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A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: UM COMPROMISSO COM A QUALIDADE

DO ENSINO

CARVALHO, Rosane Siqueira de Oliveira1

Mauricio G. Saliba2

RESUMO A avaliação é vista como instrumento para medir o ensino/aprendizagem, no entanto, é necessário que o educador se proponha a entendê-la como um meio que pode também medir a sua atuação na sala de aula. Não basta que o aluno tire notas altas ou baixas para dimensionar o grau de aprendizagem, para o professor se sentir realizado nas suas atividades docentes, mas à medida que os acontecem, faz-se necessário aprender o que fazer diante dos desafios que se apresentam e para vencê-los é preciso quebrar paradigmas, buscando e tomando decisões que tornem as pessoas capazes de responder mais rapidamente aos desafios de seu ambiente escolar. Nos dias atuais, não se pode pensar em avaliação ligada á medida de conhecimentos tendo em vista que muitos outros fatores têm grande importância no processo avaliativo. Este artigo mostra as diversas abordagens da avaliação demonstrando a necessidade de repensar o processo como fonte de alterações para a melhoria da qualidade do ensino, abordando as várias formas de conhecimento e salientando que não se avalia apenas conteúdos, mas todo o processo do conhecimento. Espera-se que a pesquisa estimule o professor a estar sempre se questionando sobre: Por que estou avaliando? Quais os objetivos da avaliação? Como estou procedendo como educador na sala de aula? As metodologias que utilizo em sala de aula precisam ser reestruturadas? São perguntas que poderão ser respondidas através de um trabalho de conscientização do professor na sala de aula, sendo que, isso é relatado pelos autores que fizeram parte desta pesquisa. Palavras-chave: Aprendizagem; Avaliação; Ensino; Metodologia. ABSTRACT The evaluation is seen as instrument to measure education/learning, however, is necessary that the educator if considers to understand it as a way that can also measure its performance in the classroom. It is not enough that the pupil takes off high or low notes to dimensioned the learning degree, for the professor to feel itself carried through in its teaching activities, but to the measure happen that them, one becomes necessary to learn what to make ahead of the challenges that if present 1 Autora: Professora Pedagoga da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional em 2010/2011. 2 Orientador: Mestre e Doutor em Educação; professor do CCHE da Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP.

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and to win them she is necessary to break paradigms, searching and taking decisions that become the people capable to answer more quickly to the challenges of its pertaining to school environment. About the current days, if it cannot think about on evaluation the measure of knowledge in view of that many other factors have great importance in the evaluative process. This article shows to the diverse boarding of the evaluation demonstrating the necessity to rethink the process as source of alterations stops the improvement of the quality of education, approaching some forms of knowledge and pointing out that one does not evaluate only contents, but all the process of the knowledge. One expects that the research stimulates the professor to be always if questioning on: Why I am evaluating? Which the objectives of the evaluation? How I am proceeding as educator in the classroom? The methodologies that I use in classroom need to be reorganized? Questions are that could be answered through a work of awareness of the professor in the classroom, being that, this is told by the authors who had been part of this research. Words-key: Learning; Evaluation; Education; Methodology.

1 INTRODUÇÃO Nos dias atuais, a avaliação da aprendizagem ainda é vista como um meio

exclusivo de atribuir notas aos alunos com a finalidade de aprovar ou retê-los na

mesma série. Dentro de uma concepção pedagógica baseada na psicologia genética

a educação é concebida como experiência de vivência multiplicada e variada, tendo

em vista o desenvolvimento motor, cognitivo, objetivo e

social do aluno, e não apenas a atribuição de notas. Muito mais que isso, é preciso

que se tenha em mente uma avaliação consciente e atualizada, capaz de levar o

professor a direcionar o aluno para novas habilidades, não só no campo da cultura,

mas, principalmente da sua vida social.

Sabemos que a avaliação é, e sempre foi um dos principais problemas da

educação escolar. Esse assunto é muito sério e tem raízes profundas: não é

questão de uma matéria, série, curso ou escola; é de todo um sistema educacional,

inserido num sistema determinado; que impõe certos valores desumanos com o

autoritarismo, a competição, o individualismo, o consumismo, a alienação e

marginalização, entre outros.

Durante o projeto de intervenção, Programa de Desenvolvimento Educacional

– PDE, o objetivo foi levar o professor a entender a avaliação como processo

permanente da aprendizagem e transformador do contexto social, refletindo sobre;

Como deve ser a prática da avaliação?

Como utilizar a leitura de textos com posterior análise crítica e coletiva?

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Como provocar em cada professor o desejo de mudanças de atitude?

Como sugerir a reflexão sobre a prática avaliativa no cotidiano escolar?

Como investir na reconstrução dessas práticas para que possam alcançar

mudanças significativas?

É visível a preocupação e o desejo do professor em mudar a prática

avaliativa, mas, ao mesmo tempo, a impotência diante das inúmeras dificuldades

que frustram as tentativas de realizar tais mudanças.

2 A TRAJETÓRIA DA AVALIAÇÃO: UMA PROPOSTA DIAGNÓSTICA

A prática avaliativa foi se transformando através da história, passando por

muitos períodos, e o termo avaliação foi introduzida nos meios escolares na década

de 30, entretanto, a ação avaliativa continuou fundamentada em exames e provas,

mas, alguns professores já pensavam de forma diferente, ao que Luckesi (2005, p.

42) explica que “alguns educadores acreditarem que a avaliação poderia e deveria

subsidiar um modo eficiente de fazer ensino: com objetivos educacionais a serem

atingidos para o cumprimento de programas curriculares e institucionais”. Esses

educadores perceberam as provas e exames finais como instrumento de tortura para

o aluno, que tendo que tirar notas altas, se submetia a ataques de nervos

esquecendo que haviam ‘decorado’. Percebe-se com isso, que a ideia a respeito da

avaliação, já começava a tomar rumos diferentes e necessário seria amadurecer os

planos avaliativos para que professor e aluno pudessem medir o grau positivo ou

negativo do ensino/aprendizagem. Acompanhando historicamente a avaliação,

Luckesi (1996, p. 38) comenta: “temos que a prática de provas e exames teve

origem na escola moderna (séc. XVI e XVII), com a consolidação da sociedade

burguesa”.

Segundo a literatura, a pedagogia comeniana enfatiza a ação do professor

como centro e o que importa é se o aluno obteve notas altas, sem que se importe

quais meios o professor utilizou para alcançar os resultados. A avaliação consistia

em submeter o aluno a provas e exames decorativos, um caminho que nada tinha a

ver com os conteúdos ensinados aos alunos, em relação a esse assunto, Luckesi

(2005, p. 48) explica que, com o surgimento da burguesia, a pedagogia tradicional

emergiu e se cristalizou, aperfeiçoando seus mecanismos de controle e

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classificação, destacando-se a seletividade escolar e seus processos de formação

das personalidades dos educandos.

Na trajetória histórica, destaca-se o modelo de Tyler cujo delineamento é

baseado em teorias comportamentais e em metodologia de análise quantitativa,

apesar das reações surgidas, que determinaram o aparecimento de novos modelos

de avaliação escolar.

Outro estudo que mereceu destaque foram as obras de Stake e Scriven.

Segundo Alvarenga (1999, p. 32), Stake “apresentou um caráter multiforme, abordou

diferentes problemas ligados à avaliação, sendo considerada como uma das

principais colaborações ao estudo da área”. Foi nesse contexto que, através da

avaliação procurava-se ampliar as discussões sobre as diferenças epistemológicas

entre pesquisa e avaliação quantitativa e qualitativa.

Da mesma forma Scriven também contribui no estudo da avaliação, ao que

Alvarenga (1999, p. 33) descreve como sendo,

[...] o desenvolvimento de uma série de ideias fundamentais para a teoria da avaliação educacional. Talvez a principal dessas ideias seja a de que a avaliação desempenha muitos papeis, mas possui um único objetivo: determinar o valor ou o mérito do que está sendo avaliado, diferenciando os papeis somativo e formativo da avaliação, apresentando conceitos que influenciariam em definitivo a prática e o destino da avaliação.

Essas concepções a respeito da avaliação foram importantes para o

ensino/aprendizagem, sendo que as primeiras críticas da visão meramente técnica,

burocrática e reprodutivista da avaliação educacional, surgiram no final dos anos 70

e permaneceram na literatura nacional. A avaliação, frente à nova Lei de Diretrizes e

Base da Educação (LDB), nº 9.394/96, significa apropriar-se do saber. Surge um

novo olhar sobre a avaliação, de uma mudança do eixo de ensinar para o aprender.

Sob este olhar, a avaliação hoje é tida com o sentido de acompanhamento e

verificação de como está o aluno naquele momento, visto que o diagnóstico do

desempenho do aluno contribui para que o professor reconheça níveis cognitivos de

conhecimento em que o aluno se encontra e se os objetivos foram ou não atingidos.

A avaliação é individual e ainda, deve ser calcada nos objetivos e não em

notas (LDB, 1996, p. 60). Torna-se importante que o professor veja o aluno como um

ser social e político em conformidade com o senso crítico, sujeito de seu próprio

conhecimento. Vale ressaltar que a avaliação se concretiza de acordo com o que se

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estabelece nos documentos escolares como o Projeto Político Pedagógico e, mais

especificamente, a Proposta Pedagógica Curricular e o Plano de Trabalho Docente,

documentos necessariamente fundamentados nas Diretrizes Curriculares.

A avaliação deve contribuir e permitir ao aluno o conhecimento de seus

avanços, das dificuldades encontradas e da necessidade em buscar e/ou continuar

progredindo na construção do próprio conhecimento. Para que todas essas ideias

sejam absorvidas é preciso buscar autores que tratam a avaliação como fator

importante no ensino aprendizagem, entre os quais destacam-se, Alvarenga (1999),

Luckesi (2005-1996), Hoffman (2009-1999), Macedo (2000), Oliveira (1999),

Vasconcelos (2006) e a LDB (1996). O objetivo dessa pesquisa é demonstrar a

verdadeira função da avaliação, que na verdade, não se resume somente o fator

quantitativo, assim sendo, cabe aos pais, professores e alunos, mudar a concepção

em relação aos resultados positivos da aprendizagem, ou seja, a nota é o que

menos importa. Os valores estão incorporados em práticas sociais, cujos resultados

são colhidos em sala de aula, uma vez que funcionam como filtros de

reinterpretação do sentido da educação e da avaliação. Hoffmann (2009, p. 71)

comenta que:

O processo avaliativo orienta-se pelas múltiplas dimensões de aprendizagem envolvidas em cada experiência educativa. É preciso analisar a cada etapa do processo individual questões relativas às áreas de conhecimento, o aprofundamento na abordagem dos conteúdos, a aprendizagem nos sentido teórico prático, o envolvimento do aluno na tarefa de aprender, as relações estabelecidas com o grupo.

Na opinião dessa autora, o professor deve questionar sempre o aluno,

transformando suas respostas em novas perguntas para que o aluno possa

aprender que a cada indagação ele deverá sempre estar preparado a uma nova

resposta. De uma forma geral, aluno e professor devem questionar sempre uma ao

outro.

Um dos aspectos mais importantes do papel do professor é avaliar os

progressos do aluno no sentido de atingir os objetivos do ensino, previamente

estabelecidos. A avaliação é necessária ao professor para determinar o progresso e

as dificuldades que devem ser superadas para que o processo de ensino seja

adequado às necessidades do aluno.

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No meu entender, o processo avaliativo não pode ser delimitado em etapas: início, meio e fim, pois no seu sentido dialético, se constitui por momentos contínuos e simultâneos de mobilização, experiência educativa e expressão do conhecimento por educadores e educandos, momentos provisórios e complementares que só podem ser analisados em seu conjunto (HOFFMANN, 2009, p. 83).

Vale ressaltar, portanto que, o aluno necessita da avaliação para poder se

situar em relação às metas propostas e também como incentivo para avançar em

sua aprendizagem, assim, o processo avaliativo deve acontecer numa dimensão

criadora e criativa que envolva o ensino e a aprendizagem, acompanhando o

desempenho no presente, orientar as possibilidades de desempenho futuro e mudar

as práticas insuficientes, apontando para novos caminhos no sentido de superar os

problemas e/ou dificuldades durante o processo.

Na perspectiva construtivista de aprendizagem avaliação é mediadora porque envolve uma dinâmica de processos educativos que visam o entendimento e a construção de conhecimento pelo aluno. Ela objetiva, essencialmente, opor-se ao modelo transmitir, verificar, registrar, a partir de uma prática avaliativa reflexiva e desafiadora por parte do educador (HOFFMANN, 1995, p. 98).

A autora e educadora entende que, avaliar significa enfrentar um desafio

pelo qual professor e aluno devem passar, para que possam aperfeiçoar a sua ação

educacional, contribuindo para o desenvolvimento das capacidades dos alunos, se

transformando em uma ferramenta pedagógica como forma de melhorar a

aprendizagem do aluno e a qualidade do ensino. “A partir de uma concepção

dialética de educação, supera-se tanto o sujeito passivo de educação tradicional,

quanto o sujeito ativo da educação nova, em direção ao sujeito interativo”

(VASCONCELOS, 2006, p. 58). Esse ponto de vista mostra um professor voltado à

ação de resgatar o seu papel de formador de conceitos e opiniões, ajudando o aluno

a amadurecer o seu pensamento em relação à aprendizagem, garantindo a sua

formação integral pela mediação da eficaz construção do conhecimento.

Viver e desenvolver-se implica em transformações contínuas que se

realizam através da interação dos indivíduos entre si e entre os indivíduos e o meio

no qual se inserem.

Como na escola o aprendizado é um resultado desejável, é o próprio objetivo do processo escolar, a intervenção é um processo pedagógico privilegiado. O professor tem o papel explícito de interferir na zona de

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desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente (OLIVEIRA, 1999, p. 62).

Na opinião do autor supracitado, o aluno se sente estimulado a trabalhar de

forma produtiva quando percebe que há uma finalidade na proposta do professor,

onde seus resultados estão sendo valorizados ou reestudados juntamente com o

professor e que seu desempenho é comparado com ele próprio e que seus

progressos e dificuldades são vistos a partir de seu próprio padrão de desempenho,

necessidades e possibilidades.

[...] a avaliação é um problema constante tanto para os alunos como também para o professor. Ela ocupa um grande espaço na vida escolar e, muitas vezes, torna-se um fim em si mesma, geralmente não correspondendo com precisão em que o aluno sabe. Avaliar é definir as formas de atuação em termos escolares têm uma proximidade com os conceitos de diagnóstico e intervenção. O diagnóstico e a avaliação não são momentos fechados, mas sim, um constante observar e, por esse motivo, preferimos chamá-los de processo diagnóstico ou avaliativo (MACEDO, 2000, p. 41).

Numa avaliação os professores devem considerar o ambiente no qual o

educando está inserido, pois não pode cobrar disciplina e bons cuidados de higiene

de um aluno que desconhece esses princípios. Porém isso, não significa que ele não

possa aprender, pois se for estimulado será capaz de construir seu conhecimento,

que segundo Hoffmann (2005) “é urgente encaminhar a avaliação, a partir da efetiva

relação professor e aluno, em benefício da educação do nosso país, contrapondo-se

à concepção sentenciva e autoritária, grande responsável pelo processo de

eliminação de crianças e jovens da escola”. É justamente o que propõe as Diretrizes

Curriculares para a Educação Básica, ou seja, “formar sujeitos que construam

sentidos para o mundo, que compreendam criticamente o contexto social e histórico

de que são frutos e que, pelo acesso ao conhecimento, sejam capazes de uma

inserção cidadã e transformadora na sociedade”. Não há sentido em processos

avaliativos que apenas constatam o que o aluno aprendeu ou não aprendeu e o

fazem refém dessas constatações, tomadas como sentenças definitivas. Segundo

Luckesi (1995, p. 25), a avaliação fundada no modelo liberal conservador “está a

serviço de uma pedagogia que nada mais é que uma concepção teórica da

educação que, por sua vez, traduz uma concepção teórica da sociedade”. Neste

caso a avaliação em seu sentido amplo, só será possível na medida em que estiver

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a serviço da aprendizagem do educando podendo estar direcionada para o

diagnóstico da qualidade dos resultados a serem atingidos. O envolvimento do

professor no processo todo é imprescindível, sendo sua participação necessária,

tanto para o direcionamento das atividades quanto para a manutenção da

motivação, mola propulsora de todo o processo ensino aprendizagem. A

quantificação dos resultados da avaliação final não deveria contribuir informação

relevante, mas o real aprendizado, sim. Daí a razão de se proceder ao

acompanhamento da evolução de todo o processo visando a valorização de cada

etapa do crescimento do aluno no que tange a aquisição dos conhecimentos

pretendidos.

Todo trabalho pedagógico direciona-se à busca de novos conhecimentos, sejam de natureza socioafetiva ou cognitiva. Os rumos, os objetivos de aprendizagem, deverão estar claros para o professor não obrigatoriamente para o aluno. O que deverá estar claro para ambos são as questões a responder, as situações-problema propostas, de forma que os envolva significativamente. Despertado o desejo de aprender nos alunos, é compromisso do educador torná-los ativos, criando o cenário educativo de recursos e conteúdos do saber (HOFFMANN, 2009, p. 91).

A avaliação é um processo contínuo, porque está sempre coletando

informações sobre o aluno para identificar se o aluno tem ou não os conhecimentos

ou habilidades que são pré-requisitos para o ensino de uma nova unidade ou um

conteúdo desconhecido, chama-se ‘Avaliação Diagnóstica’ que abrange toda a

coleta de informações, a organização destas informações e as conclusões a que se

chega para conhecer o aluno, da forma mais completa possível. Para melhor

entender o assunto Luckesi (2005, p. 84) explica:

Colocando em prática os ditames da perspectiva diagnóstica da avaliação, de certa maneira estaríamos instrumentalizados para superar prática indevida e autoritária que vem atravessando de forma antidemocrática, as atividades de avaliação da aprendizagem escolar.

Isso significa que muitos professores ainda acham que os alunos não

querem nada com a escola e que para eles o que realmente importa é alcançar a

média e passar de ano. Para mudar essa concepção é preciso compreender a

avaliação como um processo permanente de aprendizagem, entendendo-a como um

instrumento diagnóstico indispensável para o acompanhamento do

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ensino/aprendizagem, e que de acordo com Luckesi (2005, p. 52) “a avaliação é um

juízo de qualidade sobre os dados relevantes para uma tomada de decisão, ou seja,

não há avaliação se ela não trouxer um diagnóstico que contribua para melhorar a

aprendizagem”.

Somente poderá conceber uma avaliação reflexiva, crítica e emancipatória, o

professor que se propõe a rever sempre a sua metodologia em sala de aula, abrir

mão do uso autoritário da avaliação que o próprio sistema estabelece. É comum

presenciar aulas sem motivação nenhuma, conteúdos maçantes, metodologias

ultrapassadas que não levam nenhum valor aquisitivo ao aluno, assim sendo como

avaliá-lo? Se o professor não tem como preparar sua aula de maneira que atraia o

aluno, como atraí-lo a fazer parte de um processo avaliativo ultrapassado? Nas

palavras de Vasconcellos (2006, p. 67), “enquanto o professor não mudar a forma de

trabalhar em sala de aula, dificilmente conseguirá mudar a avaliação formal,

decorativa, autoritária, repetitiva e sem sentido”.

Isso demonstra que a maior parcela de mudança está na atuação do

professor que, se não estiver predisposto a mudanças, nada de bom vai acontecer

na educação e nada será modificado, prosseguido com a prostração do ensino.

Alguns vêem a avaliação como instrumento para medir a aprendizagem do aluno e

que de nada adianta tentar mudanças, ‘os alunos não querem saber de aprender,

não prestam atenção na aula, então, ‘pra quê mudar a avaliação?’. Outros dizem

que é preciso avaliar para verificar se os alunos aprenderam realmente. Entretanto,

a maioria dos professores demonstram que mudaram a sua opinião e maneira de

avaliar, afirmando que, para avaliar o aluno o professor precisa se auto avaliar para

assim verificar onde estão as suas falhas e assim mudar a metodologia em sala de

aula, planejando e ministrando aulas motivadas e de acordo com as mudanças

tecnológicas que o mundo virtual oferece. Por exemplo, ensinar matemática

utilizando dados tecnológicos faz com que aluno e professor vivam momentos

interessantes em sala de aula, facilitando a aprendizagem e a forma de avaliar o

aluno. E assim pode acontecer com todas as disciplinas. O objetivo do educador é

fazer com que todos aprendam e uma das primeiras providências, segundo

Hoffmann (2005, p. 92), é sempre informar o que vai ser visto na aula e o motivo de

estudar aquilo.

Esse é o desafio que se apresenta em todas as esferas educacionais, e

compete a cada professor refletir sobre a sua prática docente, buscando sempre

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subsídios que possam ajudá-lo a descobrir que os resultados positivos poderão vir

através de mudança de atitude e reflexão constante.

3 IMPLEMENTANDO NA ESCOLA

A implementação desta proposta foi realizada no Colégio Estadual Júlia

Wanderley – Ensino Fundamental e Médio do município de Jaboti – Estado do

Paraná, como troca de experiências especificamente a respeito do desempenho e

aprendizagem desses alunos, abordando e considerando as metodologias utilizadas

para avaliar o aluno do Ensino Médio, etapa em que elaborou-se a Produção

Didático-Pedagógica em forma de um Caderno Temático.

A finalidade do Caderno Temático foi de mostrar as diversas abordagens da

avaliação e da necessidade de repensar o processo como fonte de alterações para a

melhoria da qualidade do ensino, bem como enfrentar os problemas e as

dificuldades diagnosticadas no âmbito escolar e que, a cada ano, vem-se

observando, como professores e alunos desmotivados, que precisam redescobrir o

encantamento da escola.

Sabe-se que é essencial que todo educador problematize a sociedade, a

educação, a escola, a sua atuação como sujeitos sociais, históricos e construtores

de qualidade educacional e um mundo melhor. Se todos almejam esse mundo

melhor, como sujeitos sociais que somos, por que não começar dentro das escolas,

adotando uma nova concepção de avaliação que seja um instrumento para melhorar

os processos de ensino e de aprendizagem.

Foram apresentados alguns textos para que os professores analisassem e

discutissem sobre o tema sugerido.

O texto I com o título “o que significa avaliação na escola” de Jussara

Hoffmann solicitou que os professores se reunissem para reflexão e colocasse a sua

opinião a respeito da avaliação. As respostas foram analisadas e sintetizadas

conforme apresentação abaixo:

“a avaliação certamente constitui-se em um dos maiores desafios a ser

enfrentado pelos educadores. Avaliar é um grande desafio, pois a escola atual

precisa garantir o acesso e a permanência de todos no processo educacional e para

que isto se concretize é necessário que os educadores busquem novas formas de

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avaliar para que todos os envolvidos no processo tenham possibilidades de avançar.

Mediante esta nova realidade da escola pública, não é mais possível avaliar através

de provas, tendo em vista que estas são extremamente excludentes, privilegiando

apenas uma pequena parcela de alunos. Portanto, faz-se necessário, a utilização de

vários instrumentos sempre considerando as limitações e potencialidades de cada

um, dando oportunidades para que todos prossigam no processo educacional. No

que se refere ao texto de Jussara Hoffmann, concordamos com a autora quando

esta relata a perda do bom senso em relação ao significado de avaliação, pois,

diante da rotina conturbada da escola púbica, dificilmente os professores param para

refletir sobre o verdadeiro sentido da avaliação. As provas da forma como relata

Hoffmann, ainda continuam a ser realizadas e constituem-se num importante

instrumento de avaliação. Entretanto, considero que avaliações programadas,

individuais e escritas como as provas, não devem ser abolidas, visto que, é desta

forma que os educandos são avaliados quando participam da Prova Brasil, ENEM,

etc.”.

Em relação ao texto II, os professores entendem que:

“no que se refere a democratização da educação básica tem avançado nos

últimos anos, principalmente em relação ao acesso dos alunos à escola, mas

certamente há um longo caminho a ser percorrido, pra considerarmos o processo

educacional eficaz, pois grande parte dos educandos que ingressam, não

permanecem na escola, caracterizando o grave quadro de evasão escolar. Nota-se,

portanto, a importância de que cada educador realizem constante reflexão sobre sua

prática, para que possa experimentar novas metodologias e formas de avaliar,

tornando o processo mais democrático”.

O texto III trata das formas de avaliação, apresentando a resposta dos

professores:

“certamente grande parte dos professores utiliza vários tipos de avaliação,

tendo em vista que todas elas são importantes em cada etapa do processo

avaliativo. Utilizamos a avaliação diagnóstica quando não conhecemos os alunos,

não sabemos se apresentam ou não os subsídios necessários para uma

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compreensão adequada do conteúdo a ser desenvolvido. A avaliação formativa é

usada durante o processo educativo, através de inúmeros instrumentos avaliativos,

procuramos detectar se os objetivos estão sendo atingidos por todos. A avaliação

somativa, objetiva classificar o aluno de acordo com seu nível de aprendizagem. No

entanto, a etapa mais importante do professor é o momento da reflexão, onde o

educador vai realizar uma auto-avaliação, uma análise minuciosa de toda sua

prática. Cabe ressaltar que para muitos educadores, o grande desafio não é

compreender todos os tipos de avaliação apregoados pela LDB, mas sim, de os

colocarmos adequadamente em prática”.

O texto IV apresenta a síntese da resposta dos professores a respeito do

papel da escola nas práticas avaliativas:

“realizando uma reflexão sobre o papel da escola através dos tempos,

percebe-se que não há mais lugar para autoritarismo, para práticas avaliativas

tradicionais e excludentes, pois a escola atual precisa acolher a todos independente

das diferenças que estes possam apresentar. Mas muito mais que acolher, a escola

precisa garantir a permanência do aluno na escola, atendendo e respeitando a sua

individualidade e suas limitações, priorizando a qualidade do ensino”.

Percebe-se que os professores do Colégio Estadual Julia Wanderely do

município de Jaboti, sabem que a educação é concebida como experiência de

vivência multiplicada e variada, e que o ato de aprender consiste na realização de

mudanças e aquisições de comportamentos motores, cognitivo, afetivo e social, e o

ato de avaliar consiste em verificar continuamente se os objetivos propostos estão

realmente sendo alcançados e em que grau se dá essa consecução, ou seja,

compreendendo a avaliação como um processo permanente de aprendizagem,

dinâmico e transformador do contexto social, construindo uma educação mais

democrática e igualitária, bem como, valorizando o ser humano e possibilitando a

sua realização criativa.

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3.1 Participação no GTR (Grupo de Trabalho em Rede)

Outra forma utilizada para implementação do trabalho foi o GTR, onde os

professores interagiram e opinaram a respeito da avaliação, apresentando a

resposta de três professores sobre a seguinte questão: Relatar uma experiência

explicando as atividades desenvolvidas, as perspectivas alcançadas e/ou

frustradas que esteja relacionada a uma das ações da proposta de

implementação.

3.1.1 Professora B. L. M.

Para tentar responder a atividade supracitada, vou relatar uma experiência

que aconteceu comigo no ato de avaliar, no qual me fez pensar em tal momento

com mais calma e feedbacks das minhas próprias aulas. Esse é meu primeiro ano

que atuo em sala de aula, e nas minhas aulas de Sociologia resolvi mudar minha

metodologia de avaliação, sai das avaliações escritas e propus aos meus alunos um

seminário sobre o conteúdo: instituições sociais, confesso que fiquei um pouco

tensa, mas tudo acabou dando certo. Alguns alunos se destacaram mais que os

outros, mais isso é normal, pelo fato de possuirem realidades distintas. Os alunos

com dificuldade na teoria, superaram-se, pois foram até as ruas entrevistaram as

pessoas o conteúdo em pauta, trouxeram documentários, montaram slides e

gravaram até vídeos com eles mesmos entrevistando as pessoas. Nossa foi muito

gratificante tal experiência, pois percebi pontos negativos que puderam ser inovados

e pontos positivos que puderam ser relatados e que fizeram diferença no meu ato de

avaliar. Mediante tal fato, percebi que a mudança de tal forma de avaliar permitiu um

ensino e aprendizagem prazeroso, no qual valorizou-se o desenvolvimento global de

todos os alunos, tornou-se um processo, um ato de avaliar contínuo”.

3.1.2 Professora de Biologia

Sobre essa mesma questão, a professora de sociologia I. V. registrou o

seguinte:

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“Através do tema: Diferenças sociais. "SOCIOLOGIA" OS ALUNOS FORAM

DIVIDIDOS EM GRUPOS, os grupos de alunos desenvolveriam o tema proposto e

após teriam que apresentar os resultados. QUESTÕES PROPOSTAS: entrevistas

com os moradores, 05 moradias da cidade para cada grupo, o lugar seria por

sorteio: periferia, centro, moradias do projeto Mutirão e avenida. Eles teriam que

visitar as famílias e fazer as perguntas. Quantos moram na residência? quantos

trabalham? renda familiar, possuem aparelhos de som, televisão, computador com

internet, casa alugada ou própria, esgoto, energia elétrica, água tratada, quantos

frequentam a escola, escolaridade dos pais”.

3.1.3 Professora C. C. S. C.

“No ano de 2004, atuava na Orientação Pedagógica da Escola M. de minha

cidade. Percebendo o pânico dos alunos na época das avaliações, pedi às 4ª séries,

que cada aluno de cada turma expressasse seus sentimentos através de desenhos

no momento da avaliação. Quando recolhi o material e fui analisar os dados

coletados o resultado só confirmou o que eu já sabia.

Escaneei na transparência o material coletado de todos os alunos.

Reuni com os professores e coloquei as transparências para que os professores

pudessem analisar o que cada aluno sentia no momento da avaliação, as imagens

foram as mais diversas possíveis. A pesquisa só reforçou que a prática avaliativa da

escola, continua tradicional. O que mais chamou atenção foi o desenho de uma

ótima aluna que era assim: A criança sentada em sua carteira com a avaliação na

mesa,e em um balão a aluna colocou sua fala: Eu não quero nota eu quero

aprender. Naquele momento pedi aos professores que refletissem sobre a maneira

de avaliar e que pensassem em cada imagem vista.

Se o professor tiver a preocupação de saber como o aluno pensa, sua prática

avaliativa seria mediadora e comprometida com a aprendizagem do aluno”.

O que se percebe após ler as considerações dos professores, é que a maioria

está no caminho certo, sabem da sua responsabilidade em proporcionar ao aluno

vivencias e oportunidades que possam fazê-lo crescer tanto na aprendizagem como

nos conhecimentos ministrados e avaliados.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os depoimentos de autores sobre o significado de avaliar levam-nos à

reflexão de que para mudar é preciso ter vontade. A partir do momento que o

professor perceber a escola como um veículo necessário para a transformação da

coletividade, ele poderá mudar a sua forma de pensar e levar para dentro da sala de

aula assuntos que possam despertar no aluno o desejo de aprender e

consequentemente ver a escola como um local onde ele se sente bem, assegurando

a sua permanência até a conclusão da série ou cursos. Acompanhando o raciocínio

de que a avaliação deve ser:

a) Contínua: É preciso questionar sobre o que e como estamos avaliando

continuamente. Será que estamos levando até o aluno, informações que podem

torná-lo críticos, libertários e participativos? Ou simplesmente estamos sendo

repassadores de conteúdos que não despertam nenhum interesse no aluno

avaliando-o continuamente?

b) Compatível com os objetivos propostos: Quais são esses objetivos? Serão

simplesmente os que estão descritos no currículo da nossa escola e que temos que

vencê-los bimestralmente, sendo necessário correr com o planejamento para vencê-

lo?

c) A avaliação deve ser ampla, atendendo aos domínios cognitivos, afetivos e

psicomotor: Mas há tempo para isso? Para atender todos esses quesitos pode ficar

algum conteúdo sem estudar no bimestre. Até que ponto, em minha sala de aula me

preocupo em atender esses quesitos?

d) Deve haver diversidade de formas de proceder à avaliação: Como

diversificar a avaliação, se o aluno não aprende é porque não presta atenção ou

porque não se interessou pela aula. Como variar as formas de avaliar?

Assim sendo, se o professor tiver em mente que ele deve avaliar

continuamente, que a avaliação deve atender os objetivos propostos e que deve

haver formas diversas de avaliação, mas que ao avaliar ele deve levar em conta a

sua auto-avaliação, pesando conceitos e reformulando a cada momento a sua

postura dentro da sala de aula, revendo o seu relacionamento com cada aluno e

buscando sempre novas metodologias, acompanhando as mudanças que a

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tecnologia impõe ao sistema educacional, certamente ele terá alcançado os

objetivos que a educação propõe.

O que se pretende é insistir na conscientização do professor através de

estudos e reflexão sobre esse assunto, para que a escola continue desempenhando

o seu papel de formar cidadãos críticos e conscientes de que a educação é o único

caminho capaz de provocar mudanças positivas na sociedade.

10 REFERÊNCIAS

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