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5 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho procura fazer uma analogia entre o pensamento Junguiano e a doutrina homeopática, mostrando que ambos podem ser complementares, devido terem a mesma finalidade. Ambos são fenomenológicos, pois observam e buscam os resultados a partir da observação das experiências. São finalistas, pois não dão importância á causa e origem dos fatos, que podem até serem identificados, mas a finalidade é a busca da integração do indivíduo em sua totalidade e o movimento que os conteúdos emocionais fazem para essa transformação. O objetivo do trabalho é aprofundar o estudo homeopático e seu método de tratamento a partir do conhecimento do pensamento Junguiano. O curso de pós-graduação ajudou-me a conhecer alguns de meus próprios conteúdos e a partir disso facilitou o entendimento e a percepção da realidade do paciente, no meu trabalho.

A Arte de Curar e o Organon

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MONOGRAFIA

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1. INTRODUO

O presente trabalho procura fazer uma analogia entre o pensamento Junguiano e a doutrina homeoptica, mostrando que ambos podem ser complementares, devido terem a mesma finalidade.

Ambos so fenomenolgicos, pois observam e buscam os resultados a partir da observao das experincias. So finalistas, pois no do importncia causa e origem dos fatos, que podem at serem identificados, mas a finalidade a busca da integrao do indivduo em sua totalidade e o movimento que os contedos emocionais fazem para essa transformao.

O objetivo do trabalho aprofundar o estudo homeoptico e seu mtodo de tratamento a partir do conhecimento do pensamento Junguiano. O curso de ps-graduao ajudou-me a conhecer alguns de meus prprios contedos e a partir disso facilitou o entendimento e a percepo da realidade do paciente, no meu trabalho.

TOMAS PASCHERO, mdico homeopata, sempre expressou a idia de que para realizar uma medicina holstica necessrio que o mdico, antes de mais nada, conhea sua intimidade e seus fatores emocionais e assim ter liberdade de ser imparcial, livre de preconceitos e com isso se comprometer. um ideal a ser mencionado e aprendido.

A primeira parte do trabalho relacionada cura homeoptica que significa equilbrio da tendncias mrbidas ou miasmticas, a partir da fora de atuao do medicamento homeoptico que aumenta a fora vital. O pensamento de HAHNEMANN quanto aos ideais de cura buscando os mais altos fins da existncia, mostram a intencionalidade do tratamento homeoptico.

A segunda parte da monografia refere-se ao processo de individuao, necessidade de integrao ego-self para a descoberta do individuo e de suas potencialidades, e percepo da limitao do ego apenas como parte consciente do todo. A importncia das figuras do inconsciente no processo de individuao, descritas por JUNG, o papel da persona, a identificao com o animus e anima e o confronto com a sombra, que a parte desconhecida de si mesmo.

Interessou-me pensar como um processo homeoptico chamado Pulsatilla contribuiria para o processo de individuao, relatado e analisado em um terceiro captulo.

Esse interesse surgiu devido ao fato de eu ter utilizado este medicamento por muito tempo, devido prescrio de meu mdico homeopata. A partir da encontrei semelhana dos traos caractersticos de pulsatilla com a Puella, verso feminina do puer aeternus e com um dos complexos maternos descrito por JUNG, em suas obras completas, do tipo identificao com a me. No afirmo que o complexo materno descrito seja a origem dos sintomas apresentados por Pulsatilla, poderia ser um dos possveis complexos pela similitude encontrada. Aps essa identificao fiz uma anlise dos contedos que devem ser integrados para a transformao de uma personalidade do tipo Puella ou Pulsatilla e de como o remdio homeoptico Pulsatilla contribui para o processo de individuao, sua ao energtica e seu resultado.

A psicologia analtica e a homeopatia so mtodos que possuem semelhanas e so complementares. A ao do remdio na energia do complexo similar a conscientizao destes contedos na anlise Junguiana, pois ambos despotencializam a energia dessas emoes permitindo que o indivduo se conhea, se observe e consiga trabalhar-se interiormente para transformar contedos que impedem a expanso e o desenvolvimento da personalidade.

2. A CURA HOMEOPTICA Segundo o primeiro pargrafo do ORGANON, que contm a doutrina e os princpios homeopticos a nica e nobre misso do mdico a de restabelecer a sade do indivduo, que o que chama-se curar.

A homeopatia uma cincia holstica, que trata o todo, fenomenolgica, pois observa e busca encontrar os resultados nos fenmenos e nas experincias, e finalista, no causal, ou seja, busca o equilbrio e a totalidade do individuo, no se importando com a causa das doenas.

A homeopatia trata o doente e no a doena no homem. Ela percebe que existe algo que antecede a doena. Para HAHNEMANN O Homem doente anterior ao corpo doente.

O Homem um ser psquico, espiritual e biolgico. Sente, pensa, vive, tem vontade e entendimento que produz vida e ao e constri o corpo. Vontade e entendimento em harmonia produzem a sade no organismo.

Segundo HAHNEMANN o dever do mdico no apenas recuperar a sade dos rgos e tecidos, mas manter todo equilbrio no interior do organismo, que inclui vontade e entendimento, ou seja, escolha e conscincia de si mesmo. As mudanas nos rgos e tecidos so conseqncia do desequilbrio de todo organismo.

Atravs da observao da experimentao dos remdios homeopticos no organismo so, HAHNEMANN observou que os sintomas mentais foram os mais importantes e os primeiros a se manifestarem. Por ser o indivduo um ser emocional, que pensa, que ama, se houver uma desunio em seu aspecto psquico ocorre o desequilbrio, a doena e a morte.

Todo medicamento homeoptico afeta e age no indivduo em seu modo de pensar e querer e posteriormente nos seus rgos, tecidos, funes e sensaes.

No que se refere cura o segundo pargrafo do ORGANON cita: O mais alto ideal de cura o restabelecimento pronto, suave e permanente da sade; a eliminao da doena em toda sua extenso pelo caminho mais curto, mais seguro e menos danoso. Restabelecer a sade colocar em ordem o indivduo doente e no apenas o desaparecimento dos sintomas.

O indivduo possui em seu interior a energia vital ou fora vital que mantm todo o organismo em equilbrio. Segundo o pargrafo 9 do ORGANON: No estado de sade a fora vital que anima dinamicamente o corpo material (organismo) governa com poder ilimitado e conserva todas as partes do organismo em admirvel e harmoniosa funo vital, tanto com respeito s sensaes como s funes , de modo que o esprito dotado de razo que existe em ns pode empregar livremente este instrumento vivo e sadio para os mais altos fins da nossa existncia. A fora vital atua em todo organismo psquico e fsico mantendo o estado de sade. Porm essa fora vital por si mesma no consegue superar as mais tnues doenas e seus efeitos agressores, somente ope uma resistncia igual e muitas vezes sucumbe aos agentes agressores, custa de sofrimento. O remdio homeoptico atua aumentando a fora vital para que esta se torne superior a qualquer agente agressor ,que pode ser psquico, ambiental, fsico, climtico etc. e doena.

J que a mente, a emoo, o pensar, a vontade so os primeiros a entrarem em desordem na doena, so tambm os primeiros a entrarem em equilbrio frente s manifestaes externas. O equilbrio se d do centro para a periferia, do interior para o exterior, de dentro para fora, de cima para baixo, dos rgos mais importantes para os menos importantes, ou seja, da mente at rgos importantes como sistema nervoso, corao etc e por ltimo pele e unha. Esta a chamada lei de HERING, um homeopata que observou o movimento de restabelecimento do equilbrio no organismo, para observao do prognstico e do movimento da doena. Por isso muitas vezes consideramos a melhora do paciente quando ele encontra-se ativo, com equilbrio de suas emoes e seus instintos, ainda que apresente, por exemplo, bronquite ou febre. No tratamento homeoptico observamos o equilbrio quando o paciente refere sentir-se bem com ele mesmo, ainda que apresente sintomas fsicos. De acordo com o rgo afetado vai havendo o desaparecimento gradativo dos sintomas.

O indivduo adoece de duas maneiras: uma sbita, rpida, aguda, por alterao de sua fora vital, com um curso mais ou menos rpido, que chamada doena aguda e um outro modo de incio insidioso, quase imperceptvel, que afeta a dinmica do funcionamento do organismo alterando o estado de sade. A energia vital que mantm o equilbrio e a sade afetada at que o organismo seja destrudo. So as doenas crnicas que provm do miasma crnico.

Os estados de desequilbrio prolongados so considerados na homeopatia como doenas crnicas, que nem sempre respondem satisfatoriamente ao tratamento devido a persistncia, recidiva e periodicidade dos sintomas. HAHNEMANN estudou mais profundamente estes casos e exps a teoria miasmtica ou teoria dos miasmas crnicos.

O termo miasma refere-se ao miasma da malria, algo contagioso ou suspenso no ar.So todas as tendncias e predisposies que existem no universo. So predisposies exageradas padres estabelecidos, no explicveis , que pertencem a todos. Podem ser congnitos, adquiridos e at gentico e faz com que o organismo reaja a certos estmulos externos como expresso de sua suscetibilidade.

Os trs miasmas fundamentais so chamados PSORA, SICOSE e SFILIS Existe uma disposio alrgica relacionado psora, uma disposio proliferativa sicose e uma destrutiva relacionada sfilis.

Os miasmas so etapas fisiopatolgicas de um desequilbrio inicial que progride

devido a noxas diversas. Noxa todo agente causador de doena podendo ser um

ambiente hostil, agresses, epidemias etc. O organismo agredido reage atravs de alteraes celulares e descargas de toxinas com desorganizao das funes celulares. Essa alterao no metabolismo celular constitui a psora , por exemplo, inflamaes agudas. Se o organismo se mobiliza no por descargas, mas por uma hiperfuno na reproduo e multiplicao celular causando excesso instala-se a sicose, por exemplo nevus, verrugas, hipertrofia cardaca, obesidade etc. Um processo mais agressivo em que a capacidade de defesa do organismo for ultrapassada, causando destruio nos tecidos, indica o estado miasmtico sifiltico, que um estado mais grave, por exemplo lceras e toda destruio de tecidos. Quanto s alteraes mentais, as manifestaes da psora so as emoes primrias

como ansiedade, medo, angstia; As reaes mais exacerbadas como medo irracional, idias

fixas, depresses assim como as atitudes de crueldade, de clera e mentira esto relacionadas

sicose. A sfilis , mais destrutiva, traduz se por manifestaes psquicas mais violentas como dio, cimes infundados, clera e desprezo por si e pelos outros, com perturbao nas idias, no raciocnio, na imaginao e na razo.

O miasma incurvel pois a psora incurvel. A psora a doena original comum humanidade (1999,p.41 5a edio). a mais antiga e a mais universal das doenas miasmticas crnicas. HAHNEMANN estudou-a profundamente, desde a poca de Moiss, sendo a psora citada na Bblia como a lepra e posteriormente a sarna (itch) (1835,p.42), que seriam as manifestaes externas da psora, de onde vem todas as doenas crnicas da humanidade, desde deformidades sseas, sangramentos e alteraes menstruais, suores noturnos, constipaes intestinais, diarrias, convulses, epilepsia, alteraes dos sentidos, da mente, alteraes sexuais, ou seja, as doenas da alma, da mente e do corpo encontram na psora sua origem e sua fonte (1835,p.42). Em seus estudos HAHNEMANN observou que o pesar e a contrariedade prolongados estimulam em breve tempo a psora adormecida tornando manifesto seus sintomas.

A homeopatia tem a finalidade de promover o restabelecimento energtico, para manter o estado de sade. O remdio escolhido ser o que possui as caractersticas patogenticas semelhantes aos sintomas apresentados pelo organismo. Segundo HAHNEMANN duas foras no ocupam o mesmo lugar no organismo, de modo que a mais fraca sucumbe mais forte. O remdio homeoptico atua aumentando a fora vital de modo que esta vena e se torne superior fora de ao dos agentes agressores. O remdio diludo e dinamizado para que desperte as propriedades medicinais em seu interior, que passam a ser mais excitadas e desenvolvidas permitindo a liberao da parte mais sutil e energtica dos poderes medicinais das substncias. Estas atuam profundamente na energia vital restaurando o equilbrio e a sade. Essa a cura homeoptica. A cura, que o equilbrio, observamos no desaparecimento dos sintomas clnicos, no equilbrio miasmtico das tendncias de adoecer, e em um nvel pessoal na mudana de atitude vital, que o que HAHNEMANN chamava de altos fins da existncia.

3. INDIVIDUAO

Inicialmente o conceito de inconsciente era relacionado aos contedos que foram reprimidos durante a infncia e os que foram esquecidos e considerados como pessoal.

JUNG ampliou esse conceito referindo-se ao inconsciente relacionado as

experincias pessoais, porm com uma outra parte mais profunda inacessvel, que pertence

todos, chamando-a de inconsciente coletivo. Este inato, filogentico, ou seja, pertence

espcie, comum a todos. Os contedos do inconsciente coletivo so os arqutipos que so

tendncias de representaes simblicas, formas de intuio e percepo, que pertencem a todos, expressos atravs de imagens, nos sonhos, nos mitos, e nas fantasias e que do significado vida psquica. Em torno dos arqutipos existem os complexos de tonalidade afetiva que so conjuntos de emoes carregadas de energia que podem assumir o lugar do ego quando constelados, ou seja, quando esto cheios de energia na mente. O indivduo sente como se por um momento no fosse ele mesmo. um impulso inconsciente, automtico, de acordo com a histria de vida de cada um, atravs das experincias adquiridas carregadas de emoes. Por ser inconsciente o contedo do complexo projetado no outro como se fosse respeito do outro. Nas projees, quando a carga emocional grande, o contedo relacionado ao prprio indivduo, que tambm pode ter um aspecto positivo como as paixes, a admirao por algum, um fascnio por algo. Todo complexo tornando-se consciente torna-se construtivo pela possibilidade de mudana no modo que ele se expressa. Os complexos no conscientizados so projetados na sombra.

O entendimento da psique, o encontro consigo mesmo s possvel atravs da conscientizao da personalidade, mas nem tudo pode ser compreendido pois a personalidade abrange o inconsciente, em sua totalidade, sendo o ego apenas uma pequena parte deste todo. O ego apenas uma parte que pensa ser o todo por ser consciente. O todo, o Si mesmo, JUNG chamou de Self. O ego est para o Si mesmo assim como a parte est para o todo.

O ego uma parte do Si mesmo, a parte do todo consciente.( 2000, p.187)

O inconsciente possui um centro dominante como o ego, que o Si mesmo. Ele mais abrangente e universal, incompreensvel. Os sonhos so um exemplo disso por muitas vezes aparecerem sem ordem e de um modo involuntrio .

O ego subordinado a esse todo e pode sofrer mudanas a partir do momento que percebe no ser o centro da psique e comea a relacionar-se e a integrar-se com outros elementos do inconsciente, durante o processo de individuao.

Individuao o processo de encontro consigo mesmo, com a totalidade, sendo esse o grande objetivo de nossas vidas. Contudo, conhecer o Si mesmo e todo o seu potencial um processo impossvel de ser alcanado, pois nem todas as potencialidades e suas possibilidades podem ser realizadas na vida de um indivduo. Sendo assim, o caminho da individuao e sua busca torna-se mais importante que sua meta propriamente dita. um caminho que est sempre em construo e que avana porm no tem um fim a ser alcanado.

A individuao pertence todos. um caminho natural, pessoal e individual. A anlise acelera seu incio por possibilitar maior integrao entre ego e Si mesmo. No processo de individuao o sujeito conhece algumas de suas potencialidades e se diferencia do outro, mas a partir da experincia de identificao com o outro, com o coletivo. O ego percebe sua limitao e deve transcender a imagem que faz de si. Ele se identifica e tambm no se identifica mais com a imagem que tem de si, pois percebe que mais abrangente, que h algo maior, o Si mesmo. Esse um processo doloroso mas que posteriormente torna a vida mais plena.

Outros elementos so integrados no encontro consigo mesmo. JUNG chamou-os de figuras do inconsciente: Sombra, persona, par anima/animus, que possibilitam o entendimento da vida psquica. So figuras arquetpicas universais com arranjo de complexos que se relacionam entre si, de acordo com a histria de vida de cada um. Descobrir essas figuras do inconsciente no seu interior liberta o individuo dos padres aprendidos, familiares, negligenciados da personalidade que interferem no desenvolvimento de sua potencialidade.

persona Jung chamou de mscara , que o papel que o indivduo desempenha no mundo, uma adaptao realidade exterior. So os valores iniciais e expresses de comportamento aprendidos desde a infncia para vivermos o coletivo, de acordo com as

exigncias culturais. O sujeito pode vestir-se com essa proteo e aparncia, mas dever aprender que a individualidade no viver apenas esse papel social, o ego dever ser adequado.

EDWARD WHITMONT faz referncia doena de pele relacionada persona rgida demais, em que falta ao indivduo uma distino entre a pele individual e as vestes coletivas, e ele se encontra em um processo como se a pele no pudesse mais respirar. Doenas de pele podem coincidir com essa realidade. Lembrou-me uma paciente de 56 anos, bem sucedida no trabalho e financeiramente, esteticamente impecvel em seu traje e seu penteado, que apresentou um cncer de pele, melanoma e mesmo diante do diagnstico, da extirpao cirrgica do tumor, e da quimioterapia oral breve, permaneceu sempre com o mesmo ar sofisticado, sem sinais aparentes de sofrimento.

primeira vista o ego se desenvolve atravs da persona porm, durante o processo do encontro ego e self, o papel da persona torna-se restrito, sendo apenas uma parte da identidade.

A Sombra a parte do inconsciente da personalidade que o ego tende a ignorar ou rejeitar. Possui todo contedo no conhecido pelo ego que dever ser re-trabalhado e adquirir uma nova dimenso frente ao ego. No quer dizer sombrio, negativo. Pode ser positivo quando conscientemente nos identificamos com algo negativo. Geralmente projetamos no outro, na nossa viso do outro. O que no gostamos ou nos incomoda muito no outro contedo da nossa sombra. Por exemplo, uma personalidade homeoptica pulsatilla tem caracterstica de ser emocionalmente dependente, e um de seus contedos a ser trabalhado, a sombra, a autonomia emocional. JUNG nos diz que integrar e acolher a sombra conduz modstia de que precisamos a fim de reconhecer a imperfeio, e essa considerao e reconhecimento consciente que so necessrios onde quer que se estabelea um relacionamento humano(2000, p. ) .

Outra figura do inconsciente o animus, que representa a masculinidade inconsciente na mulher enquanto que a anima , o lado feminino no homem. Quando inconsciente a mulher projeta o animus, ou seja, seu padro emocional de autoridade no mundo externo, a partir da sua relao com o homem, seu pai , irmo, amigo ou algum modelo masculino, nas figuras

do heri , do sbio, o puer (filho), o pai., quando presentes em situaes que requeiram iniciativa, atitude, autoridade, ao, racionalidade, a partir de seus prprios valores e argumentos.

A mulher possuda pelo animus projeta no homem o seu valor de autoridade. Sem ele no reconhece em si mesma sua capacidade de realizao, atitude e raciocnio. O animus projetado para fora. So mulheres que possuem argumentos dogmticos ao invs de buscarem suas verdades interiores. Em uma discusso, preocupam-se em estarem certas e no na reflexo sobre o contedo em questo. Um exemplo de projeo do animus o conto de fadas da Bela Adormecida, em que a princesa permanece dormindo, ou seja, inconsciente, at que um dia o prncipe, o heri, a desperte, ou seja, o ego , a autoconscincia seja estruturada a partir do animus.

A projeo do animus est presente na base de qualquer relacionamento, mas se persistir, torna a relao irreal. A integrao do animus requer um confronto consciente, assim como para o homem, integrar a anima significa ser receptivo, desenvolver suas emoes.

Integrar o animus assumir o potencial de iniciativa, racionalidade, independncia e responsabilidade sobre si mesma. A mulher tem que aprender a lidar com os conflitos e enfrent-los questionando-os e compreendendo-os, no apenas aceitando-os passivamente. Isso no significa seguir a um movimento feminista competitivo, de luta pelos direitos iguais entre homem e mulher, pelo contrrio, integrar esse potencial poder vir a tornar-se mais completa. A partir da afirmar-se como mulher.

Segundo JUNG (2000,p.193) a maturidade e o desenvolvimento exigem um confronto entre o ego e o Self, j que este tem necessidade de transformar o ego.

O confronto com a sombra mostra ao indivduo o que ele no pensa ser. Geralmente ocorre quando a vida fica estagnada e comeam as dvidas sobre os prprios valores. necessrio aceitar o que foi reprimido e ignorado, fundamental no auto conhecimento, o que no fcil, pois trata-se de lidar com uma parte da personalidade desconhecida, como as fraquezas, os atos de crueldade ou obstinao, o egosmo. Quando a sombra percebida, revela-se frequentemente em figuras onricas, e muitas vezes se apresenta na atitude precipitada, impulsiva. A atitude de integrar a sombra acolh-la, conhec-la, compreend-la, pois quanto mais rejeitada e reprimida, maior seu crescimento no inconsciente.

A anima e o animus tambm mostram o impulso aos diferentes padres. Integra-los reconhecer o que est dentro e o que est fora e discriminar sua projeo nos relacionamentos. Mas o confronto com o Self o maior desafio no processo de individuao: O Self como meta porm sem ser alcanado. O Self a totalidade da psique. o centro e o contedo da personalidade que geralmente se expressa atravs das imagens onricas dos sonhos, por smbolos.

O smbolo uma imagem que indica algo desconhecido. Age como um mecanismo de liberao e de transformao de energia que liga o consciente ao inconsciente,

como uma ponte, pois seu contato com o inconsciente mobiliza sempre uma carga energtica contida nos arqutipos para o consciente. Possui muitos significados e deixa de ser smbolo se for interpretado.

JUNG descreve o smbolo como numinoso, algo divino, dando-lhe portanto um carter religioso, quando atua relacionando o consciente aos contedos dos arqutipos mais profundos. O smbolo um intermedirio que liga os opostos.

As mudanas que ocorrem na psique devido s transformaes do ego so conscientizadas por meio dos smbolos, sendo que estes se tornam criativos quando experenciados, pois como se o consciente soubesse lidar com o inconsciente, ou seja, a integrao ego-self. Um dos objetivos da analise junguiana tornar consciente o processo simblico, porm o smbolo inconsciente vivido mas no percebido. A imagem simblica atua como transformadora de energia e com isso eleva as necessidades instintivas, d significado s experincias e humaniza (1969,p.197).

O Self como totalidade permite um constante desenvolvimento da personalidade, a partir de potencialidades inatas.. O processo de individuao como um acordo entre essas potencialidades e a vida externa. Mas essa experincia possvel quando o ego aceitar o Self como o grande centro da psique, permitindo um impulso criativo interior de crescimento, nico, pois a maneira de auto-realizao e auto transformao individual.

4. HOMEOPATIA E INDIVIDUAO

4.1. COMO A PERSONALIDADE HOMEOPTICA PULSATTILA

CONTRIBUI PARA O PROCESSO DE INDIVIDUAO.

A Homeopatia permite o equilbrio energtico do indivduo para que este se conscientize de si mesmo e inicie um processo de auto-conhecimento e se expresse em todas as suas manifestaes psquicas e orgnicas, buscando o equilbrio dessa totalidade. Nisso assemelha-se psicologia analtica. Ambas tem carter fenomenolgico e finalista, com a meta do encontro consigo mesmo.

A partir do estudo do pensamento Junguiano interessou-me pensar como um processo homeoptico denominado pulsatilla, com todas as suas caractersticas peculiares, seus sintomas emocionais e sua personalidade, poderia contribuir para o processo de individuao, alm do restabelecimento de seu equilbrio energtico atravs da administrao do seu Simillimum.

Pulsatilla tem uma personalidade feminina, podendo tambm ser encontrada no homem, dependente do outro e do seu afeto, com forte sentimento de abandono, necessidade de afeto, vazio e solido.( ver apndice)

No livro Pais e filhas, Mes e filhos VERENA KAST (1997,p.155) cita sintomas de vazio, solido e dependncia afetiva, referindo-se ao aspecto negativo do complexo materno na mulher. Nos repertrios homeopticos GUESH (2001) e ARIOVALDO (2002), encontramos as rubricas repertoriais : Abandono-no se sente amada; Iluso de estar s no mundo; Sensao de vazio; Afeto- necessita, referentes Pulsatilla, sintomas semelhantes aos descritos por VERENA KAST.

O Complexo materno na filha descrito por JUNG (2000, p.98 ) do tipo identificao com a me se enquadra em uma possibilidade de identificao com os sintomas mentais de Pulsatilla. No afirmo que todo processo pulsatilla origina-se do aspecto negativo do complexo materno e nem que a privao do amor materno criou o conjunto de sintomas chamado homeopaticamente de pulsatilla, apenas h similitude nas caractersticas do complexo, que se enquadram nos sintomas do remdio.

JUNG descreve que no complexo materno do tipo identificao com a me, por falta de Eros e consequente bloqueio do instinto feminino, ocorre uma projeo da personalidade da filha sobre a me, que tornando-se dependente da me, vive na sombra desta, inconsciente de si, sob uma mscara de lealdade e devoo. So mulheres vazias, moldveis, atraentes apenas pelo seu afeto e delicadeza. Assemelha-se ao mito de Persfone que foi raptada de sua me por Pluto e levada ao mundo subterrneo onde l permanece sem fora de ego e de desenvolvimento do animus.

O mito conta que no Olimpo, lugar onde os Deuses moravam, Demter casa-se com Zeus e geram Core. Um dia Core est brincando em Elusis, lugar onde moram os mortais, e v uma flor de narciso e ao cheir-la, a terra se abre e Pluto vem em uma carruagem e rapta Core levando-a para o Hades, que o mundo dos mortos. Zeus pede a Hermes o Deus mensageiro, que desa ao Hades para convencer Pluto a devolver Core . No Hades, Core come uma rom e transforma-se em Persfone, esposa de Pluto e a partir da passa um tempo de sua vida no Hades e outro tempo poder retornar sua me. Demter a me terra, protetora, Persfone a rainha do mundo dos espritos e vive no Hades , que representa os contedos mais inconscientes. Pluto o rei do Hades, que rege o inconsciente.

um mito que se refere pessoas que permanecem na dependncia de outros, como no caso de Persfone que permanece dependente da me e do marido, e com isso recusa-se a crescer e assumir sua individualidade.

Jung descreveu o aspecto psicolgico da Core em suas obras completas. Refere que

Demter e Core, me e filha totalizam a conscincia emocional, a partir do arqutipo feminino, pois toda me possui em si a filha e toda filha possui em si a me. A figura da Core quando observada na mulher pertence personalidade supra ordenada, que o ser humano em sua totalidade. Toda figura psquica possui seu aspecto bipolar, oposto, assim toda psique materna contm a filha e toda psique da filha contm a me. No mito a influncia feminina sobrepujou o masculino e esse s tem significado como raptor ( 2000,p. 188). O aspecto positivo desse mito a possibilidade de integrao do arqutipo do feminino consciente, que parte da relao me e filha, a partir de um trabalho interior. Todo sentimento do feminino na filha vem do modelo e da relao com sua me. E toda relao me e filha tem sua falhas, seja na falta de intimidade ou na dependncia.

No complexo descrito por JUNG, Tudo o que se relaciona responsabilidade, vnculo pessoal e necessidade ertica leva sintomas de inferioridade e que leva a filha a fugir para a proteo e dependncia do que materno (2000,p.198).

Pulsatilla, sempre com sintomas contraditrios, tem medo do sexo oposto e averso ao casamento e ao compromisso, porm tem necessidade de ser amada e de receber carcias, que aumentem seu narcisismo, ao invs de participar de um ato recproco. Pulsatilla busca afeto, proteo, consolo e dependncia.

Quadro semelhante observamos na Puella, a eterna menina, verso feminina do Puer aeternus. O Puer aeternus o nome de um Deus da antiguidade que significa eterna juventude. O homem que se identifica com o arqutipo do Puer permanece psicologicamente na adolescncia, com dificuldade nas relaes afetivas e no trabalho, por viver um mundo de fantasias. Um exemplo clssico de Puer o pequeno prncipe de Saint Exupery e o conto de fadas Peter Pan. O aspecto negativo do Puer est relacionado ao complexo materno, em que o homem projeta e busca a Deusa me em todas as mulheres..

A Puella adquire sua identidade a partir da projeo dos outros sobre ela, pela inconscincia que tem de si mesma. Pode ser a mulher fatal , a boa filha ou boa esposa, a princesa ou at a herona. Seu padro o apego que refora a dependncia do outro. Existe uma dificuldade em responsabilizar-se sobre si mesma, por tomar decises. o outro que se responsabiliza por isso. So mulheres sonhadoras que vivem no mundo de possibilidades.

Inseguras, instveis e com falta de confiana em si mesmas, enfim com o ego dbil. Segundo Maria Louise Von Franz, o aspecto negativo do complexo paterno pode fazer o inconsciente criar a imagem do homem ideal e a partir da projeta seu nimus fora, no outro, todas as possibilidades, supervalorizando o outro, tornando-se incapaz de descobrir quem .

(1991,pg181).

Alm de administrar o simillimum para o equilbrio energtico, o primeiro passo para a transformao desse padro o confronto com a sombra e a conscientizao que existe um poder maior que o Self. O confronto com a sombra revela a necessidade da autonomia emocional, independncia e de se tornar responsvel por si mesma. A sombra est vinculada ao poder com conscincia e responsabilidade e a questo escolher aceitar essa fora interior. Reconhecer e viver o amor por si mesma e no depender do afeto do outro.

JUNG relata que para esta possibilidade de transformao necessrio a permanncia no vazio, que tpico feminino, o abissal , o yin, que poder ser preenchido a partir do mistrio poderoso do feminino.(2000,p.106).

Porm toda transformao um processo que evolui continuamente, por isso a

necessidade da escolha. Enfim, para inicio do processo de individuao, Pulsatilla ou Puella deve renunciar seu apego inocncia, dependncia, atravs desta escolha e aceitar sua fora, valorizando-se. Integrar seu animus como um modelo de autoridade interior, de ordem e de auto-disciplina. Internalizar essas idias e concretiza-las em si mesma. Ter conscincia e coragem da tomada de deciso, saindo da identidade de vtima. Descobrir planos pessoais e profissionais e elaborar sua prpria identidade. Descobrir quem realmente atravs da autotransformao comprometendo-se consigo mesma. Com isso a inocncia de menina ir se manifestar no feminino espontneo com possibilidade de experincias produtivas e criativas, ou seja, de experincias que transcendam e que despertem a conscincia de um ser humano feminino, mas ao mesmo tempo forte e independente, com poder e autoridade interior.

Pulsatilla pode contribuir para o processo de individuao pela sua atuao na fora vital aumentando-a, consequentemente equilibrando os sintomas manifestados. A homeopatia trata atravs dos semelhantes, a partir da premissa similia simillibus curentur.

Isto quer dizer que o os contedos emocionais, como os descritos acima, podem ser equilibrados pela atuao do medicamento homeoptico devido a similitude dos sintomas.

O medicamento corresponde aos sintomas da totalidade do indivduo. O medicamento administrado ser obtido atravs da compreenso do sofrimento do paciente, suas queixas, o que move sua personalidade, sua atitude reativa, suas ansiedades, o que conhece sobre si mesmo, seus desejos, seus planos, o que quer da vida.

Encontrei semelhana entre a descrio da personalidade homeoptica Pulsatilla e a

descrio do indivduo que sofre influncia do aspecto negativo do complexo materno descrito por JUNG, como j citado, e com a personalidade da Puella, mas a confirmao do remdio e sua administrao seria mediante uma seleo e repertorizao dos sintomas, livre de julgamento, a partir da expresso afetiva do paciente e da totalidade de seus sintomas.. Uma vez confirmado ,o remdio atuaria aumentando a fora vital, equilibrando o contedo emocional, despotencializando a energia do complexo ativado. No caso em questo haver um equilbrio na dependncia emocional e carncia afetiva, que far com ela se observe, se conhea, a partir de no estar sob a influencia destes sentimentos. Com o equilbrio energtico, os contedos inconscientes se manifestam e o potencial positivo da sombra, de autonomia e de independncia podero ser integrados, dando incio sua transformao, a partir dos novos contedos emocionais, anteriormente no percebidos.

O remdio homeoptico atua neste nvel, devido a sua propriedade energtica, a partir da sua diluio e dinamizao. A energia vital semelhante energia psquica descrita por JUNG, que flui no processo psquico. JUNG ampliou a teoria da libido ( C.W 5 p.120), que era mencionada anteriormente apenas como sexual, e percebeu que a libido flui entre os opostos, e que a psique possui um centro regulador em que a energia movimenta-se em polos opostos, ou seja, quando a libido atinge um polo, transforma-se no contrrio. Por exemplo, se uma pessoa apresenta uma clera violenta, logo em seguida haver uma calma. O remdio homeoptico administrado uma pessoa com clera violenta atuar despotencializando essa energia e o paciente sentir calma e tranquilidade. A libido tem movimentos de recuo e avano, ora no consciente, ora no inconsciente e do fora s emoes dos complexos, aumentando a intensidade do processo psquico.

Selecionei dois casos clnicos para observao da ao de Pulsatilla: O primeiro caso de uma paciente feminina de 28 anos que apresentou um aumento de peso considervel (8kg) em 4 meses, por estar comendo compulsivamente, com episdios de choro frequente, involuntrio, que melhorava por consolo, com sentimentos de abandono e falta de apoio aps pedido de divrcio do marido, considerado por ela como seu protetor e defensor. Ela no conseguia ficar sozinha e precisava do afeto das pessoas. Aps a compreenso dos sintomas afetivos da paciente, foram repertorizados os seguintes sintomas:

1.Abandono- No se sente amada (14r)

2.Abandono- Sozinha (18)

3.Consolo melhora (18r)

4.Afeto- necessidade de (3r)

5.Desamparo (88r)

6.Impulso mrbido - comer (59r)

Administrado Pulsatilla 1SD dose nica . Houve melhora de todos os sintomas, da avidez por comida, do choro involuntrio, referindo a paciente sentir-se mais forte. Admitiu para si mesma o fim do relacionamento, baseado em dependncia. Sente-se mais tranquila, alm de ter melhorado seu empenho no trabalho como professora em uma escola.

Observa-se que desaparece o ncleo de sofrimento, a partir do equilbrio energtico das emoes, e que o acompanhamento necessrio para observar e remover as agravaes, a dinmica miasmtica e da pessoa.

Acredito que a anlise junguiana complementar a esse mtodo teraputico e vice-versa.

A anlise permite a auto-observao, a crtica construtiva de si mesmo, com compassividade, para possibilidade de integrao de todos os contedos de potencialidades possveis de serem realizados.

Um Segundo caso: Paciente de 59 anos, com queixa de choro frequente, piora quando s,

no se sente amada pelos filhos e pelo marido, necessitando estar perto deles e ter demonstrao de carinho. Tem vertigem com cefalia, cefalia com esforo mental, sem sede. PA 170/100 UT.

Repertorizados os sintomas:

1.Abandono-no se sente amada (18r)

2.Afeto necessita (3r)

3.Choro frequente ( 34r)

4.Cefalia por esforo mental (58r)

5.Vertigem com cefalia (55r)

6. Sede-sem (90r)

Medicada com Pulsatilla 1SD dose repetida. Houve melhora do choro, do sentimento de abandono e dos sintomas psicossomticos. A presso arterial normalizou mantendo-se em 150/90 UT. Foi mantido o medicamento continuamente, pois neste caso j existe uma doena crnica severa instalada que a hipertenso. A paciente apesar de sentir-se bem, poder ter recidiva at iniciar um processo de auto-conhecimento e um movimento de desejo de mudana.

A relao mdico-paciente dever ser mantida de forma construtiva, com observao e acompanhamento da evoluo dos sintomas, que significado possuem, que atitude vital de mudana iniciou, se aumentou a capacidade amorosa ou se desenvolveu altrusmo.

A anlise junguiana e a homeopatia so complementares e beneficiam o indivduo no seu desenvolvimento psquico. Ambos os mtodos despotencializam a energia de um complexo autnomo, com a ao do remdio e com a conscientizao da anlise. Vivenciar

o contedo do complexo faz parte do processo de auto-conhecimento, no se pode viver um

bem-estar contnuo, mas a possibilidade de percepo do contedo emocional e a no permanncia na influncia do complexo, facilita a integrao destes contedos que leva mudana e ao incio do processo de individuao.

5. CONCLUSES

O Homem um ser psquico, espiritual e biolgico, envolvido por uma fora energtica vital que mantm sua vida em harmonia. Essa energia permite sua interao com o meio psicolgico atravs de relaes inter-pessoais. O Homem possui uma suscetibilidade psrica ou arquetpica , prpria da espcie humana para desenvolver suas potencialidades que se concretizam durante toda sua existncia.

Uma atitude correta consigo mesmo determinante para o equilbrio e a sade, mas tambm verdade que ningum pode evitar conflitos, decepes, depresses e que os complexos emocionais, com todos os seus contedos so fundamentais para a construo de uma personalidade.

Uma viso holstica, como a homeoptica, v a mente e o corpo como expresso de vida de um ser individual, assim como para a psicologia analtica, o confronto com situaes arquetpicas com padres humanos como a dependncia emocional, o amor, o complexo de pai e me, citados neste trabalho, nos do capacidade de desenvolver uma personalidade nica com toda fora pessoal a ser manifestada e desenvolvida ao longo da vida.

Assim, a homeopatia e a psicologia analtica so mtodos teraputicos semelhantes que se complementam, pois tem a mesma finalidade que buscar a totalidade do Homem, a partir da relao consciente e inconsciente e da integrao dos traos da personalidade desconhecidos. O miasma mencionado na doutrina homeoptica similar ao arqutipo do pensamento junguiano. O miasma arquetpico. Ambos so tendncias universais, energticas, no explicveis, que pertencem a todos mas que ao se manifestarem adquirem carter pessoal e individual, de acordo com as tendncias e experincias de cada um. Os sintomas homeopticos selecionados aps a compreenso do caso clnico so as expresses afetivas do paciente, que se referem aos contedos dos complexos de tonalidade afetiva mencionados por JUNG. A partir disso possvel o equilbrio da energia vital ou psquica, porm sem preconceitos, sem rtulos, ajudando o indivduo a observar-se a conhecer-se e a transcender o que necessrio para sua transformao e plenitude .

6. APNDICE

PULSATILLA

Planta da famlia das Ranunculceas, cresce na Europa em colinas elevadas e descobertas. Tem a flor frgil, com caule flexvel, que sofre influncia dos ventos, por isso conhecida como flor dos ventos .A flor tem uma aparncia delicada, de cor pastel, rosa- violeta, at violeta escuro, quase preto. As diferentes dinamizaes so preparadas a partir da tintura me, obtida por macerao de toda a planta no momento da florao.

A experimentao toxicolgica e as observaes clnicas permitem traar um quadro dinmico caracterstico quanto aos sintomas mentais e fsicos.

Tem ao eficaz no trato respiratrio em que h presena de escarro espesso, purulento, amarelo-esverdeado, com tendncia cronicidade, com ao nas bronquites,

sinusites, otites e asma; Grande remdio das leucorrias recidivantes em crianas, com ao

eficaz no trato genital feminino e distrbios menstruais ; Ao congestiva sobre a circulao

de retorno, varizes, agravadas pelo calor ambiente ; Indicada nos casos de dispepsias

principalmente pela ingesto de gorduras, com diarria e colite; Um dos grandes sintomas de Pulsatilla a ausncia de sede em quase todos os seus transtornos, inclusive durante febre. Intolerncia ao calor , sobretudo em locais fechados com sensao de sufocao e cefalias congestivas.

No centro desse remdio predomina o sentimento de abandono, um vazio

espiritual e solido afetiva ,com a fantasia . H uma extrema variabilidade dos sintomas; estados contraditrios e alter

nantes, ou seja, os pacientes no apresentam o mesmo sintoma duas vezes em seguida. Tudo

muda e varivel. Esta variabilidade pode vir de sua extrema sensibilidade ao exterior em

que o menor estmulo produz uma grande mudana interna, tanto fsica como mental.

Pulsatilla tem um carter passivo, dcil, dependente, malevel e influencivel, como a flor dos ventos que se dobra de acordo com o vento, como se no tivesse vontade prpria, uma identidade precisa . Necessita afeto e demonstraes concretas como beijos,

abraos e mimos. Sua reao ser de dependncia por necessidade de afeto e com isso,

ser possessiva do amor conquistado.

Desenvolve lealdade de quem depende, com graus de ternura e obedincia at alcanar graus extremos de submisso e servilismo. Emotiva, chora facilmente, drenando suas tenses, que aliviam. Choro por tudo e por todos, motivos alegres e tristes, sem causa e involuntariamente. Tmida, envergonhada, medrosa, insegura, tem averso aos negcios e inaptido para finanas. Seus temores revelam sua vulnerabilidade e fragilidade natural; tem temor de estar s, de ser humilhada, temor da opinio dos outros, ao escuro, de fantasmas, ao anoitecer, temor do mal e do demnio,temor da loucura , de doenas, de ter um derrame, da asfixia. Medos antropofbicos de homens, mulheres e multides,se h um predomnio da sua falta de confiana; temor de lugares estreitos (claustrofobia) ,lugares pblicos (agarofobia).

A irritabilidade pode estar presente alternando com sua atitude habitual de amabilidade, principalmente ao despertar, antes da menstruao,depois de comer ou em ambientes quentes. Pode estar irritada em relao aos seus caprichos.

As perdas, fracassos e frustraes se no trabalhadas, podem ir minando sua personalidade e resistncia at um plo destrutivo, com manifestaes perturbadoras; Uma deteriorao mental com distraes, erros ao escrever ou falar, concentrao difcil, embotamento e confuso mental at prostrao, com averso ao trabalho mental; Afeces religiosas com concluses msticas acerca de seu destino, reza pela sua salvao e sua alma, fanatismo, escrpulo religioso excessivo, averso religiosa ao sexo oposto, insanidade religiosa; Transtorno ilusrio com fantasias e alucinaes: iluso que est abandonada, que sempre est s, que est condenada, que perseguida por inimigos, que est rodeada de estranhos, V gente, v um homem nu em sua cama, v diabos e que vai ser levada por ele; O esgotamento de suas reservas pode levar a depresso melanclica, com descuido de seus deveres, auto-reprovao e remorsos, desgosto por tudo, com pensamentos persistentes, geralmente a noite. Torna-se triste, indolente, indiferente ao prazer, ao trabalho e finalmente a tudo. Permanece calada e quieta, cansada da vida. Pensa na morte como soluo e tem pensamentos suicidas afogando-se; Simbolicamente pode significar um desejo de retorno ao ventre materno?.

Toda a existncia de Pulsatilla poder se desenrolar a partir da relao me-filha indicando sua fragilidade e o grau de sua autonomia afetiva. Uma hiperproteo materna pode ocultar uma rejeio carregada de culpa, que est na origem do comportamento compensador invertido. Isso s faz com que a sensao de abandono que essas crianas sentem se agrave enquanto so superprotegidas. A vida toda Pulsatilla ter medo de todas as separaes de sua me, ou seja, do que materno, envolvente e protetor. Qualquer mudana ou perda, divrcio,nascimento de um irmo, far reviver o sentimento de ser abandonada. Porm no podemos confundir que no a privao do amor maternal que criou o conjunto de sintomas somticos e psquicos que os homeopatas chamam Pulsatilla, mas os sintomas caractersticos experimentais so semelhantes,homeopticos Pulsatilla, observados em tais privaes.

A criana Pulsatilla hipersensvel ao meio, chora se no prontamente atendida, agarrada me ,reclama constantemente de carinho, quer ser carregada, necessita contato fsico, quer dar a mo. afetuosa, porm necessita mais receber do que dar. Gentil, atrativa, tem amor por animais, compassiva, sensvel s infelicidades dos outros, porm, sem se colocar no lugar deles. Egosta, invejosa, ciumenta, possessiva. Impressionada por histrias tristes, que do medo, por ms noticias. Timidez acentuada, enrubesce muito e facilmente. Intensa emotividade, no fala sem chorar, medo de desagradar.Uma caracterstica importante, Key note, que todos os seus sintomas melhoram pelo consolo que permite ser um suprimento de afeto substituto se os da famlia so ausentes.

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