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A BUSCA DA AUTOESTIMA DE NEGROS E AFRO DESCENDENTES NA ESCOLA
Autora: Maria Aparecida Moreira Gobetti 1
Orientadora: Luciana Regina Pomari 2
Resumo
Este artigo apresenta alguns resultados do projeto de intervenção pedagógica
intitulado: “Racismo, Discriminação Racial e preconceito” que foi realizado com
os alunos da 7ª série da Escola Estadual Padre Antônio Vieira do município de
Francisco Alves. Esse projeto foi proposto em função do reconhecimento da
necessidade de melhorar a autoestima de alunos negros e afrodescendentes,
visando proporcionar aos mesmos, base para que possam questionar a realidade de
preconceitos e estereótipos em relação a população afro-descendente. O mesmo
também foi proposto em função do reconhecimento da falta de motivação dos
alunos, visando inventariar os fatores que tanto tem contribuído para o baixo
rendimento escolar, repetência ou evasão escolar destes. Foi fundamental para o
projeto verificar se a repetência e a evasão escolar pode ser melhorada com a
valorização dos traços e da matriz cultural dos alunos afrodescendentes. Valorizar o
processo de formação escolar voltado para um viés multirracial e crítico pode
melhorar a educação para as relações étnicos raciais tarefa da qual a escola publica
do Estado do Paraná não pode se furtar. No desenvolvimento do projeto, foi possível
oferecer aos educandos uma aproximação com a história da África e com a cultura
afro-brasileira além de, permitir uma reflexão sobre as práticas metodológicas
usadas em sala de aula. Assim, o objetivo de trabalhar ações que visassem
desconstruir o mito de inferioridade do negro, possibilitar aos alunos em geral a
oportunidade de obter informações e subsídios sobre a cultura afro-brasileira e 1 Graduada em História e Geografia pela FAFIU (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Umuarama) e pós graduada em Didática e Metodologia de Ensino pela Universidade Norte do Paraná.Professora PDE 2010
2 Doutora em História pela UNESP/SP. Professora Associada da UNESPAR/Fafipa, Paranavaí/PR.
2
africana que lhes permitissem formular concepções não baseadas em preconceitos,
mas sim em ações respeitosas construindo atitudes de respeito étnico-racial. Todo o
trabalho foi desenvolvido a partir de leituras, análise e reflexões sobre uma
bibliografia específica sobre a cultura e história africana e afro-brasileira, bem como
sobre a Lei 10.639/03. O uso de textos, filmes, jogos e dinâmicas teve o intuito de
diminuir o preconceito e as atitudes racistas sejam no ambiente escolar ou fora dele.
Palavras chave: preconceito; discriminação racial; baixa autoestima; Lei 10.639/03
étnicos raciais.
1 INTRODUÇÃO
A educação é capaz de oferecer tanto aos jovens como aos adultos a
possibilidade de questionar e desconstruir os mitos de superioridade e
inferioridade entre os grupos humanos que foram introjetados neles pela
cultura racista na qual foram socializados Munanga (2005, p.17).
No Brasil, um país de mestiços, onde 45% da população é composta por
negros e pardos, onde não faz sentido ser racista, mais de 100 anos após a abolição
da escravatura, infelizmente, o racismo e o preconceito continuam vigorando e com
muita força. O pior é que é comum vivenciar no cotidiano escolar, situações em que
os alunos apresentam visões preconceituosas que, certamente cairiam por terra se
fossem confrontadas com o conhecimento da história da sociedade africana e do
protagonismo histórico dos afrodescendentes. E que a disseminação do preconceito
no ambiente escolar tem sido muito criticado pelas orientações de uma educação
para as relações étnicoraciais.
Diante dessa realidade, o objetivo geral desse trabalho era o de promover
reflexões, discussões e questionamentos sobre a situação do negro e do afro
descendente no Brasil, visando propor o aumento da autoestima dos mesmos. Outro
objetivo foi problematizar situações ocorridas, na escola e na vida social, que
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expressam o imaginário racista brasileiro, mediante levantamento de piadas,
anedotas, crônicas e histórias vivenciadas pelos alunos e familiares.
Também desejávamos, mais especificamente, proporcionar conhecimentos
para que os afrodescendentes pudessem se reconhecer na cultura nacional por
meio de leituras e produção de textos sobre o tema “raça humana e racismo”, e da
socialização dos resultados.
Pretendeu-se possibilitar aos alunos afrodescendentes a oportunidade de
obter informações e subsídios sobre a cultura afro-brasileira e africana que lhes
permitissem formular concepções não baseadas em preconceitos, mas sim em
ações respeitosas que pudessem contribuir para a construção de atitudes de
respeito étnico-racial. Desejávamos também que os alunos pudessem reconhecer as
participações históricas dos africanos e seus descendentes na produção de riquezas
materiais e culturais na África e no Brasil e tivessem a oportunidade de conhecer a
grandiosidade de seus antepassados de modo que, pudessem sentir orgulho de
seus ancestrais e identificar-se positivamente com sua história. O trabalho em
questão foi pautado em questionamentos orais e escritos e na análise de jogos,
dinâmicas, textos, documentários e filmes, visando uma reflexão que levasse à
tomada de consciência para que o aluno negro e afrodescendente pudesse
reconhecer seu papel na sociedade e que, através disso, o racismo e preconceito
em nossa sociedade se tornassem coisa do passado.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Embora muitos afirmem que não existe preconceito racial no Brasil, é inegável
que ele se faz presente, e além de existir, possui várias caras, ora declarada, ora
dissimulada, mas que ainda, infelizmente, se apresenta muito forte. Como se fosse
uma doença que aos poucos vai matando ou quando não, deformando a cidadania
brasileira.
“O preconceito profissionalmente “côa” a diversidade, somando-se ao
conteúdo preconceituoso dos livros e materiais didáticos e às relações
preconceituosas entre alunos de diferentes ascendências étnico-raciais, sociais e
outras, desestimulam o aluno negro e prejudicam seu aprendizado” Munanga
4
(2005). Para o autor, além disso: “alguns livros didáticos falam do papel do negro
como escravo, mas não mostram sua participação concreta na sociedade brasileira,
seu espaço na economia. O negro não trabalhou só nas plantações. Trabalhou
também nas artes e na mineração. Foram eles que ensinaram os portugueses as
técnicas de mineração tudo isso não é dito.O silêncio é uma forma de racismo”.
Os livros didáticos de História, geralmente, representam o negro na condição
de escravizado, em situação de submissão, sofrendo castigos corporais. Esse tipo
de representação faz com que o aluno negro não queira se identificar como
membros de sua etnia, sentindo-se envergonhados. O que vem explicar o
coeficiente de repetência e evasão escolar altamente elevado do alunado negro,
comparativamente ao do aluno branco. Sem minimizar o impacto da situação sócio-
econômica dos pais dos alunos no processo de aprendizagem, deveremos aceitar
que a questão da memória coletiva, da história, da cultura e da identidade dos
alunos afrodescendentes, vem sendo apagadas no sistema educativo que baseado
no modelo eurocêntrico oferece, parcialmente, a explicação para esse elevado
índice de repetência e evasão escolares. Dessa forma, o passo mais importante e
mais difícil para se lutar contra o racismo é combater o referencial etnocêntrico.
Portanto, conforme ressalta as Diretrizes Curriculares Estaduais de História
do Estado do Paraná (2008, p. 15) temos que promover no âmbito escolar:
Um projeto educativo, nessa direção, precisa atender igualmente aos sujeitos, seja qual for sua condição social e econômica, seu pertencimento étnico e cultural [...]. Essas características devem ser tomadas como potencialidades para promover a aprendizagem dos conhecimentos que cabe a escola ensinar, para todos.
Sendo assim, a escola deve buscar diferentes caminhos para reverter esta
situação, pois ainda, infelizmente, é comum, infelizmente, vivenciar no cotidiano
escolar, situações em que os alunos apresentam visão preconceituosa, tal visão
cairia por terra se fosse confrontada com o conhecimento da história da sociedade
africana, e do protagonismo histórico dos afrodescendentes.
A discriminação e o racismo não são temas recentes, vem desde os
primórdios da história do Brasil, pois desde o Brasil Colônia, Império e República
vigoravam vários entraves para impedir o ingresso do negro aos bancos escolares.
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Basta observar a Lei n° 01 de 04 de janeiro de 1837 em seu artigo 3°, e também o
decreto nº 1331 de 17 de fevereiro de 1854, que estabelecia que nas escolas
públicas do país não fossem admitidos escravos, e a que a previsão de instrução
para adultos negros dependia da disponibilidade de professores. Agora, com os
vários movimentos negros e diversas leis com destaque para a lei 10839/03 que
institui a obrigatoriedade do ensino da História da África e dos africanos no currículo
escolar do ensino fundamental e médio, percebemos que se inicia um novo modo de
olhar a situação do negro e seus descendentes no Brasil.
Na atual definição das Diretrizes Curriculares Nacionais (2008), a
obrigatoriedade da inclusão da história e cultura afro-brasileira e africana nos
Currículos da Educação Básica é urgente para que sejam asseguradas vagas para
negros nos banco escolares, isto é, além do ingresso, é preciso assegurar a
permanência deles, sendo assim é preciso valorizar devidamente a história e cultura
africana e afro descendente, buscando reparar danos que se repetem há cinco
séculos na história do Brasil.
É certo também que a escola, na busca do fim do preconceito e da
discriminação e visando a valorização dos descendentes afro-brasileiros, precisa
proporcionar oportunidades para que seus professores revejam suas práticas de
ensinar, e farão isso através da valorização dos afrobrasileiros. Há uma necessidade
de transformar práticas e culturas tradicionais e burocráticas da escola que, por meio
de retenção e da evasão só vem acentuar a exclusão social.
Embora a adoção de políticas públicas de inclusão social tenha desafiado os
educadores de todo o país, é evidente que as políticas de valorização e
reconhecimento da diversidade chegaram à sala de aula. A conseqüente
necessidade de lidar direta e cotidianamente com situações nas quais a diferença
assume cada vez mais relevância, tem exigido dos educadores estudos, reflexões,
debates, aprofundamentos e, principalmente, mudanças na prática pedagógica.
É necessário que a escola resgate a identidade do afro descendente
brasileiro, pois negar qualquer etnia, além de esconder uma parte da história, leva o
indivíduo à sua negação Munanga (2005, p. 18) explicita que:
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Nessa perspectiva, a escola deve incentivar uma prática pedagógica fundamentada em diferentes metodologias, valorizando concepções de ensino e de aprendizagem que permitam a toda a comunidade escolar uma transformação emancipadora. (DCEs, 2008).
A seguir será apresentada a discrição de como o trabalho foi realizado em
sala de aula.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Conforme dito anteriormente, o projeto “busca promover a autoestima de
negros e afrodescendentes na escola” foi desenvolvido com alunos da 7ª série do
Ensino Fundamental da Escola Estadual Padre Antonio Vieira, do município de
Francisco Alves (Paraná).
O trabalho foi desenvolvido em 32 aulas no segundo semestre de 2011, na
escola já citada. As aulas foram divididas em unidades. Ao todo foram 6 unidades e
cada uma possuía 1 tema conforme descrito abaixo:
Unidade 1:
Apresentação do Projeto de Implementação para direção, equipe pedagógica e
alunos;
Aplicação do questionário como subsídio do desenvolvimento do projeto.
Unidade 2
Apresentação textos, filme e dinâmica com um jogo sobre racismo e preconceito
racial.
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Unidade 3
Apresentação, análise e discussão dos textos: A Formação do Povo Brasileiro e
Mestiçagem no Brasil.
Unidade 4
Apresentação, análise e discussão do texto: A África em nós.
Unidade 5:
Apresentação, análise e discussão do texto: A Ressignificação da África.
Pesquisa na internet sobre características de alguns países africanos para
montagem do mural.
Unidade 6
Apresentação, análise e discussão do texto: África Berço da Humanidade;
Análise do mapa político do continente africano;
Apresentação do mural professor/alunos da 7ª série, para toda comunidade
escolar.
Na Unidade 1, o objetivo foi de que a direção, equipe pedagógica e alunos
tomassem conhecimento do projeto de intervenção, quais os objetivos deveriam ser
atingidos e qual a finalidade do trabalho a ser desenvolvido. Também por meio da
aplicação de um questionário, levantar a extensão do conhecimento ou experiência
dos alunos sobre o assunto a ser trabalhado o que, viria subsidiar nosso trabalho.
Observe, na sequência, exemplos de relatos de alunos e algumas respostas aos
questionamentos feitos que mostram discriminação, preconceito, decepção,
vergonha, constrangimento, impotência e falta de defesa.
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Questionário aplicado na turma, para subsidiar o desenvolvimento do projeto.
1- Você já sofreu situações de constrangimento em relação à sua etnia? Relate.
2- Qual foi a sua reação no momento?
3- Por que você acha que isso aconteceu?
4- Será que é comum ocorrer casos como o que acabou de relatar? Comente.
5- Onde ocorreu e quem mais presenciou?
6- Houve alguma intervenção de alguém? Comente.
7- Você já presenciou conflitos dentro da escola em relação à discriminação ou
preconceito racial? Relate
8- Você acha que esses conflitos e situações têm prejudicado a você ou a algum
colega de sala? Comente:
9- O que você faria se ocorresse com você?
10- Como você acha que poderia ser resolvido esse tipo de problema? Você sabe
o que vem a ser preconceito? Discriminação? Discriminação racial? Racismo?
Estereótipo? Preconceito racial? Vejamos o que é e como acontece a toda hora
entre nós.
Respostas do Aluno 01.
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Respostas do Aluno 04.
Já na Unidade 2, trabalhamos sobre preconceito e racismo, propondo a
leitura, análise e discussão dos textos: Racismo e Como combater o racismo na Educação, dos filmes Xadrez das Cores e Vista Minha Pele, e da dinâmica do
jogo Na trilha do preconceito, com essas atividades, o objetivo era mostrar aos
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alunos as diversas forma de discriminação e preconceito que nos cerca e fazê-los
perceber que esse não é um problema local e nem novo, mas que precisa e deve
ser combatido. Nas Unidades 3 e 4, a leitura e análise dos textos: Brasil, um país formado
por várias caras e cores e, Brasil Laços de Ancestralidade, teve como objetivo
fazer com que os alunos pudesse perceber que o Brasil tem muito da África e,
chamar a atenção deles para várias cores dos brasileiros, mostrar a dificuldade em
saber que cor tem cada um e da resistência do brasileiro em se declarar negro, e
também verificar a grande ligação existente entre Brasil/África.
Disponível em :bibliotecaziraldo.zip.net Acesso em 22/07/2011
Já na Unidade 5, o objetivo foi promover reflexão, análise e discussão com a
leitura de um texto que fala da Ressignificação da história da África e do texto:
África e legados africanos. Participando dessas atividades, os alunos tiveram
oportunidade de tomar conhecimento sobre o modo como a África é vista no mundo,
as tentativas de impedir o mundo de conhecer as verdadeiras contribuições do
continente africano para a civilização mundial, e que essa falta de conhecimento,
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muitas vezes, contribuiu para a construção da ideia de que a África fosse um
continente hostil, sem história, sem cultura, com um povo incapaz de construir
desenvolvimento, na tentativa de procurar desfazer essas imagens negativas sobre
esse continente, colocando no lugar outras que os façam ter orgulho de terem como
ancestrais os povos africanos.
Na Unidade 6, o objetivo foi de promover reflexão. Iniciamos com análise das
frases: A África é o berço da inteligência humana; A cultura humana nasce muito
antes do que imaginávamos. Na África. Após análise, reflexão e discussão foi
proposta, a leitura e análise dos textos: África Berço da Humanidade, O lugar da África na História e, África não tem História ou a História começa na África?
Textos esses, que falam do surgimento do homem no continente africano, dos
desenvolvimentos egípcios, da escrita, princípios na anatomia ligados à medicina, na
astronomia, na arquitetura, na engenharia e na matemática. E, para finalizar essa
unidade, foi realizada a leitura e análise texto: De árvores e raízes, que fala da
tradição da oralidade africana na vida dos africanos, que a África com ou sem escrita
tem História e, esse continente é o berço, o ponto de partida, o lugar de origem, da
formação do Homo Sapiens e das culturas por ele criada. Para concluir todo o
trabalho foi realizada a apresentação do mural com um resumo geral de tudo que foi
trabalhado em todas as unidades com o objetivo de levar os alunos a partilharem
seus conhecimentos com a comunidade escolar.
Durante todo desenvolvimento do projeto, foram utilizados os seguintes
recursos: câmera fotográfica, TV multimídia, laboratório de informática, textos
diversos digitados ou copiados, jogo de trilha, caixas de lápis de variadas cores, etc.
4 RESULTADOS
Como todo o projeto foi desenvolvido por unidades, neste momento,
apresentaremos como cada unidade foi trabalhada e qual foi o resultado alcançado.
Sabendo que o ensino da história da cultura afro brasileira e africana deve ser
vista como uma proposta indispensável nas disciplinas escolares hoje, haja visto que
já perdeu-se tempo demais, não dá mais para esperar, disfarçar ou enrolar pois, é
urgente a necessidade de valorizar devidamente a história e cultura africana e afro
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descente, buscando reparar os danos que se repetem há cinco séculos, e que
segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008, p. 15) temos que
promover no âmbito escolar:
Um projeto educativo, nessa direção, precisa atender igualmente aos sujeitos, seja qual for sua condição social e econômica, seu pertencimento étnico e cultural [...]. Essas características devem ser tomadas como potencialidades para promover a aprendizagem dos conhecimentos que cabe a escola ensinar, para todos (DCEs, 2008).
Dessa forma, cabe à escola buscar diferentes caminhos para reverter esta
situação, pois é nesse ambiente onde deve-se formar cidadãos, que ocorre com
maior frequência situações em que os alunos apresentam visão e atos
preconceituosos. Afirma Gomes (2003,p.74) que a escola possui a vantagem de ser
uma das instituições sociais em que é possível o encontro das diferentes presenças,
e que assim, seria de fundamental importância o ambiente escolar proporcionar
práticas educativas que promovam a convivência democrática e o respeito aos
direitos humanos.
Portanto, buscou-se fazer com que o aluno observasse o meio em que vive, o
ambiente escolar no seu dia a dia, seus atos, os dos funcionários da escola, até os
livros que estuda, etc, para levá-los a perceber como o racismo e o preconceito
estão incutidos em nós e como nós também o praticamos e somos vítimas dele a
todo momento nos mais variados ambientes.
Tentou-se mostrar ao aluno o quanto desconhecemos da história e dos feitos
grandiosos do povo negro e seus descendentes, sendo assim, as atividades
propostas buscaram a atingir esse objetivo: conhecer um pouco da história da África
e de seus descendentes e desmistificar a visão equivocada da história da África que
é contada até hoje, na qual o continente aparece como um território tenebroso, sem
valor, com um povo inferior sem condições nem mesmo de construir sua história.
Na unidade 01, intitulada Apresentação do Projeto de Implementação e o
questionamento sobre racismo e preconceito, percebi que houve surpresa pelo fato
de estar sendo abordado um assunto que para muitos parecia quase proibido de se
falar, o que demonstrou que não é comum ser trabalhado abertamente, e que ao
responder as questões propostas, ficou claro que alguns já haviam sido vítimas de
racismo e preconceito e outros demonstraram, nas discussões, que também já
15
haviam praticado atos de racismo e preconceito. Nesse momento, um aluno se
defende dizendo que muitos apelidos que põe nos colegas é de brincadeirinha.
Em continuação foi apresentado para leitura e reflexão os textos: Racismo e
Como combater o Racismo na Educação? Após a realização das atividades com
os textos foi apresentado filmes: O Xadrez das Cores e Vista Minha Pele que
mostram claramente cenas de racismo e preconceito, e depois da exibição dos filme
foi também realizada discussão e reflexão sobre eles. O que se pode perceber é que
após a exibição e mediante discussão, os alunos conseguiram identificar cenas de
preconceito e discriminação, atitudes e tentativas de mudanças nesse quadro e
demonstraram compreensão sobre a luta e atitudes de combate ao racismo
presentes nos filmes apresentados. Essa unidade foi finalizada com a dinâmica do
jogo: Na Trilha do Preconceito, com o objetivo de promover reflexão e debate
sobre estereótipos e preconceito cristalizados no modo de pensar das pessoas,
sobre o povo negro e sua cultura. Após o jogo, e o debate sobre as afirmações
propostas na trilha, foi realizado um levantamento sobre outras várias formas de
preconceito expressas por meio de palavras, provérbios e expressões, para concluir
foram anotadas nos cadernos as afirmativas encontradas na trilha que tinham
mensagens positivas de combate ao racismo e preconceito.
Na unidade seguinte, foi usada uma das afirmativas encontradas na Trilha do
Preconceito que dizia: Que o Brasil é um país mestiço, pois, a sua população é composta de 45% de negros e pardos. Não existe razão para ser racista em um país como o nosso, para iniciar a discussão, em seguida com objetivo de mostrar a
mestiçagem no Brasil, foi trabalhado com a formação do povo brasileiro, foram
apresentados os mapas do Brasil e da África com indicações do tráfico negreiro, e
outro mapa preenchido com várias caras e cores representando a população
brasileira e mostrando a mestiçagem no Brasil. Também foi trabalhado outro mapa
do Brasil, que trazia no seu interior, um representante do povo negro, um representante do povo europeu e um representante do povo indígena, mostrando
os três povos que deram início á formação do povo brasileiro. Continuando as atividades, foi apresentado o texto: Formação do Povo Brasileiro, o qual foi feita
leitura, discussão e reflexão sobre o mesmo.
16
Acesso em 20/07/2011 - Disponível em: :infojovem.org.br/infopedia/tematicas/diversidade/raca-e-etnia/
As atividades foram encerradas com: A Dinâmica da Caixa de Lápis de Cores.
Nesta dinâmica foram espalhados pelo chão lápis de várias cores, no caso foi
em número de 36, mas, pode ser usadas mais cores, e foi pedido que cada aluno
tentasse encontrar a cor de sua pele, os alunos sentados em volta observaram os
lápis por certo tempo depois de questionados, todos responderam que nenhum
havia conseguido cumprir a missão. Após a realização dessa atividade com o texto e
a dinâmica, iniciou-se, uma reflexão com o propósito de mostrar ao aluno que isso
ocorreu devido a mistura de raças encontradas no Brasil o que torna difícil
determinar com segurança a cor exata da maioria dos brasileiros. Foi comentado
sobre a dificuldade que muitas pessoas encontram quando tem declarar sua cor ao
preencher documentos. Foi trazida a baila também, nesse momento, o fato de que
muito brasileiros, devido ao preconceito e discriminação racial sofrido, resistem em
declarar se negro.
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Arquivo Pessoal
Finalizada essa atividade, iniciou-se a Unidade 04, na qual se objetivava
mostrar ao aluno o quanto de África está presente na maioria dos brasileiros. Ela foi
iniciada apresentando aos alunos os dizeres: Embora muitos não aceitem e tentem negar, as ligações entre Brasil e África são muito fortes e indestrutíveis
depois, foram apresentados os mapas do Brasil e da África entrelaçados por um
círculo que trazia no seu interior os dizeres: O Brasil tem muito mais de África do que podemos imaginar
Brasil África
Disponíveis em : inspetorfrederico.blogspot.com espiritismocomentado.blogspot.com
Acesso em 22/07/2011
Após a análise e reflexão dos mapas e dos dizeres foi desenvolvida a leitura,
análise e reflexão do texto: África/ Brasil, Laços de Ancestralidade, que mostra
essa grande ligação entre os dois países e o quanto a cultura brasileira tem da
O Brasil tem muito mais de África do que podemos imaginar.
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cultura africana. Diz o texto: “toda a cultura brasileira foi constituída pela expressão
direta das ricas culturas africanas, que nos influenciam efetivamente desde que os
primeiros navios negreiros aportaram em terras brasileiras.”
Tem - se início a Unidade 05, nessa unidade, o intuito era mostrar como é
visto o continente africano, como a história do povo negro é contada, mostrar os
grandiosos feitos ocorrido na África e também no Brasil pelos descendentes negros,
pois os alunos demonstraram desconhece quase totalmente essa parte da história.
Dando continuidade, foi proposto a leitura e observação de alguns livros de histórias
e de outras disciplinas e também de livros didáticos adotados pela escola na qual
atuamos, onde puderam observar que os de outras disciplinas como Português,
Geografia, e Ciências pouco falam da história do negro, e nos livros de História a
porcentagem do livro dedicada à história do povo africano em relação a história de
outros povos é baixíssima, são poucas páginas dedicadas ao tema, sem se
aprofundar o assunto e sempre com imagens deformadas, as referências sobre a
África nos livros é sempre com demonstrações de inferioridade sobre o negro,
escondendo sua beleza e capacidade.
Com intuito de mostrar aos alunos como foi e ainda hoje, é tratada a história
da África, foi apresentado para leitura, discussão e reflexão o texto:
Ressignificação da História da África, Esse texto falava sobre a diabolização
constante da África veiculada, principalmente através dos quadrinhos, do cinema,
das revistas e da televisão que se manifesta, às vezes também sob ótica da
“exotização”. Também mostrava como, durante muito tempo, fomos impedidos de
conhecer as verdadeiras contribuições do continente africano para a civilização
mundial. Dizia também que a falta de conhecimento, muitas vezes, ajudou na
construção da ideia de que a África fosse um continente hostil, sem história, sem
cultura, com um povo incapaz de construir desenvolvimento. Enfim, esse texto fala
sobre a necessidade de ressignificação da história da África, e que para que isso
aconteça, é preciso resgatar a verdadeira história da África para entendermos
melhor a história mundial. Com o objetivo ainda de rebater e colocar por terra o
estereótipo de que o povo africano é incapaz de produzir desenvolvimento, foi
trabalhado da mesma maneira outro texto sob o título: Legados africanos. Texto
esse, que abordava as épocas de grande desenvolvimento econômico, político e
cultural do continente africano antes de ser “repartido” entre os países europeus que
o colonizaram, falando das tecnologias e riquezas dos povos africanos.
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Dando continuidade a esse projeto, foi iniciada a Unidade 06, que foi iniciada
com um a apresentação do mapa do continente africano que trazia no seu interior
um texto com o seguinte título: África Berço da Humanidade. Esse texto afirma que
a África é o berço da civilização mundial e que cientistas comprovaram que a história
da humanidade começou na África. Diz também que os africanos estão entre os
primeiros povos a desenvolver a escrita. Fala sobre o desenvolvimento de alguns
princípios da Anatomia ligada á Medicina, Engenharia e Matemática, etc, ocorridos
em território africano. Em continuação foi apresentado dois outros textos com os
títulos: O lugar da África na História, e A África não tem História ou a História começa na África? que também falam sobre o continente africano,como palco do
início da aventura humana, ter sido classificado pelo pensamento ocidental durante
muito tempo como um espaço fora da História e muito mais sobre a África ser o
berço, o ponto de partida, o lugar de origem, a formação do Homo Sapiens e das
culturas por ele criada. Para encerrar os trabalhos, foi trabalhado o texto: De
árvores e de raízes, texto esse que mostra que as sociedades africanas eram
baseadas na tradição oral, esse texto retrata os velhos acocorados, rodeados por
jovens, crianças e mulheres, e que nessa reunião os velhos falam, transmitem
história e sabedoria e são ouvidos com atenção. O objetivo de se trabalhar esses
textos era levar o aluno a perceber os costumes da oralidade dos povos africanos na
transmissão de sua cultura e história em geral, e ao ler, analisar e refletir sobre os
textos de todas as atividades realizadas pudesse conhecer um pouco da história do
povo africano e ao mesmo tempo da nossa história. Todo esse trabalho lhes ajudará
a questionar sua realidade, a desconstruir mitos de inferioridade do povo negro, a
refletir a respeito da contribuição e importância dos afrodescendentes na construção
da história brasileira.
5 RESULTADOS OBTIDOS
Dizer se vou conseguir colher muitos frutos desse trabalho, que foi realizado
juntamente com os alunos da 7ª série da Escola Estadual Padre Antônio Vieira, só o
tempo poderá dizer. Mas, posso afirmar com certeza que ao ver os alunos,
participando, lendo , questionando, falando o assunto, discutindo sobre os filmes e
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as dinâmicas de forma não preconceituosa já foi um grande avanço na promoção e
combate ao racismo e preconceito. Vê-los expondo para a comunidade escolar, o
que entendeu sobre preconceito, identificando as atitudes preconceituosas que
apareceram nos filmes, reconhecendo algumas atitudes de combate ao preconceito
nos textos, filmes, jogos. E presenciando os alunos falando de atitudes que devem
ser combatidas, de atitudes de relações de igualdade entre as pessoas que devem
ser desenvolvidas, percebe-se que a semente que foi lançada começa a germinar.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levar adiante as atividades propostas no Projeto “A busca da autoestima de
negros e afro descendentes na escola” foi envolver-se numa proposta de trabalho
que visaria a valorização de uma educação para as relações étnicos-raciais na
busca de melhoria da autoestima de alunos negros e afrodescendentes, na tentativa
de também melhorar o rendimento escolar, diminuindo a repetência e evasão
escolar. Sendo assim, coube á escola possibilitar que seus alunos participassem de
uma série de atividades diversificadas onde envolveria textos, filmes, jogos e
dinâmicas que retravam claramente cenas de racismo e preconceito, a reação das
vítimas, as diversas caras que se apresenta o preconceito, luta e combate, para que
o aluno compreendesse que esse não é um fenômeno passageiro e nem estranho á
nossa sociedade.
O intuito do projeto foi oferecer a oportunidade ao aluno de relatar ocasiões
em que foi vítima de ações de preconceito, e de perceber que tais ações não
ocorrem somente em sua localidade. Acreditando que informações e subsídios
sobre a cultura africana e afro brasileira, permitiriam ao aluno, formar concepções
não baseadas em preconceito, mas sim, em ações respeitosas construindo atitudes
de respeito étnico-racial foi o que norteou esse projeto.
Acreditando também que com esses conhecimentos estaríamos pondo em
prática o objetivo de possibilitar a oportunidade de fornecer a negros e afro
descendentes informações e subsídios, através do resgate da história e da
ancestralidade africana certamente levaria esses alunos a compreenderem-se como
21
sujeitos históricos e sendo assim encontrariam motivos para ter orgulho de suas
origens sócio- históricas.
Dessa forma, coube a escola possibilitar que seus alunos participassem de
diferentes práticas metodológicas para abordar o assunto que envolve a situação do
negro e afro descendente na atualidade, levassem os alunos a analisarem seu
comportamento em sala de aula, e seu desinteresse para com a escola, promovesse
ações com o intuito de desconstruir o mito de inferioridade que os perseguem
constantemente, enfim atividades que proporcionassem a oportunidade de conhecer
a grandiosidade de seus antepassados, o que ajudou-os a se relacionar com os
demais em pé de igualdade, que promoveu melhorias em sua autoestima e,
consequentemente, os rendimentos escolares.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais (2004, P.15):
A educação tem papel preponderante para a eliminação das discriminações e para emancipação dos grupos discriminados, ao proporcionar acesso aos conhecimentos científicos, a registros culturais diferenciados, a conquista de racionalidade que rege as relações sociais e raciais, a conhecimentos avançados, indispensáveis para consolidação e concerto das nações como espaços democráticos e igualitários.
Chegamos assim, ao ponto essencial do processo de uma educação para as
relações étnicos raciais na escola pública por meio da valorização da diversidade. E
tal formação e essas discussões, certamente, levarão à compreensão da situação
do negro e afrodescendente, e valorizará sua contribuição na construção e formação
da sociedade brasileira. Pois essas atividades ampliarão o conhecimento de forma
pacífica, isto é sem a violência do racismo que gera a desvalorização do negro e
afro descendente.
Que só com o reconhecimento da história e cultura dessa comunidade,
reconhecendo a fonte de sua ancestralidade é que poderemos efetivar a
desconstrução de mitos e crenças negativas e discriminatórias. Pois como afirma
Munanga (2005,18): É necessário que a escola resgate a identidade do afro
descendente, pois negar qualquer etnia, além de esconder uma parte se sua história
leva o indivíduo à sua negação.
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“A busca da autoestima de negros e afro descendentes na escola: uma experiência bem sucedida no Paraná.”
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Lei nº 10.639 – 09 de janeiro de 2003. Brasília: Ministério da Educação, 2003. Plano nacional das diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Brasília: SECAD; SEPPIR, junho, 2009. GOMES, Nilma Lino. Educação e Diversidade Étnico cultural In: RAMOS, ADÃO, BARROS (coordenadores). Diversidade na Educação: reflexões e experiências. Brasília: Secretaria de Educação Média e Tecnologia/MEC, 2003 MUNANGA, Kabengele. Superando o Racismo na escola. 2ª edição revisada [Brasília]:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade,
2005.
BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais - 2004. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – História. 2008. ROCHA, Rosa Margarida de Carvalho – Almanaque Pedagógico afro-brasileiro – Uma proposta de intervenção pedagógica na superação do racismo no cotidiano escolar. 2ª. Ed. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2005. A História da África na Educação Básica: Almanaque Pedagógico – Referênciais para
uma Proposta de Trabalho. Belo Horizonte: Nandyala, 2009.
REFERENCIAS ON LINE Filme: Vista minha pele – Direção de Joel Zito Araújo - Disponível em: http://brasildosnegros.arteblog.com.br/33863/Documentario-Vista-a-minha-pele/ acesso em 20/07/2011
Reflita:
“Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados”. Mahatma Gandhi
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Filme: O Xadrez das Cores Direção de Marco Schiavon - Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=KGyNtbqaQRg Acesso dia 22/07/2001 Libertaria.pro.br - Acesso em 20/07/2011 bibliotecaziraldo.zip.net - Acesso em 20/07/2011 inspetorfrederico.blogspot.com - Acesso em 20/07/2011 espiritismocomentado.blogspot.com - Acesso dia 22/07/2011 http://infojovem.org.br/infopedia/tematicas/diversidade/raca-e-etnia/ - Acesso em 20/07/2011 - http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/a-descolonizacao-africa.htm - Acesso em 20/07/2011