12
A APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS EM DISCIPLINA DE GEOMETRIA GRÁFICA BIDIMENSIONAL Rejane de Moraes Rêgo IFPE Campus Recife, Coordenação de Design Gráfico [email protected] Resumo O artigo apresenta a experiência didática em desenvolvimento na disciplina Geometria Gráfica Bidimensional do Curso Superior de Tecnologia em Design Gráfico do IFPE Campus Recife. A partir das dificuldades encontradas na adoção de metodologia de ensino tradicional, centrada na exploração dos conteúdos da geometria gráfica bidimensional e nas construções gráficas correlatas, através de aulas teórico-práticas, vimos desenvolvendo uma abordagem fundamentada na aprendizagem baseada em problemas (ABP), trabalhando os conteúdos por meio de aplicações em projetos gráficos. Os principais resultados dessa nova abordagem metodológica são o maior envolvimento dos estudantes com a disciplina, o desenvolvimento de autonomia na construção do conhecimento, a exploração da criatividade, e a transferência do conhecimento para as disciplinas projetuais. Palavras-chave: geometria gráfica bidimensional, ABP, experiência didática. Resumen El artículo presenta la experiencia didáctica en desarrollo en la asignatura Geometria Gráfica Bidimensional del Curso Superior de Tecnología en Diseño Gráfico del IFPE - Campus Recife. Considerando las dificultades encontradas en la adopción de metodología tradicional de enseñanza, centralizada en la exploración de los contenidos de la geometría gráfica bidimensional y en las construcciones gráficas relacionadas, hemos desarrollado un abordaje fundamentada en el aprendizaje basada en problemas (ABP), trabajando contenidos con aplicaciones en proyectos gráficos. Los principales resultados del nuevo abordaje metodológico son el mayor envolvimiento de los estudiantes con la asignatura, el desarrollo de la autonomía en la construcción del conocimiento, la exploración de la creatividad, y la transferencia del conocimiento para las asignaturas proyectuales. Keywords: geometria gráfica bidimensional, ABP, experiência didáctica.

A APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS EM DISCIPLINA DE ... · 2 Conhecendo a Aprendizagem Baseada em Problemas A aprendizagem baseada em problemas constitui-se em uma expressão que

Embed Size (px)

Citation preview

A APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS EM

DISCIPLINA DE GEOMETRIA GRÁFICA BIDIMENSIONAL

Rejane de Moraes Rêgo IFPE – Campus Recife, Coordenação de Design Gráfico

[email protected]

Resumo

O artigo apresenta a experiência didática em desenvolvimento na disciplina Geometria Gráfica Bidimensional do Curso Superior de Tecnologia em Design Gráfico do IFPE – Campus Recife. A partir das dificuldades encontradas na adoção de metodologia de ensino tradicional, centrada na exploração dos conteúdos da geometria gráfica bidimensional e nas construções gráficas correlatas, através de aulas teórico-práticas, vimos desenvolvendo uma abordagem fundamentada na aprendizagem baseada em problemas (ABP), trabalhando os conteúdos por meio de aplicações em projetos gráficos. Os principais resultados dessa nova abordagem metodológica são o maior envolvimento dos estudantes com a disciplina, o desenvolvimento de autonomia na construção do conhecimento, a exploração da criatividade, e a transferência do conhecimento para as disciplinas projetuais. Palavras-chave: geometria gráfica bidimensional, ABP, experiência didática.

Resumen

El artículo presenta la experiencia didáctica en desarrollo en la asignatura Geometria Gráfica Bidimensional del Curso Superior de Tecnología en Diseño Gráfico del IFPE - Campus Recife. Considerando las dificultades encontradas en la adopción de metodología tradicional de enseñanza, centralizada en la exploración de los contenidos de la geometría gráfica bidimensional y en las construcciones gráficas relacionadas, hemos desarrollado un abordaje fundamentada en el aprendizaje basada en problemas (ABP), trabajando contenidos con aplicaciones en proyectos gráficos. Los principales resultados del nuevo abordaje metodológico son el mayor envolvimiento de los estudiantes con la asignatura, el desarrollo de la autonomía en la construcción del conocimiento, la exploración de la creatividad, y la transferencia del conocimiento para las asignaturas proyectuales. Keywords: geometria gráfica bidimensional, ABP, experiência didáctica.

1 Introdução

O Curso Superior de Tecnologia em Design Gráfico do IFPE – Campus Recife (antigo

CEFET-PE) foi criado em 2000 cuja proposta curricular baseava-se em dois grandes

eixos metodológicos: planejamento-projeto e execução-manutenção. Nesses 10 anos

de existência o curso passou por duas reformulações (2002 e 2004) nas quais

disciplinas foram modificadas, unificadas ou eliminadas. Nas três matrizes curriculares

que têm direcionado o curso até agora, as disciplinas de educação gráfica compõem o

eixo de execução-manutenção. Na matriz curricular atualmente em vigor tem-se um

módulo básico (para a construção de conhecimentos fundamentadores relacionados

ao design) e de três módulos projetuais (Editorial, Sistema de Identidade Visual e

Hipermídia) desenvolvidos em um semestre letivo cada.

A disciplina Geometria Gráfica Bidimensional (GEO2D) faz parte do módulo

Editorial, por entender-se que os conteúdos inerentes à mesma têm uma forte relação

com o eixo projetual do módulo. Seguindo essa mesma concepção, a disciplina

Geometria Gráfica Tridimensional compõe o módulo 3 – Sistema de Identidade Visual

–, com a compreensão de que os estudantes devem desenvolver a capacidade de

raciocínio espacial e as representações gráficas correlatas para aplicar identidades

visuais em sistemas de sinalização, embalagens e outros suportes tridimensionais.

Não sendo pertencentes ao módulo básico, as disciplinas de geometria geram

expectativa nos alunos, no sentido de buscarem uma “relação direta” das mesmas

com o eixo projetual do módulo, como ocorre com as demais disciplinas.

Ao serem desenvolvidas adotando-se metodologia tradicional1, o processo didático

e os resultados obtidos na disciplina de GEO2D não estavam sendo satisfatórios.

Verificou-se grande dificuldade dos estudantes em transferir os conhecimentos

geométricos construídos para os projetos editoriais propostos no módulo, assim como

nos módulos seguintes.

Nesse contexto, a partir de 2009.1, temos investido na construção de uma nova

abordagem metodológica, pautada em dois direcionamentos principais: motivação e

envolvimento dos estudantes e aplicação dos conteúdos em projetos gráficos.

A experiência também objetiva resgatar a adoção da ABP – Aprendizagem

Baseada em Problemas – a qual foi proposta no primeiro projeto do curso como a

abordagem metodológica a ser conduzida em todas as disciplinas. Experiências

didáticas fundamentadas na ABP foram desenvolvidas com sucesso em praticamente

1 Aqui compreende-se como “metodologia tradicional” a abordagem dos conteúdos da Geometria Gráfica

Bidimensional com aulas teóricas para explicação dos conceitos, seguida de proposição de construções gráficas, de caráter abstrato, privilegiando-se a solução de um problema gráfico que não está relacionado diretamente a uma aplicação concreta em uma área específica.

todas as disciplinas na primeira matriz curricular. A ABP perdeu espaço nas duas

matrizes seguintes (incluindo a atual), entretanto pouco foi adotada nas disciplinas da

área gráfica desde o início do curso.

Este artigo pretende apresentar a experiência em desenvolvimento e seus

principais resultados.

2 Conhecendo a Aprendizagem Baseada em Problemas

A aprendizagem baseada em problemas constitui-se em uma expressão que abrange

diferentes enfoques do ensino e da aprendizagem, podendo-se referir a conceitos

didáticos pautados apenas na resolução de problemas ou a conceitos que combinem a

abordagem pedagógica tradicional com a resolução de problemas através do trabalho

com projetos (ENEMARK e KJAERSDAM, 2009).

Porém, em que pese as diferentes variações e abordagens, a ABP tem por eixo

fundamental o deslocamento do aluno para o centro do processo educativo, dando-lhe

autonomia e responsabilidade pela aprendizagem. Um processo que se desenvolve

através da identificação e análise de problemas, da capacidade de elaborar questões

e procurar informações para ampliá-las e respondê-las, criando-se um ciclo onde

novas questões são, naturalmente, levantadas e novos processos de aprendizagem e

de problematização são desenvolvidos (ARAÚJO e SASTRE, 1999).

Diversas teorias e filosofias educacionais que compreendem a aprendizagem

como a construção de novos conhecimentos sobre a base de conhecimentos atuais,

podem ser conectadas à ABP, como as derivadas das ideias e perspectivas de Dewey

(Pragmatismo/Instrumentalismo) e Brunner (Instrumentalismo Evolucionista).

Moesby (2009) apresenta uma taxonomia da implementação da ABP que permite

observar os diferentes estágios em que a abordagem pode ser utilizada. Para o autor,

a ABP pode se realizar em três níveis: individual, sistema/grupo e institucional.

O nível individual caracteriza-se por ser uma nova prática no marco do sistema

educacional; por relacionar-se com a educação de cada professor e, assim, configurar-

se como “pessoal”; e por não haver mudanças no sistema de avaliação.

As principais características do nível sistema/grupo é a indução à mudança nos

objetivos das disciplinas; nos métodos de ensino e aprendizagem; e nos sistemas de

avaliação da organização.

Já no nível institucional as mudanças atingem a estrutura da organização como

um todo, abrangendo a proposta educacional.

No exterior têm-se experiências exitosas do emprego da ABP, em diferentes

níveis. No Brasil o exemplo mais significativo da ABP em ensino superior foi proposto

para a USP Leste (ARAUJO e SASTRE, 2009).

2.1 A ABP no Curso Superior de Tecnologia em Design Gráfico do IFPE

O Curso Superior de Tecnologia em Design Gráfico do IFPE foi pioneiro na proposição

da ABP como principal eixo metodológico no projeto pedagógico que o viabilizou em

2000.

A ABP tem como um dos pilares a aprendizagem significativa. Ou seja, a

aprendizagem ocorre quando os alunos são solicitados a fazer algo, e não a

“aprender”. O aprendizado resultará espontâneo no processo interdisciplinar de

resolução de problemas complexos, e o mais próximos possível da realidade

profissional.

Nesse processo os estudantes devem ser orientados e acompanhados por

docentes de formação vária, e avaliados em sala durante toda dinâmica didática, ao

fim da qual sempre culmina uma autoavaliação discente, prática motivada não apenas

para construção do conhecimento apropriado à circunstância daquele desafio

projetual, mas também e principalmente da autoconfiança profissional crítica e

reflexiva (SCHÖN, 2000).

Segundo Araújo (2000), na dinâmica do Curso toda disciplina tem a flexibilidade

de ser ministrada de forma tradicional, com aulas expositivas, ou de modo resolutivo,

como é o caso da ABP, segundo a disponibilidade dos docentes que assumem as

respectivas regências de sala de aula. O procedimento proposto para o Curso,

baseado na ABP, deve começar com a proposição de um problema “mal estruturado”,

para que os alunos sejam desafiados a pensar numa melhor elaboração do problema.

Em seguida, dá-se início ao processo criativo de resolução projetual, durante o qual, a

cada semana, é produzido um “diário de bordo” que registra quatro blocos de

informação (Figura 01):

a) Ideias: descrição dos vários caminhos de solução;

b) Fatos: a bagagem cultural já dominada; o que já se conhece para resolver o

problema;

c) Questões: lacunas de conhecimentos a serem construídos para julgar e realizar

a solução mais viável;

d) Planos: estratégias de levantamento de dados para transformar as questões

em fatos, podendo, assim, efetivar a solução julgada mais adequada.

Os quatro blocos de informação são atualizados periodicamente e a elaboração

do problema, revisitada e adaptada aos novos fatos que vão sendo incorporados à

gestão do projeto.

Figura 01: Ficha para preenchimento do Diário de Bordo

A avaliação é feita em duas etapas, a primeira com uma ficha de autoavaliação

discente (Figura 02), quando os alunos julgam seu desempenho pessoal no trabalho

em equipe; e a ficha docente (Figura 03), que avalia individualmente os alunos sob os

mesmos critérios da autoavaliação, mas com detalhes mais especificados. Observa-se

em que estágio de construção encontra-se o conhecimento o estudante: bem

construído, em construção e não construído. Cada estágio é relacionado a um

intervalo de notas, que é atribuído pelo aluno (ficha discente) e pelo professor (ficha

docente) para computação da nota final do exercício projetual.

Ambas as fichas são comparadas no final do projeto, após entrega dos trabalhos

e a nota maior com margem de 1 (um) ponto é computada na planilha de avaliação;

caso a margem ultrapasse um ponto, constará definitivamente a nota dada pelo

professor.

Figura 02: Ficha para Auto-avaliação discente

Figura 03: Ficha para Avaliação docente

Os comentários sobre todo processo projetual e avaliação são retornados aos

alunos com cópias das fichas docentes e discentes, em uma tabela sintetizada do

cálculo de notas com as parciais de desempenho individual e em equipe. Todo o

processo avaliativo é, por fim, discutido entre docentes e discentes

A ABP foi adotada de forma sistemática durante os dois primeiros anos do curso,

mas, a partir da primeira reformulação, em 2002, constata-se que houve dificuldade de

mantê-la em todas as disciplinas. Assim, algumas disciplinas permaneceram utilizando

a ABP, mas a maioria passou a adotar metodologias tradicionais. Nos últimos dois

anos, alguns docentes têm se empenhado em recuperar a metodologia, buscando não

só a aplicação da mesma nas suas disciplinas, mas, também, em uma abordagem

interdisciplinar.

3 Construindo uma abordagem fundamentada na ABP para a disciplina

de geometria gráfica bidimensional

Costa & Costa (1974, p.2) propõem a expressão “geometria gráfica” para o campo do

conhecimento que trata da geometria através da representação gráfica. Para os

autores a geometria gráfica é o

[...] estudo, através do desenho, de qualquer propriedade de forma. Poderá ser bidimensional, estudando apenas figuras planas diretamente no plano do desenho, ou tridimensional, utilizando os sistemas de representação para estudar formas de três dimensões em desenhos planos.

Desde 2009.1 temos investido na construção de uma nova abordagem

metodológica para a disciplina de Geometria Gráfica Bidimensional, pautada em dois

direcionamentos principais: (1) motivação e envolvimento dos estudantes e (2)

aplicação dos conteúdos em projetos gráficos.

A adoção da ABP configura-se na interface entre o nível individual e o nível

sistema/grupo, segundo a taxonomia de Moesby (2009). Ou seja, caracteriza-se como

uma situação pessoal, vinculada individualmente a um docente, porém, apresenta

características do nível sistema/grupo na medida em que há mudanças nos objetivos

da disciplina.

Optou-se por buscar caminhos para a adoção da ABP, propondo-se “exercícios

projetuais” relacionados à temática do módulo editorial, devendo cada exercício

proposto aplicar um ou mais conteúdos específicos da geometria gráfica

bidimensional. Os conteúdos foram selecionados tomando-se como critério uma

relação mais direta com projetos gráficos. Nesse contexto, tem-se explorado

especialmente: concordância, proporção áurea e malhas planas poligonais.

Para aplicação de concordância propôs-se a criação das letras do nome e

sobrenome do estudante. A proporção áurea foi explorada em exercício cujo desafio

projetual foi a criação de peças gráficas (folders, cartão de visita, cartaz, outdoor,

marcador de livro, etc.). O exercício projetual para aplicação de malhas planas

poligonais teve como tema a criação de catálogo de mosaicos ou de padronagem para

tecido, explorando o Design de Superfície.

Cada exercício projetual é apresentado expondo-se os requisitos a serem

atendidos (que funcionam como restrições ou variáveis de projeto) e são dadas

orientações básicas para que os alunos iniciem uma pesquisa sobre o conteúdo

geométrico a ser aplicado. Na etapa seguinte são elaborados os primeiros esboços e o

diário de bordo. Cabe ao docente, então, discutir as ideias de solução apresentadas e

as dúvidas conceituais e de construção geométrica que o aluno apresente. Busca-se

que o próprio aluno descubra “como realizar” a construção geométrica que deseja,

evitando-se transmitir ao mesmo um “passo a passo” da representação.

O desenvolvimento do exercício é registrado no diário de bordo (Figura 04), que

apresenta, a cada aula, a evolução do processo e serve de base para a elaboração do

memorial descritivo do exercício projetual a ser entregue ao final.

Figura 04: Diário de Bordo apresentado por estudante (Karoline Nóbrega)

Os exercícios projetuais podem ser realizados por meio de instrumentos gráficos

tradicionais – régua, compasso, esquadros, etc. – ou com instrumentos gráficos

digitais – programas computacionais para desenho (Figura 05). Os alunos podem

escolher qual ferramenta digital adotar após discutir com o docente a adequação da

mesma para realização do exercício. A necessidade de aprender a usar um

determinado instrumento gráfico digital para realização da atividade cabe

principalmente ao estudante, com alguma ajuda do docente, visto que não é objetivo

da disciplina o ensino de software.

Figura 05a e 05b: Exemplo de dois Exercícios Projetuais para criação de letras – representação por instrumento gráfico tradicional e por instrumento digital (Alunas Karoline

Nóbrega e Daniela Falcone)

O produto a ser entregue deve reunir os esboços, a pesquisa teórica sobre o

conteúdo específico, o memorial descritivo, os diários de bordo e a proposta projetual

final.

Figura 06: Exemplo de esboço no desenvolvimento do exercício para elaboração de mosaicos (Alunas Daniele Silva e Danielle Vilela)

Incentiva-se os estudantes a adotarem um conceito para desenvolvimento dos

exercícios projetuais, como um momento histórico, uma abordagem cultural, um

cliente fictício, etc. Nem todos conseguem, entretanto, partir desse tipo de pressuposto

para abordar o problema, especialmente por serem alunos ainda em adaptação,

cursando o segundo semestre. Esse procedimento tem tido repercussão significativa

na motivação do estudante e possibilitado a exploração da interdisciplinaridade, pois

há, naturalmente, um diálogo com os conteúdos de disciplinas como diagramação e

metodologia de projeto editorial que se desenvolvem em paralelo (Figuras 07, 08, 09).

Figura 07: Exemplo de exercício projetual desenvolvido com base em um conceito: cartaz inspirado no Neoplasticismo aplicando concordância (Aluno Carlos H. Silva)

Figura 08: Exemplo de exercício projetual desenvolvido com base em um conceito: letras inspiradas em grafitagem aplicando concordância (Aluno Johny Cavalcanti)

Figura 09: Exemplo de exercício projetual desenvolvido com base em um conceito: mosaico inspirado em fuxico aplicando malhas planas poligonais (Alunas Daniele Silva e Danielle Vilela)

A experiência tem sido avaliada ao final do semestre pelos discentes, em um

questionário aberto. Para a análise e interpretação das respostas tem sido utilizado um

procedimento de categorização adaptado da hermenêutica-dialética proposto por

Minayo (2009). Através dessa avaliação, a experiência tem sido ajustada,

principalmente quanto à definição dos exercícios projetuais (tipo, requisitos) e do

tempo para desenvolvimento dos mesmos de acordo com o nível de complexidade.

4 Considerações finais

Considera-se que a adoção de metodologia baseada na ABP na disciplina de

Geometria Gráfica Bidimensional tem alcançado resultados satisfatórios quanto aos

dois principais objetivos que pautaram a mudança no desenvolvimento da disciplina.

Ou seja, tem-se observado uma maior motivação e um crescente envolvimento dos

estudantes com a disciplina. Quanto à aplicação dos conteúdos de Geometria Gráfica

Bidimensional em exercício relacionados a projetos gráficos, avalia-se que é

necessária a ampliação e a diversificação dos exercícios propostos, assim como a

abordagem de outros conteúdos nas próximas experiências na disciplina.

Avalia-se que a exploração do procedimento projetual para desenvolvimento dos

exercícios deva ser melhorada, estimulando os estudantes à prática da reflexão-em-

ação e ao trabalho colaborativo mais efetivo.

A maior dificuldade da condução dessa experiência, entretanto, tem sido romper

com a maneira de vivenciar o processo de ensino e aprendizagem culturalmente

enraizada nos estudantes. Tornar-se protagonista do processo de aprendizagem,

aprender a aprender, ver no professor um orientador e não a pessoa que irá “dar o

conteúdo” constitui-se em uma mudança de comportamento que muitos estudantes

não conseguem realizar em apenas um semestre letivo. Porém, acredita-se que expô-

los a esse desafio, mesmo que em uma disciplina e por tão pouco tempo, é relevante

e suficiente para instigá-los a levar a experiência adiante em outras circunstâncias.

Agradecimentos

Aos estudantes dos semestres 2010.1 e 2011.1 que abraçaram a ideia de vivenciar

uma nova abordagem metodológica. Ao professor Eduardo Fernandes Araújo pelas

discussões e apresentação de bibliografia sobre a ABP que me permitiram ousar e

buscar novos caminhos para o processo de aprendizagem na disciplina de Geometria

Gráfica Bidimensional do Curso de Design Gráfico do IFPE.

Referências

ARAÚJO, E. F. Diretrizes pedagógicas da aprendizagem mediante problemas:

aprendendo a resolver, resolvendo para aprender. Recife: Edição particular, 2000.

ARAÚJO, U. F.; SASTRE, G.(Org) Aprendizagem baseada em problemas no ensino superior. São Paulo: Summus, 2009.

COSTA, M. D.; COSTA, A. P. A. V. Geometria gráfica tridimensional. 2. ed. Recife: Ed. UFPE, 1984. 2 v.

ENEMARK, S,; KJAERSDAM, F. A ABP na teoria e na prática: a experiência de Aalborg na inovação do projeto no ensino universitário. In: ARAÚJO, U. F.; SASTRE, G.(Org) Aprendizagem baseada em problemas no ensino superior. São Paulo: Summus, 2009. p. 17-41.

MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento – pesquisa qualitativa em saúde. 6. ed. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco, 1999. 269 p.

MOESBY, E. Perspectiva geral da introdução e implementação de um novo modelo educacional focado na aprendizagem baseada em projetos e problemas. In: ARAÚJO, U. F.; SASTRE, G.(Org) Aprendizagem baseada em problemas no ensino superior. São Paulo: Summus, 2009. p. 43-78.

SCHÖN, D. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Trad. Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.