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1 | Resumo sistematizado pelo professor –joaquim pedro Escola 1º de Agosto INTRODUÇAO NOÇÃO DE HISTÓRIA — Tudo que, no passado, os homens Fizeram, ou lhes aconteceu, é história. Ora nós desejamos conhecer essa história. Mas esse desejo levanta dois problemas: 1º — Poderemos conhecer tudo aquilo que os homens fizeram ou lhes aconteceu, desde que existem homens? 2.° — A supor que o poderíamos, como ter tempo e memória para fixar os milhões de milhões de factos que se deram no passado? Pois bem: não podemos conhecer toda a história dos homens. Podemos conhecer muitos factos — umas vezes de menos, outras vezes de mais... Em qualquer caso, fazemos sempre uma escolha dos acontecimentos que conseguimos averiguar, pois nem todos nos interessam, Com esses que escolhemos (e, porventura, com os que nos faltam mas procuramos inferir* dos conhecidos) reconstituímos a vida dos homens de outrora, nas suas linhas gerais, nos seus aspectos importantes. É como se, tendo encontrado pedras dum edifício antigo. Reconstruíssemos esse edifício, procurando, com o nosso raciocínio, acertar as pedras, colocá-las no lugar que teriam tido, e, onde fiquem paredes por acabar, preencher esses vazios com pedras novas, que sejam o mais possível idênticas às originais ou como presumimos* que elas foram. É assim que fazem os historiadores — só que, em vez de apresentarem, no fim, uma casa, apresentam um relato escrito, uma espécie de conto ou romance, não inventado, mas o mais próximo que consigam da realidade, como ela terá sido ou julgam que terá sido. A este relato também chamamos História. É uma pena que a mesma palavra «história» tenha, em Português, de servir para aqueles dois sentidos: o que aconteceu, e o relato daquilo que aconteceu ou se presume ter acontecido. É certo que existe o termo «historiografia» para o segundo significado. Mas mal se usa — e quando se usa, não é exactamente no sentido indicado. Por isso, aqui resolvemos escrever ‘história» (com o «h» inicial minúsculo) no primeiro significado, e «História» com maiúscula inicial no segundo. Como os alunos não são historiadores, não vão reconstituir o edifício; limitam-se a vê-lo, a estudá-lo já reconstruído — isto ר؏- Graduado em História, pela UKB

8ª classe

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1 | Resumo sistematizado pelo professor –joaquim pedro Escola 1º de Agosto

INTRODUÇAO

NOÇÃO DE HISTÓRIA — Tudo que, no passado, os homens Fizeram, ou lhes aconteceu, é história.Ora nós desejamos conhecer essa história. Mas esse desejo levanta dois problemas:1º — Poderemos conhecer tudo aquilo que os homens fizeram ou lhes aconteceu, desde que existem homens?2.° — A supor que o poderíamos, como ter tempo e memória para fixar os milhões de milhões de factos que se deram no passado?Pois bem: não podemos conhecer toda a história dos homens. Podemos conhecer muitos factos — umas vezes de menos, outras vezes de mais...Em qualquer caso, fazemos sempre uma escolha dos acontecimentos que conseguimos averiguar, pois nem todos nos interessam,Com esses que escolhemos (e, porventura, com os que nos faltam mas procuramos inferir* dos conhecidos) reconstituímos a vida dos homens de outrora, nas suas linhas gerais, nos seus aspectos importantes. É como se, tendo encontrado pedras dum edifício antigo. Reconstruíssemos esse edifício, procurando, com o nosso raciocínio, acertar as pedras, colocá-las no lugar que teriam tido, e, onde fiquem paredes por acabar, preencher esses vazios com pedras novas, que sejam o mais possível idênticas às originais ou como presumimos* que elas foram.É assim que fazem os historiadores — só que, em vez de apresentarem, no fim, uma casa, apresentam um relato escrito, uma espécie de conto ou romance, não inventado, mas o mais próximo que consigam da realidade, como ela terá sido ou julgam que terá sido.A este relato também chamamos História.É uma pena que a mesma palavra «história» tenha, em Português, de servir para aqueles dois sentidos: o que aconteceu, e o relato daquilo que aconteceu ou se presume ter acontecido.É certo que existe o termo «historiografia» para o segundo significado. Mas mal se usa — e quando se usa, não é exactamente no sentido indicado.Por isso, aqui resolvemos escrever ‘história» (com o «h» inicial minúsculo) no primeiro significado, e «História» com maiúscula inicial no segundo.Como os alunos não são historiadores, não vão reconstituir o edifício; limitam-se a vê-lo, a estudá-lo já reconstruído — isto é, a aprender o que sucedeu no passado, estudando a reconstituição que, desse passado, relatam os historiadores. Vão pois aprender História.OS FACTOS HISTORICOS — Acaba de dizer-se que o historiador faz uma escolha nos factos do passado que consegue conhecer, pois nem todos lhe interessam.Na realidade, fixar tudo que aconteceu seria não só impossível como inútil, Tão impossível e tão inútil como ler e decorar todos os jornais e livros, ou mesmo só as listas dos telefones...O que precisamos conhecer é, unicamente (e já não é pouco!), os acontecimentos importantes, a ligação de uns com os outros, as suas causas e consequências, de modo a chegarmos a um relato encadeado, organizado, compreensível — e não a um amontoado sem ordem, desconexo e incompreensível.Mas quais serão, então, os acontecimentos importantes? Aqueles que profundamente modificaram a vida dos homens em geral (não a de um ou outro homem) — modificaram o seu comportamento, o seu modo de pensar e de viver, a sua maneira de estar no mundo.«Com o termo história designam—se ao mesmo tempo duas coisas realmente distintas. a) A realidade do acontecimento histórico, objecto da história científica, e b) Aquela ciência cujo objecto é a história real. Os alemães chamaram à primeira Geschichte, e à segunda Historie»( ANTONIO MILLAN PUELLE5, «ONTOLOGIA DE LA EXISTENCIA HISTORICA»)

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DOCUMENTO 2«Na História, os factos fundamentais relacionam—se com os motivos que lhes deram existência e valorizam-se dentro dessa dependência. Valorizam-se e dessa valorização depende a sua selecção para a exposição histórica — segundo a parte e resultado que têm em cada série de factos, segundo o seu correspondente valor para a colectividade»(ERNST BERNHEIM, .(INTRODUCCIÓN AL ESTUDIO DE LA HISTORIA»)

DOCUMENTOS 3«A História ocupa-se dos factos na medida em que não são totalmente passados, mas sim, de algum modo, sobrevivem no presente... Todo o passado que não penetra e não se acumula no presente não é um passado histórico, mas um puro passado (não-histórico).»(ANTONIO MILLAN PUELLE5, »ONTOLOGIA DE LA EXITSENCIA HISTORICA»)

OS FACTORES DA HSTÓRIA 3 — É inegável que os homens não pensam, não actuam, não vivem hoje como os seus mais primitivos avós, nem como os seus outros avós, já menos afastados do tempo de Cristo, ou do quando Portugal se formou, ou do século XVIII...De umas épocas para as outras houve grandes transformações.Quais foram as causas dessas transformações - isto é, porque se deram elas? Que factos provocaram as transformações?Dito por outras palavras: quais foram os factores* da história?Fundamentalmente dois: os próprios homens e o meio em que vivem, isto é a Terra (a geografia, a natureza).É principalmente o comportamento dos homens (a sua conduta, os seus actos, ou seja, aquilo que fazem) que molda ou altera a sua maneira de viver.Ora o que os homens fazem depende do que sentem, do que sabem, do que pensam e do que crêem. Daí que sejam factores da história: aquilo que os homens pensam (a sua filosofia e a sua ideologia, quer dizer as suas ideias sobre a vida e o mundo, sobre si próprios e sobre o meio em que se situam, sobre a sociedade e o seu governo), aquilo que eles sabem (a sua ciência e a sua técnica, ou seja, os seus conhecimentos da natureza e da maneira de pô-la ao seu serviço), aquilo que eles crêem (a sua religião), aquilo que eles sentem (manifestado na sua arte).Mas os homens vivem, e decerto sempre viveram, em sociedade, isto é, agrupados, associados. As formas variadas e variáveis de associar-se (na família, no clã, na tribo, na aldeia, na cidade, na nação, nas classes, nas profissões, etc.) constituem outro factor histórico: o factor social; assim também as formas de governo desses seus grupos constituem outro factor: o factor político.Para que os homens vivam, porém, é necessário que recebam constantemente da natureza os elementos da vida: o solo em que estejam e se movam, o ar que respirem, os alimentos que consumam... Ora o solo existia já antes de cada homem nascer, e o ar é-lhe dado gratuitamente. Mas os alimentos, esses, têm os homens de obtê-los da Terra com o seu esforço - o seu trabalho. Chamamos produção ao resultado desse trabalho, dessa relação entre os homens e a Terra, que toma as formas mais diferentes. Pode consistir em arrancar raízes e apanhar frutos silvestres (recolecção); em semear e colher (agricultura); em transformar o linho, os troncos das árvores, a lã dos carneiros, os metais do subsolo, etc., em vestuario, casas, mobiliário e instrumentos (indústria); em adquirir esses produtos aos seus produtores e transmiti-los aos consumidores (comércio), ou em prestar outros serviços (ensinar, curar, defender, etc.) aos que deles necessitam. Damos o nome de economia ao conjunto dessas actividades (trabalho) de produção, distribuição e consumo de alimentos, coisas e serviços. A economia é, pois, outro factor da história — e até um dos mais importantes e mesmo, para alguns historiadores, o mais importante.Economia, organização social, regime político, ciência e técnica, filosofia, ideologia, religião, arte-são, portanto, outros tantos factores da história em que podemos decompor o factor fundamental que é o próprio Homem; dito por outras palavras, são vários aspectos do

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comportamento ou acção dos homens, quer em relação à natureza (à Terra) quer em relação uns aos outros quer cada um em relação a si próprio.Porém, na base desses comportamentos está sempre a Terra. É nela que o Homem vive e é dela que vive. Ela é o seu meio, o seu ambiente. Simplesmente, a Terra não é uma coisa uniforme, imóvel e inalterável — sempre a mesma no espaço e no tempo. Ao contrário, a Terra é imensamente diversificada: aqui plana, ali montanhosa; aqui sólida, ali líquida; aqui muito quente, ali temperada ou muito fria; aqui desértica, ali rica de vegetação... E imensamente mudável: nas 24 horas da sua rotação, há a noite e o dia; ao longo do ano, sucedem-se as estações, com suas alterações de clima; no decurso dos séculos, surgem e desaparecem relevos e oceanos, florestas e desertos, glaciações (invasões dos gelos polares) e interglaciacões (recuo dos gelos para os pó-los)... Todos esses diversos estados e mudanças afectam, mais ou menos, fortemente a vida dos homens — a sua saúde, a sua alimentação, o seu trabalho, os seus conhecimentos e ideias, os modos de se associarem e governarem... O factor geográfico é, assim, também um factor da história — e um factor básico.Não, porém, que o Homem sofra passivamente os efeitos da natureza: as relações entre ele e a Terra não se fazem num sentido único — da natureza para os homens. Antes são recíprocas, pois, por sua vez, os homens transformam o seu meio — a Terra. Eles destroem as florestas para agricultar os solos ou cultivam numa região plantas que trouxeram de outra afastada — e essas mudanças muitas vezes alteram o clima; pela irrigação, transformam desertos em verdes prados; pela exploração excessiva, tornam desérticos terrenos que eram férteis; abrem o subsolo para extrair minérios; extinguem espécies animais por demasia de caça ou pesca, domesticam e criam outros...Afinal, é essa relação dialéctica* entre o Homem e a Terra, ou dos homens entre si em função da Terra, que constitui a história — e é dela que se ocupa a História.Por isso, o historiador precisa não só de relatar os acontecimentos do passado mas também de destrinçar os seus factores, que entre si os relacionam.O TEMPO COMO DIMENSÃO DA HISTÓRIA - Do exposto resulta que uma das dimensões da história é o espaço — neste caso a Terra, onde os homens vivem e a sua vida se modifica. Nisso os fenómenos históricos não se afastam dos fenómenos físicos, os quais se passam também num espaço.Mas a história tem ainda uma outra dimensão que é mais propriamente sua: o tempo. Os acontecimentos históricos sucedem-se cronologicamente (uns depois dos outros) — como um filme que vai passando. Só no tempo os fenómenos históricos se podem compreender; se os isolássemos do tempo, eles deixariam de ser históricos.Ora esse tempo não é um tempo qualquer — é o tempo histórico. Que quer isto significar? Que a mera datação de um acontecimento (o tempo breve desse acontecimento) não constitui história. O acontecimento só adquire caracter histórico quando o situamos naquilo a que F. Braudel chamou a «longa duração», isto é, quando o relacionarmos com os seus factores, que o precederam, com os outros acontecimentos, que o acompanharam, e com as suas consequências, que o seguiram, num vasto quadro.Para tal situação no tempo, é indispensável que o tempo se meça.E para medir o tempo tem de estabelecer-se um sistema* — como para medir o espaço foi preciso criar sistemas (o sistema métrico decimal, por exemplo).Nem sempre os homens souberam medir o tempo. Só depois de terem descoberto a agricultura sentiram a necessidade dessa medição (para os trabalhos agrícolas, que se efectuam em estações do ano diferentes umas das outras, mas iguais de uns para outros anos).Para a criação dum sistema de medir o tempo — isto é, para a criação do calendário — recorreram à observação dos movimentos regulares dos astros: da Lua e do Sol. Assim puderam estabelecer o dia (tempo de uma revolução completa da Terra em volta do seu eixo), o ano

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(tempo que leva a Terra a completar a sua translação à roda do Sol), a semana e o mês (tempo, respectivamente, de cada fase da Lua e do total das suas quatro fases).

DOCUMENTO 4«A História é o mais perigoso produto elaborado pela química do intelecto… Faz sonhar, embriaga os povos ... condu-los ao delírio das grandezas e ao da perseguição, e torna as nações amargas, soberbas, insuportáveis e vãs [...].»(PAUL VALÉRY, ‘REGARDS SUR LE MONDE ACTUEL)

DOCUMENTO 5«A erudição sem vida, o saber como inibitório da acção, a História como luxo [...] têm de ser-nos odiosas [… ]. Precisamos da História; mas precisamos dela ... para a vida e para a acção, e não para cómodo afastamento da vida e da acção ...»(FREDERICO NETZSCF, ‘DA UTILIDADE E INCONVENIENTES DA HISTÓRIA PARA A VIDA.)

DOCUMENTO 6«A maior parte dos erros de previsão ... vem duma insuficiência do esforço necessário para situar o acontecimento no tempo[… ]A regra de ouro do espírito prospectivo* é colocar o acontecimento não somente no passado recente mas no longo termo, isto é, pelo menos no século e até no milénio. É sempre da Humanidade que se trata. E a Humanidade é milenária.»(JEAN FOURASTIE, ‘>LES 40.000 HEURES.’)

Foi um grande avanço — suficiente para os trabalhos agrícolas.Mas outras necessidades impuseram, além do calendário, a datação. Isto é, ordenar no tempo, uns a seguir aos outros, acontecimentos que se sucediam mas não se repetiam ou se repetiam irregularmente.Isso exigia fixar um momento a partir do qual se contasse o tempo.Cada povo, em cada época, escolheu essa data inicial, essa data zero, nem sempre a mesma.Por exemplo, os Romenos antigos contavam os anos a partir da fundação tradicional» da cidade de Roma (que corresponde, na nossa datação actual, ao ano de 758 antes do nascimento de Cristo.Os Árabes contavam — e contam a partir Hégira, isto é, da data em que seu profeta Maomé se estabeleceu na cidade da Medina (que corresponde ao ano de 622 da nessa era»).Os cristãos fizeram começar a era no ano do nascimento de Cristo. É essa a datação hoje usada em quase todo o mundo. Assim, o ano de 1977 significa que desde o nascimento de Cristo até este ano decorreram 1976 anos completos e naquela altura estava decorrendo o 1977° (milésimo novecentésimo septuagésimo sétimo).Mas quando Jesus Cristo nasceu já havia milhares (mesmo mais de um milhão) de anos da história humana! Então como contar esses anos antes de Cristo?

COMO CLASSIFICAR O SÉCULO OU COMO ACHAR UM SÉCULO?

- Década é igual a dez (10) anos = vão desde 0 a 9 anos- Século é igual a cem (100) anos = vão desde 0 a 99 anos- Milénio é igual a mil (1000) anos = vão desde 0 a 999 anos

De 0 á 99 corresponde ao século I Do ano 100 á 199 corresponde ao século II

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Pois contam-se do mesmo modo, mas do nascimento de Cristo para trás -- às arrecuas...

DOCUMENTO 7No evoluir incessante que é a nossa vida, tudo se nos apresenta sob o aspecto do sucessivo, a tal ponto que, mesmo instintivamente, somos levados a procurar na sua sucessão a explicação dos factos de que somos testemunhas… Temos necessidade de pensar na continuidade, porque é na continuidade que vivemos. Acusa-se a História de inimiga do progresso. Ao contrário, ela ensina a marcha constante para a frente, a progressão perpétua.»(LOUIS HALPHEN, ..II4TRODUCTlON’À L’HISTOIRE»)

DOCUMENTO 8.« O ensino da História tende a exercitar os alunos numa forma de pensamento que poucas doutras disciplinas proporcionam que não analítica nem dedutiva, mas indutiva* e sobretudo objectiva*. Os alunos devem aprender a acolher as novas informações com completa objectividade, com espírito, crítico, é não com a credulidade passiva que caracteriza, por exemplo, o leitor médio da imprensa moderna.»(OTTO-ERNST SCHUEDOEK0PT, «O ENSINO DA HISTÓRIA E A REVISÃO DOS MANUAIS DE HISTÓRIA»)

DOCUMENTO 9,‘Mas é claro que a nossa função de professor de História não consiste principalmente em atafulhar de factos o crânio dos nossos alunos. Uma das coisas mais úteis que podemos ensinar-lhes é a pensar — a pensar duma maneira que se poderá chamar histórica, a adquirir o hábito de examinar cada problema à luz das suas origens históricas, a procurar porque são as coisas aquilo que são, ‘pois a solução dum problema se encontra muitas vezes facilitada pelo conhecimento da sua evo1ução*,(E. H. DANCE, «ALGUMAS SUGESTÕES, DESTINADAS AOS PROFESSORES DE HISTÓRIA RESPEITANTES A NOVAS CONCEPÇÕES E NOVOS MÉTODOS.’).

Assim, se um acontecimento se deu 1270 anos antes do nascimento de Jesus, escreve-se: 1270 a. C.A.C. é a abreviatura de «Antes de Cristo».E, como pode haver confusão, também para os anos da nossa era se usa uma abreviatura: d. C. (depois de Cristo). Por exemplo, 212 d. C.O que sucede com os anos sucede, é claro, com os séculos (centenas de anos) e com os milénios (milhares de anos).O ano de 1270 a. C., acima dado como exemplo, pertence ao 2.° milénio a, C., ou, se quisermos contar em séculos, ao XIII século a. C. E o ano 212 d. C. pertence ao século III d. C. e ao 1º milénio d. C.Se pretendermos indicar o milénio (sem o ano nem século) mas precisar que se trata do começo, do meio ou do fim do milénio, diremos:Para o ano 1270 a. C. final do 2º milénio a. C.; e para o ano 212 d. C.; início (ou começo) do 1º milénio d. C.UTILIDADE DA HISTORIA5 - Para que serve o estudo da História?A esse respeito, variam muito as opiniões: há quem o considere inútil e até quem o considere nefasto. Mas a grande maioria das pessoas considera-o útil.Muitas têm sido as utilidades encontradas à História — várias delas inaceitáveis, algumas absurdas ou ridículas, outras verdadeiras mas de pouco valor e, finalmente, as que podemos considerar fundamentais e decisivas.Destas vamos apontar, apenas, as duas que se afiguram mais importantes:

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1ª- O conhecimento da História é necessário para compreendermos bem o presente, isto é, a vida actual, e para podermos prever o futuro, previsão esta indispensável para orientarmos a nossa vida e para planearmos a sua melhoria.2ª- Os homens são animais racionais*, o que constitui a sua grande superioridade sobre todos os outros. E é essa sua faculdade de raciocinar* que lhe tem permitido sobreviver* e progredir. Mas há várias formas ou tipos de raciocínio*: analógico*, dedutivo (o próprio das matemáticas, por exemplo), indutivo (mais utilizado nas ciências experimentais, como a Física), etc. Ora um dos tipos de raciocínio é o histórico. Quer dizer, a História (a reconstituição do passado histórico) serve-se de um certo método* de pensamento especial.Enquanto as outras formas de raciocínio se adquirem estudando outras ciências, é estudando a História que se pode assimilar e adquirir o hábito de usar o método histórico, o que constitui um enriquecimento mental, que torna as pessoas mais aptas a resolver os problemas que a vida e o mundo põem a todos nós.DEFINIÇÃO DE HISTÓRIA6 — Depois de tudo o exposto, já poderemos compreender a definição de História tal como foi formulada pelo Prof. Vitorino Magalhães Godinho: «A História é a maneira de bem pôr os problemas de hoje graças a uma indagação científica do passado virada para a preparação dos tempos vindouros.»

A EXPANSAO EUROPEIA E O COMERCIO Á ESCALA MUNDIAL

No século XV o desenvolvimento da economia exigia a procura do ouro e de outros produtos, por vezes a grandes distancias. A Europa voltava a sentir a necessidade da expansão. Será em Portugal que esse desejo expansionista, comum a outros países encontrara os meios adequados a sua realização. A prática da navegação foi introduzida em Portugal pelos Mouros, e depois patrocinada pelo infante Dom Henrique no século XVI. Usada na prática da exploração, na época das Grandes Navegações, Portugal já tinha prática e conhecimentos pelos seus 100 anos de experiência antecedentes, quando começou a usa a Caravela, Astrolábio e a Bússola.Portugal vai ser, assim o país pioneiro nas viagens de descobertas que, desde o inicio do século XV, alargaram os horizontes do mundo conhecido pela Europa. MOTIVAÇOES DA EXPANSAO EUROPEIA A grave crise do século XIV, simultaneamente económica, social, moral e política, concretamente, pestes, fomes, guerras e ainda uma crise dinástica de sucessão que colocou o paÍs numa situação difícil que só a força das armas conseguiu ultrapassar; foi o motor que impeliu a Europa para a expansão marítima.Para além da falta da mão-de-obra, a Europa sentia a escassez de matérias-primas, mercadorias, metais preciosas.A oposição dos mercadores muçulmanos ao comércio cristão no mediterrâneo dificultava a aquisição de muitos produtos orientais (especiarias, sedas, porcelanas) e a obtenção de ouro do continente africano.O reino de Granada controlava o tráfego do estreito de Gibraltar criando dificuldades á navegação cristã e a pirataria mourisca, em constantes incursões, constituía uma ameaça aos países ibéricos. Para vencer esses obstáculos a Europa só tinha uma saída: a expansão marítima para o atlântico.Foi com este espírito comercial e, ao mesmo tempo, de cruzada que se iniciou a expansão um conjunto de condições favoráveis em relação aos restantes países da Europa. Portugal foi aprendendo com os marinheiros experimentado do mediterrâneo, aperfeiçoou as técnicas de navegação através da utilização da bússola e do astrolábio, bem como da elaboração de cartas de marear e ainda do uso da vela latina ou triangular. A construção naval também sofreu melhoramento. Para ensinarem aos portugueses a arte de navegar, foram chamados muitos

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estrangeiros, principalmente árabes e judeus, homens de sabedoria e larga experiencia na navegação astronómica. Os marinheiros portugueses utilizavam com mestria vários instrumentos náuticos recebidos dos outros povos, alguns dos instrumentos permitiam a orientação através dos astros, levando ao desenvolvimento da navegação astronómica. FACTORES E CONDIÇOES QUE CONTRIBUIRAM PARA A EXPANSAO MARITIMA EUROPEIA

a) FACTORES ECONOMICOS • O monopólio comercial árabe - italiano no comércio com o oriente. Os produtos do oriente chegavam a Europa com preços demasiados altos, o que não permitiam grandes lucros aos mercadores europeus devido a sua passagem pelos vários intermediários: Do oriente chegavam á Europa seda, tapetes, jóias, açúcar, plantas medicinais, especiarias como a pimenta, canela, cravinho, noz-moscada, etc… esses produtos eram adquiridos pelos árabes nos portos da China, da Índia e da Pérsia.

Obtidos os carregamentos nessas paragens, retornavam pelo indico e subiam as costas do mar vermelho, chegados ao canal de Suez vendiam ao Egipto e seguiam ainda para Constantinopla em caravanas de camelos.

• Necessidade do ouro para o desenvolvimento da actividade mercantil. O ouro era cada vez mais necessário para a actividade comercial pelo que era imprescindível a sua busca.• Procura de novas rotas para o comércio com o Oriente. O facto de a rota do Mediterrâneo e do Indico estar sob controlo dos árabes fez com que fosse necessário procurar novas rotas para se chegar ao Oriente.

b) FACTORES TECNICOS - CIENTIFICOS• O desenvolvimento da técnica e da ciência.O desenvolvimento da ciência e da técnica possibilitou o inicio da expansão marítima no final do século XV • A imprensa.

• Os instrumentos náuticos: bússola, astrolábio e caravelas. • As armas de fogo

1- SITUAÇAO GEOGRAFICA E ACTIVIDADES ECONOMICASNo século XV, o desejo de todos os europeus de procura de ouro e de produtos vai-se concretizar em Portugal. Portugal fica situado na faixa litoral do oceano atlântico e tem bons portos: Setúbal e Lisboa. O que obriga os habitantes desta região a mergulharem-se no mar, razão pela qual Portugal e Espanha foram os pioneiros na conquista de outras terras. As suas actividades económicas eram de pesca, a navegação e o comércio. Os portugueses são um povo navegador que foi ganhando experiências na arte de navegar com ajuda dos seus reis na construção naval e na aquisição de conhecimentos dos seus marinheiros.

SITUAÇAO POLITICA E SOCIAL

No inicio do século XV, em Portugal a paz era um facto, mas a actividade comercial estava a decair ou enfraquecer.Os vários grupos sociais desejavam melhorar as suas condições económicas.- A burguesia queria novos mercados para obter mais lucros- A nobreza desejava conquistar novas terras e novos cargos (emprego).- O povo esperava melhorar as suas condições de vida ; a estes argumentos associa-se a curiosidade e o desejo de evangelizar o cristianismo.

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AS GRANDES VIAGENS E AS NOVAS ROTAS A EXPANSAO DE PORTUGAL Portugal e Espanha foram os iniciadores da expansão no século XV e a estabelecerem as principais rotas marítimas que ligavam a Europa á África, América e a Ásia.Em Portugal e Espanha, a burguesia e a monarquia uniram-se para custearem a empresa da expansão. A primeira para desenvolver o comércio e a segunda para fortalecer o seu poder. A estes factores juntam-se a os da posição geográfica favorável destes países e a experiencia de navegação aí existente, recebidos dos marinheiros, geógrafos e astrónomos árabes, judeus e italianos.Ate ao século XIV, os europeus tinham uma noção errada e retrógrada dos continentes.No decorrer do século XV, as viagens sucederam-se transpondo etapas que possibilitaram, no século seguinte o conhecimento dos oceanos e continentes, nova rota atlântica, a esfericidade da Terra , de povos e culturas de outros continentes. isso permitiu um maior desenvolvimento dos europeus usufruir de maior desenvolvimento económico com o alargamento do espaço colonial, o que levou Portugal e Espanha a enveredarem-se em contendas que, mais tarde, se estenderam a outros países europeus, como a Holanda, a França, e a Inglaterra, pois cada um queria formar o seu império colonial; com o alargamento do comércio, a Europa cumulava capitais, pilhando as riquezas dos outros continentes, enquanto outros empobreciam. - O primeiro acto expansionista dos portugueses foi a tomada de Ceuta, em 1415, aos Mouros, no norte de África. A conquista da região Muçulmana de Ceuta – Marrocos, incentivou os portugueses ao reconhecimento da costa africana para lá do Cabo Bojador, com o propósito de chegarem ao pais de ouro, na costa ocidental de África. Pois era “Tida como a chave de todo mediterrâneo”Abrindo para o Reino de Portugal as portas ao domínio do comércio que aquele porto exercia. A vila rapidamente cresceu como pólo da mais elevada tecnologia da época para a navegação e cartografia com um arsenal naval, observatório, e uma escola para estudo da geografia e navegação. os portugueses prosseguiram com a exploração da costa africana, tendo atingido as Ilhas de Madeira por João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, em 1425, posteriormente colonizadas.- Em 1427, outros navegadores descobriram as primeiras ilhas dos Açores (possivelmente Gonçalo Velho). Também estas ilhas desabitadas foram depois colonizadas pelos portugueses.- Seguindo viagem para o sul do Cabo Bojador, os portugueses chegaram ao tão desejado Rio do Ouro , na actual Republica do Sahara, em 1436, onde mais tarde os portugueses capturaram, pela primeira vez, escravos africanos, inaugurando, desta forma, o comercio de escravos que iria perdurar até ao século XIX. Entre os anos 1469 – 1474, no século XV começava a exploração do Golfo da Guiné , os portugueses, com o desejo de encontrar a índia, chegaram á costa do Golfo da Guiné, que tinha extrema importância para os portugueses, pois o controlo destas significava, a partir daí, desenvolver o comércio de escravos, de ouro, do marfim e a malagueta. Como forma de prevenir ataques de concorrência entre europeus, uma das primeiras medidas tomadas por D. João II rei de Portugal, foi a de mandar construir na mina (actual Gana), o forte de São Jorge da mina, em 1482, que se tornou no principal centro de tráfico de escravos e de ouro. Mina foi o porto mais próspero da África ocidental, enquanto não se chegou a India, se retirava 400 quilos de ouro para a Europa.- Na sequência da viagens de exploração marítima portuguesas, em 1482, o navegador português Diogo Cão, chega a foz do rio Zaire ou Kongo e coloca o seu primeiro padrão de São Jorge, e Bartolomeu Dias chega ao Cabo de Boa esperança, em 1487.Com essas em torno da costa ocidental africana, os portugueses ganhavam cada vez mais certeza de que a India poderia ser alcançada por mar.

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- No mês de Julho de 1498 , Vasco da Gama conduzido por um piloto árabe, Ibn Madjid de Melinde que atravessando a costa oriental de África, chega a Calecut, cidade da Índia, descobrindo desta forma o caminho para a Índia.É com esta viagem, é que se conheceu grande parte da costa oriental africana, que se abriu para a Europa o desconhecido mundo oriental e o relacionamento dos três continentes: Europa, África e Ásia. Na tentativa de chegar a índia, uma expedição um expedição comandada por um genovês, Cristóvão Colombo, ao serviço de Espanha, chega as ilhas de Cuba e Haiti, na América, em 1492. Durante o século XVI realizaram-se outras expedições:A 22 de Abril de 1500 Pedro Alves Cabral chegava ao Brasil.- entre 1519-1522, realiza-se a viagem de circum-navegação, comandada por Fernão de Magalhães e Sebastião Elcano, pela primeira vez, o homem andava á volta do mundo dando provas da esfericidade do globo terrestre.A nova rota atlântica possibilitou, aos países ibéricos, o conhecimento de varias regiões.Como o interesse primordial da expansão era o alargamento do mercado e o desenvolvimento da economia europeia, Portugal e Espanha, disputavam entre si diversas regiões. Primeiro foi a disputa das Canárias e, depois, e depois a viagem de Cristóvão Colombo á América. A contenda reacendeu tendo culminado com um novo acordo - o Tratado de Tordesilhas – que estipulava a divisão do mundo em dois hemisférios, cabendo a Espanha o hemisfério ocidental e a Portugal o hemisfério oriental.A partir dos séculos XVII e XVIII, o domínio europeu sobre os outros continentes vai continuar a alargar-se , sendo também disputado por outras potencias. Portugal e Espanha eram o centro que comandava a economia mundial, mas este centro desloca primeiro para a Holanda e depois para a emergência de novos impérios coloniais. OUTRAS EXPEDIÇOES

O Cabo Branco foi atingido em 1441 por Nuno Tristão e Antão Gonçalves. A Baía de Arguim em 1443, com consequente construção de um forte em 1448. Dinis Dias chega ao Rio Senegal e dobra o Cabo Verde em 1444. A Guiné é visitada. Assim, os limites a sul do grande deserto do Sara são ultrapassados. A partir daí, D. Henrique cumpre um dos seus objectivos: desviar as rotas do comércio do Sara e aceder às riquezas na África Meridional. Em 1452 a chegada de ouro era em suficiente quantidade para que se cunhassem os primeiros cruzados de ouro. Entre 1444 e 1446 cerca de quarenta embarcações saíram de Lagos. Na década de 1450 descobriu-se o arquipélago de Cabo Verde.- Em 1460 a costa estava já explorada até ao que é hoje a Serra Leoa. - Em 1434 Gil Eanes, navegador português dobra o cabo Bojador- Em 1441 os portugueses ultrapassam o cabo Branco, onde adquiriam escravos e ouro em troca de alguns produtos europeus.- Em 1460 os portugueses chegam a Serra Leoa.- Em 1460, o Cabo da Boa Esperança foi dobrado, e Vasco da Gama chega à Índia, em 1498, pouco antes de Pedro Álvares Cabral descobrir o Brasil. Cristóvão Colombo foi um dos alunos da Escola de Sagres, e na década de 1470 navegou pelos territórios portugueses na Madeira (residiu em Porto Santo) e na costa africana.- Em 1488 Bartolomeu Dias, passou o extremo sul de África, confirmando a passagem do atlântico para o indico, chamando põe isso« Cabo de Boa Esperança» e torna comunicáveis os oceanos Atlântico e Indico.

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A EXPANSAO DA ESPANHADepois da descoberta das Américas por Cristóvão Colombo, os espanhóis começaram a sua expansão. Porem só a partir de 1519 começaram a exploração do continente Americano.- Em 1522 Fernão de Magalhães (português ao serviço do rei da Espanha) passando do oceano Atlântico para o oceano Pacifico, estabelecia a primeira viagem de circum-navegação. Magalhães virá a ser morto em combate nas filipinas e foi piloto espanhol Sebastião Elcano que completou a viagem de circum-navegação. Dos 265 homens que compunham a tripulação inicial só 18 voltaram a Espanha.OBS: A conquista das Américas pela Espanha foi muito terrível para os habitantes , pois já existiam civilizações ameríndias extremamente desenvolvidas como: Maias, Incas e Astecas. O Cabo Branco foi atingido em 1441 por Nuno Tristão e Antão Gonçalves. A Baía de Arguim em 1443, com consequente construção de um forte em 1448. Dinis Dias chega ao Rio Senegal e dobra o Cabo Verde em 1444. A Guiné é visitada. Assim, os limites a sul do grande deserto do Sara são ultrapassados. A partir daí, D. Henrique cumpre um dos seus objectivos: desviar as rotas do comércio do Sara e aceder às riquezas na África Meridional. Em 1452 a chegada de ouro era em suficiente quantidade para que se cunhassem os primeiros cruzados de ouro. Entre 1444 e 1446 cerca de quarenta embarcações saíram de Lagos. Na década de 1450 descobriu-se o arquipélago de Cabo Verde. Em 1460 a costa estava já explorada até ao que é hoje a Serra Leoa. EMERGÊNCIA DE NOVOS IMPÉRIOS COLONIAIS EUROPEUS(HOLANDA, INGLES E FRANCES)

Guerra dos Sete AnosOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A Guerra dos Sete Anos foi o primeiro conflito a ter carácter mundial, e o seu resultado é muitas vezes apontado como o ponto fulcral que deu origem à inauguração da era moderna. Ao longo dos sete anos que vão de 1756 e 1763, as grandes potências europeias levam a guerra às suas possessões em todo o mundo. Na Europa, a Inglaterra e a Prússia confrontam-se com as três grandes potências continentais do tempo, França, Áustria e Rússia, e a guerra termina com vantagem para a Prússia, que mantém o controlo sobre a Silésia e se afirma como concorrente da Áustria na liderança dos estados alemães, e a Inglaterra, que consegue vitórias importantes sobre a França, solidificadas no Tratado de Paris, e que lançam as bases do seu futuro império colonial.

A Guerra dos sete anos foi precedida por uma reformulação do sistema de alianças entre as principais potências europeias, a chamada Revolução Diplomática de 1756.

O Império InglêsA Inglaterra era tradicionalmente um país de intensa actividade marítima graças à sua localização geográfica. No entanto, a partir do século XVI, nomeadamente no reinado de Isabel 1

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(1558-1603), os Ingleses tentaram estender a sua influência às regiões recém-descobertas, mais precisamente à América e à África, e mais tarde à Índia, disputando o comércio transatlântico com os Portugueses e Espanhóis. A guerra de corso contra os países ibéricos, incentivada no século XVII, foi substituída pela ocupação territorial inglesa.As perseguições religiosas e os conflitos políticos levaram muitas famílias a procurar a liberdade e a paz que não existiam nos seus países na costa atlântica da América do Norte. Foi aí que fundaram as primeiras colónias inglesas: na Virgínia e no Massachusetts. A ocupação e conquista do território americano marcaram o avanço dos Ingleses. Mesmo com o direito exclusivo colonial em vigor (as colónias apenas podiam comercializar com a metrópole), os territórios americanos conseguiram atingir um elevado nível de desenvolvimento. Depois de obterem a sua independência no século XVIII, as treze colónias americanas deram origem aos Estados Unidos da América.Durante a governação de Oliver Cromwell (1653-58), foi publicado o Acto de Navegação (1651), que veio contribuir de forma decisiva para o triunfo do domínio inglês nos mares. Nessa lei estabelecia-se que todas as mercadorias produzidas nas colónias inglesas deveriam ser transportadas para Inglaterra em barcos ingleses e que os barcos estrangeiros apenas podiam transportar para Inglaterra mercadorias produzidas nos respectivos países.Esta lei foi um duro golpe nos interesses dos Holandeses, que se tinham tornado, como sabemos, os principais intermediários do comércio realizado entre o Norte e o Sul da Europa. Além disso, permitiu o desenvolvimento da marinha mercantil inglesa. Por consequência, a Holanda perdeu a sua hegemonia comercial nos mares. Apetrechada com uma poderosa frota no século XVIII, a Inglaterra tornou--se então a principal potência comercial europeia.A França não tardou também a entrar na concorrência do comércio colonial. No entanto, apesar de ter criado companhias de comércio e estabelecido colónias na América Central e do Norte, bem como no Oriente, acabou por perder quase todas em proveito da Inglaterra. RIVALIDADES EUROPEIAS, CONFERÊNCIA DE BERLIM E A SOLUÇÃO DAS LUTAS PELA OCUPAÇÃO DOS TERRITÓRIOS COLONIAIS Depois do comércio de escravos deixar de ser rentável, o comércio de especiarias e a indústria levaram a que se começasse a desenvolver o sistema económico capitalista. Foi por essa razão que as nações europeias entraram em conflito aquando da procura de matérias-primas, mercados e zonas de exploração, principalmente no século XIX.Nessa altura, a Europa saía da fase do capitalismo de livre concorrência para a fase do capitalismo monopolista, e a procura de novos mercados tornava-se uma necessidade para as potencias europeias, que na sua expansão em África e na Ásia procuravam solução para os problemas económicos. A Europa necessitava também de matérias-primas e a África era a zona mais próxima e disponível para tal.No final do século XIX teve inicio o grande movimento de expansão colonial em África.. O mundo foi Influenciado pelo sistema capitalista industrial recém-nascido em África e a situação agravou-se quando a Alemanha e a Itália concluíram os seus processos de unificação nacional e se lançaram também em busca de posições no continente africano.Os Europeus fixaram-se no interior do continente africano e, mais tarde iniciaram a penetração no interior. A resistência dos povos africanos obrigou os Europeus a recorrerem a força — não obstante, a partilha de África fez-se por via diplomática.

Portugal e Inglaterra assinaram em 1884 um tratado sobre oo Kongo, ao qual o bloco franco-belga, a que mais tarde se juntou a Alemanha, reagiu. Para norte do paralelo 8º (território de Ambriz, Soyo e Kabinda), a Inglaterra reconhecia os direitos de Portugal, mas não permitia que se promovesse a ocupação efectiva desses territórios em virtude de reservas e diferenças

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diplomáticas. Na costa norte e nas duas margens do rio Kongo (Nzadi a Kongo) havia algumas feitorias portuguesas e numerosos estrangeiros. Os Portugueses reivindicavam o direito histórico sobre as duas margens do rio Kongo, mas tal direito foi contestado pela Bélgica, Inglaterra e França. Foi este facto que provocou a convocação da Conferência de Berlim, a pedido de Portugal.Nessa conferência, que se realizou em Berlim entre 15 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de 1885 sob os auspícios do chanceler alemão Bismark, foram estabelecidas algumas regras relativas à partilha de África. A ocupação do litoral não bastava para reivindicar as terras do interior: este tinha de ser efectivamente ocupado, com notificação às potências. Sob o pretexto de resolver o problema do Kongo, foram convocadas para essa conferência 15 nações, incluindo os Estados Unidos da América e a Turquia. A África não foi representada. São eles França,Alemanha, grã-bretanha, portugal, Holanda,Áustria, Hungria, Bélgica, Dinamarca, Itália, Suécia, Noruega, Espanha,Turquia, E.U.A. e ainda a associação internacional do Kongo.Nesse fórum foi reconhecido o Estado Livre do kongo, uma criação do rei Leopoldo II da Bélgica a partir do antigo Reino do Kongo, retalhado por Portugueses, Franceses e Belgas. Foram firmadas as normas para a abolição da escravatura e criou-se o conceito de “ocupação efectiva”, que exigia dos colonizadores a “existência de uma autoridade suficiente para fazer respeitar os direitos adquiridos”, entre outras. Neste caso, foi entregue à administração portuguesa em Angola uma região, com as fronteiras estabelecidas entre os paralelos 5º e 17º25’ de latitude Sul, incluindo a margem esquerda do majestoso rio Kongo.Quanto à administração belga, para ter acesso ao mar, foram-lhe entregues as regiões de Matadi, Boma, Banana e a margem direita do rio Kongo. Aí começou a corrida à ocupação efectiva de África. Os princípios da repartição colonial de Berlim foram praticamente reconfirmados na Conferência de Bruxelas de 1 889-1890. Podemos recordar que o tratado que veio estabelecer os limites a norte de Angola foi assinado apenas a 25 de Maio de 1891 entre Portugal e o Reino do Kongo, representado pelo Rei D. Pedro V (Kivuzi) (1855—1891).A expansão europeia trouxe grandes alterações ao mundo, pois até ao século XV grandes partes do globo viviam completamente separadas entre si. A expansão europeia veio abrir através dos oceanos uma rede de rotas comerciais que passaram a ligar todas as regiões do mundo, originando no século XV a primeira economia à escala mundial. Esta mundialização da economia fez-se sobretudo em proveito da Europa e contribuiu decisivamente para o seu futuro desenvolvimento.1.4.3. Consequências económicas da expansão europeiaEconomia à escala mundialNo século XV a maior parte dos países do mundo desenvolviam as suas trocas comerciais em determinados espaços geográficos, nas áreas mais desenvolvidas e mais próximas, em particular na Europa Ocidental, Próximo Oriente e China. No entanto, a rede de rotas comerciais estava bem longe de cobrir todas as partes do mundo.

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No século XVI, a situação altera-se profundamente com a expansão de Portugal e Espanha. A partir dessa altura, os mercadores da península Ibérica e, mais tarde, de outros países europeus, começaram a instalar-se através da força em quase todas as partes do mundo. TAREFA

1- Quais são as potencias que substituíram Portugal e Espanha no mar?2- Qual era a politica defendida pelos portugueses e espanhóis no que respeita ao domínio

dos mares?3- O que entendes por mare liberum? 4-Explica o que é o mare clausum4- Consequências económicas da expansão europeia numa economia à escala mundial?5- O que provocou as rivalidades entre os europeus?6- Cita o lugar da conferência e os participantes?

A ERA DO TRÁFICO DE ESCRAVOS NEGROS

Na 7a classe, estudaste já os principais Estados e as características gerais das sociedades africanas no período que vai do século VII ao século XV, que corresponde à chamada época feudal europeia e, em África, a um período de desenvolvimento económico, político e cultural em nada inferior ao da Europa. Isto aplica-se não só às regiões directamente influenciadas pela civilização islâmica (Norte de África, região sudanesa, costa oriental), mas também às marcadas por uma cultura negro- africana original (África Subsariana, Central e Meridional).Antes do tráfico europeu, já os Árabes traficavam escravos africanos. Estes eram há muito objecto de comércio regular entre o Sara e o oceano Índico, que os colocava em contacto com o exterior. As relações da Arábia com África pelo mar Vermelho e pelo oceano Índico explicam o papel desempenhado pelos Árabes no tráfico negreiro. Este comércio iniciou-se em pequena escala, mas depois conheceu uma grande evolução na altura da expansão árabe na África do Norte.Uma das principais vias do tráfico era a que ligava a costa oriental de África com a Arábia. Os escravos eram uma das mercadorias mais procuradas na Arábia, sendo as outras o marfim, o ouro e a madeira. Uma segunda via do tráfico unia a Arábia ao Corno de África, mais precisamente à Abissínia.A Europa nunca esteve ausente durante as correntes de trocas negreiras anteriores ao tráfico transatlântico. Inicialmente a sua participação foi menor e indirecta, e fez-se por intermédio dos seus vizinhos muçulmanos. Porém, a partir do século XIV, os Europeus, principalmente os da península Ibérica, procuraram a todo o custo abrir vias ou rotas de trocas directas com a África atlântica.A princípio, estas trocas acabaram por se concentrar nos escravos como mercadoria privilegiada, mas os Europeus tornaram-se rapidamente independentes dos Árabes, pelo que o comércio de escravos praticado pelos Europeus veio a conhecer uma amplitude sem precedentes.A escravatura era um estatuto social corrente na Europa medieval. No final da Idade Média, os escravos que se encontravam na Europa eram na maior parte originários dos territórios situados nas margens do mar Negro ou do Cáucaso. Os negros de África constituíam uma excepção. Porém, a introdução destes africanos proveio da iniciativa dos Árabes, e os próprios Europeus não tardaram a utilizar um número cada vez mais crescente de escravos negros.A partir do século XVI, o curso da história africana alterou-se brutalmente, quando a Europa entrou exactamente na mesma época em período de expansão económica e geográfica, passando a interferir na evolução das sociedades africanas de uma forma que se foi acentuando nos séculos seguintes. Com os “grandes descobrimentos” começa uma evolução divergente: civilizações que não sendo semelhantes mas têm um nível de desenvolvimento equivalente vão distanciar-se de

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tal maneira que os Europeus do século XIX, em plena fase de expansão imperialista, acharão normal e natural apoderar-se gradual e depois totalmente do continente africano.Do século XVI ao século XVIII, a África foi palco de um dos maiores genocídios da história da humanidade: milhões de africanos foram arrancados violentamente das suas terras e do seu meio social ou pereceram para enriquecer uma burguesia mercantil sedenta de ouro, prata e outros produtos preciosos.

É este período que se designa por “Era do Tráfico”, para África, e “Período de Acumulação Primitiva de Capitais”, para a Europa (ver esquema acima). O tráfico de escravos foi o factor essencial da história africana durante este período.Enquanto para os Europeus, especialmente para as suas classes dominantes, o tráfico significou ouro, marfim, especiarias, açúcar, tabaco, enfim, riqueza e desenvolvimento das forças produtivas, para os Africanos o tráfico significou extermínio, expulsão e deslocação, perda dos seus melhores filhos, degradação da economia, bem como atraso no desenvolvimento das forças produtivas.

Primeiros contactosDesde tempos remotos, houve contactos entre África e os países do Mediterrâneo através das rotas de caravanas transarianas.As mercadorias do Norte de África, do Próximo Oriente e da Europa (espadas de aço, ferragens, sedas, tecidos e escravos, entre outros produtos) chegavam até à África sudanesa para serem trocados por ouro, marfim, sal, pimenta e escravos. Entre as várias regiões africanas também havia trocas comerciais que permitiam contactos culturais e relações politicas. Os Estados sudaneses (Gana, Mali, Songhai) mantinham ligações com o Egipto; havia contactos entre o Senegal e a Somália; entre o Chade e as cidades do Nilo; das cidades da costa do oceano Índico com os Estados da bacia do Nilo, e do litoral com o interior.Até ao século XV, o comércio entre a África e a Europa efectuava-se através das rotas transarianas e da costa do oceano Índico por intermédio de mercadores árabes, que encaminhavam os produtos para as grandes cidades italianas e ibéricas.No século XV, o tráfico mudou de orientação. O Sara cedeu progressivamente o lugar ao oceano Atlântico, onde os contactos entre africanos e europeus se multiplicaram devido às descobertas científicas e técnicas que permitiram uma navegação mais segura e à grande necessidade que a Europa tinha de ouro e especiarias. Os primeiros europeus que desembarcaram nas costas africanas foram os Portugueses, movidos por interesses lucrativos e de aventuras.No início da expansão, os Europeus limitaram-se à costa ocidental de África, mas a procura do caminho marítimo para a Índia, outra fonte de ouro e especiarias, levou-os à costa oriental africana.O objectivo principal dos Portugueses na costa oriental era o de se apoderaremdo mercado árabe. A sua intromissão no oceano Índico foi desastrosa para osÁrabes, pois perderam o papel de intermediários entre a Índia, o Extremo Orientee a Europa.

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Na costa oriental, os contactos afro-portugueses não tiveram o mesmo carácter que tinham assumido na costa atlântica. Quando ali chegaram, os Portugueses descobriram que as cidades mercantis que estavam em contacto com a Pérsia, a Índia e a China detinham há séculos uma civilização mais sofisticada do que a sua. Assim, a primeira atitude foi destruir, pilhar e queimar Quilôa, Mombaça e outras cidades do litoral Índico, cujo fraco poder defensivo não pôde impedir esta agressão violenta.Os escravos eram obtidos em África através de assaltos aos acampamentos tuaregues ao longo do litoral do Sara e às aldeias negras da região do Senegal. Os primeiros navegadores portugueses trouxeram para Lisboa alguns escravos negros que designaram por “mouros”.A compra e venda de escravos negros por parte dos Europeus teve o seu início em 1441, quando os navegadores Antão Gonçalves e Nuno Tristão levaram para Lisboa dez escravos capturados na Costa da Guiné. Em 1444 chegava a Lisboa o primeiro grande carregamento de escravos, num total de 263. À curiosidade inicial seguiram-se rapidamente razões de ordem comercial, pois a partir de 1510 a 1555 um décimo da população de Lisboa era composta por escravos e seus descendentes. Alguns destes escravos eram empregues como mão-de-obra na agricultura, sobretudo no Sul de Portugal (Algarve), na Madeira e nos Açores.No princípio do século XVl, os Portugueses, já solidamente estabelecidos nas ilhas de Cabo Verde e São Tomé, instalaram aí plantações de cana-de-açúcar, tendo capturado escravos para estas culturas nas costas do Senegal, na Costa do Ouro e no Benim.A descoberta da América por Cristóvão Colombo em 1492 marca uma viragem na história da humanidade, em geral, e na história de África, em particular. O tráfico de escravos não só aumentou extraordinariamente como se tornou uma instituição que durante cerca de quatro séculos iria marcar de forma dramática três continentes — a África, a América e a Europa no que foi designado como “Grande Circuito” ou “Comércio Triangular”.A exploração da terra na América exigia muita mão-de-obra. Os índios, pouco numerosos e habituados a uma vida nómada, não aguentaram a escravatura: morriam, fugiam ou eram massacrados.Também foram enviados europeus degredados ou servos, mas estes não tinham experiência na agricultura tropical. Então, os grandes proprietários recorreram aos escravos africanos, mais fortes e experientes na agricultura tropical. Foi o início do comércio triangular.A mão-de-obra africana tornava-se cada vez mais necessária à medida que aAmérica era explorada nos seus recursos agrícolas e minerais. As plantações dasAntilhas e do continente, sobretudo do Brasil, desenvolviam as culturas do açúcar, do tabaco e do café. A exploração mineira tinha como objectivo a obtenção de ouro e prata necessários à expansão do capitalismo europeu.O capitalismo mercantil europeu foi, pois, marcado desde o início por uma concorrência extraordinária, levando os países participantes a lutas constantes.

Como obtinham os portugueses escravos em Angola Durante a primeira metade do século XVII havia três métodos principais para se obter escravos. O primeiro consistia em mandar traficantes comprá-los aos mercados dos povos mais afastados, junto às fronteiras do congo e de Angola. Uma das feiras de escravos mais importantes realizava-se entre o povo Mpumbu, próximo do lago Stanley. Do nome desse povo deriva o dos comerciantes que se deslocavam tanto para o interior, assim como os dos mercados que frequentavam — respectivamente “pombeiros” e“pombos”O segundo método consistia em obter escravos através da imposição de tributos aos chefesmpumbu conquistados. Esse tributo tinha que ser pago em jovens adultos conhecidos pelo nome de “peças da Índia”. Estas “peças” eram a princípio obtidas livremente pelos soldados ou pelo oficial,..O terceiro método de adquirir escravos era através de guerras directas. Durante as guerras de alargamento territorial, os comerciantes acompanhavam os exércitos portugueses, comprando cativos aos soldados que a eles tinham direito.

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O perigo deste sistema era que os comerciantes perdiam a sua mercadoria sempre que o exército português era derrotado...VE SE SABES1 Por que razão os portugueses ocuparam a costa oriental africana?2- Qual foi a consequência desta ocupação para os árabes?3- A descoberta das Américas por Cristóvão Colombo em 1492 marca uma viragem na historia da humanidade, em geral, e na historia de África, em particular. Porquê?4- Explica o sentido da expressão “comercio triangular”5- Quais eram os métodos a que recorriam os traficantes negreiros para obterem escravos?O tráfico de escravos negros deu origem a um circuito comercial que se designou por “comércio triangular”. Este comércio praticado pela maioria dos países europeus, e depois pelos americanos, com a cumplicidade dos chefes africanos durou até ao século XIX e marcou fortemente a história africana.O COMERCIO TRIANGULARA descoberta e a exploração das Américas encontra-se na origem deste acto hediondo praticado pelos Europeus.Os navios negreiros partiam dos portos europeus carregados de artigos, geralmente de baixo valor, tais como espelhos, colares e aguardente (misturada com água e sabão, para fazer espuma), entre outros. Chegados à costa africana, os europeus trocavam estes produtos por ouro, peles, goma, marfim e, sobretudo, escravos, que eram transportados para as Américas e vendidos aos colonos. Estes depois forneciam os produtos das suas plantações (açúcar, algodão, café, tabaco) e das minas (ouro, prata e pedras preciosas), que eram levados para a Europa nos mesmos navios negreiros.O comércio triangular dava assim lucros fabulosos com a venda dos produtos europeus em África, escravos nas Américas e produtos americanos na Europa.No início, o transporte era organizado por particulares. Depois, os governos europeus, que até então estavam alheios ao tráfico negreiro, acabaram por aceitar e encorajar esta prática devido aos interesses económicos que representava.Eram seis as regiões principais do tráfico, as quais abrangiam a área que vai de Arguim (Mauritânia) até Angola:• Senegal • Costa do Marfim• Serra Leoa • Costa do Ouro (actual Gana• Costa da Guiné • Costa dos Escravos (Togo, Daomé) Entre o Senegal e a Costa do Ouro também existia tráfico, mas era insignificante em relação à parte oriental do golfo da Guiné e à costa do Kongo e de Angola.O comércio triangular foi inicialmente monopólio dos Portugueses e Espanhóis. Até ao século XVI, encaminhavam os escravos para Cabo Verde, São Tomé, Brasil e ilhas de Cuba e S. Domingos (Haiti).Em 1508, a coroa espanhola promulgou a primeira lei relativa ao transporte de escravos negros para as Américas.Em 1510 foi ordenado o primeiro transporte de escravos para a América. A partir de 1515 os rendimentos da monarquia espanhola provinham sobretudo do tráfico de escravos. O direito de resgatar escravos e dispor deles era uma prerrogativa (direito) real. Foi assim que surgiu o primeiro “asiento” em 1518, concedido aos Portugueses pela coroa de Espanha, isto é, o direito de comprar escravos em África e de os vender na América mediante condições especiais e precisas estabelecidas pelo rei de Espanha. Em 1693, a coroa espanhola voltou a renovar o contrato de “asiento” à companhia portuguesa de Cacheu. ESCLARECER • Asiento — era o direito que o governo espanhol concedia a uma nação ou companhia estrangeira privada a fim de abastecer as suas colónias da América de escravos negros.

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O tráfico português destinava-se principalmente ao Brasil, onde a procura era muito elevada nas plantações açucareiras e continuava a aumentar no sector mineiro. O Estado esforçava-se por fazer um controlo cerrado deste comércio, tanto na partida como na chegada às Américas.

No fim do século XVI, grandes potências como a Holanda, a Inglaterra e a França entraram em competição no comércio negreiro. Em 1580, Portugal perdeu a sua independência assim como as suas possessões na Ásia e as feitorias africanas. Entre 1600 e 1680, os Holandeses foram os grandes beneficiários do comércio e da navegação no Atlântico, tendo como concorrentes os Franceses e os Ingleses.No início do século XVII, estima-se que mais de um milhão de escravos tinhamsido exportados para as Américas, sendo mais de metade proveniente deAngola, do Kongo e do Benim. A outra parte provinha da Costa do Ouro (actualGana) e da Senegâmbia (região situada entre o rio Senegal e a Serra Leoa).O golfo da Guiné e a Costa do Ouro (Gana) eram as zonas de maior concorrência comercial, onde os mercadores europeus se debatiam pela obtenção de melhores produtos e por maior número de escravos. Na Costa do Ouro havia trinta e três fortes pertencentes a Holandeses, Ingleses e Dinamarqueses. Cada uma destas potências tinha uma determinada zona de influência: na Costa dos Escravos (golfo do Benim) estavam os Franceses, Holandeses e Portugueses; na Senegâmbia, Gabão e Kongo, os Ingleses e Franceses. A costa sul do rio Kongo era monopólio português, e a concorrência nesta zona não era muito grande.Porém, os navegadores europeus só conseguiram instalar-se em certos locais. Para fazerem comércio fundaram feitorias, isto é, pequenos estabelecimentos comerciais, por vezes fortificados.Em 1482, os Portugueses construíram o primeiro forte na Costa do Ouro, a que chamaram castelo de São Jorge da Mina (El-Mina), pensando a partir daí chegar às minas de ouro, o que nenhum europeu conseguiu até ao século XIX devido à resistência dos reis e chefes da região.AS FEITORIASOs grandes núcleos do comércio europeu em África eram a foz do Casamansa, na Guiné (ouro); a Costa da MaLagueta, na actual Libéria (Gindungo); São Jorge da Mina, no actual Gana (ouro e escravos); o golfo do Benim (escravos e especiarias); a costa dos Camarões; a foz do rio Zaire; a região do Cabo; e a África Oriental (escravos e marfim).Os Portugueses foram os primeiros a estabelecer feitorias nestes centros de comércio: Arguim (Mauritânia), Goreia (Senegal), Rio Fresco (Cabo Verde), Transval (Gâmbia), Casamansa (Guiné), Samina (Costa do Marfim), Mina (Costa do Ouro — Gana), São Tomé e São Paulo de Luanda. O monopólio deste comércio pertencia ao rei de Portugal, que concedia a contratadores o direito de traficarOs estados marítimos do Noroeste Europeu -França, Inglaterra e Holanda, cujo poderio económico e comercial não cessava de aumentar - foram atraídos no século XVII para a África Subsariana pelos produtos que os traficantes árabes e portugueses traziam para a Europa. Assim, começaram a disputar as feitorias portuguesas na África, Índia e América, aproveitando a ocupação de Portugal pela Espanha, sendo necessária uma guerra de reconquista para recuperar São Tomé, Luanda e a colónia do Brasil.Os Franceses instalaram-se no Senegal onde fundaram S. Luís, conquistaram a Goreia aos Holandeses e ocuparam a região do Alto Volta e Madagáscar.A Costa do Ouro foi frequentada por Ingleses que se instalaram na Gâmbia, e por Dinamarqueses e Alemães que também criaram alguns entrepostos.O papel das feitoriasAs feitorias tiveram um duplo papel: eram pontos de escala para os navios que se dirigiam para a índia ou para a América e também serviam como entrepostos e lugares de troca entre traficantes europeus e africanos. Por vezes eram ainda usadas como ponto de partida para o interior, mas a

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penetração foi fraca ou quase nula, pois os africanos da costa impediam o acesso ao interior do continente aos Europeus, utilizando para isso os seus próprios intermediários.Os produtos trocados nas feitorias eram, do lado europeu, tecidos, pacotilhas, aguardente e armas de fogo; e do lado africano, ouro de Bambuk (Gâmbia) e de Buré (Guiné), malagueta da Guiné e da Mina, marfim e escravos.Inicialmente, os produtos africanos eram enviados para as ilhas da Madeira e dos Açores e para Lisboa, seguindo daí para outros grandes centros de comércio europeus.Porém, as primeiras relações diplomáticas e comerciais deterioraram-se rapidamente, e, no fim do século XV, o escravo negro tornou-se o elemento essencial das trocas entre a África e a Europa.O tráfico negreiro no litoral ÍndicoNo litoral Índico, os Árabes tinham instalado há muitos séculos vários entrepostos comerciais, mantendo o monopólio do comércio desde o cabo de Guardafui, na Somália, até Sofala, em Moçambique.Quando Vasco da Gama chegou à região, começou a luta entre Árabes e Portugueses, tendo estes arrebatado o controlo do Índico durante a primeira metade do século XVI, Estabeleceram várias feitorias no litoral - Sofala, Quelimane, ilha de Moçambique — e tentaram penetrar no interior pelo Zambeze, onde estabeleceram entrepostos em Sena (1530) e Tete (1537), a fim de chegarem às célebres minas de ouro do Monomotapa. Mas aqui tiveram que fazer face à resistência não só do Monomotapa, mas também de outros reis africanos da região a quem tiveram de pagar tributo para poderem traficar. Todos os anos seguia para Tete uma representação do Monomotapa, para receber impostos dos Portugueses.AS CONDIÇÕES DO TRÁFICO NEGREIROAo chegarem à costa com as suas mercadorias, os traficantes de escravos negros desembarcavam em portos onde negociavam com os intermediários. Nos primeiros tempos, as casílias para a captura de escravos aconteceram com os soberanos locais, que passaram a vender aos europeus os seus condenados ou prisioneiros de guerra. Porém, com o desenvolvimento do tráfico, estes escravos deixaram de ser suficientes e passou a ser necessário obter ainda mais noutras regiões. Como forma de penetrar no interior, os negreiros recorreram aos “lançados” ou “pombeiros”, descendentes de antigos negreiros que se tinham fixado em África e tinham como função organizar o tráfico no interior. Os pombeiros percorriam o interior do continente e depois traziam para a costa caravanas de escravos capturados nas “razias”.Nos mercados, os escravos eram examinados como gado, avaliados e vendídos em leilão, e depois armazenados em locais próprios, empilhados em quartos húmidos e mal iluminados enquanto aguardavam pelo embarque.Os navios negreiros eram barcos especiais com capacidade para quinhentas (500) ou seiscentas (600) pessoas. Os porões destes barcos, equipados com correntes, eram preparados com o fim de levarem o máximo de carga humana no pouco espaço disponível. As condições de transporte eram péssimas, sem qualquer cuidado de salubridade, pelo que um quarto dos escravos morria durante o trajecto.Os negreiros classificavam os escravos segundo a sua idade, robustez e estado de saúde. Só depois de um exame anatómico minucioso e completo é que o escravo estava pronto para ser vendido. Depois de adquirido, o escravo era marcado com um ferro em brasa com as iniciais do comprador. Alguns escravos lançavam-se ao mar antes do embarque, e outros suicidavam-se durante a penosa travessia e devido às condições desumanas. Os escravos doentes eram lançados ao mar e os outros eram submetidos à chegada a novos exames médicos: dentes, olhos, órgãos sexuais, mãos e pés. Por vezes eram chicoteados para se testar a sua resistência.Nas plantações e nas minas a violência continuava, não havendo qualquer legislação que defendesse e protegesse o trabalho dos escravos, pois estes não eram mais do que objectos,

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máquinas de trabalho. Os escravos eram designados como “peças da Índia” ou “madeira de ébano”, pois, tal como a madeira, eram abatidos, vendidos, transportados e entregues.

Testemunho de um senhor e dos seus escravosLembro-me de ter tido momentaneamente ao meu serviço um negro de muito boa aparência e recém-desembarcado, cujos punhos e tornozelos estavam em chaga devido às correntes. Perguntei-lhe qual era a causa.- O meu pai, respondeu-me ele, era o rei e foi morto à traição pelos filhos dum príncipe vizinho. Para procurar vingar a sua morte, ía diariamente à casa com algum dos meus, na esperança de encontrar os assassinos, mas tive a infelicidade de ser surpreendido e acorrentado; daí vêm estas vergonhosas cicatrizes que vê aqui. Venderam-me em seguida aos nossos compatriotas, na costa da Guiné, suplício estimado mais horrível do que a própria morte. A história do meu negro Quaco era ainda mais extraordinária: “Os meus pais”, disse-me ele, “viviam da caça e da pesca. capturaram-me muito jovem enquanto eu brincava na areia com os meus dois irmãos. Imediatamente meteram-me num saco e levaram-me a várias milhas dali.”Tornei-me então um dos escravos de um rei da costa da Guiné, que já tinha um número considerável. Quando ele morreu, decapitaram a maior parte (dos escravos), que enterraram com o rei. As crianças da minha idade foram distribuídas como presentes aos capitães do seu exército, e o patrão de um navio holandês comprou-me em troca de um fusil e um pouco de pólvora.” O DESENVOLVIMENTO DO TRÁFICO E A RESISTÊNCIA AFRICANA O comércio triangular, apesar de proporcionar enormes lucros aos comerciantes europeus, também comportava alguns riscos, tais como naufrágios, pirataria, guerras entre as potências e a resistência dos povos africanos. Como forma de se protegerem, os armadores e mercadores europeus começaram a agrupar-se em associações ou companhias concessionárias apoiadas pelos governos dos respectivos países. Os reis de cada país davam a cada companhia de mercadores o monopólio nacional do comércio numa determinada região da costa oriental e ocidental da África através de uma “carta de garantia”, na qual eram afixados os direitos e as obrigações a cumprir.Estas companhias concessionárias estavam organizadas em monopólios mediante uma concessão real - obtinham o monopólio comercial e beneficiavam de privilégios, mas os reis exigiam parte dos lucros obtidos no comércio.O tráfico de escravos, que fora praticado sobretudo por particulares (navegadores, comerciantes, piratas e aventureiros) durante os séculos XV e XVI, passou a ser exercido pelas grandes companhias a partir do século XVII. Foram estas que se encarregaram do comércio transatlântico e da exploração das colónias das Américas. Estas companhias instalaram feitorias e construíram fortes e armazéns de escravos. Entre as várias companhias concessionárias destacaram-se as francesas (Companhia do Cabo Verde e Senegal, Companhia das Índias Ocidentais), as inglesas (Companhia dos Aventureiros Reais de África) e as holandesas (Companhias das Índias Ocidentais e das Índias Orientais). O desenvolvimento do tráfico e a resistência africanaO comércio de escravos na costa oriental africana e nas ilhas do Índico antes da chegada dos Portugueses nunca tomou as proporções do tráfico transatlântico.Este comércio era feito pelos Árabes, que encaminhavam os escravos para aArábia e o Médio Oriente.

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No entanto, as lutas entre Monomotapa e as tribos vizinhas deram aos Portugueses a oportunidade de iniciar o comércio de escravos. Em 1544, fundaram uma feitoria em Quelimane para onde eram escoados os escravos capturados nas guerras entre africanos e que se destinavam à Índia, a Portugal e ao Brasil. Ainda assim, o transporte para Portugal e para o Brasil mostrou-se improdutivo, pois a viagem era longa e uma grande parte dos escravos morria no caminho. O tráfico passou então a dirigir-se essencialmente para a Índia.Só a partir de 1640, quando Angola esteve ocupada pelos Holandeses e a costa ocidental indiana se manteve nas mãos dos Portugueses, é que os traficantes de escravos negros se começaram a dirigir à costa oriental à procura de escravos para satisfazer o número necessário para o trabalho nas roças do Brasil. Porém, só nos finais do século XVIII é que este comércio se intensificou. Os maiores centros de venda de escravos na costa oriental de África eram a Ilha de Moçambique e Quelimane.A RESISTÊNCIA AFRICANAA resistência africana não tardou a organizar-se, e os europeus caíram vítimas das técnicas de combate e do recurso às técnicas de guerrilha com a utilização das famosas flechas envenenadas, que tanto os intimidavam.Em 1446, uma nova expedição destinada a capturar africanos na Costa da Guiné orientada por Nuno Tristão foi atacada quando invadia o rio Cacheu. Dos vinte e sete (27) membros da expedição, apenas sete sobreviveram e o próprio Nuno Tristão aí encontrou a morte.A morte em combate dos primeiros europeus obrigou-os a uma reflexão que, por sua vez, chamou a atenção para a necessidade de mudanças.As medidas tomadas resultaram da intervenção do Infante D. Henrique, o Navegador, que impôs a renúncia à razia, substituída por um sistema baseado em relações comerciais normais.No entanto, os Europeus jamais renunciaram à razia, técnica que sobreviveu até inícios do século XIX, embora a maioria das operações tivessem já um carácter comercial.Apesar dos europeus terem começado por praticar a compra de escravos fornecidos pelas guerras havidas entre africanos, posteriormente desencadearam as suas próprias campanhas militares. No fim do século XVI e no século XVII o povo Mbundu tornou-se o principal alvo dessas campanhas.No Kongo, os conflitos contra os Portugueses eram frequentes devido aos abusos, provocando revoltas por parte do povo e da própria aristocracia. No século XVI, o povo konguense manifestou-se contra os traficantes portugueses, que na ânsia de enriquecerem capturavam os filhos da terra. O rei Álvaro ordenou o encerramento do porto de Mpinda e a expulsão dos traficantes europeus.A oposição mais violenta contra os agressores estrangeiros deu-se quando os missionários actuaram contra as crenças animistas locais e o rei do Kongo ordenou a queima de objectos de culto. Este acontecimento chamou-se “Revolta da Casa dos Ídolos” e teve lugar em 1591 —92, durante o reinado de D. Afonso 1 (Nzinga Mvemba).Outras resistências sucederam-se contra os agressores estrangeiros através de revoltas que destituíram monarcas, fazendo-os substituir por outros que oferecessem maiores garantias na defesa da soberania do reino. A resistência que os Portugueses encontraram na tentativa de conquistar o Ndongo parece ter sido superior àquela que esperavam.A principal razão era combater contra o poder estabelecido pelo Ngola e os seus chefes locais, reforçados por vezes pela aliança com alguns grupos.A resistência foi-se organizando e generalizando. De 1590 a 1600 a guerra conduzida pelo Ngola Kiluanji e os seus aliados conseguiu limitar as posições portuguesas e os fortes de Muxima, Massangano e Luanda.No entanto, os Portugueses compreenderam que o tráfico de escravos estava seriamente afectado, pois os Mbundu podiam bloquear as rotas comerciais e encerrar os mercados. Foram então enviados emissários a Ngola Mbandi para negociar a reactivação do comércio de escravos. Mas estes impuseram algumas condições:• Auxílio dos Portugueses ao Ndongo para expulsar Kassanje, chefe dos Imbangalas do reino

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• A restituição ao Ngola dos súbditos e chefes que tinham sido aprisionados durante a guerra.Do lado dos Portugueses houve um bom acolhimento à negociação das tréguas, dada a urgência que tinham em intensificar o tráfico que a guerra havia interrompido. O acordo assinado em 1656 entre Portugueses e Nzinga restabeleceu com efeito o comércio entre a colónia e a Matamba durante os últimos anos de vida da rainha.VÊ SE SABES...1. O que eram as Companhias Concessionárias? Qual a sua razão de ser?2. Quais eram as companhias mais famosas?3. O que levou os Europeus a uma reflexão para a mudança no método de captura dos escravos? 4. Quando se deu esse ponto de viragem? 5. Destaca o papel da Rainha Nzinga Mbande na resistência contra os Portugueses. Carácter exclusivo e racista do tráfico praticado pelos EuropeusA partir do século XV o tráfico de escravos mobilizou todas as nações europeias que controlavam o fluxo internacional de escravos, recebendo por isso avultadas verbas de acordo com o número de escravos que exportavam.O escravo perdia a liberdade, aceitando a sua nova condição nacional e eliminando as relações de parentesco nas quais tinha sido integrado e que até esse momento haviam determinado a sua vida.O escravo era, pois, brutalmente afastado da sua nação, da sua ecologia, dos seus espíritos e, sobretudo, do seu parentesco. Esta nova condição era imposta todos os dias, sendo o escravo obrigado, sob pena de morte, a aprender as novas regras, as novas línguas e até as novas religiões.Todo este processo que convertia um homem livre à condição de homem-mercadoria e de homem-objecto decorreu com revoltas constantes, que eram reprimidas brutalmente — o que demonstra o carácter exclusivo e racista das práticas dos traficantes negreiros.Os homens africanos transformados em escravos com destino às Américas eram submetidos a uma série de operações que procuravam não só transformá-los em mercadoria, como também desligá-los da sua própria origem.Não bastava ser escravo: como qualquer outra mercadoria, o escravo devia apresentar as características procuradas pelo comprador. Assim, os corpos dos escravos eram portadores de informações: as tatuagens e as escarificações funcionavam como autênticos bilhetes de identidade, informando quanto à sua origem, assim como à sua situação hierárquica.Segundo as ideias eurocêntricas, “para os africanos poderem integrar o espaço branco e divino, deviam ser escravizados e sujeitos a rituais purificadores”. A sua coabitação com a humanidade só era possível através do sofrimento.Foi nestas condições que se processou a escravatura. Os africanos capturados eram transformados em escravos, e muitos daqueles que já eram escravos dos africanos eram vendidos para se tornarem escravos dos Europeus. Com os corpos “marcados”, arrancados do seu território, do seu grupo e do seu continente, eram remetidos para uma categoria de inferioridade absoluta. Sem família e sem os seus deuses, deixaram de pertencer ao chamado espaço “diabólico” africano para se tornarem “coisas” do espaço considerado civilizado e humanizado — o espaço da violência colonial.A violência exercida contra os escravos africanos integrava-se também numa concepção religiosa que considerava a violência física exercida pelos sacrificadores e traficantes como sendo normal e indispensável. Uma das primeiras condições era modificar o corpo dos escravos africanos por meio de tatuagens — marcas a fogo que inscreviam na sua pele o nome do proprietário, de forma a serem conhecidos e encontrados em caso de fuga.No porto marítimo, antes do embarque, eram novamente marcados no peito com as armas do rei e da nação de quem ficavam vassalos. A sua própria conf iguração física era assim profundamente alterada. As marcas a fogo eram tidas como purificadoras e agiam como uma

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borracha que apagava o passado, considerando-o nulo e indicando a nova situação daqueles que eram africanos — escravos dos brancos, primeiro destinados ao comércio negreiro e depois confiados aos fazendeiros das Américas.A grande operação de transformação do corpo dos escravos com um módulo de fogo demonstrava claramente que o escravo estava condenado a não poder circular livremente na sociedade dos brancos. Perdia a sua autonomia para se transformar em mercadoria. Os corpos dos escravos que aguardavam o embarque para as Américas eram modelados nos espaços africanos, Associavam-se as marcas do fogo e dos chicotes ao rigor das algemas, dos grilhões e das gargalheiras: toda uma panóplia de instrumentos de contenção que tinha como objectivo restringir os movimentos das mãos e dos pés dos escravos.VÊ SE SABES...1. Porque se afirma que o escravo era considerado uma mercadoria? Explica. CONSEQUÊNCIAS DO TRÁFICO DE ESCRAVOSComo vimos, foram várias as consequências da agressão europeia em relação aos povos do continente africano.A actividade desenvolvida pelos Europeus, Portugueses em especial, Holandeses, Franceses e Ingleses, afectou vastas regiões de África nos séculos XVI a XVIII, trazendo consequências demográficas, económicas e políticas.

CONSEQUÊNCIAS DEMOGRÁFICASO tráfico atingiu sobretudo os elementos mais vigorosos da população africana — “as peças da Índia”-, o que provocou o enfraquecimento demográfico e o sub - povoamento do continente, Com efeito, a transferência de milhões dos melhores produtores (cultivadores, ferreiros, tecelões) e reprodutores e o extermínio de tantos outros milhões através de guerras, razias, fadiga e doenças, contribuíram para que a população africana diminuísse, enquanto o resto da população do globo se encontrava em franca expansão.Se, no início, o tráfico se limitou aos escravos residentes no litoral africano, a partir do fim do século XVI a procura aumentou de tal maneira que levou os chefes africanos a fornecerem não apenas os verdadeiros escravos, mas a procurarem outros através de guerras e razias no interior do continente. A actividade produtiva foi substituída pela guerra, pois essa passou a ser a situação mais lucrativa. Assim, no litoral de Angola e do Senegal, reis, chefes e mercadores africanos envolveram-se irremediavelmente no comércio de escravos, e as suas terras passaram a ser exclusivamente locais de exportação de mercadoria humana.As sociedades começaram a dividir-se em dois grandes grupos: a massa de produtores e uma minoria de nobres e traficantes, enriquecida por meio de um novo tipo de comércio. Para estes, criou-se um círculo vicioso: para poderem capturar escravos, necessitavam de armas de fogo e para obter armas de fogo (que se tornaram um elemento imprescindível para a própria sobrevivência dos Estados e das classes no poder) era necessário vender cada vez mais escravos.Como o mercado estava em constante expansão, os povos do litoral e do interior mais próximo mantinham-se em situação de beligerância (guerra) contínua. Mesmo os Estados mais poderosos do interior, que se recusavam a vender escravos, viram-se obrigados em determinada altura a travar autênticas batalhas para alcançarem a costa e disporem de armas para se defenderem. As relações entre os diversos Estados e povos deterioraram-se. Despojadas dos seus melhores elementos - massacrados ou deportados -, as sociedades desorganizaram-se. As migrações forçadas de populações apavoradas, fugindo às razias, criaram uma situação de instabilidade tal que iria minar as bases da sociedade rural africana.A desorganização de sociedades inteiras (povos, comunidades, reinos) atingiu tais proporções que quando no século XIX as potências coloniais europeias decidiram partilhar entre si o continente africano, respondendo às exigências do capitalismo monopolista da época,

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encontraram povos material e moralmente arruinados como resultado de quatro séculos de rapina e razia.Ainda assim, os povos africanos mostraram-se capazes de oferecer resistência à ocupação, e não foi fácil aos colonialistas dominar o continente africano.

CONSEQUENCIAS ECONOMICASO tráfico transatlântico veio instaurar relações comerciais de um novo tipo, em que o escravo servia de equivalente monetário, do mesmo modo que a cabeça de gado ou a barra de sal. Sob o ponto de vista económico, o resultado foi a redução da capacidade produtiva das sociedades (devido às deportações e à insegurança), a instauração da fome e o aparecimento de epidemias (mais frequentes em populações esfomeadas ou enfraquecidas).Como a principal mercadoria procurada era a humana, não havia estímulo para a produção destinada ao mercado, tendo-se deixado de produzir mesmo para o consumo, pois certas mercadorias passaram a ser trazidas da Europa (instrumentos, tecidos, bugigangas), o que fez declinar o artesanato tradicional.Os intermediários africanos da costa não se aperceberam de que vendendo cultivadores e artesãos ou simplesmente procriadores estavam a contribuir para a sua própria destruição como povos organizados. Por outro lado, ao vedarem o acesso ao interior, de maneira a reservarem para si o monopólio do comércio, estavam a aumentar o isolamento daquelas populações.De uma forma geral, houve retrocesso das forças produtivas. Os povos agricultores voltaram ao estado de recolectores, e as populações sedentárias de longa data viram-se forçadas a deslocar-se para o interior, procurando refúgio ou construindo paliçadas sobre os lagos do interior.A África viu-se privada da força de trabalho necessária para o seu desenvolvimento, o que a lançou no atraso e no subdesenvolvimento.CONSEQUÊNCIAS POLÍTICASO tráfico permitiu a criação de novos poderes políticos em detrimento dos antigos. O recuo generalizado do Islamismo permitiu o aparecimento de novos Estados, essencialmente guerreiros e dominados por uma aristocracia militar.A desagregação do Império Songai depois da conquista marroquina (1591) deu origem a uma multiplicidade de Estados minúsculos, em guerra permanente uns com os outros.No golfo da Guiné formaram-se pequenos Estados, dirigidos por chefes aventureiros enriquecidos pelo comércio de escravos e apoiados por grupos guerreiros armados de espingardas, cuja função principal era fazer a guerra. Ter muitos escravos e bens era sinónimo de riqueza e prestígio.A fragmentação política e étnica na costa favoreceu guerras constantes provocadas pela procura e captura de escravos fora dos limites de cada Estado ou comunidade.No entanto, durante o período do tráfico - e como adaptação perfeita às novas condições que este impôs - surgiram quatro Estados importantes e fortemente estruturados na região do Benim: foram o Reino Yoruba, o Reino de Oyo, o Reino de Daomé e a Confederação Achanti.CONSEQUÊNCIAS DO TRÁFICO DE ESCRAVOS EM ÁFRICA.O CASO CONCRETO DE ANGOLAO tráfico teve consequências diferentes nos vários povos e Estados africanos, que responderam positiva ou negativamente a ele consoante o grau de desenvolvimento das suas forças produtivas ou da sua proximidade e afastamento em relação às áreas dos circuitos comerciais.

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Foram várias as transformações ocorridas em Angola para as quais contribuiu a intervenção directa ou indirecta dos Portugueses. Ao longo dos três séculos de tráfico, as regiões do Kongo, Ndongo, Kwango, Planalto e Benguela foram devastadas por pombeiros, militares e padres ora para capturar escravos e mercadorias ora para cobrar tributos ou impor leis e práticas estranhas aos respectivos povos.Calcula-se em cerca de três milhões o número de escravos que o tráfico desviou neste período desde as costas de Angola para os portos de São Tomé e das Américas. Por outro lado, outros tantos africanos morreram nas guerras de kwata-kwata, de cansaço ao longo do percurso até à costa, em alto mar e de doenças ou fome enquanto aguardavam o embarque nos portos de Luanda, Mpinda e Benguela.Assim se explica que nos séculos XV a XVII mesmo as zonas mais povoadas antes da chegada dos Portugueses tivessem já escassa população.A captura de escravos provocou guerras entre reinos que acabaram por enfraquecer e fragmentar-se, tendo muitos deles desaparecidos. Foi a desagregação gradual do poder do rei do Kongo face ao crescente poder dos Manis das várias províncias e a afirmação da independência do Ndongo face ao Kongo, do qual fora tributário até 1560. No século XVIII, o Reino do Kongo deixou de ser um estado organizado capaz de se opôr à violência e aos abusos cometidos pelos traficantes e os seus agentes.De uma forma global, o tráfico de escravos paralisou o desenvolvimento das forças produtivas de África ao sul do Sara devido à perda da sua força de trabalho e à desorganização das sociedades, o que teve consequências económicas e políticas desastrosas a curto e a longo prazo para todo o continente.Pode dizer-se que o tráfico negreiro justifica em parte o fraco povoamento actual de Angola, assim como de todo o continente africano.A descoberta do Novo Mundo estimulou fortemente o tráfico negreiro, pois a mão-de-obra africana foi indispensável à exploração das riquezas nas terras descobertas e conquistadas nas Américas e nas Caraíbas. Os colonizadores pediam constantemente mais escravos africanos para as plantações e para o trabalho nas minas.Durante os séculos XVII - XVIII e inícios do século XIX foi utilizada mão-de-obra africana nas plantações de cana-de-açúcar, tabaco e nos trabalhos de exploração mineira nas colónias das Américas.O trabalho escravo africano - a “madeira de ébano” — não só fazia funcionar a economia das Américas como também era utilizado para outras actividades, como o transporte de mercadorias e de passageiros, os trabalhos domésticos nas “grandes casas” dos senhores-de-engenho, a construção de estradas e de edifícios, a limpeza das cidades, etc.A cultura da cana-de-açúcar e a produção de açúcar exigiam abundante mão-de-obra escrava, pois à medida que progredia a exportação daquele produto, a intensificação dos trabalhos acelerou o enfraquecimento dos escravos, aumentando a sua mortalidade e obrigando a uma substituição imediata dos africanos exterminados.A média de sobrevivência de um escravo na América era entre cinco a sete anos, devido aos trabalhos forçados que executavam e ao cruel tratamento que sofriam.Não se pode pensar que os escravos aceitaram a sua condição com passividade. Embora a escravidão já existisse em África antes da chegada dos Europeus, tratava-se de uma escravidão doméstica ou patriarcal, onde o escravo tinha um lugar na comunidade. Por outro lado, se existiu um comércio de escravos no mundo mediterrânico e no mundo árabe, nunca tomou proporções alarmantes nem trouxe para África efeitos tão desastrosos como os do tráfico atlântico.Desde o início que os Africanos tentaram escapar à violência de que estavam a ser vítimas, quer através da fuga, do suicídio ou mesmo da revolta.

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Durante a travessia para a América, muitos escravos preferiam lançar-se ao mar a sofrer as horríveis condições a bordo dos navios. Estas revoltas eram reprimidas, e os revoltosos (“recalcitrantes”) castigados exemplarmente.

Nas colónias da América houve várias revoltas de escravos: a primeira a ser assinalada pela sua importância deu-se em 1522 na ilha de Hispaniola (São Domingos, no Haiti). Outras sucederam-se em Porto Rico (1527), Santa Marta (1529) e Panamá (1531). Estas revoltas levaram os Espanhóis a criar em 1532- uma polícia especial destinada a reprimir e a caçar os escravos fugitivos.Outras vezes os escravos fugiam para o mato, organizando aldeias fortificadas que no Brasil se designavam como “quilombos”.Nas Antilhas, os fugitivos, designados como “negros castanhos”, formaram verdadeiros Estados independentes (Haiti, Jamaica).Apesar destas revoltas mais ou menos organizadas e esporádicas, os escravos africanos não puderam acabar com a exploração e as condições sub-humanas a que eram submetidos. Ainda não se encontravam reunidas as condições para levarem a bem a sua luta contra os opressores. Foram precisos três séculos para que a primeira sublevação de escravos negros na América resultasse. Esta deu-se nos fins do século XVIII em São Domingos do Haiti, onde um antigo escravo, Toussaint-Louverture, dirigiu uma das maiores revoltas de escravos que a história colonial conheceu, pondo fim ao domínio colonial francês em 1803. CONSEQUÊNCIAS DO TRÁFICO DE ESCRAVOS NA EUROPAO tráfico de escravos praticado pelos Europeus e o comércio do ultramar em geral tiveram consequências muito positivas para o desenvolvimento da Europa através dos chamados “efeitos multiplicadores”: isto quer dizer que os lucros provenientes dos contactos com o exterior se multiplicaram em muitos domínios da vida dos Europeus, mesmo daqueles que não estavam directamente ligados ao comércio, o que fez com que a sociedade no seu todo se tivesse apetrechado melhor para o seu desenvolvimento interno.O certo é que a Europa se desenvolveu à custa do trabalho escravo: tornou-se rica e poderosa com o comércio negreiro e ergueu nas suas colónias americanas, africanas e das Caraíbas uma economia que, no essencial, assentava nas culturas do café, do algodão, do cacau, do tabaco e da exploração mineira através do recurso à mão-de-obra escrava, isto é, a toda a violência esclavagista.O comércio com África ajudou verdadeiramente a Europa a transformar a economia de muitas nações e a fundir mais solidamente as diferentes economias nacionais, enquanto em África o que se produziu foi apenas a perturbação e a desintegração dos Estados africanos. CRIAÇÃO DE NOVOS ESPAÇOS SOCIAIS, RACIAIS E CULTURAIS NO MUNDODurante o período do comércio atlântico de escravos, foi transportado para o Brasil, a América do Norte e muitas outras colónias um número considerável de escravos, os quais levaram com eles não só a sua capacidade de trabalho nas plantações e nas minas, mas também a cultura e as suas qualidades africanas em toda a sua diversidade.Estes traços culturais eram representativos de diferentes grupos étnicos e misturaram-se no plano racial e social aos traços culturais portugueses e americanos, o que deu origem a uma grande diversidade cultural.A Influência cultural africana na AméricaO trabalho nos campos de algodão era ritmado já por sons que saem como uma lava ardente das entranhas de homens e mulheres oprimidas. Estas lamentações transpostas para os cultos religiosos deram o “espiritual negro’ e depois o “jazz”. No Brasil e nas Antilhas, a marca negra será mais nítida ainda na música, tendo os escravos transplantado para as Américas o pulso palpitante da África que ressoa no tam-tam. Os batuques ou o samba, dançados no decurso das festas semanais permitiram aos diversos grupos étnicos ultrapassar as suas particularidades culturais para se reencontrarem e reinventarem uma arte simplesmente africana, embora influenciada pelos elementos europeus. Os próprios deuses africanos tinham, na atmosfera pesada e pestilenta dos entrepostos,

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atravessado o Atlântico para continuar junto dos negros a sua função de auxiliares, mais necessária do que nunca. O domínio de uma linguagem ignorada do mestre constituía um meio de resistência terrível.O papel das mulheres africanas no Brasil e em outras regiões da América do Norte foi muito importante, pois embora pouco numerosas, constituíam o cordão umbilical que ligava a população brasileira e americana à África através das danças, canções, da cozinha e dos escritos.Além da força de trabalho, as mulheres africanas serviram também de esposas aos senhores-de-engenho e a outros colonos, pois a colonização portuguesa no Brasil foi essencialmente masculina no início, dando origem a uma mestiçagem biológica e cultural importante.As influências culturais manifestaram-se também através da religião e de práticas rituais africanas. A magia e a iniciação africanas combinadas com o Catolicismo europeu deram origem a sincretismos originais, como o candomblé e a capoeira, assim como à divulgação de muitos elementos das culturas africanas. A capoeira foi utilizada pelos escravos como forma de luta para a conquista e defesa da sua liberdade. Oriunda de Angola e levada para o Brasil pelos escravos, estava associada a uma cerimónia mágica com características religiosas. A capoeira continua a ser hoje um dos principais elementos culturais do Brasil.Portanto, pode dizer-se que o desenvolvimento económico do Brasil e da América do Norte foi fruto do esforço de escravos africanos que para lá levaram a sua força de trabalho. Não é menos verdade que as sociedades brasileira e norte-americana actuais foram também profundamente marcadas pelas línguas, música, gostos alimentares africanos, em suma, pela sua cultura.VÊ SE SABES...1. Quais foram as consequências demográficas do tráfico de escravos?2. Refere outras consequências económicas e políticas no caso de Angola.3. Que efeitos teve o tráfico de escravos na América e na Europa?

Unidade III: FORMAÇÃO DA MENTALIDADE NA IDADE MODERNA

O SURGIMNTODO HUMANISMO NA ITÁLIA RENASCÉNTISYANo meio de uma profunda debilidade politica fruto de frequentes antagonismos e de desuniões internas, surge no século XV em Itália um forte movimento que iremos chamar de “descoberta do homem”. Neste período, os Homens começaram a descobrir-se a si próprios, pois durante séculos tinham vivido mais preocupado com assuntoS divinos, ignorando quase tudo acerca da sua natureza humana.Intesamente religioso, o Homem medieval tinha colocado Deus e a Igreja Católica no centro da sua vida — tudo, desde o nascimento à morte1 era marcado por uma visao “teocêntríca” da realidade.Séculos antes, na Grécia e Roma Antigas, muitos pensadores tinham já centrado os seus estudos no conhecimento do Homem, considerado como a “medida de todas as coisas”. A partir dos finais da idade Média, primeiro em Itália e depois noutros países da Europa, ressurge este interesse pelo conhecimento do ser humano. Sem deixarem de ser religiosos, os intelectuais do século XV passavam a colocar o homem no centro dos seus interesses, passando a ter uma visão “antropocêntrica” da vida e do mundo.

“RENASCIMENTO” foi um vasto e profundo movimento artístico e de renovação intelectual e cultural que teve início em Itália a partir dos finais da Idade Média e depois se difundiu por toda a Europa. Nos séculos XV e XVI intensificou-se o interesse pela cultura clássica — isto é, pela cultura da Antiguidade Greco-Romana — e desenvolveu-se uma verdadeira paixão pelos vestígios dessa época: manuscritos, estátuas, edifícios, etc. Foi este ‘renascer” da cultura clássica que deu origem à designação “Renascimento”.Algumas características do renascimento- O classicismo - isto é o gosto pela arte e letras greco-latinas- O espírito crítico e observador

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- O individualismo – consiste na valorização do Homem e a crença na inesgotável capacidade humana de saber e descobrir.No entanto, o Renascimento não se caracterizou apenas por este interesse pelas letras e pelas artes greco-latinas. Foi sobretudo uma época marcada pelo desenvolvimento de uma nova mentalidade, um espírito novo, mais aberto, um espírito crítico e observador, atento às realidades do seu tempo. Um novo tipo de homem — sobretudo grande comerciante, banqueiro ou jurista, sem esquecer nobres e senhores da Igreja — desprezava os ideais cavaleirescos do seu tempo e dava pouca importância à “supremacia papal’, preferindo observar de modo realista e sereno o Universo onde vivia e aspirar a ganhos concretos adquiridos durante a sua existência neste mundo,Por outro lado, o “Humanismo” foi um conjunto de preceitos que durante o Renascimento valorizou o Homem. Pensadores e homens de letras do Renascimento retomaram o estudo dos problemas humanos, que já antes tinham despertado interesse nos filósofos da Antiguidade Greco-Romana. Procuravam nas letras antigas as respostas para aquilo que verdadeiramente os preocupava — um melhor conhecimento do Homem. “DESCOBRIR O MUNDO, DESCOBRIR O HOMEM” Estes intelectuais, apaixonados pela cultura clássica, chamavam-se “humanistas” Eram letrados profissionais, geralmente de origem burguesa, eclesiásticos professores universitários etc.É de salientar que os humanistas demonstraram um profundo desprezo pela Idade Média: consideravam que após a queda do Império Romano do Ocidente as culturas clássicas do mundo greco-romano não tinham tido continuidade. Bons conhecedores do latim e do grego, os humanistas estudaram cuidadosamente os autores antigos — Platão, Aristóteles, Cícero, etc. — e traduziram-nos, comentaram-nos e reeditaramnos agora apoiados também numa nova invenção: a imprensa.Primeiro que qualquer outra parte da Europa, foi em Itália que se deu o início do Renascimento nos séculos XV e XVI. Em Itália existia então um ambiente favorável ao desenvolvimento cultural. As condições económicas, sociais e históricas explicam o facto do Renascimento ter aí começado. Porém, em breve o movimento renascentista estendeu-se ao resto da Europa, sobretudo à Flandres, a Inglaterra e à França.Desde o século XIV destacaram-se em Itália importantes precursores do Humanismo renascentista. Foi o caso de Petrarca, Boccaccio e Dante. No Norte da Europa viveram importantes humanistas, como Erasmo de Roterdão ou Sir Thomas More.Em Portugal, no século sobretudo no reinado de O. João 1H, desenvolveu-se um grande interesse pelo Humanismo europeu, salíentando-se nomes como António de Gouveia, André de Gouveia e André Resende, três dos mais importantes’ representantes do Humanismo português. Podemos ver assim como o Humanismo surgiu de tendências de indivíduos de diferentes origens e que não estavam ligados por quaisquer vínculos ao Estado, à Igreja ou às universidades.VÉ SE SABES…1. Compara a visão do mundo e da vida do Renascimento com a da Idade Média.2. Por que razão se pode dizer que o Renascimento está ligado ao Humanismo?3.1.1. A ARTE DO RENASCIMENTOO Renascimento também teve reflexos na arte, que passou a espelhar as novas concepções humanistas. Os arquitectos do Renascimento rejeitaram o Gótico e inspiraram-se nas formas clássicas greco-romanas.O Homem volta de novo a ser a “medida de todas as coisas”, o que conduz a uma arte racionalizada, ordenada, dominada pelas preocupações com o equilíbrio, a harmonia, a proporção e a simetria.Apesar de inspiração clássica, a arte renascentista é inovadora e criativa. Raramente, em toda a história da humanidade, houve uma época em que a produção artística tivesse alcançado a quantidade e qualidade que atingiu o Renascimento. O movimento artístico renascentista

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também nasceu em Itália, particularmente em Florença, que era uma das mais prósperas cidades italianas e onde se encontravam as sedes de importantes empresas dedicadas a actividades comerciais e financeiras. SABIAS QUE..,Os grandes centros de criação artística do Renascimento no início do século XV eram Florença, Veneza e Roma, em ltáia; e a Flandres, nos Países Baixos. ESCLARECER• No século X Florença tinha uma População de 100 mil habitantes, entre os quais se contava um numeroso grupo de burgueses emriquecidos, apreciadores da beleza, da arte e do luxo. È importante lembrar que os negociantes e financeiros florentinos criaram em sua volta um ambiente favorável aos artistas.Entre as famílias mais ricas de Florença contavam-se os Medici, que acabaram por controlar o governo da cidade e se tornaram mecenas generosos. Sob o governo dos Medici — principalmente no tempo de Lourenço, o Magnífico, Florença transformou-se na capital das artes em Itália: ali viveram e trabalharam arquitectos como Bruneleschi, escultores como Donatello e Miguel Ângelo, e pintores como Botticelli e Leonardo da Vinci.O século XV (“quatrocento”) é o século do “Renascimento florentino”. Talvez em nenhuma outra época e em nenhum outro lugar tenham vivido tantos artistas e tão geniais como na Florença Renascentista dos finais do século XV. No entanto, as novas tendências da arte tinham-se espalhado por toda a Itália, e, na primeira metade do século seguinte (“cinquecento”), Roma seria o principal centro cultural do Renascimento. É aí que se atingirá o apogeu do movimento renascentista.São também de salientar os avanços ocorridos nas artes durante o Renascimento, nomeadamente na arquitectura (uma “nova arquitectura antiga”), na pintura e na escultura. A arquitectura “antiga” passou a servir então de modelo a uma nova arquitectura caracterizada pelo Classicismo e a Racionalidade.À antiga arquitectura clássica grega e romana Brunelleschi foi buscar um conjunto de elementos fundamentais, como as ordens dórica, jóníca, corintia, o arco de volta perfeita o frontão, a abóbada de berço e a cúpula, entre outros. Esta inspiração na arquitectura greco-romana constitui, na verdade, uma das principais características da arquitectura do Renascimento — o Classicismo.ESCLARECER• Os arquitectos do Renascimento puseram de parte a medieval (a arquitectura gótica, que depreciativamente, consideraram “barbara” e preferiram inspiraram-se nas formas da arquitectura:clássica greco-romana.• “Quatrocento” e “cinquecento» são palavras italianas para designar respectivamente, o século XV (os anos de “quatrocentos) e o século XVI (e os anos “quinhentos»).No entanto, tal como a arquitectura greco-romana a nova arquitectura caracteriza-se também pela racionalidade com que era planeda e executada. É uma arquitectura em que predomina um equilíbrio perfeitamente geométricos a par de uma rigorosa simetria na distribuição dos volumes. As soluções quatrocentistas de Brunelleschi seriam depois retomadas e desenvolvidas no século XVI por outros grandes arquitectos como Bramante, que projectou e executou parte do projecto da maior igreja do mundo — a Basílica de S. Pedro, em Roma — ou Miguel Ângelo, que planeou e dirigiu a construção da grande cúpula da mesma basílica.Para além da nova arquitectura antiga ligiosa o Renascimento produziu um grande número de edifícios civis, sobretudo palácios. Estas construções eram igualmente caracterizadas pela civilização de elementos clássicos.No século XV a pintura europeia desenvolveu-se a partir de dois centros principais: a Itália, sobretudo em Florença, e a Flandres. Foi aí que ocorreram duas transformações absolutamente

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revolucionárias na arte de pintar: a invenção de uma nova técnica de pintura a óleo, usada inicialmente na Flandres por Van Eyck, e a aplicação das leis da perspectiva à pintura. A perspectiva é um modo de representação de objectos sobre uma superfície com duas dimensões (comprimento e largura) de maneira a criar a ilusão de uma terceira dimensão, isto é, a profundidade. Foi devido a ela que se passou a poder pintar com uma exactidão quase “científica” as coisas “tal como elas eram”.Giotto, pintor florentino do século XIV, foi um precursor do Renascimento, tendo pintado já o corpo humano com preocupações de perspectiva. No entanto, foi apenas nos começos do século XV, com o flamengo Van Eyck e os Italianos Masaccio e Piero della Francesca, que as leis da perspectiva começariam a ser aplicadas com rigor ESCLARECER• Ao contrário do que sucedera na época medieval, o Homem já não se envergonha do seu corpo e passa a representã-lo em todo o seu esplendor como algo de belo e admirável. Outra característica fundamental da pintura renascentista foi o naturalismo: os pintores procuravam representar a Natureza, os objectos e as pessoas com realismo e naturalidade, ou seja, “tal como eram”.Foram essas preocupações naturalistas que levaram á descoberta e aplicação das leis da perspectiva e ao estudo cuidadoso da anatomia do corpo humano e dos animais. Por sua vez, o interesse pelos aspectos do mundo físico levou os pintores do Renascimento inserção da Natureza nas suas obras (árvores, flores, rios, rochedos etc.).Ao contrário do que acontecia na idade Média, em que a grande maioria das obras de pintura tratavam de temas religiosos, surgiram também as da mitologia greco-romana e do quotidiano. No entanto, como reflexo do individualismo da época, o retrato foi um dos temas favoritos da pintura renascentista.Além disso, a representação do nu, que era muito frequente na arte clássica grega e romana, é agora retomada.

A pintura renascentistaA pintura renascentista difundiu-se ao longo dos séculos XV e XVI através de um número impressionante de grandes pintores, quer em Itália quer nos outros países da Europa. Entre os italianos, merecem destaque os seguintes artistas:• Sandro Botticefli (1 445- 1 51 0), nascido em Florença, trabalhou nessa cidade durante a segunda metade do século XV e foi autor de quadros famosos, como A Primavera (1478), Vénus e Marte (1483) e O Nascimento de Vénus (1485).• Leonardo da Vinci (1452—1519), para além de outras actividades, foi tambem extraordinário pintor de alguns dos quadros mais famosos do mundo ,como La Gionda (1502—1519) e A Virgem e o Menino (1505). Fez intensas pesquisas quanto à perspectiva, à anatomia e aos novos materiais de pintura. Usou uma técnica de gradação de cor e de transição do claro para o escuro a que se chamou “sfumato”, que envolvia as suas obras num ambiente de mistério, parecendo que as estariamos a ver através de um finíssimo véu.

• Miguel Ângelo (1475—1564) considerava-se sobretudo um escultor, mas foi também um pintor genial, cuja obra-prima foram os frascos da Capela Sistina, no Vaticano.• Rafael (1483—1520) foi um dos maiores génios da pintura, tendo assimilado todos os progressos da arte de pintar até então alcançados. O retratista Rafael conseguia captar magistralmente a personalidade dos modelos através de um simples olhar ou um sorriso. São famosos os seus frescos no Vaticano e as “Madonas” — enternecedoras imagens da Virgem com o Menino.A partir do século XVI, Veneza torna-se o principal centro cultural da Itália. É o tempo da chamada “Escola Veneziana” de pintura, cujo principal representante foi Ticiano.

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A escultura renascentistaDurante a Idade Média europeia, a escultura funcionou como elemento integrante da arquitectura, isto é, sobretudo como uma arte decorativa arquitectónica. Com o Renascimento, a escultura torna-se fínalmente uma arte autónoma.Como já tinha sucedido em relação à arquitectura, a escultura do Renascimentodesenvolveu-se a partir da cidade de Florença.Entre outros grandes escultores, destacou-se o florentino Donatello. Na sua escultura David, uma estátua em bronze, Donatello representa o primeiro nu masculino a ser moldado desde a Antiguidade. Donatello recupera igualmente da antiga Roma uma outra forma escultórica — a escultura equestre. Miguel Ângelo atingirá o ponto culminante da escultura no século XVI. Grande admirador da escultura clássica greco-romana ,produziu algumas das obras mais belas e representativas do Renascimento1 como Píetá e Moisés. A sua escultura de David foi talhada num único bloco de mármore com quase quatro metros de altura e retratava o herói não como um jovem suave e dedicado, como fizera Donatello, mas sim como um atleta consciente do seu corpo nusculado, do seu vigor e da sua vitória sobre o gigante Golias, Em suma, o Homem é ilustrado com orgulho de ser homem.Para sumarizar, podemos dizer que, em termos artísticos, o renascimento distingue-se pela apresentação do corpo humano em moldes naturalistas, por representações da natureza, pela perspectiva e pela combinação de cenas mundanas com conteúdos religiosos.

VÊ SE SABES.1. Menciona as três características fundamentais da arquitectura e da pintura renascentistas.2. Indica quais foram as duas transformações mais revolucionárias que surgiram na pintura durante O Renascimento e quais as suas consequências.3. Qual foi a principal inovação introduzida na escultura durante o Renascimento?4. Depois de responderes às perguntas anteriores, caracteriza de uma forma geral o Renascimento no seu âmbito artístico.5. Identifica pelo menos quatro obras artísticas dos quatro autores que mais te impressionaram

Os novos caminhos do conhecimento racional e científicoComo vimos atrás, o Renascimento proporcionou uma nova visão do mundo e do Homem, tendo trazido ao Homem uma grande confiança nas suas capacidades e uma curiosidade sem limites. Um novo espírito crítico e observador, em parte resultante das grandes viagens marítimas, conduziu à pesquisa e à descoberta de novos caminhos para o conhecimento humano. Com efeito, no século XV surge um novo saber racional, isto é, baseado na razão ou no conhecimento racional e científico. Os alicerces dos conhecimentos relativos ao mundo, ao Universo, à natureza e ao próprio Homem permaneciam ainda baseados nas obras dos antigos Gregos, principalmente do filósofo Aristóteles, do geógrafo Ptolomeu e do médico Galeno.

No começo do século XVI, continuava a ser aceite de forma irrefutável a ideia da Terra ser o centro do Universo. Além disso, como o interior do corpo humano não era estudado devido aos preconceitos religiosos, ignorava-se quase tudo sobro a sua constituição e funcionamento. Todavia, a situação estava a mudar.A partir dessa altura, porém, a autoridade dos sábios greco-romanos e a admiração pela Antiguidade começam a surgir aliadas a uma atitude crítica relativamente ao saber herdado. Não se tratava simplesmente de rejeitar conhecimentos recebidos da Antiguidade, mas de os sujeitar a uma reflexão critica. O racionalismo característico do Renascimento seria também aplicado conhecimento da natureza. Segundo o racionalismo, “ somente é verdadeiro aquilo que a razão pode demonstrar”. A razão opõe-se á fé.

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A partir do século XV desenvolveu-se um desejo insaciável pela procura da verdade, para satisfazer a curiosidade e explicar as contradições do saber antigo.No século XVI, dá-se um autêntico confronto com o pensamento tradicional. Defendia-se a ideia de que não se devia dar crédito aos conhecimentos que não fossem confirmados pela razão e pela experiência.Leonardo da Vinci, um dos mais famosos representantes deste novo espírito, utilizava uma linguagem semelhante, tendo-se interessado por todos os ramos do saber humano. Os seus estudos sobre a natureza e alguns dos seus inventos anteciparam conhecimentos que apenas voltariam a ser retomados séculos mais tarde. Segundo Leonardo, aqueles que tomavam as afirmações dos sábios antigos como verdadeiras sem as sujeitarem a confirmação utilizavam “a memória e não o entendimento’.Para os homens do Renascimento, o saber devia basear-se na experiência e na observação da Natureza. Todavia, este conhecimento feito de experiência só seria verdadeiramente válido se fosse depois sistematizado racionalmente, recorrendo a critérios matemáticos.Esta nova mentalidade racionalista, aberta ao estudo de todos os ramos do saber, encontra-se na origem da revolução científica, que viria a ter o seu ponto mais alto no século XVII.Novos caminhos do conhecimento científicoAntes do século XVI, acreditava-se que a Terra era um ponto fixo no Universo, com os planetas, o Sol e as outras estrelas a girarem à sua volta. Esta representação designou-se como “sistema geocêntrico” e foi exposta por Ptolomeu no século II. Séculos antes, outro grego, Aristarco de Samos, tinha colocado a hipótese da Terra girar à volta do Sol, mas as suas ideias não tiveram aceitação e foram rapidamente esquecidas.No século XVI, o polaco Nicolau Copérnico retomou as ideias de Aristarco e escreveu um livro, publicado em 1543, onde falava de um novo sistema do Universo — o “sistema heliocêntrico”. Segundo esta nova explicação, o Sol era uma estrela fixa, à volta da qual giravam os planetas, incluindo a Terra.Esta ideia, hoje universalmente aceite, constituiu na época uma verdadeira revolução, tendo encontrado muita resistência Nas universidades continuou a leccionar-se o sistema ptolomaico ainda por muito tempo. No entanto, mais tarde outros astrónomos, como Tycho Brahe, Kepler, Galijeu e Newton, prosseguiram os estudos iniciados por Copérnico e confirmaram as suas ideias.No começo do século XVI, o conhecimento do corpo humano era ainda muito rudimentar bastando olhar para as representações anatómicas medievais. Como não se fazia um estudo dos cadáveres, os órgãos eram imaginados ou adivinhados. Os conhecimentos de anatomia e de fisiologia (estudo do funcionamento do corpo humano) viriam, no entanto, a evoluir de forma significativa durante o Renascimento. Os próprios artistas estudavam anatomia humana com o objectivo de a representarem melhor nas suas obras. Leonardo da Vinci, por exemplo deixou-nos inúmeros estudos e desenhos de anatomia.Em síntese, o Renascimento começa a pôr em causa o conhecimento tradicional, recebido da Antiguidade e da Idade Média. Dentro dos novos caminhos do conhecimento racional e científico surge uma nova atitude perante a Natureza o Universo e o Homem — Uma atitude de dúvida e interrogação que conduziu ao lançamento das bases da ciência moderna. A crise do Catolicismo e as ideias reformistasNo século XVI, a Europa dividiu-se em dois blocos: de um lado, os conservadores, que se mantinham fiéis ao Cristianismo tradicional (os Católicos), e do outro os reformadores, que exigiam mudanças nas atitudes e no comportamento religioso e a que os primeiros chamaram de Protestantes. Aproximavam-se, por isso, tempos de intolerância e de lutas religiosas. No entanto, é fundamental conhecer os precedentes históricos para compreender a origem e desenvolvimento do Protestantismo.SABIAS QUE

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• O espírito crítico e interrogativo do Homem renascentista levou-o a pôr em causa algumas das doutrinas e normas de comportamento impostas pela Igreja Católica.• Houve homens esclarecidos e corajosos que denunciaram os abusos eclesiásticos e propuseram logo no começo do século XVI uma profunda reforma religiosa.

A Igreja Católica esteve associada ao poder político durante vários séculos. Possuía vastas propriedades, e não só estava isenta de pagamento de impostos como recebia o dízimo dos crentes. Os membros do Alto Clero viviam no luxo e na abundância, em contraste com o ideal de pobreza evangélica que recomendavam aos fiéis. Os papas do Renascimento comportavam-se como grandes senhores laicos, vivendo em luxuosos palácios, construídos e decorados pelos artistas mais célebres da época.

ESCLARECERA ‘pobreza evangélica» era o ideal de vida proposto pelos Evangelhos aos Seguidores de Cristo. O próprio Jesus Cristo tinha dado um exemplo de humildade e de vida simples que, no entanto não foi seguido pelos membros do Clero. Ao longo da história da Igreja Católica, alguns fiéis mais corajosos como S. Francisco de Assis, no século XII, condenaram os desvios em relação à simplicidade evangélica.A corrupção e a imoralidade eram frequentes entre os membros do Clero.Os próprios cargos eclesiásticos eram geralmente cobiçados devido aos elevadosrendimentos que proporcionavam (as “simonias”) e muitas vezes comprados.Por outro lado, os elementos do Alto Clero preocupavam-se mais com o aspectoformal da religião, com o cerimonial, do que com a sua missão de espiritualidadee de pastores do povo de Deus. As próprias práticas do culto católico utilizavamo latim — uma língua que o povo comum não entendia.As lutas pela supremacia entre o poder eclesiástico (o poder da Igreja) e o poder secular (o poder dos reis e dos senhores feudais) tinham-se agravado nos finais da ldade Média. As discórdias internas culminaram no grande cisma do Ocidente (1378—1417), com os Católicos divididos na obediência a dois papas: o de AVinhão (França) e o de Roma (Itália). Embora esta cisão tivesse terminado nos começos do século X deixou seriamente abalado o prestígio da IgrejaCatólica e dos seus dirigentes. Nesse mesmo século alguns críticos mais corajosas, como o checo João Huss e o florentino Savonarola, ousaram chamar a atenção para os erros e os abusos daIgreja Católica. Ambos acabariam por ser condenados a morrer na fogueira.

Já no início do século XVI, Erasmo de Roterdão e outros humanistas cristãos defenderam igualmente uma renovação da Igreja, que moralizasse a vida eclesiástica e reconduzisse o Cristianismo à sua pureza original. Apesar destes desejos de mudança, os papas insistiram em manter as estruturas e as doutrinas da Igreja impermeáveis a todas as críticas e sugestões.Alguns dos factores que conduziram à revolução luterana já se manifestavam de uma forma latente há muito tempo antes. Todo o processo de desagregação dos princípios e atitudes que tinham servido de fundamento à Cristandade medieval constituiu ao mesmo’ tempo uma preparação para a Reforma: as doutrinas concilíaristas, o democratismo eclesial, a filosofia nominalista e a pressão tributária da fazenda papal de Avinhão. Outros factores de ordem política, como os conflitos entre papas e imperadores e o auge dos nacionalismos eclesiásticos, contribuíram também para preparar a crise religiosa. Houve ainda outras causas relacionadas com a própria realidade alemã: a decadência moral do Clero, especialmente do episcopado marcado por um pendor senhorial e o monopólio efectivo da Nobreza, a debilidade do poder soberano, e o facto do império se encontrar fragmentado em inúmeros principados e cidades.É indiscutível o carácter de protagonista máximo que correspondeu a Martinho Lutero na grande revolução religiosa, mas, por mais excepcional que fossem a personalidade do antigo frade

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agostinho e os seus talentos de “líder”, parece claro que o êxito do reformador se deveu também em boa medida à conjugação de toda uma série de circunstâncias particularmente oportunas. Lutero teve a arte de se fazer intérprete de ideias e sentimentos muito disseminados nessa época entre os seus compatriotas e conseguiu dar-lhes respostas que satisfaziam as aspirações religiosas de uns e as ambições políticas de outros.As doutrinas de Lutero, por outro lado, foram recebidas com agrado por muitos ouvintes — às vezes por razões profundamente diferentes. A supressão do celibato eclesiástico foi bem acolhida por muitos sacerdotes numa época de baixo nível moral do Clero, bem como a supressão dos votos monásticos sob libertação entre comunidades religiosas não muito fervorosas. A “teologia da consolação”, segundo a qual a fé sem obras se Justifica, tornava mais Cómoda a vida Cristã e tranquilizava indivíduos conscientes dos seus pecados, mas ao mesmo tempo possuidores de sentimentos religiosos e com ânsia de assegurar a sua salvação eterna. Por outro lado, o anti-romanismo (a oposição ao papado romano) agradava a humanistas do estilo de Ulrich von Hutten, mas foi Sobretudo a Possibilidade de se apoderarem dos bens eclesásticos que despertou a cobiça dos príncipes e dos munícipes de certas cidades imperiais. Lutero revelou um invulgar sentido de propaganda de que soube tirar partido através da imprensa. A Alemanha viu-se assim Inundada de folhetos, devocionários livros de Cânticos e folhas volantes que difundiram a doutrina luterana por toda a parte e a colocaram ao alcance de todo o género de pessoas.A própria rapidez com que se propagou a Reforma foi bom indício de que o vento soprava a seu favor e a conjuntura era propícia. Todos esses factores favoreceram a criação do clima adequado para o eclodir de uma grande crise religiosa.A Reforma ProtestanteConvém seguidamente recordar, ainda que sucintamente as grandes linhas do processo histórico da Reforma na Alemanha, cujo ponto de arranque se situa no ano de 1517.Martinho Lutero (1483—1546) era um monge alemão, professor dé Filosofia na Universidade de Wittenberg, na Alemanha. Tal Como outros seus Contemporâneos, Lutero apercebeu-se das contradiçoes internas da lgreja Católica. No entanto, o que desencadeou a sua critica e rebelião contra Roma foi na questão das indulgências.Em 1513, o Papa l Leão X tinha enviado monges por toda Europa pedindo aos fieis que contribuíssem com o dinheiro para o pagamento das obras da basílica de S. Pedro em Roma. Em troca, o papa concedia a estes fieis uma bula de indulgências, isto é, um documento que os ilibava da penitencia pelos pecados. Apesar do papa afirmar tratar-se de uma recolha de esmola, esta operação tinha o chocante aspecto de uma transacção comercial. Martinho Lutero denunciou publicamente a questão das indulgências numaproclamação que afixou na porta da Catedral de Wittenberg (Alemanha) — as“95 Teses Contra as Indulgências”. Lutero acabaria por ser excumungado,e só a protecção que lhe foi dispensada por alguns príncipes alemães impediuque fosse condenado à fogueira.Lutero aprofundou as suas críticas à Igreja Católica, alargando-as aos aspectos doutrinários. A Igreja Católica ensinava que o Homem não poderia salvar-se, isto é, alcançar a vida eterna (o paraíso), senão através da prática de boas obras e da mediação do Clero. Para Lutero, pelo contrário, o fundamental era a fé. Para que o Homem se salvasse era suficiente que tivesse fé, isto é, que acreditasse em Cristo e na sua palavra, tal como se encontrava nos Evangelhos.Lutero: a salvaçao pela féTodos somos pecadores, é um erro pensar-se que este mal se pode curar com as boas obras .a experiencia mostra-nos que as nossas obras, por muito grande que sejam não nos impedem de pecar. As boas obras, não fazem o homem bom. Mas , se o homem for bom, fará boas obras. Deverás possuir uma fé profunda e confiante em Deus. Graças a ele, triunfará das tentações e serás recto, verdadeiro, pacifico e justo; assim cumprirás os mandamentos.

Desde que se tinha tornado frade, Lutero tinha sentido uma angustiante ansiedade para assegurar a sua salvação. A teologia ockhamista em que se tinha formado, ao mesmo tempo que

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proclamava o voluntarismo arbitrário de Deus, sustentava que a vontade livre do homem bastava para cumprir a lei divina, e desse modo alcançar a bem-aventurança. A meditação sobre o capítulo 1º, versículo 17 da “Epístola aos Romanos” — “o justo vive da fé” — fez sair Lutero da sua profunda crise de angústia. Acreditava entender que Deus misericordioso justificava o Homem através da fé a “fé fiducial” —, e à luz deste princípio pareceu-lhe que toda a Escritura ganhava um novo sentido.Por esse motivo, Lutero traduziu a Bíblia para alemão, para que cada crente a pudesse ler e interpretar livremente, sem ter o Clero como intermediário. Desta maneira a reforma protestante resumia o culto à leitura da Bíblia e ao cântico de hinos, suprimindo todas as restantes cerimónias. Lutero reduziu os sacramentos, mantendo apenas o baptismo e a comunhão aboliu o culto dos San tos e da Virgem Maria, bem como as ordens monásticas e o celibato eclesiástico, atendendo a que nenhuma destas disposições constava na Bíblia. Qualquer crente podia exercer a função do ministro do culto, ou “pastor”. Deste modo, na Igreja Luterana, o Clero quase desapareceu, bem como a sua hierarquia (bispos, cardeais, papas). Lutero estabelecia também que a sua Igreja não possuiria propriedades. Assim, todo o imenso património eclesiástico poderia ser confiscado pelo Estado, Isto favoreceu a conversão de muitos príncipes alemães, que, ao aderirem à Reforma, encontravam justificações para se apropriarem dos bens do Clero.

Os anos seguintes presenciaram um surpreendente crescimento da fama de Lutero, que, chamado a Roma, recusou apresentar-se e recorreu às dietas imperiais de Augsburgo (1 518) e de Leipzig (1519), adoptando posições religiosas cada vez mais críticas, Roma não tomou uma acção decidida contra Lutero, sobretudo por razões de ordem política: o trono do imperador estava vago e o candidato preferido do Papa Leão X era o eleitor Frederico, o sábio, da Saxónia, senhor territorial e grande protector do frei Martinho. Após a eleição do ímperador Carlos V(1519), Lutero publicou em 1520 três escritos famosos que Implicavam a ruptura aberta contra a Igreja: “A nobreza cristã da nação alemã”, “Do cativeiro de Babilónia da Igreja” e “Da liberdade do cristão ”. Em 1521, recaía finalmente sobre Martinho Lutero a excomunhão. Lutero regressou a Wittenberg em 1522.

A consolidação do Luteranismo progrediu tanto na ordem politica como na teológica: os príncipes e cidades reformadas constituíram uma liga confessional. Melanchton fixou a doutrina luterana na “Confissão de Augsburgo” em 1530. Um ano antes, a dieta de Spira deliberou tolerar a Reforma nos lugares onde já estava implantada, mas proibiu que se estendesse a novos territórios. O protesto de cinco Estados e catorze cidades cunhou uma denominaçao religiosa que fez sucesso: Protestante, Protestantismo.Quando Lutero morre, em 1546, a Reforma tinha-se estendido a mais de metade da Alemanha. Em 1545 deu-se início ao Concílio de Trento, que Carlos V vinha reclamando quinze anos antes. Em 1547 o conflito entre o imperador e os príncipes protestantes degenerou em luta armada, e Carlos V obteve em Mühlberg uma vitória completa sobre a Uga de Smalkald. Porém, mais tarde, a traição de Maurício da Saxónia obrigou o imperador a conceder liberdade religiosa aos Luteranos (1552) pelo Tratado de Passau. Em 1555, Carlos V teve de sancionar a paz de Augsburgo, que concedia igualdade de direitos a Católicos e Luteranos, tendo sido os príncipes a tomar a decisão a cerca da confissão a seguir no seu território.A cisão religiosa da Alemanha era já um facto consumado e irreversível.

VË SE SABES.

1. Mostra oomo as ideias do Renascimento culminaram na cisão religiosa conhecida por protestantismo.

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2. Quais foram os principais aspectos da Igreja Católica contra os quais Lutero se rebelou para fazer a sua reforma religiosa’3. Quais eram as principais diferenças entre a Igreja católica da época e a nova doutrina de Lutero’?4. Dois poderosos factores, entre outros, favoreceram a difusão das ideias e a adesão maciça dos alemães ao Protestantismo. Diz quais foram e explica porquê.Difusão das ideias reformistasA revolução religiosa iniciada por Lutero teve como primeiro cenário a Alemanha, onde se difundiu rapidamente em meados do século XVI. Ventos de mudança varreram depois a maior parte do Ocidente Europeu, levando por toda a parte as sementes da Reforma. Daqui as ideias reformistas estenderam-se à Suíça, Holanda, Dinamarca, Suécia e Noruega.Foi surpreendente a rápida expansão que teve o Protestantismo, tanto na sua forma luterana como noutras formas, diversas entre si mas todas coincidentes na sua ruptura com a ortodoxia católica. Depois de ter dominado mais de metade da Alemanha, a revolta protestante arrancou do tronco da Igreja metade dos povos que tinham integrado a Cristandade medieval.Recordemos agora os aspectos mais marcantes desse contágio desintegrador que alterou a face do continente europeu.O segundo principal protagonista da Reforma, tanto pelo seu contributo doutrinalcomo pela sua influência no progresso do Protestantismo, surgiu mais tarde — foio francês João Calvino.João Calvino (1509—1564), nascido em Noyon e adepto da Reforma desde a sua infância, abriu novos caminhos ao Protestantismo. Dotado de uma mente mais lógica e extremista que Lutero, Calvino levou as premissas fundamentais da doutrina protestante às últimas consequências, defendendo que o Homem estava antecipadamente destinado por Deus a salvar a sua alma ou a perdê-la — a doutrina da predestinação.Para Calvino, a teologia da consolação luterana era, em sua opinião, totalmente insuficiente. A corrupção insanável do Homem e o voluntarismo divino absoluto deviam conduzir fatalmente à doutrina calvinista. Deus — transcendente e incompreensível —, teria predestinado segundo oseu arbítrio insondável os homens ao Céu ou ao Inferno, dando de presente “a uns a salvação e a outros a condenação”. A verdadeira Igreja seria a congregação dos predestinados.Calvino expôs a sua doutrina no tratado da “Instituição Cristã”, composto primeiro em latim e ampliado e publicado depois em francês (1541) Em Genebra, onde fixou residência definitiva, João Calvino conseguiu instaurar um regime quase teocrático e uma austera vida social inspirada nas normas da Bíblia. Calvino foi um autocrata religioso que governou a comunidade rodeado de um “consistório” de pastores e anciãos. A Academia Teológica de Genebra, fundada em 1558, que se transformou numa “Roma calvinista”, era o seminário onde se formavam os pastores com destino às diversas comunidades calvinistas da Europa. Genebra velava pela pureza do Cristianismo reformado, tendo o célebre médico espanhol Miguel Servet sido condenado como hereje e morrido na fogueira por negar o mistério da Santíssima Trindade.O Protestantismo calvinista teve uma força expansiva superior ao Luteranismo, quase reduzido à Alemanha e à Escandinávia, e a sua influência foi decisiva para os destinos cristãos da Europa. No Centro e no Leste Europeu, o Calvinismo introduziu-se profundamente na Hungria e na Boémia e conquistou parte da aristocracia polaca. Nos Países Baixos, Guilherme de Orange, o Taciturno, foi o líder protestante contra Filipe II e os Católicos, e conseguiu consolidar como um reduto calvinista as Províncias Unidas do Norte da Europa — a futura Holanda. Na Escócia, o Calvinismo tomou a forma de Presbiterianismo. O Calvinismo foi a forma de Protestantismo que maior importância ganhou na pátria do próprio Calvino, ou seja, na França.Os reis franceses dos primeiros tempos da Reforma deram o tom de uma singular política religiosa. Desde a época de Francisco 1, a França foi uma constante aliada dos príncipes protestantes alemães que lutavam contra Carlos 1, tendo sido igualmente aliada dos Turcos, que

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ameaçavam as fronteiras orientais do império. Essa mesma linha manteve-se durante o século XVII, na prova decisiva da Guerra dos Trinta Anos. Mas na política interna, os reis franceses mostraram--se geralmente católicos fiéis, e tanto Francisco 1 como Henrique II agiram com rigor em relação aos seus súbditos protestantes. Apesar disso, o Calvinismo penetrou em França, fez numerosos adeptos entre a aristocracia e não tardaram a formar-se duas grandes facções — uma católica, liderada pelos Guise, e outra protestante, cujos chefes mais famosos foram o almirante Coligny e o príncipe Henrique de Bourbon e Navarra. Catarina de Medici, viúva de Henrique II, quando esteve na regência, tentou uma política neutral e de apaziguamento, mas foi em vão, pois as guerras religiosas assolaram a França durante quase três décadas.A noite de S. Bartolomeu e os assassinatos do Duque de Guise e do Rei Henrique III contam-se entre os episódios mais notórios daquela tormentosa época de guerra civil.A história da Reforma em Inglaterra seguiu uma trajectória peculiar e obedeceu, talvez mais do em qualquer outro país, às directrizes da realeza, mas o Anglicanismo não foi invenção de Henrique VIII. Sob dinastia Tudor do século XV, igreja de Inglaterra era já em certo sentido “anglicana “, e Henrique VIII encontrou a legislação eclesiástica dos seus predecessores um instrumento valido para a sua politica de subjugação religiosa. Este príncipe foi paladino do Catolicismo nos alvores da Reforma e escreveu contra Lutero uma “Defesa dos Sete Sacramentos”que lhe valeu do Papa Leão X o titulo de “Defensor Fiel”. Foi a recusa papal em conceder a Henrique VII o divórcio de Catarina de Aragão, para casar com Ana Bolena, a razão que o levou ao repúdio do primado romano e ao cisma. O rei autoproclamou-se “cabeça suprema da Igreja de Inglaterra” e exigiu reconhecimento jurado da sua supremacia eclesiástica. A grande maioria dos homens da Igreja submeteu-se temerosamente à vontade do rei. Houve, no entanto, excepções admiráveis, como a dos mártires cartuxos e, sobretudo, de duas figuras insignes, que não claudicaram e morreram pela fé; São João Fisher, bispo de Rochester, e Sir Tomas More, grão-chanceler do reino e o maior humanista de Inglaterra — uma personalidade que passados séculos continua a ser apelativa e moderna.O Protestantismo de inspiração calvinista introduziu-se em Inglaterra no reinado de Eduardo VI (1 547—1 553). A sua sucessora, Maria Tudor, filha de Henrique VIII e Catarina de Aragão, reprimiu a heresia e tentou a restauração católica. Mas esta restauração não durou mais do que os breves anos da sua ocupação do trono (1 553—1 558). À data da sua morte, sem filhos, a coroa passou para Isabel, filha de Henrique VIII e Ana de Bolena. Foi o longo reinado de Isabel I (1558—1603) que decidiu a sorte do Cristianismo inglês. Conservaram-se formas externas de tradição católica, como a hierarquia eclesiástica com os seus bispos e os seus cabidos, embora sem clero celibatário nem vida monástica. Proibiu-se a celebração da missa, e o Anglicanismo protestantizado, com elementos luteranos e calvinistas, impôs-se como doutrina oficial da Igreja de Inglaterra.Atendendo ao período em estudo, apraz salientar sumariamente, e quase em jeito de epílogo, que a doutrina de Calvino exerceu uma notável influência na génese do capitalismo moderno.VÊ SE SABES..1. Refere o papel de João Calvino na expansão da reforma protestante.2. Compara a doutrina de Calvino com a de Lutero.3. Procura informações sobre a famosa “noite de S. Bartolomeu” e refere a tua opinião acerca do acontecimento.

3.4. A reacção da igreja Católica a Contra-ReformaÀs críticas e avanços do reformismo protestante respondeu a Igreja Católica com um movimento simultâneo de renovação interna, através do qual procurou afirmar o papel da Igreja universal fundada por Cristo e combater as ideias reformistas. Este movimento recebeu o nome de Contra-Reforma ou Reforma Católica).

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O acontecimento central da Reforma Católica foi o Concílio de Trento (1545-1563). O Papa Paulo III (1534-1549), um notável humanista e diplomata, compreendeu que um concílio ecuménico constituía o único caminho para levar cabo a reforma da Igreja. Passo a passo, foram-se superando muitos dos obstáculos que se opunham à sua celebração. A escolha de Trento para sede do concílio foi uma das soluções de compromisso a que se chegou nas negociações prévias. Trento fica no Norte da Itália, mas era uma cidade imperial e podia esperar-se que os Protestantes aceitariam deslocar-se lá em vez de um concílio celebrado em território papal. A própria ordem a seguir nos trabalhos suscitava opiniões contrárias: o papa desejava que se tratassem antes de mais os temas doutrinais para fixar com precisão o dogma católico nas questões discutidas pelos Protestantes, enquanto o imperador desejava que se desse preferência às questões disciplinares de reforma eclesiástica, esperando satisfazer assim os seus súbditos luteranos e facilitar o restauro da unidade cristã. O compromisso a que se chegou foi o tratamento simultâneo das duas matérias, alterando os decretos dogmáticos e os de reforma. Porém, as dificuldades não terminaram com a abertura do sínodo — longe disso, os incidentes sucederam-se ao longo da sua celebração, e em certas ocasiões foram tão graves que fizeram temer pela sorte do mesmo concílio.

Determinação do Concílio de TrentoSe alguém diz que o ímpio se justifica unicamente pela fé, de tal modo que entenda que nada mais é preciso para cooperar com a graça com o fim de obter a justificação, e que não é preciso que se prepare e se disponha por um movimento da sua própria vontade, que seja excomungado.Se alguém diz que todos têm o poder de anunciar a palavra [de Deus]e de administrar os sacramentos, que seja excomungado.Que ninguém seja recebido em regime da Igreja catedral se não for recebido de casamento legitimo, de idade madura, de costumes austeros, e sábios nas letras (…)Que os bispos sejam obrigados a visitar em cada ano rodas as Igrejas [na sua diocese].Que aqueles que foram promovidos à dignidade episcopal recebam a ordem do sacerdócio dentro do tempo [idade] ordenado pelo direito [canónico].

Não é possível descrever aqui em pormenor o que ocorreu no Concílio de Trento, bastando recordar os marcos fundamentais do seu desenvolvimento. A inauguração teve lugar em 19 de Novembro de 1545, tendo sido anunciado, sem dúvida, com o intuito de ser um concílio unionista com os Protestantes. Em 11 de Março de 1547, os delegados papais, alegando uma epidemia, decidiram transferir o concílio para Bolonha. O verdadeiro motivo da mudança, porém, era o desejo de subtrair a assembleia à influência do imperador, cujas relações com o papa estavam longe de ser cordiais. Basta recordar que a vitória de Carlos V sobre os Luteranos em Mühlberg foi recebida na cúria romana com mais receio do que alegria. A etapa bolonhesa do concílio não contou com a presença dos bispos súbditos do imperador, que permaneceram em Trento. Finalmente, em Janeiro de 1548, Carlos V apresentou um protesto solene e formal que obrigou à interrupção imediata das sessões conciliares em Bolonha e pôs fim à suspensão do concílio no mês de Setembro de 1549.A segunda etapa do concílio teve início em Trento no dia 1 de Maio de 1551, sobo novo pontífice Júlio III (1550—1555), O imperador conseguiu desta vez que fossea Trento um certo número de delegações de príncipes e cidades protestantes.A presença dos reformistas manifestou de forma clara quão difícil era a restauração da unidade cristã, depois de mais de trinta anos de cisão religiosa. Não obstante isso, a traição ao imperador eleito, Maurício da Saxónia, obrigou a suspender novamente o concílio (28 de Abril de 1552). Foi uma interrupção que durou dez anos, entre os quais se contam a totalidade do pontificado de João III, zeloso reformador, mas por vias diferentes da conciliar.Foi preciso iniciar-se o pontificado do Papa Pio IV (1559—1565) para que o concílio retomasse os trabalhos, o que aconteceu em 18 da Janeiro de 1562. A terceira etapa tridentina durou dois escassos anos e serviu para levar a feliz termo a grande empresa raformadora: no dia 4 de

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Dezembro de 1563 foi encerrado o Concílio de Trento e o papa confirmou todos os seus decretos pela bula “Benedictus Deus”, no dia 26 da Janeiro de 1564.Trento não pôde ser um sínodo unionista, mas foi o grande concílio da reforma católica. A sua obra foi extraordinária tanto no campo doutrinal como disciplinar. No âmbito do primeiro, declarou-se antes de mais que a Revelação Divina se transmitia através da Sagrada Escritura, interpretada pelo magistério da Igreja e pela tradição apostólica, O concílio abordou o tema-chave da justificação humana e, contra as teologias luterana a calvinista, declarou que a graça divina e a cooperação livre e meritória da vontade humana operam em conjunto na justificação do Homem. Outro tema de índole dogmática tratado pelo concílio foi o dos sacramentos, em que tanta confusão tinham lançado os Protestantes; definiu-se a doutrina dos sete sacramentos e as notas próprias de cada um deles.A Reforma Católica, como movimento renovador da Igreja universal promovida pelo papado, é posterior à Reforma Protestante. Porém, o anseio de reforma, como se disse, já vinha da trás a tinha-se efectivado em algumas realizações de grande importância, embora a título parcial. Um país ocidental surge na vanguarda da Reforma Católica — a Espanha dos Reis Católicos. Estes movimentos consideraram a reforma eclesiástica como uma parcela essencial da obra geral de restauração do Estado, que norteou a sua politica. O direito de apresentação que os reis obtiveram, primeiro para os bispos do rur:oi 1111 hilcic lo 1 ccii 0 i lo (ii II nada, e depois praticamente para todos os bispos do reconquistado reino da Granada, e depois praticamente para todos os bispos da monarquia, permitiu-lhes subtrair o episcopado das mãos da Nobreza e escolher para bispos indivíduos eminentes pelo seu espírito religioso e pelo sou conhecimento cientifico provenientes do Clero regular. O cardeal Císneros reformou os conventos franciscanos e a vida monástica. A Universidade Alcalá , fundada por ele, foi um activo foco de humanismo cristão e um grande centro de estudos teológicos, onde se publicou a célebre “Bíblia Poliglota Complutense”. A Igreja espanhola no primeiro terço do século XVI era, sem dúvida, a que revelava o maior nível espiritual e cientifico da Europa, o que explica o papel preponderante que os teólogos espanhóis tiveram em Trento.O Concílio de Trento definiu regras de recrutamento do Clero, que passava a ser formado em seminário, e procurou moralizar o seu comportamento impondo uma disciplina severa e conservando o celibato. Para reforçar a autoridade do Alto Clero e reafirmar a doutrina tradicional, a Igreja Católica iniciou um verdadeiro combate contra a Reforma.Foi criada uma nova ordem religiosa, a Companhia de Jesus, para lutar pelo Cristianismo católico e pela sua difusão no mundo. A Companhia de Jesus (ou Ordem dos Jesuítas), fundada em 1539 pelo nobre espanhol Inácio de Loyola , constituiu uma importante barreira contra o avanço do reformismo protestante através da pregação e do ensino ministrado em numerosos colégios abertos por toda a Europa. Os Jesuítas recebiam uma sólida preparação intelectual, de modo a poderem rebater os argumentos reformistas. Prestaram serviços de grande importância ao pontificado na sua obra de reforma católica, especialmente através da formação do Clero, da educação da juventude e das missões. A sua acção estendeu-se também às novas terras descobertas, sobretudo ao Oriente e ao Brasil, onde exerceram a missionação. Em breve, a Companhia de Jesus tornou-se uma instituição poderosíssima, dispondo de grande influência junto das autoridades eclesiásticas e junto de reis e governantes.A Igreja Católica dispôs ainda de dois outros instrumentos de combate contra o reformismo e de defesa do Catolicismo: o primeiro foi o “Index”, uma lista de livros proibidos pela Igreja Católica, onde até as obras de Erasmo, que nunca chegou a apoiar claramente o movimento reformista, foram incluídas. O segundo instrumento de cerceamento do movimento reformista foi a Inquisição, um tribunal eclesiástico que vigiava, perseguia e condenava os herejes e todos os que fossem contra as ideias da Igreja Católica.A reacção da Igreja Católica foi, simultaneamente, um movimento de renovação interna e uma resposta organizada para enfrentar e impedir a expansão da reforma protestante. Nada impediria,

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no entanto, que a Europa ficasse definitivamente dividida em termos religiosos — o Norte protestante e o Sul católico. Esta divisão, conforme se verá adiante, viria a ter influência na evolução económica e social do continente europeu.Por conseguinte, podemos concluir que os anseios de renovação crista produziram um admirável florescimento no seio da Igreja, que em alguns países, como em Espanha, se iniciou antes do Luteranismo. “Reformaram-se antigas ordens religiosas, criaram-se ordens novas, apareceram grandes santos o grandes papas. O Concílio de Trento não conseguiu o objectivo almejado por Carlos V de restaurar a unidade cristã, mas realizou uma obra imensa, tanto na doutrina católica como na disciplina eclesiástica.”

VE SE SABES…1. Quando e porquê se realizou o Concilio de Trento?2. Quais foram os resultados do Concilio de Trento?3. Destaca o papei de inácio de Loyola na luta pelo catolicismo e pela sua difusão no mundo?4. Que papéis tiveram o Index e a inquisição na conservação da doutrina católica?

A CRISE RELIGIOSA DO SÉCULO XVI

O espírito crítico e interrogativo do homem renascentista levou-o a pôr em

questão, também, algumas doutrinas e normas de comportamento impostas pela Igreja

Católica. No começo do século XVI houve homens esclarecidos e corajosos que

denunciaram os abusos eclesiásticos e propuseram uma profunda reformo religiosa.

Europa dividiu-se em dois blocos: de um lado, os que se mantinham fiéis cio

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cristianismo tradicional (católicos), e do outro, as igrejas cristãs reformados, ou

protestantes. Aproximavam-se tempos de intolerância e lutos religiosas.

O CATOLICISMO, UMA RELIGIÃO EM CRISE

A Igreja Católica estava associada ao poder político havia séculos. Possuía

vastas propriedades e não só estava isenta de pagamento de imposto tinha direito a

recebê-lo (caso da dízimo). Os membros do alto clero viviam no luxo e na abundância,

em contraste com o ideal de pobreza evangélica recomendado aos fiéis. Os papas do

Renascimento comportavam-se como grandes senhores laicos, vivendo em luxuosos

palácios, construídos e decorados pelos artistas mais célebres.

A corrupção e a imoralidade eram frequentes entre os cléricos. Os próprios

cargos eclesiásticos, devido aos elevados rendimentos que proporcionavam, eram

geralmente cobiçados e, muitas vezes, comprados. Por outro lado, os elementos do

alto clero preocupavam-se mais com o aspecto formal da religião, com o cerimonial, do

que com a sua missão espiritual de pastores do povo de Deus. As próprias práticas do

culto católico utilizavam o latim, uma língua que o povo comum á não entendia.

As lutas pela supremacia entre o poder eclesiástico e o poder temporal (o poder

dos reis e dos senhores feudais) tinham enfraquecido a Igreja, nos finais da Idade

Média. As discórdias internas culminaram no grande cisma do Ocidente, com os

católicos divididos na obediência a dois papas. Embora esta cisão tivesse terminado

nos começos do século XV, deixou seriamente abalado o prestígio da Igreja Católica e

dos seus dirigentes.

Ainda no mesmo século, alguns críticos mais corajosos, como o checo João

Huss e o florentino Savonarola, ousaram chamar para os erros e os abusos dentro

Católica. Acabariam por ser condenados a morrer na fogueira.

Já no do começo do século XVI, Erasmo de Roterdão e outros humanistas

cristãos defendiam igualmente uma renovação da Igreja, que moralizasse a vida

eclesiástica reconduzisse o cristianismo a sua pureza original.

Apesar destes desejos de mudança, os papas insistiam em manter as estruturas

e as doutrinas da igreja impermeáveis a todas as críticas e sugestões.

A REFORMA PROTESTANTE

Martinho Lutero (1483-1546) era um monge alemão, professor de filosofia na

Universidade de Wittenberg, na Alemanha. Tal como outros seus contemporâneos,

Lutero apercebeu-se das contradições interna da Igreja Católica.

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No entanto, aquilo que desencadeou a sua crítica e o rebelião contra Roma foi a

questão das indulgências.

Em 1513, o popa Leão X tinha enviado monges por toda a Europa, pedindo aos

fieis que contribuíssem com dinheiro para o pagamento das obras da Basílica de S.

Pedro, em Roma. Em troca, o papa concedia a esses fiéis uma bula de indulgências,

isto é, um documento em que lhes perdoava a penitência dos pecados. Apesar de o

papa afirmar tratar-se de uma recolha de esmola, esta operação tinha um aspecto de

transacção comercial chocante.

Martinho Lutero denunciou publicamente a questão das indulgências, numa

proclamação que afixou na porta da catedral de Wittenberg – Às Noventa e Cinco

Teses contra as indulgências. Lutero acabaria por ser excomungado pelo papa e só a

protecção que lhe dispensada por alguns príncipes alemães impediu que fosse

condenado à fogueira.

Martinho Lutero aprofundou as suas críticas à Igreja Católica, alargando-as aos

aspectos doutrinários. A Igreja Católica ensinava que o Homem não poderia salvar-se,

é, alcançar a vida eterna (o Paraíso), senão através da prática de boas obras e da

mediação do clero. Para Lutero, pelo contrário, o fundamental era a fé. O Homem

salva-se se tivesse fé, isto é, se acreditasse em Cristo e na sua palavra, tal como se

encontrava nos Evangelhos.

Para isso, Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, de forma que cada crente a

pudesse ler e interpretar livremente, sem ter o clero como intermediário.

Desta maneira, a Reforma Protestante resumia o culto à leitura da Bíblia e ao

cântico de hinos, suprimindo todas as restantes cerimonias Lutero reduziu os

sacramentos, mantendo apenas o baptismo e a comunhão; aboliu culto dos Santos e

da Virgem Maria, bem como as ordens monásticas e o celibato eclesiástico, porque

nenhuma destas disposições constava na Bíblia. Qualquer crente podia exercer a

função de ministro do culto, ou pastor.

Deste modo, na igreja Luterana, o clero quase desapareceu, bem como a sua

hierarquia (bispos, cardeais, papas).

Lutero estabelecia, também, que a sua Igreja não possuiria propriedades. Assim,

todo o imenso patnirn6nio eclesiástico poderia ser confiscado pelo Estado. Isto

favoreceu, como calculas, a conversão de muitos príncipes alemães, que, ao aderirem

à Reforma, encontravam justificação para se apropriarem dos bens do clero.

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A DIFUSÃO DAS IDEIAS REFORMISTAS

Em meados do século XVI, a Reforma protestante triunfa em quase toda a

Alemanha, onde o luterismo se tinha difundido rapidamente. Daqui, as ideias

estabeleceram-se à Suíça, Holanda, Dinamarca, Suécia e Noruega.

Na Suíça, Calvino adopta uma doutrina mais rígida e extremista que a luterana,

defendendo que o Homem estava antecipadamente destinado por Deus a salvar a sua

alma ou a perdê-la (doutrina de predestinação). O Calvinismo acabaria por originar um

novo foco reformista (a Igreja Calvinista), que se difundiu, sobretudo, na Escócia e em

França. Neste país, os adeptos de Calvino (os huguenotes) foram violentamente

perseguidos pelos católicos.

Na Inglaterra em 1533 o rei Henrique VIII desligou-se da obediência ao papa e

fundou a Igreja Anglicana. Uma das principais características do anglicanismo é o facto

de o rei se tornar, ele próprio, o chefe supremo da Igreja Anglicana. Esta nova igreja

reformada, manteve alguns elementos doutrinários católicos e foi buscar outros ao

calvinismo

A REACÇÃO DA IGREJA CATÓLICA

As críticas e avanços do reformismo protestante respondeu a igreja católica com

um movimento que foi simultaneamente de renovação interna (reforma católica) e de

combate das ideias reformista (contra reforma).

Reunidos no conselho de Trento, numa grande assembleia que se prolongou por

vários anos os bispos e cardeais católicos analisaram as criticas reformistas. De um

modo geral não aceitou as propostas de mudança dos protestantes. Pelo contrário,

foram reafirmando todos os dogmas da fé católica, valorizando o papel do papa e do

igreja como intermediários para a salvação do Homem, mantidos os sacramentos,

reforçado o culto dos santos e da Virgem Maria, Por outro lado, o concílio de Trento

estabeleceu regras de recrutamento do clero, que passava a ser formado em

seminário, e procurou moralizar o seu comportamento, impondo uma disciplina severa

e conservando o celibato.

ROMA DEPOIS DA REFORMA CATÓLICA

Já não se vêem os cardeais disfarçados, a cavalo ou em carruagem, passeando

pela cidade na companhia de mulheres, como era costume até há bem pouco tempo;

hoje, se viajam em carruagem, fazem-no sozinhos. Acabaram os festins, as caçadas e

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as exibições de luxo; e os próprios familiares laicos dos papas deixaram de viver no

Vaticano, corno era habitual.

Carta de um embaixador veneziano, junto da Santa Sé (1566 – 1572)

Para melhor impor a autoridade do alto clero e reafirmar a doutrina tradicional, a

Igreja Católica iniciou um verdadeiro combate contra a Reforma.

Foi criada uma nova ordem religiosa, a Companhia de Jesus, para lutar pelo

Cristianismo Católico e pela sua difusão no mundo. A Companhia de Jesus, ou Ordem

dos Jesuítas, fundada em 1539 pelo nobre espanhol Inácio de Loyola, constituiu uma

importante barreira contra o avanço do reformismo protestante, através da pregação e

do ensino, ministrado em numerosos colégios abertos por toda a Europa.

JESUÍTAS: O EXÉRCITO DE DEUS

Aquele que desejar tornar-se um soldado de Deus na nossa Ordem deverá,

depois de ter feito voto de castidade perpétua, consagrar-se à propagação da fé,

pregando publicamente, ensinando a palavra de Deus, fazendo exercícios espirituais e

acções piedosas e, sobretudo, dando às crianças uma educação religiosa e levando o

consolo espiritual através da confissão. Se o papa nos enviar a propagar a fé, ou a

converter as almas entre os infiéis, mesmo que seja às Índias, deveremos obedecer-lhe

sem reservas. Os membros da nossa ordem devem distinguir-se por uma obediência

absoluta, verdadeira, cega, renunciando à sua própria vontade. É necessário acreditar

que tudo o que um superior nos ordena é justo.

Os Jesuítas recebiam uma sólida preparação intelectual, de modo a poderem

rebater os argumentos reformistas. A sua acção estendeu-se também às novas terras

descobertas, sobretudo ao Oriente e ao Brasil, onde exerceram a missionação. Em

breve a companhia de Jesus se tornou uma instituição poderosíssima, dispondo de

grande influência junto das autoridades eclesiásticas e junto de reis e governantes.

A Igreja Católica dispôs ainda de dois outros instrumentos de combate contra o

reformismo e de defesa do catolicismo: o Índex e a Inquisição.

O Índex era um catálogo dos livros de leitura proibidos aos católicos. Aqueles

que ousassem ler qualquer desses livros ficavam excomungados. Escusado será dizer

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que os obras de Lutero figuravam à cabeça do índex e até as de Erasmo, que nunca

chegou a apoiar claramente o movimento reformista, foram nele incluídas.

Revolução Industrial

Um motor a vapor de Watt, o motor a vapor, alimentado principalmente com carvão, impulsionou a Revolução Industrial no Reino Unido e no mundo.

A Revolução Industrial consistiu em um conjunto de mudanças tecnológicas com profundo impacto no processo produtivo em nível econômico e social. Iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX.

Ao longo do processo a era da agricultura foi superada, a máquina foi superando o trabalho humano, uma nova relação entre capital e trabalho se impôs, novas relações entre nações se estabeleceram e surgiu o fenômeno da cultura de massa, entre outros eventos.

Essa transformação foi possível devido a uma combinação de fatores, como o liberalismo econômico, a acumulação de capital e uma série de invenções, tais como o motor a vapor. O capitalismo tornou-se o sistema econômico vigente.

O escocês James Watt.

Antes da Revolução Industrial, a atividade produtiva era artesanal e manual (daí o termo manufatura), no máximo com o emprego de algumas máquinas simples. Dependendo da escala, grupos de artesãos podiam se organizar e dividir algumas etapas do processo, mas muitas vezes um mesmo artesão cuidava de todo o processo, desde a obtenção da matéria-prima até à comercialização do produto final. Esses trabalhos eram realizados em oficinas nas casas dos próprios artesãos e os profissionais da época dominavam muitas (se não todas) etapas do processo produtivo.

Com a Revolução Industrial os trabalhadores perderam o controle do processo produtivo, uma vez que passaram a trabalhar para um patrão (na qualidade de empregados ou operários), perdendo a posse da matéria-prima, do produto final e do lucro. Esses trabalhadores passaram a controlar máquinas que pertenciam aos donos dos meios de produção os quais passaram a receber todos os lucros. O trabalho realizado com as máquinas ficou conhecido por maquinofatura.

Esse momento de passagem marca o ponto culminante de uma evolução tecnológica, econômica e social que vinha se processando na Europa desde a Baixa Idade Média, com ênfase nos países onde a Reforma Protestante tinha conseguido destronar a influência da Igreja Católica: Inglaterra, Escócia, Países Baixos, Suécia. Nos países fiéis ao catolicismo, a Revolução Industrial eclodiu, em geral, mais tarde, e num esforço declarado de copiar aquilo que se fazia nos países mais avançados tecnologicamente: os países protestantes.

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De acordo com a teoria de Karl Marx, a Revolução Industrial, iniciada na Grã-Bretanha, integrou o conjunto das chamadas Revoluções Burguesas do século XVIII, responsáveis pela crise do Antigo Regime, na passagem do capitalismo comercial para o industrial. Os outros dois movimentos que a acompanham são a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa que, sob influência dos princípios iluministas, assinalam a transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. Para Marx, o capitalismo seria um produto da Revolução Industrial e não sua causa.

Com a evolução do processo, no plano das Relações Internacionais, o século XIX foi marcado pela hegemonia mundial britânica, um período de acelerado progresso econômico-tecnológico, de expansão colonialista e das primeiras lutas e conquistas dos trabalhadores. Durante a maior parte do período, o trono britânico foi ocupado pela rainha Vitória (1837-1901), razão pela qual é denominado como Era Vitoriana. Ao final do período, a busca por novas áreas para colonizar e descarregar os produtos maciçamente produzidos pela Revolução Industrial produziu uma acirrada disputa entre as potências industrializadas, causando diversos conflitos e um crescente espírito armamentista que culminou, mais tarde, na eclosão, da Primeira Guerra Mundial (1914).

A Revolução Industrial ocorreu primeiramente na Europa devido a três fatores: 1) os comerciantes e os mercadores europeus eram vistos como os principais manufaturadores e comerciantes do mundo, detendo ainda a confiança e reciprocidade dos governantes quanto à manutenção da economia em seus estados; 2) a existência de um mercado em expansão para seus produtos, tendo a Índia, a África, a América do Norte e a América do Sul sido integradas ao esquema da expansão econômica européia; e 3) o contínuo crescimento de sua população, que oferecia um mercado sempre crescente de bens manufaturados, além de uma reserva adequada (e posteriormente excedente) de mão-de-obra. [1]

O pioneirismo do Reino Unido

O Reino Unido foi pioneiro no processo da Revolução Industrial por diversos fatores:

Pela aplicação de uma política econômica liberal desde meados do século XVIII. Antes da liberalização econômica, as atividades industriais e comerciais estavam cartelizadas pelo rígido sistema de guildas, razão pela qual a entrada de novos competidores e a inovação tecnológica eram muito limitados. Com a liberalização da indústria e do comércio ocorreu um enorme progresso tecnológico e um grande aumento da produtividade em um curto espaço de tempo.

O processo de enriquecimento britânico adquiriu maior impulso após a Revolução Inglesa, que forneceu ao seu capitalismo a estabilidade que faltava para expandir os investimentos e ampliar os lucros.

A Grã-Bretanha firmou vários acordos comerciais vantajosos com outros países. Um desses acordos foi o Tratado de Methuen, celebrado com a decadência da monarquia absoluta portuguesa, em 1703, por meio do qual conseguiu taxas preferenciais para os seus produtos no mercado português.

A Grã-Bretanha possuía grandes reservas de ferro e de carvão mineral em seu subsolo, principais matérias-primas utilizadas neste período. Dispunham de mão-de-obra em abundância desde a Lei dos Cercamentos de Terras, que provocou o êxodo rural. Os trabalhadores dirigiram-se para os centros urbanos em busca de trabalho nas manufaturas.

A burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as fábricas, adquirir matérias-primas e máquinas e contratar empregados.

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Para ilustrar a relativa abundância do capital que existia na Inglaterra, pode se constatar que a taxa de juros no final do século XVIII era de cerca de 5% ao ano; já na China, onde praticamente não existia progresso econômico, a taxa de juros era de cerca de 30% ao ano.

O liberalismo de Adam Smith

As novidades da Revolução Industrial trouxeram muitas dúvidas. O pensador escocês Adam Smith procurou responder racionalmente às perguntas da época. Seu livro A Riqueza das Nações (1776) é considerado uma das obras fundadoras da ciência econômica. Ele dizia que o individualismo é útil para a sociedade. Seu raciocínio era este: quando uma pessoa busca o melhor para si, toda a sociedade é beneficiada. Exemplo: quando uma cozinheira prepara uma deliciosa carne assada, você saberia explicar quais os motivos dela? Será porque ama o seu patrão e quer vê-lo feliz ou porque está pensando, em primeiro lugar, nela mesma ou no pagamento que receberá no final do mês? De qualquer maneira, se a cozinheira pensa no salário dela, seu individualismo será benéfico para ela e para seu patrão. E por que um açougueiro vende uma carne muito boa para uma pessoa que nunca viu antes? Porque deseja que ela se alimente bem ou porque está olhando para o lucro que terá com futuras vendas? Graças ao individualismo dele o freguês pode comprar boa carne. Do mesmo jeito, os trabalhadores pensam neles mesmos. Trabalham bem para poder garantir seu salário e emprego.

Portanto, é correto afirmar que os capitalistas só pensam em seus lucros. Mas, para lucrar, têm que vender produtos bons e baratos. O que, no fim, é ótimo para a sociedade.

Então, já que o individualismo é bom para toda a sociedade, o ideal seria que as pessoas pudessem atender livremente a seus interesses individuais. E, para Adam Smith, o Estado é quem atrapalhava a liberdade dos indivíduos. Para o autor escocês, "o Estado deveria intervir o mínimo possível sobre a economia". Se as forças do mercado agissem livremente, a economia poderia crescer com vigor. Desse modo, cada empresário faria o que bem entendesse com seu capital, sem ter de obedecer a nenhum regulamento criado pelo governo. Os investimentos e o comércio seriam totalmente liberados. Sem a intervenção do Estado, o mercado funcionaria automaticamente, como se houvesse uma "mão invisível" ajeitando tudo. Ou seja, o capitalismo e a liberdade individual promoveria o progresso de forma harmoniosa.

As primeiras máquinas a vapor foram construídas na Inglaterra durante o século XVIII. Retiravam a água acumulada nas minas de ferro e de carvão e fabricavam tecidos. Graças a essas máquinas, a produção de mercadorias aumentou muito. E os lucros dos burgueses donos de fábricas cresceram na mesma proporção. Por isso, os empresários ingleses começaram a investir na instalação de indústrias.

As fábricas se espalharam rapidamente pela Inglaterra e provocaram mudanças tão profundas que os historiadores atuais chamam aquele período de Revolução Industrial. O modo de vida e a mentalidade de milhões de pessoas se transformaram, numa velocidade espantosa. O mundo novo do capitalismo, da cidade, da tecnologia e da mudança incessante triunfou.

As máquinas a vapor bombeavam a água para fora das minas de carvão. Eram tão importantes quanto as máquinas que produziam tecidos.

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As carruagens viajavam a 12 km/h e os cavalos, quando se cansavam, tinham de ser trocados durante o percurso. Um trem da época alcançava 45 km/h e podia seguir centenas de quilômetros. Assim, a Revolução Industrial tornou o mundo mais veloz. Como essas máquinas substituiam a força dos cavalos, convencionou-se em medir a potência desses motores em HP (do inglês horse power ou cavalo-força).

A classe trabalhadora

A produção manual que antecede à Revolução Industrial conheceu duas etapas bem definidas, dentro do processo de desenvolvimento do capitalismo:

O artesanato foi a forma de produção industrial característica da Baixa Idade Média, durante o renascimento urbano e comercial, sendo representado por uma produção de caráter familiar, na qual o produtor (artesão) possuía os meios de produção (era o proprietário da oficina e das ferramentas) e trabalhava com a família em sua própria casa, realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima, até o acabamento final; ou seja não havia divisão do trabalho ou especialização para a confecção de algum produto. Em algumas situações o artesão tinha junto a si um ajudante, porém não assalariado, pois realizava o mesmo trabalho pagando uma “taxa” pela utilização das ferramentas.

o É importante lembrar que nesse período a produção artesanal estava sob controle das corporações de ofício, assim como o comércio também se encontrava sob controle de associações, limitando o desenvolvimento da produção.

A manufatura, que predominou ao longo da Idade Moderna e na Antiguidade Clássica, resultou da ampliação do mercado consumidor com o desenvolvimento do comércio monetário. Nesse momento, já ocorre um aumento na produtividade do trabalho, devido à divisão social da produção, onde cada trabalhador realizava uma etapa na confecção de um único produto. A ampliação do mercado consumidor relaciona-se diretamente ao alargamento do comércio, tanto em direção ao oriente como em direção à América. Outra característica desse período foi a interferência do capitalista no processo produtivo, passando a comprar a matéria-prima e a determinar o ritmo de produção.

A partir da máquina, fala-se numa primeira, numa segunda e até terceira e quarta Revoluções Industriais. Porém, se concebermos a industrialização como um processo, seria mais coerente falar-se num primeiro momento (energia a vapor no século XVIII), num segundo momento (energia elétrica no século XIX) e num terceiro e quarto momentos, representados respectivamente pela energia nuclear e pelo avanço da informática, da robótica e do setor de comunicações ao longo dos séculos XX e XXI (aspectos, porém, ainda discutíveis).

Na esfera social, o principal desdobramento da revolução foi a transformação nas condições de vida nos países industriais em relação aos outros países da época, havendo uma mudança progressiva das necessidades de consumo da população conforme novas mercadorias foram sendo produzidas.

A Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida do trabalhador braçal, provocando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades. Criando enormes concentrações urbanas; a população de Londres cresceu de 800 000 habitantes em 1780 para mais de 5 milhões em 1880, por exemplo. Durante o início da Revolução Industrial, os operários viviam em condições horríveis se comparadas às condições dos trabalhadores do século seguinte. Muitos dos trabalhadores tinham um cortiço como moradia e ficavam

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submetidos a jornadas de trabalho que chegavam até a 80 horas por semana. O salário era medíocre (em torno de 2.5 vezes o nível de subsistência) e tanto mulheres como crianças também trabalhavam, recebendo um salário ainda menor.

A produção em larga escala e dividida em etapas iria distanciar cada vez mais o trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores passava a dominar apenas uma etapa da produção, mas sua produtividade ficava maior. Como sua produtividade aumentava os salários reais dos trabalhadores ingleses aumentaram em mais de 300% entre 1800 até 1870. Devido ao progresso ocorrido nos primeiros 90 anos de industrialização, em 1860 a jornada de trabalho na Inglaterra já se reduzia para cerca de 50 horas semanais (10 horas diárias em cinco dias de trabalho por semana).

Movimentos

Alguns trabalhadores, indignados com sua situação, reagiam das mais diferentes formas, das quais se destacam:

Movimento Ludista (1811-1812)

Ver artigo principal: Ludismo

Reclamações contra as máquinas inventadas após a revolução para poupar a mão-de-obra já eram normais. Mas foi em 1811 que o estopim estourou e surgiu o movimento ludista, uma forma mais radical de protesto. O nome deriva de Ned Ludd, um dos líderes do movimento. Os luditas chamaram muita atenção pelos seus atos. Invadiram fábricas e destruíram máquinas, que, segundo os luditas, por serem mais eficientes que os homens, tiravam seus trabalhos, requerendo, contudo, duras horas de jornada de trabalho. Os manifestantes sofreram uma violenta repressão, foram condenados à prisão, à deportação e até à forca. Os luditas ficaram lembrados como "os quebradores de máquinas".

Anos depois os operários ingleses mais experientes adotaram métodos mais eficientes de luta, como a greve e o movimento sindical.

Movimento Cartista (1837-1848)

Em seqüência veio o movimento "cartista", organizado pela "Associação dos Operários", que exigia melhores condições de trabalho como:

particularmente a limitação de oito horas para a jornada de trabalho a regulamentação do trabalho feminino a extinção do trabalho infantil a folga semanal o salário mínimo

Este movimento lutou ainda pelos direitos políticos, como o estabelecimento do sufrágio universal (apenas para os homens, nesta época) e extinção da exigência de propriedade para se integrar ao parlamento e o fim do voto censitário. Esse movimento se destacou por sua organização, e por sua forma de atuação, chegando a conquistar diversos direitos políticos para os trabalhadores.

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As "trade-unions"

Os empregados das fábricas também formaram associações denominadas trade unions, que tiveram uma evolução lenta em suas reivindicações. Na segunda metade do século XIX, as trade unions evoluíram para os sindicatos, forma de organização dos trabalhadores com um considerável nível de ideologização e organização, pois o século XIX foi um período muito fértil na produção de idéias antiliberais que serviram à luta da classe operária, seja para obtenção de conquistas na relação com o capitalismo, seja na organização do movimento revolucionário cuja meta era construir o socialismo objetivando o comunismo. O mais eficiente e principal instrumento de luta das trade unions era a greve.

A industrialização na Europa: a partir de 1815

Até 1850, a Inglaterra continuou dominando o primeiro lugar entre os países industrializados. Embora outros países já contassem com fábricas e equipamentos modernos, esses eram considerados uma "miniatura de Inglaterra", como por exemplo os vales de Ruhr e Wupper na Alemanha, que eram bem desenvolvidos, porém não possuíam a tecnologia das fábricas inglesas.

Na Europa, os maiores centros de desenvolvimento industrial, na época, eram as regiões mineradoras de carvão; lugares como o norte da França, nos vales do Rio Sambre e Meuse, na Alemanha, no vale de Ruhr, e também em algumas regiões da Bélgica. A Alemanha nessa época ainda não havia sido unificada. Eram 39 pequenos reinos e dentre esses a Prússia, que liderava a Revolução Industrial. A Alemanha se unificou em 1871, quando a Prússia venceu a Guerra Franco-Prussiana.

Fora estes lugares, a industrialização ficou presa:

às principais cidades, como Paris e Berlim; aos centro de interligação viária, como Lyon, Colônia, Frankfurt am Main, Cracóvia e

Varsóvia; aos principais portos, como Hamburgo, Bremen, Roterdã, Le Havre, Marselha; a polos têxteis, como Lille, Região do Ruhr, Roubaix, Barmen-Elberfeld (Wuppertal),

Chemmitz, Lodz e Moscou; e a distritos siderurgicos e indústria pesada, na bacia do rio Loire, do Sarre, e da Silésia.

De 1830 a 1929 : A Expansão pelo mundo

Após 1830, a produção industrial se descentralizou da Inglaterra e se expandiu rapidamente pelo mundo, principalmente para o noroeste europeu, e para o leste dos Estados Unidos da América. Porém, cada país se desenvolveu em um ritmo diferente baseado nas condições econômicas, sociais e culturais de cada lugar.

Na Alemanha com o resultado da Guerra Franco-prussiana em 1870, houve a Unificação Alemã que, liderada por Bismarck, impulsionou a Revolução Industrial no país que já estava ocorrendo desde 1815. Foi a partir dessa época que a produção de ferro fundido começou a aumentar de forma exponencial.

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Na Itália a unificação política realizada em 1870, à semelhança do que ocorreu na Alemanha, impulsionou, mesmo que atrasada, a industrialização do país. Essa só atingiu ao norte da Itália, pois o sul continuou basicamente agrário.

Muito mais tarde, começou a industrialização na Rússia, nas últimas décadas do século XIX. Os principais fatores para que ela acontecesse foram a grande disponibilidade de mão-de-obra, intervenção governamental na economia através de subsídios e investimentos estrangeiros à indústria.

Nos Estados Unidos a industrialização começou no final do século XVIII, e foi somente após a Guerra da Secessão que todo o país se tornou industrializado. A industrialização relativamente tardia dos EUA em relação à Inglaterra pode ser explicada pelo fato de que nos EUA existia muita terra per capita, já na Inglaterra existia pouca terra per capita, assim os EUA tinham uma vantagem comparativa na agricultura em relação à Inglaterra e consequentemente demorou bastante tempo para que a indústria ficasse mais importante que a agricultura. Outro fator é que os Estados do sul eram escravagistas o que retardava a acumulação de capital, como tinham muita terra eram essencialmente agrários, impedindo a total industrialização do país que até a segunda metade do século XIX era constituído só pelos Estados da faixa leste do atual Estados Unidos.

O término do conflito resultou na abolição da escravatura o que elevou a produtividade da mão de obra. aumentando assim a velocidade de acumulação de capital, e também muitas riquezas naturais foram encontradas no período incentivando a industrialização.

A modernização do Japão data do início da era Meiji, em 1867, quando a superação do feudalismo unificou o país. A propriedade privada foi estabelecida. A autoridade política foi centralizada possibilitando a intervenção estatal do governo central na economia, o que resultou no subsidio a indústria. E como a mão-de-obra ficou livre dos senhores feudais, ocorreu assimilação da tecnologia ocidental e o Japão passou de um dos países mais atrasados do mundo a um país industrializado.

A industrialização no Brasil

Ver artigo principal: História da industrialização no Brasil.

O Brasil, como uma antiga colônia de uma nação europeia, faz parte de um grupo de países de industrialização tardia.

A industrialização em Portugal

Em Portugal, as reformas de Mouzinho da Silveira liquidam os resquícios das estruturas feudais e consolidam a burguesia no poder, modernizando o país. Na segunda metade do século XIX implanta-se a malha ferroviária no país em paralelo a um desenvolvimento industrial e do comércio, à dinâmica do colonialismo, e a uma grande emigração, principalmente em direcção ao Brasil e aos Estados Unidos da América.

As consequências da Revolução Industrial

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A partir da Revolução Industrial o volume de produção aumentou extraordinariamente: a produção de bens deixou de ser artesanal e passou a ser maquinofaturada; as populações passaram a ter acesso a bens industrializados e deslocaram-se para os centros urbanos em busca de trabalho. As fábricas passaram a concentrar centenas de trabalhadores, que vendiam a sua força de trabalho em troca de um salário.

Outra das consequências da Revolução Industrial foi o rápido crescimento econômico. Antes dela, o progresso econômico era sempre lento (levavam séculos para que a renda per capita aumentasse sensivelmente), e após, a renda per capita e a população começaram a crescer de forma acelerada nunca antes vista na história. Por exemplo, entre 1500 e 1780 a população da Inglaterra aumentou de 3,5 milhões para 8,5, já entre 1780 e 1880 ela saltou para 36 milhões, devido à drástica redução da mortalidade infantil.

A Revolução Industrial alterou completamente a maneira de viver das populações dos países que se industrializaram. As cidades atraíram os camponeses e artesãos, e se tornaram cada vez maiores e mais importantes.

Na Inglaterra, por volta de 1850, pela primeira vez em um grande país, havia mais pessoas vivendo em cidades do que no campo. Nas cidades, as pessoas mais pobres se aglomeravam em subúrbios de casas velhas e desconfortáveis, com condições horríveis de higiene e salubridade, se comparadas com as habitações dos países industrializados hoje em dia. Mas representavam uma grande melhoria se comparadas as condições de vida dos camponeses, que viviam em choupanas de palha. Conviviam com a falta de água encanada, com os ratos, o esgoto formando riachos nas ruas esburacadas.

O trabalho do operário era muito diferente do trabalho do camponês: tarefas monótonas e repetitivas. A vida na cidade moderna significava mudanças incessantes. A cada instante, surgiam novas máquinas, novos produtos, novos gostos, novas modas.

Estudos sobre as variações na altura média dos homens no norte da Europa, sugerem que o progresso econômico gerado pela industrialização demorou varias décadas até beneficiar a população como um todo. Eles indicam que, em média, os homens do norte europeu durante o início da Revolução Industrial eram 7,6 centímetros mais baixos que os que viveram 700 anos antes, na Alta Idade Média. É estranho que a altura média dos ingleses tenha caído continuamente durante os anos de 1100 até o início da revolução industrial em 1780, quando a altura média começou a subir. Foi apenas no início do século XX que essas populações voltaram a ter altura semelhante às registradas entre os séculos IX e XI [3] . A variação da altura média de uma população ao longo do tempo é considerada um indicador de saúde e bem-estar econômico.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Gustavo de Freitas, “Actos Pontifícios’ in Textos e Dorumentos de Hiretria, PíStano ‘Valuce, Ladmo – Historia gera- Ensino de Primeiro grau, ed. Do Brasil,1975

De Freitas, Gustavo– historia, ed Plátano, Lisboa-1978

Almiro neves, Pedro e Castro almeida,Valdemar- A Descoberta da Historia 7- ed, porto

editora, Sd.

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