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A caminho da sepultura

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A meia vampira Catherine Crawfield persegue os mortos-vivos atrás de vingança, esperando que um destes seres seja seu pai. Capturada por Bones, um vampiro caçador de recompensas, é forçada a uma parceria profana. Em troca de encontrar o pai, Cat concorda em treinar com o sexy caçador noturno até que seus reflexos de combate estejam tão afiados quanto os dentes dele. Aos poucos, percebe que ser uma semimorta não é totalmente ruim, mas antes que possa aproveitar seu status de incrível caçadora de demônios, Cat e Bones são perseguidos por um grupo de assassinos. Ela terá que escolher um lado... e Bones está se tornando tão tentador quanto alguém com um coração batendo.

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A Caminho da SepulturaSérie Night Huntress

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Jeaniene Frost

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Jeaniene Frost

São Paulo 2011

A Caminho da SepulturaSérie Night Huntress

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2011Impresso no BrasIlprInted In BrazIl

dIreItos cedIdos para esta edIção ànovo século edItora

rua aurora soares Barbosa, 405 – 2º andarcep 06023-010 – osasco – sp

tel. (11) 3699-7107 – Fax (11) 3699-7323www.novoseculo.com.br

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Halfway to the Grave

copyright © 2007 by Jeaniene Frost

excerpts from love leters from a duke copyright © 2007 by elizabeth Boyle; a touch of minx copyright © 2007 by suzanne enoch; Halfway to the Grave copyright © 2007 by Jeaniene Frost; lord of scoundrels copyright © 1995 by

loretta chekaniall rights reserved.

copyright © 2011 by novo século editora ltda.

produção editorial equipe novo século

projeto Gráfico e composição claudio tito Braghini Junior

capa equipe novo século

tradução Fabiana B. F. martins

preparação monika Kratzer

revisão Thaís nacif e daniela santos

Frost, Jeaniene A caminho da sepultura / Jeaniene Frost; [tradução Fabiana B. F. Martins]. -- Osasco, SP: Novo Século Editora, 2011. -- (Série night huntress) Título original: Halfway to the grave 1. Ficção norte-americana I. Título II. Série. 11-02796 CDD-813

1. Carreira: Literatura norte-americana 813

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:

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2011Impresso no BrasIlprInted In BrazIl

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Para minha mãe,que sempre acreditou em mim,

até mesmo quando eu não acreditei.

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Agradecimentos

Antes de tudo, devo agradecer a Deus, por ter concedido a mim um senso distorcido de imaginação e humor, qualidades cuja culpa não atribuo a mais ninguém, pois não foi uma característica adquirida, mas inata.

Meu agradecimento mais profundo é para minha maravilhosa agente, Rachel Vater, que recebeu um manuscrito mal-trabalhado e, após lê-lo, disse:

— É bom, mas faça com que fique melhor! Sem seu incentivo e seus incansáveis esforços, meu romance nunca teria se

tornado, de fato, um livro. Sou grata também a minha editora, Erika Tsang, cujos incríveis entusiasmo

e apoio fizeram que esta página de agradecimentos existisse. Muito obrigada, Erika! Você transformou um sonho em realidade.

Agradeço sinceramente a minha família, por ser tão presente em minha vida. E, finalmente, ao meu marido, por dar-me muito mais coisas do que o espa-ço que tenho para listá-las.

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Prólogo

— Brincando com fogo, gatinha?

Sua boca tocou minha bochecha e seus lábios eram frios em contato com a minha pele. Minha cabeça girou, meus sentidos oscilaram, minha língua se moveu devagar e eu o lambi no pescoço.

Senti-o tremer. Bones me apertou tão forte que seu corpo se entrelaçou ao meu, empurrando minha cabeça para trás junto com um punhado de cabelo, até nossos olhos se cruzarem. O que havia começado como um jogo era agora um desafio aberto, uma ameaça direta.

Tudo isso deveria me assustar, mas era como se minha mente fosse inca-paz de raciocinar.

Ele era um vampiro, um matador de aluguel, e quase tinha me matado... mas nada importava mais do que a sensação de seu toque.

Lambi meus lábios e não me afastei. Era o convite de que ele precisava.

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Um

Estremeci quando vi pelo retrovisor luzes vermelhas e azuis piscando, já que não existia uma explicação sensata para o que havia na caçamba da minha ca-minhonete. Encostei o carro e segurei a respiração, enquanto o xerife caminhava em direção a minha janela.

— Oi! Algo errado? — falei com um tom todo inocente, esperando que meus olhos não me denunciassem.

Controle-se! Você sabe o que acontece quando fica aflita.— Sim, seu farol traseiro está quebrado. Habilitação e documento de

identidade, por favor.Droga! Devo tê-lo quebrado quando carreguei a caminhonete. Foi tudo culpa

da pressa.Entreguei minha habilitação verdadeira, em vez da falsa, e ele alternou a

luz da lanterna entre os documentos e meu rosto.— Catherine Crawfield. Você é filha de Justina Crawfield, não é? Do po-

mar de cerejeiras Crawfield?— Sim, senhor — respondi educadamente e com suavidade, como se eu

não estivesse com um pingo de preocupação.— Bom, Catherine, são quase quatro da manhã. O que você faz na rua a

uma hora dessas?Eu não podia contar a verdade, mesmo porque não queria entrar numa

fria, nem passar um tempo numa solitária.— Eu não conseguia dormir, então decidi dirigir por aí.

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Para o meu desespero, ele começou a caminhar bem devagar para a trasei-ra da caminhonete e a iluminou com sua lanterna.

— O que você tem aqui atrás?Ah, nada fora do normal: só um cadáver sob umas sacolas e um machado.— Algumas sacolas de cerejas do pomar da minha avó — disse enquanto

tentava controlar as batidas do meu coração, que estavam tão altas que poderiam até deixá-lo surdo.

— É mesmo?! — falou, cutucando com a lanterna um caroço no plástico. — Uma delas está vazando!

— Ah, não se preocupe — falei com a voz quase aguda —, elas sem-pre vazam. Por isso as carrego nesta caminhonete velha; elas mancham tudo de vermelho.

Então fiquei aliviada quando ele cessou suas explorações e voltou para a minha janela.

— E você está dirigindo por aí de madrugada porque não conseguia dor-mir? — disse com um ar de malícia e um olhar tão firme que pareceu despentear meu cabelo. — Você acha que vou acreditar nisso?

A insinuação era descarada e eu quase perdi a calma. Ele pensou que eu havia passado a noite fora e tinha dormido por aí. Uma acusação muda pairou entre nós, depois de quase 23 anos em formação. Assim como sua mãe, não é? Não era fácil ser uma filha ilegítima em uma cidade tão pequena, onde as pessoas ainda usavam isso contra você. Na sociedade atual, isso nem teria importância, mas Licking Falls, em Ohio, tinha seu próprio manual de regras. E elas eram, na melhor das hipóteses, arcaicas.

Com muito esforço, moderei minha raiva. Minha natureza humana tendia a cair como uma capa descartável quando eu ficava irritada.

— Poderíamos manter isso entre nós, xerife? — falei junto com uma ino-cente piscadela. Afinal, isso tinha funcionado com o cara morto. — Prometo que não farei de novo.

Ele apalpou seu cinto enquanto me analisava. Sua barriga grande esticava o tecido de sua camisa, mas contive os comentários sobre sua circunferência ou o fato de ele estar cheirando à cerveja. Finalmente, abriu a boca e mostrou seu sorriso com um dente torto.

— Vá para casa, Catherine Crawfield, e conserte esse farol traseiro. — Sim, senhor.Tonta e aliviada, acelerei a caminhonete e fui embora. Essa foi por pouco. Tenho que tomar mais cuidado da próxima vez.

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***

As pessoas reclamavam por terem pais vagabundos ou escândalos em suas famílias. No meu caso, os dois fatos eram bem verdadeiros. Ah, não me interpre-tem mal, eu nem sempre soube o que eu era. Minha mãe, a única pessoa que sabia de toda a verdade, não me contou nada até eu ter 16 anos. Cresci com habilidades que outras crianças não possuíam, e, quando eu a questionava, minha mãe se irritava e dizia para eu não falar sobre aquilo. Aprendi a guardar as coisas para mim mesma e a esconder minhas diferenças. Para todos os outros, eu era apenas esquisita. Sem amigos. Gostava de perambular por aí em horários estranhos e tinha a pele curiosamente pálida. Nem mesmo meus avós sabiam o que eu real-mente era, e nem aqueles que cacei.

Havia, então, uma rotina nos meus fins de semana. Eu saía à procura de ação em qualquer boate que não ficasse a mais de três horas de viagem. Mas não procurava o tipo de ação na qual o bom xerife pensou que eu estivesse envolvida. Saía para beber normalmente e esperar até que fosse escolhida por alguém especial. Alguém que eu pudesse esperançosamente esconder no meu quintal, se eu não morresse antes disso. Havia seis anos que era desse jeito. Talvez eu até quisesse ser morta. Engraçado... já que, tecnicamente, eu era uma quase morta.

E foi por isso que a escapada da polícia não conseguiu me impedir de sair na sexta-feira seguinte. Ao menos assim eu sabia que faria uma pessoa feliz: mi-nha mãe. Bom, ela tinha o direito de ficar furiosa. Eu só não queria ser a causa dessa fúria.

A música alta da boate me atingiu como um jato de água, sacudindo minha pulsação com suas batidas. Caminhei cuidadosamente pela multidão, procurando aquela inconfundível vibração. O lugar estava cheio, típica noite de sexta-feira. Depois de andar em círculos por uma hora, senti uma ponta de arre-pendimento. Parecia que havia apenas pessoas por ali. Lamentei-me, sentei-me no bar e pedi um gim-tônica. O primeiro homem que tentou me matar tinha pedido essa bebida para mim. Era, agora, a minha favorita. Quem disse que eu não era sentimental?

Os homens sempre se aproximavam de mim. Talvez, por eu ser uma mu-lher jovem e solteira, era como se eles me vissem com um letreiro luminoso es-crito “transe comigo”. Educada e, quando necessário, grosseira, eu os rejeitava, de acordo com o grau de persistência deles. Eu não estava lá para encontros. Depois do meu último namorado, o Danny, não queria mais namorar ninguém. Se o cara

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fosse vivo, não me interessava. Não é de se espantar que eu não tenha uma vida amorosa para contar.

Lá se foram mais três drinques e decidi percorrer o salão novamente; não estava tendo sorte sendo isca. Já era quase meia-noite e não havia encontrado nada além de bebidas, drogas e muita dança.

Algumas cabines estavam escondidas na parte mais isolada da boate. Assim que passei em frente a uma delas, senti o ar carregado. Alguém, ou alguma coisa, es-tava por perto. Então parei e voltei devagar, tentando saber sua localização exata.

Fora da luz e, escurecida pelas sombras, vi a parte de cima da cabeça de um homem curvado para frente. Seu cabelo era quase branco sob as luzes fracas, mas sua pele era jovem. Os espaços e os contornos se completaram em uma face, quando ele olhou para cima e viu que eu o encarava. Suas sobrancelhas eram, com certeza, mais escuras que seu cabelo, que parecia ser de um louro-claro. Seus olhos eram mais escuros também, mas estava muito longe para eu conseguir sa-ber a cor. As maçãs de seu rosto pareciam ter sido esculpidas em mármore, e aquela pele de diamante perfeita brilhava sob o colarinho de sua camisa.

Bingo.Depois de esboçar um falso sorriso, caminhei como uma pessoa exagera-

damente bêbada e arremessei-me à cadeira em frente a ele.— Oi, bonitão! — disse com a minha voz mais sedutora.— Agora, não.Seu tom de voz era áspero, com um eminente sotaque britânico. Pis-

quei, pensando que, possivelmente, havia bebido demais e não o tinha enten-dido direito.

— Desculpe?— Estou ocupado — disse com certa impaciência e ligeiramente irritado.A confusão me deixou furiosa. Será que eu me enganei? Só para ter certeza,

estendi a mão e passei o dedo sobre seu rosto. O poder quase saltou de sua pele. Não era humano, tudo certo.

— Estava pensando, hum... — tropeçando em minhas palavras, procurei uma forma de seduzi-lo.

Francamente, isso nunca tinha me acontecido antes. Normalmente, essa espécie era fácil de conquistar. Mas eu não sabia agir como uma profissional.

— Quer transar?As palavras explodiram e fiquei horrorizada comigo mesma por dizê-las.

Mal consegui evitar o impulso de pôr a mão frente à boca; nunca havia usado aquela palavra antes.

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Ele olhou rápido para trás com um ar de diversão, que mudou após sua segunda recusa. Seus olhos escuros me percorreram dos pés à cabeça, me avaliando.

— Hora errada, amor. Vai ter de esperar até mais tarde. Seja um pássaro bonzinho e voe por aí. Eu encontrarei você.

Com um aceno, ele se despediu. Atordoada, levantei-me e fui embora, ba-lançando minha cabeça diante do acontecimento. Como vou matá-lo agora?

Um pouco embriagada, fui ao banheiro conferir minha aparência. Meu ca-belo parecia bem, apesar do seu impressionante tom vermelho de sempre. Usava minha blusa da sorte, que tinha levado os últimos dois homens à morte. Olhei meus dentes no espelho: nada estava preso a eles. Depois, ergui meu braço e me cheirei. Não, eu não cheirava mal. O que é então? E um pensamento me ocorreu: Será que ele é homossexual?

Por um tempo, considerei essa hipótese. Tudo era possível, eu era a pro-va disso. Talvez eu pudesse observá-lo. Segui-lo até que ele tentasse escolher alguém, um homem ou uma mulher. Decisão tomada! E segui com determina-ção renovada.

Ele havia ido embora. A mesa na qual ficara encurvado estava vazia, e não havia nenhum vestígio seu no ar. Com uma urgência cada vez maior, procurei-o ao redor dos bares, na pista de dança, novamente nas cabines. E nada. Devo ter demorado muito tempo no banheiro. Resmungando sozinha, me aproximei do bar onde estava e pedi outro drinque. Embora o álcool não afetasse meus sentidos, eu precisava fazer alguma coisa, e já estava me sentindo inútil.

— Moças bonitas nunca devem beber sozinhas — disse uma voz perto de mim.

Ao me virar para esnobá-lo, parei assim que vi que meu admirador estava tão morto quanto Elvis. Cabelos louros um pouco mais escuros que os do outro cara, com olhos azuis-turquesa. Caramba, é minha noite de sorte!

— Para dizer a verdade, não gosto de beber sozinha.Ele sorriu, mostrando seus dentes encantadores.— Você está sozinha?— Gostaria que eu estivesse? — falei e timidamente pisquei para ele. Este não vai fugir, por Deus! — Gostaria, sim, muito — falou com a voz baixa e seu sorriso mais intenso. Deus, eles tinham uma ótima entonação. A maioria deles poderia traba-

lhar como operador de telessexo. — Bom, eu estava. Só que agora estou com você.

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Deixei minha cabeça pender de forma graciosa para descobrir o meu pescoço. Seus olhos seguiram meu movimento e ele lambeu os lábios. Ótimo, um faminto.

— Qual é o seu nome, adorável moça?— Cat Ébano. Uma abreviação de Catherine e ébano, para lembrar a cor dos cabelos do

primeiro homem que matei. Viu? Sentimental.Seu sorriso se abriu. — Um nome bem diferente.Seu nome era Kevin. Tinha 28 anos e era arquiteto. Ou, pelo menos, foi o

que disse. Havia estado noivo recentemente, mas sua noiva o deixara e agora ele queria apenas encontrar uma garota legal e sossegar. Ao ouvir isso, não consegui conter o riso e tive que me esforçar para não me engasgar com o drinque. Que monte de porcaria! Em seguida, ele mostrou fotos de uma casa de cerca branca. É claro que ele não deixaria que eu chamasse um táxi para ir embora, depois que meus amigos fictícios e imprudentes haviam partido sem mim. Que bondade a dele de me levar até em casa! E, a propósito, ele tinha algo para me mostrar. Bom, então nós dois tínhamos algo para mostrar.

A experiência me ensinou que era muito mais fácil desfazer-se de um carro que não tivesse sido cenário de um assassinato. Portanto, consegui abrir a porta do passageiro de seu Volkswagen e corri gritando, fingindo desespero quando ele fez sua jogada. Ele havia escolhido um lugar deserto. A maioria deles escolhia. Então não me preocupei com qualquer bom samaritano que pudesse ouvir meus gritos.

Ele me seguia com passos contados, encantado com meu incrível deslei-xo. Fingindo tropeçar, choraminguei quando ele apareceu sobre mim. Seu rosto tinha se transformado e mostrava a sua verdadeira natureza. Um sorriso amea-çador revelou seus caninos superiores, e seus olhos, antes azuis, brilhavam com um terrível tom verde.

Arrastei-me, escondendo minha mão para dentro do bolso. — Não me machuque!Ele ajoelhou e agarrou a parte de trás do meu pescoço.— Vai doer só por um momento.Então, eu o golpeei. Saquei, em um movimento já habitual, a arma que

perfurou seu coração. Torci várias vezes até sua boca perder os movimentos e a luz de seus olhos enfraquecer. Com um último golpe violento, empurrei-o e limpei o sangue de minhas mãos na calça.

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— Você estava certo — falei, ofegante pelo esforço. — Doeu só por um momento.

***

Bem mais tarde, quando cheguei em casa, eu assobiava. A noite não havia sido um total desperdício. Um tinha escapado, mas o outro não iria mais vagar pela escuridão. Minha mãe dormia no quarto que dividíamos. Contaria tudo a ela pela manhã. Era a primeira pergunta que ela me fazia nos fins de semana. Pegou uma daquelas coisas, Catherine? Bom, sim, peguei! Tudo sem nenhum arra-nhão. Não poderia ter sido melhor!

Estava com um ótimo humor, e decidi tentar a mesma boate na noite se-guinte. Além disso, havia um perigoso vampiro na área e eu tinha de pará-lo, certo? Então, meio impaciente, tratei de fazer minhas tarefas domésticas. Minha mãe e eu morávamos com meus avós. Eles tinham uma modesta casa de dois andares, que, na verdade, já havia sido um celeiro. A propriedade acabou isolada por seus hectares de terra que vieram a ser úteis. Às nove horas da noite, eu estava fora de casa.

O lugar estava lotado novamente; afinal, era sábado. A música estava tão alta e os rostos tão vazios... Meu primeiro giro pelo lugar não deu em nada, o que afetou um pouco o meu bom humor. Caminhei em direção ao bar e nem notei o estalo no ar antes que ouvisse sua voz.

— Estou pronto para transar agora!— O quê?Virei-me pronta para acertar a cara do verme que dizia aquilo, mas parei.

Era ele. Um rubor tomou conta do meu rosto quando me lembrei do que eu havia dito na noite anterior. Aparentemente, ele também havia se lembrado.

— Ah, sim, bem... — Como alguém responderia a isso? — Hum, um drinque primeiro? Cerveja ou...

— Não se incomode — falou interrompendo meu gesto para chamar o garçom e roçou o dedo ao longo do meu queixo. — Vamos!

— Agora? — disse e olhei ao redor, desprevenida.— Sim, agora. Mudou de ideia, amor?Havia uma provocação em seus olhos e um brilho que eu não conseguia

interpretar. Não queria arriscar perdê-lo novamente, então peguei minha bolsa e acenei para a porta.

— Mostre-me o caminho!

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— Não, não — falou e sorriu friamente. — Primeiro as damas.Com vários olhares por cima de meu ombro, guiei-o em direção ao esta-

cionamento. Quando saímos da boate, ele me olhou desejosamente.— Bom, pegue seu carro e vamos.— Meu carro? Eu... eu não tenho carro. Onde está o seu carro? Lutava para permanecer calma, mas me sentia agitada demais. Estava tudo

fora da minha rotina e eu não gostava nada daquilo.— Vim de moto. Quer dar uma volta nela?— Numa moto? Não, isso eu não faria. Não haveria um porta-malas para carregar seu cor-

po, e eu não estava disposta a equilibrá-lo no guidão. E, mais, eu nem sequer sabia dirigir uma moto.

— Hum, usaremos meu carro então. Está logo ali.Enquanto eu caminhava até a caminhonete, lembrei-me de fingir uma ton-

tura. Esperava que ele pensasse que eu estivesse bêbada. — Ouvi você dizer que não tinha carro — ele falou em seguida.Parei bruscamente, virando-me para ele. Droga, eu disse isso.— Tinha esquecido que ele estava aqui, é isso — menti rapidamente.

— Acho que bebi demais. Você dirige?— Não, obrigado — foi sua resposta imediata. Por alguma razão, seu forte sotaque britânico me irritou.Tentei de novo, com um sorriso sarcástico. Ele tinha de dirigir. A arma

estava no bolso da minha perna direita, já que eu sempre ficava no banco do passageiro.

— Na verdade, acho que você devia dirigir. Estou meio tonta. Odiaria nos envolver em algum acidente.

Não funcionou.— Se você quer adiar até uma outra noite...— Não! — falei com tanto desespero em minha voz que ele levantou a

sobrancelha, em dúvida. — Quero dizer, você é tão bonito e... — que diabos eu podia dizer? — ... quero muito fazer sexo com você.

Ele reprimiu um sorriso; seus olhos negros brilharam. A jaqueta estava casualmente jogada sobre seu colarinho. Sob a iluminação das ruas, as maçãs do seu rosto pareciam ainda mais evidentes. Nunca tinha visto tamanha per-feição antes.

Ele me olhou de cima a baixo, passando a língua nos lábios.— Certo, então vamos. Você dirige.

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Sem falar mais nada, ele pulou para o banco do passageiro da caminhonete.Como não tinha outra opção, saí dirigindo no sentido da estrada. Minutos

se passaram, e eu não sabia o que dizer. O silêncio era desconcertante. Ele não falava, mas podia sentir a seus olhos sempre que eles se voltavam para mim. Sem suportar a situação, finalmente fiz, sem pensar, a primeira pergunta que me veio à mente:

— Qual é o seu nome?— Isso importa?Lancei um olhar a minha direita e encontrei seus olhos. Eles eram de um

castanho tão escuro que poderiam ser pretos. E havia neles aquele ar de provoca-ção novamente, um desafio quase silencioso. Perturbador, no mínimo. Todos os outros caras estavam perfeitamente dispostos a conversar.

— Só queria saber. O meu é Cat. Saí da estrada e virei numa rua de cascalho que levava ao lago.— Cat, hum... Cat significa “gata” em inglês. E, de onde estou, você se pa-

rece mais com uma gatinha.Sacudi minha cabeça e o olhei irritada. Ah, eu ia me deliciar com isso,

com certeza.— Cat — repeti com firmeza. — Cat Ébano.— Como quiser, gatinha.Pisei nos freios. — Algum problema, senhor?Suas sobrancelhas escuras se ergueram de novo. — Nenhum problema, gracinha. É aqui que paramos? É onde você quer

fazer sexo?Aquela irritação fora causada por sua franqueza.— Hum, não. Um pouco mais para cima. É mais bonito lá. E voltei a dirigir mais para dentro da mata.Ele riu baixinho. — Aposto que sim, amor.Quando parei a caminhonete no meu lugar favorito, olhei para ele. Estava

da mesma forma que antes, imóvel. Não havia como partir para a surpresa ainda guardada no meu bolso. Limpando a garganta, apontei para as árvores:

— Não quer sair e... se divertir? Era estranho, mas qualquer palavra era melhor que “transar”. Um rápido sorriso iluminou seu rosto antes que respondesse. — Ah, não. Quero bem aqui. Adoro fazer dentro do carro.

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— Bom... Droga, e agora? Isso não vai funcionar. — Não tem muito espaço aqui — falei confiante e comecei a abrir a porta.Ele não se moveu. — Tem espaço suficiente aqui, gatinha. Vou ficar onde estou.— Não me chame de gatinha! — falei com a voz mais forte e muito

mais grave. Quanto antes ele estivesse realmente morto, melhor.Ele me ignorou. — Tire suas roupas. Vamos ver o que temos aqui.— Como é que é? Aquilo já era demais.— Você não está querendo transar com todas essas roupas, está, gatinha?

— falou para me provocar. — Acho que tudo o que você precisa tirar é sua calci-nha. Vamos. Não leve a noite toda.

Ah, mas ele ia ter de pedir desculpas. Espero que sinta uma dor infernal. Com um sorriso arrogante, olhei para ele e disse:

— Você primeiro! Ele sorriu novamente com um brilho normal nos dentes. — Tímida, não é? Não achei que fosse, depois daquela investida e pratica-

mente implorando por isso e muito mais. Que tal assim? Tiramos juntos.Desgraçado! Foi o que consegui pensar, e repetia em minha mente enquan-

to o observava com desconfiança e tirava minha calça. Indiferente, ele soltou o cinto, desabotoou suas calças e tirou a camisa, o que revelou uma barriga lisa e pálida, sem pelos até o ponto em que meu olhar atingiu sua virilha.

Eu nunca havia deixado as coisas irem tão longe. Estava com vergonha, meus dedos tremiam enquanto eu tirava minha calça e tentava alcançar o bolso.

— Olha aqui, amor, veja o que tenho pra você!Olhei para baixo e vi sua mão próxima de si mesmo antes de, rapidamente,

desviar os olhos. A estaca estava quase em minhas mãos, tudo o que precisava era de mais um segundo...

Minha modéstia me venceu. Quando me virei, evitando olhar sua virilha, não notei sua mão fechada. Seu punho se moveu de forma incrivelmente rápida para acertar minha cabeça. Houve um clarão seguido de uma dor aguda, e então o silêncio.

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