A ATEMPORALIDADE E DEMOCRATICIDADE DA MADEIRA: INFLUÊNCIA NAS CONSTRUÇÕES RESIDENCIAIS BRASILEIRAS

Bruna Barros da Silva, Daiane Cristine Cavallari, Eveline de Fatima Coelho Leitão, Rafaela

Fernanda Ono Adriazola [Graduandas em Bacharelado em Design], Dra. Joselena de Almeida Teixeira [Orientadora]

Departamento Acadêmico de Desenho Industrial

Câmpus Curitiba Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Avenida Sete de Setembro, 3165 - Curitiba/PR, Brasil - CEP 80230-901

brunabs1992@yahoo.com.br, daiane.cavallari@yahoo.com.br, eveline_coelho@hotmail.com, joselena.dealmeidateixeira@gmail.com

Resumo - Este artigo aborda a utilização da madeira como um material que permeia a moradia do homem de todas as classes sociais ao longo da história. Para tal, começaremos explicando o contexto inicial em que a madeira começou a ser notada como material potencialmente usado na construção de abrigos, em seguida são apresentados os diversos tipos de uso da madeira e como ela está inserida nas casas da sociedade brasileira. Palavras-chave: Madeira; Classes econômicas; Construção residencial. Abstract - This article deals with the use of wood as a material that permeates the house of the man of all walks of life throughout history. To this end, we will begin explaining the initial context in which the wood began to be seen as potentially used in the construction of shelters, then presents the various types of wood use and how it is embedded in the homes of Brazilian society. Keywords: Wood; Economy; Residential construction. INTRODUÇÃO

A história da evolução sociocultural humana está intimamente ligada ao domínio de

técnicas de utilização e processos de fabricação de materiais encontrados na natureza. Esse vínculo se evidencia quando observada a classificação da evolução humana de acordo com o domínio sobre tais recursos: Idade da Pedra, do Bronze, do Ouro, entre outros. No entanto, a relação do homem com a madeira é tão primitiva que esse material não serviu como parâmetro de classificação, mas como impulso para o desenvolvimento da sociedade humana perpassando diferentes épocas e se mantendo até os dias de hoje.

A relação humana com essa matéria prima foi moldada de acordo com o progresso da organização cultural e econômica do período vigente. Com a implantação da moeda e consequentemente das classes econômicas, a madeira se mostrou democrática no sentido de conseguir atingir uma imensa maioria da população independente do poder aquisitivo.

Essas características evidenciam o valor da madeira, justificando o amplo uso desse material no campo da construção de residências desde as mais simples e modestas, até as mais robustas e luxuosas.

METODOLOGIA

O artigo foi desenvolvido a partir de uma revisão de literatura, ou seja, reunião e posterior seleção de conteúdos relacionados ao tema tratado. Foram estudados textos de livros, artigos, arquivos online, além do material que faz parte das referências bibliográficas da própria disciplina de “Materiais e Processos de Fabricação 1”, do Curso de Bacharelado em Design da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

RESULTADOS

O homem sempre buscou um local para se proteger das intempéries, com isso desenvolveu suas habilidades e passou a agregar novos materiais em suas construções, dentre eles a madeira [1]. Para falarmos de madeira, precisamos compreender em que contexto este material se inseriu na história do homem. Tal recurso está entre os mais antigos da humanidade e não existe uma data que defina o início de sua utilização, porém, sabe-se que os primatas já o tinham como material de construção muito antes da descoberta do fogo. Ao tratarmos da evolução do uso da madeira, faz-se necessário lembrar que cada civilização encontrou diversas formas e técnicas de aplicação adaptando às suas necessidades da época:

Cada local,com os seus tipos de árvores, adaptou suas necessidades ao que lhe era disponível. A madeira era utilizada pura ou combinada com outros elementos como o barro, a palha, a pedra, o ferro (...). Algumas civilizações onde o uso da madeira na arquitetura se destacou de formas diferentes: O Extremo Oriente, com uma arquitetura leve e que é feita para suportar os terremotos frequentes, portanto é feita de encaixes frágeis mas resistentes. Já a arquitetura norueguesa é caracterizada pela largura das paredes capazes de isolar o frio, uma massividade na construção, bem diferente da Oriental, porém muito interessante o diferente tipo de uso [2].

O Brasil possui uma forte tradição de construção em alvenaria de tijolos de barro,

trazida pelos portugueses durante a colonização. A construção de madeira foi muito utilizada nas regiões sul e sudeste como habitação, onde a matéria prima utilizada, o pinho do Paraná, era abundante. Entretanto, em 1905, na cidade de Curitiba, o governo proibiu a construção de casas de madeira nas zonas centrais da cidade. Este fato acoplado a falta de conhecimentos técnicos contribuiu para gerar um preconceito contra as estruturas em madeira [3].

Apesar de ser um material sustentável e, se corretamente utilizado, um material resistente e durável, tem sido usada pelas empresas nacionais causando grandes impactos ambientais, pois não levam em consideração problemas como o destino final dos resíduos de madeira que poderiam ser utilizados em outros projetos [4].

A relação do homem com a madeira pode ser classificada como interdependente, pois à medida que a sociedade foi evoluindo, tal recurso ganhou novas formas de uso, cada vez mais aprimoradas. Atualmente, partindo da madeira como matéria-prima industrial, é possível fabricar uma infinidade de produtos [5] cujas finalidades variam desde decoração, estruturação, até papeis, cosméticos, entre muitos outros.

A heterogenia desse material se confirma quando analisado seu alto potencial para utilização nas construções em geral, tanto na estruturação e edificação como no revestimento e decoração das obras. Essa exploração das vertentes da madeira no ramo da construção habitacional deve-se ao “conjunto de características técnicas, econômicas e estéticas que dificilmente se encontram em outro material existente” [6]. No Quadro 1, são apresentadas

algumas características e propriedades, da madeira como matéria-prima, classificadas conforme favoráveis e desfavoráveis ao uso e aplicação.

Quadro 1. Vantagens e Desvantagens da Madeira

VANTAGENS DESVANTAGENS

Material relativamente leve Instabilidade dimensional

Material de fácil desdobro Resistência unidirecional

Material simples e agradável Está sujeita à ação do fogo e de predadores

Possui boas propriedades de isolamento térmico

Fonte: Adaptado de [7]

Sem dúvida, as desvantagens do uso da madeira (fragilidade e baixa durabilidade,

principalmente) representam uma limitação quando se pensa na aplicação desse material em residências. Entretanto, um fator que colaborou para reduzir as características negativas da madeira, foi o constante avanço da tecnologia. Um bom exemplo foi o início da produção de madeira transformada, no Brasil, por volta da década de 50, que por meio da fabricação de compensados e chapas trouxe novidades como a possibilidade de contato com a água [7].

Outro critério que favorece o uso da madeira é a economia, já que o custo-benefício de uma obra com a aplicação desse material é excelente, levando-se em conta que mão de obra, técnicas de transformação e transporte da madeira são operações facilitadas quando comparadas a outros materiais, tais como os metais [8].

O uso nobre da madeira está fortemente ligado a valores estéticos [9] e sensoriais relacionados à proximidade com o ambiente natural, por exemplo. Nesse sentido, é fácil pensar na madeira como material democrático, já que seu uso se estende por todas as classes sociais agradando a cada uma pelos aspectos prioritariamente selecionados por elas.

Essa discrepância exemplifica a longa convivência do homem com a madeira, o que justifica o fato de ela ser “(...) igualmente encontrada tanto em residências luxuosas como em modestas construções vernaculares (Figuras 1 e 2).” [8]

Figura 1. Palafitas de São Luís-MA

Figura 2. Casa luxuosa construída em

madeira. No Brasil, quando se trata de construção civil, a madeira é pouco utilizada devido, entre

outras coisas, à forte tradição das edificações em alvenaria e ao fraco incentivo a utilização desse material durante a formação dos profissionais ainda na Universidade [10]. Isso é

extremamente contraditório, se considerarmos que o Brasil possui um grande potencial na utilização da madeira por seu extenso território de florestas. Além disso, o uso dessa matéria prima abundante nas construções acarretaria benefícios para o meio ambiente já que se trata de um material sustentável e renovável.

CONCLUSÃO Por ser versátil, a madeira pode se desdobrar em diferentes produtos dos mais variados tamanhos. Seguramente, esse fator, somado à abundância de matéria-prima no Brasil, permitiu a disseminação desse material na sociedade brasileira em muitas vertentes. A exemplo disso, as casas construídas em madeira representam a democraticidade do material, por seu uso independente da classe econômica do proprietário.

A madeira conquistou o homem por seu grande leque de aplicações que podem ser consideradas paradoxais. Ela comporta, por exemplo, valores estéticos de modernidade e antiguidade, valores econômicos relativos a barato e caro, valores sociais de riqueza e pobreza, entre outros que são responsáveis pela grande aceitação desse material. REFERÊNCIAS [1] ADRIAZOLA, M. K. O. Avaliação Experimental por meio de Protótipos e por Simulações

de Painéis de Madeira para Habitação de Interesse Social. Curitiba, 2008. Tese (Curso de Pós Graduação em Engenharia Florestal, área de concentração de Tecnologia e Utilização de Produtos Florestais) - Univerisade Federal do Paraná.

[2] CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CANTARINA–UFSC. O uso da madeira no decorrer da história. Disponível em: <http://www.arq.ufsc.br/arq5661/Madeiras/index.html> Acesso em 21 de novembro de 2011.

[3] MEIRELLES, C. R. M; DINIS, H., BISCAIA, J. L; VASCONCELOS, R. Evolução das Coberturas em Madeira no Brasil. Equador, CLEFA: 2005.

[4] CUNHA, R. D. A.; CÉSAR, S. F.; GUEDES, J. P. L. Aplicabilidade da madeira reciclada no design de móveis – conceito e desenvolvimento de mesas de centro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM DESIGN - P&D DESIGN, 9, 2010, São Paulo. Anais do IX Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. São Paulo: Blücher Universidade Anhembi Morumbi, 2010. 1 CD-ROM

[5] BRAGHIER, N. Casas de madeira. Disponível em < http://dialnet.unirioja.es/servlet/libro?codigo=297222 > Acesso em 29 de novembro de 2011.

[6] BAUER, L. A. Falcão. Materiais de construção: novos materiais para a construção civil. Vol.2.5.ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 2001, p. 437.

[7] TEIXEIRA, J. de A. Design & materiais. Curitiba: CEFET-PR, 1999. [8] PEIXE, M. A.; LICHESKI, L. C. O Uso e as Sensações da Madeira no Espaço Interno. In:

CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM DESIGN - P&D DESIGN, 9, 2010, São Paulo. Anais do IX Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. São Paulo: Blücher Universidade Anhembi Morumbi, 2010. 1 CD-ROM, p. 2.

[9] SILVA, M. W.; MACIEL, C. V.; MATOS, S. J. Utilização de Madeira Alternativa no Design de Mobiliário. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM DESIGN - P&D DESIGN, 9, 2010, São Paulo. Anais do IX Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. São Paulo: Blücher Universidade Anhembi Morumbi, 2010. 1 CD-ROM.

[10] MEIRELLES, C.R.M., DINIS, H., SEGALL, M.L., SANT’ANNA, S.S. Considerações sobre o uso da madeira no Brasil em construções habitacionais. III FÓRUM DE PESQUISA FAU.MACKENZIE I, 2007. Disponível em < http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/FAU/Publicacoes/PDF_IIIForum_a/MACK_III_FORUM_CELIA_REGINA.pdf > . Acesso em 01 de dezembro de 2011.

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Título: INSTRUÇÕES PARA ELABORAÇÃO DE TRABALHOS Assunto: Autor: abatti Palavras-chave: Comentários: Data de criação: 17/09/2012 18:28:00 Número de alterações: 2 Última gravação: 17/09/2012 18:28:00 Salvo por: Marilzete Tempo total de edição: 0 Minutos Última impressão: 18/09/2012 21:44:00 Como a última impressão Número de páginas: 5 Número de palavras: 1.896 (aprox.) Número de caracteres:10.242 (aprox.)