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A atuação do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (COMPAC) na
preservação do patrimônio cultural edificado de Ponta Grossa PR e suas
possibilidades de uso didático para a história local.1 Marialva Ribas Kincheski
2 Dr Cláudio Jorge Guimarães
RESUMO
O presente artigo procura discorrer sobre o processo de preservação dos patrimônios culturais edificados da cidade de Ponta Grossa – Paraná, as políticas públicas adotadas pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural – COMPAC3 e as possibilidades da utilização didática desses patrimônios para o estudo da história local. A pesquisa foi divida em dois momentos. O primeiro momento parte da história da vida pessoal, investigando as ligações de cada envolvido na construção da história local e o segundo parte da análise da história da cidade de Ponta Grossa por meio de seu patrimônio cultural edificado. Para isso utilizouse da técnica de pesquisa bibliográfica, entrevistas, fotografias, visitação técnica aos espaços tombados e palestras. A hipótese investigada neste estudo é a de que a história oral, aliada a utilização de patrimônios edificados no contexto da história local, pode contribuir com um novo significado ao aprendizado da história, e propiciar aos educandos o interesse sobre a preservação do patrimônio cultural da cidade.
Palavras Chaves: história local, preservação, patrimônio edificado, COMPAC
ABSTRACT
This article attempts to discuss the process of preservation of cultural heritages built the city of Ponta Grossa Paraná, public policies adopted by the City Council of Cultural Heritage COMPAC[3] and the possibilities of using these assets for the study of local history. The research was divided into two phases. The first moment treats the history of life, investigating the connections of each involved in the construction of local history and the second part treats of the analysis of the history of the city of Ponta Grossa
1 Marialva Ribas Kincheski – professora estadual há 28 anos, licenciada em História pela UEPG e pós graduada em Educação Patrimonial e Metodologia do Ensino 2 Cláudio Jorge Guimarães – professor da UEPG, desde 1987, mestre e doutor em História e Sociedade pela UNESP – Assis – SP.
3 Conselho Municipal do Patrimônio Cultural – COMPAC Orgão público que determina e dinamiza ações preservacionistas no município de Ponta Grossa.
through its built heritage. For this we used the technique of literature, interviews, photos, technical visits to places fallen and lectures. The hypothesis investigated in this study is that oral history combined with the use of built heritage in the context of local history can bring new meaning to the learning of history, and giving students the interest in the preservation of cultural heritage of the city. Keywords: local history; preservation; heritage; buildings; COMPAC.
INTRODUÇÃO
O Patrimônio Cultural tem se constituído em importante objeto de estudo
quando se fala principalmente em história local. Estes estudos tiveram
desenvolvimento com as ações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN) desde o final da década de 1930 e as políticas de
preservação, procurando refletir sobre a necessidade de se preservar, no
interesse de entender a sociedade, seus usos e costumes nos diferentes
espaços da cidade e a diversidade cultural das comunidades locais na análise
de sua identidade cultural.
Neste sentido, o objetivo principal deste artigo é analisar e apresentar
os resultados do projeto intitulado “A atuação do Conselho Municipal de
Patrimônio Cultural – COMPAC na preservação do patrimônio cultural
edificado de Ponta Grossa – PR e as possibilidades de uso didático para a
história local”, desenvolvido com os alunos do 2º ano do Ensino Médio do
Colégio Estadual Polivalente Ensino Fundamental Médio e Profissionalizante.
O projeto teve como objeto de estudo as políticas de preservação e a
atuação do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural COMPAC, órgão
público que determina e procura dinamizar ações preservacionistas no
município de Ponta Grossa – Paraná. Este projeto objetivou aprofundar o
conhecimento histórico da cidade por meio do estudo e reconhecimento dos
patrimônios culturais, privilegiando o patrimônio edificado e suas possibilidades
de uso didático para a história local.
2
Assim, procurouse conhecer os patrimônios culturais edificados da
cidade de Ponta Grossa e despertar, no educando, a percepção de que ele é
sujeito histórico e, como tal, transformador do meio em que vive. Para tanto se
utilizou de pesquisas em arquivos do Museu Campos Gerais, arquivos da
Secretaria Municipal de Cultura e Turismo e arquivos do Conselho Municipal de
Patrimônio Cultural (COMPAC) para análise de suas ações na preservação do
patrimônio edificado. Ao mesmo tempo, foram realizadas entrevistas com
representantes do poder público municipal, membros do COMPAC,
representantes da comunidade e professores que desenvolveram pesquisas na
área patrimonial da cidade, com a participação dos educando envolvidos no
projeto, visitas técnicas a bens tombados e em vias de tombamento.
Cabe ressaltar que nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997 e
1998) a história local passou a ocupar uma posição privilegiada uma vez que, a
partir do estudo dela e do cotidiano, pode – se aprofundar para trabalhar
contextos mais amplos.
Goubert (1988, p.73) comenta que:
A volta à história local originase de um novo interesse pela história social, ou seja, a história da sociedade como um todo, e não somente daqueles poucos que, felizes, a governavam, oprimiam e doutrinavam – pela história de grupos humanos algumas vezes denominados ordens, classes, estados.
Foi importante destacar a utilização do Patrimônio cultural edificado
para o aprofundamento dos conhecimentos sobre a história local, notando
desta forma que o patrimônio “vai além de seu valor material” (Gadotti,2003.
P.13), pois ele abre para uma gama de conhecimentos quer sejam na área da
arquitetura, da história social, econômica, política e cultural entre outros.
Dropa (2003, p.53) afirma que “Ponta Grossa é uma cidade Histórica”
por sua origem ligada à rota do “Caminho das tropas”, onde ricos fazendeiros,
tropeiros, caboclos, escravos e exescravos mesclavamse e, aos poucos,
foram construindo o que posteriormente ficou conhecida como cidade de Ponta
Grossa.
3
Por estar em uma posição geográfica privilegiada, sendo o principal
entroncamento rodoferroviário do sul do Brasil, facilitando assim o acesso a
todas as regiões do Estado, tornouse desta forma importante ponto de
encontro de viajantes, desde a abertura da rota dos tropeiros, posteriormente
das correntes imigratórias marcando a ocupação deste espaço por uma
pluralidade étnica e cultural, que se podem observar nas diversas
manifestações culturais e nos estilos arquitetônicos de casas, igrejas, fazendas
e prédios antigos desta região.
Comenta Dropa (2003 p.52.):
O resgate histórico dos prédios tombados em Ponta Grossa se faz necessário pela rapidez com que a cidade perdeu, e está perdendo, pela destruição, o seu patrimônio edificado. Muitas vezes, esta destruição foi justificada pelo discurso do progresso e da modernidade.
Perdas irreparáveis fizeram–se sentir em nome da modernidade, como
exemplo a Catedral do Bispado, a Cervejaria Adriática e edificações que
seguramente ressaltariam importantes aspectos da história urbana de Ponta
Grossa, algumas destas construções foram destruídas no período noturno,
evitando protestos da comunidade que não pode preservar valores históricos,
artísticos e culturais, uma vez que estes prédios possuíam uma fonte de
informação valiosa sobre a história da cidade.
Assim sendo, salientase, a necessidade de se preservar o patrimônio
edificado de Ponta Grossa já que ações foram realizadas na esfera estadual e
municipal a partir de 1990, quando a Coordenadoria do Patrimônio Cultural da
Secretaria de Estado da Cultural, tombou as seguintes edificações: A Mansão
Vila Hilda, o Prédio do Fórum, Colégio Regente Feijó, Edifício Guilherme
Naumann (PROEX), Complexo da Rede Ferroviária, e por intermédio do
Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (COMPAC) a Capela Santa
Bárbara, O clube Treze de Maio, A Casa Ernesto Vilela, e a Cerâmica 12 de
Outubro, tendo inventariado 90 imóveis, e estão ainda em processo de
preservação muitas edificações. (Dropa, 2003. p.103, 129, 157, 175)
4
A partir desta busca a novas reflexões sobre a história é que reside a
importância do tema proposto, ou seja, as ações preservacionistas referentes
aos patrimônios culturais da cidade de Ponta Grossa, no Estado do Paraná e
suas possibilidades como uso didático.
Patrimônio é [...] um conjunto de bens materiais e não materiais, que foram legados pelos nossos antepassados e que, em uma perspectiva de sustentabilidade, deverão ser transmitidos aos nossos descendentes, acrescidos de novos conteúdos e de novos significados, os quais, provavelmente, deverão sofrer novas interpretações de acordo com novas realidades socioculturais. O patrimônio cultural é composto por elementos tangíveis e intangíveis – tradições, literatura, língua, artesanato, dança, gastronomia, vestimenta, manifestações religiosas, objetos e materiais históricos, arquitetura etc. – tanto do passado quanto do presente, os quais, no seu conjunto, caracterizam um agrupamento social, um povo, uma cultura (Dias, 2006, p. 6768)
A partir da crescente preocupação com a preservação do Patrimônio
Cultural no Brasil, quer seja este patrimônio arqueológico, arquitetônico,
etnográfico, bibliográfico, ambiental ou artístico, e por considerar esta temática
relevante para o estudo da história local, é que se procurou conhecer os
patrimônios edificados da cidade de Ponta Grossa e o trabalho realizado pelo
Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (COMPAC) na preservação dos
mesmos e até que ponto eles podem ser utilizados para ampliar os
conhecimentos da história local.
PATRIMÔNIO CULTURAL EDIFICADO DA CIDADE DE PONTA GROSSA
Partindo do projeto proposto ao PDE sobre a “Atuação do Conselho
Municipal de Patrimônio Cultural (COMPAC) na preservação do patrimônio cultural
edificado de Ponta Grossa PR e suas possibilidades de uso didático para a história
local”, que visa questionar, entender e propor um novo olhar sobre o estudo da
história através da imersão teórica e prática no patrimônio cultural da cidade é que
5
foram realizadas pesquisas com os alunos participantes do projeto, no sentido de
esclarecer conceitos como o de patrimônio cultural.
De acordo com os estudos propostos, em um primeiro momento o
projeto foi apresentado aos alunos e abriramse inscrições para os
interessados em participar. Foi organizada uma primeira reunião com os
inscritos onde o projeto foi detalhado em suas diferentes fases e iniciouse uma
reflexão com os alunos sobre preservação, necessidade ou não de se
preservar. Nesse momento procurouse evidenciar o aluno como um ser
histórico, estimulando uma pesquisa sobre o seu núcleo familiar.
Os resultados obtidos foram significativos uma vez que, por meio das
entrevistas e pesquisas realizadas, os alunos colocaramse como participantes
do processo histórico. Histórias pessoais vieram à tona e contribuíram para a
revisão de conceitos e valores, propiciando aos mesmos um novo olhar sobre
aqueles lugares que, segundo seus comentários, viam com indiferença,
resignificandoos. Este aspecto pode ser exemplificado com o depoimento de
uma aluna participante do projeto: ”Ao conhecer os patrimônios antigos da
cidade, relembrei do tempo de criança, tradições, costumes a família reunida.
(...) temos aqui em Ponta Grossa patrimônios muito bonitos e históricos, que
precisamos e devemos conservar tanto na estrutura quanto na História contada
de família a família.” (participante 2)
Posteriormente, em um segundo momento, direcionouse o trabalho
para a análise da história da cidade de Ponta Grossa, com o objetivo de se
conhecer a ocupação do espaço urbano e a constituição de seu patrimônio
cultural edificado.
HISTÓRIA E MEMÓRIA
A formação da cidade de Ponta Grossa, sob o âmbito do
desenvolvimento urbano, foi o cerne da questão, demonstrando o princípio da
cidade que convergiu para o alto da colina onde foi construída a Capela de
6
Sant’Ana, que passou a aglutinar ao seu redor um número crescente de
construções de onde irradiouse a expansão urbana da cidade.
Explanouse sobre o desenvolvimento econômico, político e social,
procurando valorizar as ocupações desta região, a partir do século XVIII, e de
seu povoamento no “Caminho das Tropas”, também conhecido como Caminho
do Viamão, que veio a intensificar o desenvolvimento de uma economia
pecuária na região dos Campos Gerais, tornandose mais tarde lugar de pouso,
currais de descanso e invernadas de gado, desenvolvendose em cidades “que
enfileiram se uma após a outra, tais como as contas de um colar, ao longo de
sua rota. Cada cidade está separada da outra por uma distância que
corresponde a um dia de viagem do tropeiro”. (Wachowicz,1988,p.102).
Além das atividades tropeira e pecuária surgiram as primeiras fábricas
relacionadas à atividade madeireira e o conseqüente “crescimento do comércio
de atacado e varejo de secos e molhados” (Dropa,77) , tornando –se a base
para o crescimento e a evolução econômica dos Campos Gerais.
É importante ressaltar ainda que esta expansão econômica (industrial e
comercial) esteve ligada à vinda dos imigrantes, que se espalharam, além do
Largo da Matriz, em ruas próximas tais como Rua Quinze de Novembro,
Avenida Vicente Machado, Rua Santos Dumont, tornandose o mais importante
empório comercial do interior do Paraná, no final do século XIX. (Dropa,p 78)
Em 1894, ocorreu a inauguração da Estrada de Ferro do Paraná,
aumentando o desenvolvimento urbano de Ponta Grossa, especialmente
quando ativada em 1906, conhecida por “Estrada de Ferro São Paulo – Rio
Grande do Sul”.
Neste panorama a cidade cresceu e se desenvolveu influenciada por
uma diversidade cultural acentuada, demonstrada especialmente pelas
construções.
Ao analisar a história da cidade sob o ponto de vista de seu crescimento
urbano, podese despertar no aluno um maior interesse pela história local,
observando nestes um novo olhar para o patrimônio cultural urbano. Neste
7
sentido os participantes do projeto trabalharam com a noção de que a cidade,
segundo Wainberg (2001, p. 13):
(...) deve ser vista como uma escritura, uma fala a ser interpretada pelo transeunte. Tratase de um enigma a ser desvendado pela exploração. A percepção é estimulada pelo estranhamento causado por sua arquitetura, vias, limites, bairros, pontos nodais, marcos, avenidas, cafés e bares. É uma obra de arte viva, e seus atores móveis são os seus habitantes. Há cores e odores. Hábitos e costumes. História e memória. No campo estranho, todo detalhe é relevante na composição do todo.
Assim, os alunos foram incentivados, por meio da leitura e debate, a
perceberem a cidade, a interpretarem a sua composição urbana e, ao mesmo
tempo, foram instigados para um novo olhar neste processo de formação
histórica. Enfatiza Adams (p16.) que “o processo de preservação
pressupõe, inicialmente a conscientização e a identificação de algo
relacionado com a memória e o passado aos quais é conferido um valor
tal que justifique esforços individuais e coletivos, no sentido de sua
manutenção no tempo”.
Neste momento buscouse trabalhar com os alunos a noção de memória
e de lugares da memória, com o objetivo de debater a questão da preservação
do patrimônio cultural, neste caso o patrimônio edificado de Ponta Grossa.
Para tanto se discutiu com os alunos a noção de que a memória local, segundo
Gastal (2002, p. 69):
(...) pode estar presente na produção cultural de seus moradores. É a memória do lugar que fica registrada na música, nos versos dos poetas, nas cenas dos filmes, na tela dos pintores, nas narrativas dos escritores, nas fotos de amadores e profissionais. As diferentes memórias estão presentes no tecido urbano, transformando espaços em lugares únicos e com forte apelo afetivo para quem neles vive ou para quem os visita. Lugares que não apenas têm memória, mas que para grupos significativos da sociedade, transformamse em verdadeiros lugares de memória. Conforme a cidade acumula memórias, em camadas que, ao somaremse, vão constituindo um perfil único, surge o lugar de memória, como aquele local, bairro, rua, prédio ou mesmo objeto em que a comunidade vê partes significativas do seu passado com imensurável valor afetivo.
8
Discutiuse de forma significativa “lugares da memória” que foram
destruídas em nome da modernidade, perdendose assim parte da identidade
da comunidade local, apresentando como exemplos a Catedral do Bispado,
antiga Capela Sant’Ana, que foi destruída e evidenciando a construção de
outra no mesmo espaço com uma arquitetura moderna. Por intermédio de fotos
da anterior e visitando a atual, notouse, que os educandos tiveram atitudes
diversas diante da perda de monumento considerado como significativo para a
comunidade religiosa da cidade, uma vez que a Catedral do Bispado –
Sant’Ana caracterizase como ponto de encontro de católicos de toda região
desde sua criação.
Fotos históricas sobre a cidade foram apresentadas com a intenção de
debater a questão dos patrimônios e dos “lugares de memória” da comunidade
em que se inserem os alunos, deixando que os mesmos debatessem a
temática a partir da observação da arquitetura dos patrimônios e do
desenvolvimento da história urbana local.
Foto da catedral demolida em 1978Fonte: Prefeitura Municipal de Ponta Grossa. Turismo. Ponta Grossa/PR (2007)
9
Foto da Catedral AtualFonte: Prefeitura Municipal de Ponta Grossa. Turismo. Ponta Grossa/PR (2007)
Após este momento de estudo e discussão, o grupo (coordenador do
projeto e participantes), procuraram repensar dentro de um universo de bens
imóveis, que patrimônios devem ser preservados, porque serem preservados,
para que serem preservados. Por meio de pequenas discussões, instigouse a
reflexão sobre as questões preservacionistas da cidade de Ponta Grossa,
sobre a importância da história individual e coletiva, com o objetivo de levar o
educando a perceberse como agente histórico.
As probabilidades de se perderem parte da história dos grupos sociais
inseridos na comunidade estudada, ocasionado pelo aumento e o conseqüente
crescimento populacional são expressivas e provocam impactos diretos na
ocupação do espaço urbano, na formação e na preservação do patrimônio
cultural de grupos étnicos como também nos patrimônios edificados sendo,
portanto, um ponto preponderante para se entender a história da cidade pela
vertente da referida temática.
Este processo de desenvolvimento urbano provoca ações antagônicas
no que concerne à preservação do patrimônio cultural e às necessidades
básicas da população. Nesse sentido foi significativa a reflexão sobre as ações
preservacionistas, elencando prioridades nestes espaços que são ou não,
10
utilizados como elementos de resignificação da identidade individual e coletiva
das populações, visando o bem comum e o conhecimento de sua história.
À medida que se percebe a importância que os patrimônios culturais
edificados têm para com a comunidade, por serem estes bens que
representam as relações sociais destes grupos, sentese a necessidade de
protegêlos. A história local, nesta atual conjuntura, ocupou um papel
preponderante por ter objetivado levar o educando conhecer sobre a sua
própria identidade, entendendo ser ele elemento histórico e, portanto, capaz de
contribuir na organização política, social e cultural de sua cidade.
Logo, foi relevante entender a trajetória dos bens culturais da cidade de
Ponta Grossa, bem como diferenciar as diversas formas de patrimônio.
Segundo a Constituição de 1988, artigo 216, seção II:
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomadas individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira (...) (Constituição da República Federativa do Brasil: 1988)
Em relação à legislação local, a Lei orgânica do município de Ponta
Grossa, artigo 161, diz que:
Constituem patrimônio cultural do município de Ponta Grossa, e como tal, possíveis de proteção e tombamento, as obras, os objetos, os documentos, as edificações, os sítios arqueológicos e paisagísticos que contemplem a memória cultural dos segmentos e incentivo de atividades culturais.
A trajetória dos patrimônios culturais edificados de Ponta Grossa, sua
história, preservação e ações de proteção, foram o principal foco de análise de
estudo dos educandos. A intenção de despertar no educando a percepção de
que é sujeito histórico, e a partir desta constatação capaz de modificar sua
prática, foi aos poucos sendo absorvidas por estes, uma vez que passaram a
observar com mais atenção o mundo ao seu redor, como se observou nas
11
atividades práticas desenvolvidas pelo projeto4, (visitas técnicas, oralmente em
debates, relatórios palestras e fotos).
A história local, entendida neste momento como um estudo prático da
cidade, possibilitou reflexões dos envolvidos com o processo (educandos e
educadores) e com as novas metodologias utilizadas, seja por visitação técnica
aos espaços já tombados ou em estudo para tombamento, entrevistas com
conselheiros, palestras com professores que possuem pesquisas realizadas
sobre os processos de tombamento e pesquisas em arquivos, vendo neste
aprendizado um elemento motivador e estimulante para conhecer a sua história
de vida, reconstituindo em sua memória fatos marcantes seus e de seus
familiares, observando nestes a história de sua cidade.
Os jovens envolvidos com o projeto se interessaram especialmente pela
Vila Hilda, onde funciona a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Ponta
Grossa, tombada como patrimônio cultural do Paraná em 1990. Neste espaço a
Diretora Municipal de Turismo – professora Msc. Márcia Dropa fez uma
explanação sobre este patrimônio despertando ainda mais o educando para o
interesse pelas questões patrimoniais.
Outras edificações tombadas pelo Estado também despertaram o
interesse dos participantes tais como: o Prédio do Antigo Fórum, Edifício
Guilherme Naumann – PROEX, Colégio Regente Feijó, Casa da Memória.
Pelo município procurouse conhecer o Museu Época, o Centro de Cultura,
Casa do Divino, entre outros, estimulandoos a observar o “entorno”, na análise
de edificações capazes de aguçar o interesse do educando sobre a ocupação
do espaço urbano.
Notouse que a história local aliada à história oral pode se constituir num
momento de crescimento intelectual, uma vez que despertou nos envolvidos o
desejo de buscar mais informações para o entendimento ou para a análise da
dinâmica da cidade, do bairro e especialmente do grupo social em que se
inserem.4 Foram organizadas saídas técnicas para visitar os patrimônios culturais edificados da cidade, onde o educando procurou conhecer a história da localidade, fotografando, filmando, questionando. Neste trabalho técnico foram apresentados os patrimônios culturais edificados tombados pelo Estado e também pelo município
12
Neste sentido, trabalharamse conceitos de Thompson (1972.p.44)
quando afirma que:
A história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela
lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo
de ação. Traz a história dentro da comunidade e extrai a história de
dentro da comunidade. Em suma contribui para formar seres
humanos mais completos.
O caminhar pela cidade, o observar os monumentos tombados ou não,
contribuiu para a reflexão dos educando sobre sua importância nas ações
preservacionistas dos monumentos edificados da cidade. Ao falar sobre os
órgãos responsáveis pela preservação, a princípio percebeuse um
desconhecimento da existência destes, que ao longo do projeto foi sendo
elucidado.
As ações preservacionistas foram entendidas pelos educando por
intermédio de leituras e discussões das leis, procurando conhecer a dinâmica
das ações do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural. Perceberam que
representantes da comunidade princesina, preocupados com as perdas
ocorridas na cidade, movimentaramse no sentido de preservar os patrimônios
culturais, especialmente os edificados.
CONSELHO MUNICIPAL DE PATRIMÔNIO CULTURAL DE PONTA
GROSSA COMPAC
O COMPAC foi criado a partir da preocupação e o apoio de alguns
intelectuais, artistas e grupos envolvidos com a temática da preservação, que
buscaram nos meios políticos o apoio para resguardar os imóveis com
importância histórica para a cidade. O “Conselho Municipal de Patrimônio
Cultural” (COMPAC), nasceu com o objetivo de estudar e promover o
tombamento dos imóveis considerados como relevantes enquanto patrimônios
edificados da cidade de Ponta Grossa.
13
A lei nº 6.183, de 23 de junho de 1999 criou o Conselho Municipal de
Patrimônio Cultural de Ponta Grossa COMPAC5 e instituiu o Fundo Municipal
de Proteção do Patrimônio Cultural que passou a atuar no município,
procurando preservar patrimônios naturais e culturais significativos da cidade,
sofrendo esta Lei alterações em 2005, sob o nº 8.431 de 29 de dezembro.
O COMPAC é o órgão encarregado de proteger e determinar os
processos de tombamentos, conforme I capítulo da Lei: “O interesse cultural
que fundamenta o tombamento é constituído pela relevância e expressividade
do bem para a garantia da memória cultural da população princesina, sendo
expresso pela importância social que desperta para toda coletividade”.
Entender os mecanismos de proteção determinados pelo COMPAC, foi
importante pois despertou nos educando o interesse de buscarem também
eles proteger “os patrimônios culturais edificados” de Ponta Grossa, pois assim
estariam colaborando na resignificação destes locais, como cidadãos
conscientes dos seus direitos e deveres para com a comunidade em que estão
inseridos.
Pesquisas e entrevistas com conselheiros foram realizadas pelos alunos
que perceberam ser o processo de preservação complexo, devido aos
interesses antagônicos existentes entre proprietários dos imóveis e membros
do COMPAC, os primeiros procurando conservar seus bens sem restrições de
uso, o segundo procurando proteger o patrimônio por considerálo parte da
identidade da cidade sendo, na maioria das vezes, complexo o ato do
tombamento.
Após o estudo do COMPAC e a observação dos diferentes bens imóveis
preservados ou não, procurouse discutir sobre este novo olhar, sobre como
priorizar determinado imóvel em detrimento de outros. Aprender a olhar o
patrimônio foi o desafio para estes educando, acostumados que estão a olhar
de forma superficial, este exercício do olhar, como forma de perceber o que
possa ser relevante ou não em uma cidade que se transforma, e que tenha
significados podendo ser também resignificada, em razão da formação
5 Toda vez que surgir o termo COMPAC referese ao Conselho Municipal de Patrimônio Cultural de Ponta Grossa.
14
cultural, reflexão e leitura de mundo, foi estimulada por intermédio do projeto e
suas proposições.
Entenderam a importância do aprender a exercitar o olhar, de estimular
a curiosidade, procurando a singularidade do lugar e seus símbolos mais
marcantes. Destacar “lugares” revelando a identidade, captar sua alma, sua
essência, foi um desafio bem absorvido pelos participantes do projeto, que
buscaram captar seus significados, uma vez que desconheciam a importância
destes patrimônios para a conservação da história local.
Ao interpretar o patrimônio, por intermédio do exercício do olhar,
descortinando seus significados, o educando percebeu que quando se
interpreta um patrimônio cultural edificado têmse também como objetivo
evidenciar para as demais pessoas o valor deste patrimônio, encorajandoos a
conserválo. Esta é a sua essência: desenvolver a preservação e a
interpretação dos bens culturais.
Nesta reflexão com os educandos evidenciouse que se pode consolidar
a prática da interpretação do patrimônio propiciando o desenvolvimento cultural
das comunidades e fortalecendo o turismo sustentável, tendo como suporte a
atividade turística.
Ao interpretar o patrimônio devese perceber a dupla função de
valorização: de um lado, valoriza a experiência do visitante levandoo a uma
melhor compreensão e apreciação do lugar visitado; de outro, valoriza o próprio
patrimônio incorporandoo como atração turística. Mais que informar,
interpretar é revelar significados, é provocar emoções e estimular a
curiosidade. O maior mérito da ação de interpretação é popularizar o
conhecimento ambiental e preservar o patrimônio induzindo a uma atitude de
respeito e proteção aos visitantes e ainda levando a comunidade desta
localidade a perceber se como agente histórico transformador, pois atribuem
significados novos ao patrimônio.
A afirmação de Tilden,(Murta. 2002,p14.) permanece válida: “Através da
interpretação, a compreensão, através da compreensão, a apreciação, e
através da apreciação a proteção”.
15
É fato que as comunidades constróem representações cognitivas,
mapas mentais que orientam suas atividades cotidianas. Outras
representações cognitivas se formam para tornar compreensíveis as
experiências e a relação com o meio ambiente e a cultura. (Murta. 2002, p.19)
Com essas representações, as pessoas reinventam seus mundos,
mantendo ou transformando o legado de seus antepassados. A interpretação
do patrimônio, aqui defendida, advém da valorização e da preservação,
reconhecendo a comunidade como produtora do conhecimento, dos atrativos
oriundos da significação cultural, protagonista na reinvenção da cotidianidade,
respeitandose o imaginário, as crenças, as etnias, os arquétipos, o tempo e o
lugar.
Para evidenciar ao educando o processo de transformação do espaço
urbano, solicitouse a leitura do texto “A alma das cidades” 6, como uma ação
provocativa de reflexão sobre o espaço urbano, destacando quando o autor
fala sobre a organização do espaço e as transformações que a cidade
experimenta:
Na organização, na maneira de ordenar o espaço, na escolha do lugar que a população elege, na forma de tratar a terra, na forma de cultivála, na seleção do que plantar, na escolha dos materiais construtivos e, principalmente, na forma de tratar e aproveitar os materiais da natureza, como a terra, e a madeira, para construir seu habitat, o povo vai deixando marcas e características que definem sua cultura. E é no espaço urbano que as marcas da história ficam mais claras. No desenho das ruas, na conformação das praças, na forma de implantação e principalmente na arquitetura dos edifícios, o povo marca a cidade com seus conhecimentos acumulados – a cultura translada de sua terra de origem, transformada no tempo e no espaço.Na arquitetura, essas diferenças culturais não se revelam apenas na escolha da técnica, embora este aspecto, por si só, seja notável na caracterização de uma época ou de um grupo étnico. Surgem também no modo de organizar o espaço habitado. Observandose a praça, a seqüência de casas, o beiral jogando água sobre a rua, o que se vê é a expressão de uma cultura, da forma de organizar as cidades. Mas a cidade se transforma, e isto é um dado importante. A cidade não é um bem imóvel: ela é dinâmica, ela se altera. Por que ela se altera? Porque mudam os hábitos, modificamse os costumes, surgem outras influências culturais. Neste sentido, as casas, os objetos arquitetônicos são as palavras que a História vai deixando na cidade. As frases são as ruas, as casas são as palavras de pedra que marcam as histórias das
6 LYRA, Cyro Corrêa. A alma das cidades. Caderno de tombamento na cidade da Lapa.
16
cidades nas ruas. O importante é ler esta História na cidade. A arquitetura conta muito mais da História do que as palavras, do que as aulas. É a aula viva, pública e permanentemente exposta.
Quando mencionado sobre as transformações da cidade, podese
perceber que os jovens começaram a rever seus conceitos, ao comentarem
sobre crescimento urbano da cidade de Ponta Grossa que deve ser harmônico,
crescer priorizando determinados locais que sejam relevantes para a história
da comunidade, acreditando que sempre haverá discordâncias quanto ao que
preservar.
Para trabalhar esse olhar sobre os patrimônios e as transformações do
espaço urbano, lançouse o desafio aos educando de saírem às ruas
fotografando locais em que observassem o novo em harmonia com o antigo,
locais que deveriam ser preservados, e que se encontram em estado de quase
destruição, bem como procurando comparar espaços de Ponta Grossa em
décadas diferentes, o que os levou a perceberem, na prática, as mudanças
ocorridas no espaço urbano. A seguir, imagens da Avenida Bonifácio Vilela,
onde se pode perceber (no aglomerado de pessoas) o edifício do Colégio
Regente Feijó, em dois momentos distintos, tombado pela Curadoria do
Patrimônio do Estado do Paraná e de um patrimônio cultural edificado
conhecida como: Antiga Casa dos Escoteiros, tombado pelo COMPAC e que
ainda não foi restaurada.
17
Década de 1970
Fonte Publicação Comemorativa do 152° àniversário de Ponta Grossa
Em 15 de setembro de 1975
2009
Foto tirada pelos participantes do projetoFonte: Arquivo da pesquisadora
18
Foto tirada pelos participantes do projeto7
Fonte: Arquivo da pesquisadora
Nesse processo de entender e de descobrir em meio a tantos bens
móveis quais são relevantes para se preservar, foi necessário interpretar o
patrimônio, por meio de textos, fotos, palestras e discussões, exercitando o
olhar, procurando estimular a curiosidade, buscando a singularidade do lugar e
seus símbolos mais marcantes. A cada discussão ocorreram mudanças de
atitudes dos educando ao opinarem sobre os patrimônios edificados e as ações
preservacionistas.
Para um melhor entendimento do tema percebeuse a necessidade de
reconhecer as características da arquitetura pontagrossense, observando os
estilos que mais se destacam na cidade, a saber: arquitetura gótica, arquitetura
barroca, neoclassicismo e o estilo eclético por reunirem num mesmo edifício
elementos diversos. Foram interessantes os comentários dos participantes
quanto aos tipos arquitetônicos que transformam a estética da cidade, portanto,
essencial para a revitalização, uma vez que seu conteúdo histórico cultural e
7 Antiga Sede dos Escoteiros dos Campos Gerais situado na Rua Tenente Hinon Silva,
470 (esq., Rua Benjamin Constant)
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seu estilo representam grupos sociais que em Ponta Grossa viveram e
deixaram suas marcas na arquitetura.
Os participantes do projeto interessaramse pelos detalhes das fachadas
e interior dos prédios e, notouse mudanças expressivas em seus julgamentos,
que culminaram em uma nova postura diante das construções antigas, na
busca do entendimento do porquê proteger edifícios históricos. Imóveis estes,
que além de possuírem histórias que resgatam parte da identidade princesina
remetem a estilos arquitetônicos de períodos diversos.
Determinados prédios, hoje preservados, representavam o poder político
e econômico de uma época e eram afirmados em seus detalhes arquitetônicos,
tais como a platibanda, pilastras, caneluras rasas, frontões, capitéis, eira e
beira8.
Neste sentido, um prédio com características arquitetônicas que
simbolizavam o poder na cidade de Ponta Grossa é o antigo Fórum, conhecido
atualmente como Museu Campos Gerais, e que aguarda restauração. Rico em
detalhes arquitetônico e em história, que remonta ao início do século XX,
caracterizado pelo poder de controle e justiça, tornouse o “símbolo imaginário
e ideológico do poder” inclusive pela sua própria localização, uma vez que
ficava na região alta da cidade, local de residências das pessoas abastadas,
tais como Barão de Guaraúna, prédio comercial de Guilherme Naumann, atual
Pró Reitoria de Extensão de Assuntos Culturais – PROEX primeira construção
possuindo dois pavimentos, entre outros. ( Dropa.2003. p.140)
A visita técnica pelos participantes do projeto a este patrimônio
histórico foi relevante, com os mesmos entrevistando o responsável e emitindo
suas opiniões quanto ao estado do patrimônio. O participante 4, comentou
sobre as necessidade de maior seriedade por parte dos órgãos estaduais
competentes para se iniciar logo a restauração de local, o que foi apoiado por
todos os participantes, preocupados com o perigo de vir abaixo este prédio
histórico, considerado como significativo para a história da justiça de Ponta
Grossa.
8 Eira e Beira :termos empregados a pessoas abastados, entendendo então o provérbio antigo “sem eira e nem beira” que caracterizava pessoas de menor poder aquisitivo
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Frontão do Museu dos Campos Gerais –Antigo Fórum Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora
Interior do Museu dos Campos Gerais –Antigo Fórum Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora
Após refletir com o educando sobre as questões de preservação, a
legislação municipal e a ação do COMPAC, leituras relacionadas a essa
temática, trabalhos desenvolvidos a partir das visitas técnicas e o desafio de
novos olhares sobre o processo de desenvolvimento urbano da cidade,
procurouse, em dois momentos, avaliar os conhecimentos obtidos, por
intermédio de palestras.
Num primeiro momento foi convidada para proferir palestra a
Professora Msc. Márcia Dropa que discorreu sobre a “Preservação do
21
Patrimônio Cultural Edificado de Ponta Grossa”, ao final da explanação abriu
se um debate com os alunos cursistas e alunos convidados. Os participantes
envolveramse com o tema e levantaram questões relacionadas ao que
julgavam ser importante preservar, questionando ainda sobre a importância ou
não daqueles prédios demolidos tais como a antiga “Catedral de Sant’Ana”, a
cervejaria Antárctica entre outros.
Em um segundo momento os alunos participantes do projeto foram
encarregados, para encerrar o projeto, de uma última ação coletiva do grupo,
ou seja, demonstrarem o conhecimento adquirido por meio de palestras e
debates, para os colegas estudantes do ensino médio do turno da manhã e
noite. Durante duas horas, cerca de 200 estudantes assistiram às palestras,
com os participantes do projeto narrando suas experiências e ressaltando a
aprendizagem obtida, por meio de visitas, pesquisas, entrevistas e fotografando
patrimônios culturais edificados tombados e em estudo para o tombamento,
patrimônios que estão se deteriorando e que contam aspectos da história de
Ponta Grossa, sob este novo enfoque, onde os participantes defenderam suas
posições respondendo a questões polêmicas feitas pelos alunos ouvintes.
Textos e fotos foram discutidos, havendo questionamentos quanto à
atuação do COMPAC ao ato de preservar, relatando as entrevistas que
desenvolveram com alguns representantes deste órgão, destacando para a
clientela presente a importância de se conhecer a história da cidade por meio
do patrimônio cultural edificado.
O educando também procurou se colocar no lugar das partes
interessadas ora do proprietário, avaliando o apoio dado pelo COMPAC por
meio da Prefeitura Municipal, considerando que o proprietário em parte tem
razão, pois o restauro é um trabalho complexo, os custos são altos e o retorno
aparentemente é menor do que este espera; ora colocandose no lugar dos
conselheiros. Ao analisar a visão dos conselheiros o educando observou o
interesse acentuado em manter parte da história da cidade preservada,
especialmente lugares relevantes, que podem contribuir para a história de
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grupos sociais diversos, construções que por si só demonstram um estilo, uma
época.
Questões como o ato de preservar e quanto à atuação do COMPAC na
cidade de Ponta Grossa foram debatidas pelos educandos, havendo uma
opinião unânime no que concerne a necessidade de atuações mais efetivas
não só do COMPAC, mas também da comunidade princesina. De acordo com
esta clientela, fazse necessário um despertar mais amplo do ato de se
preservar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final do projeto percebeuse que tanto educando quanto educador
avançaram em seus conhecimentos no que se refere a situação do patrimônio
cultural edificado de Ponta Grossa – PR, e as possibilidades de uso didático
que o mesmo apresenta para o estudo da história local. Como diz Freire “O
educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é o
educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado também
educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem
juntos”. (FREIRE. p. 68).
Notouse como é importante para o estudante a produção do seu
conhecimento. Esta produção desenvolveuse de forma diversificada, quer
produzindo textos reflexivos sobre a história da cidade, quer debatendo com o
grupo pontos positivos e negativos da preservação, quer fotografando e
reconhecendo os detalhes, inclusive procurando conhecer a arquitetura dos
patrimônios e sua história, quer participando de debates ou entrevistando
pessoas envolvidas com a preservação, quer ainda proferindo palestras onde
os alunos participantes do projeto procuraram reafirmar seus conhecimentos.
Desta forma, a história da cidade foi vivenciada pelo grupo participante
e que, em forma de palestra procurou repassar essa experiência aos colegas
alunos, com um relato de vivência mais ampla, utilizando o patrimônio edificado
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como material didático. Os alunos participantes também utilizaram material
produzido por eles, principalmente fotográfico, para explanar e reproduzir suas
experiências enquanto também pesquisadores da história local.
A prática educativa de desenvolver no educando a capacidade de
produzir seu próprio conhecimento teve êxito, pois conseguiu despertar noções
de cidadania, ou seja, de responsabilidade, seriedade com o bem comum,
propiciando ao pesquisador o cumprimento de seus objetivos e um
conhecimento mais aprimorado das questões preservacionistas.
Podese perceber desta maneira que a história oral aliada a utilização
de patrimônios edificados no contexto da história local, ocuparam papel
preponderante para o estudo da história como um todo, dandolhe um novo
significado. Essa ação despertou nos educandos o prazer de estudar
trabalhando com elementos palpáveis, ou seja, indo em busca de seu próprio
conhecimento por meio da prática, tornando a história mais atrativa, uma vez
que, perceberamse com agentes históricos, produtores e transformadores da
história no mundo em que estão inseridos. Esse novo olhar possibilitou uma
mudança nas práticas dos alunos, por intermédio de ações concretas, que no
decorrer do processo denotam a assimilação destes novos significados, de
forma mais atraente para a sua prática escolar diária.
Entender o processo de desenvolvimento urbano, as motivações para
a preservação dos patrimônios culturais de uma cidade e a sua influência no
imaginário coletivo foram importantes, uma vez que, este é o retrato presente
da sociedade, mais que um testemunho do passado, e seguramente um
registro das possibilidades políticas dos diversos grupos sociais expressas na
apropriação de parte da herança cultural dos bens que materializam e
documentam a presença dos patrimônios edificados no fazer histórico da
sociedade.
Assim, por intermédio da educação patrimonial, ou seja, direcionando
para o estudo da problemática patrimonial existente na cidade de Ponta
Grossa, quer nas questões políticas, econômicas e culturais, conheceuse
parte do patrimônio cultural edificado, a atuação do Conselho de Patrimônio
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Cultural (COMPAC) e as possibilidades de utilização desse referencial como
material didático, instigando os alunos na produção do conhecimento.
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