de saberes, conhecimentos, valores e prticas sociais. Por sua dimenso obrigatria dos currculos nacionais certamente mbito privilegiado da avaliao nacional do rendimento escolar a Base Nacional Comum deve preponderar substancialmente sobre a dimenso diversificada(Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, 1998). 9 Envolve os contedos complementares, escolhidos por cada sistema de ensino e estabelecimentos escolares, integrados Base Nacional Comum, de acordo com as caractersticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela (art. 26 da LDB). Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 24. 106 rais regionais e locais , mas mantendo os ditames do Estado centralizador, por exemplo, a introduo de uma lngua moderna; a serem organizadas pelos siste- mas de ensino intermedirios Estados e Municpios) no se afasta da proposta que encontrvamos na ltima Lei da Educao, da poca da Ditadura Militar, a Lei 5.692/71, que propunha a Reforma do Ensino de 1. e 2. graus. Em verdade, o que queremos chamar a ateno, tanto para o setor pblico quantoparaosetorprivado,paraaquelasescolasquenoprezampelaqualidade e formao do cidado, na medida em que seu interesse o lucro puro e simples, ao desenvolverem as prticas educativas/projetos poltico-pedaggicos de Edu- cao, ao se apropriarem de determinada concepo, agem irresponsavelmente, materializando/imprimindo a lei do Estado Mnimo e a lei do Deus Mercado10 . Como salienta Alves (1997, p. 9), as possveis inovaes apontadas pela Lei Nacional devem ser [...] acompanhadas por associaes da sociedade civil e pelos interessados [alunos, pais e professores], estes aspectos podero ser de grande proveito [refere-se s organizaes diferenciadas do currculo de formao de professores e educando], j que preciso considerar que a prtica tem sido vista pelos estudiosos como elemento fundamental de formao [...] Cabe, ento, nos colocarmos a pensar e a fazer experincias que possam ser analisadas e criticadas, sobre a variada gama de possibilidades de unir a prtica teoria e esta prtica, de se incorporar a prtica concreta a cursos de formao. Alves (1997) vai salientar em seu texto os aspectos e as questes propostas para se pensar a formao do educador. Situa principalmente o movimento de educadores que pensa uma Base Comum Nacional BCN, para a formao dos profissionais da Educao, diferente da Base Nacional Comum BNC, apre- sentada pelas Diretrizes do CNE para a Educao Bsica. A BCN do movimento dos educadores, especificamente construda pela ANFOPE Associao Nacio- nal pela Formao dos Profissionais da Educao11 , entendida/concebida no como um currculo mnimo ou elenco de disciplinas, e sim como uma concepo bsica de formao do educador e a definio de um corpo de conhecimento fundamental, partindo de princpios gerais e eixos norteadores, o que indica tanto de novidade em contedo quanto em mtodo de organizao (ALVES, 1997). O que buscamos recuperar em nossa aula de hoje so os pressupostos terico-epistemolgicos e terico-metodolgicos do movimento para pensar- mos nossa concepo curricular para a Educao Bsica. Neste sentido, gostar- amos de recuperar os conceitos j sinalizados anteriormente, desenvolvidos por Nogueira (com base em Marx e Engels) e Nosella (com base em Gramsci), sobre 10 O uso da expressoDeus Mercadotem sido bastante utilizado por alguns profissionais ao se referirem s questes do capitalismo e da relao capital/trabalho. Esta construo adquire um cunho metafrico, j que deseja enfatizar o poder do mercado sobre ns. 11 ANFOPE. Formao dos profissionais da Educao e base comum nacional: construindo um projeto coletivo. Documento Final do XI Encontro Nacional: Florianpolis SC, 2002. Polticas Pblicas em Educao Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 25. Organizao e funcionamento da Educao Bsica 107 a concepo de trabalho como princpio educativo, a formao politcnica e a escola unitria. Por outro lado, queremos atentar para o retrocesso/conservadorismo presen- te na LDB, nos Parmetros e Diretrizes Curriculares Nacionais que desconhecem estudosrealizadosporvriosautoresqueconcebemcurrculo,formaohumana e construo de conhecimentos, por exemplo, na perspectiva de construo em rede12 . Como nos diz Grossi (1999), sem incorporao das novas descobertas sobre o aprender, e diria mais, sem reconhecer os lugares de pertencimentos e da produo das redes de conhecimentos, no possvel pensar um processo de Educao emancipatria para a formao de cidados. Assim, uma outra forma de se pensar e fazer a escola que queremos pblica, laica, democrtica, popular e com qualidade socialmente referenciada. Esperamos que as discusses pontuadas em nossa aula possam lev-lo a rea- lizar uma nova insero no espao social local, regional e nacional. Texto complementar 12 OLIVEIRA, Ins Barbosa; ALVES, Nilda (Orgs.). Pesquisa no/do Cotidiano das Escolas sobre rede de saberes. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. A construo de uma base comum nacional para a formao de profissionais da educao no Brasil (SCHEIBE; BAZZO, 2008) Introduo O movimento pela construo de uma base comum nacional para a for- mao dos profissionais da educao vem ocupando um lugar de destaque na histria da educao brasileira das ltimas dcadas. Esta expressobase comum nacional foi cunhada pelo Movimento Nacional de Formao do Educador, no incio da dcada de 1980, num momento em que as foras so- ciais empenhavam-se na luta pela redemocratizao do pas. Os educadores mobilizaram-se pela reformulao do curso de Pedagogia e das licenciatu- ras, contrapondo-se imposio de reformas definidas nas instncias ofi- ciais, tendencialmente desprofissionalizadoras da rea. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 26. 108 Este movimento, que se iniciou em 1978, durante o I Seminrio de Edu- cao Brasileira, realizado em Campinas-SP, no contexto das lutas contra o regime militar, criou, pouco depois (1980), o Comit Nacional Pr-Formao do Educador, cuja evoluo originou em 1990 a ANFOPE Associao Nacio- nal pela Formao dos Profissionais da Educao e, mais ou menos concomi- tantemente, o FORUNDIR Frum dos Diretores das Faculdades de Educa- o das Universidades Pblicas Brasileiras. Entre outras entidades que foram sendo criadas no pas, no interior da intensa mobilizao dos educadores pela melhoria das condies educacionais, a ANFOPE e o FORUNDIR desta- caram-se pelo acompanhamento que deram e continuam dando constru- o coletiva de uma base comum nacional para a formao dos profissionais da educao. Ao mesmo tempo, destacam-se pelo seu empenho na luta po- ltica para assegurar os princpios que orientam esta formao, construdos coletivamente. A presente comunicao contextualiza a problemtica da formao ini- cial dos profissionais da educao no interior da sua trajetria e apresenta as orientaes, que foram sendo gestadas no interior do movimento, pela construo de uma base comum nacional para esta formao. A trajetria das polticas pblicas de formao docente no pas possvel afirmar que a profissionalizao dos docentes no Brasil, dado o descompromisso dos governos com a educao popular, vm sendo histori- camente derrotada. Estratgias de reduo do conhecimento e da ao pe- daggica, da perda aquisitiva do salrio e da criao de escolas de diferentes qualidades para a formao do mesmo profissional, entre outras, tm servi- do para descaracterizar a feio profissional. J na dcada de 1930, quando foram criadas as primeiras grandes universidades brasileiras, e quando se es- truturava a carreira profissional docente, foi boicotada a iniciativa de formar todos os professores em nvel superior, frustrando, assim, a constituio da rea da educao como rea acadmica. Junto com a instalao das universidades e fazendo parte de seus cursos criaram-se as licenciaturas para a formao dos professores das escolas se- cundrias. Estas licenciaturas foram vinculadas s Faculdades de Filosofia, Cincias e Letras que, ao lado do preparo dos professores, propunham-se Polticas Pblicas em Educao Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 27. Organizao e funcionamento da Educao Bsica 109 a formar pesquisadores e especialistas. Essas faculdades foram organizadas em quatro grandes grupos: filosofia, cincias (matemtica, geografia, hist- ria, cincias sociais, fsica, qumica, histria natural), letras (anglo-germnicas e neolatinas) e pedagogia. O Curso de Pedagogia destinava-se a formar o tcnico de educao para atuar junto ao sistema educacional, campo profis- sional muito vago quanto s suas funes, e o professor para o Curso Normal, campo no exclusivo dos pedagogos. Esvaziava-se, dessa forma, o signifi- cado do pedagogo visto no mais como filsofo e/ou poltico, mas como tcnico a servio do Estado, retirando-se dele a instncia mais prestigiada de consagrao intelectual(NUNES, 2000, p. 26). As leis gerais reguladoras dos cursos de formao docente continuaram reforando escolas de diferentes qualidades para a formao do mesmo profissional, em termos de critrios diferentes de admisso, durao e currculos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB) de 1961 deu fora diferena existente. A LDB 5.692 de 1971 props, pela primeira vez, a formao do professor primrio em nvel universitrio nos cursos de licenciatura plena. Esta lei criou um modelo de organizao que permitia ao professor acumular, aos poucos, anos de escolaridade e atuar em sries cada vez mais avanadas do sistema escolar. Vinculou os nveis salariais do professor ao seu nvel de formao. Ao tornar compulsria a profissionalizao no nvel mdio, porm, transformou o magistrio numa das habilitaes do ensino de segundo grau, descaracte- rizando as Escolas Normais e os Institutos de Educao. Essa legislao foi precedida pela Lei 5.540 de 1968, a Lei da Reforma Uni- versitria, que substituiu a antiga Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras pela Faculdade de Educao. Mesmo a instalao destas faculdades, com a finalidade de nelas centralizar a formao dos profissionais da educao, no superou o modelo vigente das licenciaturas. No Curso de Pedagogia, que agora poderia legalmente formar o professor para o ensino de primeiro grau, este magistrio, tal como ocorreu ao nvel de segundo grau, tornou-se uma habilitao dentre outras. A Lei de Diretrizes e Bases de 1996 aboliu as licenciaturas de curta dura- o e os avanos progressivos de escolaridade e exerccio profissional. Expli- cita, no entanto, a possibilidade de aproveitamento de estudos e experin- Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 28. 110 cias anteriores. Manteve a proposta da LDB/71 de formar o profissional da educao em curso superior, tornando-a obrigatria. Instituiu, no entanto, a possibilidade de que professores com o mesmo nvel de formao possam ser remunerados de forma diferenciada, de acordo com o nvel em que trabalham. A criao dos Institutos Superiores de Educao surgiu como a grande novidade. Suas atribuies na nova lei so bastante amplas e esvaziadoras das tarefas realizadas pelas Faculdades de Educao. No sentido de contrapor-se conjuntura vigente, j no incio da dcada de 1980, o movimento dos educadores firmou o princpio de que a docncia constitui a base da identidade profissional de todo educador [...] A especificidade do trabalho do profissional da educao As bases materiais que caracterizam a produo (reestruturao produti- va), a economia (globalizao) e a poltica (neoliberal), neste incio de sculo, trazem profundas implicaes para a educao e, consequentemente, para o estabelecimento de uma base comum para a formao dos profissionais da educao, uma vez que cada estgio de desenvolvimento das foras pro- dutivas gesta um projeto pedaggico correspondente s suas demandas de formao. Aos profissionais da rea cabe, portanto, fazer a leitura e a necessria an- lise do projeto pedaggico em curso, de modo a participar da organizao coletiva em busca de alternativas que articulem a educao aos demais pro- cessos de desenvolvimento e consolidao de relaes sociais verdadeira- mente democrticas. O educador no pode ser apenas um distribuidor dos conhecimentos so- cialmente produzidos. H que se buscar em sua formao exigentemente a condio de produtor de uma cincia pedaggica, cujo objeto sero as concepes e as prticas pedaggicas escolares e no-escolares determina- das pelas relaes sociais e produtivas de seu tempo. Para isso preciso que domine os contedos escolares, enquanto tradues do conhecimento cientfico-tecnolgico e histrico-crtico, em expresses assimilveis pelos educandos, considerando as finalidades e estratgias de cada modalidade Polticas Pblicas em Educao Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 29. Organizao e funcionamento da Educao Bsica 111 Atividades 1. Com base nos Pareceres e Resolues que instituem as Diretrizes para a Edu- cao Bsica (Educao Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Mdio), sinali- zados na nossa aula, organize uma sntese apresentando as principais ideias do documento. Trabalhe com os documentos, respeitando a sua prtica pe- daggica atual. de educao; a escolha das formas metodolgicas adequadas a cada con- tedo, a cada objetivo, a cada educando; a familiaridade com as formas de organizao e gesto, escolares e no escolares, institucionalizadas e no institucionalizadas, que os processos pedaggicos assumiro; a capacidade de entender e intervir nas polticas educacionais. O eixo de formao deste profissional , portanto, o trabalho pedaggico, escolar e no escolar, que tem na docncia, compreendida como ato educa- tivo intencional, o seu fundamento. a partir dessa compreenso que, no processo de formao de profissional da educao, as demais cincias sero utilizadas no suporte investigao e interveno. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 30. 112 2. Quais so os questionamentos acerca da Base Nacional Comum: seus princ- pios, objetivos e fundamentos. Que proposta poderamos contrapor? 3. Descreva como esto vigorando as polticas educacionais na atualidade. E responda qual a relao que estabelecem com a construo do projeto pol- tico-pedaggico? Polticas Pblicas em Educao Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 31. Organizao e funcionamento da Educao Bsica 113 Dicas de estudo Temos falado muito nas desarticulaes/fragmentaes da nova Lei de Dire- trizes e Bases, para tanto aconselhamos a leitura de alguns artigos da Lei indica- dos para que voc possa entender melhor esta desarticulao. So eles: art. 21 (Educao Escolar); art. 26-A, 79-A e 79-B (obrigatoriedade da temticahist- ria e cultura afro-brasileira; art. 37 e 38 (Educao de Jovens e Adultos). Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 32. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br 33. OrganizaoefuncionamentodaEducaoBsica 1. Um vis interessante o artigo que indica a organizao da Educao Bsica. Para se garantir a aprendizagem a Lei abre um leque de possi- bilidades reais de organizao; permite a reclassificao do aluno; d permisso sobre a adequao de calendrio, respeitadas as peculiari- dades locais, assim como determina a estrutura e o funcionamento do sistema escolar. 2. Um grande questionamento que se verifica de imediato a falta de discusso quanto aos contedos curriculares apontados como favor- vel ao desenvolvimento dos alunos. a velha tcnica: o governo pensa e os professores executam. a tradicional poltica da centralizao do poder que no considera o grupo, o professor, a comunidade, a esco- la, abrindo caminho para decises contraditrias, ficando a merc das lutas polticas que atravs dos lobbies conseguem introduzir algumas alteraes da lei de ensino. Uma nova proposta significa uma nova vi- so sobre a Educao, que longe de ficar presa a questes de currculo mnimo e elenco de disciplinas, centra seu foco na formao do edu- cador e na definio de um corpo de conhecimentos fundamentais. Acreditamos que estes dois eixos permitiro a elaborao de um curr- culo que possa atender diversidade da escola. 3. Observamos dentro dos textos estudados que as polticas educacio- nais se encontram, como hoje, sendo o resultado de entraves polticos, em que as foras majoritrias asseguram a concepo de Educao a ser adotada e consequentemente o papel da escola. No entanto, hoje, com a possibilidade das escolas organizarem seu projeto poltico-pe- daggico, aprovado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacio- nal, percebemos uma possibilidade do professorado assumir as rdeas da Educao brasileira. Este um momento de grande responsabili- dade do professorado e da escola, que precisam ter clareza do que sua comunidade indica como desejo e juntos caminharem em busca das possibilidades concretas de sucesso, construindo uma Educao emancipatria para a formao de cidados. Gabarito Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.videoaulasonline.com.br